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25 abril 2016

As cangaceiras - A ILUSÃO DO CANGAÇO

Por Raul Meneleu

No rastro de Maria Bonita, dezenas de mulheres mudaram de vida ao integrar os famosos bandos do sertão - Ana Paula Saraiva de Freitas, historiadora e autora da dissertação “A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940)”, (Unesp, 2005), nos traz essas considerações sobre o assunto na Revista de História de 1/6/2015. Embora os motivos fossem variados, a maioria daquelas que aderiram ao cangaço carregava a ilusão de que viveria em festa e teria liberdade, sensação alimentada pela vida nômade e errante daqueles homens.  

Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira), famosa companheira de Lampião, foi a primeira figura feminina a ingressar no cangaço, em meados de 1930. A partir daí, mais de 30 mulheres participaram da vida nos bandos. A Bahia foi o estado que forneceu maior número de moças ao banditismo do sertão nordestino, seguida por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 

 Vale a pena ler.

ILUSTRAÇÃO JOÃO TEÓFILO

Ilustração João Teófilo

Criminosas. Quando se fala da participação das mulheres no cangaço, geralmente elas são reduzidas a esta palavra. Uma imagem que perde de vista os medos, os desejos e as frustrações que rondaram as cangaceiras nas décadas de 1930 e 1940, e que ignora as razões que as levaram para essa vida. Enquanto algumas ingressaram nos bandos voluntariamente, outras foram coagidas e privadas do convívio com seus familiares.

Embora os motivos fossem variados, a maioria daquelas que aderiram ao cangaço carregava a ilusão de que viveria em festa e teria liberdade, sensação alimentada pela vida nômade e errante daqueles homens. A realidade revelou um cotidiano bem mais complicado: além dos embates violentos contra forças policiais, muitas vezes os cangaceiros ficavam mal alimentados, sem água nem lugar para repousar, caminhando quilômetros sob sol e chuva. 

A faixa etária das cangaceiras variava de 14 a 26 anos, e suas origens socioeconômicas eram diversas, incluindo mulheres de famílias abastadas. Elas viam no cangaço uma oportunidade para romper com os padrões sociais: naquele grupo poderiam conquistar outros espaços além da esfera privada do lar e tinham a oportunidade de escolher seus parceiros sem a interferência dos acordos familiares. 

Uma vez integradas aos bandos, as jovens tinham que se adaptar à nova vida, sem chance para arrependimento: tentar fugir implicava retaliações tanto por parte de cangaceiros quanto por parte das volantes, como eram chamados os grupos de policiais que perseguiam os “bandidos do sertão”. Nesse espaço permeado pela violência, eram submetidas aos desejos sexuais de seu raptor, sem contato com a família, sentenciadas à morte em caso de adultério e envolvidas nos confrontos com forças policiais. Capturadas pelas volantes, apanhavam, eram estupradas e sofriam diversas humilhações. 

No cangaço os papéis sociais eram bem definidos: ao homem cabia zelar pela segurança e o sustento dos bandos. À mulher, ser esposa e companheira. Durante a gestação, muitas ficavam escondidas. Depois do nascimento do bebê, eram obrigadas a retornar ao cangaço e entregar a criança a amigos. 

A convivência entre elas não era totalmente pacífica. Testemunhos dão conta de que uma queria ser melhor do que a outra. O status da cangaceira era medido pelos bens que possuía: joias, vestidos, animais. As qualidades bélicas também estabeleciam diferenças entre elas. Sérgia Ribeiro da Silva, conhecida como Dadá, tornou-se emblemática por sua coragem e desempenho com armas nos embates com as volantes. Chegou a assumir o comando do grupo no momento em que o líder Corisco se encontrava ferido. Mas o prestígio feminino acabava sempre associado ao lugar ocupado pelo companheiro na hierarquia dos grupos.

Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira), famosa companheira de Lampião, foi a primeira figura feminina a ingressar no cangaço, em meados de 1930. A partir daí, mais de 30 mulheres participaram da vida nos bandos. A Bahia foi o estado que forneceu maior número de moças ao banditismo do sertão nordestino, seguida por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 

As andanças dos cangaceiros repercutiam na imprensa, e a presença feminina era mencionada de forma genérica e depreciativa. Nos jornais O Estado de São Paulo e Correio de Manhã, aquelas mulheres eram chamadas de bandoleiras, megeras e amantes. Eram estereotipadas como masculinizadas, belicosas e criminosas, além de serem tratadas como objetos de satisfação sexual. 

A imagem apresentada pelos jornais, porém, difere daquelas que o fotógrafo sírio-libanês Benjamin Abrahão Boto produziu na década de 1930. Suas fotografias mostram como as cangaceiras pretendiam ser lembradas: realçam sua feminilidade, evidenciam cuidados com o corpo, a aparência e a postura, destacam a beleza dos trajes e o apreço por joias. Algumas se faziam retratar com jornais e revistas da época, sinalizando o desejo de serem identificadas como mulheres letradas. Essas preocupações ficam explícitas nas fotos em que algumas – como Maria Bonita – reproduziram a postura e o gestual das mulheres da elite rural e urbana, como se estivessem posando em estúdios consagrados. 

A maioria dos folhetos de cordel reforça esse aspecto da participação feminina no cangaço. Os versos destacam a preocupação das cangaceiras com a beleza, o amor e a cumplicidade dedicados às relações afetivas, além da coragem nos embates. Nesse tipo de literatura o perfil feminino é recriado a partir de uma perspectiva mítica, envolvendo um misto de heroína e de bandida.

As práticas e as representações das mulheres naquele universo da caatinga foram variadas, e elas não tinham um perfil único. Quando o cangaço chegou ao fim, cada uma teve de reconstruir sua vida conforme os parâmetros sociais vigentes. Do cotidiano duro e arriscado das andanças pelo sertão, as ex-cangaceiras largaram as armas e a fama de criminosas para encarar outros papéis: mães, donas de casa e, em alguns casos, trabalhadoras fora do âmbito doméstico. 

Ana Paula Saraiva de Freitas 1/6/2015  - Ana Paula Saraiva de Freitas é historiadora e autora da dissertação “A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940)”, (Unesp, 2005).

Saiba Mais
ARAÚJO, Antonio A. C. de. Lampião, as Mulheres e o Cangaço. São Paulo: Traço, 1985. 
BARROS, Luitgarde O. C. A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no Sertão. Rio de Janeiro: Faperj/Mauad, 2000.
QUEIROZ, Maria Isaura P. de. História do Cangaço. 2. ed. São Paulo: Global, 1986.
MELLO, Frederico P. de. Guerreiros do Sol. Violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.

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24 abril 2016

NOTAS SOBRE AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 1968 NO RIO GRANDE DO NORTE

Por Andrea Linhares (*)

A eleição municipal de 15 de novembro de 1968 foi a segunda experiência eleitoral da ARENA e MDB no Brasil após as eleições gerais de 1966. Foi, portanto, o primeiro teste do novo sistema bipartidário implantado após 1965 na disputa pelo controle das estruturas políticas e partidárias municipais brasileiras.

Disputa talvez não seja o termo correto: a governista ARENA fora concebida para ser um partido majoritário e para isso a cúpula militar lançou mão, entre 1965 e 1979, de uma série de recursos jurídicos que imputaram ao novo sistema partidário o caráter de “artificial”.

Nas eleições de 1966 o governo atingira o propósito. Das 409 cadeiras em disputa na Câmara Federal, 277 foram preenchidas pelos quadros arenistas e 132 por emedebistas. Na renovação de 22 vagas ao Senado (1/3), apenas quatro foram conquistadas pelo MDB.

Em 1968 não foi diferente. Se as capitais e áreas mais urbanizadas mostravam-se propensas a votar nos quadros da oposição - e para resolver tal problema foram suspensas as eleições nas capitais - em grande parte da municipalidade, especialmente nos chamados grotões eleitorais, os quadros da ARENA, majoritariamente constituídos por ex-udenistas e pessedistas, (re)encontravam suas bases sagradas de legitimidade política sob a nova moldura institucional bipartidária.

Como em 1966, a acomodação dos conflitos e interesses divergentes no interior da legenda governista foi possível graças ao instituto das sublegendas partidárias introduzido pelo Ato Complementar nº 26, de 29 de novembro de 1966 e posteriormente regulamentado através da Lei nº 5.453, em 14 de Junho de 1968.

No Rio Grande do Norte, embora o MDB já estivesse fundado em 1968, somente a partir de 1969 o partido estruturaria de modo mais consistente suas bases municipais, com a ida dos herdeiros políticos de Aluízio Alves para a legenda.

Desse modo, se podemos falar em competição nas eleições municipais de 1968 para   preenchimento dos cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores devemos frisar que tal competição se deu não entre ARENA e MDB mas sim entre as sublegendas da ARENA: ARENA 1 ou ARENA Vermelha, comandada pelo então senador Dinarte Mariz, oriundo da UDN, e ARENA 2 ou ARENA Verde, comandada pelo ex-pessedista Aluízio Alves.

A eleição municipal de 1968 representou, portanto, mais um capítulo da rivalidade política e pessoal entre Mariz e Alves estabelecida desde a eleição de 1960, quando Dinarte preteriu o nome de Aluízio Alves ao governo do Estado em favor do nome do advogado Djalma Marinho.

Aluízio Alves à frente da ARENA 2 embarcou na legenda governista por questões de sobrevivência e fez oposição à Dinarte no interior da ARENA até 1969, quando teve seus direitos políticos cassados por dez anos.

Entretanto, apesar de sua posição secundária na ARENA, Aluízio possuía consideráveis recursos políticos para enfrentar seu adversário: tinha no comando do executivo estadual o governador aliado Monsenhor Walfredo Gurgel. Tinha também como trunfo seu irmão, Agnelo Alves no comando do executivo da capital. Tinha também sob seu comando - e sua pena - a Tribuna do Norte, principal veículo de comunicação do estado.

Devido à grande irregularidade do calendário eleitoral desde a década de 1950, alguns municípios já haviam preenchido as vagas de prefeitos e noutros a Câmara também havia sido renovada desde 1965.

Considerando os 150 municípios então existentes no Rio Grande do Norte, em 1968 ocorreram disputas para o executivo e para o legislativo municipal, em 134 municípios, em 88 deles para escolha de prefeitos.

A ARENA, embora vitoriosa nos 88 municípios, fragmentou-se perigosamente com o pleito: a ARENA vermelha conquistou 33 prefeituras e a ARENA Verde, ligada a Aluízio obteve vitória em 55 municípios.

Em Mossoró, um capítulo à parte: na segunda cidade do Estado o governismo oficial, representado pelo candidato Vingt-un Rosado, apoiado por Dinarte, com 11.034 votos, perdeu para o candidato de Aluízio, o então deputado Antonio Rodrigues de Carvalho, com 11.132 votos.

Aluízio Alves, mobilizando mais uma vez a simbologia da “cruzada da esperança”, realizou vários comícios na praça do Codó com destaque para as famosas vigílias em cima do “caminhão da Esperança”.  Seu candidato, dentro do marketing verde, ficou conhecido como “capim” e o forte e corpulento adversário Vingt-un Rosado, como o “Touro” (outra explicação para a alcunha deriva do fato de que no jogo do bicho o número 21 corresponde ao touro).

A disputa foi intensa durante toda a campanha eleitoral entre “o Touro e o Capim”.  Aluízio Alves e sua verve impregnou na cidade a expressão: “é o capim comadre”, “é o capim compadre”, “é o capim meu filho”...  E ao final o capim venceu o touro, tirando da família Rosado, pela primeira vez, o controle da capital do Oeste. O novo prefeito comprometia-se também a “marchar com a cruzada da esperança em 1970”.

Em 1º de dezembro de 1968 a Tribuna do Norte publicava o balanço político-partidário no Estado, com os novos prefeitos eleitos e aqueles eleitos anteriormente e com mandato até 1970: 45 prefeituras sob influência da ARENA Vermelha e 104 sob influência da ARENA Verde.

Não é difícil entender porque Dinarte Mariz, com apoio de aliados, articulou junto aos militares a cassação dos direitos políticos de Aluízio Alves e Agnelo Alves em 1969. Para além dos ressentimentos o que parecia estar em jogo era o controle da ARENA e da liderança do governismo federal no Rio Grande do Norte.

· Professora do Depto de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN.

Sob tal adjetivo não pode se esconder, entretanto, a intensa dinâmica de disputas, o progressivo controle do domínio do modus operandi de se mobilizar apoio eleitoral e o aprendizado sobre como lidar com as contradições da política por parte daqueles que participaram desses processos ve madeiradisputas eletivas 

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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21 abril 2016

UM DOS SAPATEIROS DE LAMPIÃO!


O rei caolho do cangaço necessitava para suas longas caminhadas pelos carrascais e densa caatinga de um calçado que fosse resistente e, adaptável ás condições climáticas, AS ALPERCATAS. Para tanto tinha a sua disposição em determinadas regiões, SAPATEIROS que faziam esse ofício, e, eram pagos.


Na região do Pajeú pernambucano o Sr. JOÃO SEVERO, próximo à cidade de Floresta/ Distrito de Nazaré do Pico, fez muitas ALPERCATAS para LAMPIÃO e seus asseclas.

Na foto acima, vemos as alpercatas de LAMPIÃO, nº 40 que se encontram no Instituto Histórico e Geográfico de Maceió, e, que eram usadas por ele quando foi morto no Combate da Grota de Angico, na madrugada de 28 de julho de a938, no Estado de Sergipe.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=504784666390179&set=gm.469299359945680&type=3&theater

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20 abril 2016

O ANJO QUE TE GUARDA

Por Rangel Alves da Costa

Acredite, confie, creia com toda fé: há um anjo que te guarda. Sim, os anjos da guarda existem. São reais e neste momento estão ao lado e dentro de todos que lhes foram confiados proteção. O seu anjo está contigo agora, bem ao lado, por cima, ao redor e dentro de você, calmo, silencioso, atento.

Anjo da guarda, anjo guardião, ser angelical enviado dos céus para estar ao lado, prover, interceder, proteger e guardar seu protegido perante as forças nefastas do mundo. Amparo e escudo, a voz silenciosa ecoando, a motivação de repente surgida, aponta a estrada, guia os passos, faz renunciar às escolhas.

Mesmo que você não sinta, o seu anjo protetor sopra-lhe aos ouvidos, diz sobre o melhor a ser feito, sugestiona o coração, provoca disposições para o bem, tudo faz para evitar a ocorrência do mal. Sua responsabilidade é tamanha que sempre está pronto para, através de você, vencer os desafios surgidos.

O anjo da guarda também age como o ser consciente ao lado do ser duvidoso. É presença que aconselha o espírito, predispõe a alma, fortalece a vida. Preocupa-se com o seu pensamento, suas intenções, com o que pretende fazer. Guarda para o bem, para nortear o fazer e o destino. Protege contra o mal, contra toda maldade que contra você desejem praticar. Influencia o seu passo, cada gesto, cada ação.

Talvez nem imagine que seja assim, mas de repente você muda repentinamente de pensamento. Tencionava ir por um caminho e vai por outro, decide não viajar, deixa de passar por algum lugar num determinado momento. Obra do acaso? Não. Ação do anjo que guarda e protege. Ação do anjo que direciona, que norteia, que tudo faz para proteger. Mas por que o mal acontece? Ora, aquele que se distancia de Deus se aproxima cada vez mais dos perigos e dos labirintos da vida.


O seu anjo é a mesma força de Deus a cada instante. Ele entristece pela sua tristeza, chora pela sua lágrima, regozija pelo seu contentamento, alegra-se pela sua vitória. Ao adormecer, ele continua sempre ao lado, pois anjo de guarda. Ao acordar, ele abre os olhos contigo, caminha contigo, segue aonde vá, pois anjo de proteção.

Mas você poderia perguntar se a proteção divina não está sendo diminuída pela proteção de um simples anjo. Ledo engano, pois sua proteção é a mesma aos olhos de Deus. Ora, os anjos são mensageiros celestiais, são seres que intermediam seus anseios terrenos com os poderes divinos. Deus é tudo e está em tudo, inclusive em você, mas seu anjo se afeiçoa a um amigo bom que tudo faz para que tenha o melhor na vida.

As palavras não são vãs, atente bem para isso. Anjo significa o ser espiritual, o ser iluminado, criado por Deus para cumprir sua vontade perante os seres terrenos. Daí ser mensageiro da vontade divina e intercessor da vontade humana. Por sua vez, o termo guarda implica em guardar, proteger, guiar. Diz-se, então, que anjo da guarda é o ser enviado por Deus para guardar e proteger o seu filho.

Por isso que há um anjo que te guarda, e sempre. Não está refletido no espelho nem como vulto no retrato. Não está com foice à mão lhe abrindo as veredas nem empurrando você para que não dê o passo seguinte em direção ao abismo. Mas está em seu pensamento, em sua mente, no seu coração, no seu espírito, na sua alma. Portanto, no todo você.

A mente boa procura a boa ação. O bom coração deseja fazer o bem. A força interior positiva ilumina a pessoa em cada ação. Eis a intercessão angelical na mente, no coração, no ser. Por isso não há que duvidar nem da presença nem da importância do anjo de guarda na vida do ser humano, na sua vida.

Digo, por fim: Não deseje que seu anjo se vá. Acolha-o com acolhe o próprio Deus. É um anjo e anjo de Deus. Não peça sua intercessão somente em momentos difíceis. Permita, sim, que ele te livre sempre das dificuldades da vida e do mundo. Mas para agir assim, precisa sempre estar dentro e ao redor de você.

Poeta e cronista
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19 abril 2016

JOANA MARTINS ARAÚJO E JACINTA LEITE DE OLIVEIRA.

Por Geraldo Júnior

Respectivamente filhas de Fenelon Leite e Anézio Leite irmãos dos cangaceiros “Pinga-Fogo” e do célebre cangaceiro Massilon Leite que integrou o bando de Lampião e foi um dos mentores do ataque cangaceiro à cidade de Mossoró/RN, ocorrido em 13 de junho de 1927.


O ataque à cidade potiguar foi um verdadeiro fracasso, e pouco tempo após a empreitada Massilon Leite e seu irmão “Pinga-Fogo” que o acompanhava durante a jornada, abandonaram o cangaço e poucas informações foram obtidas sobre seus paradeiros, a partir de então.

Este senhor à direita chama-se Manuel Leite, cangaceiro Pinga Fogo, irmão de Massilon, foi o responsável para cuidar dos reféns, quando do ataque à Mossoró. - Fonte da foto: José Tavares De Araujo Neto - http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2015/08/por-tavares-de-araujoneto-este-senhor.html

Joana Martins Araújo e Jacinta Leite de Oliveira, portanto, são sobrinhas dos cangaceiros Massilon Leite e Pinga-Fogo, antigos cabras de Lampião e personagens de destaque na história do cangaço nordestino.

Quero agradecer às amigas Joana Martins Araújo e Jacinta Leite de Oliveira por me concederem suas imagens para publicação em nossas páginas “O CANGAÇO”.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: O Cangaço

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“CORREIO BRASILIENSE” – 12/04/1970

Por Paulo Dantas

LOUVAÇÃO

... Certa vez viajando de jipe pelas estradas de Sergipe, na estrada de Carira, vi uma tosca cruz, coberta de flores – UM CRUZEIRO DE ACONTECIDO – à beira do caminho.

Era do cangaceiro Gitirana, um cantor do bando de Lampião, um barítono caboclo, de cabelos cacheados, que conheci quando ele esteve na chefatura da Polícia Baiana em 1938, logo depois do massacre da Gruta dos Angicos. Os sobreviventes do bando sem o seu amado chefe, estavam se entregando.

Gitirana será o último cangaceiro chegado do sertão. Estava preso com a companheira, uma morena grávida, mãe de um menino novo que chorava no xadrez ao lado.

Gitirana subiu comigo no elevador e foi para seu aposento. Era noite. Guardei o moço moreno cor de jenipapo, sorriso franco, cabelos anelados, uma inesquecível imagem de simpatia. Não sabia que ele era o cantor, o poeta tirador de rimas do bando, o predileto de Lampião.

Densa era a noite naquele presídio.

Já ao romper da aurora, entre ruídos de grades que se fechavam, abafadas ouvi ao lado, uma doce voz que cantava:

“OU MUIÉ RENDERA 
OU MUIÉ RENDÁ 
CHORO LEVO COMIGO 
SOLUÇO VAI NO EMBORNÁ.
MINHA MÃE ME DÊ DINHEIRO 
PRA COMPRÁ UM CINTURÃO 
PRA FAZER UMA CARTUCHEIRA 
PRA BRIGÁ COM LAMPIÃO. 
OU MUIÉ RENDERA.”

A voz, bem modulada possuía uns acentos como jamais ouvi.

Gitirana, como ninguém nos ermos das caatingas se impunha como o barítono melhor da “MULHER RENDEIRA”.

Gitirana meu gitano cancioneiro caboclo, meu cantor cangaceiro morreu, anônimo e está enterrado nos matos. E virando no ciclo sertanejo da minha ficção além oeste personagem de uma novela: “GIRA, GIRA GITIRANA”.

Fonte: facebook
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste

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18 abril 2016

O TERCEIRO OLHO DE LAMPIÃO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Temos vários relatos de "repentes" que Lampião tinha, inclusive criar uma mística qualidade de prever algo ou receber avisos de forças estranhas.

Cristina Matta Machado em seu livro "As Táticas de Guerra dos Cangaceiros" segunda edição, à página 37 nos fala do início dele no cangaço, aos 21 anos, no bando de "Sinhô Pereira" que se tornaria chefe dois anos depois, teve uma dessas intuições que deixou a todos pasmos.

"Pouco tempo depois de ter entrado no cangaço, Sebastião Pereira estava acordado com seu grupo, na casa de um fazendeiro em Pernambuco. Querendo agradar aos cangaceiros, o proprietário ordena ao feitor:

- Vá estourar umas pipocas pros meninos...

Lampião, que estava passivo, olhar fixo numa só direção, como se estivesse meditando, retrucou:

- Estourar vão ser as balas, num demora mais que cinco minutos.

Houve risos e o fazendeiro confirmou a certeza de todos, de que na região não havia o menor sinal de volante.

Não demorou nem os cinco minutos, o cerco já estava formado e as balas cruzando o ar.

De outra feita, aconteceu lá para os idos de 1920. O grupo cansado da perseguição sofrida, chegaram em uma fazenda de um amigo e esfomeados pediram para matar um bode para comerem.

Os cangaceiros mataram o bode e quando estavam preparando-o foram surpreendidos pelas palavras de Lampião:

- Vamo saí daqui, porque a volante num leva 15 minuto pra chegá.

Não houve dúvidas e, num instante, todos entranharam na caatinga e foram embora, ouvindo a volante chegar em sua pista.

Daí então começou a crescer o respeito de todos por aquele jovem, não somente pelo seu grande poder de percepção, coragem, boa pontaria e disposição, mas principalmente pela capacidade de estratégia que já se manifestava desde cedo.

Quando o chefe de bando Sebastião Pereira deixou o grupo por achar-se velho e querer acabar seus dias mais sossegado, não foi por acaso que Virgulino Ferreira tornou-se chefe em seu lugar. Era um líder natural.


O terceiro olho, também conhecido como Ajna, o sexto chakra, situa-se no ponto entre as sobrancelhas. Conhecido como "terceiro olho" na tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, pode indicar um sensitivo de alto grau. Acredita-se que a glândula pineal, localizada no centro do cérebro e no meio da testa, tenha relação com tais capacidades indutivas e percepção sutil. Essa glândula possui semelhanças com o globo ocular, ambos possuem membrana cristalina e receptores de cor. Segundo lendas, seres supra-humanos possuíam o terceiro olho como um órgão que era capaz de exercer faculdades de telepatia e clarividência. Até hoje, muitas pessoas trabalham, através da meditação e outras técnicas, psicologicamente essa glândula para recuperar tais poderes divinos que teriam sido perdidos ao longo da regressão da espécie. (Fonte: O Terceiro Olho)


Bem, voltemos então à Lampião e vejamos como podemos enxergar pelos exemplos de sua vida, a questão de sua enorme capacidade intuitiva.

Em seu livro, "Lampião: o homem que amava as mulheres: o imaginário do cangaço" Daniel Soares Lins diz que "ao pesquisador do imaginário enveredar tanto no campo dos discursos quanto na estrutura das práticas históricas, buscando encontrar nos "fatos históricos" os "resíduos" colados aos personagens. O sonho, a quimera, a mística, a paixão, o "tempo mágico" e os rituais deveriam ser compreendidos como práticas racionais, respondendo, contudo, a uma outra ordem simbólica, a uma outra organização dos signos e dos imaginários."

Fico a imaginar Lampião sentindo seu terceiro olho, enxergar o que seus comandados não viam. Era no canto de uma ave, era no rastejar de uma cobra. No piar do caboré e da coruja. Na borra do café. No voo rasante do urubu. No sonho que tivera. No cantar do galo em hora que não era dele. A correria de uma raposa. Uma aranha que visse. Um mocó cavando o chão. O cão uivando sem motivo. Tudo isso ensejava a Lampião enxergar algo, com esse olho extra que tinha e que lhe valeu muito quando perdeu um dos olhos, literalmente.

No livro "Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro" de Elise Grunspan-Jasmin, nos traz o poema de Francisco das Chagas Batista intitulado "História do Capitão Lampeão, desde o seu Primeiro Crime até a sua Ida a Juazeiro'', que faz referência à cerimônia de fechamento do seu corpo. Segundo esse poema, Lampião permaneceria invencível enquanto o feiticeiro que o protegia estivesse vivo:

Foi a casa de Macumba
E ele fez o serviço, 
Fechou o corpo do rapaz
P'ra bala, faca e feitiço, 
Então disse a Lampeão: 
Não havera valentão 
Que pise no teu toitiço 

Primeiro ele sujeitou-se 
A um processo arriscado 
Em um caixão de defunto 
Passou uma noite trancado 
O feiticeiro lhe ungiu 
E quando ele de lá saiu 
Estava de corpo fechado. 

Disse-lhe o velho Macumba: 
Agora podes brigar, 
Bala não te fura o couro, 
Faca só faz arranhar 
Feitiço não te ofende 
E a polícia só te prende 
Depois que eu acabar. 

Porém depois que eu morrer 
Ficarás de corpo aberto, 
Tudo pode acontecer-te, 
Pelos maus serás vencido, 
Deves viver prevenido 
Que a morte terá por certo. 


Continuando com Daniel Soares Lins, que diz "...em síntese, ao contrário do historiador que não "ama os acontecimentos", o estudioso do imaginário reivindica, de certa maneira, sua vinculação ao campo das temporalidades e dos acontecimentos, da cultura e da subjetividade."

Isso é importante na criação do misticismo que envolveu Lampião, pois muitas estórias foram contadas e muitas foram também inventadas, por aqueles que o admiravam e reunidos em rodinhas de bodegas nas esquinas das cidadezinhas do agreste nordestino, falavam sobre suas peripécias, cujas aventuras e proezas admiravam.

A esse respeito, o tenente João Gomes de Lira, ex-oficial das Forças Volantes, contou que um colibri um dia se chocou com a aba do chapéu de Lampião que viu nisso um mau presságio e teria dito a seus companheiros que era preciso retroceder. No dia seguinte ele teve a confirmação de que uma Força Volante lhe tinha preparado uma cilada naquele local. Sabendo que se tratava de nazarenos, ele teria feito o seguinte comentário: "Se tivesse passado por lá, teriam acabado comigo" (Pedro Tinoco, "A Superstição Ronda o Cangaço", Jornal do Commercio, 8/7/1997, p. 2).

Por parêntesis quero registrar também, que não era só Lampião que tinha esses repentes e superstições. As Forças Volantes também atribuíam um grande valor aos sonhos e aos sinais premonitórios.

Numa entrevista que concedeu ao Diário de Pernambuco, João Bezerra evoca o recurso aos sonhos, ao sobrenatural e às premonições entre as Forças Volantes antes de iniciar um combate contra Lampião, tanto este lhes parecia ser dotado de uma dimensão sobrenatural: "Pela manhã, os policiais tinham cinco minutos para contar uns aos outros os sonhos da noite. Eram sempre histórias de mulher bonita, de caboclas cheirando como flor de manacá. Olhos beijando seus rostos queimados pelo sol, envolvendo-os de doçuras perigosas. Terminado o prazo, as bocas se fechavam a contragosto com vontade de de comunicar ainda os detalhes esquecidos, dos cabelos das moças evocadas, das donzelas encontradas na beira das estradas."

"Às vezes, noite alta, ouvia-se um rumor, o chefe da volante percorria os subordinados um a um, no escuro, passando a mão pelo rosto para conhecer seus cabras, temendo pela vida de todos, isolados na caatinga bravia, longe de homens mais humanos. Na perseguição de cangaceiros. rastejavam horas seguidas, arrastando a barriga contra a aspereza da terra, olho atento e ouvido apurado, esperando a qualquer momento o soar da fuzilaria, rezando com medo de ensopar a terra com seu sangue já que a chuva não a queria molhar..." - (Afranio Mello, "Como Correu Sertão a dentro a Notícia da Morte de Lampeão". Diário de Pernambuco 5/8/1938, p. 5).

Sim amigos, as estórias são muitas. A Saga Cangaço é muito rica e enseja inclusive a nós viajarmos nas ondas desse grande mar que se chama imaginação. A clarividência de Lampião, esse seu terceiro olho com sua capacidade de "ver" ou de "sentir" o perigo que o ameaçava, não era a única arma mágica de que dispunha para escapar aos seus inimigos. Lampião teria também o dom da invisibilidade, graças a proteções sobre-naturais, às orações fortes que trazia consigo e que podia invocar em situações extremas. Mas esse assunto, deixaremos para um próximo artigo.


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NEGROS EM SANTANA.

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