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09 fevereiro 2016

CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - LAMPIÃO EM PATOS - PARTE III


LAMPIÃO EM PATOS

Em março de 1924, Lampião e nove de seus homens seguem em direção a serra do Catolé, nos limites de Vila Bela (Serra Talhada) com a Paraíba e ficam ali acampados. Informados de operações dos cangaceiros naquela região, várias volantes começam a reunir-se nas imediações da Lagoa do Vieira (PE), com o objetivo de intercepta-los. Ali estavam três volantes, com cerca de cem soldados, comandadas pelo major Teófanes Torres, de Vila Bela. Alguns soldados, ao se dirigirem para o local do encontro, defrontaram-se com Virgulino e mais dois homens. Iniciaram o tiroteio e o chefe dos cangaceiros foi atingido por um tiro no pé esquerdo, abandonando o combate que foi engrossando com a chegada dos outros cangaceiros e das volantes. Lampião ficou ferido, isolado de seu grupo, escondido em uma moita de arbustos justamente no local de passagem das volantes. Teria sido fácil encontrá-los pelas marcas de sangue nas folhagens, se não fosse o socorro prestado por alguns cangaceiros, liderado por Antônio Rosa, que desviou a atenção da polícia, levando-a para outra direção.

Passou ali dois dias sem socorro. Quando foi encontrado por seus companheiros, já estava bastante enfraquecido, febril e apresentava o membro inferior bastante infeccionado e cheio de vermes. Fizeram os curativos de emergência usando creolina e ácido fênico e buscaram reanimar suas forças com alimentação à base de leite, angu e rapadura. 

No terceiro dia, seu irmão Antônio Ferreira o levou para uma gruta – que ficou conhecida como a Gruta do Cangaceiro –, localizada no pé da Serra das Abóboras, que extrema com a Serra da Bernarda.

Deixando seu irmão em bons cuidados, partiu Antônio Ferreira, a toda a brida, para Princesa, onde participou ao coronel Zé Pereira o ocorrido.

Coronel José Pereira de Lima - Princesa-PB
            
Em 3 de abril, cinco dias depois, Antônio Ferreira retorna com um grande grupo armado, fornecido pelo coronel Zé Pereira, para, com segurança, transportar Lampião até a fazenda de seu cunhado Marcolino Pereira Diniz, no Saco dos Caçulas, em Patos de Princesa.
            
Um cidadão de nome José Alves Evangelista, cedeu sua casa nova para a hospedagem de Lampião. Estava se preparando para casar, construíra a casa e ainda não a tinha habitado.
  

Ali, Lampião foi operado pelo médico Dr. Severiano Diniz, que fez a recomposição dos ossos esfacheados da perna. Esse médico acompanhou o tratamento por três meses, e também na convalescença. O Dr. José Cordeiro de Lima, de Triunfo também assistia ao enfermo.


Os cangaceiros, em lugares estratégicos como o Livramento, o Pau Ferrado, além do Saco, montavam rigorosa vigilância para que nada atrapalhasse a recuperação de seu Chefe.

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LAMPIÃO É NOSSO SANGUE O DRAMA DE LAMPIÃO ANALISADO POR UM ÂNGULO DIFERENTE - PARTE II


JOÃO FERREIRA reviu terras que não pisava havia 37 anos, O único irmão de "Lampião" que não ingressou no cangaço vive hoje na cidade de Propriá, no Estado de Sergipe, levando a vida honesta que sempre levou. Sofreu bastante por ser irmão de "Lampião". 


PARA OS OUTROS A MORTE DE "LAMPIÃO" FOI UM BEM, UM ALIVIO.

ESTA REVISTA proporcionou a João Ferreira uma viagem de automóvel que ele jamais sonhara realizar. 

NO ALTO SERTÃO de Pernambuco João abraçou parentes que não via desde os seus quinze anos de idade.

NÃO HAVIA choro quando partia. Estivera ausente 37 anos. E ausência é madrasta de apego. 

JOÃO FERREIRA mandou cortar um galho de árvore e fazer urna cruz. Fincou-a no local onde jazera o corpo do mano. Foi recolher flores silvestres e veio depositá-los ao pé da cruz. Para homenagear o irmão. 

A iniciativa de O CRUZEIRO proporcionou a João Ferreira uma jornada sentimental que ele jamais sonhara realizar Esse homem alto, careca, desconfiado, das fotografias ao lado, passou seis dias em cima dum automóvel, varando 2.000 km de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Vocês precisavam ver que arroubos de entusiasmo o alto sertão arrancava de João. Como seus olhos brilhavam. Como o semblante irradiava alegria, pelo menos enquanto ele podia esquecer as razões que o haviam afastado das terras de seu bem-querer. 

No município de Serra Talhada, em Pernambuco, ele abraçou parentes que não via desde os seus 15 anos de idade. E ele agora está com 52 anos. Levado à Fazenda Serra Vermelha, onde nasceu, e onde também nasceu "Lampião", João Ferreira encontrou xique-xique brotando nas ruínas do casarão de sua infância. Voltou-se para mim e disse com desalento: "A vida é assim mesmo..." Há 37 anos não pisava ali. Pensava que ia morrer sem voltar. Conversava (incógnito) com os novos donos da terra, fazia perguntas sobre a vida na fazenda. Tudo agora lhe parecia diferente. Não havia mais aquela atmosfera dos seus tempos de menino, dos seus tempos de rapaz. Não havia mais.


O ADVOGADO pernambucano Antônio Ferreira Magalhães, primo de "Lampião". 

 

"LAMPIA0" - MOÇO

Virgulino Ferreira do Sirva aos 26 anos de idade, numa fotografia rara que se encontrava em poder do umas tias, em Pernambuco. Foi nessa época que ele recebeu a "patente" de capitão das mãos de Padre Cícero, do Juazeiro do Norte. Reparar o olho direito cego. 


João VIAJANDO de barco, ouvia histórias sobre os últimos dias de "Lampião". À direita, deitado, o primo Manuel.

EM ANGICO desembarcou para ver a local onde, há 15 anos, o seu mono foi traído, morto e decapitado.

EM DELMIRO, na casa da mana Mocinha, tomou leite no pé da vaca (com farinha). 

EM SERRA Talhada, João Ferreira viu xique-xique brotando nas ruínas do casarão onde "Lampião" nasceu. 
  

"O CRUZEIRO" DESCOBRE EM ARACAJU A FILHA E O NETO DE MARIA BONITA. NUNCA FORAM FOTOGRAFADOS.


A FILHA, O NETO, E O GENRO DE LAMPIAO, Expedita, ao lado de seu esposo Manuel Messias Neto, segura o filhinho Dejair, de 9 meses de idade, neto de "Lampião". Pela primeira vez a família posou para o objetiva de um repórter. 


A FILHA DE "LAMPIAO"

Expedita Ferreira Nunes, que a família Ferreira aponta como única filha deixada por "Lampião" com Maria Bonita, foi localizado pelo repórter em Aracaju. É uma jovem esposa e mãe, com 21 anos de idade. Normal. Bonita. De tez morena. Foi educada por João Ferreira e, seguindo o exemplo de seu tio, não gosta de falar sobre "Lampião". Mas lê tudo que se publica sobre seu pai e até mesmo o filme "O Cangaceiro" ela foi ver e não gostou. Ela guardava a edição de O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sabre "Lampião". Expedita revê uma fotografia usado por Martins naquela reportagem. 

DIZIA-SE que "Lampião" e Maria Bonita haviam deixado um filho. João Ferreira nega, assinando a declaração cujo "facsímile" estampamos abaixo:


"Declaro ao repórter Luciano Carneiro que a senhora Expedita Ferreira Nunes, de 21 anos de idade, esposa do sr. Manoel Messias Nunes, 4 filhas de meu irmão Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, e de sua companheira Maria Bonita. Quando ela nasceu Virgolino me pediu que eu a fizesse uma mulher de bem. Ele não estava em condições de fazê-lo. Não me consta que alem de Expedita, tivesse havido qualquer filho da união de Virgolino e Maria Bonita. Se houve, se há, eu nunca soube."

RECIFE, 19 de Agosto de 1953 

CONTINUA...

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O CASAMENTO DE DOCA - PARTE II


Entre as terras desses guardiões, no povoado de São José, a 6km de Alagoa Nova, morava Doca. Manoel Bezerra de Macena, mais conhecido como Doca, era pai de Quitéria, de China e de Zé de Doca. Casou-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, conhecida por Isabel de Doca e que era tia de Didi Pereira da Silva. Todos esses nomes são de pessoas bem conhecidas dos manairenses. Ambos são descendentes dos primeiros fundadores da Fazenda São José. Ele, descendente de José Bizerra Leite, ela de Ignacio ou de Felix Ferreira da Luz.

Na juventude, Doca teria estudado algumas aulas junto com Virgulino Ferreira, construindo certa amizade, mantendo-a mesmo depois que este enveredou pelas trilhas do cangaço.

Nos anos 20, junto com Marcolino, comunicaram um local, julgado seguro, que permitiu a Lampião apoiar-se por vários anos nas imediações do Pau Ferrado.

Brincos e colar de ouro, para Isabel – Presentes de Lampião

Doca teve um desentendimento com o chefe do povoado onde residia e isso passou a trazer-lhe certos desconfortos. Quando resolveu casar-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, queria que a celebração ocorresse no São José, onde morava. O chefe da localidade mandou um recado a Doca informando que não permitiria que houvesse festa no casamento. Seria muita gente e ia fazer muito barulho. Naquela época, casamento tinha que ter o baile, mas ninguém podia ir contra uma ordem de um mandatário local.


Lampião soube dessa notícia e mandou um recado para Doca: “Amigo, pode contratá o sanfoneiro e organizá o baile que ninguém vai atrapaiá.”

No dia 23 de novembro de 1923, depois do casamento, chegou uma tropa armada. Vieram “passar a guarda” no casamento (garantir a tranquilidade). “Lampião apitou num apito e mandou chamar Pai”. Pai foi e Lampião disse “pode botá o baile que eu quero vê quem num qué escutá”.

A festa aconteceu, o sanfoneiro tocou e nada interrompeu a alegria. Atrás da casa, sob as árvores, ficaram os cabras, aos quais foi servido um farto jantar. Há quem diga que eram 17, outros afirmam que eram 40 cangaceiros. Doca chamou Lampião para jantar dentro da casa e, ali pela madrugada, o convidado disse: “a festa tá boa, Doca, mas eu vou imbora.”

Lampião levou como presente de casamento, para Doca, uma garrafa de fino vinho francês, envasado em garrafa de cristal decorado (foto à esquerda). Para Isabel, levou uma “vorta (colar) de muito bom tamanho, vorta de ouro e mais um pá de dois brinco” (foto à direita). Quitéria conta que, muitos anos depois, Isabel trocou por um cavalo, somente os brincos. “Mas o cavalo morreu. O cavalo era de Filiciano, mas Filiciano morreu. Ele deu osbrinco a Maria de Zé Grande, mas Maria de Zé Grande Morreu. Depois eu não sei mais não, acho que ninguém teve sorte com eles (os brincos)”.

“Na revorta de 30 pai amarrou dois fuzi debaixo da gaveta (no compartimento do fundo falso). Os sordado vieram, quebraram tudo, inxero a casa de buraco de tiro, mas quando a guerra acabou nós chegô do Brejo (Triunfo) e nós chegô e tava lá os dois rife, a Puliça num achô.”Não somente na época do casamento, mas em outros momentos de lazer, na sala da casa de Doca tinha uma mesa onde Lampião fazia suas refeições e se distraía, jogando cartas de baralho. A mesa tinha uma grande gaveta, com fundo falso.

Uma bandeja em grosso alumínio era o prato utilizado pelo cangaceiro para sua alimentação. A casa ainda mantém-se de pé e é cuidada pela filha mais velha do casal que nos reconta essas histórias. (Narrações de Quitéria de Doca).

CONTINUA...

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08 fevereiro 2016

O COITEIRO QUE TRAIU LAMPIÃO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Quando encontrei essa reportagem, que sinceramente não sei quem me passou, ou se encontrei em pesquisas nas bibliotecas virtuais, e também não sei que jornal saiu, qual data, e não tinha ideia da joia histórica do artigo. Quem souber desses detalhes, comente por favor na postagem no Facebook do site do Grupo Lampião, Cangaço e Nordeste.

Reportagem feita pelo jornalista Roberto Vilanova, traz conversas que ele teve com o sobrevivente da chacina da Fazenda Patos e também com o homem que foi acusado de tramar esse tenebroso desfecho.

Fazenda Patos - Encontro do Cariri Cangaço

Em visita à Fazenda Patos, no município alagoano de Piranhas, por ocasião do encontro anual de historiadores, escritores, pesquisadores e admiradores da Saga Cangaço, no mês de julho de 2015, tive a oportunidade de gravar o depoimento do Senhor Celso Rodrigues, relatando o acontecido, quando era menino, ouvindo os adultos conversarem no balcão da bodega de seu pai, estabelecida em Piranhas, naqueles anos pós morte de Lampião. 

Nessa ocasião escrevi o artigo "A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes" onde narro esse estudo e pesquisa a céu aberto, inclusive com dois documentários gravados, participando juntamente com os companheiros da Confraria do Cariri Cangaço de sua programação patrocinada juntamente com a Prefeitura de Piranhas-AL que montaram essa oficina de estudo de caso, no palco em que tais acontecimentos ocorreram. Vamos então à matéria: 

Ninguém vive tão só em Piranhas, esse homem carrega há 40 anos o desprezo de sua cidade

Roberto Vilanova 
Fotos de Helder Monteiro


Maceió — Hoje é dia de feira na cidade de Piranhas, a quase 400 km da Capital de Alagoas, é o dia do encontro semanal muitas vezes cara a cara, das duas mais sacrificadas testemunhas da morte de Lampião: o que traiu o cangaceiro e o único sobrevivente da família assassinada por Corisco numa vingança resultante de uma segunda perfídia do traidor. Os dois não se falam. Por trás, acusam-se mutuamente de covardia e mentira. Se até hoje não explodiram em violência física um contra o outro, isso se deve a um trabalho de catequese das famílias tradicionais daquela cidade do alto sertão alagoano, principal cenário do planejamento da morte de Lampião, há 39 anos. O coiteiro é Joca Bernardo; o sobrevivente é José Silvino Ventura. Só um milagre terá feito Silvino escapar das mãos de Corisco — o segundo homem do bando de Lampião — quando o cangaceiro veio se vingar da morte do chefe e "sangrou" seu pai, sua mãe e quatro irmãos. Ele era o mais novo: tinha seis anos de idade, o que provavelmente o salvou.

José Silvino Ventura filho de Domingos Ventura assassinado por Corisco

— Corisco chegou lá em casa quase as sete da noite. Meu pai, Domingos Silvino, não sabia de nada e o recebeu alegremente. Corisco foi logo dizendo: "Domingos, vim lhe matar. Você vai morrer com toda a sua raça, para nunca mais trair homem, Já sei que foi você quem traiu Lampião. O Joca Bernardo me contou tudo." José Silvino não conta detalhes da chacina. Só diz que foi muito cruel ter de levar, em um saco, as cabeças de seus pais e irmãos, para entregá-las, em Piranhas, ao tenente João Bezerra, comandante da tropa que exterminou Lampião e seu bando. Revela também, agora por ouvir dizer, como se deu o encontro de Joca Bernardo com o cangaceiro e como a polícia, orientada pelo coiteiro, chegou à grota de Angicos, onde Lampião e alguns de seus comparsas estavam escondidos e foram mortos.

— Uma semana depois da morte de Lampião — continua Silvino — Corisco encontrou-se com Joca Bernardo, Queria vingar o chefe. Bernardo disse que meu pai, que era vaqueiro do sogro do Tenente Bezerra, tinha sido o delator. Corisco reuniu seu estado-maior e resolveu decidir a sorte de Domingos Silvino. Conta-se que Dadá, mulher de Corisco, advogou a honestidade de Bernardo, tal a segurança com que ele sustentava a culpabilidade de Silvino.

— Corisco acreditou porque o Bernardo armou tudo direitinho. Eu não sei se ele tinha queixas de meu pai. Eu era criança e não sabia de nada. Nas consultas que fez a seu estado-maior, Corisco alinhou três argumentos para condenar Domingos Silvino:

1) parecia difícil que o coiteiro Bernardo fosse inventar, sem mais nem menos, o nome de outra pessoa;

2) Domingos era vaqueiro na fazenda do Sr. Antonio Brito, sogro do Tenente Bezerra;

3) O Tenente Bezerra comanda a tropa policial na invasão do esconderijo de Angicos.

Cidade de Piranhas-AL às margens do rio São Francisco aqui se planejou a morte de Lampião

O coiteiro traidor vive hoje de uma aposentadoria pelo Funrural. Tem uma casa de taipa, esburacada, e um burrico no qual, às quartas-feiras, vai a Piranhas. Depois de ajeitar o cigarro de palha, molhando-o com saliva para fechá-lo adequadamente, ele concorda em falar.

— É verdade que o senhor denunciou Domingos Sivino, como o homem que traiu Lampião?

— Isso é história, Eu não faria uma coisa dessas.

— Mas o senhor se encontrou com Corisco, não foi?

— Isso é verdade.

— Como se deu esse encontro?

— Eu tinha acabado de juntar o gado, aqui perto, em Entre Montes, quando ele pulou na estrada, a esfumaçar pelo nariz que nem um touro. Ai eu disse: "O que é que há camarada?" Ele respondeu: "É verdade que mataram Lampião?" Aí eu afirmei que tinha ouvido falar.

— Foi esse o dialogo?

— Só isso. Aí ele foi embora, me parece chorando.

Bernardo está cercado de olhares, são de desprezo. Ele está acostumado a ser olhado assim até por pessoas que combatiam veementemente o cangaço. Julgava ter contribuído para o sossego público em Piranhas, a cidade alagoana, mais sobressaltada no tempo dos cangaceiros, que vinham repousar no até então inexpugnável esconderijo dos Angicos. Seu degredo começou quando não cumpriram a promessa de pagamento pelo serviço prestado. Prometeram-lhe cinco contos de réis, mas só lhe deram pouco mais de um.

Se tivesse aceito a patente de sargento da polícia alagoana, que lhe foi oferecida,  estaria hoje na reserva remunerada da corporação, no posto de coronel.

— Quem lhe prometeu cinco contos de réis para trair Lampião?

— A polícia.

— Por que não aceitou a patente de sargento?

— Prá morrer de fome, prefiro ficar no sertão cuidando do gado. Eu tinha 11 filhos. Um sargento de polícia ganha quanto? E ainda tem de viver aqui e acolá, por onde ordena o Governador. E eu só sei tratar de gado e plantar. Por isso, não aceitei.

Por não ter aceito a patente de sargento, Joca Bernardo perdeu a mulher e os 11 filhos, que lhe abandonaram. Segundo conta, a mulher fez muita força para que ele aceitasse as divisas. Quando viu que não conseguiria convencê-lo, forçou-o a uma decisão: aceitar a patente ou ficar sem mulher e sem filhos.

— Então o senhor preferiu perder a mulher e os meninos?

— Na minha casa quem manda sou eu. Não quer viver comigo? Então que se saiam.

— Por que o senhor aceitou trair Lampião?

— Eu não traí Lampião. O que eu queria, na verdade, era que um coiteiro dele, Pedro de Cândido, levasse uma surra da polícia.

— O que teve a ver uma coisa com outra?

— O Pedro de Cândido sabia que eu fabricava queijos. Uma vez chegou em casa e me disse que compraria todos os queijos que eu fabricasse. Pudesse guardar que ele comprava tudo. No outro dia, lá vem ele atrás de queijo. Eu disse que não tinha. Ele olhou para uns queijos que eu ia entregar, de encomenda, e disse: "E esses aí, cabra safado, de quem são?" Respondi que eram do juiz de Pão de Açúcar e que não poderia vendê-los. Aí ele disse: "Juiz coisa nenhuma". E levou tudo.

— E daí?

— Fiquei com raiva. Logo arranjei um jeito de me vingar de Pedro. Descobri que os queijos eram para Lampião e seu bando. Aí procurei o Sargento Aniceto, em Piranhas mas que ele apertasse o Pedro de Cândido que que diria tudo. Assim foi feito.

Pedro recebeu o aperto e disse onde Lampião estava. Acabou agraciado com as divisas de cabo da polícia alagoana, e, mais tarde, ganhou uma delegacia no sertão. No posto de delegado, foi assassinado. Joca Bernardo estava, afinal, vingado. Silvino não quis vingança. Parece considerar que esta se consuma toda quarta-feira, quando Jaca Bernardo, como hoje, é olhado com desprezo por todos os que estão na feira de Piranhas. 

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O CANGACEIRO VOLTA SECA FALA SOBRE MARIA BONITA E LAMPIÃO


Em Setembro/Outubro de 1973, O Pasquim entrevistou o ex-cangaceiro Volta Seca, e ele falou sobre o cangaço, principalmente quando Lampião conquistou Maria Bonita. 

Volta Seca foi o cangaceiro que mais cumpriu pena: 20 anos de reclusão. Entrou na cadeia quando ainda era um menino (Violência do Estado?)

Jaguar - Quando foi que Maria Bonita entrou pro bando?

- Maria entrou quando eu tinha mais ou menos uns dois anos. Mas ele aconselhou ela o que pôde, ele cansou de dizer a ela que não queria que o acompanhasse, porque a vida dele era assim: na mesma hora que tava vivo, já tava morto.

Ziraldo - Cê lembra quando ele conheceu Maria Bonita?

- Lembro. Foi em Santa Brisa. (Santa Brígida)

Jaguar - Santa Brisa (Santa Brígida) fica onde?

- Em Sergipe. (Bahia)

Ziraldo - Cumé que foi a história, ela é sergipana também? (Baiana)

- É. Ela estava, nós estava hospedado lá na Maiada da Caiçara. Então, nós tava lá, aí a mãe dela disse assim: "Capitão, a única pessoa que teria mais prazer de conhecer o senhor era a minha filha". Aí ele disse: "Não é nada difícil, eu ando por aqui, ela mora aqui"? Ela disse: "Não, ela é casada e mora em Santa Brisa". Ele disse: "Se a senhora pode mandar chamar ela, eu estou aqui, até amanhã. Mas só fala com ela, que eu estou aqui. Mais ninguém, tá certa"? Aí ela mandou um irmão dela chamar. O menino chegou lá, chamou ela e ela veio. Quando chegou, a própria mãe levou ela lá onde nós estava, todo mundo acampado.

Ziraldo - Era longe?

- Não, era um pedacinho bom. Eram três léguas. Aí, ela chegou, ela apresentou a ele, ele também tratou ela muito bem e daí ficou por ali.

Millôr - Era bonita realmente?

- Era bonita.

Millôr - Era baixinha, alta?

- Era baixinha.

Millôr - Ela tinha que idade mais ou menos, nessa época?
  


- Ela podia ter uns 18 anos, não tinha mais do que isso, não. Então ele disse: " Ah, eu vivo essa vida mas eu num gosto não. Mas eu num tô com mais jeito. O meu jeito é esse mesmo. Então, eu tenho que seguir até morrer". Então ela disse: "Eu sou casada" e tal... E conversaram, aquele negócio, né? Ai ela disse: "Capitão, sabe que eu lhe acompanho"? Ele disse: "Não, você ê casada, vive sossegada". E começou a rir...

Millôr - O que que fazia o marido dela?

- Era sapateiro. Então ele disse: "Mas você tem coragem de acompanhar um sujeito como eu? Um homem perdido da sociedade. Eu num tenho sociedade, num tenho nada. Vivo perdido, como um bicho, pro mundo..." Ela disse: "Num tem problema, eu tenho coragem". "Não, você deve ir pra onde tá o seu marido, você é casada. Se você tá querendo que eu crie mais um inimigo, Deus me livre; eu num quero mais uma coisa dessas". Ela disse: "Não, mas eu vou. Eu vou agora, nem mais lá, eu vou".

Millôr - Ela não tinha filho não, né?

- E num foi mesmo. Aí, ele começou a dar conselho pra ela, que num tava bem, que ele podia tá morto a qualquer momento... Aí, ele disse: "Bom, o seguinte é esse: você não pode ir comigo, minha vida é a pé, é a cavalo, é de todo jeito, é pelos matos..." Ela disse: "Eu vou também". "Mas eu posso morrer hoje, amanhã..." Ela teimava: "Eu morro junto com você. Mas num lhe deixo mais". E num deixou mesmo, terminou morrendo junto com ele mesmo.

Ziraldo - Ela atirava também?

- Atirava. Eu queria tá com ela e não queria tá com dez homens da marca dos que eu conheço por aqui. Tava mais satisfeito.

Sérgio Cabral - Ela aprendeu a atirar no bando do Lampião?

- Aprendeu e atirava bem, mesmo. Era uma mulher de raça...

Ziraldo - Escuta, depois que ela, entrou no bando, ela era a única mulher do bando?

- Era. Num tinha mais nem uma; só ela.

Ziraldo - E ela cozinhava pra vocês?

- Não. Ela cozinhava pra ele lá.

Ziraldo - Vocês tinham cozinheiro no bando?
 
- Não, cada um fazia o que é seu.

Jaguar - E não houve tentativa de ninguém no bando dar uma cantada nela, não?

- Cê tá maluco, rapaz? Dava uma cantada e já era.

Millôr - Escuta, ela falava com vocês, brincava.
 
- Brincava com nós como se brinca com uma criança dessa e outra qualquer. A mesma coisa.

Jaguar - E ninguém se engraçava com ela?

- Não.

Jaguar - E ele gostava muito dela?

- Gostava, se ela...

Millôr - Ele tinha mulher e não permitia que os outros tivessem?

- Ele não importava. A que quisesse acompanhar e ir de vontade, podia acompanhar. Agora, tinha muito nego que não queria.

Sérgio Cabral - Aconteceu alguma vez de uma mulher acompanhar o homem?

- Tinha muita.

Jaguar - Mas não como Maria Bonita, né? Não combatia nem nada. né?

- Não.

Ziraldo - Agora, esse nome, Maria Bonita, foi o pessoal do bando que botou nela, ou foi a lenda? Vocês não a chamavam de Maria Bonita, não né? Era só Maria?

- Não, o nome dela legítimo era Maria Déia. Não Maria Bonita, Maria Bonita quem botou foi o pessoal deles lá da polícia mesmo. Maria Bonita, porque ela era bonita mesmo, e tal. Então foi que eles deram esse título a ela de Maria Bonita. Mas lá no bando não tinha disso não.

Ziraldo - Os filhos do Lampião eram filhos dele com Maria Bonita, ou ele, era casado com outra, anteriormente?

- Não. É filho dela mesmo.

Ziraldo - Ele ainda tem os filhos vivos, não tem?

- Tem. Os filhos com Maria Bonita nasceram lá no Cangaço. A Expedita...

Millôr - Cê num chegou a ver ela grávida não, né?

- Ó rapaz, eu fui servir de sentinela pra ela ganhar a criança.

Jaguar - Quando é que foi isso, hein?

- Isso foi lá mesmo, na Mata da Caiçara.

Aparício - Quem atendeu a Maria Bonita como parteira?

- Foi a mãe dela mesmo.

Fonte: http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/12/entrevista-de-volta-seca-jornal-o.html

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07 fevereiro 2016

LAMPIÃO É NOSSO SANGUE O DRAMA DE LAMPIÃO ANALISADO POR UM ÂNGULO DIFERENTE - PARTE I


Nessa reportagem da revista O CRUZEIRO de 26 de setembro de 1953, encontramos uma experiência patrocinada por esse periódico, onde ficou para a história do cangaço. Trata-se da visita do irmão de Lampião às terras de seu passado, tendo contato com familiares de pessoas que traíram seu irmão Lampião, entrando em assuntos que ele preferia não tocar mais, assim como o autor da matéria, em entrevista a familiares, percebeu.

A vida é efêmera e todos nós sabemos disso. Acontece conosco aquilo que o velho adágio popular diz: Quem planta ventos, colhe tempestade." e outro que diz "Colhemos o que plantamos." Isso aconteceu com Lampião. E para lembramos disso, no final dessa reportagem, que nos informa, como o irmão de Lampião, João Ferreira, ao visitar pela primeira e única vez, o local que seu mano tombou, cortar um galho de árvore, fazer uma cruz e fixou-a entre pedras, no local onde jazera o corpo decapitado do irmão, e o repórter perguntar: 

— Enterraram o corpo? 

— Não, a água levou. Respondeu o guia.

Vamos então ler a reportagem de Luciano Carneiro e ver também as fotos que ele próprio tirou:



"LAMPIÃO É NOSSO SANGUE" 

PELA PRIMEIRA VEZ A FAMÍLIA DO "CAPITÃO" VIRGULINO DEFENDE DE PÚBLICO A SUA MEMÓRIA

Jornada sentimental de um irmão de "Lampião" pelas terras que serviram de marco à carreira do "rei do cangaço" — João Ferreira revê o seu berço natal após uma ausência de 37 anos e planta uma cruz onde o mano Virgulino foi morto e decapitado — A outra irmã sobrevivente mora em Alagoas — O CRUZEIRO localiza e fotografa a filha e o netinho de "Lampião" — Deve uma filha envergonhar-se do pai cangaceiro? 

Texto e fotos de LUCIANO CARNEIRO 

ESTA reportagem nasceu de um encontro com Rachel de Queiroz. Conversa vai, conversa vem, nossa grande Rachel abriu a bolsa e tirou uma carta para me mostrar "Um primo de "Lampião" foi quem escreveu", ela disse. O primo, Antônio Ferreira Magalhães, advogado em Recife, dizia a Rachel, entre outras coisas: "Nós da família Ferreira... não pretendemos justificar ou legitimar os crimes de "Lampião" mas julgamos... lamentável erro de observação... o situar-se Virgulino no plano comum dos malfeitores..."

A carta fascinaria qualquer repórter. Se esse primo achava que "Lampião" não foi um criminoso comum, é que a família Ferreira tinha uma interpretação dos fatos. Nesse caso, por que não se dar a palavra aos Ferreira? Permitir que eles, pela primeira vez, apresentassem o seu lado da história seria colher um elemento valioso para futuras pesquisas históricas.

Mas os parentes de Lampião não gostam de falar. Eles dizem ter uma profunda mágoa de que a figura de Virgulino apareça por aí tão deformada. Além do mais, queixam-se muito do que sofreram por causa do parentesco. Seria melhor não reavivar mágoas. O irmão de Virgulino, João Ferreira, manteve-se até 1953 sem falar a jornalistas sobre o drama da família, revoltado com as perseguições que lhe valeram anos de prisão e até uma condenação à morte.

E ele jamais compactuara com os feitos do irmão. Quando procurei o advogado Ferreira Magalhães em Recife, ele afirmou que preferia que "esse drama fosse esquecido". Disse por que: — Para muitos a vida de "Lampião" foi apenas um rosário de atrocidades. Sua morte: um alívio. Para nós, os parentes. Lampião era também o rapaz ordeiro e trabalhador dos primeiros tempos, lançado ao crime por circunstâncias estranhas à sua vontade. Por isso, enquanto o Nordeste se alegrava com as notícias de sua morte, nós nos ajoelhávamos. Nós perdíamos apenas um parente. Um parente que se pusera fora da lei para vingar injustiças. Havia pois uma divergência de base entre esses dois modos de pensar, acrescentou Ferreira Magalhães. E se eram opiniões inconciliáveis, "para que rememorar a vida heroica mas inglória de "Lampião", erguendo uma controvérsia sobre a sua cabeça insepulta?"

A resistência dos Ferreira à ideia da reportagem terminou por ser vencida e em consequência O CRUZEIRO localizou os dois irmãos sobreviventes de "Lampião", levou João Ferreira aonde "Lampião" nasceu e aonde foi morto, obteve de João a versão dos Ferreira sobre os acontecimentos que lançaram Virgulino ao crime, fotografou em primeira mão a filha e o netinho de "Lampião" e Maria Bonita.



QUANDO uma volante alagoana matou "Lampião" em 1938, ele usava tudo isso que aparece na página da esquerda: chapéu, óculos, lenço, bornais, cartucheiras, cantil, alpercatas, pistola, punhal e apito. Só a roupa (na foto) não lhe pertencia. O rosto é uma máscara de morte mandada fazer em cera pelo Instituto Histórico de Alagoas, onde estas fotografias foram feitas. 



UMA CABEÇA em bronze de "Lampião" e uma estatueta de cangaceiro trabalhada em madeira — símbolos do drama nordestino focalizado agora nesta reportagem. Foram adquiridos pelo cineasta Lima Barreto.

CONTINUA...

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CORISCO FOI O TRAIDOR DO REI DO CANGAÇO LAMPIÃO?

Por José Mendes Pereira

Em relação a não presença de Corisco ao coito na madrugada de 28 de julho de 1938, lá na Grota de Angico, eu busco resposta para isso. 
              
Alcino Alves Costa diz em: (Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico): 

 Alcino Alves Costa

“- Uma estranha versão conta que nos últimos dias que antecederam o cerco na Grota de Angico os famosos José Lucena e Aniceto Rodrigues foram até o coito do Corisco, com a finalidade de acertarem algo que poderia mudar os caminhos do banditismo com o falado Diabo Loiro”. 

Continua o escritor: 

“- É esta visita misteriosa, um dos grandes segredos que cercam os fatos de Angico”.

Teria sido Corisco um dos traidores de Lampião, entregando o rei aos famosos José Lucena e Aniceto Rodrigues, já que eles foram ao seu coito com a finalidade de acertarem algo que poderia mudar os caminhos do banditismo?

Quando aconteceu a chacina que levou o rei do cangaço Lampião e a rainha Maria Bonita e mais nove cangaceiros, Corisco e seus asseclas se encontravam acoitados entre as fazendas de nomes: Coidado e Emendadas.                

Será que Corisco não foi para o acampamento quando aconteceu o ataque aos bandidos porque sabia o dia em que seria feita a chacina, uma vez que a volante não iria ter tempo de escolher quem morreria e quem ficaria vivo? E aí, leitor?

Estas são as minhas humildes opiniões.
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O CANGACEIRO VOLTA SECA PERDEU-SE QUANDO DISSE QUE TERIA VISTO MARIA BONITA VIVA, E 33 ANOS DEPOIS AFIRMOU QUE ELA MORREU JUNTA COM LAMPIÃO.

   Por José Mendes Pereira Em 7 de abril do ano de 1948, Antônio dos Santos, conhecido no mundo do crime como sendo o cangaceiro "Volta...