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04 janeiro 2016

DIREITO QUE ANATHÁLIA CRISTINA QUEIROGA NÃO TEVE, O DIREITO DE USUFRUÍ-LO

Por José Mendes Pereira
Anathália Cristina Queiroga iria concluir o curso de Direito este ano de 2012

O que é que pensa uma pessoa prestes a se formar em Direito, exterminar a sua própria vida? Nós, pecadores não sabemos. Dizem que a pior vida do mundo é melhor do que morrer. Mas será que é mesmo?  Eu acho que sim. Ou apenas imaginamos que a pior vida do mundo é melhor do que morrer? Quando isto acontece, uma coisa não natural está acontecendo com a vítima.


Anathália Cristina Queiroga (22 anos), tinha tudo para ser feliz. Natural de Pau dos Ferros. Iria receber o seu canudo de papel (Advogada), este ano de 2012; filha única e nascida também, no meio de um único irmão, o Jefferson Queiroga, de 27 anos, Engenheiro, formado recentemente em Natal pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 


Anathália tinha um namorado que muito a amava, e além do mais, carinhoso e cuidadoso com os seus pais, amigo de todos que lhe rodeavam.

Anathália e seu pai Júlio Batista Pereira

Na sexta-feira (25 de Maio), deste ano de 2012, em Pau dos Ferros, à tarde, Anathália Cristina Queiroga fez bolo, comprou refrigerantes, ornamentou a casa, dizendo a Edilza, sua mãe, que iria lhe fazer uma surpresa. Cuidou de se arrumar para ficar mais linda ainda; fez unhas, cuidou dos longos cabelos, e elegantemente se vestiu. Agora, sim, Anathália se era bela, mais bela ficou. 


Edilza esperava que Anathália Queiroga iria lhe fazer uma homenagem, como de mãe, de mãe que muito soube criá-la com carinho... Mas se enganara. Anathália estava com outros planos, planos que ninguém soube explicar o porquê.


Mais ou menos às 8;15, (25) da sexta-feira, Anathália Cristina ligou para o namorado, dizendo-lhe que naquele momento iria se despedir do mundo, pois não queria mais viver. 

Anathália colada ao seu irmão Jefferson Queiroga

O namorado apavorou-se, dizendo-lhe que não fizesse aquilo, o esperasse, pois estava chegando em casa e muito a amava, não o deixasse sozinho, e que muito precisava da sua companhia.


Mas Anathália Cristina estava decidida. O mundo que talvez para ela não representasse mais nada, tinha chegado ao fim. 


O namorado sabia que se encontrava um pouco distante da residência e seria muito difícil encontrá-la ainda com vida. Ligou para Edilza, mãe da Anathália, que também se encontrava distante de casa, apressasse os passos, Anathália Cristina Queiroga, pelo o que havia ouvido dela, através da ligação, tinha planejado um suicídio. 
  

Se o namorado estava apavorado, muito mais estava Edilza. Chegaram em casa ao mesmo tempo, mas quando arrombaram a porta da cozinha, Edilza e o namorado viram a linda Anathália dependurada por uns fracos punhos de rede. Anathália Queiroga que antes Deus estava em sua companhia, aqui na terra, agora Anathália está no céu em companhia de Deus.

Anathália e sua mãe Edilza Queiroga

Adeus, Anathália!  Você se foi para junto de Deus, mas aqui na terra, nós que somos seus familiares e continuamos vivos, jamais esqueceremos os bons momentos que passamos juntinhos de você. 
  

Não tive a honra de ser teu padrinho, como sou do Jefferson, teu irmão, mas eu, meus filhos e esposa, sempre a recebemos com carinho, e que a primeira casa que você e seus pais passavam quando vinham de Pau dos Ferros para Mossoró, com certeza era a nossa. 


Diz a canção feita pelo poeta Roberto Carlos, que: “morrer não é o fim”. E se não é o fim, você, com certeza, está bem juntinho de Deus.

Clique para assisti-lo

Recebi a triste notícia no sábado, (26), bem cedinho, e ainda dormia, quando Rita, minha esposa me chamou, chorando e sem poder me explicar o que havia acontecido com você. Isto para mim foi tão triste, em saber que você resolveu dar fim a sua estimada vida.


Adeus, Anathália Queiroga! Um dia, todos nós, parentes e amigos, estaremos juntinhos de você. Poderá demorar, mas não teremos outro caminho. A estrada poderá ser outra, mas o caminho será o mesmo que você seguiu para se encontrar com Deus.
  

No momento do sepultamento, Cemitério Novo de Pau dos Ferros, bem próximo a cidade de Encanto-RN uma jovem, sua amiga e da família, relatou o caso de outra amiga que há poucos meses morrera, lá na UnP de Natal. As três colegas formavam uma trempe que onde uma estava, com certeza, ao seu redor, as outras duas ali se encontravam.

Jefferson -  irmão e Edilza, sua mãe.

Adeus, Anathália Cristina Queiroga! Adeus! Até o dia em que Deus nos chamarmos para participarmos da sua casa.

Se você está com pensamentos negativos não lhe custa nada imprimir coisas boas na sua mente. Ajoelhe-se diante de Deus, ele te encaminhará para viver feliz. Não faça jamais o que fez a minha linda e estimada prima Anathália Cristina Queiroga Pereira.

José Mendes Pereira 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2012/05/direito-que-anathalia-cristina-queiroga.html

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

LAMPIÃO E OS ESCOTEIROS VENEZUELANOS – VERDADE OU FANTASIA? 26/12/2015

Autor Rostand Medeiros

Teria realmente acontecido um encontro entre o cangaceiro Lampião e um grupo de escoteiros venezuelanos na caatinga nordestina?



Principalmente por ser um movimento que tem como objetivo apoiar os jovens em seu desenvolvimento mental, físico e espiritual, para que possam desempenhar um papel construtivo na sociedade, com um forte foco em atividades ao ar livre e habilidades de sobrevivência, foi que nas primeiras décadas do século passado o escotismo se tornou uma atividade extremamente popular em todo o mundo[1].

E tudo começou com o major-general do exército britânico Robert Stephenson Smyth Baden-Powell. Este possuía uma excelente carreira no serviço militar e tinha adquirido muito prestígio na Inglaterra pela sua atuação na Segunda Guerra dos Bôeres[2].

Robert Stephenson Smyth Baden-Powell – Fonte – wpsess.octhium.com.br

Sua ascensão à fama alimentou as vendas de um pequeno manual militar denominado Aids to Scouting. Neste trabalho lançado em 1899, Baden-Powell tratou principalmente do treinamento de soldados na função de observadores, batedores e trouxe explicações sobre orientação no campo, além de métodos de como sobreviver com a alimentação encontrada na natureza.

Em seu retorno à Inglaterra o general soube que Aids to Scouting era utilizado por professores e organizações de juventude como um primeiro manual escoteiro. Ele também percebeu que muitos garotos mostraram considerável interesse no seu trabalho e aquilo lhe apontou que deveria escrever um manual para o público mais jovem.

Baden-Powell publicou no início de 1908, em seis edições quinzenas, uma “revista” chamada Scouting for boys (Escotismo para Rapazes). Este trabalho estabeleceu as atividades e programas que as organizações de juventude poderiam utilizar em saídas no campo. 

A reação a este material foi fenomenal, além de bastante inesperada. Em um tempo muito curto patrulhas escoteiras foram criadas em toda Inglaterra, todos seguindo os princípios de Baden-Powell. No mesmo ano Scouting for boys foi lançado no formato de um livro[3].

O sucesso foi tanto que em 1909 era fundada no Chile a primeira associação de escoteiros da América do Sul. Logo jovens de outros países da região adotavam a ideia.

Escotismo na Venezuela

Foi Ramón Ocando Pérez que organizou em 1913 as primeiras patrulhas escoteiras na cidade de Maracaibo, Venezuela, sendo ele considerado o percursor do escotismo neste país. Tal como noutras partes do mundo, na Venezuela o movimento escoteiro logo conseguiu grande aceitação na sociedade e uma forte participação dos jovens.

Escoteiros venezuelanos – Fonte –http://museovirtualscoutvzla.com

Ao longo dos anos foram criados novos grupos de escoteiros no país, com intensa movimentação. Logo as patrulhas seguiam para locais cada vez mais distantes, realizando o que era conhecido na época como “Raid pedestre.

Em 12 de dezembro de 1934 um grupo de vinte escoteiros venezuelanos iniciou uma destas aventuras, cujo objetivo era sair de Caracas e chegar caminhando ao Rio de Janeiro[4]. A liderança destes escoteiros estava a cargo do “Capitán Scouts” Andrés Zambrano, um jovem oriundo de Maracaibo, então com 21 anos e filho do general Alejandro Rondón Zambrano[5].

O grupo teria então entrado pelo Brasil através da fronteira amazônica, mas infelizmente são mínimas as informações sobre o trajeto destes escoteiros, as cidades em que estiveram e o que fizeram. Mas, segundo entrevistas do próprio Andrés Zambrano, ele e seus colegas tiveram um terrível encontro nas caatingas nordestinas com ninguém menos que o cangaceiro Lampião.

A Primeira Notícia e o Desconhecimento dos Diplomatas Venezuelanos Sobre os Escoteiros.

Esse episódio da história do cangaço de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, ocorreu no último mês de 1935 e foram correspondentes na Bahia que primeiro transmitiram noticias deste encontro para o periódico carioca “A Noite”. Este era um jornal que sempre publicava notícias relacionadas a Lampião e ao cangaço que existia no distante Nordeste.


Tudo indica que o grupo de escoteiros chegou a Salvador no dia 14, ou 15 de dezembro. O certo é que já no dia 16 daquele mês a notícia era publicada na primeira página de “A Noite”. Mas, de maneira geral, as primeiras notícias divulgadas sobre estes escoteiros foram limitadas.
Informou-se basicamente que Zambrano e seus amigos haviam adentrado o território baiano em outubro de 1935. Ao seguirem a pé pela caatinga os venezuelanos ouviram várias histórias dos sertanejos sobre o temível Lampião, até que em certo momento foram surpreendidos por cangaceiros armados em um lugar chamado “Água Bella”[6].

Nesta primeira reportagem publicada o venezuelano Zambrano informou que no início houve certa confusão pela incompreensão dos cangaceiros diante dos jovens que falavam espanhol, mas ele e seus amigos passaram a noite toda presos, esperando serem trucidados. Foram duas mulheres, entre elas Maria Bonita, que pediram pelas vidas dos estrangeiros e eles foram libertados.

Notoriedade – Lampião e Maria Bonita com um exemplar do jornal carioca “A Noite Ilustrada”

O mais interessante (e estranho) nas primeiras notícias divulgadas por Zambrano, é que os venezuelanos estavam “armados” e foram despojados pelos homens de Lampião do armamento e de suas munições[7].

O texto do jornal finalizava comentando que o grupo estava Salvador e, como era praxe nesta época quando um grupo de escoteiros estrangeiros chegava a uma cidade que estava no itinerário de um “Raid pedestre”, normalmente eles foram recebidos pelas autoridades locais e tencionavam seguir o mais rapidamente possível para o Rio de Janeiro.

Enquanto os venezuelanos se preparavam para partir de Salvador, na então Capital Federal, após receberem as notícias do correspondente na Bahia, os jornalistas de “A Noite” não perderam tempo e partiram céleres para buscar informações oficiais sobre aqueles escoteiros na representação diplomática da Venezuela. A resposta dos membros da legação daquele país no Brasil foi que aquela empreitada era “um empreendimento sem caráter oficial” e “nada sabiam a respeito” [8].

Junto à Polícia Mineira

Mas somente com a chegada do novo ano de 1936 é que vamos ter mais detalhes deste encontro dos escoteiros com Lampião e alguma nova notícia dos venezuelanos.

No final de fevereiro o “Capitán Scouts” Andrés Zambrano estava sozinho em Belo Horizonte, onde deu uma declaração ao correspondente do jornal “A Noite” lotado naquela cidade[9].


Zambrano comentou que estivera na cidade mineira de Corinto, mais de 1.200 quilômetros de Salvador, onde passou por vários problemas. Ali o delegado Oswaldo Machado prendeu o escoteiro que “pregava” para a pequena comunidade. O delegado tinha a suspeita que o venezuelano fardado fosse um “elemento extremista”. O jovem escoteiro foi conduzido sob escolta para a capital mineira, distante cerca de 240 quilômetros de Corinto[10].

Na sede da Polícia Central o estrangeiro aparentemente passou nos policiais mineiros uma versão venezuelana do brasileiríssimo “sabe com quem tá falando?”. Pois junto às autoridades presentes Zambrano informou que “era filho do general Alejandro Rondón Zambrano” e foi “prevenindo” os policiais que estes não poderiam detê-lo por “mais de 24 horas”, que ele “conhecia direito internacional” e que se necessário faria “valer seu direito se fosse preciso”.

Lampião – Fonte – lounge.obviousmag.org

Talvez pelo uniforme, ou pela segurança nas palavras, o certo é que o escoteiro venezuelano “não esquentou a cadeira” na chefatura de polícia. Logo suas declarações foram registradas no então Cartório de Vigilâncias e Capturas e ele foi liberado. 

Da polícia seguiu para ser entrevistado pelo jornalista correspondente de “A Noite”. Que por sinal estava muito mais interessado sobre o encontro de Zambrano com Lampião, do que as suas peripécias junto aos “homens da lei”.

“- Toca, Negrada, Levanta. Vamos ao Chefe”.

Durante a entrevista Zambrano se apresentou vestido de uniforme cáqui, com galões de capitão e um grande chapéu de feltro escuro e abas largas. Já o correspondente de “A Noite” mostrou ao venezuelano a edição de dezembro de 1935 daquele jornal, onde estava a primeira reportagem sobre a aventura dos escoteiros venezuelanos. Zambrano também apresentou ao jornalista uma caderneta com anotações e declarações de autoridades brasileiras, comprovando a sua passagem por vários locais do nosso país.

Para Zambrano a viagem pelo Brasil seguiu sem maiores problemas, mas que o nome e o medo que existia em relação a Lampião era comentado em vários locais por onde ele passou. Entretanto Zambrano e seus amigos fizeram pouco caso das façanhas do cangaceiro. Pensavam até que Lampião seria uma espécie de “superstição” dos brasileiros incultos do norte.

Zambrano entrevistado em Belo Horizonte.

Superstição, ou não, Zambrando conta que em uma manhã tranquila, quando ele e seus camaradas se encontravam a “14 léguas” (84 quilômetros) de “Água Bella”, pararam todos embaixo de algumas árvores para beber água e comer bananas, foi quando o grupo foi cercado por 24 cangaceiros fortemente armados “de fuzis e facas” e montados em alimárias.

Os guerreiros encourados apearam e o que comandava o grupo falou com extremo autoritarismo “-Toca, negrada, levanta. Vamos ao chefe”. Na mesma hora Zambrano entendeu que iria ficar frente a frente com Lampião.

Os venezuelanos então acompanharam o bando de cangaceiros por cerca de cinco léguas (30 quilômetros), em meio a uma caatinga fechada.

No esconderijo Zambrano descreveu que Lampião recebeu os estrangeiros no final da tarde, muito a vontade, embalando-se “em uma rede vermelha e amarella” e que entre suas pernas estava “um fuzil cravejado de libras”, que após a “análise” do venezuelano, constatou serem “canadenses”[11].

Sem perda de tempo Lampião ordena autoritariamente aos estrangeiros explicarem quem eles eram e Zambrano cai na besteira de responder em espanhol. No seu relato o escoteiro afirma que nesse momento o cangaceiro deu um salto da rede e gritou “-Vocês são é polícia paulista. Morrerão todos amanhã!”.

Manchete do Diário de Pernambuco, de 4 de outubro de 1935, sobre a morte de quatro cangaceiros na propriedade Cachoeirinha. Provavelmente foi sobre estas mortes que Lampião comentou com Zambrano.

Em meio a muitos impropérios Lampião continuou vociferando “-Vocês já mataram quatro tenentes meus, cada tenente meu vale cem de vocês, logo, são quatrocentos que eu tenho de vingar” [12].

Na sequência o chefe ordenou ”-Passa a revista” e os escoteiros foram despojados de quatro contos e quinhentos mil réis, chapéus, suas fardas de cor kaki e ficaram amarrados “apenas de cuecas”. Zambrano não relatou nesta entrevista em Minas Gerais, conforme tinha dito anteriormente em Salvador, que ele e seus amigos entregaram armas e facas aos cangaceiros.

Lampião também comentou com o venezuelano que ele parecia com “Manoel Neto”, um valente policial, membro do famoso grupo dos Nazarenos, que infligia séria perseguição aos cangaceiros. Zambrano, logicamente, se derramou em negativas.

Lampião e Maria Bonita – Fonte – blogdomendesemendes.blogspot.com

Em outro momento, buscando ser extremamente polido com seu algoz, Zambrano o chamou de “-Sr. Lampião”, mas a resposta veio rápido, indignada e transmitida na base do grito: “- Meu nome é Virgulino Ferreira, seu malcriado!”.

Amarrados e despidos, por volta das seis da noite a fome e a sede apertaram os estrangeiros, que clamaram por água e comida. Lampião não estava sendo um bom anfitrião e mandou para os escoteiros algumas canecas com café com sal e água com pimenta. No que Zambrano esboçou gesto de repulsa pelo que lhes foi oferecido, Lampião comentou aos gritos “-Não gostou? Aqui se trata bem assim os que vão morrer”. Depois completou ameaçadoramente para o grupo: “-Ou bebem, ou parto a testa de vocês na bala. Aqui tenho a minha lei”. E abriu fogo para o alto com uma pistola Parabélum.

Salvos Pela Maria do Capitão e as Contradições do Escoteiro

Os escoteiros venezuelanos passaram parte da noite amarrados e, segundo declarações de Zambrano, por volta da meia noite chegou ao coito de Lampião um grupo com cerca de quinze cangaceiros. Dentre estes estava uma jovem cabocla, esbelta, trajando camisa branca, culotes, perneiras, com várias joias, um punhal na cintura e que ele a considerou de estatura “alta”.

A Maria do Capitão Lampião

Esta perguntou a um dos cabras de Lampião que vigiava o grupo quem eram eles e o que pretendiam fazer com aqueles estranhos? “- Liquida-los” foi a resposta[13].

A cabocla então se aproximou do venezuelano e este lhe fez rogos pela sua liberdade e de seus amigos. A jovem brasileira pegou no queijo do venezuelano, balançou sua cabeça e disse “-Não se assuste. Não lhe faremos mal. Você é bonitinho, rapaz”. Na sequência a mulher seguiu faceiramente para perto do chefe. Depois os escoteiros souberam que ela era Maria Bonita, a mulher do chefe, a Maria do Capitão Lampião.

Zambrano afirmou que considerou “esquisita” a atitude daquela mulher. 

Mas o que deixou a ele e seus companheiros verdadeiramente “estupefatos” foi que dez minutos depois do encontro com Maria Bonita eles foram desamarrados pelos cangaceiros, que lhes entregaram suas roupas, seus chapéus e os mandaram embora. Como pilheria final dos “Guerreiros do Sol” nos escoteiros venezuelanos, cada um dos estrangeiros foi contemplado com um belo chute na bunda como forma de despedida[14].


Como apontamentos finais sobre esta entrevista concedida por Zambrano em Belo Horizonte, se insere algumas declarações bastante contraditórias.

Segundo consta nas notícias transmitidas de Salvador em dezembro de 1935, e publicadas no jornal carioca “A Noite”, Zambrano e seus amigos iriam partir de Salvador em direção ao sul do Brasil[15]. Mas, contradizendo o que foi escrito anteriormente, Zambrano afirmou ao correspondente mineiro que o medo dos seus companheiros foi tanto após o encontro com Lampião, que os outros retornaram para a Venezuela de navio e apenas ele seguia na jornada a pé pelo nosso país.
Mas estranho ainda está no fato de Zambrano, mesmo com ele e seus companheiros tendo sido revistados pelos cangaceiros, pedir publicamente no final da reportagem que Oswaldo Machado, o delegado da cidade de Corinto, lhe devolvesse um revólver tomado por esta autoridade quando ele foi detido na pequena cidade mineira. O venezuelano justificava a devolução da arma pelo fato dela ser um presente do Dr. Aquiles Lisboa, então governador do Maranhão.

Bem, ou esse correspondente de “A Noite” falseou as declarações do escoteiro venezuelano, ou os cangaceiros de Lampião eram muito incompetentes na hora de revistar os prisioneiros do grupo, ou Zambrano era um grande de um mentiroso!

Outra Entrevista e Novas Contradições

Aparentemente a direção do jornal “A Noite” achou que valia a pena investir um pouco mais no escoteiro, pois ele concedeu uma nova entrevista na sede deste periódico no Rio. Ele chegou a então Capital Federal em 15 de fevereiro e veio de Minas Gerais por via férrea[16].

Zambrano concedendo uma entrevista na sede do jornal “A Noite”, no Rio.

Sobre o local de sua captura voltou a afirmar que tinha sido a “14 léguas” de “Água Bella”, mas agora informou que o grupo partiu de Aracaju, Sergipe, e durante a jornada houve o encontro com os bandoleiros[17].

Já em relação ao seu encontro com o chefe cangaceiro no meio da caatinga, o escoteiro acrescentou que viu o mesmo retirando de uma bolsa, e contando, uma grande quantidade de dinheiro em cédulas e todas amarradas em volumosos maços.

Lampião e seus cangaceiros

Descreveu que o “Rei do Cangaço” estava com uma “gravata vermelha” (provavelmente um lenço) com um rico alfinete brilhante, caçava botas, culotes, camisa kaki e tinha nos dedos das mãos vários anéis de fina qualidade, todos com valiosas pedras preciosas.

Lampião perguntou quem eram aqueles rapazes fardados. “-Quem é o chefe deste batalhão?”, inquiriu Virgulino. Foi quando Andrés Zambrano se apresentou, afirmando ser da Venezuela e não trabalhar para a polícia. Como o venezuelano Zambrano insistia em dialogar no seu idioma nativo com Lampião, este último pegou um fuzil e lhe deu uma coronhada no peito e o estrangeiro foi ao chão. Após o escoteiro se colocar de pé, seguro por dois cangaceiros, este dispara na cara do “Rei do Cangaço: “O senhor deve me tratar como eu mereço. Sou um estrangeiro e tenho direito a ser respeitado. O senhor está desrespeitando a sua lei e o seu governo”.

Realmente nessa nova entrevista o jovem escoteiro Zambrano se apresentou ao jornalista como um homem muito mais decidido e “macho” na ocasião do seu encontro com o maior bandoleiro da história do Brasil.

Chamou atenção do jornalista que entrevistava Zambrano a declaração que o cangaceiro Lampião dormia uniformizado, com a sua arma muito próximo, tinha o sono “levíssimo” e acordava ao menor barulho. Para o estrangeiro o chefe cangaceiro desconfiava de todos, pois ele presenciou Lampião inicialmente dormindo em uma rede e depois de algum tempo este se levantou, pegou uma lona e foi dormir em um local escuro. Outro fato comentado sobre Lampião foi que, na opinião do venezuelano, ele poderia “está tuberculoso” por ter uma tosse seca.


Quanto a Maria Bonita o venezuelano acrescentou que ela vinha acompanhada de “um menino de onze anos de idade”, mas não disse quem seria esse garoto. Desta vez também informou que a mulher de Lampião convenceu o chefe a soltá-los, depois dos “visitantes” terem dado sua palavra de honra de que não informariam à polícia o paradeiro do bando.

Talvez isso explique, mesmo em parte, informações tão desencontradas de Zambrano sobre o local onde se deu o encontro com os cangaceiros.

Mas nesta nova entrevista existe algo de chega a ser verdadeiramente hilário nas declarações do venezuelano, que mostra claramente seus exageros e contradições. Na primeira entrevista ele afirmou que ele e seus colegas ficaram amarrados “apenas de cuecas”. Já nesta segunda declaração os venezuelanos ficaram presos totalmente “nus”.

Fonte – www2.uol.com.br

Se, diante do antigo e tradicional recato sertanejo em relação às mulheres, já era complicado aceitar que os cangaceiros deixaram estes homens presos em pleno acampamento, com cangaceiras presentes, amarrados em “trajes menores”, mais difícil ainda é aceitar a segunda declaração de Zambrano. Poder-se-ia até mesmo ser comentado que eles ficaram presos com poucas roupas para, no caso de uma fuga, a tentativa ser dificultada pelas plantas cortantes da caatinga. Mas as mudanças de versões de Zambrano atenta contra suas declarações.

Ao final da entrevista Zambrano informava que considerava sua aventura concluída, iria se apresentar as autoridades consulares venezuelanas lotadas no Rio e retornar ao seu país de navio[18].

Zambrano em São Paulo Com Seus Companheiros

Mas, segundo noticiaram dois jornais brasileiros, o “Capitán Scouts” Andrés Zambrano não voltou para sua terra natal.

Dez dias depois de conceder a entrevista no Rio para o jornal “A Noite”, Zambrano estava em São Paulo, onde inclusive foi recebido em audiência oficial pelo engenheiro Fabio Prado, então prefeito da capital paulista.

Nota do jornal Correio da Manhã 23 de fevereiro de 1936

Um detalhe interessante deste encontro foi que desta vez Zambrano estava acompanhado dos seus amigos escoteiros, os mesmo que haviam supostamente retornado de Salvador para Venezuela.

Depois destas notícias dos escoteiros venezuelanos em São Paulo, não consegui mais nenhuma informação deste grupo no Brasil.

Depois de tantas contradições, tantas histórias estranhas, são muitas as conjecturas e dúvidas em relação ao que Zambrano comentou sobre os cangaceiros.

Nota da Prefeitura de São Paulo, publicado no Diário de São Paulo em 21 de fevereiro de 1936

Será que estes escoteiros realmente estiveram no coito de Lampião?

Ou será que talvez, em meio às andanças pelo sertão, Zambrano tenha recebido várias informações sobre Lampião de pessoas que estiveram com o cangaceiro e, buscando a fama no Brasil, criou toda essa história?

Ou seria possível que tudo tenha sido uma criação dos jornalistas de “A Noite”, com o intuito de vender exemplares no Rio e o venezuelano participando da farsa para ganhar notoriedade?

E os outros escoteiros venezuelanos, onde estavam enquanto Zambrano aparecia nas páginas dos jornais brasileiros?

No final das contas percebemos, por razões óbvias, que todos os relatos apresentados por Zambrano eram informações sumamente difíceis de serem averiguadas junto a Lampião, Maria Bonita e os outros cangaceiros[19].

O fato que mais me intrigou em toda esta história foi a total ausência de quaisquer referências sobre o “Capitán Scouts” Andrés Zambrano, seus companheiros e a sua rocambolesca aventura por terras brasileiras nos inúmeros sites da internet que tratam da história do escotismo na Venezuela.

Ao realizar esta pesquisa descobri que os escoteiros venezuelanos valorizam muito a história deste movimento em seu país e fazem questão de divulgar a maior quantidade possível de informações. Inclusive os sites que encontrei são extremamente informativos, realizados com esmero, qualidade e trazendo uma grande quantidade de informações históricas produzidas e dispostas de maneira clara e ágil.

Bem diferente do caso dos escoteiros que estiveram no Brasil, temos inúmeras referências sobre o “Raid pedestre” que ligou Caracas e Washington, capital dos Estados Unidos.


Jornal venezuelano El Heraldo, 17 de junho de 1937

Em 11 de janeiro de 1935 partiram a pé de Caracas, a capital venezuelana, em direção a Washington, a capital dos Estados Unidos, os escoteiros Rafael A. Petit e Juan Carmona. Este evento, ou teve uma grande repercussão no país, sendo a aventura dos dois escoteiros reproduzida extensamente pela imprensa local, sendo cultuada até os dias de hoje[20].

Mas nada sobre Zambrano, seus companheiros e sua passagem pelo Brasil.

NOTAS

[1] Sobre a história do escotismo verhttps://en.wikipedia.org/wiki/Scouting (Em inglês).
[2] As Guerras dos Bôeres (ou Guerras de libertação na historiografia bôer) é o nome dado aos dois conflitos travados entre o Reino Unido e as duas repúblicas bôeres independentes, o Estado Livre de Orange e a República Sul-Africana (República do Transvaal). Os dois conflitos ocorreram, respectivamente de 16 de dezembro de 1880 a 23 de março de 1881 e de 11 de outubro de 1899 a 31 de maio de 1902. O cerne do conflito estava na gradual expansão britânica pelo sul do continente africano, em territórios previamente ocupados por descendentes de antigos colonos holandeses.
[3] Sobre a vida de Baden-Powell verhttp://www.scatacook.org/HistoryBadenPowell.htm (Em inglês).
[4] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de segunda-feira, 16 de dezembro de 1935, Pág. 1.
[5] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de quinta-feira, 30 de janeiro de 1936, Pág. 1.
[6] Zambrano declarou que este encontro aconteceu no sertão baiano, a “14 léguas” (84 quilômetros) de um local chamado “Água Bella”. Efetivamente existe uma localidade denominada Água Bela  na Bahia, entretanto esta comunidade fica localizada na Mesorregião do Centro Sul Baiano, na área territorial do município de Bom Jesus da Serra, a 120 km da cidade de Vitória da Conquista e a 470 de Salvador. Uma área na qual Lampião e seu bando jamais pisou. Em relação à história do cangaço, o local mais comentado e com um nome mais parecido ao narrado por Zambrano é o município pernambucano de Águas Belas. Mas este está localizado a cerca de meros 20 quilômetros da fronteira alagoana e a mais de 100 da fronteira baiana.
[7] Não foi informado o tipo de armamento que os escoteiros levavam. Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de quinta-feira, 16 de dezembro de 1935, Pág. 2.
[8] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de quinta-feira, 16 de dezembro de 1935, Páginas 1 e 8.
[9] Zambrano concedeu a entrevista em Belo Horizonte na manhã de sexta-feira, 30 de janeiro de 1936, tendo sido publicada uma pequena nota sobre o escoteiro venezuelano na edição carioca do jornal naquele mesmo dia. Mas na edição do sábado houve uma publicação bem mais detalhada e destacada. Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de sábado, 1 de fevereiro de 1936, Pág. 1 e 2.
[10] Não podemos esquecer que menos de dois meses antes, em 23 de novembro de 1935, eclodira em Natal a fracassada Intentona Comunista e as forças policiais do país estavam em total estado de alerta e a caça de elementos suspeitos de colaboração com os comunistas.
[11] Parece meio improvável que o “Rei do Cangaço” tenha deixado este escoteiro estrangeiro examinar as moedas presas na bandoleira de sua arma pessoal. A não ser que Zambrano tenha ficado muito próximo ao cangaceiro e do seu fuzil.
[12] Provavelmente Lampião comentou para os venezuelanos sobre a morte de quatro cangaceiros ocorrida três meses antes. Mas neste caso, entre os algozes dos bandidos, não existiu nenhum policial. No dia 19 de setembro de 1935, no município alagoano de Mata Grande, na fazenda Aroeirinha, o proprietário Felix Alves Rocha, seus quatro filhos, dois sobrinhos e outro proprietário rural da região, montaram uma emboscada contra os cangaceiros Limoeiro, Suspeita, Fortaleza e Medalha. A ideia desta ação se deveu ao fato de Felix Alves ser suspeito de proteger e dar apoio a cangaceiros e, para evitar as fundamentadas suspeitas dos policiais, nada melhor do que matar alguns bandoleiros. Apesar da ação violenta ter redundado na morte dos quatro cangaceiros, Felix Alves também pereceu neste combate. Ver “Diário de Pernambuco”, Recife, edição de quinta-feira, 10 de outubro de 1935. Pág. 10.
[13] Diferentemente da primeira entrevista concedida em Salvador, quando “duas mulheres” pediram pela vida dele e de seus companheiros, nas entrevistas que Zambrano concedeu então só relatou que foi salvo por Maria Bonita.
[14] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de sábado, 1 de fevereiro de 1936, Pág. 1 e 2.
[15] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de quinta-feira, 16 de dezembro de 1935, Páginas 1 e 8.
[16] Para a imprensa do Sudeste do país, relatos sobre a brutalidade de Lampião sempre atraíam leitores e a existência de um estrangeiro que conseguiu ser libertado depois de encarar o maior dos cangaceiros era mais do que o esperado. Era valioso!
[17] Se a declaração de Zambrano é verdadeira, dificilmente o município pernambucano de Águas Belas poderia ser o ponto de referência para saber com alguma segurança o local de encontro dos venezuelanos com os cangaceiros. Pois é sumamente ilógico, em termos geográficos, para o viajante que parte de Aracaju e deseja seguir em direção a Salvador, ou ao sul do país, tomar o rumo até este município pernambucano. Talvez essa informação com tamanho erro geográfico fosse uma ação deliberada do venezuelano, conforme o leitor pode encontrar a razão na continuidade do texto.
[18] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de sábado, 16 de fevereiro de 1936, páginas 1 e 3. Esta reportagem foi reproduzida integralmente em vários jornais brasileiros. Entre estes ver “Diário de Pernambuco”, Recife, edição de sábado, 22 de fevereiro de 1936, páginas 1 e 8.
[19] Ver os jornais “Diário de São Paulo”, São Paulo, edição de terça-feira, 21 de fevereiro de 1936, página 3 e “Correio da Manhã”, Rio de Janeiro, edição de quinta-feira, 23 de fevereiro de 1936, página 4.
[20] Petit e Carmona finalizaram com sucesso a aventura e chegaram em Washington em junho de 1937, depois de 29 meses de caminhada. Ver http://myslide.es/documents/historia-del-escultismo-venezolano.html
Sobre o escotismo na Venezuela ver –
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/2015/09/14/o-estrangeiro-que-peitou-lampiao/


Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.com.br/2015/12/26/lampiao-e-os-escoteiros-venezuelanos-verdade-ou-fantasia/

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SOLICITAÇÃO AOS PARENTES DO EX-CANGACEIRO "VOLTA SECA"

Por José Mendes Pereira
Ex-cangaceiro Volta Seca

O blog do Mendes e Mendes solicita aos descendentes de Antonio dos Santos o ex-cangaceiro "Volta Seca" que entrem em contato conosco, para registrarmos em nossos arquivos a sequência da família do cangaceiro. Posteriormente serão registradas pelos pesquisadores e escritores.

Dois bisnetos de dona Anália Ferreira irmã de Lampião já entraram em contato conosco, e tudo foi registrado neste blog:

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Já recebemos informações de netas e bisnetas do ex-cangaceiro Volta Seca, mas elas desapareceram, e nunca mais retornaram com informações. 

Os familiares do ex-cangaceiro "Volta Seca" não têm de que temerem, pois o tempo está tão longe do tempo do cangaço. Não haverá mais nenhuma perseguição aos parentes dos cangaceiros, e nem tão pouco a algum cangaceiro que ainda esteja vivo e no anonimato. Sabes-e que tem a ex-cangaceira Dulce Menezes viva, mas é impossível ainda ter cangaceiros vivos no anonimato, mas ninguém sabe.

Os nossos e-mails são: 

josemdnesp58@hotmail.com
josemendesp58@gmail.com 

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http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

COISAS SIMPLES (E GRANDIOSAS)

Por Rangel Alves da Costa*

De repente, você encontra uma velha amizade e sente que a pessoa baixa a cabeça um tanto envergonhada, como se temesse não ser reconhecida nem cumprimentada. Geralmente acontece quando a situação de um parece estar melhor que a do outro e a pobreza faz a pessoa querer evitar reencontros.

Em instantes assim, como faz bem um olhar sincero, um abraço apertado, um punhado de palavras antigas, daquelas que se dizia em meio às alegrias de outros tempos. E logo a percepção que as amizades verdadeiras são aquelas construídas na flor dos anos e que não haverá pobreza ou riqueza que as tornem esquecidas.

Nem todos percebem, mas pessoas existem cujo sorriso no coração espera somente uma palavra ou um gesto amigo do outro. Chamar alguém pelo nome causa um efeito de chuva perante o sertão. Relembrar convívios passados causa um efeito de lua perante olhos enamorados. Perguntar por parentes, amigos e conhecidos, causa um efeito imensamente grandioso nos sentimentos.

É que as pessoas gostam de ser reconhecidas, valorizadas, consideradas pela história de vida e não apenas por situações. As pessoas - e quando mais em situação de humildade estejam - gostam de ser reencontradas, principalmente nos seus próprios lares, onde uma simples visita se torna num gesto inesquecível.

Pessoas existem que conviveram juntas a criancice, a meninice, boa parte da vida adulta. Por força do destino, cada uma segue um rumo diferente e mais tarde uma está com melhores condições de sobrevivência que a outra. Muitos sequer recordam do tempo passado, se negam sempre a relembrar os momentos iguais. A riqueza e a bonança os tornam esquecidos daqueles que sempre se mostraram verdadeiros amigos.


Lastimosos são os corações assim, vaidosos, egoístas, presunçosos. Não há maior pobreza de espírito que deixar de reconhecer o outro pelo fato de este estar economicamente fragilizado, por viver na pobreza ou não poder ostentar o mesmo anel. E se esquecem das voltas que o mundo dá e os exemplos recolhidos em cada passo da vida.

Grandiosa é a alma, primoroso é o espírito que possui a dádiva do reconhecimento, do amor incondicional, do companheirismo e da fraternidade. Imenso é o coração e potentado é o gesto daquele que convive para a vida e não para o momento, daquele que se reconhece apenas um favor divino e não uma imposição humana.

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, assim prega o Eclesiastes. Por que fugir ao bem e buscar a arrogância e a desnecessária altivez? O que hoje se mostra de uma forma, amanhã já terá outra feição. Quanto mais foge aos que cresceram no mesmo ninho mais perto estará da solidão do amanhã.

Gostar de quem gosta da gente é sublime reconhecimento. Sentir o que o outro sente é gesto incomparável de igualdade. E não é difícil saber quem verdadeiramente é amigo, quem nos admira, quem nos preserva no coração. Tudo na simplicidade do encontro, do olhar, do abraço, da palavra sincera.

Eis aqui as sandálias da humildade. Nenhum reinado é mais poderoso que uma boa amizade. O velho amigo - mesmo em barraco de cipó e barro - adoça o café no prazer em receber, entrega todo o contentamento do mundo porque não possui algo mais valioso para oferecer. E há muita gente assim na minha Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo.

Conheço o dourado, o de anel, o de riqueza e o que pensa que tem. Conheço o rico e o pobre, a arrogância e a humildade, aquele que é amigo e aquele que apenas finge, que sempre age por conveniência. Mas afirmo com sinceridade: sempre abraçar o velho amigo de chapéu de couro e roupa remendada, sempre abraçar aquela de mão calejada e feição marcada pelo sacrifício. E assim com o moço, a moça, o jovem, o menino. É que aprendi a amar os meus iguais.

Por que somos apenas o que somos. Antes de tudo a raiz. E sem sair do chão. Por que a ele retornaremos feito pó, leve, suave e com a consciência dos justos.

Poeta e cronista
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MORRE LINDOMAR CASTILHO, REI DO BOLERO CONDENADO POR FEMINICÍDIO.

  Por Tâmara Freire - Repórter da Agência Brasil Publicado em 20/12/2025 - 12:10 Rio de Janeiro Morreu neste sábado (20), aos 85 anos, o can...