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29 janeiro 2016

NA SOMBRA DOS BURITIS- Uma história de Cangaceiros


Pernambuco= Ano 1940

Cotia não queria cometer o mesmo erro de Lampião. Não podia confiar em coiteiro. E a pergunta de Mosquito era impertinente. Ele começava a se desgostar do homem, da falta de respeito e do jeito atrevido. Mosquito era um bom atirador, bom companheiro, mas às vezes passava dos limites. Chegou a hora de lhe dar um corretivo.

- As minhas ordens é para serem cumpridas e não, questionadas! Sou o comandante dessa tropa e não admito que desrespeitem minhas ordens, tampouco venham a discutir uma decisão minha!

Mosquito estava há pouco tempo no bando, mas tinha em conta  que Cotia era um bom comandante, respeitava seus homens, porém, em alguns casos, a insubordinação era punida com a morte. Ele achou melhor baixar a crista.

- Não foi tenção minha procurar refrega, nem peitar o comandante. Nós achamos que...

- Achamos? Quem acha o quê?

Vaqueiro achou melhor intervir. Aproximou-se, tirando o chapéu e batendo a poeira- Estão todos cansados. O senhor mesmo não dorme direito há dois dias. Já estamos longe do perigo e precisamos descansar. Também as montarias que estão com fome e sede.

Cotia olhou para os 23 homens e 8 mulheres que subiam o morro em fila, puxando os cavalos e mulas pelo cabresto. A trilha se alargava em cima do monte e o chefe achou que seria um bom lugar para acampar. Dali podia-se ter uma boa visão ao redor.

As mulheres estenderam suas esteiras junto as rochas para se abrigar do vento. Vaqueiro mandou amarrar os cavalos num pasto mais adiante e destacou três homens para ficarem de vigia.

Cotia confiava em Vaqueiro, seu braço direito. Era função dele zelar pela segurança do bando. O chefe sentou-se numa pedra na beira da ladeira, para apreciar o pôr-do-sol.

-Amanhã seguiremos para Curral Velho-disse ele para Vaqueiro, que voltava da inspeção.

- O Piaui ainda está longe- respondeu o rapaz. Cotia surpreendeu-se.

-Longe? Aquele não é o Morro do Cascudo?

- Não, senhor. É o Morro das Palmas. Nós estamos no município de Jandaia.

O chefe ficou pensativo por um momento. Vaqueiro esperou com paciência por suas reflexões.

-E eu que pensava estar longe das cidades! Então, Jandaia está perto?

- Sim, senhor. Fica depois daquele morro. Conheço bem a região, pois andei muito por essas bandas com meu pai que era mascate.

Olhando para longe, Cotia perguntou:

- Já te falei que tive uma noiva?

- Falou.

Vaqueiro se lembrava. Foi ha dois anos, depois de um assalto a um comboio em Juazeiro. Uma caravana de carroceiros estava indo para a feira carregada de mercadorias e eles resolveram assaltar, por que tinham pouco mantimentos. Mas, numa das carroças tinha soldados da polícia, em vez de farinha e rapadura. Cotia levou um balaço. Quase caiu do cavalo. O bando desistiu do ataque, bateu em retirada e se recolher na serra, para salvar seu chefe. O comandante se salvou por pouco. Felizmente o chumbo varou o ombro sem provocar o falecimento. Depois da ferida tratada com emplastro de babosa, Cotia ficou mais manso, de coração amaciado. Tanto, que falou de seu antigo amor para ele, Vaqueiro, seu amigo íntimo.

Antes de entrar no mundo do crime, Olegário da Rosa, o Cotia, era auxiliar de carpinteiro em Jandaia do Norte. Ele conheceu Dorinha, uma moça simples, bonita e prendada. Começaram a namorar, ficaram noivos meses depois com a promessa de casar no ano seguinte. Vaqueiro não conhecia o resto da história, pois naquela ocasião, o chefe deixou de remoer o passado e encerrou a conversação. Agora ele estava ali, com a mesma cara de abestalhado, olhando para o vazio. Será que vai contar o resto?

Os olhos de Cotia brilharam, quando ele apontou um dedo para longe.
- Ela está bem perto. Logo ali!

Mesmo sem convite ou autorização, Vaqueiro sentou-se ao lado do  chefe, pois era amigo íntimo dele, o único escolhido para ouvir suas lamúrias.

-Há dezessete anos saí de Pernambuco, sem bala, sem mala, andei por esse mundo afora. Dei voltas e mais voltas e depois de muitos anos, acabo chegando ao lugar de onde parti, Jandaia do Norte!

O chefe fez uma pausa, como que abrindo as gavetas das lembranças, e continuou- Eu e Dorinha, a gente ia se casar. Um dia ela foi na venda comprar café quando um cabra safado que bebia ali, derreado no balcão, começou a dizer besteiras para ela, como um conquistador de meia tigela. Dorinha reclamou, dizendo que era mulher direita, que estava comprometida. Cheguei na hora quando o homem insistia e reclamei como manda o figurino. O cabra não gostou e me ofendeu em frente da minha noiva. Não pensei em mais nada, peguei um dos pesos da balança e taquei no homem. Ele caiu já morto, com a cabeça quebrada. Me assustei com o próprio ato insano. Dorinha ficou apavorada com a sangueira do sujeito. Alguém saiu correndo pra chamar a polícia e eu não esperei pra dar explicação, não adiantaria, eu havia matado um homem! Fugi por que não suportaria ficar preso no xilindró, como passarinho preso numa gaiola. Saí de Jandaia e nunca mais voltei. Me escondi na Bahia e acabei entrando no bando do Jacaré e quando ele morreu, tomei o lugar dele.

Cotia abriu as mãos, olhando ao longe.

- Agora estou aqui! Perto de Jandaia. Será que Dorinha ainda mora ali?

A pergunta não foi para vaqueiro, mas mesmo assim, ele torceu a boca e levantou os ombros, em sinal de dúvida. Cotia ponderou:

- Ela deve ter se casado, era moça bonita! Sei que gostava de mim, mas acho que não iria me esperar todos esses anos, além do mais, me tornei um assassino!

Cotia fez outra pausa, refletindo. Por fim, disse- Amanhã vou a Jandaia, espiar a cidade.

Vaqueiro não se surpreendeu- Sozinho?

- Vou usar um disfarce. Com essa barba e um manto por cima dos lombos ninguém vai me reconhecer. Já se passaram muitos anos. Acho que ninguém mais se lembra de Olegário da Rosa, ajudante de marceneiro.

- O senhor não tem parentes lá?

- Não.

- É um pouco arriscado. Quem sabe vou junto?

- Não! Não quero ninguém na minha cola! Vocês ficam mais perto da cidade, esperando por mim. Diga aos outros que vamos atacar Jandaia amanhã e que eu vou lá antes, para ver quanto tem de polícia.

Cotia despiu o gibão de couro, tirou o chapéu e as armas. Vaqueiro entregou a ele a roupa e ajudou-o a vestir, enfiando pela cabeça.

- Mas, isso é coisa de mulher!-reclamou o chefe.

-É ropa de homi santo-disse Nenêm, a esposa de Vaqueiro, amarrando o cordão na cintura dele.

Acocorado diante dos outros que assistiam os preparos, Zarolho explicou:- É batina, vestimenta de padre.

Mosquito retrucou:- Batina é preta e essa é marrom. Acho que é ropa do mosteiro, que estava junto das outras que eu roubei do mascate.

Caroço, o mais jovem do bando, sentado ao lado de Zarolho, corrigiu:- O nome é hábito.

Zarolho deu-lhe um cutucão com o cotovelo:- Até parece que sabe!

- Nem uma coisa, nem outra-afirmou o chefe- Isso é ropa de esmolambado, pobre coitado sem eira nem beira!

Ele puxou o capuz sobre a cabeça. Vaqueiro deu-lhe um cajado, que ele mesmo fez com um galho de goiabeira.

- Pra quê isso?-perguntou Cotia.

-Todo andarilho usa cajado. O senhor vai parecer Moisés, ressuscitando do deserto.

- Quem é esse jagunço?

- O senhor nunca leu a bíblia?

- Ah! Sim, é o santo das pragas!Bom, pessoal, eu espero não demorar. Vou ver se tem muita policia por lá, para podermos atacar sem perigo e sair sem arranhão. Vocês esperam aqui e obedeçam as ordens de Vaqueiro.

Cotia entrou na cidade, observando tudo, as casas de comércio e moradias. A cidade não mudou muito naqueles anos que já se passaram, desde que dali fugiu.
A casa de Dorinha ficava mais além, nos limites do povoado.

Seguindo adiante, passou em frente da delegacia. Estava com a porta fechada, e  janela aberta. Nenhum soldado à vista, deviam estar lá dentro, jogando cartas. A delegacia era pequena, com uma sala gradeada que servia de cela, quase sempre vazia, pois era raro acontecer um crime na cidade, além do mais, os criminosos eram logo levados para a capital.

Cotia seguiu caminhando sem pressa, acompanhando cada passo com seu bordão apoiado no chão. Estava distraído, já traçando um plano para o ataque, quando soou uma voz atrás dele.

-Ei! O senhor aí! Pare!

Cotia gelou. Pensou que tinha sido descoberto e imaginou um exército de soldados atrás dele.Parou e olhou para trás.

- Padre! Precisamos da sua ajuda-disse o soldado aflito, aproximando-se apressado. O homem pensava que ele era um padre! Talvez isso ajudasse na sua investigação, ou talvez o contrário. Vestindo o seu tradicional uniforme caqui, o soldado estacou, esbaforido, diante dele- Tem um homem que está morrendo e precisa da extrema-unção.

- Eu não sou padre. Sou frei.

- Não tem importância, o senhor só precisa dizer a palavras.

Palavras? Que palavras?

- A cidade não tem padre? Peça a ele.

- Ele foi a um batizado na fazenda do coronel Domingos e não vai dar tempo de ir lá buscar o homem. Vamos frei, antes que seja tarde e o delegado morra sem o perdão de Deus! Vai virar uma alma penada, zanzando lá na delegacia!

- O delegado está morrendo?

- De morte morrida, como sempre quis. Pegou uma moléstia danada e não há remédio que lhe cure!

Cotia deixou-se levar. O homem conduziu-o para a casinha ao lado da delegacia. No quarto estava o delegado deitado na cama, rodeado por três soldados, a esposa e dois filhos adultos.

A mulher inclinou-se e disse para o moribundo:- Ariovaldo, Josenildo trouxe o padre. Vai ficar tudo bem agora.

Com lágrimas nos olhos, ela ergueu-se e se afastou. Cotia sussurrou para Josenildo-É melhor eu ficar sozinho com ele.

O soldado assentiu e convidou todos a saírem. Cotia baixou o capuz e sentou-se na cadeira, olhando para o enfermo. Só então, reconheceu-o. Era Ariovaldo, o dono do armazém onde ele havia matado o galanteador. Naquele dia foi o próprio Ariovaldo que saiu correndo para chamar a polícia. Agora ele era delegado de polícia.

O enfermo ergueu  mão e com a vista turva, falou numa voz sumida-   -Padre, Deus vai perdoar meus pecados?

Cotia sabia muito bem quais eram os pecados daquele homem. Além de roubar no peso das mercadorias que vendia, fornicava com a cunhada, esposa do próprio irmão. Agora estava ali, as portas da morte, com medo de ir para o inferno. E a esposa triste, sem saber das traições do marido, pedia nas rezas a salvação dele. Cotia inclinou-se para frente, perguntando:- Ariovaldo, estas arrependido de teus pecados?

-Estou arrependido e peço perdão!-respondeu com voz fraquinha, fraquinha.

Cotia inclinou-se mais e sussurrou no ouvido dele- Mas, vais queimar nos caldeirões do inferno, por que eu não sou padre e não tenho autoridade para pedir por ti, pela salvação da tua alma. Ouviste? Não sou padre.

O moribundo estremeceu, os lábios roxos tremeram. Ele tentou falar alguma coisa, mas se engasgou. Cotia ergueu-se, deixou o quarto e rumou para a saída. Sem se deter, disse- A alma está salva, mas pelo corpo nada posso fazer. Do pó viemos e a ao pó voltamos.

Ele saiu rápido da casa. Estava já na rua, quando Josenildo correu para alcança-lo- Frei! Tome, dona Elvira mandou-lhe um ajutório.

Josenildo estendeu a mão com alguns réis. Cotia pegou as moedas, meteu no bolso e seguiu pela rua. Dobrou na esquina, caminhou duas quadras, dobrou novamente e focou a atenção numa casinha pintada de amarelo, com um pequeno jardim na frente, cheio de flores. A porta estava fechada, mas a janela não. Ali morava Dorinha Viana, a mulher com quem ele iria se casar. Será que ela ainda mora aqui?

 Olegário sentia-se emocionado, só de olhar a casa. Recordou que esteve ali muitas vezes, sentado num banco na varanda com ela. Conversando e fazendo planos para o casamento. Mas, o Destino mudou tudo quando um homem bêbado cruzou seu caminho. Se não tivesse fugido após matá-lo, talvez ainda estivesse no presídio na capital. Ou talvez tivesse morrido como um passarinho privado da liberdade.

Cotia continuou caminhando, olhando disfarçadamente para a casa. A sua vontade era bater na porta e pedir um copo de água, só para vê-la. Ela não iria reconhece-lo com aquela barba e aquele traje. Com certeza ela casou e não ficaria bem ele aparecer agora. Mudou de ideia, fez a volta, retornando para o morro. Deu ordens para o bando tomar a cidade.

- Mas, não quero que matem ninguém. Estão ouvindo? Sem um tiro. Não quero matar gente inocente. Só tem meia duzia de soldados. Façam reféns, mas não os machuquem pois tenho gente conhecida naquela cidade.

Os soldados não tiveram chances de reagir. Estavam todos juntos, no velório do delegado. Foi o primeiro lugar que os cangaceiro entraram e sem ruido, dominaram todos. Foram trancados na cadeia. Por ordem do chefe, Josenildo foi levado até ele. Cotia estava sentado nos degraus da porta da delegacia, junto com Vaqueiro.

- Deixem ele aqui. Preciso interrogar o cabra.-disse Cotia para Mosquito e Zarolho.- Agora vão cumprir as ordens de Vaqueiro. Quando os dois se fastaram com Vaqueiro, Cotia perguntou para o prisioneiro- Você fazia o quê, antes de ser soldado?

- Trabalhava como ajudante de guarda-livros.

- Conhece o coronel Dionísio Viana?

- Conheci, era fazendeiro. Homem valente! Agarrava touro à unha! Morreu faz dois nos. Um touro chifrou ele na barriga.

Cotia permaneceu calado, pensativo. Josenildo olhou para ele com mais atenção- Parece que já vi o senhor antes!

- Mas, claro! Eu estava vestido de frei hoje de manhã...

- Isso, o frade! Mas, então o delegado morreu sem receber a purificação!

- Vamos mudar de assunto. Me responda, a filha do coronel casou?

- Que coronel? Ah! O coronel Viana? Sim, a Dorinha se casou com o Chico, filho do coronel Fagundes. O homem morreu do coração, faz dois anos

Cotia ficou calado, remoendo as ideias. Enquanto isso, Josenildo pensou até em fugir, mesmo com as mãos amarradas. Mas, havia cangaceiros em cada canto da cidade. Não iria muito longe. Poderia até, ser baleado. Precisava ter paciência. Talvez os bandidos fossem embora logo depois do saque. Mas, o chefe deles, sentado ali na escada, parecia não estar com pressa.

- O que tem naquele cofre que está na delegacia?

- O cofre? O que tem dentro?

- Tu é surdo ou estou falando grego?

- O que tem lá são documentos- respondeu o rapaz, hesitante.

- Então são documento valiosos!

Josenildo atrapalhou-se tentando consertar o erro- Não! Não sei, o que tem lá, não.

Cotia fez um sinal para Mosquito e Barbicha.

- Esse cabra não quer falar a verdade, amarra ele num poste e taca bala nele!

Josenildo agitou-se, assustado, foi logo cuspindo as palavras- Não! Eu falo! Eu falo!

- Diga logo!

- É da prefeitura. Mas, eu não sei o que tem. O prefeito pediu para guardar na delegacia que é mais seguro.

Cotia ergueu-se, coçou a barba do queixo e começou a dar ordens- Vaqueiro, vai na prefeitura e traga o homem. Barbicha, leve esse magrela pra cadeia junto com os outros soldados e depois vê se tem café na cozinha, se não tiver manda Sinhá passar café e fazer bolinho de milho que'u estou com fome. Onde fica o barbeiro?

Josenildo não percebeu que a pergunta era para ele. Vaqueiro cutucou-o com a coronha da carabina.

-Ai! Ah! Fica logo adiante, na segunda quadra, a esquerda.

Quando o chefe dos cangaceiros retornou, todos olharam para ele com admiração, mas, ninguém fez comentário, pois o chefe não gostava de adulamento. Cotia tinha raspado a barba, estava com a cara lisinha e cheirando à loção de losna. Na escada estava sentado um homem de camisa branca e calça de linho, cinzenta. Ele levantou-se, encarando Cotia. Como autoridade, precisava permanecer ereto e firme.

- É o senhor prefeito? Como se chama?

- Mariano da Borba Canto.

Cotia pegou o homem pelo braço e levou-o para dentro da delegacia. Vaqueiro, Mosquito e Zarolho também entraram.

Cotia apontou para o cofre- Abra esse cofre.

-Não posso abrir-foi a resposta.

- Porque?

Mariano fez um gesto vago, respondendo num tom simplório- Esqueci a combinação. O cofre está vazio, não usamos mais. O dinheiro que tinha aí foi depositado no banco na capital.

Cotia voltou a levar o homem para fora. Olhou para Vaqueiro e perguntou:- Tem gente na igreja?

Mas, foi Zarolho quem respondeu- Umas dez pessoas. Marabá trancou eles lá dentro, junto com o padre.

- Corre lá e manda soltar um homem. Daqui, Mosquito atira e mata ele com o rifle de precisão. E se o prefeito não falar, manda soltar outro, e outro até que ele resolva abrir o cofre. Enquanto isso, vou fazer uma visita.

Zarolho saiu correndo para a igreja, Mosquito espichou-se na calçada, apoiou os cotovelos no chão a apontou o rifle para a porta da igreja. Vaqueiro sacou a pistola luger da cintura e apontou para o prefeito.

Barbicha surgiu na porta da delegacia- Capitão, o café está pronto!

-Deixa na chapa quente que já volto.

Dois cangaceiros estavam montando guarda na rua para impedir que o moradores saíssem de suas casas. Cotia passou por eles. Eram Caroço e Cebola.

- Logo, logo nós vamos embora. Só vamos pegar o dinheiro da prefeitura. Eu vou ali fazer uma visita a um conhecido.

Um disparo ecoou no centro da cidade.

-Algum problema, capitão?-indagou caroço, preocupado.

- É só uma questão de diálogo. Fiquem firmes até alguém vir buscar vocês.

Cotia seguiu adiante. Entrou no jardim da casa, deixou o rifle num canto da varanda, tirou o chapéu e bateu na porta. Esta, se abriu, surgindo uma mulher gorducha, com um lenço na cabeça. Olhou assustada para o homem a sua frente, a arma na cintura, as duas cartucheiras atravessadas no peito.
 - Não tenha medo que não vou lhes fazer mal. -garantiu o cangaceiro
-Dorinha Viana mora nesta casa?

- Sim, senhor, mas ela está doente, acamada. Estou cuidando dela.

-Qual é a sua graça?

-Ernestina Pião às suas ordens. Moro aqui do lado.

-Dona Ernestina, o que Dorinha tem?

- O médico receitou uma carrada de remédios e não adianta! Está com muita febre.

- Ela está com o marido?

-Não, ele já morreu, faz algum tempo.

- Posso conversar com ela? Eu vim de muito longe. Sou um amigo de longa data.

Cotia não esperou a reposta e foi entrando. No corredor entrou na primeira porta. Dorinha estava deitada no leito. O rosto pálido, ainda conservava a beleza de outrora, mas estava abatida pela enfermidade. Cotia se aproximou e sentou-se na cadeira ao lado da cama. Ele tocou de leve o rosto de Dorinha. Só então, ela abriu os olhos. Não demonstrou tê-lo reconhecido.

- Como está se sentindo?

Nem a voz ela reconheceu. Sua expressão era neutra, como se conversasse com uma visita qualquer.

- Me sinto fraca, com arrepios de frio e dor de cabeça.

- Você não está me reconhecendo? Sou Olegário da Rosa. Lembra que a gente ia casar? Já se passaram dezessete anos!

A expressão do rosto de Dorinha mudou. Esboçou um sorriso.

- Olegário! Há quanto tempo!

Logo a alegria despareceu- Você não apareceu mais!

- Ando fugindo desde  o dia em que matei aquele homem. Eu não queria ser preso, por isso fugi. Não te procurei mais por que me tornei um assassino.

Dorinha tocou a mão dele, fazendo-o calar-se.

-Foi bom você ter chegado. Eu quero que você me leve ao lugar onde nos beijamos pela primeira vez.

Olegário ficou indeciso.

- Eu vou morrer-disse ela- Me leve para lá, nas sombras dos buritis.

Ele ergueu-a com delicadeza e carregou-a para fora. Saindo pela porta dos fundos, seguiu por uma trilha ao lado do galinheiro. Logo chegou aos buritis. Sentou-se num banco de madeira com Dorinha ao colo. Ela soltou um suspiro. Olhou para a paisagem no vale  distante.

- Eu me casei grávida-disse ela num fio de voz- Meu marido sabia, eu contei a ele que o filho que eu esperava era de você, Olegário. Eu ia te contar naquele dia que eu estava esperando um filho teu. É um menino. Coloquei o teu nome. Olegário Filho.

Dorinha fez uma pausa, olhando para o homem que foi seu noivo há 17 anos.

- Um filho? Eu tenho um filho?

- Ta com dezessete anos.

- E onde está ele? Quero conhecer o cabra da peste!

A voz de Dorinha sumia.

- Ele foi na igreja rezar pra eu melhorar...

Olegário sentiu uma fisgada no peito. Na igreja? Dorinha deixou o braço pender, virou o rosto para o lado. Olegário encostou o dorso da mão na face dela. Estava fria, sem vida. Ele ergueu-se enquanto outro tiro ecoou distante. Estremeceu. Levou o corpo de Dorinha para casa e colocou-a na cama.

-Eu já volto-disse ele para Ernestina. Saiu apressado da casa. Enquanto corria, lágrimas brotaram de seus olhos, caindo das faces sumiam na poeira do chão. Uma dor súbita no peito deixou-o tonto, vacilou entre duas passadas. A vista nublou, os ouvidos zuniram e o coração corcoveou como um cavalo xucro.

Cotia abriu a boca sorvendo o ar que lhe faltava. As pernas fraquejaram e ele caiu duro como pedra. Ainda conseguiu espichar o braço e articular um nome.

 -Olegário, meu filho!

Perto da igreja soou mais um disparo.
ANTONIO STEGUES BATISTA
Enviado por ANTONIO STEGUES BATISTA em 27/01/2016
Reeditado em 29/01/2016
Código do texto: T5525450
Classificação de conteúdo: seguro

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DEPOIMENTO DO EX-CANGACEIRO VOLTA SECA CEDIDO AO JORNAL “O GLOBO PUBLICADO NAS EDIÇÕES DE NOVEMBRO DE 1958.


“Recebido como raro animal de circo em todas as localidades a que chegava, acabei em Salvador (Bahia), depois de uma longa viagem de mãos amarradas. E não me fizeram, durante todo o percurso, nenhuma maldade. Na capital da Bahia, a minha chegada constituiu um verdadeiro carnaval, principalmente por parte dos repórteres, que não me deixavam em paz. Procuravam-me todos os dias para entrevistar-me, mas, como eu nada dizia, eles imaginavam tudo. Redigiam sozinhos as “minhas” entrevistas. Eu era, de fato, um bicho raro, e até fui examinado por médicos que se detinham cuidadosamente no meu crânio, medindo-o e tentando descobrir o que havia lá dentro... Eu era um monstro que precisava ser bem estudado. E como o fui...”

ANTÔNIO DOS SANTOS – O EX CANGACEIRO “VOLTA SECA”.
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Fonte: facebook

https://www.facebook.com/groups/ocangaco/?fref=ts

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28 janeiro 2016

ENCONTROS DE VÍTIMAS COM PARENTES DE CANGACEIROS

Inacinho com Tia Eulália

O encontro de Inacinho filho dos cangaceiros Moreno e Durvinha com tia Eulália, Josilene Birico e Cotinha Valgueiro. 

Josilene e Inacinho

No dia 25 de abril de 1938, o cangaceiro Moreno atacou Cantidiano Valgueiro, avô de Cotinha e em seguida raptou Tivinha e Alzira, irmãs de tia Eulália, sendo Tivinha, mãe de Josilene. 

Inacinho e Cotinha Valqueiro

Ele ainda visitou Josélia Birico, outra filha de Tivinha, dona Carminha de Edésio e tio Zuca. Floresta 27/01/2016. Todos os segredos no livro As Cruzes do Cangaço - os fatos e personagens de Floresta. Lançamento maio. Autores Marcos e Cristiano Ferraz.

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas

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LUIZ GONZAGA - LAMPIÃO FALOU!


A música do CANGAÇO

Este álbum é fruto de um projeto de Aluízio Falcão e o Estúdio Eldorado, que buscava construir um painel da música inspirada no cangaço. Obviamente, eles esbarraram na já conhecida burocracia e impedimentos das gravadoras para a liberação dos fonogramas; o que dificultou ainda mais a sua realização. Contudo e apesar de forças contrárias o "discão" acabou saindo. Este lp tem um peculiaridade que é o fato de ser também um registro histórico, trazendo entre suas faixas o depoimento de Cila, sobrevivente do massacre de Angico, quando Lampião morreu e também as canções do ex-cangaceiro Volta Seca. (coisas-e-afinss.blogspot.com)

01 - Olha a Pisada (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) - Intérprete: Luiz Gonzaga.

02 - Cavalos do Cão (Zé Ramalho) - Intérpretes: Antônio Carlos Nóbrega, Teca Calazans e Bando Macambira.

03 - Se Eu Soubesse (Volta Seca) - Intérprete: Volta Seca - Narração de Paulo Roberto.

04 - Sabino e Lampião (Volta Seca) - Intérprete: Volta Seca - Narração de Paulo Roberto.

05 - Mulher rendeira (Volta Seca) - Intérprete: Volta Seca - Narração de Paulo Roberto.

06 - Antônio das Mortes (Sérgio Ricardo / Glauber Rocha) - Intérprete: Sérgio Ricardo.

07 - Acorda Maria Bonita (Volta Seca) - Intérprete: Volta Seca.

08 - Mulher Nova, Bonita e Carinhosa faz o Homem Gemer sem Sentir Dor ( Otacílio Batista/ Zé Ramalho) - Intérprete: Teca Calazans.

09 - Depoimento de Cila, viúva do cangaceiro Zé sereno e testemunha do massacre de Angico, onde morreram Lampião e Maria Bonita.

10 - Lampião (Sérgio Ricardo / Glauber Rocha) - Intérprete: Sérgio Ricardo.

11 - Reza do Corisco (Sérgio Ricardo / Glauber Rocha) - Intérprete: Othon Bastos.

12 - Perseguição/O Sertão Vai Virar Mar (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha) - Intérprete: Sérgio Ricardo.

13 - Lampião Falou (Venâncio/ Aparício Nascimento) - Intérprete: Luiz Gonzaga.

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O RAPOSA DAS CAATINGAS E O PESQUISADOR MIRIM PEDRO POPOFF CONTINUAM FAZENDO SUCESSO

Pedro Popoff - Foto do acervo de Carla Motta

O livro "Lampião a Raposa das Caatingas" escrito pelo pesquisador José Bezerra Lima Irmão está sendo lido pelo mais novo pesquisador do cangaço e Luiz Gonzaga Pedro Motta Popoff. 


Tanto o livro "Lampião a Raposa das Caatingas" como o pesquisador mirim "Pedro Popoff", continuam fazendo sucesso, e é que o Pedro Popoff ainda está com 9 anos, mas sabe tudo sobre cangaço e o rei do baião. 
  

O Raposa das Caatingas já está na 3ª edição. Para você adquiri-lo, basta entrar em contato com o autor, ou com o professor Pereira lá de Cajazeiras no estado da Paraíba.

Se você ainda não comprou este fantástico trabalho do escritor José Bezerra Lima Irmão adquira-o agora. Saiu a 3ª Edição. Lembre-se que quando lançam livros sobre cangaço os colecionadores arrebatam logo para suas estantes. Seja mais um conhecedor das histórias sobre cangaço, para ter firmeza em determinadas reuniões quando o assunto é "cangaço".

São 736 páginas.
29 centímetros de tamanho.
19,5 de largura.
4 centímetros de altura.
Foram 11 anos de pesquisas feitas pelo autor

É o maior livro escrito até hoje sobre "Cangaço". Fala desde a juventude  e namoro dos pais de Lampião. Quem comprou, sabe muito bem a razão do "Sucesso a nível nacional do Raposa das Caatingas"
que já está na 3ª. edição.

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799

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Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:

Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

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O PADRE CANGACEIRO

Por Cid Augusto da Escóssia Rosado

Padre Longino era o cão chupando manga. Casava e batizava, fosse literalmente ou no sentido figurado da expressão. A ele, primeiro mossoroense ordenado pela Santa Madre Igreja, atribuem-se ações criminosas diversas, todas sem castigo. O rol dos delitos contempla investidas contra o patrimônio alheio, contra a dignidade sexual e contra a vida.


Há poucos registros sobre o vigário. Em 1949, Vingt-un Rosado publicou anotações de Francisco Fausto de Souza, assumindo, porém, a responsabilidade pela impressão da brochura, ante ameaças de retaliação. A edição de 40 exemplares mimeografados recebeu o título “Apontamentos históricos sobre o Padre Longino Guilherme de Melo, 1802-1878”.

Sabe-se que nasceu no arraial de Santa Luzia do Mossoró aos 15 de março de 1802, filho do capitão Simão Guilherme de Melo e de Inácia Maria da Paixão, pessoas ordeiras e respeitadas. Recebeu ordens no seminário de Olinda-PE, em novembro de 1826, voltando logo a seguir para a terra natal, onde só não fez chover, mas ainda preparou o tempo.

No início da década de 1950, contratado pela prefeitura para fazer Notas e Documentos para a História de Mossoró, Luís da Câmara Cascudo ampliou os estudos de Fausto. O primeiro indivíduo, no entanto, a escrever sobre Longino foi outro ministro católico, José Antônio Silveira, inimigo implacável do colega de batina a quem dedicou versos ferozes.

O “poeta improvisado” acusa o desafeto de quebrar o celibato em pleno confessionário, deflorar menores impúberes, entre as quais uma sobrinha, celebrar missas para o diabo na capela de Santa Luzia, badernas, porte de arma, tentativas de homicídio e assassinatos consumados. A casa paroquial e o próprio templo serviram de trincheiras em tiroteios.

O maior deles envolveu Longino e seus cabras contra a capangaria liderada por Antonio Basílio, tocador de viola e baderneiro das bandas do Assú, além de genro do comandante Félix Antonio de Sousa Machado, descendente dos fundadores de Mossoró. Na chuva de bala, morreu um dos asseclas do padre, o célebre pistoleiro Tempestade Ventania.

Os dois se tornaram desafetos após casamento celebrado por Longino. A briga envolveu de início o vigário e Pedro Ferreira. Basílio saiu em defesa de Pedro, ameaçando Longino com uma arma branca, que lhe foi tomada por circunstantes. Irritado, o ministro de Deus arrastou outra faca, desferindo seis golpes no adversário. Ambos estavam bêbedos.

Transportada para a sede do município numa rede, após exame de corpo de delito realizado in loco pelo juiz de paz Domingos da Costa Oliveira, na presença de testemunhas convocadas para o ato, a vítima sobreviveu e fugiu. Não está claro se chegou a cumprir a pena de um mês de prisão sumariamente estipulada pelo crime de “porte ilegal de arma”.

O acusado recebeu o benefício do livramento ordinário no mesmo documento que determinava sua prisão e nunca foi julgado. Anos depois, o corregedor Luís Gonzaga de Brito Guerra declarou a prescrição da pretensão punitiva. A Igreja suspendeu as ordens de Longino, mas, seis anos depois, o bispo Dom João Marques Perdigão revogou a pena.

Aconselhado a deixar a cidade, viveu no Piauí e no Maranhão. Voltou para Mossoró 28 anos depois, cansado e cego. Quando alguém perguntava sobre a deficiência visual, respondia: “É verdade, ceguei. Ceguei de ver gente ruim”. Morreu aos 30 de março de 1876, contando 74 anos de idade, e teve o corpo sepultado na capela do Cemitério Velho.

Cid Augusto da Escóssia Rosado. Advogado. Escritor. Redator-chefe do Jornal O Mossoroense.

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MASSACRE DA FAMÍLIA GILO E O CARIRI CANGAÇO FLORESTA

Manoel Serafim, João de Sousa, Cristiano Ferraz e Marcos de Carmelita na Tapera dos Gilo

"Em dezembro de 1925 o senhor Gino Donato do Nascimento descobriu que 12 burros de sua propriedade tinham desaparecidos. Manoel Gilo, filho mais velho de Gilo Donato, seguiu as pistas dos animais indo encontra-los em Lavras de Mangabeira, Ceará, em posse do coronel Raimundo Augusto, que havia comprado os animais de Horácio Grande.

A verdade é que Horácio Grande foi processado e preso por esse roubo e depois jurou matar Gilo Donato.

Tempos depois realizou um frustrado ataque a residência de Gilo onde saiu baleado e perdeu o comparsa apelidado de Brasa Viva. Horácio Grande depois entrou no bando de Lampião e através de sua irmã e sua esposa forjou cartas falsas como se fossem de Gilo Donato afrontando o Rei do Cangaço...No dia "26 de agosto de 1926, quinta feira", às 4 horas da manhã, Lampião com um grupo em torno de 120 cangaceiros, atacou a fazenda Tapera. Um longo tiroteio rompeu o silencio do local. Por horas as pessoas da vizinha Floresta ouviram os tiros ecoando. O capitão Antônio Muniz de Farias, comandante das forças volantes que estavam na cidade, não mostrou coragem pra ir lutar contra os cangaceiros e defender a família Gilo. Quando a casa da sede se encontrava quase totalmente destruídos e vários mortos banhavam de sangue seus compartimentos, Lampião comandou a invasão a residência." Nos conta João de Sousa Lima.

"Gostaria de convocar todos os pesquisadores para debatermos sobre a data exata da Chacina ocorrida na "Tapera dos Gilo". A maioria dos escritores registram 26/08/1926, poucos 28/08/1926. Qual a data correta?"
Marcos de Carmelita

Marcos de Carmelita ao lado de Dona Dejinha, filha de Cassimiro Gilo

Geraldo Ferraz um dos mais conceituados pesquisadores sobre a temática e neto de comandante Theophanes Ferraz confirma:"Acredito, pelo registro que possuo, que o tiroteio foi, realmente, no dia 28 de agosto de 1926, assim vejamos: Telegrama do comandante Muniz de Farias, para o comando da Força Pública (grafia da época): “Floresta, 29. São 9:30 quando sigo deligencia com 37 homens fim tomar conhecimento tiroteio consta fazenda Tapera distante daqui 2 léguas. Saudações Muniz de Farias. Capitão Comandante."

E continuamos com a narrativa de João de Sousa Lima...

Manoel Gilo foi capturado ainda vivo, estando morto seu pai Gino Donato, o irmão Evaristo, o cunhado Joaquim Damião e Ângelo de Rufina. Na estrada ficaram mortos Permino, Henrique (casado com uma irmã de Gilo), Zé Pedro, Ernesto (da fazenda São Pedro), Janjão, Alexandre Ciriaco (morto quando tentava defender os Gilos e que tinha vindo da fazenda São Pedro), Pedro Alexandre (na Barra do Silva).

Ainda tombou morto um soldado que havia ido com Mané Neto, que mesmo estando baleado e com poucos homens sob seu comando, mesmo assim contrariou as ordens do capitão Muniz e foi tentar salvar a família Gilo. Com a quantidade de cangaceiros sendo muito superior ao grupo de Mané Neto ele comandou uma retirada. Lampião pegou Manoel Gilo e perguntou o porquê dele mandar as cartas confrontando Lampião. Manoel Gilo respondeu que era analfabeto e não sabia escrever; nesse momento Horácio Grande pegou a pistola e atirou, matando Manoel Gilo. Só ai Lampião percebeu a trama que Horácio o havia colocado. O Rei do Cangaço o expulsou na hora do seu bando.

Marcos de Carmelita e o local onde foram sepultados

Leonardo Ferraz Gominho, renomado pesquisador de Floresta, assevera: "Se o dia 26 de agosto de 1926 caiu em um dia de sábado, a chacina ocorreu no dia 26. Lampião deixou parte dos seus cabras no caminho que levava à cidade, para aprisionar as pessoas que iam à feira em Floresta. E a feira era no sábado. Se sábado foi dia 28, perfeito! Ouvi a história contada por meu avô, Fortunato de Sá Gominho - Siato, e também por João Gominho, irmão de Siato. Ambos estavam em Floresta no dia da chacina; eram comerciantes, não perdiam feira; e afirmavam que chegavam a ouvir o som dos tiros. Um sábado, 28 de agosto de 1926. Sem sombra de dúvida".

Marcos de Carmelita, pesquisador e um dos organizadores do Cariri Cangaço Floresta, revela: "Amigos, quando em reunião com os Gilos eles sempre afirmavam que era dia 26/08/1926. Quando perguntei, em que dia da semana ocorreu o fato, eles respondiam sábado. Foi aí que mostrei o calendário de 1926 e eles disseram ser 28/08/1926. O quadro que foi pintado em Homenagem aos Gilos tem a data 28/08/1926. Alguns historiadores dizem que o Capitão Muniz só foi ao local três dias depois. Apesar do comandante ter sido um covarde, no local tombou o soldado João de Paula Ferreira da volante de Manoel Neto, ficando a Tapera a uns 10 km de distância. A polícia foi no local no outro dia. Ciato Gominho e outros familiares estavam em Floresta no dia da Chacina e Leonardo Gominho e Geraldo Ferraz estão certíssimos. "

E continua Marcos de Carmelita: "Todo Florestano tem conhecimento que a luta se deu em um sábado, dia da feira, não existia feira na quinta. Os filhos dos almocreves que foram capturados na estrada também confirmam a data. Os depoimentos do Senhor Eliseu que conviveu com os moradores da Fazenda Monte em Belém do São Francisco e que foram presos junto com os outros na Quixabeira do Riacho do Arcanjo, confirmaram a mesma história. Véio, filho de Zé de Anjo, ainda vivo e extraordinariamente lúcido, teve um caso amoroso quando era muito jovem, tinha uns dezoito anos, com Luciana Barros , a Lulu, que estava dentro da casa dos Gilos na hora do ataque e que perdeu seu pai, também morto pelos cangaceiros na casa de Joaquim Damião. O problema é que a Tapera e os outros grandes combates em Floresta foram muito pouco escritos e pesquisados."

"Quantos cabras estavam com Lampião por ocasião desse episódio na Tapera dos Gilo?"

Segundo o pesquisador e escritor José Bezerra Lima Irmão em seu brilhante "Raposa das Caatingas" revela: "Lampião contava com 120 cangaceiros". Já Marcos de Carmelita acentua: "Não há como precisar a quantidade de cangaceiros. Ao sair da Tapera e chegar na Fazenda Água Branca, do Major da Guarda Nacional, Tiburtino Aĺves de Carvalho, fora quatro que foram mortos, o seu filho Alcides Carvalho contabilizou 94 cangaceiros na calçada da casa grande e vinham dois baleados que foram tratados por seu Alcides."

Já Geraldo Ferraz pontua: "Sobre a quantidade de cangaceiros liderados por Lampião, tenho a informar que, segundo o Cel. Veremundo Soares, em comunicação ao Governador Sérgio Loreto, no dia 31 de agosto, 03 dias após o massacre, Lampião liderava 112 (cento e doze) homens. O telegrama: "Salgueiro, 31 de agosto de 1926. Communico vossencia grupo bandido Lampeão composto 112 homens achavam-se esta noite povoado Conceição municipio Belem Cabrobó tomando animaes e depredando. Dolorosa situação do sertanejo. Saudações. Veremundo Soares. Prefeito.”

Tudo isso e muito mais em breve...
Cariri Cangaço Floresta 2016
Em maio, Floresta do Navio e Nazaré do Pico


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MORRE LINDOMAR CASTILHO, REI DO BOLERO CONDENADO POR FEMINICÍDIO.

  Por Tâmara Freire - Repórter da Agência Brasil Publicado em 20/12/2025 - 12:10 Rio de Janeiro Morreu neste sábado (20), aos 85 anos, o can...