Wikipedia

Resultados da pesquisa

10 fevereiro 2016

LAMPIÃO É NOSSO SANGUE O DRAMA DE LAMPIÃO ANALISADO POR UM ÂNGULO DIFERENTE - PARTE FINAL


OS CORPOS de "Lampião", Maria Bonita e seus nove comparsas haviam ficado realmente no leito seco de um riacho. Uma ligeira camada de terra os cobria. Os urubus descobriram e deram em cima. Veio uma alma piedosa, enxotou-os, foi buscar veneno e o espalhou pelo local com o fito presumível de manter afastados os urubus. Sem poder adivinhar que aquilo fosse veneno, os urubus voltaram à carga. Três ou quatro tombaram ali mesmo. E o próximo visitante que chegou, encontrando os urubus mortos sobre os restos dos cangaceiros, pensou rápido e saiu com a boca no mundo a dizer que "Lampião" não havia sido morto a bala, não. Havia sido envenenado. 

Assim se formam certas lendas no Brasil. Aliás, ninguém pôde atestar se os despojos estavam envenenados ou não. Quando as chuvas chegaram, o riacho ganhou águas e as águas mesmas cuidaram de decompor e destruir o que restava do estado-maior de "Lampião". João Ferreira se esquivava de ouvir essas histórias. Seus anos de vida estavam cansados de ouvir histórias tristes sobre Virgulino. Em vez, ele andava pelo mato a procurar qualquer coisa. Até que voltou, trazendo um punhado de flores silvestres. Aproximou-se da cruz tosca. Que fixara entre as pedras, tirou o chapéu da cabeça e se ajoelhou. Após alguns momentos de reflexão, depositou as flores ao pé da cruz. Para João. a morte perdoara os crimes de Virgulino. Ali ele não era mais o rei dos cangaceiros. Era um finado. Quando João se levantou, alguém identificou entre os presentes o Sr. Oséias Cândido, irmão de Pedro Cândido. 


Pedro Cândido era um fazendeiro que negociava com "Lampião" e foi quem guiou a volante alagoana ao esconderijo de Angico. "Lampião" morreu por causa dessa traição. — Meu irmão — disse Oséias — foi posto num dilema: morrer, ou mostrar onde "Lampião" estava. E contou que o bando foi surpreendido às 5 horas da manhã, quando presumivelmente dormia. João Ferreira ficou ouvindo de longe, como a não querer misturar-se com o irmão de Pedro Cândido. Ficou mudo o tempo todo. Só abriu a bôca no momento em que Oséias contou que Pedro morrera assassinado, em 1942. Quando perguntei a Oséias: "Que é de Pedro?", e ele respondeu: "Mataram", João comentou lá de traz: — Bem feito. E então nos retiramos, deixando a cruz e as flores dentro da paisagem. Voltamos a Piranhas peio Rio São Francisco, à noite, debaixo duma lua cheia linda e comovente. Horas mais tarde, quando os quatro passageiros de nosso carro jogaram-se às camas de um hotel em Santana do Ipanema, Manuel Ferreira tirou um livro de sua pasta e pediu que ouvíssemos alguns versos. 

O livro era "Bandoleiros das caatingas", excelente reportagem de Melquiades da Rocha. Os versos, do cantador Zebelé. Versos que nos desviaram o pensamento da lua se derramando sobre o São Francisco, para recordar, mais adiante, aquela cruz e aquelas flores no matagal da Fazenda Angico. Diziam assim: 

Ninguém no mundo se livra
Do gorpe duma traição. 
Inté Jesus foi traído 
Por um judeu sem ação, 
E morreu crucificado 
Sexta-feira da Paixão.

Lá na grata dos Angico, 
No meio da escuridão, 
Cercado por todos lado, 
Ferido de supetão, 
Foi pegado, foi traído. 
O gigante do sertão. 

Era brabo, era marvado
Virgulino, o Lampião, 
Mais era, pra que negá, 
Nas fibra do coração 
O mais prefeito retrato 
Das catingas do sertão 

A viola tá chorando 
Tá chorando com razão 
Soluçando de sódade, 
Gemendo de compaixão. 
Degolaram Virgulino, 
Acabou-se Lampião.

Havíamos atingido Santana do Ipanema, em Alagoas, para investigar o boato de que o vigário local criara um filho de "Lampião". Padre Bulhões não vivia mais, porém sua família podia esclarecer. O saudoso vigário realmente educara o filho de um cangaceiro. Mas filho de "Corisco", não de "Lampião". Retomamos viagem, para descobrir 12 horas mais tarde em Aracaju, a filha de "Lampião" e Maria Bonita. 

Sim, o rei do cangaço deixara uma filha. Dizia-se que era um filho. Esta própria revista recentemente divulgou declarações que defendiam essa versão. Mas João Ferreira não dá fé. Ele sabe apenas que um dia Virgulino lhe mandou uma menininha, com um bilhete para que ele a educasse. "O nome é Expedita", dizia o bilhete. 

Expedita, hoje, é ainda uma criança. Mas já mãe. Tem 21 anos de idade, um marido da mesma idade, um filhinho de 9 meses, Dejair. É uma cabocla forte e bonita, que não apresenta qualquer Sinal de degenerescência, nenhuma tara. Em julho de 1938, quando as cabeças de seus pais estiveram no Serviço Médico Legal de Maceió, o exame não denunciara estigmas que caracterizassem "Lampião" ou Maria Bonita como criminoso nato. Não surpreendia, que a filha fosse também normal. — O que tem é gênio forte. Herdou do pai — disse João. Nós a avistamos quando cuidava do filho. Dava-lhe leite em mamadeira, ai pelas 6 horas da tarde. Tinha um semblante tranquilo, os gestos delicados. Parecia feliz. A casinha modesta estava que era um mimo. Havia poltrona na sala, berço no quarto, jogo de panelas na cozinha. Tudo arrumado, tudo limpo que fazia gosto. Expedita dava leite ao nenê enquanto esperava o marido, Manuel Messias Nunes, para jantar, Manuel chegou loga. Tão criança quanto a mulher. Vê-los caducando com Dejair era ver dois meninotes que brincassem de papai e mamãe com um bebê. Educada por João, Expedita sabe porém de quem é filha. Na mesa da sala descobri O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sobre o livro "Lampião" de Optato Guelros. Sinal de que ela não era indiferente ao assunto. Mas que gosta de falar nele, não gosta. Tive de sondar pessoas de sua intimidade para conhecer-lhe as reações ante o tema "Lampião". Ela jamais falaria a um estranho sobre esse caso. Sempre tem medo de que sua condição de filha de "Lampião" atraia vexames para o marido, mais tarde para o filho. Pude colher que, embora evitando conversar sobre cangaceiros, ela devora toda leitura que se refira ao pal. Algo mais: foi ver o filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto. Voltou de lá aborrecidíssima" com a deformação do caráter do pai". Pois identificou "Lampião" no personagem central do filme. Expedita, como de resto todo o Nordeste, ligava pouco para o fato de Lima Barreto fazer arte. Queria apenas história. Interpretação honesta dos fatos. E ficou revoltada em ver os cangaceiros só viajando a cavalo, feito "cowboys" americanos, eles que só atravessavam e caatinga andando com os próprios pés. E revoltada em ver que não davam descanso a seu pai nem depois de morto.

Achei bonito que os Ferreira não se envergonhassem do parentesco com "Lampião". Lembro uma reportagem que fiz no Oriente sobre um australiano que amava uma japona. Proibido de casar, pois a Austrália àquele tempo não queria australiano casado com japonesa, o soldado Frank Loyal Weaver achou que o coração tinha razões mais fortes, e se casou. Foi deportado sete vezes para a Austrália; clandestinamente voltou sete vazes ao Japão. Pois bem: os pais de Weaver, envergonhados, repudiaram o filho, nunca mais quiseram saber dele. 

Quando é que um sertanejo nosso abandonaria o filho por ter casado com quem queria? É como me diziam os primos de João no meio da viagem: "Lampião" é nosso sangue. E sangue é sangue". Achei bonito que os Ferreira reverenciassem o parente morto. Terem a coragem de não negar. A bravura de defender. Lá em Serra Talhada uma senhora me disse: — Meu pai é Antônio Matilde. Ouviu falar nele? Era do bando de "Lampião". Pois olhe: tenho orgulho de ser filha de Antônio Matilde. Então vou renegar o homem que me deu a vida só porque o mundo o condena? E com um ar de desprezo pelo juízo dos homens ela rematou: — Ora, moço, só Deus é o dono do mundo.


NO CURSO de uma das várias palestras mantidas durante a viagem, na própria fazenda "Serro Vermelha'', onde ele nascera, João Ferreira ouviu expressões incômodas sobre "Lampião" e seus feitos. Ficou firme. Ninguém sabia quem era ele. Os novos senhores da terra o trataram bem, sem saber a quem tratavam. Tudo bem. 

OSÉIAS CÂNDIDO contava por que seu irmão Pedro guiara os matadores de "Lampião" ao esconderijo na grota de Angico. Fora forçado por ameaça de morte. João Ferreira ficou espiando, desconfiado, como o não querer misturar-se com o irmão de quem traíra Virgulino e o empurrara para a morte.
Antônio, o irmão mais velho. Nem os outros irmãos mais velhos, Livino, Virgulino e Virtuosa. Ele, João, era o quinto filho do velho José Ferreira e da "cumadre" Maria José. Abaixo vinham Angélica, Maria, Ezequiel e Anália. A família era grande e próspera. Pai e mãe vivos, nove filhos, gado no campo, terra trabalhada, dinheiro nos baús. Agora, tudo diferente. Por que? — Por que não nos deixaram viver em paz? —perguntou ao ar. 


MOCINHA é a única irmã que restou a João Ferreira. Ela aparece aqui tomando café, sentada, em sua casa de Delmiro, cidade alagoana próximo à Cachoeira de Paulo Afonso. De costas, o marido de Mocinha. 

Deixando a fazenda, João foi abraçar a única irmã que lhe restava, Maria. "Chamo-a de Mocinha", explica. Ela mora em Delmiro, Alagoas, é bem casada e mãe de duas moças e um rapaz. João passou uma noite inteira contando-lhe os detalhes da sua viagem. 

Depois ele atingiu as margens do Rio S. Francisco, tomou um barco e foi à Fazenda Angico. Ver o local onde mataram o mano. Manuel e Antonio Ferreira, os dois primos que o acompanhavam na viagem, alguns tripulantes do barco e gente da vizinhança, seguiram João até a grota famosa onde a volante do capitão Bezerra liquidou "Lampião" em 1938. João olhou em volta sem dizer uma palavra. Então tinha sido aquele o palco da cena final... Botou a mão na mesma pedra onde o pescoço de Virgulino recebeu o golpe do facão. Depois mandou cortar um galho de árvore, fazer uma cruz. E fixou a cruz entre pedras, no local onde jazera o corpo decapitado do irmão.

— Enterraram o corpo? — perguntei ao guia.

— Não, a água levou. 

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/02/lampiao-e-nosso-sangue.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - O CRUZEIRO DA LAGOA - PARTE IV


Em Alagoa Nova havia um Cruzeiro, pequeno monumento com uma cruz e uma janelinha. Em seu interior eram colocadas velas acesas, protegendo-as do vento, e também, “objetos de promessas” - próteses, réplicas de mão, braço, pé e cabeça –, tudo aquilo que simbolizasse uma cura naquela parte do corpo. Ele situava-se junto à Lagoa Velha, entre esta e a Lagoa Nova.

Lampião havia passado algumas vezes ao lado Cruzeiro, quando viajava utilizando esse caminho que incluía o Pau Ferro, passando pela lagoa, em direção ao Constantino, para chegar a outras localidades. O mesmo se dava no retorno. Em uma dessas passagens, fez uma promessa diante do Cruzeiro.

Em 1924, no final do mês de julho, Lampião envia seus cangaceiros, comandados por seu irmão Livino e por Chico Pereira, que também tinha um bando. Com eles foram alguns da região dos Patos de Princesa.

Sousa era uma cidade grande, e os roubos, maltratos à população e a suas autoridades, tiveram uma grande repercussão na Paraíba, motivando severas críticas a José Pereira, de Princesa, porque se comentava que ele protegia os cangaceiros. Revoltado com as críticas e com o propósito de provar que não estava de acordo com isso, José Pereira organiza as tropas policiais da região e um grupo de seus comandados para expulsar Lampião, que estava em terras de seu município.

O coronel envia uma mensagem, por Manoel Lopes, para o chefe dos bandoleiros, dando-lhe o prazo de 24 horas para desocupar o Saco dos Caçulas. Isso causou grande revolta no cangaceiro, contra o coronel.

Lampião lembrou-se do compromisso religioso feito no Cruzeiro de Alagoa Nova e não queria partir antes de pagar a promessa. Ele também tinha seus momentos de religiosidade e combinou a ida com o irmão, possivelmente o Antônio e o cangaceiro Tocha. Seguiu para São José, onde comunicou a Doca: “Tenho uma promessa pra pagá no cuzero de Lagoa Nova”. Dali seguiram com Doca. Os quatro passaram pelo arruado no final da tarde e foram até o Cruzeiro fazer suas orações. Após pagar a promessa, Lampião disse: “Vamo simbora”. Ele teria deixado dinheiro com alguém para pintar o cruzeiro. Voltaram à “boca da noite”, sem serem reconhecidos, deixaram Doca em São José e se transferiram do Saco dos Caçulas para o Alto do Pau Ferrado, onde tinham o apoio do fazendeiro Antônio Né, da família Marcelino.

http://www.manaira.net/canga%C3%A7o.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.combr

SOMOS TODOS UMA SÓ FAMÍLIA: FLORESTA.

Cariri Cangaço em Floresta, agora somos uma só família...

“Estamos prestes a testemunhar um dos maiores eventos sobre história de Floresta de todos os tempos”; foi com esse entusiasmo que o pesquisador e escritor Leonardo Ferraz Gominho iniciou a reunião de trabalho da Curadoria do Cariri Cangaço no Espaço Cultural João Boiadeiro de Floresta na tarde do último dia 08 de fevereiro, segunda-feira de carnaval.

Com a presença do Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo; dos pesquisadores Cristiano Ferraz, Manoel Serafim, Marcos de Carmelita, Leonardo Gominho, Betinho Numeriano, Denis Carvalho, e ainda Maria Amélia, Silvana Nascimento, da professora Ana Gleide Leal Sá; representante do CESVASF, Instituição de Ensino Superior responsável pela formação da maioria dos professores de História na região; de Adália Barros, do bloqueiro Elvis de Lima e da representante da municipalidade Fátima Rocha, aconteceu a reunião que marcaria o inicio dos preparativos finais para um dos mais aguardados eventos com a marca Cariri Cangaço.

Denis Carvalho, Leonardo Gominho, Marcos de Carmelita, João de Sousa Lima, Cristiano Ferraz e Manoel Severo; começa o Cariri Cangaço Floresta 2016...

Manoel Severo inicialmente apresentou aos presentes o sentimento que norteou a criação do Cariri Cangaço ainda em 2009 e mostrou os números significativos dos 6 anos de existência do empreendimento, ao mesmo tempo em que testemunhou em nome de todo o Conselho Alcino Alves Costa a satisfação do Cariri Cangaço chegar pela primeira vez ao estado de Pernambuco e em especial ao tradicional município de Floresta. “Chegar oficialmente a Floresta, um dos mais espetaculares cenários desta saga sertaneja que é o cangaço, é motivo de muita satisfação e alegria ao mesmo tempo em que aumenta nossa responsabilidade em promover um grande e inesquecível evento com a marca Cariri Cangaço, tanto para quem virá de todo o Brasil como e principalmente, para a família florestana. Hoje realmente, com essa reunião de trabalho, temos um dia histórico para o Cariri Cangaço: Somos uma só Família; Floresta”.

Leonardo Ferraz Gominho entregando suas obras a Manoel Severo 

Além da definição da data; o Cariri Cangaço Floresta 2016 acontece entre os dias 26 a 28 de maio, tendo Floresta e Nazaré do Pico como anfitriões; a reunião definiu a infraestrutura do evento, a programação que envolverá; conferências, debates, lançamento de livro, visitas técnicas e ainda apresentações artísticas e folclóricas, tanto em Floresta como em Nazaré e ainda os conferencistas e as respectivas mesas de debates. Manoel Serafim, um dos organizadores do Cariri Cangaço Floresta acentua: “certamente estaremos todos comprometidos com o que temos de melhor para receber todo o Brasil que virá ao Cariri Cangaço Floresta”.

O pesquisador e escritor Marcos de Carmelita revela a satisfação de receber o Brasil de Alma Nordestina em Floresta nesse marcante Cariri Cangaço, e revela: “Nunca tivemos algo parecido aqui em Floresta, é realmente uma iniciativa ousada e vitoriosa do Cariri Cangaço e que sem dúvidas reunirá para nossa alegria toda a família florestana, além de pesquisadores de todo o Brasil.” Já o pesquisador e escritor Cristiano Ferraz “será uma grande festa da história e da memória de nossa cidade, o Cariri Cangaço Floresta 2016 entrará para a história e temos o grande prazer de lançar nosso livro, eu e Marcos de Carmelita: As Cruzes do Cangaço - na noite de abertura”.

Curador do Cariri Cangaço Manoel Severo e os organizadores do evento em Floresta: Leonardo Gominho, Marcos de Carmelita, Manoel Serafim e João de Sousa Lima.
A reunião deixou claro o forte compromisso da equipe de organização no município, em realizar um evento que irá primar pela qualidade e responsabilidade, marcas indeléveis do Cariri Cangaço. Para Manoel Severo “hoje, estamos finalizando a programação, que estaremos divulgando dentro de uma semana; em função de uma ou outra confirmação; mas o que podemos adiantar é que a equipe local está comprometida com o que Floresta e Nazaré possuem de melhor!"

 Reunião marca o lançamento do Cariri Cangaço Floresta 2016...
 Presidente da ABCDE , Ana Gleide do CESVASF e Manoel Severo

A noite foi a vez do encontro com Raul Goiana Novaes Meneses, um dos fortes colaboradores da gestão municipal florestana que recebeu do curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo e dos organizadores locais; Marcos de Carmelita, Maria Amélia e Manoel Serafim, detalhes do formato e da programação do Cariri Cangaço Floresta. "Dentro do Cariri Cangaço é necessário lançarmos um Manisfesto pela Restauração do prédio histórico do Batalhão das Forças Volantes, uma luta antiga de todos nós, uma iniciativa que une toda família florestana, sem dúvidas vamos apoiar o Cariri Cangaço Floresta no que for possível." conclui Raul Goiana Novaes.

Manoel Serafim, Marcos de Carmelita, Manoel Severo, Raul Goiana Novaes, Leonardo Gominho e Cristiano Ferraz em noite de preparativos para o Cariri Cangaço Floresta

Na verdade, o trabalho de mais de um ano começa a mostrar seu formato final no grande empreendimento que será o Cariri Cangaço Floresta 2016 em maio, quando reuniremos os maiores pesquisadores do Brasil, sobre a temática para um debate qualificado e responsável, tendo como cenário dois dos mais significativos palcos dos acontecimentos; Floresta do Navio e Nazaré do Pico.

Manoel Severo conclui: "Ainda hoje e amanhã estaremos concluindo em mais três reuniões de trabalho, em Nazaré; os detalhes finais da programação, dessa forma, até o começo da próxima semana teremos condições de divulgar a Programação Completa e final de nosso esperado Cariri Cangaço Floresta 2016, nos aguardem, teremos sem dúvidas mais um Cariri Cangaço inesquecível."

Cariri Cangaço Floresta 2016
26 a 28 de Maio
Floresta do Navio e Nazaré do Pico
Programação em breve...

http://cariricangaco.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

09 fevereiro 2016

CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - LAMPIÃO EM PATOS - PARTE III


LAMPIÃO EM PATOS

Em março de 1924, Lampião e nove de seus homens seguem em direção a serra do Catolé, nos limites de Vila Bela (Serra Talhada) com a Paraíba e ficam ali acampados. Informados de operações dos cangaceiros naquela região, várias volantes começam a reunir-se nas imediações da Lagoa do Vieira (PE), com o objetivo de intercepta-los. Ali estavam três volantes, com cerca de cem soldados, comandadas pelo major Teófanes Torres, de Vila Bela. Alguns soldados, ao se dirigirem para o local do encontro, defrontaram-se com Virgulino e mais dois homens. Iniciaram o tiroteio e o chefe dos cangaceiros foi atingido por um tiro no pé esquerdo, abandonando o combate que foi engrossando com a chegada dos outros cangaceiros e das volantes. Lampião ficou ferido, isolado de seu grupo, escondido em uma moita de arbustos justamente no local de passagem das volantes. Teria sido fácil encontrá-los pelas marcas de sangue nas folhagens, se não fosse o socorro prestado por alguns cangaceiros, liderado por Antônio Rosa, que desviou a atenção da polícia, levando-a para outra direção.

Passou ali dois dias sem socorro. Quando foi encontrado por seus companheiros, já estava bastante enfraquecido, febril e apresentava o membro inferior bastante infeccionado e cheio de vermes. Fizeram os curativos de emergência usando creolina e ácido fênico e buscaram reanimar suas forças com alimentação à base de leite, angu e rapadura. 

No terceiro dia, seu irmão Antônio Ferreira o levou para uma gruta – que ficou conhecida como a Gruta do Cangaceiro –, localizada no pé da Serra das Abóboras, que extrema com a Serra da Bernarda.

Deixando seu irmão em bons cuidados, partiu Antônio Ferreira, a toda a brida, para Princesa, onde participou ao coronel Zé Pereira o ocorrido.

Coronel José Pereira de Lima - Princesa-PB
            
Em 3 de abril, cinco dias depois, Antônio Ferreira retorna com um grande grupo armado, fornecido pelo coronel Zé Pereira, para, com segurança, transportar Lampião até a fazenda de seu cunhado Marcolino Pereira Diniz, no Saco dos Caçulas, em Patos de Princesa.
            
Um cidadão de nome José Alves Evangelista, cedeu sua casa nova para a hospedagem de Lampião. Estava se preparando para casar, construíra a casa e ainda não a tinha habitado.
  

Ali, Lampião foi operado pelo médico Dr. Severiano Diniz, que fez a recomposição dos ossos esfacheados da perna. Esse médico acompanhou o tratamento por três meses, e também na convalescença. O Dr. José Cordeiro de Lima, de Triunfo também assistia ao enfermo.


Os cangaceiros, em lugares estratégicos como o Livramento, o Pau Ferrado, além do Saco, montavam rigorosa vigilância para que nada atrapalhasse a recuperação de seu Chefe.

http://www.manaira.net/canga%C3%A7o.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

LAMPIÃO É NOSSO SANGUE O DRAMA DE LAMPIÃO ANALISADO POR UM ÂNGULO DIFERENTE - PARTE II


JOÃO FERREIRA reviu terras que não pisava havia 37 anos, O único irmão de "Lampião" que não ingressou no cangaço vive hoje na cidade de Propriá, no Estado de Sergipe, levando a vida honesta que sempre levou. Sofreu bastante por ser irmão de "Lampião". 


PARA OS OUTROS A MORTE DE "LAMPIÃO" FOI UM BEM, UM ALIVIO.

ESTA REVISTA proporcionou a João Ferreira uma viagem de automóvel que ele jamais sonhara realizar. 

NO ALTO SERTÃO de Pernambuco João abraçou parentes que não via desde os seus quinze anos de idade.

NÃO HAVIA choro quando partia. Estivera ausente 37 anos. E ausência é madrasta de apego. 

JOÃO FERREIRA mandou cortar um galho de árvore e fazer urna cruz. Fincou-a no local onde jazera o corpo do mano. Foi recolher flores silvestres e veio depositá-los ao pé da cruz. Para homenagear o irmão. 

A iniciativa de O CRUZEIRO proporcionou a João Ferreira uma jornada sentimental que ele jamais sonhara realizar Esse homem alto, careca, desconfiado, das fotografias ao lado, passou seis dias em cima dum automóvel, varando 2.000 km de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Vocês precisavam ver que arroubos de entusiasmo o alto sertão arrancava de João. Como seus olhos brilhavam. Como o semblante irradiava alegria, pelo menos enquanto ele podia esquecer as razões que o haviam afastado das terras de seu bem-querer. 

No município de Serra Talhada, em Pernambuco, ele abraçou parentes que não via desde os seus 15 anos de idade. E ele agora está com 52 anos. Levado à Fazenda Serra Vermelha, onde nasceu, e onde também nasceu "Lampião", João Ferreira encontrou xique-xique brotando nas ruínas do casarão de sua infância. Voltou-se para mim e disse com desalento: "A vida é assim mesmo..." Há 37 anos não pisava ali. Pensava que ia morrer sem voltar. Conversava (incógnito) com os novos donos da terra, fazia perguntas sobre a vida na fazenda. Tudo agora lhe parecia diferente. Não havia mais aquela atmosfera dos seus tempos de menino, dos seus tempos de rapaz. Não havia mais.


O ADVOGADO pernambucano Antônio Ferreira Magalhães, primo de "Lampião". 

 

"LAMPIA0" - MOÇO

Virgulino Ferreira do Sirva aos 26 anos de idade, numa fotografia rara que se encontrava em poder do umas tias, em Pernambuco. Foi nessa época que ele recebeu a "patente" de capitão das mãos de Padre Cícero, do Juazeiro do Norte. Reparar o olho direito cego. 


João VIAJANDO de barco, ouvia histórias sobre os últimos dias de "Lampião". À direita, deitado, o primo Manuel.

EM ANGICO desembarcou para ver a local onde, há 15 anos, o seu mono foi traído, morto e decapitado.

EM DELMIRO, na casa da mana Mocinha, tomou leite no pé da vaca (com farinha). 

EM SERRA Talhada, João Ferreira viu xique-xique brotando nas ruínas do casarão onde "Lampião" nasceu. 
  

"O CRUZEIRO" DESCOBRE EM ARACAJU A FILHA E O NETO DE MARIA BONITA. NUNCA FORAM FOTOGRAFADOS.


A FILHA, O NETO, E O GENRO DE LAMPIAO, Expedita, ao lado de seu esposo Manuel Messias Neto, segura o filhinho Dejair, de 9 meses de idade, neto de "Lampião". Pela primeira vez a família posou para o objetiva de um repórter. 


A FILHA DE "LAMPIAO"

Expedita Ferreira Nunes, que a família Ferreira aponta como única filha deixada por "Lampião" com Maria Bonita, foi localizado pelo repórter em Aracaju. É uma jovem esposa e mãe, com 21 anos de idade. Normal. Bonita. De tez morena. Foi educada por João Ferreira e, seguindo o exemplo de seu tio, não gosta de falar sobre "Lampião". Mas lê tudo que se publica sobre seu pai e até mesmo o filme "O Cangaceiro" ela foi ver e não gostou. Ela guardava a edição de O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sabre "Lampião". Expedita revê uma fotografia usado por Martins naquela reportagem. 

DIZIA-SE que "Lampião" e Maria Bonita haviam deixado um filho. João Ferreira nega, assinando a declaração cujo "facsímile" estampamos abaixo:


"Declaro ao repórter Luciano Carneiro que a senhora Expedita Ferreira Nunes, de 21 anos de idade, esposa do sr. Manoel Messias Nunes, 4 filhas de meu irmão Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, e de sua companheira Maria Bonita. Quando ela nasceu Virgolino me pediu que eu a fizesse uma mulher de bem. Ele não estava em condições de fazê-lo. Não me consta que alem de Expedita, tivesse havido qualquer filho da união de Virgolino e Maria Bonita. Se houve, se há, eu nunca soube."

RECIFE, 19 de Agosto de 1953 

CONTINUA...

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/02/lampiao-e-nosso-sangue.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

O CASAMENTO DE DOCA - PARTE II


Entre as terras desses guardiões, no povoado de São José, a 6km de Alagoa Nova, morava Doca. Manoel Bezerra de Macena, mais conhecido como Doca, era pai de Quitéria, de China e de Zé de Doca. Casou-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, conhecida por Isabel de Doca e que era tia de Didi Pereira da Silva. Todos esses nomes são de pessoas bem conhecidas dos manairenses. Ambos são descendentes dos primeiros fundadores da Fazenda São José. Ele, descendente de José Bizerra Leite, ela de Ignacio ou de Felix Ferreira da Luz.

Na juventude, Doca teria estudado algumas aulas junto com Virgulino Ferreira, construindo certa amizade, mantendo-a mesmo depois que este enveredou pelas trilhas do cangaço.

Nos anos 20, junto com Marcolino, comunicaram um local, julgado seguro, que permitiu a Lampião apoiar-se por vários anos nas imediações do Pau Ferrado.

Brincos e colar de ouro, para Isabel – Presentes de Lampião

Doca teve um desentendimento com o chefe do povoado onde residia e isso passou a trazer-lhe certos desconfortos. Quando resolveu casar-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, queria que a celebração ocorresse no São José, onde morava. O chefe da localidade mandou um recado a Doca informando que não permitiria que houvesse festa no casamento. Seria muita gente e ia fazer muito barulho. Naquela época, casamento tinha que ter o baile, mas ninguém podia ir contra uma ordem de um mandatário local.


Lampião soube dessa notícia e mandou um recado para Doca: “Amigo, pode contratá o sanfoneiro e organizá o baile que ninguém vai atrapaiá.”

No dia 23 de novembro de 1923, depois do casamento, chegou uma tropa armada. Vieram “passar a guarda” no casamento (garantir a tranquilidade). “Lampião apitou num apito e mandou chamar Pai”. Pai foi e Lampião disse “pode botá o baile que eu quero vê quem num qué escutá”.

A festa aconteceu, o sanfoneiro tocou e nada interrompeu a alegria. Atrás da casa, sob as árvores, ficaram os cabras, aos quais foi servido um farto jantar. Há quem diga que eram 17, outros afirmam que eram 40 cangaceiros. Doca chamou Lampião para jantar dentro da casa e, ali pela madrugada, o convidado disse: “a festa tá boa, Doca, mas eu vou imbora.”

Lampião levou como presente de casamento, para Doca, uma garrafa de fino vinho francês, envasado em garrafa de cristal decorado (foto à esquerda). Para Isabel, levou uma “vorta (colar) de muito bom tamanho, vorta de ouro e mais um pá de dois brinco” (foto à direita). Quitéria conta que, muitos anos depois, Isabel trocou por um cavalo, somente os brincos. “Mas o cavalo morreu. O cavalo era de Filiciano, mas Filiciano morreu. Ele deu osbrinco a Maria de Zé Grande, mas Maria de Zé Grande Morreu. Depois eu não sei mais não, acho que ninguém teve sorte com eles (os brincos)”.

“Na revorta de 30 pai amarrou dois fuzi debaixo da gaveta (no compartimento do fundo falso). Os sordado vieram, quebraram tudo, inxero a casa de buraco de tiro, mas quando a guerra acabou nós chegô do Brejo (Triunfo) e nós chegô e tava lá os dois rife, a Puliça num achô.”Não somente na época do casamento, mas em outros momentos de lazer, na sala da casa de Doca tinha uma mesa onde Lampião fazia suas refeições e se distraía, jogando cartas de baralho. A mesa tinha uma grande gaveta, com fundo falso.

Uma bandeja em grosso alumínio era o prato utilizado pelo cangaceiro para sua alimentação. A casa ainda mantém-se de pé e é cuidada pela filha mais velha do casal que nos reconta essas histórias. (Narrações de Quitéria de Doca).

CONTINUA...

http://www.manaira.net/canga%C3%A7o.html

http://blogdomendesemendesp.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

08 fevereiro 2016

O COITEIRO QUE TRAIU LAMPIÃO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Quando encontrei essa reportagem, que sinceramente não sei quem me passou, ou se encontrei em pesquisas nas bibliotecas virtuais, e também não sei que jornal saiu, qual data, e não tinha ideia da joia histórica do artigo. Quem souber desses detalhes, comente por favor na postagem no Facebook do site do Grupo Lampião, Cangaço e Nordeste.

Reportagem feita pelo jornalista Roberto Vilanova, traz conversas que ele teve com o sobrevivente da chacina da Fazenda Patos e também com o homem que foi acusado de tramar esse tenebroso desfecho.

Fazenda Patos - Encontro do Cariri Cangaço

Em visita à Fazenda Patos, no município alagoano de Piranhas, por ocasião do encontro anual de historiadores, escritores, pesquisadores e admiradores da Saga Cangaço, no mês de julho de 2015, tive a oportunidade de gravar o depoimento do Senhor Celso Rodrigues, relatando o acontecido, quando era menino, ouvindo os adultos conversarem no balcão da bodega de seu pai, estabelecida em Piranhas, naqueles anos pós morte de Lampião. 

Nessa ocasião escrevi o artigo "A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes" onde narro esse estudo e pesquisa a céu aberto, inclusive com dois documentários gravados, participando juntamente com os companheiros da Confraria do Cariri Cangaço de sua programação patrocinada juntamente com a Prefeitura de Piranhas-AL que montaram essa oficina de estudo de caso, no palco em que tais acontecimentos ocorreram. Vamos então à matéria: 

Ninguém vive tão só em Piranhas, esse homem carrega há 40 anos o desprezo de sua cidade

Roberto Vilanova 
Fotos de Helder Monteiro


Maceió — Hoje é dia de feira na cidade de Piranhas, a quase 400 km da Capital de Alagoas, é o dia do encontro semanal muitas vezes cara a cara, das duas mais sacrificadas testemunhas da morte de Lampião: o que traiu o cangaceiro e o único sobrevivente da família assassinada por Corisco numa vingança resultante de uma segunda perfídia do traidor. Os dois não se falam. Por trás, acusam-se mutuamente de covardia e mentira. Se até hoje não explodiram em violência física um contra o outro, isso se deve a um trabalho de catequese das famílias tradicionais daquela cidade do alto sertão alagoano, principal cenário do planejamento da morte de Lampião, há 39 anos. O coiteiro é Joca Bernardo; o sobrevivente é José Silvino Ventura. Só um milagre terá feito Silvino escapar das mãos de Corisco — o segundo homem do bando de Lampião — quando o cangaceiro veio se vingar da morte do chefe e "sangrou" seu pai, sua mãe e quatro irmãos. Ele era o mais novo: tinha seis anos de idade, o que provavelmente o salvou.

José Silvino Ventura filho de Domingos Ventura assassinado por Corisco

— Corisco chegou lá em casa quase as sete da noite. Meu pai, Domingos Silvino, não sabia de nada e o recebeu alegremente. Corisco foi logo dizendo: "Domingos, vim lhe matar. Você vai morrer com toda a sua raça, para nunca mais trair homem, Já sei que foi você quem traiu Lampião. O Joca Bernardo me contou tudo." José Silvino não conta detalhes da chacina. Só diz que foi muito cruel ter de levar, em um saco, as cabeças de seus pais e irmãos, para entregá-las, em Piranhas, ao tenente João Bezerra, comandante da tropa que exterminou Lampião e seu bando. Revela também, agora por ouvir dizer, como se deu o encontro de Joca Bernardo com o cangaceiro e como a polícia, orientada pelo coiteiro, chegou à grota de Angicos, onde Lampião e alguns de seus comparsas estavam escondidos e foram mortos.

— Uma semana depois da morte de Lampião — continua Silvino — Corisco encontrou-se com Joca Bernardo, Queria vingar o chefe. Bernardo disse que meu pai, que era vaqueiro do sogro do Tenente Bezerra, tinha sido o delator. Corisco reuniu seu estado-maior e resolveu decidir a sorte de Domingos Silvino. Conta-se que Dadá, mulher de Corisco, advogou a honestidade de Bernardo, tal a segurança com que ele sustentava a culpabilidade de Silvino.

— Corisco acreditou porque o Bernardo armou tudo direitinho. Eu não sei se ele tinha queixas de meu pai. Eu era criança e não sabia de nada. Nas consultas que fez a seu estado-maior, Corisco alinhou três argumentos para condenar Domingos Silvino:

1) parecia difícil que o coiteiro Bernardo fosse inventar, sem mais nem menos, o nome de outra pessoa;

2) Domingos era vaqueiro na fazenda do Sr. Antonio Brito, sogro do Tenente Bezerra;

3) O Tenente Bezerra comanda a tropa policial na invasão do esconderijo de Angicos.

Cidade de Piranhas-AL às margens do rio São Francisco aqui se planejou a morte de Lampião

O coiteiro traidor vive hoje de uma aposentadoria pelo Funrural. Tem uma casa de taipa, esburacada, e um burrico no qual, às quartas-feiras, vai a Piranhas. Depois de ajeitar o cigarro de palha, molhando-o com saliva para fechá-lo adequadamente, ele concorda em falar.

— É verdade que o senhor denunciou Domingos Sivino, como o homem que traiu Lampião?

— Isso é história, Eu não faria uma coisa dessas.

— Mas o senhor se encontrou com Corisco, não foi?

— Isso é verdade.

— Como se deu esse encontro?

— Eu tinha acabado de juntar o gado, aqui perto, em Entre Montes, quando ele pulou na estrada, a esfumaçar pelo nariz que nem um touro. Ai eu disse: "O que é que há camarada?" Ele respondeu: "É verdade que mataram Lampião?" Aí eu afirmei que tinha ouvido falar.

— Foi esse o dialogo?

— Só isso. Aí ele foi embora, me parece chorando.

Bernardo está cercado de olhares, são de desprezo. Ele está acostumado a ser olhado assim até por pessoas que combatiam veementemente o cangaço. Julgava ter contribuído para o sossego público em Piranhas, a cidade alagoana, mais sobressaltada no tempo dos cangaceiros, que vinham repousar no até então inexpugnável esconderijo dos Angicos. Seu degredo começou quando não cumpriram a promessa de pagamento pelo serviço prestado. Prometeram-lhe cinco contos de réis, mas só lhe deram pouco mais de um.

Se tivesse aceito a patente de sargento da polícia alagoana, que lhe foi oferecida,  estaria hoje na reserva remunerada da corporação, no posto de coronel.

— Quem lhe prometeu cinco contos de réis para trair Lampião?

— A polícia.

— Por que não aceitou a patente de sargento?

— Prá morrer de fome, prefiro ficar no sertão cuidando do gado. Eu tinha 11 filhos. Um sargento de polícia ganha quanto? E ainda tem de viver aqui e acolá, por onde ordena o Governador. E eu só sei tratar de gado e plantar. Por isso, não aceitei.

Por não ter aceito a patente de sargento, Joca Bernardo perdeu a mulher e os 11 filhos, que lhe abandonaram. Segundo conta, a mulher fez muita força para que ele aceitasse as divisas. Quando viu que não conseguiria convencê-lo, forçou-o a uma decisão: aceitar a patente ou ficar sem mulher e sem filhos.

— Então o senhor preferiu perder a mulher e os meninos?

— Na minha casa quem manda sou eu. Não quer viver comigo? Então que se saiam.

— Por que o senhor aceitou trair Lampião?

— Eu não traí Lampião. O que eu queria, na verdade, era que um coiteiro dele, Pedro de Cândido, levasse uma surra da polícia.

— O que teve a ver uma coisa com outra?

— O Pedro de Cândido sabia que eu fabricava queijos. Uma vez chegou em casa e me disse que compraria todos os queijos que eu fabricasse. Pudesse guardar que ele comprava tudo. No outro dia, lá vem ele atrás de queijo. Eu disse que não tinha. Ele olhou para uns queijos que eu ia entregar, de encomenda, e disse: "E esses aí, cabra safado, de quem são?" Respondi que eram do juiz de Pão de Açúcar e que não poderia vendê-los. Aí ele disse: "Juiz coisa nenhuma". E levou tudo.

— E daí?

— Fiquei com raiva. Logo arranjei um jeito de me vingar de Pedro. Descobri que os queijos eram para Lampião e seu bando. Aí procurei o Sargento Aniceto, em Piranhas mas que ele apertasse o Pedro de Cândido que que diria tudo. Assim foi feito.

Pedro recebeu o aperto e disse onde Lampião estava. Acabou agraciado com as divisas de cabo da polícia alagoana, e, mais tarde, ganhou uma delegacia no sertão. No posto de delegado, foi assassinado. Joca Bernardo estava, afinal, vingado. Silvino não quis vingança. Parece considerar que esta se consuma toda quarta-feira, quando Jaca Bernardo, como hoje, é olhado com desprezo por todos os que estão na feira de Piranhas. 

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/02/o-coiteiro-que-traiu-lampiao.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

MORRE LINDOMAR CASTILHO, REI DO BOLERO CONDENADO POR FEMINICÍDIO.

  Por Tâmara Freire - Repórter da Agência Brasil Publicado em 20/12/2025 - 12:10 Rio de Janeiro Morreu neste sábado (20), aos 85 anos, o can...