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12 fevereiro 2016

A VIDA DEPOIS DO CANGAÇO - PARTE I


O que faz dois homens não esqueceram suas rixas depois de três décadas do último encontro bélico entre eles? O soldado Adriano e o cangaceiro Zé Sereno, nos contam nesse histórico e eletrizante encontro ocorrido há 48 anos em um restaurante em São Paulo, promovido pela jornalista, historiadora e pesquisadora do cangaço, Cristina Mata Machado, no ano de 1968, 30 anos depois da morte de Lampião no ataque das volantes a seu esconderijo/coito da Grota do Angico. Vamos à leitura!


Trinta anos depois do cerco de Angico, Alagoas, onde Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram mortos e decapitados, reencontraram-se em um restaurante de São Paulo cinco participantes do combate na Grota do Angico. Eram quatro ex-integrantes do bando do "Rei do Cangaço" e um antigo membro da "volante", tão temido quanto os cangaceiros.

Depois da madrugada de 28 de julho de 1938, eles tomaram rumos diferentes. Deixaram o sertão, construíram uma existência sem aventura, tiveram filhos, tornaram-se cidadãos comuns. Todo aquele passado voltou, num relance dramático, quando o grupo começou a ser apresentado ao antigo "volante", o ex-soldado Adriano.

Adriano pareceu receber um choque ao ouvir o nome de Zé Sereno, o ex-bandido que ele perseguiu todo esse tempo, para vingar-se, e que hoje é um pacato zelador de um colégio. Adriano Ferreira de Andrade andou caçando Zé Sereno durante muitos anos. Em verdade, entrou na polícia, ficou três anos e meio na "volante" pervagando o alto sertão, unicamente para vingar-se de Zé Sereno.


Tinha umas contas a acertar com o cangaceiro desde um dia qualquer de 1936. 

- Pensei em dar uns conselhos pra ele, bem devagar, para não sofrer muito. 

Adriano cultivava seu ódio de morte por Zé Sereno. Jamais se esqueceu da provação que o cangaceiro lhe impôs em Jeremoabo, na Bahia, quando se avistaram pela primeira vez. Adriano trabalhava na fazenda do Coronel João Dantas e, um dia, viajava com a boiada quando passou por uma fazenda. Um coiteiro, sujeito que se especializara em homiziar cangaceiros, advertiu-o de que devia mudar o caminho, porque a estrada era ruim. 

- Fui parar noutra fazenda. Quando menos esperava, estava cercado por cinco cangaceiros. Eles disseram que eu era delator, me amarraram e me deixaram preso durante três dias. Fui até obrigado a ir numa festa com eles e me mandaram dançar. Imagine se uma pessoa que vai morrer tem vontade de dançar. O dono da fazenda que me conhecia, falou com os cangaceiros e pediu para não me matar. Foi assim que eu me salvei de morrer mesmo. Quando eles me soltaram. disseram assim: - "Agora pode andar sossegado". Mas eu disse pra mim mesmo: "Sossegado, hein?"

Em vez de sossegar, Adriano entrou para a "volante" e fez uma jura: — Enquanto existir cangaceiro, eu não saio da polícia. Só saio quando não tiver mais nenhum vivo. 

A vingança, quase



Por duas vezes a vingança de Adriano esteve por se consumar. A primeira foi no cerco do Angico, comandado pelo Tenente João Bezerra, que reunira várias "volantes para liquidar Lampião. Não se tratava de pegá-lo vivo ou morto, mas eliminá-lo sumariamente. O Tenente soube por intermédio de coiteiros que Lampião e diversos cabras se encontravam na Fazenda Angico. Foi para lá, obrigou outro coiteiro, que sempre fora amigo de Lampião, a dar notícias dos cangaceiros. Apresentou um ultimato: — Ou você me põe no lugar onde se encontram os bandidos ou então vai morrer. O "coiteiro" preferiu viver.

Às 5 da manhã, Lampião estava sitiado. As demais 'volantes' já haviam tomado posições diferentes cercando o refúgio do 'Governador do Sertão' quando o Tenente chegou à área que lhe cabia. O embate durou 20 minutos, talvez menos. O grupo do Tenente travara vários choques com cangaceiros, que corriam para tomar posição ou fugir ao cerco. O oficial já estava baleado. Ao chegar à barraca de Lampião, casa e trincheira ao mesmo tempo, viu muitos cangaceiros mortos. Um soldado gritou:

— Lampião morreu, Seu Tenente!

Entre a fugitivos estavam Zé Sereno, Sila sua mulher, Marinheiro e Criança. Adriano chegara um pouco tarde. Entre as onze cabeças decepadas na mesma hora, para mostrar ao povo do sertão que Lampião "mostrar ao povo que Lampião morrera mesmo", não estava a de Zé Sereno.

Na segunda vez, Adriano empreendeu sozinho à caça a Zé Sereno. Foi dois anos depois, em 1940. Ele soube em Jeremoabo que o cangaceiro estava lá. Havia festa na cidade, os cabras fatalmente iriam. Adriano preparou o fuzil, procurou um rapaz que estivera preso com ele na fazenda, convidou-o para a vingança, dava-lhe até outro fuzil. O rapaz não quis. Aquilo já passou. Adriano foi sozinho.

— Armei uma tocaia pro Zé Sereno. Só que ele não passou. Se passasse eu torava ele.


Mas Zé Sereno não foi à festa. Adriano gravou bem o bando dos cangaceiros que o prenderam e humilharam. Além de Zé Sereno, do grupo, fazia parte: Diferente, Zabelê, Meia Noite, Manuel, Moreno. O chefe era Zé Sereno. por isso Adriano pensava em se vingar nele. O antigo volante não sabia que no almoço, tantos anos depois, estariam Zé Sereno, sua mulher e mais dois ex-cangaceiros. Ele reaviva o velho ódio ao relembrar o seu passado na "volante", na qual ficou até a morte de Corisco, o Diabo Louro. 

Corisco, lugar-tenente do Lampião, vingou a morte do chefe, matando toda a família do coiteiro que o denunciou. (Nota: O coiteiro que Corisco matou, não o tinha traído, veja detalhes no artigo "O COITEIRO QUE TRAIU LAMPIÃO") Matou ¡inclusive duas mulheres pura "vingar Maria Bonita e Enedina", também mortas e decapitadas no cerco de Angico.

Com a morte de Corisco, desaparecia o último cangaceiro. Adriano cumprira sua jura, podia deixar a "volante". Foi o que fez. Trocou a profissão de soldado pela de comerciante, ficou em Jeremoabo até 1947, negociando com gado, viajando muito. Numa dessas viagens parou em São Paulo, tornou-se laminador. Exerce o ofício até hoje numa fábrica perto de casa. Antes de ser oficial, fez um aprendizado lento, como auxiliar.

Aos sessenta anos Adriano conseguiu o que queria. Criou os dois filhos. Maria, casada e mãe de cinco filhos, e João, oficial de uma costura. O rapaz tem clientes famosos: Chico Buarque de Holanda, Wilson Simonal, Edu Lobo. Adriano só não conseguiu achar Zé Sereno. "- Dizem que ele mora aqui em São Paulo. Mas não sei não. Se eu encontrasse ele hoje... Não quero nem saber..."

Um dia de Surpresas

Também os antigos cangaceiros não sabem como será esse encontro no restaurante. Só Sila sabe, e está impaciente.

— Cadê o pessoal?

Zé Sereno é o primeiro a chegar. Não estranha a presença da companheira. Agora vem Marinheiro, irmão de Sila, cunhado de Zé Sereno. Depois chega Criança. Os abraços são apertados, de longa saudade. Risos, lágrimas. Criança é o que estivera mais tempo afastado dos outros nestes trinta anos. Sila se dirige a ele com carinho, sorrindo:

— Como o senhor está forte, compadre!

Numa briga Criança era uma cobra

Criança mal consegue sorrir, a emoção o sufoca. Custa a responder:

— Comadre Silas, também está forte e cheia de saúde.

Zé Sereno olha com admiração para Criança. Ainda o trata de "menino". Criança contempla o companheiro, cinquentão como ele, e traz o mesmo respeito de outrora, quando Zé Sereno era o seu comandante. Zé Sereno fala. Criança se envaidece, mas baixa a cabeça, modesto, ao ouvir um elogio:

— Esse menino aqui era muito valente. Sempre calmo. Numa brigada, ele ela uma cobra.

Zé Sereno é o mais desembaraçado de todos; entre os demais, preserva ar de comando, vestígio do antigo chefe de grupo do bando de Lampião. Marinheiro o respeita como cunhado e como antigo líder. Tem razões para isso.

— Zé Sereno — lembra — encarou duas vezes o Capitão Virgulino.

A conversa agora é entre amigos íntimos. Casos e histórias são repassados. Um fala, outro completa a narrativa, corrige ou acrescenta um pormenor.

Ao grupo se junta agora um estranho, que é posto frente a frente com Zé Sereno. Adriano. O antigo volante. Os dois se olham. Zé Sereno cumprimenta o recém chegado mais por cortesia, sem saber ao certo de quem se trata. Adriano reconhece logo o antigo inimigo: sua imagem jamais abandonou a sua memória. Zé Sereno franze a testa, morde os lábios e volta rápido ao passado sem saber quem é aquele que chegou:

—Zé Sereno, este é Adriano, ex-volante e seu ex-inimigo.

Zé Sereno não esqueceu as mínimas coisas de sua vida de cangaceiro. Há nove anos trabalha como zelador num colégio, mas antes disso fez muitas coisas. Trabalhou como ambulante, vendendo peixe, foi operador de fábrica, depois esteve num frigorífico. Em São Paulo criou os filhos, todos "bem encaminhados". O mais velho, Ivo. é dono de uma imobiliária: o caçula Wilson pediu engajamento na Aeronáutica, é cabo; Gilaene trabalha numa grande empresa.

Zé Sereno nunca revelou a ninguém que pertenceu ao bando de Lampião. Antes por segurança do que por vergonha de sua outra vida. Temia que algum inimigo lá de Alagoas, onde o desejo de vindita é transmitido como herança de família, tentasse vingar algum fato do passado. Vergonha não tinha nem havia porque. Foi anistiado por decreto do Presidente Vargas, no fim da ditadura do Estado Novo; não tinha contas a prestar. Além disso, lá no Sertão, não tinha escolha:

— Naquele tempo tinha que ser cangaceiro mesmo ou entrar na volante.  tanto um como outro passava maus bocados - comenta Zé Sereno.

Dois tios e dois primos de Zé Sereno, Antonio de Engrácia, o velho Cirilo, Zé Baiano e Antonio Honório — eram cangaceiros, sem querer, acabaram por empurrá-lo para o mesmo destino.

— Houve uma briga e dois soldados foram mortos pelos meus tios. O pai de um dos soldados, de nome Lau, resolveu se vingar em mim. Disse que ia me matar. Como não sou cabrito pra morrer dependurado numa corda, resolvi sair pro mato. Me lembro bem, isso foi em 1930, eu tinha dezessete anos.

Zé Sereno foi ao encontro de Lampião. O Capitão Virgulino, como era chamado, estranhou a presença do quase garoto e foi logo perguntando:

— O que é que faz esse macaquinho aqui?

Zé Baiano, primo de Zé Sereno, respondeu:

— Na minha família só tem gente valente. Esse menino não vai negar a raça.

Lampião quis a prova, e a teve. Arrumaram uma briga de Zé Sereno com Volta Seca, também muito jovem, os dois se digladiaram durante muito tempo. Lampião deu um basta e ditou a sorte de Zé Sereno

— Esse menino é valente mesmo. Vai longe.

CONTINUA...

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PESQUISA RECENTES APONTAM QUE LAMPIÃO NÃO FOI APENAS UM RUDE CANGACEIRO


Os jovens sertanejos das estrelas de aço gostavam de música, poesia, leitura, cinema, moda, dança, costura, bordado, joias, ouro e adoravam perfumes. Segundo dizem, o chapéu de couro à moda Napoleônica de Lampeão  Virgolino era diferenciado dos chapéus de couro dos outros cangaceiros, todos tinham as abas reviradas (como o chapéu de Napoleão) e mandalas, mas, o do capitão Virgolino tinha uma estrela de Salomão (cinco  pontas) de ouro.  Os bandos tinham conhecimento profundo sobre os caminhos no mato, sobre as plantas curativas e nocivas, e sabiam táticas de defesa. Lampeão e Maria Bonita gostava de cachorros os quais eram úteis no bando, os cães do bando tinham uma forma peculiar de alarme, rosnar como como as gias e não, latir.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, (Ipú, Ce. – 1863 – Alagoas, SE. 1917) Pioneiro da usina hidrelétrica de Paulo Afonso. Em Pedra, atual Delmiro Gouveia, aproveitou amplamente as águas do rio São Francisco, desenvolveu o lugarejo, dotou-o de melhores condições sociais, fundou uma fábrica de linhas. Construiu alojamentos para os seus empregados, e abriu estradas. É considerado pioneiro da indústria no Nordeste.

Os membros do bando de Lampião usavam cabelos compridos, lenço em volta do pescoço, grande quantidade de joias e um perfume exagerado. Alguns de seus nomes e alcunhas são os seguintes: Antônio Pereira, Antônio Marinheiro, Ananias, Alagoano, Andorinha, Arvoredo, Ângelo Roque, Beleza, Beija-Flor, Bom de Veras, Cícero da Costa, Cajueiro, Cigano, Cravo Roxo, Cavanhaque, Chumbinho, Cambaio, Criança, Corisco, Delicadeza, Damião, Ezequiel, Português, Fogueira, Jararaca, Juriti, Luís Pedro, Linguarudo, Lagartixa, Moreno, Moita Braba, Mormaço, Ponto Fino, Porqueira, Pintado, Sete Léguas, Sabino, Trovão, Zé Baiano, Zé Venâncio, Volta Seca, Tripa Seca, Azulão, Riqueza, Vinte e Cinco, Canjica, Labareda, José Baiano, Galo, Moita Brava, José Sereno, Zabelê, Barreiras, Asa Branca, Candeeiro, Beija-Flor, Luís Padre, Maritaca, Incubadora, Baioneta, entre outros.

LAMPEÃO - CAPITÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO E APOIADO POR AUTORIDADES

Segundo matéria de 1948 constante no acervo digital do jornal cearense O Povo (fundado em 07 de janeiro de 1928) foi em Juazeiro do Norte que Lampeão foi convidado pelo deputado e médico Floro Bartolomeu para receber das mãos do padre Cícero, por intermédio do servidor público federal Pedro de Albuquerque Uchoa, a patente de Capitão do Exército Brasileiro, a fim de incorporar-se às forças legais que combatiam a Coluna Prestes. No seu bando Lampeão adotava a hierarquia militar e hábitos de caserna, há relatos que ele mesmo às vezes usava um apito de comando.

Jornal O POVO
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NAZARÉ, ESTAMOS CHAGANDO!

Igrejinha de Nazaré, 09 de fevereiro de 2016

Três encontros, três reuniões de trabalho, passos firmes na concretização de  mais uma etapa do Cariri Cangaço Floresta 2016. Nazaré do Pico se une para proporcionar um evento inesquecível, dentro de um dos mais esperados do ano.

Entre os dias 8 e 9 de fevereiro o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo esteve visitando a região do Pajeú, primeiro na cidade de Floresta; relatada em postagem anterior; e em seguida Nazaré do Pico quando ao lado dos organizadores locais ultimou providências para a consolidação do Cariri Cangaço Floresta 2016. "Teremos dois dias em Floresta e um dia em Nazaré, nesta nossa primeira empreitada em solo pernambucano e aqui no Pajeú. Em Floresta já concluímos a programação agora estamos aqui em Nazaré para fechar o dia de Nazaré" comenta Manoel Severo.

 Manoel Severo e Netinho Flor com o testemunho de Delmiro Gouveia: Cariri Cangaço chega a Nazaré

Na manha desta segunda-feira de carnaval, dia 08 de fevereiro, na cidade de Delmiro Gouveia, a reunião foi com um dos principais organizadores do evento em Nazaré, Netinho Flor, ali começou a ser definido os principais pontos da programação que será realizada no dia 27 de maio, uma sexta-feira. “O Cariri Cangaço Floresta começa dia 26 de maio, quinta-feira a noite na cidade de Floresta e a sexta-feira, dia 27 será toda em Nazaré” esclarece Netinho Flor, e continua: “Estamos comprometidos com este grande momento e vem “nazareno” de todo o canto do Brasil para prestigiar o Cariri Cangaço”.

Netinho Flor e Manoel Severo

Netinho Flor e Manoel Severo se dedicaram a estabelecer o "esqueleto" da programação do Cariri Cangaço Floresta em Nazaré, para em seguida o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo apresentar a proposta inicial para a apreciação dos demais organizadores em Nazaré. "São tantos os cenários em nossa região que eu e Severo tivemos dificuldades em definir a programação desse primeiro Cariri Cangaço em Nazaré, mas tenho certeza que todos irão gostar, teremos um grande evento" ressalta Netinho Flor.

Depois de Delmiro Gouveia, Manoel Severo partiu para Nazaré do Pico, cerca de 50 km depois de Floresta. Já em Nazaré do Pico, Manoel Severo ao lado de Manoel Serafim, Maria Amélia e Cristiano Ferraz consolidaram na manhã do dia 09, terça-feira de carnaval, os detalhes que faltavam para o fechamento da programação. Ali em uma primeira reunião, foram discutidos os principais pontos da proposta com os colaboradores nazarenos tendo a frente Mabel Nogueira, uma das descendente dos Gomes Jurubeba, proprietários da emblemática Fazenda Jenipapo. "Todos estão unidos para fazer o Cariri Cangaço em Nazaré, será uma grande festa" fala Mabel Nogueira. Além de Mabel , estiveram presentes ao encontro, seu pai, Francisco de Assis, sobrinho de Gomes Jurubeba; Zezinho Nogueira e Afonso Nogueira, sobrinhos do lendário Manuel Neto e ainda Ulisses de Souza Ferraz , filho do grande Euclides Flor.

Ulisses de Souza Ferraz e Manoel Severo
 Começa o Cariri Cangaço em Nazaré...
 Cariri Cangaço em Nazaré, vem aí o Cariri Cangaço Floresta 2016...
Afonso Nogueira, sobrinho e guardião do Monumento ao Bravo Manuel Neto
Cristiano Ferraz, Mabel Nogueira, Maria Amélia, Afonso, Ulisses Ferraz, Manoel Severo, Manoel Serafim e Zezinho Nogueira diante do busto de Manuel Neto.

No momento final da visita, a curadoria do Cariri Cangaço esteve em reunião de trabalho com Rubelvan Lira e Maria Lúcia, filhos do inesquecível João Gomes de Lira. Na residência do grande nazareno foram dadas as cores finais para o grande momento do Cariri Cangaço em Nazaré. "Sem dúvidas teremos um evento histórico do Cariri Cangaço em Nazaré, uma grande e inesquecível festa".

Na residência do inesquecível João Gomes de Lira, reunião final para o Cariri Cangaço em Nazaré do Pico: Mabel Nogueira, Rubelvan e Lucinha, Manoel Severo, Cristiano Ferraz, Maria Amélia e Manoel Serafim.
Maria Lúcia, Rubelvan Lira e Manoel Severo

Os encontros com os Nazarenos resultaram na formatação de uma programação dinâmica, envolvente e plural, contemplando, à exemplo de Floresta, o melhor da história e da memória do povo nazareno. Ao final fica a certeza de um grande e responsável trabalho de equipe. Os talentos que se somam tendo como objetivo primordial a consolidação da memória, história e tradição de nosso chão, de nossa terra, é a isso que estamos a serviço, é nisso que acreditamos, esse é o nosso verdadeiro combustível, sejam bem vindos ao Cariri Cangaço Floresta 2016 - Floresta do Navio e Nazaré do Pico.

Cariri Cangaço Floresta 2016
26 a 28 de Maio
Floresta do Navio e Nazaré do Pico
Programação em breve...

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CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - “ANTÔILÓIA” - PARTE VI


Dá para se escrever um livro de casos e de “causos” sobre a figura pitoresca de Antônio de Elói, Antônio Elói, “Antôilóia”, ou “Tôilóia” como o chamavam. Era baixo, forte, chegava a Manaíra, nos dias de feira, sempre montado em seu cavalo arreado. Era de pouca conversa, mas simpático a muitos. Tinha a fama de ser bastante econômico, apesar de possuidor das maiores propriedades de terra na região dos Baixios e Serra da Bernarda. Dos fatos mais simples que se conhece é que adoçava o café com rapadura por que era mais barato do que o açúcar. Comentavam que era possuidor de muitas moedas e joias de ouro e prata que, somente em período recente, foram associadas a favores que Lampião lhe teria concedido em troca de amizade e abrigo. Também são famosas as narrativas das botijas que ele encontrou. O que parece mais provável é que ele teria recebido de Lampião, para guarda, certa fortuna. 

 

Quando Lampião precisou partir às pressas, não teve oportunidade de voltar ao Baixio para reaver os bens guardados. Por segurança, vários lotes de joias e moedas teriam sido enterrados em lugares distintos e ali permanecido durante anos. Após a notícia da morte do bando, nos Angicos, teria vindo a certeza de que os bens não seriam reclamados. Já anciã, a filha mais nova de Antônio Elói nos contou a história de que ele e a esposa “desenterraram pelo menos sete botijas”. O mais curioso é que o Antônio sempre afirmava que era muito pobre, porém, quando aparecia uma grande fazenda que estivesse à venda, e esta fizesse limite com a dele, ele queria comprar. Chegava para a esposa e dizia: “Idalina, tem uma terra ali que eu tinha tanta vontade de comprar, mas eu não posso, não tenho dinheiro”. Na noite desse dia a mulher dele tinha um sonho. Alguém que já havia morrido aparecia nesse sonho e dizia a ela um local onde havia algo enterrado, tinha ouro, era uma botija. Por cinco vezes o pobre “Antôilóia” lamentou-se por ser pobre, por cinco vezes lhe foi oferecida uma boa fazenda, por cinco vezes Idalina sonhou com botija e, por causa desses sonhos, ele tornou-se proprietário dessas cinco fazendas... Mesmo após a morte dele, conta-se ainda que duas botijas foram encontradas.

 
Casa Grande, de Antônio Elói, no sítio Baixio, Manaíra. Por várias vezes acolheu Lampião e seus companheiros. Anos depois, em volta dela, foram desenterradas várias botijas, por Idalina, esposa de Antônio. - Telhado novo, mas mantem a mesma estrutura anterior e o anexo nos fundos.
Foto do autor (2013)

Antônio tinha um irmão de nome Manoel. Era o caçula e soube-se que ainda estava vivo. Fomos à sua procura no alto da Serra da Bernarda. Perguntávamos se alguém conhecia a residência de Manoel Elói. Passamos toda uma manhã nos arredores de sua casa sem que ninguém o identificasse. Somente quando falamos que era irmão do “Antôilóia”, alguém disse: “ah, é o ‘Manélóia”. Foi uma grata surpresa a entrevista que tivemos com ele. Cidadão de idade avançada, de uma cordialidade fora do comum. Memória viva e lúcida, narrou-nos histórias desde sua infância.

Era “galego”, tinha em torno de dez anos. Desceu a Bernarda, ia descendo o Boqueirão na direção da casa do irmão. Aproximou-se dele uma caravana montada a cavalo. Chapéus de couro enfeitados, um bocado de “espingardas”, até aí tudo normal. Mas quando um dos cangaceiros disse: “vô pegá o minino prá capá”, “Manélóia” disparou no mato em uma carreira tão grande, que não notou os galhos de mato e de espinhos que lhe iam rasgando a pele e a roupa.

Pouco tempo depois os cangaceiros “apearam” na casa de “Antôilóia”, assentaram-se na sala e, enquanto conversavam, entrou correndo um galeguinho assustado, todo arranhado do mato. Ao reconhecê-lo, Lampião perguntou: 

- Toinlóia, esse minino é seu? 

– É meu irmão, respondeu Antônio. 

- Me ardiscurpe, eu num sabia. Dissero uma pilhéra com ele e ele saiu perdido no mato”, encerrou o chefe do cangaço.

Recentemente Dona Jardelina, filha de Antônio Elói, nos contou: “Mãe era pequena e ajudava Vó. Vó fazia o almoço e mãe ajudava ela. Lampião gostava muito de capão assado com farofa e de bode cunzinhado. Toda vez que ele vinha para a casa que ficava na Vaca (sítio próximo ao Baixio, de Antônio Elói), Mãe ajudava Vó”.

CONTINUA...

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11 fevereiro 2016

OPINIÃO: O CANGACEIRO LAMPIÃO MORREU MESMO NUM MASSACRE EM ANGICO?

Por Cecílio Tiburtino, procurador jurídico da Câmara de Vereadores de Serra Talhada

Aproveitando a excelente, brilhante e formidável apresentação: “O massacre de Angico. 

A morte de Lampião”, que ocorreu em nossa cidade entre os dias 24 e 28 de julho de 2013, venho, após leitura de alguns textos, livros e revistas sobre o tema, propor uma reflexão sobre a morte do lendário, formidável e inigualável Serratalhadense: Virgulino Ferreira. De ante mão, quero deixar bem claro que não estou propondo desmistificar um personagem histórico, nem tão pouco pretendo reformular a história. Apenas e tão somente, venho expor outra versão, possível, sobre o “fim” de Lampião. Por outro lado, gostaria de informar que não sou nenhuma autoridade no assunto, apenas e tão somente leitor sobre tão intrigante e cativador tema, e que tive alguns dos meus familiares contemporâneos aos fatos históricos.


Conta a história que o desfecho final do intrigante personagem histórico Lampião iniciou às cinco horas da manhã do dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angico, uma fortaleza de pedras escondida dentro da caatinga, encravada numa depressão perto do riacho Tamanduá e próxima ao rio São Francisco, no município sergipano de Poço Redondo. O fogo cerrado das metralhadoras portáteis do regimento policial militar de Alagoas, comandado pelo tenente João Bezerra, levaram Lampião, Maria Bonita e mais alguns cangaceiros a morte. Tal empreitada teria ocorrido depois que o Presidente da República Getúlio Vargas, que sofria sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião, ter pressionado interventor de Alagoas, Osman Loureiro, que adotou providências para acabar com o cangaço, vindo inclusive a prometer promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça do cangaceiro.

O fogo cerrado teria durado aproximadamente 15 minutos. Eram tantos tiros que mal dava para enxergar o que acontecia. Pedaços de xiquexique, mandacaru, facheiro – vegetação típica do sertão – caíam por todos os lados. Lampião teria tombado primeiro. Maria Bonita foi abatida logo depois. Apanhados de surpresa, muitos dos 39(*) cangaceiros que se refugiavam na grota ainda dormiam, e nove morreram na emboscada. O restante conseguiu fugir. Em seguida, iniciou-se um processo de decapitação dos que tombaram, inclusive Lampião e Maria Bonita, vindo após promoção de verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as joias, dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da “rapinagem” promovida pela polícia.

De forma simples, essa é a história oficial. Mas é a real? Quantos de nós nunca ouvimos falar que Lampião ainda estaria vivo. Quantos de nós não desconfiou e ainda desconfia de alguns relatos históricos. Para a história e para o Brasil era necessária à morte (extinção) de Lampião, posto que o cangaço há anos tinha desafiado as autoridades locais e regionais, sagrando-se vencedor nesse âmbito, partindo a desafiar a “Nação”. Porém, isso não quer dizer que Virgulino Ferreira da Silva também tivesse que ser seguindo essa premissa, o fotógrafo, técnico em contabilidade e escritor José Geraldo Aguiar, que passou 17 anos pesquisando a vida de Lampião, publicou: “Lampião o Invencível – Duas Vidas, Duas Mortes, o outro lado da moeda” (Thesarus, 2009). O objetivo do livro é “provar” que Virgulino Ferreira da Silva não foi morto pela Polícia na localidade de Angico, como conta a história.


Relata o escritor que conheceu Lampião pessoalmente em 15 de fevereiro de 1992, na cidade de São Francisco, no Norte de Minas Gerais, na República Federativa do Brasil, apontando a sua morte no dia 03 de agosto de 1993, aos 96 anos de idade, no Estado de Minas. O escritor afirma que conviveu com Virgulino Ferreira da Silva por cinco meses, promovendo uma história investigativa, tendo viajado em grande parte do Brasil, pesquisando para montar o livro, especialmente pelo interior de Minas Gerais, tendo entrevistado 46 testemunhas que também relataram ter visto Lampião. 

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"Como foi  que alguns que foram entrevistados pelo fotógrafo José Geraldo Aguiar, depois de várias décadas, tiveram certeza que aquele homem era mesmo o  Lampião de Pernambuco, vez que eles pessoalmente não chegaram conhecer Lampião?" 

Um dos relatos, dentre vários outros contidos no livro de José Geraldo Aguiar, às fls. 184/185, dá conta de que o Delegado de Polícia Orlando Correia Alberlaz, no ano de 1978, recebera uma queixa de um senhor que exigia providencias contra seu vizinho, ex-prefeito de São Francisco (MG), tendo em vista que cinco cabeças de gado do queixoso estariam
na fazenda deste.

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"Mas isso não quer dizer que realmente se tratava de Lampião verdadeiro. Qualquer criador que sente falta de um  animal ou mais no seu rebanho, e os encontra em outro curral, imagina logo que foram furtados, e a decisão é prestar queixa ao delegado da região, para que os seus animais sejam devolvidos, já que as marcas provam que fazem parte do seu rebanho". 

O queixoso afirmou que “possuía um punhal (espeto) que dava para atravessar três pessoas de uma só vez, se não recebesse seu gado de volta”. O delegado pediu a identificação do queixoso, quando recebeu 03 (três) identidades diferentes, quando então questionou quem de fato era o senhor que estava a sua frente. Para sua surpresa a resposta que ouviu foi: Virgulino Ferreira. 

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"Por que este delegado não prendeu este sujeito que carregava três identidades com nomes diferentes, que na verdade, é crime, e grande, documento que só se pode possuir um só? 

As fls. 186 relata José Geraldo Aguiar que José Rodrigues Cordeiro (Zezão) dono de um bar em São Francisco (MG) presenciou o homem conhecido por João Teixeira se dirigir ao balcão de atendimento do Funrural com objetivo de requerer a aposentadoria. De imediato a tendente pediu-lhe os documentos, tendo o Sr. João Teixeira demonstrado ser portador de três documentos, um foi entregue a atendente, outro ficou na bolsa e o terceiro caiu ao chão.

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"Qual foi a comprovação que um documento ficou na bolsa do suposto Lampião?"

A atendente, ao olhar para o documento, questionou o Sr. João Teixeira sobre o referido documento, pois o nome que constava era: Virgulino Ferreira.  De pronto João Teixeira afirmou que tal documento pertencia ao seu irmão. Pegando-o de volta e indo embora sem maiores explicações. 

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"Este senhor que se dizia ser Lampião de Pernambuco era um verdadeiro mentiroso e cheio de enroladas, andava com documentos falsos em sua bolsa, coisa que o Lampião verdadeiro nunca fez, falsificar documentos para nada". O saudoso José Geraldo Aguiar fez o seu trabalho, e bem feito. Quem mentiu, foi o seu depoente, enganando a todos seus conhecidos que era o verdadeiro Lampião pernambucano".

Não fossem apenas os depoimentos acima transcritos, dentre vários outros contidos no livro de José Geraldo Aguiar, impossível não observar a semelhança entre a fotografia de Lampião e a do Sr. João Teixeira de Lima, constante no citado livro. Como relatado no início, não pretendo com esses breves relatos reduzir o personagem que foi Lampião, ou mesmo induzir a um erro da história, pelo contrário, apenas pretendi demonstrar que existem outras versões sobre o fim do cangaço, sem que tal fim tenha conduzido ao fim do lendário Virgulino Ferreira da Silva, que apenas estudos profundos, o que não é o caso, podem confirmar.

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LAMPIÃO E MARIA BONITA: AMOR E MORTE NO CANGAÇO

Texto Rodrigo Cavalcante, De Maceió - 08/01/2014

Em meio à violência e fugas da polícia, o romance entre Lampião e Maria Bonita marcou o fim do banditismo no sertão

Na edição de 13 de fevereiro de 1926, o recifense Jornal Pequeno publicou a notícia da emboscada armada pelo tenente Optato Gueiros dando fim ao cangaceiro Lampião entre os municípios de Custódia e Alagoa de Baixo, em Pernambuco: Lampião estava morto. À época, Virgulino Ferreira da Silva não era mais um bandoleiro famoso no rastro de outros como Antônio Silvino e Sinhô Pereira. Era capitão. Convidado por Padre Cícero no início daquele ano para combater a Coluna Prestes, de passagem no Ceará, ele recebera a patente militar de um funcionário público de Juazeiro - que, mais tarde, diria que diante dele e de seus cabras assinaria até a demissão do então presidente Arthur Bernardes. Sua folha de crimes era tão popular que o nome Lampião passou a ser usado até em propaganda de pílulas para aliviar prisão de ventre.

O alívio em torno da notícia de sua morte, contudo, durou pouco. Para a decepção dos leitores que confiaram na estatura da notícia do Jornal Pequeno, tratava-se de mais um anúncio falso de sua morte. Lampião não apenas reaparecera como propôs meses depois ao governador de Pernambuco a divisão do estado em dois, para que ele pudesse ser nomeado governador do Sertão. Até a sua morte (definitiva) por tropas alagoanas, em 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, ele viveria longos 12 anos. Tempo suficiente para se apaixonar, viver e morrer ao lado da baiana Maria Gomes de Freire, a primeira mulher na história do cangaço. Quando retratos da mais tarde chamada Maria Bonita circularam pelos jornais de todo o país, o Brasil surpreendeu-se com suas velhas ideias do sertão. Numa época em que as teorias raciais eram levadas a sério e a "civilização litorânea" vivia sob ameaça das constantes revoltas das "sub-raças sertanejas", tal como descritas pelo engenheiro Euclides da Cunha em Os Sertões, a presença feminina de uma sertaneja altiva e vaidosa vivendo em harmonia com o cangaceiro mais famoso do país chocou o Brasil. Em meio à violência, crueza e aridez do cangaço, haveria espaço para algum sinal de beleza ou de uma real história do amor? 

No sertão, as fronteiras do Nordeste são outras, aproximando os estados que parecem mais distantes de quem só conhece o litoral. A cidade baiana de Paulo Afonso, por exemplo, onde Maria Bonita nasceu, está mais próxima de cidades vizinhas de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Paraíba do que de Salvador, a mais de 460 km de distância. Daí que, quando o cerco em alguns dos sete estados por onde o bando de Lampião andava se fechava, ele se movia por essas fronteiras com suporte de uma rede bem montada (e remunerada) de informantes, fazendeiros e pequenos proprietários dispostos a lhe dar refúgio - os chamados coiteiros. Foi de passagem pela propriedade dos coiteiros Zé Filipe e Dona Deia, no povoado de Malhada da Caiçara, em Paulo Afonso, que Lampião se engraçou no final de 1929 por Maria "da Deia", filha do casal de 18 anos que estava de volta à casa dos pais após mais uma briga com o marido, o sapateiro Zé Nenê. A aproximação de Lampião foi forjada por meio de uma "encomenda": segundo os parentes de Maria Bonita, Lampião solicitou que ela e suas irmãs bordassem as iniciais "CV" (Capitão Virgulino) em quinze lenços de seda, com a promessa de que em menos de um mês voltaria para buscá-los. "Minha família conta que ele demorou bem mais do que o prometido, mas, quando voltou, teve início o namoro com minha avó", diz Vera Ferreira, historiadora e neta de Lampião e Maria Bonita que vive hoje na cidade de Aracaju, em Sergipe, coautora do livro Bonita Maria do Capitão, uma coletânea de relatos e imagens da avó. Ela conta que somente após seus bisavós decidirem mudar para Alagoas após serem perseguidos por dar guarida a Lampião, que Maria Bonita tomou a decisão de ingressar no cangaço.

A decisão não tinha precedentes. Na secular história do cangaço, a regra era clara: a presença de mulher destruiria o bando, seja por razões práticas seja por outras de fundo místico. Entre as de ordem prática, estavam o atraso que elas causariam nos momentos de fuga e a facilidade com que entregariam os companheiros caso fossem pegas pelos macacos (como eram pejorativamente chamados os volantes policiais).

Além disso, a presença de mulheres em meio a cabras armados era uma ameaça constante de conflitos em casos de ciúme e traição. Quanto ao motivo místico em torno da presença da mulher, estava a crença de que elas abriam "o corpo fechado" do cangaceiro. "Homem de batalha não pode andar com mulher. Se ele tem uma relação, perde a oração, e seu corpo fica como uma melancia, qualquer bala atravessa", já dizia o cangaceiro Balão em depoimento transcrito no livro Guerreiros do Sol, do historiador Frederico Pernambucano de Mello.

Sinhô Pereira, cangaceiro lendário que havia chefiado Lampião, se disse surpreso com a novidade: "Fiquei muito admirado quando soube que Lampião havia consentido que as mulheres ingressassem no cangaço. Eu nunca permiti. Nem permitiria". Ou seja: mais do que a decisão de Maria Bonita, foi a permissão de Lampião do ingresso da baiana no grupo que mudou o cotidiano do cangaço. "Com a entrada de Maria para o bando, os outros cabras puderam juntar suas mulheres ao grupo", diz a historiadora Isabel Lustosa, autora de De Olho em Lampião.

Violência menor

Algumas garotas juntaram-se aos cangaceiros por vontade própria. Outras, como Dadá, companheira de Corisco, foram raptadas e terminaram se adaptando. Desde então, estima-se que mais de 40 mulheres tenham ingressado naquela vida. Mas o que de fato mudou no cangaço e no comportamento do próprio Lampião com a presença das mulheres?

De acordo com o relato dos cangaceiros e historiadores, a presença de Maria Bonita e de outras mulheres deu início a uma fase menos violenta do bando de Lampião, cujas ações passaram a ser mais seletivas e centradas na coleta de dinheiro (os resgates como garantia de que não tomariam de assalto uma cidade ou propriedade). Além de ações mais estratégicas, semelhantes às de organizações mafiosas, há relatos de que Maria Bonita intercedeu mais de uma vez pela vida de pessoas capturadas pelo bando. "Lampião costumava atender seus pedidos de clemência e, de resto, tanto pela idade dos cangaceiros quanto pelo ambiente doméstico que as mulheres trouxeram para os acampamentos, houve uma redução da violência de suas ações", diz Isabel Lustosa. "A presença de Maria Bonita e outras mulheres inibiu os casos de estupros", diz João de Sousa Lima, pesquisador da vida de Maria Bonita. "Até porque os relatos daqueles que conviveram com o bando são unânimes quanto ao respeito que a presença dela inspirava no grupo."

Como mulher do rei do cangaço, o respeito incluía o direito a uma espécie de guarda e secretário particular, conhecido por Sabonete. "Polia-lhe as joias, ocupava-se dos seus recados, de suas finanças, farmácia, armas e tudo mais da esfera pessoal, desfrutando nessa curiosa função de mordomo das caatingas do agrado de sua rainha e do capitão, seu rei", diz Pernambucano de Mello.

Mimos excessivos

Talvez, por isso, a cangaceira Dadá, parceira de Corisco, tenha descrito Maria Bonita como alguém de mimos excessivos para quem vivia no sertão. O cangaceiro José Alves de Barros, vulgo Vinte e Cinco, que conviveu com o casal, daria outro testemunho sobre ela: "Parecia uma menina grande. Ela era brincalhona, uma moleca e conquistava todo o mundo".

A presença das mulheres exigiu a criação de novas regras para definir o papel delas no bando. Mesmo não participando diretamente nos combates, tinham que aprender a atirar para se defender. "Em geral, elas portavam revólveres de calibre 28 e 32 e pequenos punhais para proteção", diz Germana Gonçalves de Araújo, coautora do livro Bonita Maria do Capitão. Além disso, nenhuma mulher podia entrar no bando sem já estar atrelada a um cangaceiro. Casos de traição costumavam ser punidos com execução, e há relatos até de viúvas que, não conseguindo mais se unir a outro cangaceiro, foram executadas para não se tornarem um fardo para o grupo ou presas fáceis da polícia. As crianças que nascessem no cangaço tampouco poderiam permanecer no bando, tendo que ser entregues para outras famílias.

Foi o caso de Expedita Ferreira, a filha de Lampião e Maria Bonita, que nasceu em 13 de setembro de 1932 debaixo de um pé de umbu numa fazenda em Porto da Folha, Sergipe, estado em que ainda reside prestes a completar 81 anos de idade. Entregue ao casal de vaqueiros Aurora e Severo Mamede, com quem foi criada até os 8 anos como uma das 11 filhas do casal, Expedita recebia sempre que possível a visita dos pais famosos. "Os encontros com minha mãe se davam na fazenda, e ao menos em uma ocasião no meio da caatinga", diz Vera Ferreira, neta dos cangaceiros. "Num desses encontros, minha mãe conta que foi a fisionomia do pai que mais lhe marcara." Ainda que não se metessem diretamente nas ações, as mulheres não estavam imunes aos combates. Três anos após o nascimento de Expedita, Maria Bonita foi baleada pelas costas após um ataque comandado por Lampião na Vila Serrinha do Catimbau, próxima da cidade de Garanhuns, em Pernambuco. Alvo fácil da artilharia por estar usando vestido branco, ela teve que ser levada às pressas para um local de difícil acesso na caatinga para ser tratada pelo grupo.

No mesmo ano, o estouro de revoltas militares no Rio de Janeiro e em Natal fez com que o governo de Getúlio Vargas endurecesse a repressão não apenas contra comunistas e integralistas, como a qualquer grupo que desafiasse a autoridade do regime. Quando o turco Benjamim Abraão conseguiu filmar Lampião, Maria Bonita e o cotidiano do bando, em 1936 (veja na página ao lado), o governo Vargas mandou imediatamente apreender o filme e encarou as imagens como uma afronta.

Além disso, após uma série de acordos entre os governadores do Nordeste, as polícias estaduais ganharam passe livre para cruzar fronteiras, e armamentos pesados começaram a ser enviados para o combate aos cangaceiros, incluindo modernas metralhadoras jamais vistas por aqueles lados. Talvez por consciência disso, dali em diante o ritmo de ações do bando diminuiria. O próprio ímpeto de Lampião, beirando os 40 anos de idade, parecia arrefecido. "Na fase final de suas tropelias, entre os anos de 1936 e 1938, Lampião mostrava-se bem mudado", afirma Frederico Pernambucano de Mello em seu livro Guerreiros do Sol. De acordo com o historiador, ele trocou as constantes movimentações pelo sertão por uma vida mais sedentária e confortável em refúgios em Sergipe, "onde sua agressividade diluía-se nos braços de Maria Bonita, a quem amou profundamente, dedicando-lhe sempre calorosas palavras de elogio".

"O cego morreu"

Relatos dos cangaceiros confirmam que o casal tinha o que se pode chamar de uma convivência harmoniosa. "Nunca ouvi reclamarem. Eles se acostumavam. Nem faziam futuro, nem pensavam em morrer, porque eles sabiam que a qualquer momento podia acontecer, daí o que viesse estava bom", disse em 2009, em depoimento, o cangaceiro Vinte e Cinco. De acordo com ele, esse clima quase romântico, de foras da lei enfrentando seu destino sem muita preocupação, se estendia ao resto do grupo. "Chegasse o momento em que podíamos dançar, nós dançávamos; na hora de correr, nós corríamos; na hora de brigar, brigávamos; e a gente queria terminar aquele negócio logo, era matar ou morrer." 

A morte viria de barco pelo Rio São Francisco no raiar do dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, no trecho do rio que faz divisa com o Estado de Alagoas. Foi da vizinha cidade alagoana de Piranhas, na outra margem, que partiria na véspera o tenente João Bezerra da Silva, acompanhado de 45 homens e três metralhadoras, com a determinação de exterminar o bando mais famoso do país.


Pedro de Cândido


Após prenderem o coiteiro Pedro Cândido, que apontou o lugar do esconderijo de Lampião, as forças policiais atravessaram o rio em direção ao acampamento, cercado de vegetação espinhenta - o local hoje faz parte da trilha do cangaço, um dos passeios oferecidos aos turistas que partem do litoral de Alagoas ou Sergipe em direção aos belos cânions do Rio São Francisco. Por ser um refúgio com uma única saída, o esconderijo era visto com maus olhos por quase todos os outros cangaceiros. Corisco, por exemplo, já tinha alertado Lampião de que considerava o local uma "cova de defunto". O líder do bando, no entanto, ignorou todos os conselhos e resolveu pernoitar ali.

Antes do nascer do sol, os volantes se dividiram em quatro grupos para cercar o acampamento. Assim que o dia começou a clarear e os primeiros cangaceiros saíram de suas tendas, o fogo abriu. Apesar dos 20 minutos de tiros e rajadas de metralhadoras, somente onze cangaceiros morreram. Outros 40 conseguiram escapar. Quando um dos volantes confirmou que "o cego também morreu", em referência à Lampião (que usava óculos sem grau para disfarçar um ferimento em um olho), e que Maria Bonita havia caído com ele, o tenente Bezerra sabia que entraria para a história. Para encerrar o episódio, faltava apenas um último ritual: decepar as cabeças para provar que, dessa vez, não se tratava de uma notícia falsa como a de 12 anos antes. De acordo com exames de medicina legal realizados pelo Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, Maria Bonita estava viva quando teve a cabeça decepada.

Após a exposição macabra percorrer várias cidades do Nordeste, as cabeças embalsamadas foram levadas ao Instituto Nina Rodrigues, onde ficariam até 1962 - quando parentes dos cangaceiros exigiram o sepultamento delas. Com o fim do bando, o cangaço estava com os dias contados. Seu capítulo final deu-se com a morte de Corisco, que tentou suceder Lampião. Ele foi morto em uma emboscada em 1940, quando estava prestes a se entregar após Vargas promulgar lei concedendo anistia aos cangaceiros que se rendessem.

Um ano após a morte de Lampião, o mundo entraria na Segunda Guerra. Dali em diante, as teorias de inferioridade racial cairiam em desgraça, o Brasil se industrializaria e as histórias de Lampião e Maria Bonita influenciariam a cultura na música, no cinema e na moda - Maria Bonita é hoje nome de grife em desfiles concorridos do país. O que parece não ter mudado mesmo é a situação dos sertanejos em tempo de seca: no início deste ano, a estiagem deixou cerca de mil cidades em estado de emergência.

O homem que capturou Lampião em imagens

Se o governo de Getúlio Vargas já estava desmoralizado por não conseguir prender Lampião e seu bando, ficou ainda mais quando o libanês Benjamim Abrahão conseguiu capturar imagens do cotidiano de Virgulino, Maria Bonita e seu grupo entre março e outubro de 1936.

Benjamim trabalhou como mascate no Nordeste após chegar ao Brasil fugindo da Primeira Guerra, em 1915. Mais tarde, foi descoberto pelo Padre Cícero em Juazeiro e se tornou seu secretário particular. Ao lado do padre, conheceu Lampião em 1926, ocasião em que o cangaceiro foi convidado a comandar o combate à Coluna Prestes, que estava no Ceará.

Após a morte do beato, Benjamim deu início ao projeto de filmar Lampião, com apoio do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da empresa de fotografia e material fotográfico Abafilm. Ele não tinha dúvidas de que a fama do cangaceiro encheria salas de cinema em todo o país. Mesmo conseguindo a autorização de Lampião para filmá-lo na caatinga, o libanês nunca teve a recompensa merecida. O material da filmagem foi apreendido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do governo Vargas e, em 1938, dois meses antes da morte de Lampião e Maria Bonita, Benjamim foi esfaqueado em Serra Talhada, terra natal do cangaceiro, em circunstâncias não esclarecidas. Trechos do filme foram recuperados e fazem parte do acervo da Cinemateca Brasileira.

Cangaço fashionista

Lampião e seu bando abusavam de acessórios e bordados coloridos

1. Chapéu

Feito de couro com a aba da frente levantada. Enfeitado com moedas e com medalhas de ouro que continham inscrições como saudade, amor ou recordação

2. Estrelas

O signo de Salomão (estrela de oito pontas) era comum nos chapéus, pois acreditava-se que protegiam contra o mau-olhado.

3. Bandoleira

Faixa de couro firme usada para prender a arma na vertical. Adornada com moedas e ilhoses. Para Lampião, usar a arma nas costas na diagonal seria como "botar nas costas o pau da cruz e chamar a morte".

4. Cantil

Coberto com uma capa de brim, rico em bordados coloridos. Eram feitos de estanho ou alumínio ou até de cabaça. Junto, uma caneca cheia de folhas, para evitar barulho.

5. Bornal ou embornal

Bolsas laterais de tecido resistente usadas para o armazenamento de provisões, desde munição até roupas e alimentos. Era um dos acessórios mais coloridos e o mais pesado.

6. Jabiraca

Para secar o suor, usavam um lenço de seda preso no pescoço por uma sequência de anéis, o cartucho. Servia também como coador.

7. Chapéu

Chapéu de couro era coisa de homem. As mulheres usavam de feltro, de aba média, com testeira e barbela. A única semelhança era o gosto pelos enfeites.

8. Cabelo

Maria Bonita apareceu em fotos com o cabelo à la garçonne, tendência que surgiu no fim da década de 20. Os broches eram parte do visual

9. Luvas

Várias camadas de brim costuradas. A função era proteger a mão de galhos e espinhos deixando os dedos livres. As de Maria Bonita eram feitas de algodão e traziam bordadas no pulso as iniciais M.O.S. (Maria Oliveira da Silva).

10. Cartucheira

Servia para carregar pentes de munição e pistolas de maneira anatômica. Somando todos os acessórios, o cangaceiro podia carregar 40 kg. As mulheres levavam menos carga que os homens.

11. Perneiras

Como as cangaceiras usavam saias até o joelho, era necessário o uso de meias elásticas e perneiras de couro ou de tecido grosso.

12. Bordados

Feitos de linhas com cores fortes, podiam ser flores, ziguezagues ou cruzes e enfeitavam todos os acessórios.

Saiba mais

Livros

Bonita Maria do Capitão, Vera Ferreira e Germana Gonçalves de Araújo, Editora da Universidade do Estado da Bahia, 2011

Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Frederico Pernambucano de Mello, Massangana/Girafa, 2004

De Olho em Lampião: Violência e Esperteza, Isabel Lustosa, Claroenigma

Na internet

http://abr.io/lampiao

Imagens captadas por Benjamim Abraão do bando de Lampião

 http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/lampiao-maria-bonita-amor-morte-cangaco-767735.shtml

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A RAINHA DO CANGAÇO

Por: José Mendes Pereira
 Maria Gomes de Oliveira - Maria Bonita 

Este artigo foi publicado nohttp://blogdomendesemendes.blogspot.com, no dia 4 de Junho de 2013, mas a postagem neste blog é só para efeito de arquivo, já que foi escrito por mim. 

Maria Bonita como já é do conhecimento de todos nasceu no dia 8 de março de 1911, no município de Paulo Afonso, no Estado   da Bahia. Viveu sua infância e adolescência no sítio dos pais. Aos quinze anos casou-se com o sapateiro José de Neném, e não estando satisfeita com o matrimônio, abandonou o seu cônjuge de uma vez por toda, e decidiu  acompanhar o homem mais temido do Brasil, o rei Lampião, para  fazer parte de seu respeitado bando de cangaceiros, onde permaneceu até a sua morte, na madrugada de 28 de julho de 1938, lá na Grota de Angico, no Estado de Sergipe.

Antonio dos Santos - O cangaceiro Volta Seca
  
Em 1973, o Jornal “O Pasquim”, Nº. 221, referente aos meses Setembro e Outubro publicou uma entrevista que havia feito com Antonio dos Santos, o cangaceiro Volta Seca, afirmando ele que quando Maria Bonita incorporou-se ao bando de cangaceiros, já fazia mais de dois anos que ele estava em companhia dos asseclas.

O encontro da futura cangaceira com Lampião se deu quando certo dia o bando havia se hospedado na Malhada da Caiçara, e lá, chegou uma senhora conhecida por Maria Déia, afirmando ser a mãe de Maria (a futura Maria Bonita), e foi de encontro a Lampião, dizendo-lhe que sua filha Maria desejava muito conhecê-lo. Lampião se sentindo orgulhoso, disse-lhe que para ela o conhecer não havia dificuldades, pois ele estava sempre por ali. E voltando-se para Dona Maria Déia, perguntou-lhe onde ela morava.  Ela o respondeu que a filha era casada e residia em Santa Brígida.

 
Lampião e Maria Bonita

Lampião interessado para conhecê-la pediu que a chamasse, pois estaria até a manhã do dia seguinte, e não comunicasse mais a ninguém da sua presença naquele lugar.

Dona Maria Déia querendo que a filha o conhecesse, já que era um dos desejos dela, mandou um dos filhos chamá-la em sua residência.  E ao chegar, mãe e filha dirigiram-se à presença do desejado homem. E depois de se apresentarem, os dois ficaram palestrando.

Maria desejou acompanhá-lo, mas Lampião tentou convencê-la, explicando-lhe que não tinha futuro, pois ele era um homem que vivia da desgraceira, e não era engraçado levá-la para uma vida que não tinha tranquilidade. E lá, o sofrimento era constante; passava fome, sol, poeira..., e ele mesmo vivia naquela vida, mas não gostava.

Disse-lhe ainda que muitas vezes eles passavam dias sem se banharem, e  não era justo uma mulher tão linda quanto ela, levar a vida sem se banhar. Ainda a aconselhou que ficasse com o seu marido, já que haviam sido abençoados por Deus, para viverem a vida até que a morte os separassem. A vida de cangaceiro não era mar de rosas, nem para ele e nem para ninguém. Muitas vezes se sentia desprezado por Deus e por todos; e no cangaço era somente tiroteio e mais nada.  Ele ainda alegou que não era um homem da sociedade. Mas ela insistiu tanto, que findou Lampião a carregando na garupa do seu cavalo, para as caatingas, sendo ela a primeira cangaceira brasileira.
Minhas Inquietações

O que disse Volta Seca ao jornalista sobre a entrada de Maria Bonita para o cangaço, foi bem detalhado. Mas uma resposta me deixou confuso:

O jornalista do Jornal "Pasquim" fez-lhe uma pergunta:

- Ela atirava também?.

E ele o respondeu:

- Atirava! Eu queria está com ela e não queria está com dez homens da marca dos que eu conheço por aqui. Estava mais satisfeito.

A resposta de Volta Seca contraria o que disse Balão em novembro de 1973 à Revista Realidade.  Veja: “Maria Bonita usava uma pistola Mauser de 11 tiros, mas também não atirava nada”.

Guilherme Alves - O cangaceiro Balão

Balão deixou a sua resposta com duplo sentido. Quem era que não atirava nada, Maria Bonita ou a pistola mauser?

Na minha opinião, eu acho difícil Maria Bonita ter assassinado alguém no período em que ela participou do movimento social dos cangaceiros. É óbvio que o seu olhar era sério, duro, mas apenas o olhar, e dentro dela batia um coração amável e generoso. Afinal, Maria Bonita entrou no cangaço não para se vingar de ninguém, e sim, para ser a mulher do homem que ela achava que era a sua verdadeira alma gêmea.

Em tudo que eu tenho lido sobre o cangaço, ainda não encontrei algo escrito por algum autor de livros, textos ou outra coisa parecida, afirmando que Maria Bonita era perversa.

Mesmo eu discordando algumas respostas de Balão, na entrevista que ele cedeu à Revista Realidade, e deixando a resposta com duplo sentido, eu estou mais para acreditar nele, quando disse que Maria Bonita não atirava nada.

Embora não tenha se casado oficialmente com   Lampião, mas Maria Bonita é considerada a sua primeira esposa, onde viveram juntos durante oito anos.
 
Fontes de Pesquisas:

Jornal “O Pasquim”, Nº. 221 - Setembro/Outubro de 1973
Revista Realidade - 1973.

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Minhas simples histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro. 

Fonte:
 http://minhasimpleshistorias.blogspot.com 
  Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

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O CANGACEIRO VOLTA SECA PERDEU-SE QUANDO DISSE QUE TERIA VISTO MARIA BONITA VIVA, E 33 ANOS DEPOIS AFIRMOU QUE ELA MORREU JUNTA COM LAMPIÃO.

   Por José Mendes Pereira Em 7 de abril do ano de 1948, Antônio dos Santos, conhecido no mundo do crime como sendo o cangaceiro "Volta...