Por Sálvio
Siqueira
Na vida
“aperreada” que levavam os cangaceiros, naqueles idos tempos, surgia, de quando
em vez, uma brechinha para que se amassem.
Claro que era naquelas agonias, vendo a hora a volante chegar e o tiroteio
começar. No entanto, parece-me que aquela tensão só ‘dava’ mais vontade
naqueles jovens que a caatinga escolheram como casa, folhas e lajedos como
camas e a luz das estralas como lamparinas.
Inevitavelmente as cabrochas engravidavam e, durante o período de gestação,
tinham que movimentarem-se no solo irregular do Sertão. Há citações que foram
muitos os abortos. Talvez por esforços em demasia, exagerados. Já que uma
atividade física, regular, faz bem ao corpo, ao feto e ajuda no momento do
parto. Mas, também temos informações que as mulheres tomavam ‘garrafadas’ para
provocarem o aborto. As ‘garrafadas’ eram compostas de variadas raízes, juntas
e misturadas com cachaça, dentro de um recipiente, uma garrafa normalmente,
mas, também utilizavam panelas de barro.
Corisco e Dadá são pais de um garotinho aos 29 dias de agosto de 1935. Dadá
pariu, tendo a companheira, já viúva, Moça, como parteira, quando o bando de
Corisco estava acampado em um “lajedo fincado na solta da fazenda Detrás da
Serra, no município alagoano de Pão de Açúcar”. (Sérgio Augusto de Sousa
Dantas).
O casal fica com a criança até princípios de setembro do mesmo ano, enviando a
mesma para que um sacerdote da cidade de Santana do Ipanema, AL, Padre José
Bulhões, a cria-se.
Nas comunicações, através de cartas, que tiveram o Padre sempre os alertava no
sentido que se casassem, principalmente na Igreja.
O Padre, constantemente dizia para o casal que com a ‘vida’ que levavam a
qualquer momento poderia acontecer o pior. Insistente, o vigário sempre os
alertava para que se os dois morressem, seu filho, o qual tinha lhe dado o nome
de Sílvio Hermano de Bulhões, poderia não ser considerado. “(...) quando o
menino crescesse, ninguém o iria respeitar chamando-o filho de uma puta. É que
só era considerada casada, a pessoa que tivesse o sacramento da Igreja(...)”.
(Clerisvaldo B . Chagas).
Dadá, forte cabocla pernambucana, decidida, começa a ‘cozinhar’ os miolos de
Corisco.
Termina por conseguir que ele concorde com o pedido.
Certo dia, Corisco manda um emissário, apaisana, até a cidade de Gararu – SE,
com a missão de chamar o vigário daquela cidade para que viesse dar a
“extrema-unção na irmã enferma em uma fazenda à meia noite (...)” (Clerisvaldo
B . Chagas).
Sabedor de que o sacerdote jamais deixaria de vir e encomendar a ‘alma’ de um
de seus seguidores, Corisco arma essa armadilha para ele.
O vigário prepara-se, pegando o material necessário para o ato sagrado e partem
a cavalo na direção da fazenda. Seguem por vários e vários caminhos, estradas
desertas aquela hora, e por fim, já bastante cansado o Padre indaga para o
rapaz que o guia onde, realmente, situava-se a fazenda, pois já estava de bunda
machucada. O rapaz ligeiramente responde que, agora faltava muito pouco, poucos
minutos de cavalgada e chegariam à dita cuja. Porém, o caminho se elastecia
mais e o vigário novamente insiste que o rapaz o diga onde raios ficava a tal
fazenda. O rapaz então resolve dizer para ele o que realmente iria fazer.
Recebeu a notícia de supetão e não gostou nada. Bravamente diz para o rapaz que
não irá fazer aquilo e que voltaria dali mesmo. O enviado de corisco alerta o
vigário que eles já haviam passado por vários cangaceiros escondidos no mato,
uma forma de proteção, que se ele volta-se poderia ir de encontro aos punhais
dos mesmos. O Padre ‘resolve’ prosseguir então.
Naquele momento, no mesmo local em que estavam, de dentro do mato, surgem
Corisco e Dadá.
Dadá apresenta-se, assim como faz a apresentação do companheiro ao Padre. O
pobre do vigário tremia tanto nesse momento que a ‘noiva’ teve que estirar sua
mão, pegar na dele para concretizar a cumprimentação formal.
“(...)Dadá se divertia brincalhona, e Corisco passava-lhe o rabo do olho
recriminando as brincadeiras (...) Após as devidas declarações e o casamento, o
padre estava de alma nova. Confessou que pela fama de Corisco, preferia ver o
cão à sua frente. E achando o casal cortês e educado, prometeu jamais tremer
diante do desconhecido. Disse Dadá que ”chegara um homem tremendo e saíra um
homem de verdade”. Era o dia dezesseis de fevereiro de 1940(...) ”.
(Clerisvaldo B . Chagas).
O Padre que realizou o casamento do casal de cangaceiros, Corisco e Dadá, em
meados do ano de 1940 era chamado Bruno, padre Bruno... na madrugada das
quebradas do Sertão.
Fonte “Corisco
– A Sombra de Lampião”
“Lampião em Alagoas”
PS// A foto do
casal, corisco e Dadá, foi colorizada pelo “Mago dos Pincéis”, Rubens Antonio
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com