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20 outubro 2018

OS FILHOS NUNCA ENVELHECEM PARA OS PAIS

*Rangel Alves da Costa

Certa feita, após descer do alto de uma montanha, um sábio se viu perante uma pergunta intrigante de seu discípulo. “Senhor, por que os filhos nunca envelhecem para os pais?”.
Reflexivo por alguns instantes, mas logo o sábio respondeu: “Qualquer entendimento sobre isso, deverá sempre partir da certeza de que o filho nunca desaparta do seu ventre paterno e nem se afasta completamente do cordão umbilical. O ventre é a junção materna. O cordão umbilical é a junção paterna. Por isso mesmo, por mais que os filhos cresçam, tornem-se adultos ou mesmo envelheçam, sempre continuarão como raízes fincadas no solo de seus pais. Se minha mãe ainda estivesse entre nós, mesmo na minha velhice eu ainda seria o seu menino. Do mesmo modo seria com meu pai. E com você é igual. Jamais deixará de ser o menino, senão a criança, dos seus”.
De pleno sentido as palavras do sábio. Os filhos, por mais idade que alcancem, jamais estarão completamente emancipados perante os pais. É como tivessem de viver sempre sob a proteção dos seus. É como se os pais não confiassem ao mundo ser dono daquilo que procriaram e gestaram como filho eterno, e não como pessoa que possa mudar com a idade.
De vez em quando eu ouço pais já envelhecidos tratando seus filhos como se fossem meninos. Não no cuidado em si, mas na forma de expressar um sentimento de apossamento daquele ser como eternamente seu. Perguntados onde os filhos estão, dizem que seus meninos estão viajando, trabalhando ou coisa parecida.
As mães possuem uma abnegação ainda mais forte. Mesmo que os filhos já tenham casado ou saído do lar familiar desde muito, mas basta uma visita de reencontro para que a mãe comece a trata-los como verdadeiras crianças. E pergunta se está bem, se está se alimento direito, se está sentindo alguma enfermidade, se está se cuidando.


Passa a fazer sentido a expressão segundo a qual o amor dos pais é eterno. Faz mais sentido ainda pela constatação de que os filhos nunca são vistos como pessoas adultas, emancipadas, já donas de seu próprios destinos, mas apenas como filhos. Aquele mesmo menino cuidado no passado será o mesmo menino em qualquer idade que tiver.
A verdade é que os pais simplesmente não aceitam abdicar de sua cria, muito menos para o mundo. Situações existem onde as esposas ou esposos dos filhos casados se tornam verdadeiros estorvos aos pais. Cria-se uma espécie de ciúme ou de proteção que acaba interferindo na relação entre os casais.
Neste sentido, os pais sempre imaginam que nada do que o mundo lá fora ofereça será melhor do que o encontrado em casa. A mãe prepara uma comidinha especial por que o seu filho vai chegar. O pai caça antigos brinquedos para trazer relembranças. O filho, já na idade adulta, sempre fica meio sem jeito, ou mesmo sem entender. Mas não pode fugir dessa proteção especial que lhe é dedicada.
Do mesmo modo que os pais toda hora saem à porta quando suas crianças estão brincando na rua, logo adiante da casa, assim também quando seus adolescentes ou de mais idade saem para a rua ao anoitecer. Os pais até que deitam, até que tentam dormir, mas não há jeito. Sempre cheios de preocupação, só conseguem dormir com a certeza de que já houve retorno.
Talvez até que os pais sintam vontade de que seus filhos jamais saiam de casa, jamais se afastem de suas presenças, jamais tenham um próprio destino. Parece absurdo, mas não é. Perante as ameaças do mundo e a fragilidade do ser, os pais se acham no dever de ser escudo e proteção. Daí tanto cuidarem de seus meninos, de suas meninas, de suas ternas crias.
Também um gesto de amor, de eterno e infinito amor.

Escritor
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17 outubro 2018

PIONEIROS ADOLFO MEIA-NOITE

por Yoni Sampaio

Em 1877, quando Antonio Silvino tinha apenas 2 anos de idade, Adolfo Meia-Noite já dominava a região como cangaceiro. Ele com seus dois irmãos Manoel e Nobelino, por uma questão de honra, tiveram que se armar contra o desafeto conhecido como padre Quaresma (apelidado de padre, não se sabe por quê) - um comissário de polícia, subdelegado naquela época. A razão dessa animosidade: uma paixão amorosa.


Adolfo era o galã da vila, disputado pelas garotas da localidade e, por inveja, o subdelegado traiçoeiramente o prendeu na localidade Varas, enviando-o à Ingazeira.

Como não havia segurança nas cadeias daquela época, é colocado em um tronco. Quinze dias se passaram sem que seus familiares soubessem, porque o mesmo se achava incomunicável.

Através de um conhecido foram informados que Adolfo tinha sido fichado como ladrão de cavalo e que, se não o libertassem, ele iria morrer. A essa altura Adolfo não sabia qual a razão de estar preso, até que o tenente responsável por sua prisão lhe disse:
Você conhece Padre Quaresma?
Sim, disse o preso.
Pois ele mandou um presente.
Ele respondeu:
Nada tenho a receber de um homem que me botou aqui sem eu merecer.
Então o tenente lhe deu vinte lapadas com uma vara de espichar couro. A partir daquele momento ele ficou sabendo por quem e por que estava preso. E veio o desejo de vingança que tanto prejuízo causou a si e à família.

A partir daí a vingança prevaleceu, sendo o comissário a primeira vítima e, em conseqüencia, sua família se viu obrigada a se mudar.

Por mais de cinco anos Adolfo e seus cangaceiros dominaram o Pajeú. Não só por esse trio era formado o grupo; Oiticica - cangaceiro de destaque - que também era seu parente, tombou em combate contra os “Quicés” que moravam no sítio Tamanduá e foram testemunhas contra Adolfo, quando foi preso. Nesse combate os ‘Quicés’ perderam dois membros da família. Eram eles parentes de Praxedes José Romeu, muito valente. Sob o comando de Praxedes cercaram a fazenda Volta e, por não encontrarem Adolfo, assassinaram o seu irmão Pacífico, que além de criança era retardado. Daí por diante o “granadeiro” falou.

Adolfo chegou a comandar dez cangaceiros. Não se registrou nenhuma Vila ou Cidade que ele não tivesse assaltado. Mas, ainda se vê no distrito de Jabitacá suas tradicionais trincheiras construídas de pedras soltas. As que mereceram mais atenção foram as da serra do Brejinho.

Sobre aos nomes dos seus cangaceiros pouco se sabe, a não ser o de “Manoel do gado”, antigo marchante; e Almeida, filho natural da serra da Colônia, assassino frio que matou um primo do sítio Extrema por uma simples rapadura.

Adolfo não estava presente e censurou essa atitude. Era Almeida de inteira confiança do chefe. Num certo dia pediu para visitar a família e quando retornou vinha “peitado” para matar Adolfo. Mas, foi mal sucedido, ganhando a morte pela infidelidade. Adolfo foi considerado a ovelha negra da família.

Outra versão sobre Adolfo Meia-Noite - “Era considerado um homem manso e romântico. Seu grande pecado foi a paixão que tinha pela prima, filha de um rico e poderoso fazendeiro daquelas ribeiras que, não achando ser o negro merecedor da donzela, mandou prendê-lo e açoitá-lo ao tronco colonial.

Quando foi liberado do castigo, seu pai, sabendo do ocorrido, recusou-lhe a bênção porque ele não havia lavado sua honra com o sangue do tio. Na mesma noite, Adolfo esgueirou-se para dentro da casa do tio e o matou, fugindo em seguida para o vale do Rio Pinheiro. Como havia matado pessoa influente na região, virou foragido da justiça tendo que passar o resto de sua vida a fugir da polícia, levando consigo os irmãos Manuel e ‘Sinobileiro’.

Apesar de ter se tornado cangaceiro, Meia-Noite era tido como homem justo e pacífico. Isto ficou evidenciado num episódio em que ele e seu bando prenderam o negro Periquito, que levara consigo alguns bens do seu patrão.

O bando pressionava Periquito, querendo o dinheiro que este levava, quando Adolfo colocou-se contra aquela situação, dizendo aos companheiros:
Vocês não vêem que se ele leva dinheiro, este não lhe pertence?
E dirigindo-se ao escravo pergunta:
Levas dinheiro contigo?
Sim, senhor - respondeu periquito.
- Levo 500 mil réis do Sr. Paulo Barbosa.
Ao ouvir esta resposta o bando se excita, mas o cangaceiro os repele:
Vá embora. Se precisar de alguma quantia, irei tomá-la do seu senhor, e não de você, que não é dono, pois se eu o fizer, certamente seu amo não irá acreditar na sua estória, e irá castigá-lo."

Adolfo morreu na Paraíba, em confronto com a polícia.

[O cangaceiro era neto do inglês Richard Breitt, traduzido logo pela gente da terra como Ricardo Brito, (embarcadiço, que chegando ao Recife, com 11 anos, no início do século XIX, internou-se pelo interior, no lugar Volta e não mais regressou. Ligou o seu destino ao de uma sertaneja, da família Siqueira Cavalcanti, conforme informações, e, segundo outras, a uma descendente do mameluco Amorim, que provinha dos índios da serra de Jabitacá. Richard Breitt depois de muitos anos foi convidado a regressar a sua terra, Londres, para receber grande fortuna, de herança que lhe pertencia. Por amor à família tudo renunciou. Chegou a ir até o porto da capital, mas lembrando os filhos, foi tirando os troços de volta já na hora da partida). Chegou à decadência devido a um dos seus netos - o temido Adolfo Rosa Meia-Noite (filho de sua filha Riqueta com Leandro) ter se tornado cangaceiro.]

Fonte: "Jabitacá" - Dois documentos para a sua história (Yoni Sampaio);
Pescado no açude: Afogados da Ingazeira

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15 outubro 2018

NOS CAMINHOS DA PROMESSA E DA FÉ

Por *Rangel Alves da Costa

Pouco mais das duas horas da madrugada e os ribombos de fogos começaram a ecoar. Após o amainar dos estrondos, logo as vozes eram ouvidas bem adiante. Diversas pessoas, muitas, que foram chegando, reunindo-se no local marcado para o início de um ofício caracterizado pela devoção, fé, crença e religiosidade do povo nordestino: caminhada em louvor a Nossa Senhora Aparecida.
Mas não uma caminhada comum, de um local a outro dentro da própria comunidade ou pelas estradas nos arredores da região, mas seguido um percurso intermunicipal de mais de cem quilômetros. Saindo dos limites das terras de Poço Redondo, no sertão sergipano, e atravessando divisas, cortando estradas, até chegar à sede do município cujo nome homenageia a Santa e Padroeira do Brasil: Nossa Senhora Aparecida.
Tal caminhada surgiu como pagamento de promessa. Após uma graça alcançada, supostamente pela intercessão da santa devotada, iniciou-se a sagrada obrigação de a todo ano, à véspera do dia dedicada à santa, seguir caminhando até o santuário naquela cidade sergipana. No ano inicial, apenas umas poucas pessoas decidiram acompanhar, mas já neste ano um grupo muito maior decidiu acompanhar o pagamento de promessa pelas estradas sertanejas da religiosidade e da fé.
Tenha-se, porém, que o cumprimento da promessa não se dá apenas com a caminhada de pessoas que vão parando para descansar assim que os cansaços e os suores da distância cheguem. Tudo é estratégica e logisticamente programada. As pessoas caminham, mas veículos de apoio proporcionam toda assistência que necessitem. Após a chegada ao santuário e os ofícios religiosos, o retorno se dá nestes veículos. Não há mais uma exaustiva e cansativa caminhada, mas apenas a boa e espiritual sensação de dever cumprido.
Mas como dito, logo após das duas da madrugada, no trecho defronte aonde me acomodo na cidade sertaneja de Poço Redondo, eis que sou acordado do sono tranquilo na rede pelos fogos e pelas vozes. Gente e mais gente chegando, tudo em preparativos para a caminhada de fé, até que todos seguiram em direção a igreja matriz. Ali foram para serem abençoados por Nossa Senhora da Conceição, padroeira local, na caminhada. Entoando cantos, levando rosários de fé, com os corações tomados pela devoção, em seguida tomaram os caminhos distantes.
Tudo isso aconteceu no último dia 11, às vésperas do Dia da Padroeira do Brasil, a Nossa Senhora Aparecida, que com sua força de transformação e de reparo nas linhas tortas da vida, torna possível que cada vez mais gente ao seu manto se entregue em busca de cura, salvação ou simplesmente para agradecer a certeza de sua intercessão. No dia seguinte já estavam no santuário. Neste dia, as promessas foram pagas, os agradecimentos chegaram acompanhados das palavras da alma.
E tanto na ida com no retorno, apenas a caminhada. Nenhum cansaço, nenhuma dor, nenhum sofrimento. Eis os caminhos da fé e da devoção.

Escritor
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12 outubro 2018

NOVO LIVRO SOBRE O CANGAÇO NA PARAÍBA – SÉRGIO DANTAS LANÇA SEU QUINTO LIVRO SOBRE O TEMA


O livro ‘LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA’ não foi concebido com a intenção de se tornar uma obra revolucionária. O objetivo do autor foi apenas elaborar um registro perene e confiável sobre a atuação do célebre cangaceiro em terras paraibanas. Com 363 páginas e cerca de 90 fotografias de personagens envolvidas na trama – e lugares onde os episódios ocorreram -, o trabalho certamente será de grande utilidade aos estudiosos de hoje e de amanhã.
Dividido em 19 capítulos, com amplas referências e notas explicativas, tenta-se recontar, entre outros, os seguintes episódios:
“A invasão a Jericó; fazendas Dois Riachos e Curralinho; o fogo da fazenda Tabuleiro; os primeiros ferimentos sofridos por Lampião; as lutas com Clementino Furtado, o ‘Quelé’; combate em Lagoa do Vieira; Sousa: histórico do assalto e breve discussão sobre as possíveis razões políticas para a invasão da cidade; a expulsão dos cangaceiros do município de Princesa; combates em Pau Ferrado, Areias de Pelo Sinal, Cachoeira de Minas e Tataíra; o cangaceiro Meia Noite; Os ataques às fazendas do coronel José Pereira Lima; morte de Luiz Leão e seus comparsas em Piancó; confronto em Serrote Preto; Suassuna e Costa Rego; a criação do segundo batalhão de polícia; Tenório e a morte de Levino Ferreira; ataque a Santa Inês; combates nos sítios Gavião e São Bento; chacina nos sítios Caboré e Alagoa do Serrote; Lagoa do Cruz; assassinatos de João Cirino Nunes e Aristides Ramalho; Mortes no sítio Cipó; fuga de paraibanos da fronteira para o Ceará; confronto em Barreiros; invasão ao povoado Monte Horebe; combates em Conceição; sequestro do coronel Zuza Lacerda; o assalto de Sabino a Triunfo(PE) e Cajazeiras (PB); mortes dos soldados contratados Raimundo e Chiquito em Princesa; Luiz do Triângulo; ataques a Belém do Rio do Peixe e Barra do Juá; Pilões, Canto do Feijão e os assassinatos de Raimundo Luiz e Eliziário; sítios Vaquejador e Caiçara; Quelé e João Costa no Rio Grande do Norte; combates com a polícia da Paraíba em solo cearense; o caso Chico Pereira sob uma nova ótica; Virgínio Fortunato na Paraíba: São Sebastião do Umbuzeiro e sítios Balança, Angico e Riacho Fundo; sítio Rejeitado: as nuances sobre a morte do cangaceiro Virgínio”.
A obra certamente não abrangerá o relato de todas as façanhas protagonizadas pelo célebre cangaceiro no estado da Paraíba. Muito se perdeu com o passar dos anos. Os historiadores de ontem, em sua maioria, não tiveram grande interesse em dissecar os episódios por ele protagonizados no território do estado.
A presente obra busca resgatar o que não se dissipou totalmente na bruma do tempo.
Lançamento em Natal do livro de Sérgio Dantas “Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito (2006)”.
LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA, Polyprint, 2018, 363 pgs. Disponível em outubro de 2018.
Sobre o autor: Sérgio Augusto de Souza Dantas é magistrado em Natal. Publicou os livros Lampião e o Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada (2005), Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito (2006), Lampião Entre a Espada e a Lei (2008) e Corisco – A Sombra de Lampião (2015).
PARA ADQUIRIR LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA,  VENDAS A PARTIR DE OUTUBRO DE 2018, SENDO REALIZADAS EXCLUSIVAMENTE PELO PROFESSOR FRANCISCO PEREIRA, DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA, QUE ENTREGA PARA TODO O BRASIL PELO CORREIO.
CONTATOS ATRAVÉS DO E-MAIL fplima1956@gmail.com, franpelima@bo.com.br OU Whatsapp 55 83 9911-8286
https://tokdehistoria.com.br/2018/10/01/novo-livro-sobre-o-cangaco-na-paraiba-sergio-dantas-lanca-seu-quinto-livro-sobre-o-tema/
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11 outubro 2018

MARIA CELESTE ESTÁ ANIVERSARIANDO HOJE

Por Fernando Neeser

Hoje, Maria Celeste filha de Corisco e Dadá completa 81 anos. Parabéns a ela!


https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

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10 outubro 2018

MAIS UM LIVRO

Por Francisco Pereira Lima

Mais um livro na praça: FLORO NOVAIS: Herói ou Bandido? De Clerisvaldo B. Chagas & França Filho. Este livro estará disponível a partir de amanhã no Cariri Cangaço São José do Belmonte e segunda feira dia 15/10 Para todo Brasil. Preço R$ 40,00 com frete incluso. 124 páginas. Franpelima@bol.com.br e fplima1956@gmail.com e Whatsapp 83 9 9911 8286.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2169108806691344&set=a.1929416523993908&type=3&theater&ifg=1
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08 outubro 2018

OS ELEITOS

*Rangel Alves da Costa

É neste domingo, dia 07 de outubro, dia de disputa eleitoral, e o pleito vai se estender até o entardecer. Depois disso, a divulgação das pesquisas de boca-de-urna, o disse-me-disse, as expectativas e, enfim, as apurações e o aparecimento dos primeiro resultados. Ante as novas tecnologias, não demora muito e toda a apuração já estará concluída. Muitas vezes, não há nem tempo de o candidato ir à farmácia comprar um turbilhão de calmantes ou adquirir lenços para as lágrimas doces ou amargas demais.
Com a primeira parcial apresentada em painel no centro de apurações, logo se terá o sorriso largo ou a tristeza apresada. As urnas são santas, dirão uns. As urnas são traiçoeiras, dirão outros. As mãos trêmulas tentam anotar números, resultados, fazer cálculos. Não conseguem. O nervosismo é demais. A vida do candidato está ali. Depois de meses e meses de porta em porta - mentindo descaradamente -, indo de canto a outro, prometendo muito e gastando pouco, agora a hora do tudo ou do nada.
Tem gente que não acredita no que avista e logo põe as mãos à cabeça em total desespero. Os saltos e os murros pelo ar são sempre sinais de números bons que acabaram de surgir. Num canto, um pleiteante está totalmente estático, paralisado. Não, aquilo não pode ter acontecido. Nenhum voto na seção que votam sua esposa e sua amante. Alguma coisa deu errada, lamenta-se enquanto refugia-se para o quase desmaiar. Um copo d’água não serve. Quer mesmo é morrer. Vai saindo de fininho e nem se lembra das dívidas que deixou para trás. Estava certo de pagar tudo antes mesmo de tomar posse. E agora?
As expectativas aumentam. As primeiras urnas sinalizam o destino dos candidatos, mas não define. Muita água ainda pode rolar debaixo da ponte, como chega um para esperançar um pleiteante já cabisbaixo e desiludido. Outro se aproxima para dizer que o berço eleitoral do candidato ainda não foi totalizado e que, por isso mesmo, ele pode dar a volta por cima. Já outro vai logo correndo atrás de fogos, já vai chamando o candidato de deputado, senador ou governador. E relembrando na hora aquele emprego prometido. O quase-eleito - e como sempre acontece - já mudou o discurso, já não força sorrisos, agora tanto faz aquela gentalha que nele votou.


Noutros idos, após o término da votação, logos os preparativos das festanças tomavam rumo. Numa disputa política local, num tempo de voto de cabresto e curral fechado, as lideranças locais se digladiavam não pela vitória de dois da mesma localidade para tomar assento na assembleia legislativa, mas pela vitória de um e a derrota do outro. A maior vitória do ferrenho opositor era a derrota do outro. O sucesso deste seria um fracasso total ao seu grupo político, que certamente se fragilizaria a partir da debandada de falsos amigos e eleitores.
Assim, terminada a eleição, o coronel Miguelino Cabreúva mandava matar cinco bois para a festança de comemoração do fracasso de seu opositor. Cinco bois, meio mundo de cajuína e aguardente, fogos de não acabar mais. Naquela eleição, ao invés de apoiar qualquer outro candidato de fora, esmerou-se mesmo em fazer política para tirar votos do inimigo. Onde soubesse que havia uma família propensa a apoiá-lo, logo era encaminhada uma comitiva de jagunços com dois contos à mão e um recado bem dado: Se votar no coronel Torquato não sobra nem pó!
Por sua vez, ciente de já estar vitorioso, o coronel Torquato Quixabeira preparava uma comemoração ainda maior. Ele queria porque queria mostrar a seu desafeto quem mandava ali. Ademais, o poder local não podia continuar dividido entre dois coronéis. E agora, sendo eleito deputado da região, forçaria a todo custo a queda do opositor. Por isso mesmo havia vendido de porteira fechada uma de suas tantas fazendas, redobrado o número de seus pistoleiros, e tudo para ganhar a eleição no dinheiro ou na bala. Vixe Maria, dizia o vigário Miguelino em meio à trincheira sangrenta.
Quem se deu melhor nessa disputa de mando? Tanto faz. Em política, quem é eleito nem sempre sai vitorioso, quem perde nem sempre sai totalmente derrotado. Na vitória há um fardo pesado demais a ser carregado. Ao menos para aqueles com algum compromisso ou seriedade. Não é nada fácil mostrar que valeu a pena ser votado, pagar promessas, não se desnortear muito daquilo que se mostrou enquanto candidato, mas principalmente continuar sendo respeitado pela população e eleitores.
Já os não eleitos, muitos destes se posicionam com pedras à mão e mirando determinadas janelas. E permanecerão derrotados acaso não façam do insucesso uma lição. Não adianta apenas fazer oposição. Tem que mostrar que poderia fazer melhor. Contrariamente ao que se imagina, oposição política exige demonstração de ação e capacidade para as futuras escolhas, e não apenas enlamear nomes, administrações e governanças.
Ao final deste domingo, os eleitos ou escolhidos para o segundo turno já estarão conhecidos. E certamente com fogos e lágrimas. Mas é o povo quem acende o pavio ou entrega o lenço. E assim deveria ser mais reconhecido, bem como suas motivações para eleger ou derrotar.

Escritor
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NEGROS EM SANTANA.

  Clerisvaldo B. Chagas, 12 de dezembro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3329 Uma panela de alumínio, vertical e comprid...