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15 abril 2019

A LENDÁRIA FAZENDA ABÓBORA PARTE 1

Por Rostand Medeiros
Sede da Fazenda Aboboras

Desde que comecei a ler temas relacionados ao ciclo do cangaço, a sua figura maior, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e a história do Nordeste no início do século XX, um local em especial me chamava atenção pelas repetidas referências existentes em inúmeros livros. Comento sobre uma antiga propriedade denominada Abóbora, localizada na zona rural do município de Serra Talhada, próximo a fronteira com a Paraíba e não muito distante das cidades pernambucanas de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo.

Vamos conhecer um pouco de sua história e da visita que realizei a este local.Uma Rica Propriedade. Quem segue pela sinuosa rodovia estadual PE-365, que liga as cidades de Serra Talhada a Triunfo, antes de subir em direção a povoação de Jatiúca e as sedes dos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo, percebe que está em um vale cercado de altas serras, que dão uma beleza singular a região. Atrás de uma destas elevações se encontra a Fazenda Abóbora.

Até hoje esta fazenda chama atenção pelas suas dimensões. Segundo relatos na região, suas terras fazem parte das áreas territoriais de três municípios pernambucanos. Aparentemente no passado a área era muito maior. Ali eram criados grandes quantidades de cabeças de gado, havia vastas plantações de algodão, engenho de rapadura e se produziam muitas outras coisas que geravam recursos. No lugar existem dois riachos, denominados Abóbora e da Lage, que abastecem de forma positiva a gleba.[1] Com tais dimensões, circulação de riquezas, no passado o lugar era ponto de parada de muitos que faziam negócios na região e transportavam mercadorias em lombo de animais, os antigos almocreves. No lugar estes transportadores do passado eram recebidos pelo “coroné” Marçal Florentino Diniz, que junto com irmão Manoel, dividiam o mando na propriedade.

Manoel Severo e Rostand Medeiros

Informações apontam que Virgulino Ferreira da Silva, quando ainda trabalhava como almocreve, realizou junto com seu pai e os irmãos vários transportes de mercadorias entre as regiões de Vila Bela (sua cidade natal, atual Serra Talhada) e Triunfo.[2] Certamente em alguma ocasião, o jovem almocreve teve a oportunidade de conhecer a fazenda do “coroné” Marçal e de seu irmão Manoel. Além destes o almocreve da família Ferreira conheceu o impetuoso filho do fazendeiro Marçal, Marcolino Pereira Diniz.[3]

Chefe de bando inteligente e perspicaz, Lampião buscava antes do confronto, o apoio e as parcerias com os antigos proprietários rurais e assim agiu junto aos donos da Fazenda Abóbora. Após assumir a chefia efetiva de seu bando, depois da partida do seu antigo chefe, o mítico cangaceiro Sinhô Pereira, Lampião frequentou em várias ocasiões as terras da Abóbora, onde o respeito do chefe e dos seus cangaceiros pelo lugar estava em primeiro lugar.

Rodrigues de Carvalho, autor do livro “Serrote Preto” (1974), informa nas páginas 252 a 254 que ocorreu uma intensa e positiva relação de amizade entre Lampião e a família Diniz principalmente com o “jovem e pretensioso doutor” Marcolino Diniz, que chegou há cursar durante algum tempo a Faculdade de Direito em Recife, mas não concluiu. Esta relação ambígua de amizade entre estes ricos membros da elite agrária da região e o facínora Lampião foi posta a prova em duas ocasiões.


Marcolino Diniz, sentado, filho do poderoso Cel. Marçal Florentino Diniz

A primeira no dia 30 de dezembro de 1923, quando Marcolino Diniz é preso pelo assassinato do juiz de Direito Ulisses Wanderley em um clube de Triunfo. Marçal solicita apoio de Lampião para tirar Marcolino da cadeia, se necessário a força. Juntos vão acompanhados de um grupo que gira em torno de 80 a 100 cangaceiros armados. Não Houve reação dos carcereiros. A segunda ocorreu no mês de março do ano seguinte. Após o episódio do ferimento do pé de Lampião na Lagoa Vieira e o posterior ataque policial na Serra das Panelas, onde o ferimento de Lampião voltou a abrir e quase gangrenar, é a família Diniz que parte em socorro do cangaceiro. Marçal e Marcolino cederam apoio logístico para a sua proteção, transporte, medicamentos e plena recuperação com o acompanhamento dos médicos José Lúcio Cordeiro de Lima, de Triunfo e Severino Diniz, da cidade paraibana de Princesa. Sem este decisivo apoio, certamente seria o fim do “Rei do Cangaço”.[5]
Lagoa Vieira-Foto-Alex Gomes

Foi igualmente na propriedade Abóbora que Lampião conheceu Sabino Gomes de Gois, também conhecido como “Sabino das Abóboras”.[6] Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), nas páginas 243 a 246, informa que Sabino efetivamente nasceu na Fazenda Abóbora, sendo filho da união não oficial entre Marçal e uma cozinheira da propriedade. Consta que ele trabalhou primeiramente como tangedor de gado, o que certamente lhe valeu um bom conhecimento geográfico da região.

Valente, Sabino foi designado comissário (uma espécie de representante da lei) na região da propriedade Abóbora, certamente com a anuência e apoio do pai. Organizava bailes e em um destes envolveu-se em um conflito, tendo de seguir para o município paraibano de Princesa. [7]

Depois, entre 1921 e 1922, acompanhou seu meio irmão Marcolino para Cajazeiras, no extremo oeste da Paraíba. Marcolino Diniz desfrutava nesta cidade de muito prestígio. Era presidente de clube social, dono de casa comercial, de jornal e tinha franca convivência com a elite local. Sabino por sua vez era guarda costas de Marcolino e andava ostensivamente armado. Nesta época Sabino passou a realizar nas horas vagas, com um pequeno grupo de homens, pilhagens nas propriedades da região. O autor de “Guerreiros do Sol” informa que teria sido Sabino que coordenou a vinda do debilitado Lampião para ser tratado pelos médicos José Lúcio Cordeiro de Lima e Severino Diniz. A amizade entre o “Rei do Cangaço” e o filho bastardo de Maçal Diniz, nascida na Fazenda Abóbora, teria então se consolidado a ponto deste último se juntar a Lampião e seu bando, em uma posição de destaque, no famoso ataque de cinco dias ao Rio Grande do Norte, ocorrido em junho de 1927.

Continua...

NOTAS
[1] Relatos transmitidos em entrevista gravada junto ao Sr. Antônio Antas, da cidade paraibana de Manaíra, em dezembro de 2008. O Sr. Antônio, parente de Marcolino Diniz, conviveu com o filho de Maçal quando este estava idoso e vivendo na Comunidade de Patos do Irerê. Vale ressaltar que é relativamente pequena a distancia da sede da Fazenda Abóbora para a cidade de Manaíra.
[2] Relato transmitido ao autor em entrevista gravada junto ao Sr. Antônio Ramos Moura, em agosto de 2006, em Santa Cruz da Baixa Verde.
[3] Para Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), na página 244, afirma que Maçal Diniz conheceu Lampião e seus irmãos quando os mesmo já eram membros do bando de Sinhô Pereira, cangaceiro que igualmente recebeu proteção e apoio deste fazendeiro em 1919.
[4] Entrevista gravada com Antônio Antas, dezembro 2008.
[5] Sobre o combate de Lampião na Lagoa Vieira ver – tokdehistoria.wordpress.com/2011/02/10/quando-lampiao-quase-foi-aniquilado
[6] Segundo Frederico Pernambucano de Mello, Sabino também era conhecido como Sabino Gomes de Melo, Sabino Barbosa de Melo, ou ainda com os denominativos Gore, Gório ou Goa. Ver “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), pág. 243.
[7] Rodrigues de Carvalho (pág. 164) afirma que Sabino nasceu na Paraíba, no lugar denominado Pedra do Fumo, então município de Misericórdia, atual Itaporanga. Pela lei estadual nº 3152, de 30 e março de 1964, o antigo distrito de Pedra de Fumo foi desmembrado do município de Itaporanga e elevado à categoria de município com a denominação de Pedra Branca, localizado a cerca de 20 quilômetros de Itaporanga. Pelo que escutamos durante nossas visitas a região, acreditamos que a versão do autor de “Guerreiros do Sol” é mais correta.

Rostand Medeiros, pesquisador e escritor
Natal, Rio Grande do Norte
Fonte: tokdehistoria.com


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13 abril 2019

PROGRAMA DA GLOBO, 8 OU 800....1976


O renomado pesquisador do cangaço, Dr. ANTÔNIO AMAURY CORREIA DE ARAUJO responde ás perguntas feitas sobre LAMPIÃO, pelo grande apresentador Paulo Gracindo, concorrendo ao grande prêmio.
..
Próximo da etapa final e, alertado por terceiros de que a emissora estava propensa a pregar uma peça sobre ele, o pesquisador desiste de participar da final do programa, mas foi recompensado com um grande prêmio, que já havia adquirido, por sua sensacional apresentação.


Foto: cortesia do famoso escritor


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10 abril 2019

LUIZ GONZAGA - ASA BRANCA FT. FAGNER, SIVUCA, GUADALUPE

https://www.youtube.com/watch?v=zsFSHg2hxbc
Publicado em 16 de jul de 2015

Videoclipe oficial da música Asa Branca de Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe de seu álbum, Danado De Bom. Compre Danado De Bom: http://smarturl.it/ud15r0?IQid=YTO.O0... 

Ouça Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe no Spotify: https://www.youtube.com/user/OsTraves... Visite o canal de Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe: http://smarturl.it/ls46m3?IQid=YTO.zs... Confira mais vídeos de Música Nacional: http://smarturl.it/MusicaNacional Conecte-se: Facebook: http://smarturl.it/jzxxhb?IQid=YTO.zs... Twitter: N/A Mais de Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe: Luiz Gonzaga - Pense N'Eu ft. Gonzaguinha: https://www.youtube.com/watch?v=Q9n7o... Luiz Gonzaga - Sete Meninas ft. Dominguinhos: https://www.youtube.com/watch?v=kq_CQ... Luiz Gonzaga - Sanfoninha Choradeira ft. Elba Ramalho: https://www.youtube.com/watch?v=l0vzG... 

Letras: Até mesmo a asa branca Bateu asas do sertão Então eu disse, adeu' Rosinha Guarda contigo meu coração Então eu disse, adeu' Rosinha Guarda contigo meu coração Hoje longe muitas légua Numa triste solidão Espero a chuva caír de novo Para eu vortar pro meu sertão Espero a chuva caír de novo Para eu vortar pro meu sertão Quando o verde dos teus óio Se espalhar na prantação Eu te asseguro, não chore não, viu Que eu voltarei, viu, meu coração Eu te asseguro, não chore não, viu Que eu voltarei, viu, meu coração
Categoria
Música neste vídeo
Música
Asa Branca
Artista
Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe
Compositores
Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira
Licenciado para o YouTube por
SME (em nome de Best); Wixen Music Publishing, União Brasileira de Compositores, Warner Chappell, LatinAutor - Warner Chappell, LatinAutor, EMI Music Publishing e 7 associações de direitos musicais.

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09 abril 2019

FOTOS QUE AINDA CHOCAM O QUE SOBROU DE MANUEL MORENO, SUA ESPOSA ÁUREA E O CABRA GORGULHO


Subgrupo de Lampião eliminado enquanto festejavam  na Fazenda Poço da Volta, em Porto da Folha/SE. Foram executados pela volante baiana do Sargento Odilon Flor, a 23 de junho de 1937, durante as festas de São João.

Fonte: Livro Guerreiros do Sol, Frederico Pernambucano de Mello.

"Blogdomendesemendes - Em vez de Gorgulho é o cangaceiro Gravo Roxo.

O escritor Alcino Alves diz em seu livro "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistério de Angico que Gorgulho estava no combate, mas escapou da chacina e morreu velhinho".

Créditos:
Ivanildo Alves  da  Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e do CARIRI-CANGAÇO
Natal / RN

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08 abril 2019

SEM TERRA

Por Rangel Alves da Costa

Difícil romantizar uma saga tão brutal e sangrenta. Nada fácil tornar em ficção a veia aberta e o grito de dor, ainda hoje espargindo sofrimento e ecoando o temor e a aflição. Ao escritor, apenas imaginar como tudo poderia ser no mundo real. E por isso mesmo relato aqui uma das possíveis feições para que o homem, escorraçado da terra, começasse a lutar pelo direito a terra.
Eustáquio preferiu sair da cozinha pela porta dos fundos, indo em direção ao quintal aberto. Não conseguiria passar pela sala e avistar os meninos já famintos àquela hora do dia e sem nada na panela que causasse a ilusão de comida.
Creuzina, sua esposa, havia puxado o pano da cabeça e agora o utilizava como lenço, e já completamente molhado de lágrimas. Nada podia fazer senão despejar o restinho de farinha de mandioca numa panela, jogar um pouco de água por cima e depois mexer até aprontar uma papa d’água.
Tiziu comeu do que lhe foi colocado no prato. Assim também com Pedro e Zefinha, a mais nova da família. Já Eustáquio, o pai, e Creuzina, a mãe, beberam do fel salivento da dor, da agonia e do sofrimento. Continuaram famintos, porém satisfeitos. Os filhos haviam tido a ilusão do alimento. E depois, e mais tarde, quando a fome dos filhos novamente despertasse?
Adiante do barraco o mundo da desolação. A estiagem havia deixado a terra em pó. Não havia verdor nem seiva de vida numa só planta. A ossada do bicho parecia uma assombração esbranquiçada. Mandacarus ressequidos, facheiros murchos, jurubebas mortas pelos beirais pedregosos das estradas. Mas o pior estava por acontecer.
Quando o portentoso alazão riscou defronte a morada, então Eustáquio logo imaginou o chão se abrindo a seus pés. A notícia já era esperada e seria o fim do mundo. E ela havia chegado. Já acreditava nisso, porém não acreditava que tão cedo pudesse acontecer. O recado foi tão breve quanto arrogante: “O patrão avisou que junte as coisas e abandone a casa”.
Já na manhã seguinte e mais parecia um quadro de Portinari. A pequena família em retirada e sem ter aonde ir. Não eram retirantes das secas, e sim retirantes do teto e da guarida de sobrevivência. Retirantes do pedaço de chão aonde se mantinham feito bicho entocados sem ter outra saída. Retirantes da esteira ao chão, do estrado da cama, do pote e do candeeiro.


Mas a família foi seguindo adiante levando toda a riqueza em saco e cuia. Molambos, restos, pedaços. Já ao longe, antes de tomar uma curva para o deus dará, Eustáquio parou um instante, olhou para trás e estremeceu de ódio. Avermelhou ainda mais a pele já tostada de sol, afogueou por dentro feito vulcão irrompendo todas as fúrias da vida. Quanta indignação, quanto rancor, quanto ódio!
E um ódio tão animalesco que só os feridos no espírito, corpo e alma podem sentir. Aquela paisagem sem fim, aquele meio mundo de terra e chão, aquela vastidão sem limites, e tudo de um só dono, tudo de quem sequer sabia a quantidade de terra que possuía nem a serventia de toda aquela riqueza. E ele, caminhante pelo mundo dos outros, não tendo sequer um palmo de chão.
Quis voltar. Fez menção de retornar e ir diretamente até a porta daquele senhor dono do mundo, daquela víbora recoberta de gente, daquele imprestável que se abancava na cadeira da varanda, mirando sem ter o que fazer com as suas léguas e mais léguas de terra, mas sem ceder a ninguém um só quadrado de chão. E sem deixar que o pobre fizesse vingar sobre a terra um pé de milho e de feijão, uma abóbora, uma melancia.
Quis voltar. Fez menção de retornar, mas de repente novamente voltou-se adiante e avistou sua pequena família a lhe esperar. Também sabia que não voltaria com vida acaso fosse pedir satisfação ao ex-patrão. Ele mesmo sabia das cruzes espalhadas por aqueles carrascais, das tocaias feitas e das emboscadas mortais. Um mundo de urubus, de carcarás e gaviões, de vidas definhadas ao sol pela sangria das injustiças.
A família virou a curva da estrada e seguiu adiante. Talvez Tiziu estivesse com sede. Talvez Pedro estivesse com sede. Talvez Zefinha estivesse doente. Mas tinham que seguir adiante. E para trás os imensos descampados, as catingueiras e as umburanas num canto e noutro. Pouco bicho para tanta terra e quase nenhum plantio que alimentasse a vida. Um mundo do tamanho da ganância, da injustiça e da soberba.
Um mundo grande demais para quem não merecia. E nenhum pedaço de chão àqueles que seguiam em frente na incerteza do instante seguinte e do amanhã. Porém, na mente já menos raivosa de Eustáquio um pensamento que mais tarde se tornaria ação: “Nem que sangre de morte, nem que seja ferido pelo açoite da bala, mas ainda lutarei com toda força que tiver para transformar esse chão num chão de todos. Para repartir essa terra com quem dela precisa para trabalhar e sobreviver”.
E foram seguindo adiante. E pela certeza da luta. A luta pela terra. Foi assim que muito da saga da reforma agrária se iniciou. E muito vingou e muito frutificou.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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NEGROS EM SANTANA.

  Clerisvaldo B. Chagas, 12 de dezembro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3329 Uma panela de alumínio, vertical e comprid...