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06 março 2023

O CANGACEIRO CHICO PEREIRA

  Por José Mendes Pereira

O cangaceiro Chico Pereira
Colorido pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Diz o pesquisador e colecionador do cangaço Dr. Ivanildo Alves da Silveira   que o coronel João Pereira, pai do cangaceiro Chico Pereira, morava em Nazarezinho, no Estado da Paraíba. Casara-se com dona Maria Egilda, e era proprietário de um sítio que ele mesmo o nomeou de fazenda Jacu. E além deste, era dono de um barracão onde vendia produtos alimentícios à vizinhança.
              
Do casal nasceram sete filhos, três mulheres e quatro homens, sendo os homens: Aproniano, Abdon, Abidias (faleceu em 2004 com 1003 anos), e o Francisco Pereira Dantas, o Chico Pereira. Como o coronel tinha mania de permanecer em seu comércio, mesmo depois do dia, nessa noite, o patenteado João Pereira ainda se encontrava de portas abertas, mas prestes a fechá-las. E sem menos esperar, recebeu a visita de três homens armados. Ao atendê-los, como sendo autoridade do lugar, sem usar autoritarismo, amigavelmente chamou a atenção deles, explicando-lhes que o uso de armas estava sendo proibido por uma lei municipal, aprovada em assembléia, que não permitia mais as pessoas perambularem armadas pelas ruas do lugar. Como o município havia criado essa lei, ele achava que os homens deveriam obedecê-la.
            
E sem imaginar que o seu conselho lhe custaria a vida, causou uma discussão acirrada, seguida de tiroteio dentro do seu barracão. No momento, a bagunça foi desastrosa, onde facadas, pancadarias e gritaria aconteceram no local, deixando alguns mortos e outros feridos. Inclusive o coronel João Pereira que tendo sido atingido por balas, foi conduzido às pressas para ser socorrido em sua residência, na fazenda Jacu, numa distância de mais ou menos cinco quilômetros. Como o socorro demorou, devido à distância entre o lugar onde ocorreu o crime e a sua residência, em consequência dos graves ferimentos, veio a falecer diante de sua família. Mas antes do último suspiro, ele fez um pedido aos filhos: que não fizessem vingança. Entregassem o caso às mãos de Deus. Estas foram as suas últimas palavras.   
                 
E já que ele estava caminhando para a eternidade, e não teria mais volta ao mundo, todos os seus filhos perdoassem o erro do seu agressor. Com certeza, o medo e a intenção do patriarca era que os seus filhos não sofressem nas mãos da polícia, se caso tentasse vingar a sua morte.                     
            
Após o enterro, como o coronel tinha boas amizades, a população revoltou-se contra o assassino do patenteado, e passou a exigir justiça urgente.                                                           

A polícia tomara conhecimento do assassinato, mas não se interessou de trancafiar o criminoso, chamado Zé Dias. Sentindo-se pressionado pela população, pedindo-lhe justiça, Chico Pereira que nessa época, ainda não era cangaceiro, sendo ele o filho mais velho do coronel, de vinte e dois anos de idade, deu início à procura de Zé Dias.            
            
O criminoso temendo ser justiçado pela morte que fizera procurou se ocultar nas serras. Mas depois de muita procura, dentro dos cerrados, finalmente Chico Pereira o encontrou. Prendeu-o e o levou à presença da polícia. Com essa façanha, ele foi considerado pelo povo do município como herói, que era o desejo de todos verem Zé Dias entre as grades para pagar o que fizera com o coronel João Pereira. Mas para a tristeza da população e o desgosto de Chico Pereira, por ter levado o criminoso à presença das autoridades para puni-lo, e não sendo justiçado, dias depois, o assassino já se encontrava em total liberdade, passeando livremente pelas ruas de Nazarezinho.                                 
            
A população que não se conformara com a atitude da justiça, colocando o criminoso em liberdade, iniciou um protesto, uma espécie de cobrança, e passou a exigir que o próprio Chico Pereira, como sendo ele o filho mais velho do coronel, com urgência, fizesse a vingança, assassinando àquele que havia exterminado a vida do seu pai.                  
            
Este, sentindo-se exigido pela população, e sem outra opção, se viu obrigado a não cumprir o pedido do pai. E partiu para fazer o contrário de João Pereira, a vingança, como era costume na época, honra familiar do sertão.                                 
            
Passado alguns dias, o criminoso Zé Dias foi encontrado morto nas terras paraibanas. Infelizmente, Maria Egilda ouviu do seu próprio filho, uma frase que mãe nenhuma deseja ouvir: "Mamãe, fizeram-me criminoso”.        
            
Ivanildo diz em seu texto que: Chico Pereira após ter feito a vingança, temendo ser preso, com agilidade, fugiu para as caatingas do nordeste, passando a viver embrenhado às matas da região.                                                            
Como não queria pagar pela sua vingança que para ele era além de justa, foi astucioso: pensou e  criou um bando de cangaceiros, e o pôs em prática, para se tornar fortalecido diante daquelas perigosas feras, o que na época, era um dos movimentos que os jovens muito se interessavam, praticando assaltos, mortes por onde passavam.            

Chico Pereira antes, talvez, não sei, não tivesse vontade de se tornar assassino. Mas depois que mataram o seu pai, no ano de 1922 (período em que Lampião recebeu das mãos do Sinhô Pereira o seu afamado bando), deu início a sua vida de bandoleiro, que segurou por seis anos, que dominava os sertões e fugia da polícia. No dia 27 de Julho de 1924, juntou-se a Lampião para atacar a cidade de Sousa, dando continuidade até o ano de 1928, quando foi assassinado.

Chico Pereira não usava chapéu quebrado na testa, nem gibão,... Seu jeito de ser, diz Ivanildo Silveira, é provável que tenha se espelhado em Tom Mix, em revistas norte-americanas que vez por outra chegavam às caatingas.  
            
Segundo o saudoso José Romero Cardoso o Jornal do Recife de 22 de novembro de 1927, citado por Frederico Pernambucano de Mello, disse que Chico Pereira não usava cabacinha d'água, chapéu de couro, preferindo um traje assim a herói do Far West, usando chapéu de massa, de abas largas, lenço vermelho ao pescoço, pesadas cartucheiras, calças colote e clássico punhal nortista traspassado à cinta. E que muito exigiu que seu código de honra fosse respeitado e conservado. Quando qualquer indivíduo tentava desrespeitar, com certeza, estava assinando uma sentença de morte.
            
Mas Chico Pereira tinha algo para cumprir. Apesar de já estar com mais de vinte anos de idade, mesmo diante de tantas decepções na vida e perseguições por parte das volantes, por ele ter matado o assassino do seu pai, estava uma moça chamada Jardelina de Nóbrega, com apenas doze anos de idade. E aos quatorze anos, já muito apaixonada, jardelina de Nóbrega noivara-se com o bandido.                       
            
Como Chico Pereira não podia estar presente à recepção matrimonial devido às perseguições da polícia, que não lhe dava trégua, o seu casamento foi realizado na igreja católica, através de procuração, autorizada em cartório local. Apesar de ser  cangaceiro, vivendo exclusivamente dentro das caatingas nordestinas, livrando-se da polícia, Chico Pereira ainda deu de presente à Jardelina de Nóbrega, três filhos, os quais não chegaram a conhecê-lo, pois Jarda, como era carinhosamente chamada pela população, viuvara no dia 28 de outubro de 1928, com apenas dezessete anos de idade, quando o seu esposo foi barbaramente assassinado, no Rio Grande do Norte pelos próprios policiais que os recambiaram para o Fórum de Currais Novos.            
            
Chico Pereira iria ser julgado em Acari e um dia antes de sua morte, a escolta já estava pronta para recambiá-lo até Currais Novos. E mais ou menos no início dos primeiros minutos do dia 28, as autoridades partiram da capital, levando o criminoso para ser julgado naquela comarca.   
            
Café Filho que na época era o seu advogado (este, posteriormente chegou a ser vice-presidente da república, e com a morte de Getúlio Vargas, assumiu a presidência do Brasil), percebera que o seu cliente poderia ser morto, por suspeitar que o tenente Moura, chefe da escolta que transportava o preso, poderia arquitetar algo contra ele, resolveu acompanhá-lo em seu carro próprio. Mas um dos seus amigos o aconselhou que desistisse, pois onde eles matassem Chico Pereira, ele também seria morto como queima de arquivo. Temendo o que lhe dissera o amigo, Café Filho desistiu da viagem, só viajando no dia seguinte. Assim que o dia surgiu, Café Filho preparou os seus documentos, isto é, material que seria usado na hora do julgamento, e quando já estava pronto para partir até o Fórum de Currais Novos, foi informado através de um telegrama, que o seu cliente havia falecido num desastre automobilístico, no mesmo carro que o levava para o fórum municipal, lá de Currais Novos. 
                                                                            
O começo da injusta morte do cangaceiro Chico Pereira, deu-se quando entre o ano de 1926 (ou possivelmente no ano de 1927), uma fazenda de nome “Rajada”, localizada nas adjacências de Currais Novos, patrimônio que pertencia a um dos mais renomados coronéis da região, um senhor chamado Joaquim Paulino de Medeiros, conhecido nas redondezas por “Quincó da Ramada”, esta tendo sido invadida e assaltada por um grupo de vândalos. Como a polícia há meses que andava nos rastros de Chico Pereira, não tinha dúvida que o assalto tinha sido praticado por ele.  Mas o não feito pelo cangaceiro, foi confirmado pela esposa do próprio coronel assaltado, afirmando aos homens da lei, que aquele homem que se achava preso (o Chico Pereira), nunca estivera em sua fazenda. Ainda lhes disse que o mais justo, seria libertar o rapaz do castigo.                                                                                                 
Mas   os justiceiros não aceitaram a sua confirmação, reafirmando que a invasão tinha sido feita mesmo pelo cangaceiro. Como não aceitaram as palavras da esposa do coronel, foi o suficiente para deixarem-no entre as grades.           
            
O cangaceiro em depoimento às autoridades dissera que as acusações contra a sua pessoa eram falsas, pois em toda sua vida, inclusive a de bandoleiro, jamais tivera colocado os seus pés naquele município.  E também não conhecia as terras de Currais Novos, e não tinha amizades com pessoas daquele lugar. Mas infelizmente, o Chico Pereira foi deixar a sua amada e gostosa vida naquelas terras que o condenara como invasor da Fazenda Rajada. 
             
Quando a notícia chegou ao conhecimento do advogado Café Filho e posteriormente aos ouvidos da população, não acreditaram, e imaginaram logo que a morte do cangaceiro Chico Pereira havia sido premeditada.
            
A noite do dia 27 de outubro de 1928, já havia ido embora e o sol mandava os seus primeiros raios para iluminarem a terra. O vivente que logo perderia a sua amada vida, não desconfiava que poderia ser alvo de uma traição. Ao chegar ao local, cuidadosamente observou o abismo, que lá seria a sua última instância na terra. A sua morte antecipada estava para acontecer naquele momento. Ninguém o evitaria conhecer o outro lado da vida. Nem o próprio Deus, que lá de cima, assistia tudo, mas não se manifestou em seu favor.

Finalmente chegou o momento do seu sofrimento.  Nunca tinha pensado em passar por coisa tão horrorosa assim. Por uma estrada cheia de altos e baixos, que em nenhum momento ela mostrou-se adversária aos homens do carrasco. Além da estrada de barro, tinha a outra, que não tem regresso. Chico Pereira a ganhou de presente.           

Infelizmente, viajou para o outro mundo, aos 28 anos de idade, deixando para trás, mãe, irmãos, esposa, filhos, parentes e aderentes, euma história marcada de angústia, dores e vontade de viver ao lado dos que muito o amavam.                                                                       

O cangaceiro jamais fora atingido por bala, faca, nem mesmo no momento em que estava pronto para morrer, porque o crime foi premeditado em virada de carro.
                                                                
Depois ainda, por brutalidade e vingança, viraram o carro por cima. O rosto ficou esmagado, que mesmo os próprios justiceiros, não o reconheceram após a chacina, pois havia ficado totalmente irreconhecível. A cabeça e a parte tórax ficaram estraçalhadas.

O cineasta Volney Liberato diz que o motorista de nome Genésio Cabral de Lima, tenente coronel da reserva da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, vazou pela primeira vez, o segredo que há anos escondia deste horroroso crime.                                                     

Disse o depoente ao escritor, que em 1928 ele era sargento da Polícia Militar, e ainda gozava da juventude, quando foi designado para seguir até a cidade de Acari, conduzindo o Chico Pereira. Ele viu o criminoso pela primeira vez, no momento da chacina. Não tinha lembrança da fisionomia do facínora, mas disse que o criminoso era de estatura mediana. Da escolta, além da sua pessoa, participaram os seguintes policiais: o tenente Joaquim de Moura, responsável pela escolta. O sargento Luís Auspício e ainda Feliciano Tertulino, mas os subordinados policiais.        

Enquanto caminhavam, Joaquim de Moura perguntou-lhe se conhecia bem a estrada que percorria. O patenteado, isto é, o motorista, respondeu-lhe que sim. Em seguida, pediu que ao chegar a um aterro bem alto, parasse o carro, no que foi atendido. Ao chegarem a um lugar chamado “Ligação”, aproximadamente três léguas separando da cidade de Currais Novos, o motorista obedecendo à solicitação do tenente, parou o carro bem próximo de um aterro. E lá, todos foram ordenados para descerem do automóvel. Assim que saíram do carro, o tenente Joaquim de Moura fez algumas perguntas ao bandido, relacionadas com as suas aventuras vividas no cangaço. 

O depoente disse que Chico Pereira foi respondendo uma por uma, ao que lhe deu a entender que o rapaz se orgulhava das suas bravuras, e era um criminoso de sangue frio, e despreocupado com o bem estar de qualquer ser humano, ou mesmo dele. Após as suas respostas, orgulhosamente, e não imaginando de outra atitude, por parte dos patenteados, foi o bastante para começarem a execução do que estava preparada.  

A primeira pancada aplicada na vítima o depoente não se lembrou quem na verdade principiou a chacina. Mas mesmo assim, optou que teria sido Feliciano Tertuliano, ou o sargento Luiz Auspício, deixando o preso desnorteado e cambaleando no meio do nada. O criminoso só morreu quando o carro foi virado por cima do seu cadáver. E não havia mais dúvida. Finalmente o Chico Pereira deixou de brilhar nos sertões nordestinos. 

Não querendo ser o único responsável pela chacina o tenente Joaquim de Moura pediu que cada um aplicasse-lhe uma pancada de coice de carabina, para que o crime ficasse distribuído em igualdade. Assim que fizeram essa tamanha maldade contra o cangaceiro, para completar mais ainda a brutalidade, Chico Pereira foi jogado dentro do carro, e em seguida, determinaram que virasse o automóvel no abismo. O motorista informou ao cineasta que foi a sua maior tarefa, isto é, no abismo, tangeu o carro com o criminoso dentro. 

Concluída a primeira maldade contra o cangaceiro o tenente Joaquim de Moura disse que ninguém iria ficar sã, pois todos os participantes da chacina teriam que ferirem a si mesmos, propositalmente, para justificar o desastre e impressionarem as autoridades.  

Esse maldoso trabalho foi feito com as próprias mãos dos agentes. Cada um deles aplicou golpes terríveis ao seu corpo, pancada na cabeça com pedras de gumes afiadíssimas e fazendo escoriações pelo corpo.

Agora, sim, parece que deu certa a trama dos agentes. Todos sangravam muito, já que haviam feito cortes nos seus corpos. Terminada a trama da virada do carro sobre o corpo de Chico Pereira, os patenteados se apressaram em comunicar o desastre para Currais Novos. E com um tempo depois, chegou o socorro para conduzir todas as vítimas do desastre para a cidade. Inclusive o corpo do bandido.

Em Currais Novos, instauraram o inquérito para apurarem a causa da virada do carro sobre o bandoleiro. Mas os demais culpados foram absorvidos. 

O corpo de Chico Pereira foi levado para a Cadeia, na Rua do Rosário (diz Volney Liberato que hoje é Vivaldo Pereira), onde permaneceu exposto para o público ver pela primeira e última vez o delinquente cangaceiro, permanecendo até a hora do seu sepultamento que ocorreu lá pelas nove horas da noite, no Cemitério Público de Santana. E diz ainda o cineasta que: o facínora foi enterrado em cova, que nos dias de hoje, não se tem idéia onde os seus restos mortais se encontram. Mas a verdade é que quando se deve a Deus, não ficará impune, principalmente quando se sabe que é devedor.  

O justiceiro de Chico Pereira o tenente Joaquim de Moura que se sentindo o dono da verdade, lá nas terras de Currais Novos, por ironia do destino, já nos anos 40, foi participar de uma festa numa fazenda avizinhada à cidade. Lá, havia deixado um amor proibido, sendo a amante, casada, de uma família considerada notável. Como o patenteado, havia se apaixonado pela mulher, foi reativar o seu amor, que mesmo não sendo a sua esposa, enciumado, ameaçou de morte o marido da amante, caso ela não o quisesse. Nesse dia, ao entardecer, Joaquim de Moura sentiu-se mal, a causa, ataque cardíaco, que sem demora, faleceu. 

Chico Pereira e o tenente Joaquim de Moura tiveram os mesmos caminhos da eternidade, e talvez os mesmos destinos, em terras currais-novenses, em anos diferentes, que os dois, jamais tiveram antes do ano de 1928. 

Meses depois, o único que foi penalizado foi o coronel Genésio Cabral de Lima, depoente desta entrevista, cedido ao cineasta Volney Liberato, por crime culposo. Mas, posteriormente foi absolvido pelo Tribunal.

Diz Ivanildo Alves Silveira que Chico Pereira foi um dos homens mais destemido do sertão paraibano, que fez justiça com as próprias mãos e tornando-se cangaceiro. Quando foi julgado pela morte do assassino do seu pai foi absolvido em júri popular, no Estado da Paraíba, sua terra natal. Mas, para sua infelocidade, foi acusado pelas autoridades de um crime que não cometeu, e em especial, no Rio Grande do Norte, que jamais havia colocado os seus pés. 

Apesar de sempre cair em falha contra as autoridades e geralmente apadrinhado pelo governador da Paraíba, através de um irmão deste, infelizmente foi trazido para o nosso Estado, e aqui, impiedosamente, foi entregue à justiça para ser julgado, coisa que não chegou a acontecer.  

No período em que Chico Pereira foi morto já havia completado vinte e oito anos de idade. Dona Maria Egilda sua mãe, não teve pelo menos o desprazer de enterrar o seu filho, tendo recebido orientação do advogado da família, Doutor João Café Filho, fazendo grande alerta aos familiares do marginal, que não fossem pisar em terras do Estado do Rio Grande do Norte, para ser apanhado como vingança por parte das autoridades que chacinaram Chico Pereira. 

Conta  Ivanildo Silveira que a tragédia continuou com o assassinato inesperado do irmão de Chico Pereira, o Aproniano. (Não encontrei a causa da morte deste irmão de Chico Pereira). E a morte do outro irmão, Abdon, que estudava medicina no Rio de Janeiro. (Este foi visitado pela tuberculose, faleceu nos braços de sua amada e sofrida mãe, Dona Maria Egilda, na fazenda Jacu, propriedade da família).  

Conversas entre os dentes diziam que os mandantes da morte do coronel João Pereira o pai de Chico Pereira, eram pessoas importantes da sociedade de Sousa. Um deles, um senhor que era destacado cidadão de nome Otávio Mariz.    

Dos quatro filhos do coronel João Pereira o único que sobreviveu e viveu muito, foi o Abdias, que veio a falecer no dia 28 de julho de 2004, com cento e três anos de idade.

Observação – Eu não sei o porquê das minhas discordâncias. Se analisarmos cuidadosamente, é provável e óbvio que Café Filho não participou da tragédia de Chico Pereira, mas com certeza, muito antes deste dia, ele já sabia da trama, e tinha razão de não ficar contrário às autoridades policiais.  

Mas surgem as minhas perguntas:
                                                                   
1 - Se Café Filho achava que o seu cliente poderia ser morto naquele dia como tomou conhecimento se ele não era detetive, psicólogo ou outra coisa parecida?  

2 - Se ele iria em  seu carro  atrás da escolta para acompanhar o seu cliente, por que lhe causaria medo? Foi criada uma história como desculpa que era queima de arquivo se ele acompanhasse a escolta e fosse assassinado.

3 - Qual o motivo da Dona Maria Egilda a mãe de Chico Pereira ser alvo dos militares, se ela tivesse ido apanhar o cadáver do seu filho, já que o verdadeiro marginal era o filho e não ela? 

Desculpa-me Café Filho, mas o senhor conhecia bem o malabarismo dos policiais. No meu entender, o senhor estava envolvido nessa trama. Essa é que é a verdade. E sendo o senhor advogado, saiu-se muito bem obrigado!

Fonte de Pesquisa: No texto de Ivanildo Alves da Silveira, Volney Liberato e José Romero Cardoso de Araújo.

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05 março 2023

O CANGACEIRO ZÉ SERENO OUVIU POR AÍ QUE LAMPIÃO FOI ENVENENADO NA GROTA DO ANGICO, E LOGO APARECEU COM A SUA INVENCIONICE.

 Por José Mendes Pereira

Muito foi falado sobre a morte do capitão Lampião, quando dizem até que ele fugiu do cerco policial, que o mataram envenenado e coisa e tal, fatos que nunca foram comprovados pelos pesquisadores, escritores e cineastas. 

Sobre o envenenamento de Lampião e de alguns facínoras, incluindo a sua bela rainha Maria Bonita, o cangaceiro Zé Sereno que era um dos homens de confiança do capitão, em entrevista ao Correio da manhã, do Rio de Janeiro, do dia 28 de julho de 1971, caderno Anexo, recordando a tragédia de Angico, fala o seguinte::

- O coiteiro (Pedro de Cândido) chegou com os alimentos envenenados a mando da volante, menos três litros de pinga que, normalmente, ele próprio, o coiteiro, deveria ingerir em pequenas doses para provar sua confiança (...) minha suspeita com Pedro de Cândido confirmou-se depois que ele se foi (...)  Apanhei um LITRO DE VERMUTE Cinzano e notei um pequeno buraco na rolha, provavelmente feito por uma seringa. Chamei Lampião e disse-lhe: o senhor é cego de um olho, mas pode ver que esta bebida está envenenada.

LAMPIÃO NÃO PRECISAVA DE SER CHAMADO A ATENÇÃO!

Na minha pouca sapiência sobre o cangaço, não tenho como acreditar no que disse o cangaceiro Zé Sereno, que o capitão Lampião e seus comparsas foram envenenados, e se ele  caiu na armadilha, porque não fez vistoria na tampa do litro de vermute cinzano, quando ele chamou e lhe mostrou que a rolha tinha um pequeno buraco? 

Vejam bem:

O coiteiro Pedro de Cândido (na época) era muito jovem ainda, mas não seria maluco para tentar enganar uma fera humana como era Lampião. Imagina depois que Zé Sereno chamou a atenção de Lampião sobre um suposto envenenamento, e se o capitão tivesse obrigado o Pedro a ingerir um pouco da bebida? 

O próprio Zé Sereno disse que era obrigatório ele experimentar as comidas etc, e por que Lampião não obrigou Pedro beber um pouco do vermute cinzano, como prova da sua confiança para com ele e o bando de facínoras?

O amigo Zé Sereno criou esta história para aparecer diante dos jornalistas do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, fundado por Edmundo Bittencourt. Foi um periódico brasileiro, que em sua primeira fase foi publicado entre 15 de junho de 1901 e seu término foi em 8 de julho de 1974Como o jornal era famoso, melhor seria para Zé Sereno aparecer nas colunas de um jornal que era conhecido no Brasil inteiro.

Informação ao leitor: 

Os meus trabalhos não prejudicam escritores, pesquisadores e nem tão pouco os cineastas que organizam a literatura cangaceira. 

Não tenho conhecimento suficiente sobre cangaço para duvidar dos que pesquisaram e continuam pesquisando nas fontes, isto é, onde aconteceram os conflitos cangaceiros. 

Eu me refiro apenas sobre alguns depoentes que não falaram a verdade.  As minhas inquietações são sobre eles.

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04 março 2023

BARBARIDADES AOS TROPEIROS

  Por José Mendes Pereira

Alcino Alves Costa conta em seu livro “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”, que noutros tempos, o pequeno povoado Bahia, no Estado de Sergipe, foi um dos que mais abrigou sertanejos. Estes fugiam das perseguições policiais, que não davam espaço para os camponeses, por fazerem constantes ataques aos cangaceiros nas regiões nordestinas, principalmente em Sergipe, Alagoas e Pernambuco.   

Como o tenente Zé Rufino era comandante de uma volante do governo, sendo ele poderoso na lei e na sua vontade própria, usava e abusava do cargo que lhe fora confiado, uma vez que era apenas subordinado a um dos seus amigos, João Maria de Carvalho, sendo este chefe geral das forças policiais do governo, e se o seu superior não o castigava pelos os seus erros, claro que ele continuava maltratando as pessoas pobres.                                        

Era do conhecimento de todos que o comandante Zé Rufino e seus subordinados, não se cheiravam bem com a matutada, pois existia um boato que os sertanejos espionavam os seus passos, quando muitas vezes matavam pessoas inocentes por puro prazer. E quando assassinavam bandidos, principalmente cangaceiros, sem nenhum constrangimento, decepavam as suas cabeças, só para serem considerados valentes e receberem simbolicamente troféus.   Temendo que os bandos fossem aumentando a quantidade de cangaceiros, Zé Rufino apoderou-se de um ódio contra a três rapazes que haviam chegado para residirem em Poço Redondo. Um deles era o jovem João, filho de um senhor chamado Terto. Ainda o Zé de Emídio, filho do nomeado Emídio, e um irmão do cangaceiro Diferente, alcunhado por Zé Grosso.  

Como em todos os lugares existe fofocas, não era de admirar que lá em Poço Redondo também surgissem mentiras ou verdades.  E quem inventou essa, ninguém sabia. Mas o mais árduo foi que a conversa tão mentirosa saiu alastrando todos os lugares, que os três rapazes estavam se preparando para se incorporarem ao bando de Zé Sereno. Como a mentira anda mais rápida do que a verdade, o tenente Zé Rufino ao tomar conhecimento, deu plenos poderes ao cabo Artur para arquitetar uma maneira muito inteligente e assassinar os três jovens, não dando chance a eles se aliarem aos cangaceiros, pois os eliminando antes de se firmarem no cangaço, não aumentaria mais bandidos.                                                      

Assim que Zé Rufino deu poderes ao cabo Artur para chaciná-los, de imediato deu-se pronto. Mas depois, duvidoso, pôs-se a si interrogar: Por que matar João de Terto, um jovem que quando chegava a Serra Negra não saía de sua casa, passando todos os momentos possíveis debaixo da saia de suas irmãs? Por que matar João de Terto que era como se fosse uma verdadeira moça? Ele, matar este rapaz, de jeito nenhum! Não iria cometer uma atrocidade desta contra um jovem que não tinha nem aparência de um homem violento. E agora, o que faria ele para não matá-lo? Os outros dois já estavam na mira de sua arma. Mas o João de Terto, de jeito nenhum o mataria.                                                                

O cabo Artur não querendo fazer a morte do rapaz como havia recebido ordem do seu comandante, tomou uma decisão sábia, mas bastante arriscada. Como ele tinha bom relacionamento com a mãe de João, a dona Mãezinha, resolveu lhe dizer por baixo de sete capas as maldades de Zé Rufino contra o seu filho. E assim que dona Mãezinha tomou conhecimento do futuro extermínio do filho, ficou desesperada. Ficou sem saber o que fazer, uma vez que o cabo Artur fora generoso com a sua pessoa, dizendo-lhe as intenções maldosas de Zé Rufino. Mas não se aguentando, e não podendo tomar decisões próprias, foi de imediato à presença do chefe geral da polícia, João Maria de Carvalho. E lá comentou o que soubera das intenções do tenente contra seu filho João. Preocupado e não querendo desrespeitar a ordem de Zé Rufino, apesar de ser um dos seus subordinados, decidiu o seguinte: Mandar João e o seu pai Terto para trabalhar em sua Fazenda São Bento. Só assim eles ficariam protegidos contra os balaços das armas do cabo Artur, uma vez que ele não queria assassinar o rapaz de Terto.                           

Zé Rufino logo foi informado sobre a proteção que os dois haviam recebidos, filho e pai.  Mas a verdade era que ninguém sabia se houve uma combinação, isto é, uma jogada entre o coronel Zé Rufino com o chefe João Maria de Carvalho. Ou então, sem querer criar problemas com o seu superior, o tenente fingiu que não sabia de nada. Como um dos marcados para morrer já tinha sido acobertado pelo chefe superior, e que não teria mais chance de assassiná-lo, o tenente Zé Rufino ordenou que dois de seus subordinados, Doutor e o dito cabo Artur, fossem procurar Zé Grosso lá na Serra Negra. Lá, não se demoraram em fazer a chacina, pois o Zé Grosso foi surpreendido com dois infelizes tiros, falecendo ali mesmo.

Como a mentira tem a perna curta, dias depois os boatos que haviam surgidos nas calçadas pela vizinhança, que Zé Grosso e Zé de Emídio iriam entrar para o cangaço, a verdade apareceu. Ambos, jamais tinham pensado em algum dia serem cangaceiros. Mas o que foi protegido pelo João Maria, o João de Terto era um dos convictos que um dia iria entrar na volante do governo. Na finalidade de fortalecer seus amigos de Poço Redondo.  

MORTE REALIZADA, VINGANÇA FEITA.                                                                                                       

Mas como uma morte por crime sempre acontece outra semelhante, a vingança feita pelo irmão cangaceiro, não tardaria. E logo que o assecla Diferente tomou conhecimento da morte do seu irmão Zé Grosso, caiu em pranto. Entristecido, incentivou os comparsas para invadirem e descontarem em cima de Serra Negra. Mas o seu pedido no momento foi rejeitado. Os asseclas o alertaram que não colocasse a charrete na frente dos cavalos. Tivesse paciência. Pois a população daquele povoado iria pagar caro com uma horrorosa vingança. Mas Diferente estava muito sentido e não queria que se demorasse, pois tinha que lavar a honra do seu irmão também com sangue.                                                             

E quais seriam as vítimas mais fáceis? Nada mais, nada menos do que os trabalhadores de um agropecuarista chamado Galdino Leite. Estes eram os comboieiros que transportavam algodão em tropas para os avantajados armazéns do coronel Joaquim Resende, lá do Pão de Açúcar. (Aquele, leitor, que se reuniu com o capitão Lampião lá na Fazenda Floresta).                                        

O período em que aconteceu este episódio, foi no ano de 1936, e nesse dia, era um sábado. Lá na casa do agropecuarista os comboieiros se encontravam todos aglomerados e prontos para a partida em direção à feira de Curralinho.                                                

Como os cangaceiros sabiam a hora em que todos partiriam para os Armazéns do coronel Joaquim Resende, escolheram o lugar. E por lá, armaram as tocaias e se recolheram para esperarem suas vítimas. Os companheiros que juntamente com ele iriam fazer a chacina eram: Os cangaceiros Beija-Flor e Coidado.                            

Como o plano já tinha sido bem elaborado, estudado e calculado, os três asseclas tinham certeza de que fariam um bom trabalho sem complicação alguma.      

E lá nos esconderijos, sem muita demora, alguém pôs o focinho em direção ao local em que eles estavam. Observaram cuidadosamente para não se enganarem. E logo perceberam que era Agenor Pitomba, um senhor que ganhava o seu pão de cada dia através do seu acordeom, fazendo festas nas regiões adjacentes. Como não era o alvo, os facínoras deixaram-no caminhar tranquilamente.                                                             

Com alguns minutos passados, um por um foi passando, e sem menos esperarem, os asseclas saíram das tocaias.  As três armas olhavam para os tropeiros e todos ficaram surpresos com o que estavam presenciando. O que a final eles tinham feito contra aqueles cangaceiros? Com certeza, os asseclas estavam equivocados. E pelo que observaram não era brincadeira. Aquilo que se passava no momento era além de sério.                           

Temendo a morte, um tropeiro humilhou-se, pedindo-lhes que não os matassem, uma vez que não tinham culpas com o que fizeram com o seu irmão. Mas Diferente não estava ali para ouvir desculpas de qualquer um. E sem muita demora, ordenou que três deles iriam morrer.  Mas um ficaria vivo para contar a história lá na Serra Negra. Os quatro homens ficaram atordoados. Não existia nenhuma forma de reagirem e se salvarem daqueles cobradores de justiça injusta.  E qual dos quatro ficaria com vida? Quem iria contar a trágica história acontecida com os que morreriam? A sentença não seria voltada atrás. Com certeza três deles já tinham certeza que iriam devolver as suas almas a Deus.                                         

Assim que tomaram conhecimento das suas mortes, se sentiram desprezados pela força divina. E sem mais querer perder tempo, pensando se matava ou se soltava, Diferente disparou sua arma e derrubou um senhor chamado Manezinho Izidório. Beija Flor e Coidado, não esperaram por uma ordem de Diferente, atiraram em Miguel Casimiro Carlos e Antonio Pedro. E ali, todos caíram mortos. Diferente, irado, olhou para o último, dizendo-lhe que corresse antes que ele se arrependesse e o matasse também. E que dissesse lá na Serra Negra, que Zé Grosso tinha um irmão e era além de macho. Nessas alturas, sem mais esperar outra ordem de Diferente, o último dos quatro, o comboieiro Silvino se embrenhou às matas no seu sofrido animal. O seu desejo era sair dali o quanto antes possível, já que três haviam partido para p além.

Diz Alcino Alves que a população ficou alvoroçada. Mas como vingar aquele assassinato? Os cangaceiros eram quem ditavam as leis nas regiões sertanejas com o poder das suas armas. Qualquer um que tentasse impedir atos de crueldades e depredações deles podia ficar sabendo que o seu enterro era naquele mesmo dia. Com cangaceiros não se brincava.

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01 março 2023

LIVINO O CANGACEIRO IRMÃO DE LAMPIÃO

  Por José Mendes Pereira


Livino Ferreira da Silva é irmão do cangaceiro capitão Lampião, e é o segundo filho de dona Maria Sulena da Purificação com o pacato fazendeiro José Ferreira da Silva ou dos Santos, e é o primeiro de José Ferreira com dona Maria Sulena da Purificação.

O primeiro filho de dona Maria Sulena é o Antônio Ferreira da Silva, que na literatura lampiônica ele aparece como sendo filho de um fazendeiro de nome Venâncio. 

Antônio Ferreira da Silva irmão de Lampião
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Mas o escritor e pesquisador do cangaço José Bezerra Lima Irmão, afirma em seu livro "Lampião A Raposa das Caatingas", que Antônio Ferreira também era filho de José Ferreira, sendo ele o primeiro do casal. Como ele soube desta informação? Soube através da Certidão de Casamento do casal, e ele garante que tem em mãos documentos que comprovam isto.


Adquira-o com o professor Pereira através deste e-mail:

 franpelima@bol.com.br

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28 fevereiro 2023

AMIGO É UMA PALAVRA QUASE MORTA Por:Alcino Costa.

  

Alcino Costa e Juliana Ischiara
 
Amigo é uma palavra quase morta. Palavra que praticamente já caiu no mais absoluto desuso no meio da sociedade brasileira destes novos tempos. Pobre daquele que ainda guarda em seu sentimento as virtudes da afeição e do apreço. Infeliz é aquele que carrega, nos dias atuais, a sensibilidade de ser sincero, cortês e parceiro leal das horas boas e ruins.

Ser amigo nestas novas eras da modernidade é ser ultrapassado, cafona e conservador. É ser rotulado de alguém que com sua pouca ou nenhuma inteligência não soube acompanhar as mudanças, transformações e evoluções do viver dos povos da era das grandes conquistas e notáveis feitos da ciência e da tecnologia. É assim que o mundo da inversão de valores em que vivemos classifica aqueles poucos que ainda guardam em seus espíritos o ideal sublime da confiança e da fidelidade.
Ser confiável, procurar ser digno e honrado, buscar normas que demonstre grandeza de caráter são valores que não mais merecem nenhuma deferência no mundo cão e medonho em que vivemos. Coitada daquela pessoa que se preocupa em ser correta em suas atitudes e em seus atos, pois elas não são levadas em consideração e nem classificadas como merecedoras de crédito e respeito. Vivemos num ambiente de extrema insensatez que já não permite que um ser humano arroste todos os percalços para ficar ao lado de um amigo quando ele caiu e se encontra na desgraça e jogado na rua da amargura, no abandono e no desprezo.


Contrapondo a esses valores do companheirismo e da lealdade entre os homens, existe, desde muitos anos, o poder maligno da subserviência, da mentira e do fuxico que, numa guerra infinda, vem tentando – e conseguiu – se impor e vencer a sinceridade e a amizade, jogando estes valores para a valeta onde vivem aqueles que são catalogados como antiquados e ignorantes.

Subserviência, mentira e fuxico são três flagelos que aprisionaram a dignidade e o respeito humano, jogando-os nas masmorras da insanidade daqueles que aceitam essas desgraças e as transformam em bandeira de grandiosa relevância e que tremulam nos gabinetes e escritórios, palácios e prefeituras; enfim, em todos os segmentos sociais que sucumbiram bisonhamente perante este poder maléfico que tem a magia de fazer com que a mentira se torne verdade; o dissimulado em pessoa verdadeira e acreditada; o desonesto em alguém sincero e honrado; o falso e traidor num cidadão justo e respeitável.

É muito fácil distinguir os portadores dessas maléficas desditas. Se você tem em seu poder algum cargo ou posição de destaque em qualquer setor da sociedade, o bajulador procura se encostar de mansinho, cheio de agrados e boas maneiras. A armadilha é simples, porém de uma eficácia impressionante. Conforme o aparecer das ocasiões o “cheléleu” aproveita os momentos propícios para jogar a isca tão cuidadosamente preparada. Quando isto acontece o caminho está aberto para seu projeto danoso.
Se o puxa-saco for do interior a tática é manjada mais que tem ultrapassado com certa facilidade e grande êxito todos os obstáculos; conseguindo, assim, excelentes resultados. A primeira providência é presentear “o chefe” com um queijo, um litro de mel, alguns quilos de camarão ou pitu, e tudo mais que possa ser do agrado do paladar e do ego do detentor do poder ou de alguma influência nos meios políticos e sociais. Quando isto ocorre à meta foi alcançada e o adulador consegue coisas inacreditáveis, especialmente se essas coisas tenham como finalidade perseguir e, muito mais que isso, destruir pessoas e adversários políticos.

É assim que o fuxiqueiro age. Com muito jeito e carinho o chaleira afaga o ego e a vaidade daquele que ao subir no pódio das grandes conquistas políticas e sociais entra também na bolha fantasiosa e fantástica da grandeza e da soberbia. É certo, o detentor do poder voa extasiado pelo mundo colossal, falso e imaginário dos sonhos e das ilusões. E nesse transe visionário – de humano para divindade –, jamais irá perceber que o adulador é uma serpente que tem como único objetivo inocular o seu terrível e mortal veneno em seus anseios de grandeza e com ele espalhar a discórdia dentro das hostes de uma estrutura política ou social. E lá, do alto de sua frágil e falsa bolha, aquela autoridade se rende ao encanto da adulação, do fuxico e da mentira.

Ser puxa-saco é um ofício antigo. Nos idos de Jackson do Pandeiro, o nosso célebre “Rei do Ritmo” já cantava sobre esse reles ser humano. Cantava assim:

Vou arranjar um lugar de puxa-saco
Que puxa-saco tá se dando muito bem
Tô querendo é chalerar, eu não quero é trabalhar,
E fazer força pra ninguém...

Aqui das lonjuras do Sertão do São Francisco, dos ermos caatingueiros do meu Poço Redondo, eu rogo a Deus que através de Vossa infinita bondade faças com que as autoridades, os poderes constituídos, todos enfim, procurem se livrar da maldição que carrega em seu bojo as pestes chamadas bajulação, mentira e fuxico. É com infinita tristeza que carrego a certeza de que nos dias atuais ser amigo é ser uma besta quadrada e ser bajulador, mentiroso e mexeriqueiro é ser confiável e acreditado.

Publicado no dia 13 de fevereiro de 2007, no JORNAL DA CIDADE, Aracaju 
Alcino Alves Costa - O Caipira de Poço Redondo

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27 fevereiro 2023

EM 2014 FALECEU O CANGACEIRO VINTE E CINCO.

 Depos de Neco de Pautilia, a memória do cangaço perde mais um ícone. Faleceu hoje 15 de junho, na capital alagoana José Alves de Matos, o ex cangaceiro "25". Aos 97 anos de idade, 'Vinte e cinco' era "oficialmente" o último ex-cangaceiro vivo. Dos remanescentes do cangaço "lampionico" resta apenas Dulce que foi companheira do cangaceiro "Criança".


Aposentado como funcionário público estadual, ao longo dos anos o ex cangaceiro recebeu visitas em sua residência  para falar do seu tempo de cangaceiro. O que ajudou a costurar a história desse movimento tão complexo.


Vinte e cinco

Vinte e Cinco era de uma família numerosa, sendo oito irmãos e seis irmãs. Do segundo casamento do seu pai nasceram mais cinco homens e três mulheres. Teve vários primos e sobrinhos com ele no cangaço, tais como: "Santa Cruz", "Pavão", "Chumbinho", "Ventania" e "Azulão 3". No dia que entrou para o bando de Corisco o seu sobrinho Santa Cruz era aceito no grupo de Mariano.
 

Por conta de uma discussão com a cangaceira Dadá saiu do grupo de Corisco para o grupo de Lampião. 

No fatídico 28 de Julho de 1938 ele não se encontrava entre o bando porque havia sido incumbido de ir junto com os dois irmãos Atividade e Velocidade buscar uns mosquetões e umas munições.

 Na ocasião das entregas junto com vários cangaceiros.


Após a morte de Lampião Vinte e cinco se manteve escondido até se entregar as autoridades em novembro de 1938 junto com outros cangaceiros. Permaneceu preso por quatro anos em Maceió e dentro da cadeia começou a estudar, quando recebeu o alvará de soltura conseguiu através de um amigo emprego no estado como Guarda Civil. Quando o governador Ismar de Góis  Monteiro descobriu que ele havia sido cangaceiro convocou o secretário de Justiça do Estado, o senhor Ari Pitombo e disse que não podia admitir um criminoso na guarda ja que ele havia sido cangaceiro, o secretário procurou o chefe da guarda, o major Caboclinho que afirmou com toda convicção que entre os 38 guardas José Alves era o melhor profissional entre eles. 
 

 Vinte e Cinco, Cobra Verde e Santa Cruz
a disposição da justiça.


O Secretário resolveu fazer um concurso entre os guardas e José Alves contratou duas professoras. Esqueceu as festas e curtições e foi estudar bastante o que lhe rendeu o primeiro lugar na primeira fase, na segunda fase se classificou entre os melhores mas quase foi reprovado justamente na "prova" de tiro, pois era acostumado com a Parabellum e teve que atirar com um revolver 38, abriram uma exceção para o candidato que então conseguiu provar sua habilidade e destreza. Atirando com uma parabellum ele acertou o alvo, depois de duas sequencias de erros com a outra arma. 

Segue abaixo uma entrevista concedida a Antonio Sapucaia para o Jornal Gazeta de Alagoas edição de 16 de setembro de 2012.

José Alves de Matos, o conhecido ex-cangaceiro “Vinte e Cinco”, que por cinco anos integrou o bando de Lampião.

Era casado com Maria da Silva Matos desde 1959, pai de uma prole de sete filhos, entre os quais há dentista, economista, assistente social, técnica de saúde e uma funcionária pública federal. Acerca do casamento, dizia que acreditava no destino, considerando que a esposa nasceu em 1938, exatamente no ano do extermínio do grupo de Lampião; ambos não tinham pai nem mãe, e o matrimônio, realizado em Maceió, já dura 55 anos de felicidade.

Considerava-se um homem de bem com a vida, não se arrependeu de nada que fez, principalmente no tempo de cangaceiro, de cuja época dizia ter saudades, “porque ali todo mundo era tratado como igual e todos eram amigos confiáveis. A vida era bastante complicada”, disse com certo ar de tristeza, “mas era muito boa, e se havia momentos de agonia, os momentos de alegria e de prazer eram maiores"

Nascido no dia 8 de março de 1917, em Paripiranga, na Bahia, ingressou no mundo do cangaço aos 16 anos de idade, no dia 25/12/1933, razão porque Corisco o apelidou de "Vinte e Cinco". 


“Ao ingressarem na vida do cangaço”, “todos esqueciam os seus verdadeiros nomes e a partir daí passavam a ser conhecidos pelos apelidos que recebiam. Também recebiam ordem de manter o máximo de respeito entre eles, pois seriam tratados como verdadeiros irmãos e irmãs. Se alguns deles se dispersavam do bando, após algum tiroteio, mesmo que fossem homem e mulher, havia respeito total entre ambos, até que novamente o grupo se reencontrasse. Uma coisa que Lampião fazia questão de manter, aumentando o vigor da voz, era o respeito absoluto entre todos”.

Vinte e Cinco confessou: 

A Polícia era cheia de analfabetos, havia oficial que não sabia sequer atender a um telefonema. Além disso, eram excessivamente violentos, e foi essa violência desmedida que levou muitos jovens a ingressar na atividade do cangaço, entre os quais eu me incluo”.

E continuou: 

“Os policiais, conhecidos como macacos, chegavam à casa dos agricultores e indagavam se Lampião havia passado na localidade; se a resposta fosse negativa, eles apanhavam porque poderiam estar mentindo; se a resposta fosse positiva, apanhavam ainda mais porque não informaram, antes, sobre a presença deles no local”.

A respeito do seu ingresso na vida do cangaço, respondeu: 

“Havia uma família que tinha parentes na Polícia, e fez uma denúncia de que a nossa tinha admiração por Lampião. Daí, terminaram dando uma pisa em um sobrinho meu, que passou três dias acamado. Dias depois, encontramos com um membro dessa família, que já não gostava do meu sobrinho por causa de uma namorada, terminou havendo uma briga entre nós, pelo que fiquei foragido durante dois anos, carregando como lembrança uma cicatriz na cabeça, cujo ferimento foi curado com pó de café”.


“Ao regressar, fui a uma feira colocar sola em um sapato, cujo sapateiro era cabo da Polícia, de nome Passarinho, que me reconheceu. Terminei preso durante doze horas e, como consequência, resolvi fazer parte do bando dos cangaceiros onde eu já tinha cinco parentes. Mantive contato inicialmente com Corisco, que chefiava um grupo, tendo-o encontrado junto com Dadá, sua companheira, e um cachorro de nome ‘Seu Colega’”.

Vinte e Cinco recordou que vez por outra Lampião pedia a Corisco que o colocasse à sua disposição e, em meio a essas oportunidades, terminou ficando com o Rei do Cangaço, até quando ocorreu a chacina de 28 de julho de 1938, em Angico, no Estado de Sergipe.

O regime que imperava no cangaço era rigoroso, mas todos viviam satisfeitos. Não faltava comida – carne de bode, carneiro, boi, farinha, sal, queijo –, uma vez que os fazendeiros ordenavam aos vaqueiros para abastecer os grupos, o que não acontecia com relação aos que faziam parte da Polícia. Do mesmo modo, não faltavam bebidas, mas aquele que as adquiriam era obrigado a experimentá-las antes de serem servidas a Lampião.


Escritor Sérgio Dantas, em visita à "Vinte e cinco"


A propósito – lembrou Vinte e Cinco – Lampião quando passava em lugar que não tinha aguardente ou conhaque, ele deixava dinheiro com alguém para que os produtos fossem comprados. Tinha mais: orientava no sentido de que as bebidas fossem enterradas no quintal da casa, bem arrolhadas, e que um dia retornaria para degustá-las.

Sabe-se que certa vez Lampião deixou alguma importância com determinada mulher para a compra de bebidas e, dias depois, retornou para saboreá-las. Antes de ingeri-las, pediu à mulher que as experimentasse, o que foi recusado por ela. A mulher terminou confessando que a Polícia a havia obrigado a colocar veneno na aguardente. Depois de perguntar como é que a Polícia soube que a bebida estava enterrada no quintal, mandou que a mulher ficasse despida, saísse correndo e se abraçasse com um pé de mandacaru que estava mais adiante.

Nada faltava ao grupo, conforme relata Vinte e Cinco. Havia alegria, principalmente em razão de alguns tocarem realejo, e dinheiro também não faltava, distribuído por Lampião, periodicamente, não sendo verdade que recebiam semanalmente importância fixa, como já foi noticiado.

Não faltavam mulheres para a prática sexual, pois alguns tinham as suas companheiras no bando. Para os solteiros também não faltavam mulheres, quando chegavam às fazendas, e muitas vezes eram mandadas para as suas companhias pelos próprios maridos, pois além de serem bem compensadas financeiramente, presenteavam-nas com brincos, cordão de ouro, anel etc. – relatou Vinte e Cinco

Os cachorros de nome “Seu Colega” e “Guarani” exerciam papel importante, haja vista que, além de serem adestrados para despertar a atenção do grupo quando algum estranho se aproximasse, muitas vezes comiam antes uma parte das comidas que seriam servidas aos cangaceiros para terem a certeza de que não estavam envenenadas.

Sobre Lampião, explicou que “era um tanto fechado, mas em alguns momentos se mostrava brincalhão. Era portador de uma espécie de enxaqueca e, quando amanhecia acometido do mal, falava muito pouco com a gente. Em nenhum momento ouvi dele dizer-se arrependido da vida que levava e, igualmente, nunca manifestou a intenção de abandonar o cangaço, como já foi dito por aí”. Era católico; das 4h30 da manhã para as 5 horas, os cangaceiros acordavam, colocavam os joelhos no chão e começavam a rezar.

Vinte e Cinco confessou que somente Lampião, Luiz Pedro e Quinta Feira sabiam quando e onde eram adquiridas as armas utilizadas pelos bandos. Algumas eram guardadas em ocos dos paus até que delas precisassem, mas era proibido perguntar onde eram adquiridas. Além dos chapéus de couro que portavam e dos apetrechos que conduziam, eram indispensáveis dois cobertores de chitão, um servia para forrar o chão e o outro para cobrir-se.



Barreira, Santa Cruz, Vila Nova e Peitica. 
sentados - Pancada, Vinte e cinco e Cobra Verde.

Vinte e Cinco participou de vários tiroteios, mas preferiu não relacioná-los, referindo apenas ao que ocorreu em Pedra d’Água, em Sergipe, quando morreu "Barra Nova". Nunca foi vítima de ferimentos graves, carregando nos ombros alguns arranhões que não lhe causaram mal algum. Recordou que "Barreira" que foi funcionário da Secretaria da Fazenda de Alagoas – degolou Atividade, colocou a cabeça em um saco e foi se entregar à Polícia.

Sobre Pedro de Cândido, diz que era o homem de maior confiança de Lampião, entre os coiteiros. Recorda que a intimidade era tanta entre os dois que havia uma certa ciumeira por parte dos cangaceiros, ou seja, ele “não entrou no espinhaço do grupo”, expressão que significava não simpatizar, não gostar do outro.

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