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09 março 2023

ÚLTIMA ATROCIDADE DO CARRASCO CORISCO

  Por José Mendes Pereira


Imagem da internet

Este texto é uma criação do saudoso escritor e pesquisador do cangaço Alcino Alves da Costa, apenas, com minhas palavras, sem fugir do assunto e nem aumentando fatos que não aconteceram, eu fiz a redação baseada nele, e você irá encontrá-lo (por sinal, uma maravilha de redação), no seu livro "Lampião Além da Versão, Mentiras e Mistérios de Angico". 

Encontre-o com o professor Pereira através deste endereço.
franpelima@bol.com.br

Quem não se lembra do afamado cangaceiro chamado Cristino Gomes da Silva Cleto?  Este nome nos lembra um grande cangaceiro. E na verdade, é ele mesmo, o temido Diabo Loiro, o Corisco.                                                                  

Se falarmos em Lampião, com certeza, lembraremos  deste imediatamente. Este homem era um grande astro do banditismo. Nascido no dia 10 de agosto de 1907, no Estado de Alagoas, no município de Matinha de água Branca                           

Na minha opinião, Não dá para a gente entender. Por que Lampião tinha tanta amizade a este cangaceiro, já que em toda sua vida de bandoleiro, as maiores desgraças que ele sofreu, foram causadas por gente do Estado de Alagoas? Foi em Alagoas que ele perdeu pai e mãe. Alguns coiteiros que haviam lhe traído eram de Alagoas. O seu matador em 1938, era Alagoano E por que tanta adulação com Corisco que também era de Alagoas. Será que o rei tinha medo do feroz Corisco?                                                   

De todos os cangaceiros, Corisco era o mais valente e de uma perversidade muito além da normalidade. E dentro do cangaço, os maiores beberrões eram: Corisco e Sabiá, Os dois cangaceiros viviam sobre o efeito do álcool, que quase todos os dias se encontravam totalmente embriagados.                                           

Conta Alcino Alves que o Corisco era um sujeito de boa aparência, atlético, alto, loiro e sobre tudo, um cabelo solto que o vento não o deixava em paz um só instante; chamando a atenção das mocinhas daqueles sertões nordestinos. Além desses adjetivos, Corisco era considerado um grande rei dos sertões.                             

Tantos adjetivos que lhes fazia um admirado homem, Corisco não havia nascido para ser líder, devido as bebidas que lhe atrapalhavam, o assecla não possuía o dom de vir a ser um dia capitão do cangaço. Não nascera para ludibriar os coronéis e donos de fazendas, pois isso, o rei Lampião tinha de sobra, sabia muito bem conquistar quem ele queria.        

Dadá cangaceira

Apesar dos seus defeitos Corisco teve a grande felicidade de colocar ao seu lado, a famosa suçuarana, como era conhecida no meio do cangaço, a verdadeira Dadá, uma das grandes guerreiras do cangaço nordestino, esta era pernambucana, lá de Belém de São Francisco-PE nascida entre o ano de 1914 ou possivelmente no ano de 1915. 

Com o desaparecimento do grande chefe Lampião e o fim da sua respeitada "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.", todos os sobreviventes dela acreditavam na possibilidade do Corisco assumir a vaga de chefe deixada pelo capitão, que  desde o dia 28 de julho de 1938, o trono havia ficado vago, e ninguém poderia opor-se ao direito do afamado Diabo Louro apoderasse da coroa do rei, já que ele havia sido abatido na Grota do Angico, nas terras de Porto da Folha, atualmente Poço Redondo, no Estado de Sergipe.                   

Corisco logo assumiu o comando da cangaceirada, mas por poucos dias, e entendeu que na verdade, não possuía condições e nem tão pouco qualidades para substituir o grande mestre do cangaço que foi o capitão Lampião.  

Lampião havia subido tantos degraus, conseguindo chegar ao pico mais elevado no que diz respeito a cangaço. Ninguém dali tinha condições de dirigir um cargo tão importante, que era o de administrar feras humanas, no amor fraternal, e mesmo na hora de punir severamente um companheiro. O trono deixado pelo capitão Lampião, ficaria sem substituto. A partir dali, cada um por si, e Deus ou o Diabo por todos. 

Quando aconteceu a grande chacina que levou o rei, a sua rainha Maria Bonita, e mais nove cangaceiros, além do volante Adrião Pedro da Silva, Corisco e seus comandados encontravam-se acoitados entre as fazendas Coidado (o nome desta fazenda era assim mesmo), e Emendadas.

O escritor Alcino Alves Costa diz no seu texto, e não houve nenhuma modificação por minha parte. É na íntegra: “-Uma estranha versão conta que nos últimos dias que antecederam o cerco, os famosos José Lucena e Aniceto Rodrigues, foram até o coito, com a finalidade de acertarem algo que poderia mudar os caminhos do banditismo com o falado Diabo Loiro”. Diz ainda Alcino: “-É esta visita misteriosa, um dos grandes segredos que cercam os fatos de Angico”.

Corisco temeroso e não querendo administrar aquelas feras humanas disse que não possuía qualidade para a importantíssima tarefa de ser o novo chefe, e cheio de ódio, revoltou-se contra os moradores da Fazenda Patos.  

Quando Joca Bernardes maldosamente informou ao perigoso cangaceiro, que o verdadeiro delator de Lampião tinha sido Domingos Ventura, Corisco foi a sua casa, e lá assassinou quase toda família do vaqueiro. Em seguida, maldosamente e apoderado de rancores, cortou as cabeças dos infelizes e mandou-as para Piranhas, endereçadas a João Bezerra ou ao prefeito João Correta Brito. E com elas, foi um bilhete dizendo: “Faça uma fritada com elas. Se o problema é cabeça, aí vão em quantidade”Com essa violência, estava mais do que comprovada a inabilidade do feroz cangaceiro.

Como o bom administrador de cangaceiros havia partido para a outra vida além, os bandos começaram as suas inquietações, desesperando-se por falta de apoio, já que Lampião não mais existia no meio deles, protegendo-os em todas as circunstâncias. E agora, que rumo iriam tomar? Para onde iriam? Muitos deles procuraram fugir para os sertões, como: Pitombeira, Zabelê, Lavandeira e Quixabeira decidiram partir para as terras do Ceará.  

Foto do capitão Aníbal Ferreira gentilmente cedida para o nosso blog pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio. - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2017/03/sabonete-o-secretario-particular-da.html

Outros foram de encontro a boa vontade do capitão Aníbal Vicente Ferreira, um grande e piedoso dos órfãos de Lampião, o comandante policial das forças baianas, com sede na cidade de Jeremoabo, e lá se entregaram às mãos deste, para serem julgados, como fizeram os grupos de Zé Sereno, Juriti e muitos outros. Por último, o cangaço do antigo Virgulino Ferreira da Silva, o rei Lampião, estava totalmente vencido, havia chegado o final de sua desastrosa jornada. 

O perigoso Corisco resolveu não se entregar, e continuava tentando sustentar o movimento do velho e amigo companheiro Lampião. Dizia por ande andava, que jamais deixaria aquela vida, pois já estava acostumado das correrias, livrando-se das volantes a toda hora. Para ele era o seu amado divertimento, e só a morte o afastaria das caatingas sertanejas. Mas via que o rei Lampião lhe fazia muita falta. Sem ele, o cangaço havia acabado de uma vez por toda a sua importância. 

Desesperado e costumeiramente embriagado, deu início a uma maneira de tentar resolver os seus problemas financeiros urgente. Preocupado por ter ficado órfão, pois o pai que muito lhe protegia havia partido para eternidade, tornou-se ainda mais perverso e homicida. Sentado no seu pequenino coito, pôs-se a pensar o que fazer. E logo chegou o momento de humildemente precisar daqueles antigos contatos do grande e insubstituível chefe Lampião. Como arranjar alimentos dentro daquela caatinga? Com quem iria arrumar dinheiro para as suas necessidades que o assolavam? Como adquirir munições para recarregar as suas armas e garantir vitória na hora dos combates?

E logo lhe veio a lembrança dos velhos e amigos coiteiros, fazendeiros, aqueles que quando ele precisava, todos  supriam as suas necessidades,  jamais algum deles havia lhe negado. Principiou fazendo cartas e mais cartas, solicitando recursos para dar continuidade aos seus trabalhos, apesar de desastrosos, mas era um trabalho que não podia parar de uma vez. O bando e ele precisavam das ajudas dos companheiros. 

Mas o famoso Corisco estava completamente enganado! Sim Senhor! Suas cartas começaram com respostas negativas. Ninguém mais dava a menor atenção aos seus escritos.  O cangaço e Corisco, com a morte de Lampião, estavam desmoralizados, os amigos de antes, não lhe tinham um tico de respeito.

Envergonhado, Corisco deixou o Estado de Alagoas, a sua terra e foi tentar em Sergipe.  Lá, procuraria velhos coiteiros e amigos fazendeiros, e com certeza, poderia arrecadar algum dinheiro. As necessidades estavam lhe atrapalhando, pois não tinha mais dinheiro, e nem tão pouco, coiteiros amigos. Tudo que havia arranjado no cangaço, eram as suas belas cédulas, ouro, mas não queria, de maneira alguma, se desfazer de suas notas e nem do seu pesado ouro, que cuidadosamente, carregava-os no seu bornal. 

Logo que entrou em Sergipe procurou o coiteiro chamado Sinhozinho de Néu Militão e por ele, remeteu cartas para os senhores: Camilo Laurindo, Luiz Antonio Militão, Manoel do Brejinho e outros grandes fazendeiros das regiões dos municípios de Monte Alegre, Porto da Folha e Poço Redondo. Mas, como o cangaço havia sido morto juntamente com o seu ex-chefe e compadre, os fazendeiros não deram nenhuma importância às solicitações. Sinhozinho, destemido ou por idiotice mesmo, saiu espalhando e galhofando das cartas e das solicitações de Corisco, e a negativa dos fazendeiros; a todos que ele encontrava no município, conversava sobre isso. Sinhozinho iria pagar por ter feito a fofoca, passando para as bocas fofoqueiras que lá no município daquela região não faltavam. 

Assim que ficou sabendo do desrespeito do Sinhozinho contra a sua pessoa Corisco enfureceu-se, dizendo que Sinhozinho de Néu, iria pagar pelos boatos que ele havia espalhado no município. E não o perdoaria de jeito nenhum. A morte de Sinhozinho iria acontecer a qualquer momento. Era questão de oportunidade.                                      

O coiteiro Sinhozinho, tomando conhecimento das ameaças de Corisco, foi passar alguns dias em Porto da Folha, deixando sua moradia em Monte Alegre, e o gadinho levou para a fazenda Chafardona. Mas o vaqueiro não precisava ter saído de sua casa, porque, ou mais cedo ou mais tarde, Corisco não o perdoaria, e com certeza, vingaria com sangue a sua fofoca.                                                                                     

Lá, Sinhozinho não conseguiu se demorar muito em sua cidade natal que era Porto da Folha, sendo obrigado a voltar por um motivo qualquer.  Dias depois, retornou aos velhos campos que ora deixara pressionado pelo cangaceiro Corisco.  Sua casa ficava mais ou menos a um quilômetro de Monte Alegre. Lá existia um pequeno curral, e sempre que podia, ia lá chiqueirar os bezerros. Como ele estava na mira do cangaceiro, e temendo algo, chamou um  amigo de nome Santo Velho, e foram caçar o gado. Assim que o encontrou, levaram-no para o curral, prendendo-os.

Fazendo caminhadas próximo ao curral, Sinhozinho descobriu umas pegadas de várias pessoas. Não tendo certeza do que se tratava, chamou Santo Velho e  mostrou os rastros, estes não sendo poucos. Ao ver, o companheiro disse-lhe: - Estes rastros ou são de cangaceiros ou de soldados. Apoderaram-se de um medo invencível, e às pressas, procuraram tanger o gado. Sinhozinho que na verdade era o que estava marcado para morrer,  com agilidade, abriu a porteira e partiram em direção a casa. No meio da malhada, Sinhozinho observou que uma das vacas estava com o úbere já precisando ser mungido. Este, disse a Santo velho que precisava ordenar a mesma para não correr o risco de as tetas infeccionarem. Com isso, tomaram a frente do gado, e em seguida, retornaram para o curral. 

Ao chegarem conduzindo o gado, Sinhozinho arriou a vaca, e deu início a tirada do leite. Mas não levando sorte os cangaceiros chegaram à porteira. E quem eram eles? Era Corisco e seu bando. Sinhozinho estava totalmente frito, pois logo, talvez, iria conhecer o outro mundo. Não tendo como fugir, Sinhozinho ficou parado, ainda acocorado, sem dar nenhuma palavra. Não havia mais jeito. O desgraçado que antes havia lhe prometido a vingança tinha chegado para fazê-la, e sem desistência alguma. Que má sorte, hein?                                                            

E sem demora, Corisco cheio de ódio e desejo de vingança, disse-lhe:

- Cabra safado, por que você foi dizer à polícia que eu tinha mandado cartas pedindo ajuda aos fazendeiros? – perguntou-lhe de cara feia o tenebroso Corisco.

Sinhozinho não respondeu nada, Se calado estava, calado permaneceu. 

- Por que você saiu mangando das minhas cartas, hein?  

Dadá, a suçuarana se adianta, dizendo para Corisco:                       

- Corisco, por que você ainda pergunta? Mate esse bandido sem vergonha -  ordena ela. E virando-se para um cangaceiro, disse-lhe: - Caixa de Fósforo, mate este cabra safado! Atire nele! Sem nenhum dó, o coitado tomou rumo para o outro mundo.  

Assim que o corpo de Sinhozinho caiu ao chão não esperaram que o mesmo morresse. E logo lhe cortaram a cabeça, e em seguida, botaram-na em uma gamela.  

Corisco virou-se para Santo Velho, ordenando-lhe:                                         

- Escute-me! Você não vai ser morto, mas eu quero que leve esta cabeça para o comandante do destacamento de Monte Alegre, o cabo Nicolau. Se você não entregá-la pessoalmente a ele, quando eu me encontrar com você, farei pior do que fiz com ele. Certo?                                                                                   

- Sim senhor! – confirmou Santo Velho tremendo-se de medo. 

- Eu vou procurar saber se esta cabeça chegou lá. Caso contrário, eu vou logo atrás de você para matar-te. 

E Santo Velho era doido de não levar a cabeça?  Santo estava velho, mas doido, não senhor! 

Amigo leitor, não deixa de adquirir o livro do saudoso escritor Alcino Alves da Costa - "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico". É uma obra de primeira categoria. Alcino Alves da Costa  redigia muito bem.

São 27 histórias que são bem narradas e gostosas para se fazer uma  excelente leitura. Esta história também está no livro.

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06 março 2023

O CANGACEIRO CHICO PEREIRA

  Por José Mendes Pereira

O cangaceiro Chico Pereira
Colorido pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Diz o pesquisador e colecionador do cangaço Dr. Ivanildo Alves da Silveira   que o coronel João Pereira, pai do cangaceiro Chico Pereira, morava em Nazarezinho, no Estado da Paraíba. Casara-se com dona Maria Egilda, e era proprietário de um sítio que ele mesmo o nomeou de fazenda Jacu. E além deste, era dono de um barracão onde vendia produtos alimentícios à vizinhança.
              
Do casal nasceram sete filhos, três mulheres e quatro homens, sendo os homens: Aproniano, Abdon, Abidias (faleceu em 2004 com 1003 anos), e o Francisco Pereira Dantas, o Chico Pereira. Como o coronel tinha mania de permanecer em seu comércio, mesmo depois do dia, nessa noite, o patenteado João Pereira ainda se encontrava de portas abertas, mas prestes a fechá-las. E sem menos esperar, recebeu a visita de três homens armados. Ao atendê-los, como sendo autoridade do lugar, sem usar autoritarismo, amigavelmente chamou a atenção deles, explicando-lhes que o uso de armas estava sendo proibido por uma lei municipal, aprovada em assembléia, que não permitia mais as pessoas perambularem armadas pelas ruas do lugar. Como o município havia criado essa lei, ele achava que os homens deveriam obedecê-la.
            
E sem imaginar que o seu conselho lhe custaria a vida, causou uma discussão acirrada, seguida de tiroteio dentro do seu barracão. No momento, a bagunça foi desastrosa, onde facadas, pancadarias e gritaria aconteceram no local, deixando alguns mortos e outros feridos. Inclusive o coronel João Pereira que tendo sido atingido por balas, foi conduzido às pressas para ser socorrido em sua residência, na fazenda Jacu, numa distância de mais ou menos cinco quilômetros. Como o socorro demorou, devido à distância entre o lugar onde ocorreu o crime e a sua residência, em consequência dos graves ferimentos, veio a falecer diante de sua família. Mas antes do último suspiro, ele fez um pedido aos filhos: que não fizessem vingança. Entregassem o caso às mãos de Deus. Estas foram as suas últimas palavras.   
                 
E já que ele estava caminhando para a eternidade, e não teria mais volta ao mundo, todos os seus filhos perdoassem o erro do seu agressor. Com certeza, o medo e a intenção do patriarca era que os seus filhos não sofressem nas mãos da polícia, se caso tentasse vingar a sua morte.                     
            
Após o enterro, como o coronel tinha boas amizades, a população revoltou-se contra o assassino do patenteado, e passou a exigir justiça urgente.                                                           

A polícia tomara conhecimento do assassinato, mas não se interessou de trancafiar o criminoso, chamado Zé Dias. Sentindo-se pressionado pela população, pedindo-lhe justiça, Chico Pereira que nessa época, ainda não era cangaceiro, sendo ele o filho mais velho do coronel, de vinte e dois anos de idade, deu início à procura de Zé Dias.            
            
O criminoso temendo ser justiçado pela morte que fizera procurou se ocultar nas serras. Mas depois de muita procura, dentro dos cerrados, finalmente Chico Pereira o encontrou. Prendeu-o e o levou à presença da polícia. Com essa façanha, ele foi considerado pelo povo do município como herói, que era o desejo de todos verem Zé Dias entre as grades para pagar o que fizera com o coronel João Pereira. Mas para a tristeza da população e o desgosto de Chico Pereira, por ter levado o criminoso à presença das autoridades para puni-lo, e não sendo justiçado, dias depois, o assassino já se encontrava em total liberdade, passeando livremente pelas ruas de Nazarezinho.                                 
            
A população que não se conformara com a atitude da justiça, colocando o criminoso em liberdade, iniciou um protesto, uma espécie de cobrança, e passou a exigir que o próprio Chico Pereira, como sendo ele o filho mais velho do coronel, com urgência, fizesse a vingança, assassinando àquele que havia exterminado a vida do seu pai.                  
            
Este, sentindo-se exigido pela população, e sem outra opção, se viu obrigado a não cumprir o pedido do pai. E partiu para fazer o contrário de João Pereira, a vingança, como era costume na época, honra familiar do sertão.                                 
            
Passado alguns dias, o criminoso Zé Dias foi encontrado morto nas terras paraibanas. Infelizmente, Maria Egilda ouviu do seu próprio filho, uma frase que mãe nenhuma deseja ouvir: "Mamãe, fizeram-me criminoso”.        
            
Ivanildo diz em seu texto que: Chico Pereira após ter feito a vingança, temendo ser preso, com agilidade, fugiu para as caatingas do nordeste, passando a viver embrenhado às matas da região.                                                            
Como não queria pagar pela sua vingança que para ele era além de justa, foi astucioso: pensou e  criou um bando de cangaceiros, e o pôs em prática, para se tornar fortalecido diante daquelas perigosas feras, o que na época, era um dos movimentos que os jovens muito se interessavam, praticando assaltos, mortes por onde passavam.            

Chico Pereira antes, talvez, não sei, não tivesse vontade de se tornar assassino. Mas depois que mataram o seu pai, no ano de 1922 (período em que Lampião recebeu das mãos do Sinhô Pereira o seu afamado bando), deu início a sua vida de bandoleiro, que segurou por seis anos, que dominava os sertões e fugia da polícia. No dia 27 de Julho de 1924, juntou-se a Lampião para atacar a cidade de Sousa, dando continuidade até o ano de 1928, quando foi assassinado.

Chico Pereira não usava chapéu quebrado na testa, nem gibão,... Seu jeito de ser, diz Ivanildo Silveira, é provável que tenha se espelhado em Tom Mix, em revistas norte-americanas que vez por outra chegavam às caatingas.  
            
Segundo o saudoso José Romero Cardoso o Jornal do Recife de 22 de novembro de 1927, citado por Frederico Pernambucano de Mello, disse que Chico Pereira não usava cabacinha d'água, chapéu de couro, preferindo um traje assim a herói do Far West, usando chapéu de massa, de abas largas, lenço vermelho ao pescoço, pesadas cartucheiras, calças colote e clássico punhal nortista traspassado à cinta. E que muito exigiu que seu código de honra fosse respeitado e conservado. Quando qualquer indivíduo tentava desrespeitar, com certeza, estava assinando uma sentença de morte.
            
Mas Chico Pereira tinha algo para cumprir. Apesar de já estar com mais de vinte anos de idade, mesmo diante de tantas decepções na vida e perseguições por parte das volantes, por ele ter matado o assassino do seu pai, estava uma moça chamada Jardelina de Nóbrega, com apenas doze anos de idade. E aos quatorze anos, já muito apaixonada, jardelina de Nóbrega noivara-se com o bandido.                       
            
Como Chico Pereira não podia estar presente à recepção matrimonial devido às perseguições da polícia, que não lhe dava trégua, o seu casamento foi realizado na igreja católica, através de procuração, autorizada em cartório local. Apesar de ser  cangaceiro, vivendo exclusivamente dentro das caatingas nordestinas, livrando-se da polícia, Chico Pereira ainda deu de presente à Jardelina de Nóbrega, três filhos, os quais não chegaram a conhecê-lo, pois Jarda, como era carinhosamente chamada pela população, viuvara no dia 28 de outubro de 1928, com apenas dezessete anos de idade, quando o seu esposo foi barbaramente assassinado, no Rio Grande do Norte pelos próprios policiais que os recambiaram para o Fórum de Currais Novos.            
            
Chico Pereira iria ser julgado em Acari e um dia antes de sua morte, a escolta já estava pronta para recambiá-lo até Currais Novos. E mais ou menos no início dos primeiros minutos do dia 28, as autoridades partiram da capital, levando o criminoso para ser julgado naquela comarca.   
            
Café Filho que na época era o seu advogado (este, posteriormente chegou a ser vice-presidente da república, e com a morte de Getúlio Vargas, assumiu a presidência do Brasil), percebera que o seu cliente poderia ser morto, por suspeitar que o tenente Moura, chefe da escolta que transportava o preso, poderia arquitetar algo contra ele, resolveu acompanhá-lo em seu carro próprio. Mas um dos seus amigos o aconselhou que desistisse, pois onde eles matassem Chico Pereira, ele também seria morto como queima de arquivo. Temendo o que lhe dissera o amigo, Café Filho desistiu da viagem, só viajando no dia seguinte. Assim que o dia surgiu, Café Filho preparou os seus documentos, isto é, material que seria usado na hora do julgamento, e quando já estava pronto para partir até o Fórum de Currais Novos, foi informado através de um telegrama, que o seu cliente havia falecido num desastre automobilístico, no mesmo carro que o levava para o fórum municipal, lá de Currais Novos. 
                                                                            
O começo da injusta morte do cangaceiro Chico Pereira, deu-se quando entre o ano de 1926 (ou possivelmente no ano de 1927), uma fazenda de nome “Rajada”, localizada nas adjacências de Currais Novos, patrimônio que pertencia a um dos mais renomados coronéis da região, um senhor chamado Joaquim Paulino de Medeiros, conhecido nas redondezas por “Quincó da Ramada”, esta tendo sido invadida e assaltada por um grupo de vândalos. Como a polícia há meses que andava nos rastros de Chico Pereira, não tinha dúvida que o assalto tinha sido praticado por ele.  Mas o não feito pelo cangaceiro, foi confirmado pela esposa do próprio coronel assaltado, afirmando aos homens da lei, que aquele homem que se achava preso (o Chico Pereira), nunca estivera em sua fazenda. Ainda lhes disse que o mais justo, seria libertar o rapaz do castigo.                                                                                                 
Mas   os justiceiros não aceitaram a sua confirmação, reafirmando que a invasão tinha sido feita mesmo pelo cangaceiro. Como não aceitaram as palavras da esposa do coronel, foi o suficiente para deixarem-no entre as grades.           
            
O cangaceiro em depoimento às autoridades dissera que as acusações contra a sua pessoa eram falsas, pois em toda sua vida, inclusive a de bandoleiro, jamais tivera colocado os seus pés naquele município.  E também não conhecia as terras de Currais Novos, e não tinha amizades com pessoas daquele lugar. Mas infelizmente, o Chico Pereira foi deixar a sua amada e gostosa vida naquelas terras que o condenara como invasor da Fazenda Rajada. 
             
Quando a notícia chegou ao conhecimento do advogado Café Filho e posteriormente aos ouvidos da população, não acreditaram, e imaginaram logo que a morte do cangaceiro Chico Pereira havia sido premeditada.
            
A noite do dia 27 de outubro de 1928, já havia ido embora e o sol mandava os seus primeiros raios para iluminarem a terra. O vivente que logo perderia a sua amada vida, não desconfiava que poderia ser alvo de uma traição. Ao chegar ao local, cuidadosamente observou o abismo, que lá seria a sua última instância na terra. A sua morte antecipada estava para acontecer naquele momento. Ninguém o evitaria conhecer o outro lado da vida. Nem o próprio Deus, que lá de cima, assistia tudo, mas não se manifestou em seu favor.

Finalmente chegou o momento do seu sofrimento.  Nunca tinha pensado em passar por coisa tão horrorosa assim. Por uma estrada cheia de altos e baixos, que em nenhum momento ela mostrou-se adversária aos homens do carrasco. Além da estrada de barro, tinha a outra, que não tem regresso. Chico Pereira a ganhou de presente.           

Infelizmente, viajou para o outro mundo, aos 28 anos de idade, deixando para trás, mãe, irmãos, esposa, filhos, parentes e aderentes, euma história marcada de angústia, dores e vontade de viver ao lado dos que muito o amavam.                                                                       

O cangaceiro jamais fora atingido por bala, faca, nem mesmo no momento em que estava pronto para morrer, porque o crime foi premeditado em virada de carro.
                                                                
Depois ainda, por brutalidade e vingança, viraram o carro por cima. O rosto ficou esmagado, que mesmo os próprios justiceiros, não o reconheceram após a chacina, pois havia ficado totalmente irreconhecível. A cabeça e a parte tórax ficaram estraçalhadas.

O cineasta Volney Liberato diz que o motorista de nome Genésio Cabral de Lima, tenente coronel da reserva da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, vazou pela primeira vez, o segredo que há anos escondia deste horroroso crime.                                                     

Disse o depoente ao escritor, que em 1928 ele era sargento da Polícia Militar, e ainda gozava da juventude, quando foi designado para seguir até a cidade de Acari, conduzindo o Chico Pereira. Ele viu o criminoso pela primeira vez, no momento da chacina. Não tinha lembrança da fisionomia do facínora, mas disse que o criminoso era de estatura mediana. Da escolta, além da sua pessoa, participaram os seguintes policiais: o tenente Joaquim de Moura, responsável pela escolta. O sargento Luís Auspício e ainda Feliciano Tertulino, mas os subordinados policiais.        

Enquanto caminhavam, Joaquim de Moura perguntou-lhe se conhecia bem a estrada que percorria. O patenteado, isto é, o motorista, respondeu-lhe que sim. Em seguida, pediu que ao chegar a um aterro bem alto, parasse o carro, no que foi atendido. Ao chegarem a um lugar chamado “Ligação”, aproximadamente três léguas separando da cidade de Currais Novos, o motorista obedecendo à solicitação do tenente, parou o carro bem próximo de um aterro. E lá, todos foram ordenados para descerem do automóvel. Assim que saíram do carro, o tenente Joaquim de Moura fez algumas perguntas ao bandido, relacionadas com as suas aventuras vividas no cangaço. 

O depoente disse que Chico Pereira foi respondendo uma por uma, ao que lhe deu a entender que o rapaz se orgulhava das suas bravuras, e era um criminoso de sangue frio, e despreocupado com o bem estar de qualquer ser humano, ou mesmo dele. Após as suas respostas, orgulhosamente, e não imaginando de outra atitude, por parte dos patenteados, foi o bastante para começarem a execução do que estava preparada.  

A primeira pancada aplicada na vítima o depoente não se lembrou quem na verdade principiou a chacina. Mas mesmo assim, optou que teria sido Feliciano Tertuliano, ou o sargento Luiz Auspício, deixando o preso desnorteado e cambaleando no meio do nada. O criminoso só morreu quando o carro foi virado por cima do seu cadáver. E não havia mais dúvida. Finalmente o Chico Pereira deixou de brilhar nos sertões nordestinos. 

Não querendo ser o único responsável pela chacina o tenente Joaquim de Moura pediu que cada um aplicasse-lhe uma pancada de coice de carabina, para que o crime ficasse distribuído em igualdade. Assim que fizeram essa tamanha maldade contra o cangaceiro, para completar mais ainda a brutalidade, Chico Pereira foi jogado dentro do carro, e em seguida, determinaram que virasse o automóvel no abismo. O motorista informou ao cineasta que foi a sua maior tarefa, isto é, no abismo, tangeu o carro com o criminoso dentro. 

Concluída a primeira maldade contra o cangaceiro o tenente Joaquim de Moura disse que ninguém iria ficar sã, pois todos os participantes da chacina teriam que ferirem a si mesmos, propositalmente, para justificar o desastre e impressionarem as autoridades.  

Esse maldoso trabalho foi feito com as próprias mãos dos agentes. Cada um deles aplicou golpes terríveis ao seu corpo, pancada na cabeça com pedras de gumes afiadíssimas e fazendo escoriações pelo corpo.

Agora, sim, parece que deu certa a trama dos agentes. Todos sangravam muito, já que haviam feito cortes nos seus corpos. Terminada a trama da virada do carro sobre o corpo de Chico Pereira, os patenteados se apressaram em comunicar o desastre para Currais Novos. E com um tempo depois, chegou o socorro para conduzir todas as vítimas do desastre para a cidade. Inclusive o corpo do bandido.

Em Currais Novos, instauraram o inquérito para apurarem a causa da virada do carro sobre o bandoleiro. Mas os demais culpados foram absorvidos. 

O corpo de Chico Pereira foi levado para a Cadeia, na Rua do Rosário (diz Volney Liberato que hoje é Vivaldo Pereira), onde permaneceu exposto para o público ver pela primeira e última vez o delinquente cangaceiro, permanecendo até a hora do seu sepultamento que ocorreu lá pelas nove horas da noite, no Cemitério Público de Santana. E diz ainda o cineasta que: o facínora foi enterrado em cova, que nos dias de hoje, não se tem idéia onde os seus restos mortais se encontram. Mas a verdade é que quando se deve a Deus, não ficará impune, principalmente quando se sabe que é devedor.  

O justiceiro de Chico Pereira o tenente Joaquim de Moura que se sentindo o dono da verdade, lá nas terras de Currais Novos, por ironia do destino, já nos anos 40, foi participar de uma festa numa fazenda avizinhada à cidade. Lá, havia deixado um amor proibido, sendo a amante, casada, de uma família considerada notável. Como o patenteado, havia se apaixonado pela mulher, foi reativar o seu amor, que mesmo não sendo a sua esposa, enciumado, ameaçou de morte o marido da amante, caso ela não o quisesse. Nesse dia, ao entardecer, Joaquim de Moura sentiu-se mal, a causa, ataque cardíaco, que sem demora, faleceu. 

Chico Pereira e o tenente Joaquim de Moura tiveram os mesmos caminhos da eternidade, e talvez os mesmos destinos, em terras currais-novenses, em anos diferentes, que os dois, jamais tiveram antes do ano de 1928. 

Meses depois, o único que foi penalizado foi o coronel Genésio Cabral de Lima, depoente desta entrevista, cedido ao cineasta Volney Liberato, por crime culposo. Mas, posteriormente foi absolvido pelo Tribunal.

Diz Ivanildo Alves Silveira que Chico Pereira foi um dos homens mais destemido do sertão paraibano, que fez justiça com as próprias mãos e tornando-se cangaceiro. Quando foi julgado pela morte do assassino do seu pai foi absolvido em júri popular, no Estado da Paraíba, sua terra natal. Mas, para sua infelocidade, foi acusado pelas autoridades de um crime que não cometeu, e em especial, no Rio Grande do Norte, que jamais havia colocado os seus pés. 

Apesar de sempre cair em falha contra as autoridades e geralmente apadrinhado pelo governador da Paraíba, através de um irmão deste, infelizmente foi trazido para o nosso Estado, e aqui, impiedosamente, foi entregue à justiça para ser julgado, coisa que não chegou a acontecer.  

No período em que Chico Pereira foi morto já havia completado vinte e oito anos de idade. Dona Maria Egilda sua mãe, não teve pelo menos o desprazer de enterrar o seu filho, tendo recebido orientação do advogado da família, Doutor João Café Filho, fazendo grande alerta aos familiares do marginal, que não fossem pisar em terras do Estado do Rio Grande do Norte, para ser apanhado como vingança por parte das autoridades que chacinaram Chico Pereira. 

Conta  Ivanildo Silveira que a tragédia continuou com o assassinato inesperado do irmão de Chico Pereira, o Aproniano. (Não encontrei a causa da morte deste irmão de Chico Pereira). E a morte do outro irmão, Abdon, que estudava medicina no Rio de Janeiro. (Este foi visitado pela tuberculose, faleceu nos braços de sua amada e sofrida mãe, Dona Maria Egilda, na fazenda Jacu, propriedade da família).  

Conversas entre os dentes diziam que os mandantes da morte do coronel João Pereira o pai de Chico Pereira, eram pessoas importantes da sociedade de Sousa. Um deles, um senhor que era destacado cidadão de nome Otávio Mariz.    

Dos quatro filhos do coronel João Pereira o único que sobreviveu e viveu muito, foi o Abdias, que veio a falecer no dia 28 de julho de 2004, com cento e três anos de idade.

Observação – Eu não sei o porquê das minhas discordâncias. Se analisarmos cuidadosamente, é provável e óbvio que Café Filho não participou da tragédia de Chico Pereira, mas com certeza, muito antes deste dia, ele já sabia da trama, e tinha razão de não ficar contrário às autoridades policiais.  

Mas surgem as minhas perguntas:
                                                                   
1 - Se Café Filho achava que o seu cliente poderia ser morto naquele dia como tomou conhecimento se ele não era detetive, psicólogo ou outra coisa parecida?  

2 - Se ele iria em  seu carro  atrás da escolta para acompanhar o seu cliente, por que lhe causaria medo? Foi criada uma história como desculpa que era queima de arquivo se ele acompanhasse a escolta e fosse assassinado.

3 - Qual o motivo da Dona Maria Egilda a mãe de Chico Pereira ser alvo dos militares, se ela tivesse ido apanhar o cadáver do seu filho, já que o verdadeiro marginal era o filho e não ela? 

Desculpa-me Café Filho, mas o senhor conhecia bem o malabarismo dos policiais. No meu entender, o senhor estava envolvido nessa trama. Essa é que é a verdade. E sendo o senhor advogado, saiu-se muito bem obrigado!

Fonte de Pesquisa: No texto de Ivanildo Alves da Silveira, Volney Liberato e José Romero Cardoso de Araújo.

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05 março 2023

O CANGACEIRO ZÉ SERENO OUVIU POR AÍ QUE LAMPIÃO FOI ENVENENADO NA GROTA DO ANGICO, E LOGO APARECEU COM A SUA INVENCIONICE.

 Por José Mendes Pereira

Muito foi falado sobre a morte do capitão Lampião, quando dizem até que ele fugiu do cerco policial, que o mataram envenenado e coisa e tal, fatos que nunca foram comprovados pelos pesquisadores, escritores e cineastas. 

Sobre o envenenamento de Lampião e de alguns facínoras, incluindo a sua bela rainha Maria Bonita, o cangaceiro Zé Sereno que era um dos homens de confiança do capitão, em entrevista ao Correio da manhã, do Rio de Janeiro, do dia 28 de julho de 1971, caderno Anexo, recordando a tragédia de Angico, fala o seguinte::

- O coiteiro (Pedro de Cândido) chegou com os alimentos envenenados a mando da volante, menos três litros de pinga que, normalmente, ele próprio, o coiteiro, deveria ingerir em pequenas doses para provar sua confiança (...) minha suspeita com Pedro de Cândido confirmou-se depois que ele se foi (...)  Apanhei um LITRO DE VERMUTE Cinzano e notei um pequeno buraco na rolha, provavelmente feito por uma seringa. Chamei Lampião e disse-lhe: o senhor é cego de um olho, mas pode ver que esta bebida está envenenada.

LAMPIÃO NÃO PRECISAVA DE SER CHAMADO A ATENÇÃO!

Na minha pouca sapiência sobre o cangaço, não tenho como acreditar no que disse o cangaceiro Zé Sereno, que o capitão Lampião e seus comparsas foram envenenados, e se ele  caiu na armadilha, porque não fez vistoria na tampa do litro de vermute cinzano, quando ele chamou e lhe mostrou que a rolha tinha um pequeno buraco? 

Vejam bem:

O coiteiro Pedro de Cândido (na época) era muito jovem ainda, mas não seria maluco para tentar enganar uma fera humana como era Lampião. Imagina depois que Zé Sereno chamou a atenção de Lampião sobre um suposto envenenamento, e se o capitão tivesse obrigado o Pedro a ingerir um pouco da bebida? 

O próprio Zé Sereno disse que era obrigatório ele experimentar as comidas etc, e por que Lampião não obrigou Pedro beber um pouco do vermute cinzano, como prova da sua confiança para com ele e o bando de facínoras?

O amigo Zé Sereno criou esta história para aparecer diante dos jornalistas do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, fundado por Edmundo Bittencourt. Foi um periódico brasileiro, que em sua primeira fase foi publicado entre 15 de junho de 1901 e seu término foi em 8 de julho de 1974Como o jornal era famoso, melhor seria para Zé Sereno aparecer nas colunas de um jornal que era conhecido no Brasil inteiro.

Informação ao leitor: 

Os meus trabalhos não prejudicam escritores, pesquisadores e nem tão pouco os cineastas que organizam a literatura cangaceira. 

Não tenho conhecimento suficiente sobre cangaço para duvidar dos que pesquisaram e continuam pesquisando nas fontes, isto é, onde aconteceram os conflitos cangaceiros. 

Eu me refiro apenas sobre alguns depoentes que não falaram a verdade.  As minhas inquietações são sobre eles.

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04 março 2023

BARBARIDADES AOS TROPEIROS

  Por José Mendes Pereira

Alcino Alves Costa conta em seu livro “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”, que noutros tempos, o pequeno povoado Bahia, no Estado de Sergipe, foi um dos que mais abrigou sertanejos. Estes fugiam das perseguições policiais, que não davam espaço para os camponeses, por fazerem constantes ataques aos cangaceiros nas regiões nordestinas, principalmente em Sergipe, Alagoas e Pernambuco.   

Como o tenente Zé Rufino era comandante de uma volante do governo, sendo ele poderoso na lei e na sua vontade própria, usava e abusava do cargo que lhe fora confiado, uma vez que era apenas subordinado a um dos seus amigos, João Maria de Carvalho, sendo este chefe geral das forças policiais do governo, e se o seu superior não o castigava pelos os seus erros, claro que ele continuava maltratando as pessoas pobres.                                        

Era do conhecimento de todos que o comandante Zé Rufino e seus subordinados, não se cheiravam bem com a matutada, pois existia um boato que os sertanejos espionavam os seus passos, quando muitas vezes matavam pessoas inocentes por puro prazer. E quando assassinavam bandidos, principalmente cangaceiros, sem nenhum constrangimento, decepavam as suas cabeças, só para serem considerados valentes e receberem simbolicamente troféus.   Temendo que os bandos fossem aumentando a quantidade de cangaceiros, Zé Rufino apoderou-se de um ódio contra a três rapazes que haviam chegado para residirem em Poço Redondo. Um deles era o jovem João, filho de um senhor chamado Terto. Ainda o Zé de Emídio, filho do nomeado Emídio, e um irmão do cangaceiro Diferente, alcunhado por Zé Grosso.  

Como em todos os lugares existe fofocas, não era de admirar que lá em Poço Redondo também surgissem mentiras ou verdades.  E quem inventou essa, ninguém sabia. Mas o mais árduo foi que a conversa tão mentirosa saiu alastrando todos os lugares, que os três rapazes estavam se preparando para se incorporarem ao bando de Zé Sereno. Como a mentira anda mais rápida do que a verdade, o tenente Zé Rufino ao tomar conhecimento, deu plenos poderes ao cabo Artur para arquitetar uma maneira muito inteligente e assassinar os três jovens, não dando chance a eles se aliarem aos cangaceiros, pois os eliminando antes de se firmarem no cangaço, não aumentaria mais bandidos.                                                      

Assim que Zé Rufino deu poderes ao cabo Artur para chaciná-los, de imediato deu-se pronto. Mas depois, duvidoso, pôs-se a si interrogar: Por que matar João de Terto, um jovem que quando chegava a Serra Negra não saía de sua casa, passando todos os momentos possíveis debaixo da saia de suas irmãs? Por que matar João de Terto que era como se fosse uma verdadeira moça? Ele, matar este rapaz, de jeito nenhum! Não iria cometer uma atrocidade desta contra um jovem que não tinha nem aparência de um homem violento. E agora, o que faria ele para não matá-lo? Os outros dois já estavam na mira de sua arma. Mas o João de Terto, de jeito nenhum o mataria.                                                                

O cabo Artur não querendo fazer a morte do rapaz como havia recebido ordem do seu comandante, tomou uma decisão sábia, mas bastante arriscada. Como ele tinha bom relacionamento com a mãe de João, a dona Mãezinha, resolveu lhe dizer por baixo de sete capas as maldades de Zé Rufino contra o seu filho. E assim que dona Mãezinha tomou conhecimento do futuro extermínio do filho, ficou desesperada. Ficou sem saber o que fazer, uma vez que o cabo Artur fora generoso com a sua pessoa, dizendo-lhe as intenções maldosas de Zé Rufino. Mas não se aguentando, e não podendo tomar decisões próprias, foi de imediato à presença do chefe geral da polícia, João Maria de Carvalho. E lá comentou o que soubera das intenções do tenente contra seu filho João. Preocupado e não querendo desrespeitar a ordem de Zé Rufino, apesar de ser um dos seus subordinados, decidiu o seguinte: Mandar João e o seu pai Terto para trabalhar em sua Fazenda São Bento. Só assim eles ficariam protegidos contra os balaços das armas do cabo Artur, uma vez que ele não queria assassinar o rapaz de Terto.                           

Zé Rufino logo foi informado sobre a proteção que os dois haviam recebidos, filho e pai.  Mas a verdade era que ninguém sabia se houve uma combinação, isto é, uma jogada entre o coronel Zé Rufino com o chefe João Maria de Carvalho. Ou então, sem querer criar problemas com o seu superior, o tenente fingiu que não sabia de nada. Como um dos marcados para morrer já tinha sido acobertado pelo chefe superior, e que não teria mais chance de assassiná-lo, o tenente Zé Rufino ordenou que dois de seus subordinados, Doutor e o dito cabo Artur, fossem procurar Zé Grosso lá na Serra Negra. Lá, não se demoraram em fazer a chacina, pois o Zé Grosso foi surpreendido com dois infelizes tiros, falecendo ali mesmo.

Como a mentira tem a perna curta, dias depois os boatos que haviam surgidos nas calçadas pela vizinhança, que Zé Grosso e Zé de Emídio iriam entrar para o cangaço, a verdade apareceu. Ambos, jamais tinham pensado em algum dia serem cangaceiros. Mas o que foi protegido pelo João Maria, o João de Terto era um dos convictos que um dia iria entrar na volante do governo. Na finalidade de fortalecer seus amigos de Poço Redondo.  

MORTE REALIZADA, VINGANÇA FEITA.                                                                                                       

Mas como uma morte por crime sempre acontece outra semelhante, a vingança feita pelo irmão cangaceiro, não tardaria. E logo que o assecla Diferente tomou conhecimento da morte do seu irmão Zé Grosso, caiu em pranto. Entristecido, incentivou os comparsas para invadirem e descontarem em cima de Serra Negra. Mas o seu pedido no momento foi rejeitado. Os asseclas o alertaram que não colocasse a charrete na frente dos cavalos. Tivesse paciência. Pois a população daquele povoado iria pagar caro com uma horrorosa vingança. Mas Diferente estava muito sentido e não queria que se demorasse, pois tinha que lavar a honra do seu irmão também com sangue.                                                             

E quais seriam as vítimas mais fáceis? Nada mais, nada menos do que os trabalhadores de um agropecuarista chamado Galdino Leite. Estes eram os comboieiros que transportavam algodão em tropas para os avantajados armazéns do coronel Joaquim Resende, lá do Pão de Açúcar. (Aquele, leitor, que se reuniu com o capitão Lampião lá na Fazenda Floresta).                                        

O período em que aconteceu este episódio, foi no ano de 1936, e nesse dia, era um sábado. Lá na casa do agropecuarista os comboieiros se encontravam todos aglomerados e prontos para a partida em direção à feira de Curralinho.                                                

Como os cangaceiros sabiam a hora em que todos partiriam para os Armazéns do coronel Joaquim Resende, escolheram o lugar. E por lá, armaram as tocaias e se recolheram para esperarem suas vítimas. Os companheiros que juntamente com ele iriam fazer a chacina eram: Os cangaceiros Beija-Flor e Coidado.                            

Como o plano já tinha sido bem elaborado, estudado e calculado, os três asseclas tinham certeza de que fariam um bom trabalho sem complicação alguma.      

E lá nos esconderijos, sem muita demora, alguém pôs o focinho em direção ao local em que eles estavam. Observaram cuidadosamente para não se enganarem. E logo perceberam que era Agenor Pitomba, um senhor que ganhava o seu pão de cada dia através do seu acordeom, fazendo festas nas regiões adjacentes. Como não era o alvo, os facínoras deixaram-no caminhar tranquilamente.                                                             

Com alguns minutos passados, um por um foi passando, e sem menos esperarem, os asseclas saíram das tocaias.  As três armas olhavam para os tropeiros e todos ficaram surpresos com o que estavam presenciando. O que a final eles tinham feito contra aqueles cangaceiros? Com certeza, os asseclas estavam equivocados. E pelo que observaram não era brincadeira. Aquilo que se passava no momento era além de sério.                           

Temendo a morte, um tropeiro humilhou-se, pedindo-lhes que não os matassem, uma vez que não tinham culpas com o que fizeram com o seu irmão. Mas Diferente não estava ali para ouvir desculpas de qualquer um. E sem muita demora, ordenou que três deles iriam morrer.  Mas um ficaria vivo para contar a história lá na Serra Negra. Os quatro homens ficaram atordoados. Não existia nenhuma forma de reagirem e se salvarem daqueles cobradores de justiça injusta.  E qual dos quatro ficaria com vida? Quem iria contar a trágica história acontecida com os que morreriam? A sentença não seria voltada atrás. Com certeza três deles já tinham certeza que iriam devolver as suas almas a Deus.                                         

Assim que tomaram conhecimento das suas mortes, se sentiram desprezados pela força divina. E sem mais querer perder tempo, pensando se matava ou se soltava, Diferente disparou sua arma e derrubou um senhor chamado Manezinho Izidório. Beija Flor e Coidado, não esperaram por uma ordem de Diferente, atiraram em Miguel Casimiro Carlos e Antonio Pedro. E ali, todos caíram mortos. Diferente, irado, olhou para o último, dizendo-lhe que corresse antes que ele se arrependesse e o matasse também. E que dissesse lá na Serra Negra, que Zé Grosso tinha um irmão e era além de macho. Nessas alturas, sem mais esperar outra ordem de Diferente, o último dos quatro, o comboieiro Silvino se embrenhou às matas no seu sofrido animal. O seu desejo era sair dali o quanto antes possível, já que três haviam partido para p além.

Diz Alcino Alves que a população ficou alvoroçada. Mas como vingar aquele assassinato? Os cangaceiros eram quem ditavam as leis nas regiões sertanejas com o poder das suas armas. Qualquer um que tentasse impedir atos de crueldades e depredações deles podia ficar sabendo que o seu enterro era naquele mesmo dia. Com cangaceiros não se brincava.

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LUIZ PEDRO FICOU DOIDO COM A MORTE DE NENÉM.

   Por Aderbal Nogueira https://www.youtube.com/watch?v=wVyLuS8rE8E Luiz Pedro e Zé Sereno vão a Alagadiço saber o que aconteceu com Zé baia...