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14 março 2023

LIVRO

  


O destino de cada pessoa,
Na terra ninguém risca.
E nem se pode alterar.
E nem mudar a escrita.
O plano já tá traçado,
Cada um dar seu recado,
E na história ela fica.
Na malhada da caiçara,
No município de glória.
Ninguém jamais imaginou,
Que lá teria uma história.
Que ia ter uma dimensão,
E ia mecher com o sertão,
E espalhar no mundo afora.
Em mil novecentos e onze,
A oito de março nasceu.
Uma menina morena,
No sertão apareceu.
Numa casinha singela,
Uma menina bela,
Seus pais a recebeu.
Os seus pais não imaginava,
Que destino ela teria.
Se trazia com ela tristeza,
Ou se trazia alegria.
Isso o futuro ocultava,
Sua vida tava traçada,
E o tempo revelaria.
Maria Gomes de Oliveira,
Foi o nome que deram a criança.
Maria,nome da Santa,
Que Gera a esperança.
O nome da mãe de Jesus,
Que foi morto na cruz,
Ela recebeu por herança.
Ela cresceu ficou formosa,
E logo virou uma mulher casada.
E seu nome ganha um acréscimo,
Maria de Déa, era chamada.
Assim era conhecida,
Por vizinhos e amigas,
Assim era apelidada.
Mas ,o casamento não deu certo,
Ela para casa dos pais voltou.
Era para se cumprir o roteiro,
Que o destino traçou.
Um dia um cidadão,
Apelidado de lampião,
Em sua casa chegou.

Aqui começa um romance,
O qual o destino pois um laço.
Maria ganha outro apelido,
Ao lado rei do cangaço.
Maria bonita era chamada,
A sua história traçada,
No sertão tem seu espaço.

Sou um poeta amador.
Que gosta de fazer rima.
Quem conhece bem essa história,
E o escritor João de Sousa Lima.
Junto com outros escritores,
Que são pesquisadores,
Do cangaço da caatinga.

Autor.
Cleumir Ferreira

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

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13 março 2023

IMPRESSÕES QUE CONSTRUIRAM A HISTÓRIA A RESISTÊNCIA FÍSICA DOS HOMENS DO CANGAÇO

 Artigo de Luiz Luna, publicado no Diário de Notícias (RJ) em 09/07/1961




O que impressiona nesses homens (tanto soldados como cangaceiros) é a extraordinária resistência física. Levando vida de nômade, vencendo quilômetros e quilômetros na caatinga adusta, subindo e descendo serras e tabuleiros, enfrentando e dominando a hostilidade violenta dos carrascais agressivos, resistiam a tudo. Não consta (procuramos, inclusive, investigar o caso, através de depoimentos de participantes e contemporâneos) que um só cangaceiro ou soldado das “volantes” houvesse morrido de outra enfermidade, a não ser em consequência de bala.

Muitos, porém, entre eles o próprio Lampião, diversas vezes alvejado, sobreviveram aos ferimentos, alguns graves, sem contudo receberem assistência médica adequada.



Os meios de tratamento e as condições de higiene eram, como se pode imaginar, os mais precários e rudimentares. Na época, desconhecia-se o poder das sulfas e dos antibióticos e os cangaceiros, por sua vez, não se davam ao luxo de procurar médicos ou mesmo farmacêuticos para curar as suas feridas. O tratamento fazia-se entre eles, com o conhecimento que tinham de medicina caseira e outros que as necessidades ensinavam. Para estancar o sangue, usavam pó de café, mofo e até excrementos de gado empregavam para fazer sarar os ferimentos. Ervas ditas medicinais, que brotam espontaneamente nos baixios e vazantes, eram largamente usadas.

Havia também as rezas, invocadas profusamente para curar todos os males do corpo e da alma. Os curandeiros proliferavam por toda a zona sertaneja, como de resto acontecia em todo o Nordeste, sempre desprovido de assistência médica. Curiosos, dotados de extraordinário dom de improvisação e imitação do homem nordestino, encontram-se com facilidade em todos os recantos da região. Lampião mesmo era um deles. Servia de parteiro às mulheres do bando, como já assinalamos neste trabalho, e também encanava braços e pernas, fazia pequena cirurgia e tratava dos ferimentos dele e dos companheiros.



Eram, pois, fisicamente fortes os homens envolvidos nas lutas do cangaço e isso está comprovado pela resistência orgânica que demonstraram em tantos anos de campanha cruenta. Tanto os cangaceiros como os soldados das “volantes” eram, em geral, tipos longilíneos, magros, mas de compleição atlética. Os tipos brevilíneos do litoral e da zona da mata, quando alistados na Polícia Militar, nunca eram destacados para as forças “volantes”, integradas de preferência por homens da área sertaneja, mesmo porque muitos deles se tornavam soldados com o fim deliberado de perseguir cangaceiros, por motivos de vingança, decorrentes, da maioria das vezes, de brigas entre famílias. Muitos desses soldados, homens bravos e decididos, atingiram o oficialato, como é o caso do coronel Manuel Neto, major Manuel Flor, capitão Guedes e tantos outros, cujas promoções se deram sempre por atos de bravura.

Naturalmente que a alimentação sóbria e mais sadia do que a dos nordestinos das demais zonas, influiu de modo considerável na resistência orgânica do homem do sertão. Talvez repouse nisso o segredo da resistência física do cangaceiro e do soldado das “volantes” ao enfrentarem condições tão adversas em suas constantes lutas e andanças.



Não nos consta que houvesse um cangaceiro ou um soldado (pelo menos nunca os vimos nem os soubemos assim) que apresentasse o tipo adiposo que geralmente encontramos na área do açúcar ou que apresentasse, como é comum na faixa verde dos canaviais, sintomas de certas doenças, que costumam deixar as marcas da sua destruição nas pernas inchadas, no ventre empanzinado (a chamada “barriga” d’água) ou nas feridas, como “boba” e “boqueira”, enfermidades facilmente encontradas na população do Nordeste açucareiro. No sertão, não se vê o tradicional homem pequeno e amarelo do litoral e da zona da mata, de pernas bambas e barriga grande, que o folclore glosou na faixa rural do município de Goiana, em Pernambuco:

“Amarelo de Goiana
Come sapo com banana.”



O sertanejo é um tipo delgado e enxuto e assim foram os homens que se envolveram nas campanhas do cangaço.

Soldados e cangaceiros comiam a mesma comida do sertão, na base do milho e da carne, do leite e da rapadura. Fruta quase não entra na dieta dos sertanejos e muito menos verdura, que ele mesmos costumam dizer que “homem não é coelho para comer folhas”. Os cangaceiros, mais do que os soldados, em vista da ilegalidade da vida que levavam, lutavam com maior dificuldade no setor da alimentação. Como verdadeiros nômades, hoje aqui, amanhã acolá, carregavam o alforje de alimentos, juntamente com o rifle e o bornal de balas. No alforje, levavam carne de sol, geralmente de bode, carne de charque, farinha de mandioca e rapadura; café, bolachas, milho pilado e requeijão, que comiam cru ou assado. Associando o milho ao leite, faziam o cuscuz e o angu e, ao fruto do umbuzeiro, a “umbuzada”, alimento muito apreciado no sertão  nordestino.




Nos armazéns e nas feiras, das vilas por onde passavam, nas casas-grandes das fazendas e nos “coitos”, que os acolhiam, faziam a provisão para a boca e para o rifle. Nos bons “coitos”, regalavam-se.

 Parte da histórica milícia Nazarena: Gervásio de Souza Ferraz, Raul Ferraz, Manoel Concordio, Manoel Ferraz, Antonio de Belo, Olegario Pereira na Fazenda Curral Novo, Floresta-PE.


Comiam carne fresca de boi, de cabrito ou de carneiro e secavam ao sol o restante para o sustento nas caminhadas incertas. Das vísceras do cabrito ou do carneiro, preparavam as deliciosas “buchadas”, que comiam acompanhadas de alguns tragos de aguardente, vinho e cerveja quando encontravam. Mas, com moderação, pois cangaceiro não podia se exceder em bebidas, diante dos perigos a que estavam expostos e que exigiam de sua parte toda atenção e precaução. Lampião, que era infenso ao álcool, mantinha os cangaceiros no regime de pouca bebida e punia severamente os que se excediam.
Com carne e leite frescos, queijo e coalhada, comidos nas fazendas amigas, durante os dias de descanso, os cangaceiros restauravam as energias para novas caminhadas e novos combates. Curioso é que muitos preferiam o leite de cabra ao de vaca e alguns até o de ovelha, que diziam “dar mais sustança e disposição ao corpo”.


 Acontece que com uma alimentação, aparentemente sem substância, cangaceiros e soldados das “volantes” conseguiram sobreviver às enfermidades que a carência alimentar provoca. Nas fases de maior perseguição, quando não conseguiam se locomover com a relativa facilidade rotineira completavam a dieta com raízes e frutos silvestres, especialmente o piqui e o umbu, sendo que a raiz do umbuzeiro ainda lhes mitigava a sede, dada a grande porcentagem de água, que contém. Não comiam tanto açúcar nem se empanturravam de gordura como os homens do Nordeste açucareiro. Com alimentação enxuta, pobre dos molhos que dão sabor especial à cozinha das casas-grandes dos engenhos, mas capaz de equilibrar, relativamente, o metabolismo basal, o cangaceiro, como acontece com todos os sertanejos, conservava o organismo em condições de resistir às constantes perdas de energias, que as suas ingentes atividades provocavam.


 Ao pressentirem a época das grandes estiagens, procuravam locais mais favorecidos, principalmente na região sanfranciscana de Sergipe, onde a seca custa a chegar e, assim, nos “coitos”, que consideravam seguros, aguardavam melhores dias para novas investidas no coração sertanejo. Foi depois de um descanso desses, que Lampião e seus cabras entraram em Queimadas, no sertão da Bahia.

Transcrito por Antonio Correia Sobrinho

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11 março 2023

LIVRO

 


Veja se o professor tem este livro através deste endereço:

franpelima@bol.com.br

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10 março 2023

AH, SE EU ME ENCONTRASSE COM A MINHA FAMÍLIA EM MALHADA DA CAIÇARA!

   Por Jose Mendes Pereira - Apenas pensamentos meus.

Maria Bonita

Em minha humilde opinião, Maria Bonita não só estava cansada da vida que levava, como já havia adquirido o medo de viver embrenhada às matas, sabendo que a qualquer hora, poderia ser morta pelas volantes policiais.

Oséas irmão de Maria Bonita

Maria Bonita quando se embrenhou às matas, estava dominada pelo cupido, e depois de tantos sofrimentos, descobriu que havia se enganado, pois a sua loucura pelo o movimento do capitão Lampião era uma simples ilusão. Por esta razão, exigia do seu companheiro a desistência com urgência, daquela amaldiçoada vida.

D. Maria Joaquina Conceição Oliveira - Dona Déa Mãe de Maria Bonita e José Gomes de Oliveira

Joana irmã de Maria Bonita  

Foram oito anos vividos e perdidos entre os serrados. A vida do cangaço era um verdadeiro inferno, sofrendo naquelas matas como se fosse um animal, e como saldo, apenas ganhara o sol forte, poeiras, chuvas, dormindo no chão, desprovida de um acomodado teto, distante das festas decentes que aconteciam na sua querida terra Malhada do Caiçara, a solidão presente a todo instante, muita fome, fome e muita fome. 

Arlindo irmão de Maria Bonita 

Saudade daquelas pessoas que lhe viram nascer e crescer no meio delas, frequentando uma escolinha para, pelo menos, alfabetizá-la. Saudade das missas aos domingos, quando ela e outras amigas da mesma idade, caminhavam para receberam a bênção do padre da pequena paróquia. Saudade dos pais, irmãos, familiares, amigos, parentes e aderentes.

Benedita - irmã mais velha de Maria Gomes

Maria Bonita viveu o inferno que ela mesma o desejou. Queria voltar ao seu amado chão, abraçar os velhos e sofridos pais, irmãos, e lhes dizer que: a partir daquele dia, passaria a ser a nova Maria de Déia, a Maria de antes, a Maria que participava dos divertimentos que a população da comunidade frequentava, e por favor, não mais falassem em Maria Bonita, a Maria do cangaço, a Maria marginal, a Maria que roubava e odiava os que traiam o seu grupo. A partir daquele dia, queria ser uma outra Maria. Maria desejada pela aquela rapaziada lá de Malhada do Caiçara.

Amália irmã de Maria Bonita

Dizia Maria que o erro fazia parte da vida. O que não podia, era ela continuar no erro, simplesmente, porque, apaixonara pelo um homem sanguinário e que amava o mundo do crime. Mas ela estava ciente que os seus familiares e amigos, de toda comunidade, iriam recebê-la com muito carinho, e perdoá-la de tudo que havia praticado.

José Gomes irmão de Maria Bonita

Mas Maria Bonita, apenas imaginava a desistência do cangaço, e não tinha coragem de fugir da presença do seu companheiro. Não queria tomar esta atitude, pois a Rosinha do cangaceiro Mariano Laurindo Granja, fora assassinada a mando de Lampião, e ela mesma, sabia que sendo a verdadeira companheira do chefe do cangaço, e se fugisse em busca dos seus familiares, com certeza, seria seguida e morta pelos cangaceiros, assassinada  a mando de Lampião.

Ananias irmão de Maria Bonita

Francisca irmã de Maria Bonita

As caatingas são bem melhores do que a prisão.

Mas Lampião lá na sua central administrativa, como chefe de bando, para ele, liberdade, somente entre os serrados, apenas livrando-se de estilhaços de balas. 

Isaías irmão de Maria Bonita

Jamais sairia da caatinga, pois se assinasse a desistência do cangaço, com certeza, iria passar pelas mãos vingativas de policiais. Não desistiria e nem autorizaria a saída de sua companheira do cangaço. Lampião bateu o martelo com toda força do seu braço:

Antonia irmã de Maria Bonita

" - Não aceito a desistência de Maria do cangaço! Maria Permanecerá comigo até que um dia alguém nos matem! Não quero passar por covarde, assinando a desistência do cangaço. Esta é a vida que eu escolhi". Se me fizeram marginal, marginal serei até morrer".

Olindina irmã de Maria Bonita

 Corrigindo o meu equívoco:

Em outra postagem eu coloquei que estas fotos pertenciam ao acervo do escritor Gilmar Teixeira. Mas, todas as fotos da família de Maria Bonita, aqui no texto, pertencem ao acervo do escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima.

Alerta ao leitor: Não use o que eu escrevi como material pertencente à literatura lampiônica. É apenas um pouco do meu pensamento, e na finalidade de publicar as fotos dos pais e irmãos de Maria Bonita. E de forma alguma prejudicará o que os escritores, pesquisadores e cineastas escreveram e gravaram. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2016/03/a-homenagem-do-grupo-oficio-das.html 

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09 março 2023

ÚLTIMA ATROCIDADE DO CARRASCO CORISCO

  Por José Mendes Pereira


Imagem da internet

Este texto é uma criação do saudoso escritor e pesquisador do cangaço Alcino Alves da Costa, apenas, com minhas palavras, sem fugir do assunto e nem aumentando fatos que não aconteceram, eu fiz a redação baseada nele, e você irá encontrá-lo (por sinal, uma maravilha de redação), no seu livro "Lampião Além da Versão, Mentiras e Mistérios de Angico". 

Encontre-o com o professor Pereira através deste endereço.
franpelima@bol.com.br

Quem não se lembra do afamado cangaceiro chamado Cristino Gomes da Silva Cleto?  Este nome nos lembra um grande cangaceiro. E na verdade, é ele mesmo, o temido Diabo Loiro, o Corisco.                                                                  

Se falarmos em Lampião, com certeza, lembraremos  deste imediatamente. Este homem era um grande astro do banditismo. Nascido no dia 10 de agosto de 1907, no Estado de Alagoas, no município de Matinha de água Branca                           

Na minha opinião, Não dá para a gente entender. Por que Lampião tinha tanta amizade a este cangaceiro, já que em toda sua vida de bandoleiro, as maiores desgraças que ele sofreu, foram causadas por gente do Estado de Alagoas? Foi em Alagoas que ele perdeu pai e mãe. Alguns coiteiros que haviam lhe traído eram de Alagoas. O seu matador em 1938, era Alagoano E por que tanta adulação com Corisco que também era de Alagoas. Será que o rei tinha medo do feroz Corisco?                                                   

De todos os cangaceiros, Corisco era o mais valente e de uma perversidade muito além da normalidade. E dentro do cangaço, os maiores beberrões eram: Corisco e Sabiá, Os dois cangaceiros viviam sobre o efeito do álcool, que quase todos os dias se encontravam totalmente embriagados.                                           

Conta Alcino Alves que o Corisco era um sujeito de boa aparência, atlético, alto, loiro e sobre tudo, um cabelo solto que o vento não o deixava em paz um só instante; chamando a atenção das mocinhas daqueles sertões nordestinos. Além desses adjetivos, Corisco era considerado um grande rei dos sertões.                             

Tantos adjetivos que lhes fazia um admirado homem, Corisco não havia nascido para ser líder, devido as bebidas que lhe atrapalhavam, o assecla não possuía o dom de vir a ser um dia capitão do cangaço. Não nascera para ludibriar os coronéis e donos de fazendas, pois isso, o rei Lampião tinha de sobra, sabia muito bem conquistar quem ele queria.        

Dadá cangaceira

Apesar dos seus defeitos Corisco teve a grande felicidade de colocar ao seu lado, a famosa suçuarana, como era conhecida no meio do cangaço, a verdadeira Dadá, uma das grandes guerreiras do cangaço nordestino, esta era pernambucana, lá de Belém de São Francisco-PE nascida entre o ano de 1914 ou possivelmente no ano de 1915. 

Com o desaparecimento do grande chefe Lampião e o fim da sua respeitada "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.", todos os sobreviventes dela acreditavam na possibilidade do Corisco assumir a vaga de chefe deixada pelo capitão, que  desde o dia 28 de julho de 1938, o trono havia ficado vago, e ninguém poderia opor-se ao direito do afamado Diabo Louro apoderasse da coroa do rei, já que ele havia sido abatido na Grota do Angico, nas terras de Porto da Folha, atualmente Poço Redondo, no Estado de Sergipe.                   

Corisco logo assumiu o comando da cangaceirada, mas por poucos dias, e entendeu que na verdade, não possuía condições e nem tão pouco qualidades para substituir o grande mestre do cangaço que foi o capitão Lampião.  

Lampião havia subido tantos degraus, conseguindo chegar ao pico mais elevado no que diz respeito a cangaço. Ninguém dali tinha condições de dirigir um cargo tão importante, que era o de administrar feras humanas, no amor fraternal, e mesmo na hora de punir severamente um companheiro. O trono deixado pelo capitão Lampião, ficaria sem substituto. A partir dali, cada um por si, e Deus ou o Diabo por todos. 

Quando aconteceu a grande chacina que levou o rei, a sua rainha Maria Bonita, e mais nove cangaceiros, além do volante Adrião Pedro da Silva, Corisco e seus comandados encontravam-se acoitados entre as fazendas Coidado (o nome desta fazenda era assim mesmo), e Emendadas.

O escritor Alcino Alves Costa diz no seu texto, e não houve nenhuma modificação por minha parte. É na íntegra: “-Uma estranha versão conta que nos últimos dias que antecederam o cerco, os famosos José Lucena e Aniceto Rodrigues, foram até o coito, com a finalidade de acertarem algo que poderia mudar os caminhos do banditismo com o falado Diabo Loiro”. Diz ainda Alcino: “-É esta visita misteriosa, um dos grandes segredos que cercam os fatos de Angico”.

Corisco temeroso e não querendo administrar aquelas feras humanas disse que não possuía qualidade para a importantíssima tarefa de ser o novo chefe, e cheio de ódio, revoltou-se contra os moradores da Fazenda Patos.  

Quando Joca Bernardes maldosamente informou ao perigoso cangaceiro, que o verdadeiro delator de Lampião tinha sido Domingos Ventura, Corisco foi a sua casa, e lá assassinou quase toda família do vaqueiro. Em seguida, maldosamente e apoderado de rancores, cortou as cabeças dos infelizes e mandou-as para Piranhas, endereçadas a João Bezerra ou ao prefeito João Correta Brito. E com elas, foi um bilhete dizendo: “Faça uma fritada com elas. Se o problema é cabeça, aí vão em quantidade”Com essa violência, estava mais do que comprovada a inabilidade do feroz cangaceiro.

Como o bom administrador de cangaceiros havia partido para a outra vida além, os bandos começaram as suas inquietações, desesperando-se por falta de apoio, já que Lampião não mais existia no meio deles, protegendo-os em todas as circunstâncias. E agora, que rumo iriam tomar? Para onde iriam? Muitos deles procuraram fugir para os sertões, como: Pitombeira, Zabelê, Lavandeira e Quixabeira decidiram partir para as terras do Ceará.  

Foto do capitão Aníbal Ferreira gentilmente cedida para o nosso blog pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio. - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2017/03/sabonete-o-secretario-particular-da.html

Outros foram de encontro a boa vontade do capitão Aníbal Vicente Ferreira, um grande e piedoso dos órfãos de Lampião, o comandante policial das forças baianas, com sede na cidade de Jeremoabo, e lá se entregaram às mãos deste, para serem julgados, como fizeram os grupos de Zé Sereno, Juriti e muitos outros. Por último, o cangaço do antigo Virgulino Ferreira da Silva, o rei Lampião, estava totalmente vencido, havia chegado o final de sua desastrosa jornada. 

O perigoso Corisco resolveu não se entregar, e continuava tentando sustentar o movimento do velho e amigo companheiro Lampião. Dizia por ande andava, que jamais deixaria aquela vida, pois já estava acostumado das correrias, livrando-se das volantes a toda hora. Para ele era o seu amado divertimento, e só a morte o afastaria das caatingas sertanejas. Mas via que o rei Lampião lhe fazia muita falta. Sem ele, o cangaço havia acabado de uma vez por toda a sua importância. 

Desesperado e costumeiramente embriagado, deu início a uma maneira de tentar resolver os seus problemas financeiros urgente. Preocupado por ter ficado órfão, pois o pai que muito lhe protegia havia partido para eternidade, tornou-se ainda mais perverso e homicida. Sentado no seu pequenino coito, pôs-se a pensar o que fazer. E logo chegou o momento de humildemente precisar daqueles antigos contatos do grande e insubstituível chefe Lampião. Como arranjar alimentos dentro daquela caatinga? Com quem iria arrumar dinheiro para as suas necessidades que o assolavam? Como adquirir munições para recarregar as suas armas e garantir vitória na hora dos combates?

E logo lhe veio a lembrança dos velhos e amigos coiteiros, fazendeiros, aqueles que quando ele precisava, todos  supriam as suas necessidades,  jamais algum deles havia lhe negado. Principiou fazendo cartas e mais cartas, solicitando recursos para dar continuidade aos seus trabalhos, apesar de desastrosos, mas era um trabalho que não podia parar de uma vez. O bando e ele precisavam das ajudas dos companheiros. 

Mas o famoso Corisco estava completamente enganado! Sim Senhor! Suas cartas começaram com respostas negativas. Ninguém mais dava a menor atenção aos seus escritos.  O cangaço e Corisco, com a morte de Lampião, estavam desmoralizados, os amigos de antes, não lhe tinham um tico de respeito.

Envergonhado, Corisco deixou o Estado de Alagoas, a sua terra e foi tentar em Sergipe.  Lá, procuraria velhos coiteiros e amigos fazendeiros, e com certeza, poderia arrecadar algum dinheiro. As necessidades estavam lhe atrapalhando, pois não tinha mais dinheiro, e nem tão pouco, coiteiros amigos. Tudo que havia arranjado no cangaço, eram as suas belas cédulas, ouro, mas não queria, de maneira alguma, se desfazer de suas notas e nem do seu pesado ouro, que cuidadosamente, carregava-os no seu bornal. 

Logo que entrou em Sergipe procurou o coiteiro chamado Sinhozinho de Néu Militão e por ele, remeteu cartas para os senhores: Camilo Laurindo, Luiz Antonio Militão, Manoel do Brejinho e outros grandes fazendeiros das regiões dos municípios de Monte Alegre, Porto da Folha e Poço Redondo. Mas, como o cangaço havia sido morto juntamente com o seu ex-chefe e compadre, os fazendeiros não deram nenhuma importância às solicitações. Sinhozinho, destemido ou por idiotice mesmo, saiu espalhando e galhofando das cartas e das solicitações de Corisco, e a negativa dos fazendeiros; a todos que ele encontrava no município, conversava sobre isso. Sinhozinho iria pagar por ter feito a fofoca, passando para as bocas fofoqueiras que lá no município daquela região não faltavam. 

Assim que ficou sabendo do desrespeito do Sinhozinho contra a sua pessoa Corisco enfureceu-se, dizendo que Sinhozinho de Néu, iria pagar pelos boatos que ele havia espalhado no município. E não o perdoaria de jeito nenhum. A morte de Sinhozinho iria acontecer a qualquer momento. Era questão de oportunidade.                                      

O coiteiro Sinhozinho, tomando conhecimento das ameaças de Corisco, foi passar alguns dias em Porto da Folha, deixando sua moradia em Monte Alegre, e o gadinho levou para a fazenda Chafardona. Mas o vaqueiro não precisava ter saído de sua casa, porque, ou mais cedo ou mais tarde, Corisco não o perdoaria, e com certeza, vingaria com sangue a sua fofoca.                                                                                     

Lá, Sinhozinho não conseguiu se demorar muito em sua cidade natal que era Porto da Folha, sendo obrigado a voltar por um motivo qualquer.  Dias depois, retornou aos velhos campos que ora deixara pressionado pelo cangaceiro Corisco.  Sua casa ficava mais ou menos a um quilômetro de Monte Alegre. Lá existia um pequeno curral, e sempre que podia, ia lá chiqueirar os bezerros. Como ele estava na mira do cangaceiro, e temendo algo, chamou um  amigo de nome Santo Velho, e foram caçar o gado. Assim que o encontrou, levaram-no para o curral, prendendo-os.

Fazendo caminhadas próximo ao curral, Sinhozinho descobriu umas pegadas de várias pessoas. Não tendo certeza do que se tratava, chamou Santo Velho e  mostrou os rastros, estes não sendo poucos. Ao ver, o companheiro disse-lhe: - Estes rastros ou são de cangaceiros ou de soldados. Apoderaram-se de um medo invencível, e às pressas, procuraram tanger o gado. Sinhozinho que na verdade era o que estava marcado para morrer,  com agilidade, abriu a porteira e partiram em direção a casa. No meio da malhada, Sinhozinho observou que uma das vacas estava com o úbere já precisando ser mungido. Este, disse a Santo velho que precisava ordenar a mesma para não correr o risco de as tetas infeccionarem. Com isso, tomaram a frente do gado, e em seguida, retornaram para o curral. 

Ao chegarem conduzindo o gado, Sinhozinho arriou a vaca, e deu início a tirada do leite. Mas não levando sorte os cangaceiros chegaram à porteira. E quem eram eles? Era Corisco e seu bando. Sinhozinho estava totalmente frito, pois logo, talvez, iria conhecer o outro mundo. Não tendo como fugir, Sinhozinho ficou parado, ainda acocorado, sem dar nenhuma palavra. Não havia mais jeito. O desgraçado que antes havia lhe prometido a vingança tinha chegado para fazê-la, e sem desistência alguma. Que má sorte, hein?                                                            

E sem demora, Corisco cheio de ódio e desejo de vingança, disse-lhe:

- Cabra safado, por que você foi dizer à polícia que eu tinha mandado cartas pedindo ajuda aos fazendeiros? – perguntou-lhe de cara feia o tenebroso Corisco.

Sinhozinho não respondeu nada, Se calado estava, calado permaneceu. 

- Por que você saiu mangando das minhas cartas, hein?  

Dadá, a suçuarana se adianta, dizendo para Corisco:                       

- Corisco, por que você ainda pergunta? Mate esse bandido sem vergonha -  ordena ela. E virando-se para um cangaceiro, disse-lhe: - Caixa de Fósforo, mate este cabra safado! Atire nele! Sem nenhum dó, o coitado tomou rumo para o outro mundo.  

Assim que o corpo de Sinhozinho caiu ao chão não esperaram que o mesmo morresse. E logo lhe cortaram a cabeça, e em seguida, botaram-na em uma gamela.  

Corisco virou-se para Santo Velho, ordenando-lhe:                                         

- Escute-me! Você não vai ser morto, mas eu quero que leve esta cabeça para o comandante do destacamento de Monte Alegre, o cabo Nicolau. Se você não entregá-la pessoalmente a ele, quando eu me encontrar com você, farei pior do que fiz com ele. Certo?                                                                                   

- Sim senhor! – confirmou Santo Velho tremendo-se de medo. 

- Eu vou procurar saber se esta cabeça chegou lá. Caso contrário, eu vou logo atrás de você para matar-te. 

E Santo Velho era doido de não levar a cabeça?  Santo estava velho, mas doido, não senhor! 

Amigo leitor, não deixa de adquirir o livro do saudoso escritor Alcino Alves da Costa - "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico". É uma obra de primeira categoria. Alcino Alves da Costa  redigia muito bem.

São 27 histórias que são bem narradas e gostosas para se fazer uma  excelente leitura. Esta história também está no livro.

Adquira-o com o professor Pereira através deste e-mail: - franpelima@bol.com.br

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NEGROS EM SANTANA.

  Clerisvaldo B. Chagas, 12 de dezembro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3329 Uma panela de alumínio, vertical e comprid...