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10 fevereiro 2024

PRESO POR 12 ANOS, ONDE ANDA LINDOMAR CASTILHO?

 Por Francamente Falando

 https://www.youtube.com/watch?v=vhkYLwzJf8c&ab_channel=FrancamenteFalando

Você irá assistir nesse vídeo o drama causado por Lindomar Castilho e o que aconteceu depois do acontecimento, envolvendo sua mulher e filha! Para mais e diferentes conteúdos me siga nas redes sociais: Instagram Paulo Lopes :   / paulolopesradialista   Instagram Francamente Falando:   / francamentefalando

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09 fevereiro 2024

LIVRO

 Por Helcimar Barbosa Palhano.

Em março está chegando nas ruas. Você conhece Lampião, Maria Bonita, Corisco e Dada. Mas conhece Salustiana? Susserana? Azulão? Arrebenta Cavalo? Quebra-queixo? E o Coroné Agripino? Coroné Pedro Valente? Coroné Amâncio? Pois é... uma nova versão do Cangaço pós Lampião. Uma ficção de dar nó na cabeça de quem já conhece o cangaço e uma leitura a mexer com o imaginário de quem não conhece. Se você me perguntar de onde eu tirei tanta estória só posso recorrer a Ariano Suassuna:

" Não sei, só sei que foi assim".

Aguardem... em março o livro tá na rua.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

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08 fevereiro 2024

FAZENDO VERSIFICAÇÃO

 Por Eliano Miguel Araújo


Eu só ando com Deus e não sozinho

E com ele eu sou muito obediente

Se tiver obstáculo na minha frente

Deus desse pra abrir o meu caminho

Ele coloca flor onde tiver espinho

Abri a vereda e manda eu passar

E meus planos começam a brilhar

Porque foi o pai eterno que mandou

E se foi meu Deus quem me levantou

Não existe ninguém pra me derrubar


https://www.facebook.com/eliano.miguelaraujo

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07 fevereiro 2024

LAMPIÃO VISITOU BOM CONSELHO E FOI AO CINEMA DA CIDADE

 

Lampião
Bom Conselho

No livro  "Cangaço em Perspectiva - O Sertão em Lutas", há um texto de Junior Almeida sobre a passagem de Lampião por Capoeiras e Bom Conselho, na década de 30.

Em Capoeiras, em 1937, Virgulino Ferreira esteve no Sítio Alto do Tejo, onde estava morando uma mulher usando o nome de Paulina, tida na época como tia do Rei do Cangaço.

Essa mulher conseguiu morada na zona rural de Capoeiras com a ajuda de Tereza Rosalina da Conceição, também conhecida como Tereza de Salu Vicente.

Miguel David, capoeirense que viveu perto de 100 anos, neto de Tereza de Salu, deu um depoimento a Junior Almeida narrando a passagem de Lampião e seus cabras pelo Sítio Alto do Tejo.

"Amanhecendo o dia, o rei vesgo agradeceu a Dona Tereza pelo acolhimento a seus parentes e lhe prometeu proteção. Disse à dona das terras que qualquer problema que ela tivesse era só mandar uma maneira de mandar lhe dizer, que ele resolveria", narra Junior.

NO CINEMA  - A visita de Virgulino a Bom Conselho, quando foi ao cinema da cidade, acompanhado de Lula Branco e Zé Abílio, por filhos do fazendeiro, que foi proprietário de terras na região de Garanhuns.

Em 1987, no Recife, Audálio Tenório confirmou o episódio, numa entrevista à neta do cangaceiro,  jornalista Vera Ferreira. Também ouviram o depoimento os professores Paulo Marques e Roberto Pereira.

O tenente João Gomes, numa obra publicada sobre o fenômeno do cangaço, também se refere a este fato, a presença de Virgulino Ferreira num cinema que existia em Bom Conselho. 

Junior Almeida cita João Gomes, no artigo publicado no livro Cangaço em Perspectiva: "Enquanto a força procurava Lampião nas zonas do navio ele se encontrava nas caatinga do é da Serra do Pico. Com os irmãos Antônio Livino Ferreira e um cabra, todos armados, seguiu para o município de Bom Conselho, a fim de visitar os irmãos que ali residiam. Na cidade, Lampião assistiu a cinema, no dia 28 de agosto" (sic).

Em Bom Conselho, como na maioria das cidades do interior de Pernambuco, os cinemas fecharam. Deram espaço a igrejas e casas comerciais diversas.

Os que deram depoimento a Junior e os que escreveram sobre as visitas de Virgulino a alguns lugares, vestido como homem comum (como foi no caso de Bom Conselho) não informaram o ano exato, o nome do cinema, muito menos o filme visto pelo bandoleiro.

Pelo que conseguimos apurar Bom Conselho teve um cinema, bem no centro da cidade. Hoje no espaço funciona uma loja. Provavelmente foi nesse local que esteve o mais famoso bandido do Nordeste brasileiro, na companhia de amigos que cultivava, em suas andanças pela caatinga e pelo sertão.

https://robertoalmeidacsc.blogspot.com/2024/02/lampiao-visitou-bom-conselho-e-foi-ao.html?fbclid=IwAR3gI7SjXP9UPdP1ToyCxSIX1C3_HjdgSo-uG1bTsrq8eaOclSI2aITvR2g

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05 fevereiro 2024

O ATAQUE DE LAMPIÃO A UIRAÚNA - PB.

 Por Sérgio Augusto de Souza Dantas

Escritor, advogado e pesquisador do cangaço Dr. Sérgio Dantas

Uma vitória da inteligência sobre a força.

Há meses Lampião sumira dos noticiários dos jornais. O ano de 1926 encerra-se sem grandes novidades sobre a horda do famoso cangaceiro de Vila Bela. Bem instalado e seguro no ‘coito’ da Serra do Diamante, do poderoso Coronel Isaías Arruda, Lampião sai da aparente inatividade apenas em fins de abril de 1927. Naquele fim de mês, o bandoleiro deixa o refúgio e pratica assaltos em pequenos vilarejos situados na região noroeste da Paraíba, entre os municípios de Cajazeiras e São José de Piranhas. São ataques rápidos, com vistas apenas ao saque. A proximidade desta parte da Paraíba com o valhacouto do ‘dono’ de Missão Velha facilita sobremaneira a ação do bando.

Alguns dos defensores de Uiraúna. Ao centro, de paletó escuro, Luiz Rodrigues. Na extrema direita, sentado, o Subdelegado Nelson Leite.

De fato, no dia 15 de maio daquele ano, liderando uma falange de cerca de trinta e cinco homens, Lampião se prepara para tomar de assalto a Vila de Belém do Arrojado - atual cidade paraibana de Uiraúna. Há dias que ‘olheiros’ residentes em sítios da fronteira já haviam sondado o vilarejo e o cangaceiro – decerto bem ciente das condições do lugar – crê que tem plena chance de sucesso na empreitada que pretende levar avante.

o Arruado de Belém situa-se junto à fronteira do Rio Grande do Norte e é então inexpressivo. Ali não há mais que cento e trinta casas e uma igreja singela. Comércio pobre ou quase inexistente. Também ali não está destacado sequer um contingente policial para manutenção da ordem ou para oferecimento de uma defesa – mesmo que acanhada – no caso de um eventual ataque de cangaceiros. A ‘ordem’ no povoado é garantida somente por um Subdelegado civil, o potiguar Nelson Leite. Apesar de reiteradas notícias sobre incursões de cangaceiros naquela parte da Paraíba nos últimos dias, o Governo do Estado parece ignorar os eventos propalados pelos jornais e pela boca do povo. Apesar de vários reclamos por parte de proeminentes de Belém, o Estado não enviara tropa regular para a localidade.

o início da tarde daquele dia 15 de maio, no entanto, o sertanejo Leonardo Pinheiro percebe a marcha de cangaceiros em direção a Belém. Sem demora, espora o cavalo e entra no povoado em sonoro alarde:

-“Vem cangaceiro por aí! Vem cangaceiro por aí! Parece que é Lampião e não está a mais que umas duas léguas!”

Enquanto a horda marcha em busca do vilarejo, Nelson Leite se apressa em organizar uma defesa. Sangue quente, cioso de suas obrigações, Leite parece disposto a sacrificar a própria vida na defesa da comunidade que lhe fora confiada.

Abandonados à própria sorte, os habitantes de Belém – incentivados por Nelson Leite - tratam de se armar e garantir a resistência do lugar. Civis são convocados e há mesmo os que comparecem voluntariamente para pegar em armas. Ao final do rápido recrutamento, chega-se à desanimadora soma de onze homens apenas. Um contingente ínfimo que tentará rechaçar um bando com cerca de trinta e cinco cangaceiros. Uma luta desigual – se considerarmos a proporção de três bandoleiros para cada defensor e a falta de experiência de guerrilha dos citadinos. Por volta das dezessete horas, finalmente, Lampião avizinha-se da Vila. O frágil agrupamento de casas lhe parece excessivamente frágil e torna-se ainda mais amiudado pela sombra da serra de Luís Gomes, não muito distante dali. “Um alvo fácil”, provavelmente terá pensado o poderoso cangaceiro. O desenrolar dos fatos, porém, lhe revelará um grave erro de prognóstico.

Em que pese a correria desenfreada que se seguiu ao alarma dado por Leonardo Pinheiro, os homens de Nelson Leite aprestam munição e armas. Tudo é feito com rapidez e disciplina.Ao mesmo tempo, mulheres, velhos e crianças – a seguir igualmente os apelos do Subdelegado – buscam refúgio na caatinga ou em sítios de familiares fincados nos arredores de Belém. Pequenos “tesouros” são previamente enterrados em lugares seguros. Potes de barro, caixas de papelão, latas de querosene: qualquer coisa serve como invólucro para as ‘economias’ adquiridas ao longo de anos de trabalho.

Em pouco tempo, os defensores se organizam e estão posicionados em lugares previamente definidos pelo Subdelegado. Dedos nervosos aguardam o desfecho do ataque. Uma testemunha registra os momentos iniciais do entrave:

“O ‘delegado’ Nelson Leite distribuiu uns homens nos pontos mais altos da rua principal, dois outros guarnecendo as laterais e três instalados no teto da Igreja. Quando Lampião entrou com o bando, pela ‘rua velha’, começou a fuzilaria”. (Sinforosa Claudina de Galiza, entrevista).

Nelson Leite, de fato, engendrara bom plano. Distribuíra os poucos rifles e fuzis disponíveis com os onze defensores. Repartiu com irrepreensível parcimônia a rala munição que tinha ao seu dispor. Os melhores atiradores foram destacados para pontos estratégicos. Na teto da igreja - prédio mais alto e com abrangente visão dos arredores - posicionaram-se Luís Rodrigues, Moisés Lauriano, José Teotônio e Joaquim Estevão. O tempo corre lento. Não há novidades. Até perto das oito horas nem sinal da sinistra patuléia de chapéu de couro. A espera alongada transforma as trincheiras em ninhos de ansiedade.

Matriz Jesus, Maria e José, Uiraúna atualmente.

De súbito, Luís Rodrigues dá o alarma. Alguém se aproxima. O luar denuncia vultos sorrateiros. Homens armados aproximam-se do povoado pela ‘rua da Proa’. É o início da invasão. De pronto, grande incêndio ilumina a noite na pequena Belém. Grossas labaredas passam a consumir a casa de um agricultor e espalham-se rapidamente para um antigo curral e plantação de milho já há dias quebrado. O incêndio. Método infalível para incutir terror aos sitiados. 

Josefa Augusta Fernandes, bem jovem à época do evento, anota a origem do fogaréu:

"Lampião começou destruindo a propriedade do finado João Gabriel, tendo em seguida tocado fogo nos currais e nas plantações de feijão e milho. O fogo serviu para alertar os homens da cidade, sendo que eles já estavam em posição nos principais pontos daqui”. (Maria do Socorro Fernandes, entrevista).

Não havia mais o que esperar. Ao primeiro grito de comando de Nelson Leite, trava-se pesado tiroteio. Lampião, decerto, não esperava semelhante reação. A fantástica fuzilaria oriunda da Vila lhe faz recuar. De efeito, os tiros vindos da rua da Proa tornam inviável uma entrada por aqueles lados.

Sem sucesso na primeira investida, o chefe de cangaço tenta confundir os defensores entrincheirados. Sob sua batuta, os bandoleiros passam a gritar, urrar como animais e a praguejar insultos e xingamentos aos defensores e suas famílias. A permear a gritaria, grossas baterias de tiros.

O rei-do-cangaço deseja tomar Belém. Tentará de todas as maneiras penetrar no vilarejo para vilipendiar suas casas e lhes extrair até o último ‘cobre’. Sem demora, ordena aos comandados a ‘abertura’ de uma linha de fogo pela lateral, com o fito de invadir a Vila pelo flanco oposto.

Nada, entretanto, parece gerar resultado prático. A posição privilegiada dos atiradores locados no telhado da igreja permite que tiros sejam disparados em todas as direções. A resistência agiganta-se com estrondos de repercussão fantástica e de curiosa origem. Nelson Leite improvisara – no pouco tempo que dispôs antes da consecução do ataque - algumas “ronqueiras” e logo começou a fazer uso dos artefatos. Os estrondos causados pelas bombas caseiras são assustadores e surpreendentemente surtem efeito. Um simples improviso que, ao que tudo faz crer, parece realmente ser a chave para uma vitória. (1)

Em pouco, qualquer objeto metálico em formato cilíndrico - e vazado pelo menos em um dos lados - torna-se invólucro para manufatura dos pesados rojões. Joel Vieira, com dezoito anos à época do fato, registrou em depoimento:

“Os que estavam no alto da Igreja, começaram a atirar de ponto e também para dentro da igreja, causando um eco que parecia canhão. O Subdelegado também tinha improvisado umas ‘ronqueiras’, feitas com pólvora socada dentro de latas, e de quando em quando estourava uma. Já estava escuro, e aqueles tiros davam a impressão que havia um canhão com a gente”.

No alto da igreja, Luis Rodrigues - artilheiro mais aguerrido – resolve acrescentar estrondos adicionais aos estampidos das ‘ronqueiras’ improvisadas pelo Subdelegado. Dessa forma, com o intuito de causar impacto ainda maior, começa a atirar quase em paralelo à lateral da nave do prédio sagrado. Estrondos fantásticos, causados pelo eco do salão quase vazio, dão ainda mais ânimo aos outros defensores entrincheirados no teto da igreja. Decide-se que alguns deles, alternadamente, passarão a atirar também para dentro da nave.

A estratégia funciona. Os estrondos se multiplicam. De fato, para quem está do lado de fora, resta a impressão de que algum tipo de canhão está sendo utilizado. Os cangaceiros, atarantados, mantém posição de cautela e não avançam. O escuro da noite enevoada pela fumaça dos disparos os impedem de enxergar, na verdade, o tipo de “arma” adicional que ora se usa na defesa do arruado. O engodo paulatinamente funciona.

No calor da peleja, porém, passos apressados denunciam silhueta humana esgueirando-se próximo à igreja. A escuridão da noite não permite distingui-la com precisão. Da torre principal um defensor atira. O civil Antônio Correia é atingido. Confundiram-no com um cangaceiro. Correia morre pouco tempo depois em razão do profundo ferimento à altura do pulmão. É a única baixa durante o combate.

Os cangaceiros não desistem e tornam a investir contra o território inimigo por uma ruela lateral à igreja. Lampião brada ordens aos seus homens. Todos, contudo, parecem hesitar em razão dos estrondos que continuam a reverberar entre as casas da pequena Belém.

Do lado dos defensores, um voluntário prontifica-se para preparar novas ronqueiras, de forma ininterrupta, servindo-se como espécie de municiador.

Dominado pela ira, Lampião manda reacender o fogo que arde tênue na propriedade de João Gabriel. O vento rapidamente espalha as labaredas em espantosa velocidade. As chamas consomem vacas e bezerros cativos no cercado contíguo a casa. Urros de dor de animais engolidos pelas chamas desenham dantesco suplício. Poucos escapam ao bizarro holocausto.

A derradeira tentativa de conquista do povoado fracassa. Com pesar, os cangaceiros reconhecem que não conseguirão penetrar em Belém.

O desconhecimento dos pontos de defesa, o espocar das “ronqueiras”, o ribombar de tiros reverberados pelo salão da igreja, a configuração física da vila, o cansaço da longa marcha até ali. Tudo parece sugerir uma retirada. Lampião não demora em perceber o malogro da empreitada:

- Vamos sair para economizar munição! – grita furioso.

Ainda se ouvem tiros por mais um quarto de hora. Aos poucos os cangaceiros se retiram do campo de luta. Disparos tornam-se esparsos. Ao compasso da retirada, a fuzilaria regride até reinar o mais absoluto silêncio. Lampião e seus homens deixam Belém em definitivo. É ainda Joel Vieira quem destaca:

“Eles tentaram muito, mas não conseguiram entrar. Antes das sete horas da noite, já tinham ido embora. No dia seguinte, o festejo foi grande, pois todos pensavam que ia morrer muita gente, mas não. Apenas um rapaz morreu vítima de uma ‘bala doida’ e caiu ali perto da Igreja. Tirando o incêndio na propriedade de João Gabriel, o prejuízo aqui foi pouco. Com pouco recurso, a gente botou Lampião prá correr!”.

E Lampião, de fato, jamais voltou a Uiraúna. Nos dias seguintes, um telegrama é enviado para as principais cidades do sertão do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Anunciava-se a vitória de um povo contra o poderoso rei do cangaço. O Intendente local assinou o comunicado:

“Fomos atacados dia 15 famigerado Lampião. Resistimos cerrado fogo, bandoleiros recuaram. Vítima tiroteio Antônio”. (a) José Caboclo.

É a vitória inconteste de um sumário grupo de cidadãos contra quase quarenta cangaceiros. Uma vitória nascida da confiança de homens do povo; sertanejos comuns. Não houve – como aconteceu em Mossoró – um grande lapso de tempo para a preparação de uma defesa. Não houve reuniões; não se teve tempo para comprar armas modernas. Não havia sequer uma torre na igrejinha da cidade. Existia, apenas, a vontade de preservar os próprios lares.

Uiraúna se defendeu heroicamente, a exemplo da resistência mostrada pela pequena Nazaré, em Pernambuco, quatro anos antes. Uiraúna impediu a entrada dos cangaceiros de Lampião como faria a população sergipana de Capela, liderada pelo destemido Mano Rocha, três anos mais tarde.

A vitória do povo de Uiraúna foi obtida sem recursos, sem alarde e sem exploração midiática posterior. Vitória conseguida sem um ‘notável planejamento prévio’ e sem colóquios barulhentos. Vitória de um pequeno grupo de homens pegos de surpresa pelo maioral do cangaço. Vitória, porém, recheada de atos do mais real e verdadeiro heroísmo. Vitória, enfim, da inteligência sobre a força.

Sérgio Dantas

Sérgio Augusto S. Dantas é autor dos livros “Lampião no Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada” (2005), “Antônio Silvino – O Cangaceiro, o Homem, o Mito” (2006) e “Lampião: Entre a Espada e a Lei” (2008).

NOTA:

(1) s.f. – Ronqueira: “Cano de ferro, preso a uma tora de madeira e cheio de pólvora, o qual produz grande detonação quando se lhe inflama a escorva”. (Aurélio). As ronqueiras já haviam sido largamente usadas em revoltas populares, como na guerra de Canudos. N do A.

FONTES UTILIZADAS:

A União, edições de 17 e 18 de maio de 1927.

DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. LAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA. Editora Cartgraf, Natal/RN. 2005. 452 pgs.

SOUZA, Tânia Maria de. UIRAÚNA NO ROTEIRO DE LAMPIÃO, in Revista Polígono, 1997, 158 pgs.

Entrevistas concedidas ao autor por Maria do Socorro Fernandes (2003), Joel Vieira da Silva (2001), Josefa Augusta Fernandes (2000) e Sinforoza Claudina de Galiza (2000). 

https://cariricangaco.blogspot.com/2009/12/o-ataque-de-lampiao-uirauna-porsergio.html

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04 fevereiro 2024

A TRAIÇÃO DE IZAÍAS ARRUDA

  Por José Cícero

Pesquisador José Cícero, anfitrião na Fazenda Ipueiras,
de Zé Cardoso e Izaias Arruda, durante o Cariri Cangaço 2010.

A história do cangaço nordestino nem sempre foi possível a construção duradoura de amizades consideradas sólidas. Amigo era quase sempre um artigo que tinha vida efêmera. Não eram amigos apenas cúmplices. Um evidente jogo de interesse que transcorria ao sabor dos acontecimentos. Era um eterno andar sob areia movediça. A lógica dos fatos nos apontava isso. Na vida do cangaço, tantos foram os exemplos desta assertiva. Mas um em particular roubou a cena, de sorte que continua até hoje mexendo com a imaginação e opiniões de pesquisadores, analistas e historiadores da saga lampiônica após o retorno de Mossoró.
 

Lampião
A começar pela forma como terminou a relação de amizade que(supostamente) existiu entre o rei do cangaço e o Cel. Izaias Arruda – um dos maiores coiteiros que Lampião mantinha a peso de ouro nestas bandas dos sertões do Caririenses. Sim. Nada era de graça quando o que estava em jogo eram os negócios lucrativos do cangaço, guiado no mais das vezes pela teoria macabra do roubo e da pilhagem. O que de fato, corrobora esta lida criminosa como uma opção clara de meio de vida. Um expediente praticado não mais pelos degredados da sorte, mas, sobretudo pelos potentados, políticos e arrogantes coronéis.

Izaias Arruda

Tanto que em Aurora, Lampião se sentia como que em casa. Com um ingrediente a mais: aqui ele se sentia seguro e em plena mordomia, em face dos verdadeiros banquetes que lhe eram oferecidos pelos poderosos do lugar e das redondezas. E não se diga que era apenas da parte do famoso coronel. Isso não. As regalias assim como os presentes dispensados aos bandoleiros iam muito além dos préstimos oferecidos pelo temível e famoso Izaias Arruda(ex-delegado de Aurora e prefeito pelas balas, de Missão Velha).

Nas terras aurorenses, Lampião parecia muito mais querido que odiado. Não se sabe se por temor ou pura admiração dos seus feitos cantados e decantados pelo Nordeste adentro. O certo é que em Aurora e circunvizinhança Virgulino promoveu seguidores muito mais que desafetos. Ao passo que verdadeiros bandos nasceram e atuaram anos a fio por estas ribanceiras seguindo a risca os preceitos do renomado cangaceiro. Inclusive de jagunços terríveis e sanguinolentos. Profissionais do crime, organizados como verdadeiras milícias particulares a serviço dos velhos coronéis do latifúndio.

Grupo de Jagunços de Izaias Arruda, em foto de 1926 na Ingazeira

Basta dizer que do subgrupo de Massilon Leite muitos eram naturais d’Aurora principalmente da região do riacho das Antas, tais como: Zé de Lúcio( o Três Pancadas), José de Roque e Zé Côco, só para citar alguns. Além de Asa Branca, natural da Ipueiras, um dos mais jovens a ingressar no bando de Lampião.
 
 
O cangaceiro Massilon
 
Sua pontaria impressionou sobremaneira o rei do cangaço. Um outro grupo muito mais presente tivera a participação de outros bandoleiros autóctones, uns profissionais outros sazonais de Missão Velha, Aurora e lugares adjacentes que vez por outra, resolviam fazer bico. Tal grupo pertencia ao coronel Izaías sob o comando direto do seu braço direito e confiável Zé Gonçalves.
            
Mesmo com sua reconhecida personalidade de homem desconfiado, como era sua praxe, Lampião nunca esperaria uma traição que viesse dos seus amigos das Auroras. Enganara-se redondamente. O tempo não tardaria a lhe provar o contrário em três grandes momentos distintos da sua empreitada nas paragens salgadianas. Tudo envolvido em conjunto na estratégia traçada na fazenda Ipueiras com vista a invasão de Mossoró, o ataque da volante sofrido no sítio Ribeiro( riacho do Bordão de Velhos dia 2 de julho) e por fim, o suculento banquete(envenenado) a cargo do vaqueiro Miguel Saraiva( da serra do Diamante e Coxá) oferecido na casa grande da fazenda-vivenda pertencente a José Cardoso, parente do famoso coronel Izaiais Arruda que terminaria com um cerco policial e o ato incendiário ao bando. Neste episodio marcante ocorrido em 7 de julho de 1927 próximo do meio-dia, cumpre destacar que em cima da hora, Lampião a 500 metros da residência, decidiu que o almoço fosse servido não mais na casa grande, mas ali mesmo, no baixio sob as sombras das Oiticicas e Joazeiros. Uma decisão providencial e salvadora.

 Volante perseguidora de Lampião no Sítio Ribeiro d'Aurora em 1927

Esta mudança obrigou o major Moisés de Figueiredo com seus quase 80 homens ajudado pelos jagunços do coronel a precipitar o plano de ataque. Empiquetados que estavam em redor da residência. Puseram fogo na manga... Lampião com sua perspicácia saíra quase incólume de mais esta. Não totalmente ileso, mas salvara a sua vida e dos seus próprios apaniguados. Teve pouquíssimas baixas. Uma saída possível do cerco da Ipueiras onde tombaram o cangaceiro Xexéu e Catita após quase quatro horas de fogo cruzados. A chuva de bala não foi nada, comparada ao incêndio do canavial e do algodoal seco que fez daquele ambiente, um verdadeiro inferno de chamas. Por sorte a direção do vento soprou o fogo para o lado dos comandados do major. E Lampião com seu bando escaparam aos gritos de despautérios pela parede do açude velho.

Foi o preço mínimo que pagara para não sofrer uma derrota ainda mais completa e humilhante. A fome, a sede, o cansaço, a falta de munição e o verdadeiro desmantelamento das suas armas de fogo. Tudo isso somado redundou no enfraquecimento e quase fim do bando lampiônico naquele momento singular da histórica marcha de Lampião depois do malogro de MossoróSeu know-how de homem estrategista ajudara a escapar de todas as armadilhas e confrontos, contra as volantes dos governos de três estados. Porém aquela refrega o abatera sensivelmente, somada a desproporção do número de combatentes que fora obrigado a enfrentar anteriormente. Chegando em alguns momentos na razão de 40 por 1 em seu desfavor.

Lampião não estava preparado para a derrota. Neste sentido tanto Mossoró quanto Aurora comprometeram para sempre a antes sólida confiança no homem forte de corpo fechado, assim como os inquebrantáveis princípios da velha ousadia dos que fizeram do cangaço uma opção para toda a vida.

José Cícero
Pesquisador - Aurora
Fonte:http://blogdaaurorajc.blogspot.com
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FERREIRA DA GAZETA DO OESTE - SERESTEIRO

    Por José Mendes Pereira José Ferreira Filho José Ferreira Filho nasceu em Mossoró, no dia 15 de Agosto de 1946.  Quando criança fez de t...