O clima da região de Maceió é tropical úmido e no calor deixe a pele oleosa, com dificuldade de evaporar. O clima do Sertão é tropical seco ou semiárido. No calor o suor evapora fácil. Na capital a chuva pára abruptamente como se tivesse sido cortada num só golpe. No Sertão a chuva vai parando aos poucos.
O sertanejo, principalmente do campo, tem um modo especial de falar sobre o tempo. Quando o céu está repleto de nuvens cinzas, ele diz: está bonito pra chover...”. Os mais experientes distinguem as coisas: “Não vai chover, isso é somente carregação...”. E de fato, o céu está bonito para chover mais não chove.
Muitos sertanejos ignoram as quatro estações do ano. Para eles, só existem duas estações: verão e inverno. O verão é marcado pela ação do Sol, o inverno, pelas ações das chuvas. A primavera não conta mesmo sendo amena em relação à temperatura. O outono surge como início de chuvas, portanto, classificado popularmente como inverno. A temperatura em pleno verão pode atingir até 39, 40 graus pelo dia e, à noite sofrer a chamada “amplitude térmica”, quando a temperatura declina, permitindo noites agradáveis e prazerosas.
Um pouco antes das chuvadas de verão, vários tipos de animais chamam atenção do sertanejo. Uma dessas maneiras de atrair a curiosidade é a chamada:” festa no céu”, como aconteceu na tarde de ontem: urubus em bando, sobrevoam em longos círculos repetitivos, distanciando-se aos poucos do ponto inicial da festa. Dificilmente, nessas ocasiões, o céu não molha a terra até o dia seguinte.
Também não é raro no prelúdio das chuvas, as ventanias que provocam os redemoinhos, diversão de adultos e da meninada que grita insultando o vento: “Rapadura!” “Rapadura!”. Dizem que essas palavras fazem com que o vento furioso se dirija com seus redemoinhos para onde está sendo chamado.
Na situação de temperatura alta com chuvas abundantes e momentâneas, pode ocorrer o fenômeno do granizo, chamado por aqui de “chuva de pedras”.
Entretanto, o presente esperado mesmo pelo sertanejo, é a trovoada, chuvas abundantes de uma vez só, quase sempre acompanhada de raios apocalíticos e trovões terrificantes. Não fica um só cachorro na rua, galinha no terreiro e de nervosos sem mergulhar debaixo da cama.
TROVOADA IMINENTE OU CARREGAÇÃO? (FOTO: B. CHAGAS).
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A pandemia que não dá trégua já levou mais de duzentas mil pessoas por esse enorme Brasil. Independente de classe, idade, gênero ou religião, o vírus deixa rastros por onde passa. Na música não tem sido diferente. Em menos de um ano, perdemos Aldir Blanc, Evaldo Gouveia, Paulinho vocalista do Roupa Nova, Ubirany, dentre tantas outras estrelas que musicaram vidas e histórias.
A última partida foi a do “Rei do Mungango”, o tão querido Genival Lacerda, figura marcante do forró nordestino. A partida do octogenário faz pensar na necessidade do resgate da memória de figuras que marcam esse país, mas caem no desconhecido. Artistas que apagam sua imagem mesmo marcando o nome na história.
O Nordeste, essa região de “um povo que é antes de tudo forte”, é a terra que há cem anos foi berço de uma das figuras que melhor descreve o sertanejo. Ainda assim, hoje é tão pouco lembrado. Aliás, o seu nome sempre foi abafado diante da imensidão de seu parceiro, o “Rei do Baião Luiz Gonzaga”. Discorro de Zé Dantas, um dos maiores compositores do país e que foi desmerecidamente pouco valorizado.
O pernambucano que completará seu centenário no próximo fevereiro morreu ainda em 1962, aos 41 anos, mas deixou uma obra que adentrou da caatinga do sertão a São Paulo dos retirantes.
Muitos podem nem lembrar quem foi Zé Dantas, mas com toda certeza trazem na memória versos como “Ela só quer, só pensa em namorar", “A todo mundo eu dou psiu” ou “Vem morena pros meus braços”, todos esses sucessos do xote e forró brasileiro.
A sensibilidade do Nordeste não tem igual
O desejo da chuva, o sol escaldante no chapéu quebrado, a mão rachada da enxada, o gibão de couro, aquele olhar valente do vaqueiro, esses elementos imortalizaram os cenários do sertão nordestino. Muitos captaram essa essência e buscaram musicalizar essa região tão linda repleta de dores e alegrias, mas poucos se fizeram fiel na proposta de revelar a verdade de seu povo, e que a sofisticação não parte da classe social e sim da sensibilidade.
Luiz Gonzaga, um dos principais símbolos da música brasileira, foi um dos primeiros a ser voz dessa ideia. Mas para ecoar seu canto precisava de composições que comprassem seu desejo. O primeiro letrista parceiro foi o cearense Humberto Teixeira, que com o Rei do Baião emplacou grandes sucessos como “Asa Branca”, “Baião”, “Qui nem Jiló” e “Paraíba”. Como tudo tem seu fim, em 1950 a parceria acabou.
Três anos antes, em 1947, descansando no Grande Hotel após uma série de shows em Recife, Gonzagão recebeu um jovem que se dizia compositor. O rapaz estudava medicina e tinha algumas letras que incluíam toadas, baiões e xotes. Era José de Sousa Dantas Filho, ou melhor Zé Dantas e ali começou uma amizade duradoura.
O compositor fez prolongar a grande fama do Gonzagão. Além das já mencionadas “Xote das Meninas”, “Sábia” e “Vem Morena” é importante mencionar “Riacho do Navio”, “Cintura Fina”, “Abc do Sertão” e “Siri Jogando Bola”.
Duas músicas de autoria dos artistas merecem ser comentadas em especial. A primeira é “A Volta da Asa Branca”, uma espécie de continuação do primeiro sucesso de Luiz com Humberto Teixeira. A música leva o amor do nordestino pelo sertão, que quando vê a terra molhada com a chuva se alegra e volta para seu roçado.
Outra letra que jamais pode ser esquecida é “Vozes da Seca", que carrega a pobreza e a dor do sertanejo mediante a seca dura do início da década de 1950 e grita como protesto diante das desigualdades. A fome e o subemprego que os retirantes do nordeste sofriam ao chegar na capital Paulista é o cenário da canção. Isso é Brasil e sua pluralidade cultural.
Não se pode deixar cair no esquecimento
Zé Dantas foi brutalmente esquecido pela crítica e pelo público, mesmo que sua obra seja muito bem vendida pelas gravadoras, mesmo depois de quase sessenta anos de seu falecimento. Suas músicas já foram interpretadas por Alceu Valença, Elba Ramalho, Raimundo Fagner, Dominguinhos, Gilberto Gil, Marisa Monte e tantos outros astros do cancioneiro popular.
A morte de Genival Lacerda, um mês antes do centenário de Zé Dantas, surge como uma reflexão para que não se deixem esquecer aqueles que se vão. Não existe a necessidade de idolatria, mas é importante valorizar os que representaram tão bem os brasileiros.
Assim como Zé levou o olhar humilde e sincero do sertanejo, Genival criou o forró de duplo sentido, mostrando outra marca desse povo: o bom humor !
Referências devem ser mencionadas. A música não deve nunca ser vista com cunho apenas de entretenimento! Ela conta a história de cada pessoa e seu tempo, carrega ideologia, identidade, sonhos e utopias. Fala uma verdade que não pode ser dita sem ritmo, batuques e sons. Música é vida e seus representantes merecem ser respeitados.
Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.
Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.
O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.
franpelima@bol.com.br
Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.