31 de dez. de 2019

LIVROS SOBRE CANGAÇO PEÇA AO PROFESSOR PEREIRA

Por José Mendes Pereira

Se está preocurando livros sobre cangaço adquira-os com Francisco Pereira Lima lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba através deste e-mail:

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30 de dez. de 2019

CHUVA NAS ALAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.237

Infelizmente ou felizmente notícia gosta de usar as duas faces. E as previsões de chuvas para o estado nos três primeiros meses, do ano, deixam o nosso Sertão esperançoso e quase feliz. E o quase fica por conta das alvíssaras até as realizações dos torós anunciados. Para a capital que vive os problemas de afundamentos de bairros, quedas de barreiras, batidas no trânsito e crateras/ armadilhas cheias d’água, não é notícia muito agradável; até mesmo porque se diz que haverá chuvas contínuas e muito calor, bem diferente das trovoadas passageiras e tradicionais. Imaginemos a aflição dos Bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e imediações com tantos casos revoltantes e não resolvidos.
CHUVA EM SANTANA do IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Mas o semiárido poderá sorrir de boca larga porque chuva na terra é melhor de que ouro em pó. Essas precipitações encherão pilões, barreiros e açudes, permitindo uma ponte robusta entre o verão e a época invernosa. Planta-se feijão de corda, enche a palma, sai o pasto, o capim encobre o lombo luzidio das vacas leiteiras, fabrica-se o queijo e, o legume faz a barriga cheia. O aroma desejado e gostoso da terra molhada dilata as narinas do sertanejo em festa. Estira-se o mandacaru, pia a codorniz e os poetas enchem os salões das fazendas com aboios, emboladas e repentes na viola.
O pincel da natura cobre o giz do espaço com o cinza dos cúmulos, dos nimbos, empurrados pelo regougar dos trovões assustadores. Os traços fortes das chuvaradas cantam nos telhados vermelhos da casa-grande, faz tinir as bicas das taperas e derrubam a lataria enferrujada por cima dos potes de barro. Enrosca-se a cascavel, recolhe-se o carcará, muge o bezerro na baixada e a velha peleja com o fogo do cachimbo vindo do Juazeiro do padrinho Ciço.
Feijão, milho, melancia e mandioca só faltam quebrar o espinhaço do jegue, a mesa do carro de boi ou os eixos do caminhão valente a caminho do armazém.
Na beira do córrego, esse matuto observa e anota até mesmo quando o patriarca da humilde família bota os joelhos na terra, ergue as mãos aos céus e murmura. O gavião ali perto não irá compreender, mas Deus – presente nos matizes do verdume –  abençoa os seus dizeres e suas lágrimas que escorrem rumo ao pequeno riacho murmurante.

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27 de dez. de 2019

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


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23 de dez. de 2019

ECOS DE COMBATES... DA "FAZENDA MARANDUBA"


Por Rubens Antonio

Um dos combates referenciais do Cangaço foi o Fogo da Maranduba. Os militares e jagunços aliados foram duramente fustigados. Aqui, a demanda de um dos soldados sobreviventes, de vinculação dos seus ferimentos àquele combate, em um documento que repousa, atualmente, no Arquivo Público da Bahia.




Transcrição:

TESOURO DO ESTADO DA BAHIA
P.M.E.B

Quartel em Paripiranga, 8 de Março de 1940.
Do soldado 2898 ANTONIO TEODORO CHAVES

Ao sr. Cel. Comandante da PM

ASSUNTO: – requer I.S.O.

Tendo sido baleado no combate contra o grupo de “Lampeão”, no dia 9 de Janeiro de 1932, quando fazia parte da “Col.Ten. Liberato” comandada pelo Sr. Cap. do E.N. Liberato de Carvalho, na fazenda “Maranduba”, Municipio de Poço Redondo, Estado de Sergipe, venho de solicitar–vos um Inquerito Sanitario de Origem, a bem dos meus direitos. Nestes têrmos, pede deferimento.
Sargento Antonio Teodoro Chaves
(Foto inédita na literatura. Cortesia de sua bisneta Gabriella Costa, para o Acervo Lampião Aceso)
 É permitida a reprodução desde que cite-nos como referência primária.


Da "Fazenda Cajazeira"

Pouco conhecido e comentado, em termos de estudos do Cangaço, foi o Fogo da Fazenda Cajazeira, no Município de Cipó, BA. Aqui, a demanda de um dos soldados sobreviventes, de vinculação dos seus ferimentos àquele combate, em um documento que repousa, atualmente, no Arquivo Público da Bahia.



Transcrição:

TESOURO DO ESTADO DA BAHIA
P.M.E.B

Quartel em Paripiranga, 11 de Março de 1940.
Do soldado ANTONIO TEIXEIRA DA SILVA

Ao sr. Cel. Comandante da PM

ASSUNTO: – requer I.S.O.

ANTONIO TEIXEIRA DA SILVA, soldado do 4º B.C., adido ao D–NE., tendo sido acidentado no combate contra o grupo de “Lampeão”, havido na Fazenda Cajazeira, Município de Cipó, Estado da Bahia, no dia 11 de Agosto de 1932, quando fazia parte da “Coluna Tenente Ladislau”, que operava no Nordéste do Estado, vem, mui respeitosamente, a bem dos seus interesses, solicitar–vos um Inquerito Sanitario de Origem.
Termos em que espera e PEDE DEFERIMENTO.

Pescado na fartura do Sítio do Cumpadi Rubens

22 de dez. de 2019

O NATAL QUE TEMOS

Por Rangel Alves da |Costa

As imagens servem para exemplificar como o Natal vem se transformando ao longo dos anos. Os cartões postais (que praticamente não existem mais) mostravam os três reis magos seguindo a estrela-guia em direção ao local do nascimento do prometido. Noutra cena, o estábulo tendo uma manjedoura ao meio e o menino sendo visitado por bois, cavalos, aves, ovelhas e outros animais. Um cenário empobrecido, ladeado de capim seco, pedras, garranchos trazidos pela ventania. E ali José e Maria adorando e protegendo o pequenino. Neste sentido são as cenas retratadas nos presépios.
Deste nascimento é que vem o espírito natalino. Para a cristandade, tal espírito representa o advento, ou seja, o nascimento ou a vinda do menino Jesus, que outro não é senão o Deus encarnado. No Natal, pois, celebra-se a vinda do Messias como a grande esperança da humanidade. É a preparação dessa chegada, renovada a cada ano, que caracteriza o espírito natalino: um tempo de preparação, de reflexão, de renovação das esperanças. Mas sempre em obediência à simplicidade daquele estábulo, sua manjedoura e o menino nascido em tão humilde família.
Com o passar dos anos, e aquelas imagens permanecendo apenas nos cartões natalinos e nos presépios, o período natalino foi sendo transformado de tal modo que sua caracterização ficou por conta dos enfeites reluzentes, das luzes espalhadas por todo lugar, nos pisca-piscas e nos adornos cada vez mais tecnologizados. Arrefeceram o sentido religioso da celebração, transformaram um período de solene reflexão em algazarra consumista, transmudaram toda a simbologia natalina num festim desenfreado de gastos, troca de presentes, preparação de ceias suntuosas e brindes com importados.
Quando aqueles três reis magos (Belchior, Baltasar e Gaspar) se dirigiram à Belém para presentear o menino Jesus com ouro, incenso e mirra, e mais tarde as pessoas se contentavam em oferecer doces, frutas e presentes modestos aos parentes e amigos, jamais imaginariam a feição que tais lembranças foram tomando. Modernamente, presentear alguém com presente barato é correr sério risco de inimizade. Houve um tempo de sinceros agradecimentos ao receber um simples cartão natalino ou mesmo uma folhinha ou calendário, mas de repente ou se dá a marca, a grife ou a etiqueta ou sequer receberá ao menos um abraço.


E assim porque o Natal passou a ser tido como mero período de compras. As lojas se enfeitam de luzes e adornos não para relembrar o nascimento do menino, mas para chamar clientes. Muitas pessoas passam a frequentar as igrejas não porque estejam com a fé reanimada, mas para implorar recursos para a compra de muitos e alentados presentes. Os enfeites das ruas e avenidas nada têm de sagrado, mas apenas para atender aos anseios comerciais e as imagens das administrações. Para uma ideia do uso do Natal para outros fins, basta conhecer a decoração dos shoppings. Mais parece uma gigantesca árvore natalina, mas objetivando somente recordar que é preciso comprar - e comprar cada vez mais - para presentear os amigos.
Foi o consumismo - ao lado da pouca religiosidade do povo - que retirou do Natal o seu verdadeiro espírito, ou ainda o seu sentido de fraternidade, reflexão e humanitarismo. Ao invés de visitar um parente ou um enfermo, a pessoa geralmente prefere o caminho do shopping ou dos grandes centros comerciais E de lá sempre sai carregada de pacotes e embrulhos enfeitados, ainda que a conta do cartão deixe de ser paga já no começo do ano. Ninguém se reveste de realidade e afirma a si mesmo que dessa vez não pode comprar qualquer presente. Pelo contrário, se endivida como pode para satisfazer o ego e a vaidade. Do mesmo modo age em casa, quando enche a mesa pelo simples prazer de chamar uma vizinha para que assim a aviste.
Mas o que fazer agora, ante os tempos tão difíceis? Com toda população reclamando da crise, dos aumentos de tudo, da falta de dinheiro, do décimo-terceiro fatiado, da falta de qualquer perspectiva de melhoria financeira, então logo se imagina um refreamento do consumismo. E assim certamente será, mesmo que muita gente ainda insista em se endividar até o crédito acabar. Contudo, mesmo que forçadamente, grande parte da população haverá de se contentar com um Natal das vacas magras. Assim como aquela vaquinha ossuda ao lado da manjedoura. E será o começo do reencontro com aquele espírito natalidade imorredouro.
Serão estes tempos difíceis que farão com que o espírito natalino enfim retome um pouco de sua verdadeira feição. Sem a fartura da ceia, talvez as famílias reconheçam o valor de outro pão. Sem os presentes caríssimos, talvez as pessoas compreendam o valor de uma singela recordação. Sem tantos shoppings, centros comerciais e lojas em suas vidas, talvez as pessoas encontrem um tempinho para a igreja, para a eucaristia, para a oração. Sem uísque e champanhas importados, talvez muitos valorizem mais o diálogo sóbrio e fraternal.
O que talvez nunca mude são as esperanças de alguns. E que são tantos e por todo lugar: o menino pobre esperando que Papai Noel deixe qualquer presentinho na janela de seu barraco.

Escritor
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20 de dez. de 2019

O SERTANEJO E O AMOR AO SERTÃO

*Rangel Alves da Costa

Amor ao sertão é a verdadeira expressão do verdadeiro amor. E amar o sertão acima de tudo, além do que sobre ele possa existir num momento. Amar o sertão da chuva e da seca.
Amar o sertão da colheita e dos campos esturricados de sol, o sertão familiar e aquele desconhecido, de forasteiro. Amar o sertão que tem lua grande, bela e majestosa, e um sol de mil sóis numa só fogueira de sina.
Amar o sertão desde o seu passado mais antigo, naqueles idos desbravadores, ao que ele no presente se mostra, com o moderno tantas vezes transformando tudo. Nada para no tempo, tudo caminha, bem assim no mundo sertão.
Minha identidade é sertaneja de raiz. No sertão eu nasci como a flor do mandacaru, o espinho da palma e a doçura do araçá. E sempre com imenso orgulho, ecoo por onde passo o grito de afirmação: sou sertanejo!
Sou sertanejo é o que sou. Mesmo estando longe ali estou, como andorinha que voou, mas que depois da seca voltou.
Sou sertanejo, e isso me faz orgulhoso. Sou feito umbu travoso, mas como o araçá saboroso, no fogão de lenha o cozido mais gostoso.
Sou sertanejo de vaquejada, de cavalgada, de cavalhada. De aboio e de toada, de canto vaqueiro na estrada, o eco da vaqueirama e da boiada.
Sou sertanejo de chapéu de couro e gibão, de peitoral e de cavalo alazão. Espora uso mais não nem açoito o animal da pele virar lanhão. O bicho é amigo, é irmão.
Sou sertanejo de casa de cipó e barro, ainda o carro-de-boi como carro e fumo de rolo no cigarro. Flor de plástico no meu jarro, à vida me lança e me agarro.
Sou sertanejo de moringa na janela, de rangido na cancela, de braseiro sob a panela e qualquer pão na tigela. Prato de estanho numa mesa tão singela e a humildade tão bela.


Sou sertanejo ainda de candeeiro, e eu mesmo bato tempero e colho pimento de cheiro. Nunca quis ser o primeiro, mas nunca o derradeiro, e tenho riqueza mais que dinheiro.
Sou sertanejo de porta aberta pra malhada, de carroça na sombreada, de poeirão na estrada. Mesmo a vida cansada, o rei sou eu nesse reinado de sol grande e luarada.
Sou sertanejo de semente e de grão, também de tristeza e de aflição se não chove no sertão. Quando o sol desce em clarão, entristecido eu penso no bicho em ruminação.
Sou sertanejo de leite bebido em curral, esguichado do peito animal, com um pouquinho de farinha e sal. Uma comida de sustança e que a ninguém já fez mal.
Sou sertanejo de graveto e cipó, de embornal e aió, da rolinha e curió, de laçadura e nó. Da pedra grande e do pó, em meio a tudo e tão só.
Sou sertanejo de sonhar com trovoada, de esperar a invernada, de orar pela chuvarada. Levo São José na estrada, procissão e caminhada para que do céu o trovão dê ribombada.
Sou sertanejo de um sertão tão sertão, de Padre Ciço e de Lampião, do Conselheiro e do Frei Damião. Tudo se revela ao coração não como apenas viver, mas como santa missão.
Sou sertanejo do mandacaru e xiquexique, da zabumba e do repique, da roupa de feira mais chique, de pinga da terra e alambique. E da perna de preá fazer piquenique.
Sou sertanejo da fé e da devoção, do rosário de contas e de oração, de oratório e de comunhão, do Padre Mário e seu sermão. E ouvir o que diz, e sentir emoção.
Sou sertanejo da terra de Dona Zefa parteira, do Mestre Tonho da aroeira, do Mestre Orlando da algibeira, de Naní nossa doceira, de Zé Leno e sua arte cangaceira.
Sou sertanejo de um sertão que é de Alcino, do caçador Mané de Tino, de Felipe o menino que faz do xaxado um destino. Um sertão assim, como na escrita de Belarmino.
Sou sertanejo do Velho Chico em ribeira, da história cangaceira, da pomada de peixe-boi ainda vendida na feira. E daquela panelada que o cheiro vai além da cumeeira.
Sou sertanejo do passado e da memória, do proseado e da história, do sofrimento e da glória, até daquele cigarro antigo, o Continental e Astória.
Sou sertanejo daquele forró do Miltinho, da novena em Curralinho, de toda estrada e caminho. Daquele leilão tão antigo que recordo com carinho.
Sou sertanejo como a Família Vito a tocar, como Geno a aboiar, como Niltão a ecoar a toada tão tristonha da vaqueirama que foi pro céu vaquejar.
Sou sertanejo daquele mesmo sertão que um dia foi de Zé de Julião e que hoje, com o merecido perdão, está entregue ao desvão, nas mãos de uma gente estranha que não é pai nem irmão.
Sou deste sertão que me faz caminhar pela terra nua em busca de suas raízes. E cada relíquia encontrada é como se eu estivesse espelhado desde os primeiros dias.

Escritor
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19 de dez. de 2019

ATÉ TU COITEIRO MANÉ FÉLIX, QUE COMIAS NO MEU PRATO TAMBÉM QUERES CONDENAR UM POUCO A HONRA DA MINHA RAINHA MARIA BONITA?

Por José Mendes Pereira.
Nenê do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita

Pensando bem, é verdade o que afirma o escritor Rostand Medeiros que muitas histórias sobre o cangaço são motivos de piadas, mesmo por depoentes que tentaram enfeitar o que aconteceu no movimento social dos cangaceiros e principalmente no dia que os cangaceiros foram chacinados.
As respostas do cangaceiro Balão ao repórter da Revista Realidade em novembro de 1973 foram mais do que fantasiadas, muito embora, existem outras que têm fundamentos.
Existem informações que quem armava Lampião era o João Bezerra da Silva, mas na minha humilde opinião não há fundamento, uma razão é que: qual é o inimigo que arma o seu próprio adversário para depois arriscar a vida? Só em vídeo game quando muitos morrem e depois voltam a viver novamente para darem inícios aos ataques.

O coiteiro Mané Félix pessoa de alta confiança do rei do cangaço capitão  Lampião disse coisa com coisa, e eu acredito que ele deu uma deslizadinha quando afirma que Luiz Pedro meteu uma palmadinha meio forte nas nádegas de Maria Bonita, e o capitão Lampião que assistia de camarote não disse nada. 

Leia:

"Nessa tarde - dizia o coiteiro Mané Félix ao reporte da Revista Realidade - por sinal, depois de "caçoar" com Luiz Pedro, deixando de fazê-lo somente no momento em que se dirigia para o riacho, o bandoleiro que estava sentado sobre uma pedra, deu-lhe uma palmada mais ou menos forte nas nádegas (de Maria Bonita), fazendo-a correr na direção do pequeno córrego, enquanto Lampião que a tudo assistia, sorriu como se nada tivesse acontecido".

Quando se respeita alguém não há brincadeiras. O respeito de todos os cangaceiros com Maria Bonita e com Lampião era preservado. Lampião era na verdade um empresário, pois se contratava alguém tinha a sua empresa, muito embora para ele, do bem, e para nós, do mal. 

Qual é o patrão que se mistura com os seus funcionários? Nenhum! Do contrário perderá o respeito e não saberá mais como contornar. 

Por que era que no acampamento Lampião se isolava dos seus comandados armando a sua central administrativa um pouco longe dos asseclas? Justamente para que eles o respeitassem. Se ele vivesse misturado com os cangaceiros, salvo uma reunião, chegaria o dia em que perderia por total o seu respeito.

Sobre como era Maria Bonita fisicamente o coiteiro Mané Félix acertou, descreveu para o repórter a fiel e corajosa companheira de Virgulino Ferreira da Silva, assim à vontade como uma: "mulher baixinha, toda redondinha, uma carinha bonita e com dois olhos pretos e grandes, morena clara, cabelos negros e lisos, quadris relativamente largos, cintura fina, tendo os braços e pernas roliços e muito bem feitos". Muito "prosista e conversadeira" - disse ele ao entrevistador - brincava bastante com alguns dos bandoleiros e pelos quais era respeitada, apesar de muitos deles levarem essa brincadeira mais além, como Luiz Pedro, por ela chamado de “Caititu”, e que gozava da maior confiança e intimidade da mesma e do próprio Lampião seu compadre.

Eu acredito na honestidade de Maria Bonita.

Essas informações para mim são meio pruéticas como dizia o humorista coronel Ludugero. Mas isso é a minha opinião que poderá nem ter nenhum sentido, e nem ficarei chateado se algum dos amigos discordar. Cada um tem a sua visão, e sou apenas um estudante do cangaço sem rumo e sem muito conhecimento sobre o tema.

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17 de dez. de 2019

O NATAL E O MENINO*

Por José Cícero Silva

No meio da noite tão triste
há um menino...
Sozinho na maior solidão que existe.
Um ser pequenino.
Relegado ao mais completo abandono.
Há muito não dorme, o tal menino.
Mesmo sofrendo ao relento de frio e de fome
Ele faz prece aos santos.
E a humana gente, indiferente,
finge não saber sequer seu nome.
É Natal.
Tudo está escuro.
Há sons de sinos por todo canto.
Luzes coloridas, presentes
e cheiro de comida quente.
Todos cantam: “noite feliz, noite feliz...”
Há ceia farta
e festa vasta entre os homens.
Enquanto isso, o pobre menino
chora baixinho de frio e fome.
Mas não reclama.
Está sem sono, o pequenino...
Não sabem os indiferentes que se fartam
que o tal menino triste
entregue ao abandono da vida
não é, senão, o próprio Cristo
que na noite de Natal insone,
disfarçado de criança,
veio ao mundo como uma chama.
Para testar de novo
o solidarismo, a tolerância
e a caridade dos homens.
Como igualmente,
a fé, o otimismo e a esperança humana.
E quando finalmente o Natal se esconde
o menino pobre transfigurado em anjo
com medo e pena da maioria dos homens,
cria asas e voa para o céu neste instante.
............................
José Cícero
Aurora - CE.


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16 de dez. de 2019

UMA VERDADE VERDADEIRA

*Rangel Alves da Costa

Uma verdade verdadeira, com se dizia por lá e que agora vou contar, pois assim a voz irretocada da história:
O home tá o restim, só o cangaço. Tomem, pela vida que leva. Coroné pensa que ele é bicho pra sustentar no lombo, pru riba das costas e pru todo lugar, a sina da dor, do sofrimento, do fardo pesado. Mai num é não. O home inté se ajoeia pru causa do peso mai adespois se alevanta.
Tem home covarde, que se ajoeia mermo e se deixa rolar no chute das bota. Mai outo não. Ninguém nasceu fio de uma égua pra ser ispizinhado, martratado, ferido naquilo que é. Argum dia vem o troco e quano o troco é bem dado entonce começa a guerra.
Só seno mermo fi da cegueira mai cega pra pensar que a pessoa, só pruque é pobe, tem de viver debaixo da sola, com as costa esperano chibata, teno que fazer as orde e as desorde mandada pelo outo. E num só isso não. A pobeza num pode ter nada pru mode o poderoso mandar acabar com tudo. Só o rico pode ter tudo, mai a pobeza nada.
Veja que desaforo da gota serena. Pru causo de intriga de terra, se achano no direito de poderoso, entonce vai e manda sangrar uma rês, duas, três, um rebanho intero. E achano que o mai fraco tem que suportar tudo isso calado. Quer tomar na força o terreninho do outo, achano que o mai fraco, o da pobeza, tem de ficar calado.
Mai existe tudo isso mermo entre pobe. Tem gente que é mai ruim que o diacho raivoso. O que dói é quano o pobe se ajunta com o poderoso pra ferrar com a vida daquele que nem tem onde cair morto. Ou quano muito tem uma casinha de barro, um pedacim de chão e duas ou três vaquinha. E uma fiarada que só.
Vida da gota é essa. Vida frebenta da gota serena é essa, seu moço. Quem vai aceitar que uma fia sua, menina nova e aina cheirano a mijo, seja deflorada por quarque um? Mai o poderoso se acha no direito de martratar a bichinha. O pior que achano que tudo vai ficar assim mermo. Fica não, seu moço. Não com pai de famia honrado e valente, que dá a vida mai num aceita uma desfeita dessa.
Num é fáci viver num mundo assim não. O pobe sempre tratado cuma escravo. No mundo sertanejo é cuma se Deus tivesse criado tudo na divisão. De um lado os que tudo pode e do outo os que nem nada pode nem nada tem. E aina pru riba uma tar de justiça pra abençoar os marfeito de quem tem poder. O pobe mata, vai preso e é esquecido, mai o rico manda matar e é cuma nada tivesse acontecido.
Quantas cova rasa, quanta cruz perdida, quanta ossada esquecida nesse meio de mundo? Tudo da pistola, do mosquetão, do clavinote, da espingarda, da arma sedenta de sangue. Tudo ofício da jagunçada a mando do coroné dono do mundo. E quano as casinha de barro e cipó fica sem dono, entonce chegue logo o dono do mundo.
Assim esse mundo. E muito mais pior do que se possa dizer. Entonce pregunto: inté quano isso vai acontecer até que o troco seja dado? E assim pruque tem veiz que o bicho sai de debaixo da sola da bota e sobe botina a riba. E vai subino mais inté chegar no ôio do poderoso e preguntar o pruquê de tanto martrato e tanta preseguição.
Entonce, quano o ôio da honra e da valentia confronta o ôio medroso do poderoso, tudo começa a desandar praquele que se achava arriba de tudo. Agora sabe que já num pode fazer tudo cuma quer sem que a valentia venha cobrar explicação. Entonce a canga é tirada das costa e aqueles tratado como bicho vai ser respeitado.
Entonce é assim que aparece um Antonho Sirvino e um Lampião. É assim que tomem aparece um Corisco, um Labareda, um Vorta Seca, um Canário, um Azulão, um Zabelê, um Sabonete, um Luís Pedro, um Cajazeira, um Balão, um Zé Sereno. Mai tomem muié valente da gota cuma Dadá, Adília, Maria Bonita, Enedina e tantas outa.
Quano a canga foi tirado do lombo, quano o home acordou sua valentia, entonce tudo mudou. O cangaço já num era feito de home tendo de suportar o peso do poder, da injustiça e do mando nas costa, mai ele mermo fazeno valer sua razão de home. E cobrando aina o preço de tanta dor sofrida no passado.
E num venha dizer que cangacero era tudo gente ruim, tudo bandido, tudo matador. Num me venha dizer que entraro na caatinga e arribaro no mundo só pra fazer mardade. Dizer assim é num conhecer a razão de tudo assim acontecer. E pior ainda: é num conhecer o outo lado. Esse sim, matador, carrasco, bandido, com o punhal do poder na mão pra sangrar toda a vida sertaneja. Quem feiz mais mardade no sertão, foi o cangacero ou o poderoso?
Conveusar é fáci demai, saber é que é difíci, seu moço. Só viu a terra tremer quem estava desprotegido. Só viu o sangue jorrar quem num tinha cuma fugir. Só ouviu o grito de dor quem tava do lado do sofrimento. Ninguém se alembra disso. Mai é preciso sempre se alembrar. E pra num tá falano bestera.


Escritor
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10 de dez. de 2019

QUADRO "LAMPIÃO O REI DO CANGAÇO"

Por Snides Caldas

Especificidade: Réplica do chapéu de Lampião, de 1938; moedas do período; fundo azul de tecido, típico das vestes usadas pelos cangaceiros; trabalho em couro representando os bornais.

Peça do artesão Roosevelt Fernandes, acervo do ateliê Gibão de Cor, localizado na Vila do Artesão, chalé 76, em Campina Grande.


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9 de dez. de 2019

30 de nov. de 2019

CERTIDÃO DE ÓBITO DE ANTÔNIO SILVINO

Acervo do José João Souza

REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL
ESTADO DA PARAÍBA SEDE DA COMARCA
Município de Campina Grande

1°. CARTÓRIO — Avenida Floriano Peixoto
R E G I S T R O D E Ó B I T O
Severino Cavalcanti Júnior
Escrivão do Registro Civil
Hélio Cavalcante Albuquerque
Escrivão Substituto
Certidão de óbito de Manoel Batista de Morais
(Antônio Silvino)


Certifico a pedido de pessoa interessada que, revendo em meu cartório o livro de registros de óbitos número 27, folhas número 55, sob o número de ordem 16.195, consta o termo do teor seguinte: "Aos vinte e nove dias do mês de julho de mil novecentos e quarenta e quatro, nesta cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba, em cartório compareceu Manoel Severo da Costa, motorista, exibiu uma guia de óbito firmada pelo médico Dr. Bezerra de Carvalho, exibiu uma guia, digo, atestando ter falecido ontem às dezenove horas, à rua Arrojado Lisboa, nesta cidade, em consequência de glomerulonefrite crónica — Uremia, MANOEL BATISTA DE MORAIS, sexo masculino, cor branca, com setenta e dois anos de idade, fazendeiro, pernambucano, residente nesta cidade, solteiro, também conhecido por ANTÓNIO SILVINO, nada deixa para inventário, deixa oito filhos naturais de nomes seguintes: José, Manoel, José Batista, José Morais, Severino, Severina, Isaura, Damiana; era filho de Pedro Rufino de Almeida e Balbina Pereira de Morais; naturais de Pernambuco e ambos falecidos; e o cadáver será sepultado no cemitério desta cidade. Para constar mandei lavrar este termo que lido e achado conforme assina o declarante. Eu, Severino Cavalcanti Albuquerque, Oficial do Registro o subscrevo, (a) Manoel Severo da Costa. Era o que se continha em dito termo e foi datilografado em seu inteiro teor. O referido é verdade. Dou fé.

Campina Grande, 26 de setembro de 1969
Severino Cavalcanti Júnior
Escrivão do Registro Civil

Do livro: HISTÓRIA DE FREI MIGUELINHO - O BANDOLEIRO, A FONTE E O FRADE
De: Severíno Rodrigues de Moura



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26 de nov. de 2019

“O TIRO QUE MATOU LAMPIÃO”

Por Sálvio Siqueira

Desde o ano passado, depois do lançamento do livro “APAGANDO O LAMPIÃO - Vida e Morte do Rei do Cangaço”, da autoria de MELLO, Frederico Pernambucano de. 1ª Edição, Editora Globo, São Paulo, 2018, que se gerou uma grande polêmica, ou mais uma para variar, em torno da morte de Virgolino Ferreira no dia 28 de julho de 1938.

Depois de mais de 80 anos da morte do chefe bandoleiro, ainda encontrando dúvidas, fantasias e invenções sobre os fatos, alguns até não tendo nem por que debatermos, pois são totalmente sem projeções físicas ideológicas, vem que surge a surpresa do renomado pesquisador nas entrelinhas de sua obra sobre a pessoa que deu o tiro primeiro naquela fatídica manhã exatamente em Lampião.

Segundo o pesquisador e autor do livro, em entrevista, sua busca por esse pessoa iniciou-se desde 1970 quando soube através do coronel Audálio Tenório que o Cel. José Lucena, da PM das Alagoas, havia lhe confidenciado, por volta de 1955 em seu apartamento no Recife, que o matador do chefe cangaceiro não tinha aparecido até aquele momento. Ainda segundo o pesquisador, após ter recebido o nome daquele suposto autor da façanha, procurou-o e por diversas vezes foi recusado a dar-lhe qualquer entrevista. Um jornalista amigo do pesquisador, procurando ajudar, entrou em contato com o remanescente, porém, sem êxito total. Anos passaram-se e só, da capital paulista é que o próprio sandes entra em contato com o pesquisador e diz que, após receber a informação que está com uma doença crônica cerebral, resolveu contar-lhe o que havia feito no riacho Angico na fazenda Forquilha. Essa ligação e o encontro com o personagem, segundo o autor, foi em 2003 o qual foi a óbito no ano seguinte.

Depois desta data, quando ainda havia muitos daqueles sobreviventes ainda vivos, o pesquisador nada escreveu sobre os fatos narrados pelo ex volante. Após a morte de todo aquele que fez parte da tropa que atacou o acampamento cangaceiro e dos cangaceiros que estavam no momento, é que vem a tona um livro com as informações prestadas por Sandes.

Sem haver mais ninguém que contestasse a versão do ex volante, só restou aos demais pesquisadores recorrerem a provas físicas periciais que indicassem a veracidade dos fatos, confirmando-os ou não. Sem auxílio das pesquisas científicas, apenas por estudarmos as pesquisas históricas, confrontando as narradas com as escritas, chegamos a conclusão de que não havia ter um pingo de verdade naquilo que o ex volante contou ao autor.

Porém, como se trata de algo importante, pois são fatos históricos aonde envolve pessoas de várias famílias as quais ainda hoje vivos estão seus descendentes, fora pedido através do governo de alagoas um perícia nos em parte dos espólios do chefe cangaceiro para ver se, fisicamente, metodologicamente exata, existia alguma forma, jeito ou razão, para darmos créditos a versão do ex volante. Esse, desde o princípio disse que seu trabalho, após o cessar fogo, foi de cortar a cabeça de Lampião e de outros cangaceiros abatidos. Para nós, ação muito mais comprometedora do que ter sido aquele que atirou e matou Virgolino.

No último final de semana, entre os dias 22, 23 e 24 de novembro do corrente, tivemos em Campina Grande, PB, um evento sobre os fatos ocorridos durante o cangaço imposto por Lampião, I Cangaço Campina Grande 2019, no sítio Vila de São João, do ilustríssimo João Dantas, inclusive com a presença e participação de descendente do ‘Rei do Cangaço’.

Aderbal Nogueira, pesquisador afinco e que levou a vida inteira em busca de narrações de remanescentes, comparando as citações, investigando as supostas inverdades, ao saber que estaria presente um ex Perito da Polícia Federal, médico/pesquisador científico, Dr. Antônio Fonseca, solicitou uma entrevista sobre o caso da morte de Lampião e conseguiu gravar o excelente depoimento do mesmo.

Já de posse de outros depoimentos sobre o mesmo assunto de outro perito, de uma palestra com o pesquisador Ivanildo Silveira e relato de remanescente, nos presenteia com a, para nós, solução definitiva sobre o que realmente aconteceu.

Mais uma produção Aderbal Nogueira.


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23 de nov. de 2019

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.
Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.
O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:

FRANPELIMA@BOL.COM.BR

Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

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