28 de fev. de 2021

O MAESTRO MARCADO PARA MORRER APÓS FOTOGRAFAR LAMPIÃO EM RIBEIRA DO POMBAL

 

 Alcides Fraga, o homem que fotografou Lampião e sua esposa Rita de Cassia Cunha Fraga. (Foto: Acervo pessoal)

Alcides Fraga teve que fugir após registrar Virgulino Ferreira e seu bando em uma imagem que se tornaria icônica do cangaço.

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O mais temido nome do sertão, respeitado entre coronéis, bandoleiros e jagunços, interpretado como bandido, justiceiro ou até mesmo herói, sentou-se à mesa para comer um simples café com cuscuz.

O desjejum antecedeu uma das imagens mais icônicas produzidas na história do cangaço. No dia 17 de dezembro de 1928, depois de encher o bucho, Virgulino Ferreira, o Lampião, enfileirou seu reduzido bando e exigiu uma fotografia que, desde o definitivo clique, já nascia tão clássica quanto trágica.

Os oito odiados fotografados em Ribeira do Pombal: Lampião, Ezequiel (irmão de Lampião), Moderno, Luís Pedro, Antônio de Engrácia, Jurema, Mergulhão e Corisco (Foto feita por Alcides Fraga e restaurada por Rubens Antonio)

Adendo: 

Não tenho certeza, mas acho que a legenda seria esta: Lampião, Ezequiel, Moderno , Luiz Pedro, Mariano Corisco, Mergulhão e Arvoredo. (José Mendes Pereira).

Próximos da Igreja de Santa Tereza D’Ávila, no povoado de Vila do Pombal, então com cerca de 700 habitantes, os oito cangaceiros apoiaram seus rifles no chão e posaram sérios para a imagem. Quem bateu a chapa foi Alcides Fraga, rico e renomado alfaiate do povoado e maestro da conceituada filarmônica XV de Outubro.

Finalizado o registro, Fraga percebeu que estava em maus lençóis. Lampião exigiu o retrato. Cheio de dedos, o maestro argumentou que precisaria de, no mínimo, uma semana para enviar os negativos até Salvador e recebê-los de volta. O cangaceiro vaidoso não arredou. Disse que, dentro de três dias, enviaria um intermediário para buscar a revelação. Não queria desculpas e, sim, a fotografia.

Aflito, Fraga recorreu aos seus contatos diretos. Conseguiu um químico da região que elaborou uma mistura improvisada fixando a estampa em papel e, de quebra, garantindo o pescoço do fotógrafo preservado, no devido lugar.

“Quem teve acesso à fotografia original percebe que ela tem muitos problemas de definição, mesmo para a época que foi feita. Isso porque a revelação foi de maneira rústica e apressada, porque Fraga não estava preocupado com a qualidade, mas, sim, em salvar sua própria vida”, diz Rubens Antonio, escritor e pesquisador do cangaço. Foi ele o responsável pela restauração da imagem icônica, que ilustra esta reportagem.

Entre os volantes e o cangaço

Passado este percalço, a vida do maestro desafinaria por completo dali em diante. Nunca se soube exatamente como, mas uma cópia daquela mesma imagem foi parar nas capas dos jornais, noticiando algo que há muito tempo já corria como rumor pelos quatro cantos da Bahia.

“Aquela imagem é a primeira e única que se tem notícia de uma fotografia de Lampião na Bahia. Alcides foi muito habilidoso em enquadrar a igreja de Santa Tereza D’Ávila, porque, pra quem conhece a região, não tem dúvidas que a foto tenha sido feita em Pombal", diz Robério Santos, pesquisador do tema e dono do canal no youtube O Cangaço na Literatura.

"Antes disso, já circulavam muitas notícias que o bando de Lampião estava no estado, mas nenhuma delas era comprovada ou mesmo verdadeira. Ali, de fato, se pode confirmar a chegada do mais perigoso cangaceiro que se tinha notícia na época”, complementa.

Os jornais fizeram intenso rebuliço criticando as forças policiais volantes que deixavam Lampião andar livremente pelas veredas do norte, sem prendê-lo. Desaprovaram também o intendente (uma espécie de prefeito, à época) de Pombal, Paulo Cardoso de Oliveira Brito, por ter aberto as portas do seu sobrado e até oferecido um reforçado café da manhã para o bando. Até o padre Zacarias Mato Grosso, cicerone da visita, caiu em desgraça na pena implacável dos editorialistas.

“Depois dessa pressão, as forças policiais, então, foram atrás de Alcides para saber onde Lampião estava. O coitado disse que não conhecia o cangaceiro e só tinha feito a imagem porque era o único que tinha uma máquina fotográfica ali disponível. Os policiais não acreditaram muito e o colocaram na mira deles a partir daquele momento”, pontua Rubens Antonio.

Para o azar do maestro, a coisa toda ainda desandaria por completo. Em janeiro do ano seguinte, os policiais encontraram a rota dos cangaceiros e partiram no encalço da trupe. Um dos lugares-tenentes de Virgulino, o cangaceiro Mergulhão, morreria neste combate, no povoado de Abóboras. Lampião jurou vingança! E ficou possesso ao saber do burburinho que tinha sido encontrado após supostas informações passadas pelo fotógrafo de Pombal.

“Agora imagine a situação de Alcides Fraga? Estava na mira dos policiais volantes e jurado de morte por ninguém mais, ninguém menos, que Lampião. Isso sem ter ajudado nem um lado e nem o outro. Ele fez, então, a única coisa sensata que poderia. Pegou tudo que tinha e partiu embora com a esposa. Era um homem com uma boa condição social e respeitado em Pombal, mas abandonou tudo para sobreviver”, afirma Rubens.

Alcides Fraga passou a levar uma vida errante. Migrava de cidade em cidade esperando a poeira baixar para poder, definitivamente, voltar para casa. Neste ponto, a história se ramifica em muitas versões. Uns dizem que ele nunca mais regressou à vila, perdendo a esposa e se entregando completamente ao álcool. Perderia toda a fortuna e levaria a família à falência.


Outros afirmam que o maestro, sim, conseguiu voltar para casa, após driblar o cangaceiro rancoroso, àquela altura com outras preocupações prementes na reorganização do seu bando. Há, porém, um consenso entrelaçando estas duas narrativas: o maestro jamais teria sido capturado, impedindo a consumação da vingança.

Cidade hospitaleira

O historiador Oleone Coelho Fontes, autor do livro “Lampião na Bahia”, enxerga na imagem feita em Pombal um recorte ilustrativo da nova etapa na vida do cangaceiro dali em diante.

“Em 1926, Lampião vai sofrer uma das mais importantes derrotas da sua trajetória, em Mossoró, no Rio Grande do Norte. A partir dali, ele reorganiza suas forças e passa a adotar bandos menores. Antes, eram 150, 100 homens seguindo ele. Depois dessa derrota, passa a se organizar em grupos menores e subgrupos. Na foto de Alcides, dá pra ver que ele é seguido apenas por sete cabras, alguns muito famosos, como seu irmão Ezequiel, Mergulhão, Arvoredo e Corisco. A chegada dele na Bahia representa este novo momento”, analisa.

Para os moradores do povoado ficaria a fama de um lugar hospitaleiro. Anos depois, a vila cresceria tanto até se tornar a cidade de Ribeira do Pombal, no norte da Bahia, emancipada em 1933.

“Eu costumo brincar que o povo pombalense é tão acolhedor que até o bando de Lampião, que tocava o terror em todo sertão, foi bem recebido aqui. Esse é um traço nosso, do nosso jeito de ser. O próprio Lampião teria ficado encantado com essa recepção. Meu avô mesmo, na época tinha 11 anos, me contava que pediu a bênção a Lampião e ele deu uma moeda em troca”, diz Osvaldo Rocha, ex-secretário de cultura da cidade.

O lugar onde os cangaceiros posaram hoje é a fonte luminosa da Avenida Getúlio Vargas, principal via da cidade. Rocha conta que, durante os anos 1970 e 1980, os moradores questionaram a própria recepção calorosa oferecida pelos antepassados.

Local onde os cangaceiros posaram para a foto hoje é uma fonte luminosa, na Avenida Getúlio Vargas, em Ribeira do Pombal (Foto: Reprodução/Google Street View)

“Durante muito tempo, os moradores mais novos questionaram se foi certo receber os cangaceiros de forma tão hospitaleira. Afinal, eram foras da lei que cometerem crimes terríveis. Meu próprio avô, que pediu a bênção a Lampião quando criança, depois passou a defender aquilo como um erro. Mas é difícil julgar”, diz.

Este embate polêmico cancelou um projeto de construção de oito estátuas, cada uma representando um dos cangaceiros, enfileiradas no exato local onde a foto de Alcides foi batida. A ideia era explorar o potencial turístico da icônica imagem. 

Por enquanto, o que permanece mesmo intacta, e garante o retorno dos visitantes, é a hospitalidade do povo pombalense.

***

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27 de fev. de 2021

ATENÇÃO, LEITOR!

 Por José Mendes Pereira

Você que acessa este meu blog acesse também o Blog do Mendes e Mendes. Ele é muito visitado, e tenho certeza que você irá gostar o tanto quanto gosta deste, ou até mais um pouquinho. Ele também é administrado por mim. Acesse-o todos os dias.

Link para você acessá-lo:

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ADEUS, MESTRE-CANGACEIRO!

 Por Geraldo Júnior

Hoje foi um dia triste. Dia de dar adeus ao velho amigo Antônio Amaury Corrêa de Araújo, que como todos sabem, foi um dos maiores responsáveis por grande parte daquilo que hoje em dia conhecemos sobre o fenômeno cangaço. Autor de inúmeras obras sobre o tema e responsável pela coleta de centenas de depoimentos de remanescentes da época, assim como de pessoas que tiveram alguma relação com o assunto.

Um dia lamentável para todos nós curiosos, estudiosos e amantes da história cangaceira e suas raízes.

Estou nesse momento tentando escrever algo que esteja a altura de sua biografia, mas em vão, não consigo completar textos ou mesmo frases que possam descrevê-lo e dar-lhe o merecido valor. Tudo que consigo achar é uma simples, porém honesta palavra...

... Gratidão.

Descanse em paz mestre-cangaceiro. Que Deus o conduza nessa sua nova jornada.

Meus mais sinceros sentimentos a todos os familiares.

Geraldo Antônio De Souza Júnior

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26 de fev. de 2021

O MELHOR AMIGO DE LAMPIÃO - CONTOS DO CANGAÇO

 Por João Filho de Paula Pessoa

https://www.youtube.com/watch?v=_nTWm_9gJ3Y&ab_channel=ContosdoCanga%C3%A7o

O Cachorro é considerado o melhor amigo do homem, havendo na história humana vários exemplos e relatos da fidelidade desta amizade por parte do canino. Tal amizade remonta aos tempos primitivos e segundo alguns historiadores esta amizade nasceu por iniciativa do próprio animal, quando ainda lobo selvagem, aos poucos, se aproximou dos acampamentos da espécie humana e do próprio homo sapiens firmando uma parceria de sobrevivência e amizade. Inúmeros fatos, eventos e personagens históricos, tiveram consigo a presença e a companhia do cachorro, e no cangaço não foi diferente, onde também houve a presença e participação de vários cachorros, como Guarani de Lampião, Ligeiro de Maria Bonita, Jardineira e Seu Colega de Corisco, dentre outros, que no cangaço viveram, participaram de combates, fugas, foram abatidos e aprisionados, bem como, protagonizaram exemplos de amizade e fidelidade. Em 1937 após o combate na Fazenda Pedra D`água em Sergipe, Guarani foi aprisionado pelos soldados, que retiraram sua coleira ornamentada com ouro e o levaram para a cidade de Piranhas, onde o Tenente Zé Rufino presentou o cachorro Guarani ao Tenente João Bezerra, que o recebeu como troféu, pois sabia o cão era companheiro de Lampião, mas esta vaidade não durou muito, pois em menos de dois meses, Guarani fugiu, retornou à caatinga ao encontro de seu amado dono Lampião, para a alegria de ambos e ficaram juntos até a morte do rei do cangaço. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 25/02/2021.

Assista o filme deste Conto, clique na foto abaixo.

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24 de fev. de 2021

ANTÔNIO ROSA O PERIGOSO IRMÃO ADOTIVO DE LAMPIÃO

Por Cangaço Eterno

https://www.youtube.com/watch?v=rFQid3rUhHs&ab_channel=Canga%C3%A7oEterno

Conheça um pouco mais sobre o cangaceiro Antônio Rosa irmão adotivo de Lampião.

https://www.youtube.com/watch?fbclid=IwAR2SLkubft3BbA4YYgryulbyva61IffinnS2yO30uySlFLFrE3eR7sJifAE&v=rFQid3rUhHs&feature=youtu.be&ab_channel=Canga%C3%A7oEterno

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23 de fev. de 2021

LAMPIÃO – O TIRO FATAL DISPARADO POR SANDES – O GALEGUINHO

Por João Costa

Amanhece na Grota Angico em 28 de julho de 1938; a chuva havia sessado, as orações matinais concluídas, o café da manhã servido enquanto alguns cangaceiros ainda dormem – a aurora encontra o capitão Virgulino Ferreira já de pé, saboreando café de punhal na cintura, fuzil ao lado à disposição.

Ao mesmo tempo, subindo riacho seco de Angico, na linha avançada da Volante de tenente João Bezerra está o aspirante Ferreira; militar obstinado e linha-dura; um pouco atrás, o delator Pedro de Cândido e o soldado Sebastião Vieira Sandes, ou Santo – os únicos na numerosa volante que conheciam pessoalmente Lampião.

E um detalhe desconhecido por muitos: Cândido segue Sandes pari passu amarrado ao próprio Sandes.

Cândido, por ser coiteiro da máxima confiabilidade de Virgulino e Sandes por ter sido cangaceiro que gozara da confiança do casal Virgulino-Maria Bonita, tratado intimamente por “Galeguinho”, artesão em couro que dividia com o capitão horas intermináveis no manejo de uma máquina Singer, mas agora soldado volante e atirador de escol.

“Ocupada a posição, a um sinal do aspirante, Pedro de Cândido se aproxima da borda do penhasco e recua de repente, branco como papel: avistara Lampião logo abaixo, em frente de uma pedra pontuda”.

O até então, “Rei do Cangaço está a menos de oito metros de distância, em pé, inteiramente equipado, salvo pelo chapéu e pela cartucheira de ombro”, narra Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro “Apagando Lampião”.

E segue narrando em detalhes:

“o coiteiro Pedro de Cândido olha para Santo; por meio de gestos e de movimentos de boca, Santo confirma a identificação para o aspirante (Ferreira) que, em resposta, “olha para Santo e molega o dedo indicador na direção de Pedro”; era a senha para que este também fosse eliminado".

Os demais soldados da volante que subiam o riacho estavam distante e o cerco planejado pelo tenente Bezerra e Ferreira ainda não se concretizara.

Mas na guerra as oportunidades surgem, não dá tempo para “arrodeios” nem vacilações, especialmente quando se trata de emboscada, do fator surpresa e da dimensão do inimigo.

Em cima da grota o aspirante Ferreira, o militar responsável pelo manejo da famosa metralhadora Bergman já está bem posicionado, mas ele também sabe que metralhadoras são pesadas e não apropriadas para tiro de ponto e uma rajada poderia “botar a caçada a perder”.

O historiador narra que o aspirante Ferreira abdicou de apertar o gatilho. Em vez disso, faz gestos para que Sandes se aproximasse. Mas por que Sandes?

Porque era o franco-atirador da volante, habilidoso no manejo do fuzil Mauser alemão modelo 1908, calibre 7mm, cano extralongo, balas novíssimas, ano 1932 e, claro, conhecia pessoalmente Virgulino.

Sandes toma posição de tiro.

Lá embaixo, Lampião leva à boca sua caneca com café, e é nesse exato o instante do disparo fatal, de cima para baixo.

Pou!

O ex-amigo, ex-coiteiro, ex-cangaceiro, carinhosamente chamado por Maria Bonita, de Galeguinho, e agora soldado de volante, Sebastião Vieira Sande – o soldado Santo, põe um ponto final na longa trajetória do bandoleiro mais famoso do Brasil.

- “Foi uma queda desconjuntada do corpo; queda de quem cai para não levantar mais”, relatou Sandes muitos anos depois a Frederico Pernambucano.

“Foi um tiro solitário, certeiro e a uma distância menos de 8 metros”, acrescentou.

Nos segundos seguintes o inferno desabou sobre a Grota de Angico. Agora, chovia balas sobre os cangaceiros – que tiveram poucas chances de organizar um contra-ataque, restando a debandada geral debaixo de nuvens de fumaça da munição detonada e não da névoa do amanhecer.

Após o tiro fatal em Lampião, o soldado Sandes se desamarra de Cândido e faz um gesto inesperado.

- Foge, desgraçado!

Mesmo tendo recebido ordens do aspirante Ferreira para matar o coiteiro ali mesmo, Pedro de Cândido ganha um sopro de vida.

Mas os admiradores do cangaço podem ficar com outra versão dos acontecimentos – a do sargento Antônio Honorato da Silva, o Noratinho.

Ao Jornal Diário de Pernambuco de 2 de agosto de 1938, Noratinho deu a sua versão numa narrativa elaborada. Disse ele:

“Vi Lampião se erguer, apresentando na face a expressão de um enorme pavor. Levei o fuzil ao rosto. Mirei bem. A mulher do bandoleiro, nesse instante, estendeu os braços pedindo clemência. Fiz fogo e o chefe dos cangaceiros baqueou. Acompanhei sua queda com dois tiros”.

O sargento Honorato nunca vira antes Lampião nem de longe nem de perto. Pano rápido.

Acesse: blogdojoaocosta.com.br @joaososuacosta

Fonte: Apagando o Lampião – Vida e morte do Reio do Cangaço, de Frederico Pernambucano do Mello.

Foto1. Sandes (acervo de Frederico P. de Mello) 2. Pedro de Cândido no destaque, de volta a Angico.

https://www.facebook.com/groups/508711929732768/user/100003883872368

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20 de fev. de 2021

O MAIS DESLEAL DOS COITEIROS DE LAMPIÃO

 Por Luíz Bento

Isaías Arruda foi o mais desleal dos coiteiros de Lampião, no Cariri. Filho de Aurora, chefe político em Missão Velha, tinha conturbada ação política. Isaías Arruda só ia na lei da vantagem!

Foi ele quem mais estimulou o frustrado ataque de Lampião a Mossoró, com Macilon Benevides, dizendo: “Lampião, Mossoró é cidade de quatro torres”, isto é, de duas igrejas: Lampião foi na onda dos dois e se deu mal!

Tudo indica que Isaías Arruda esperava auferir algum lucro, na investida do cangaço sobre Mossoró, inclusive, lucro pecuniário! Como a ousada empreitada fracassou totalmente, Isaías Arruda foi para Fortaleza e, certamente, nas altas esferas policiais do Governo, planejou o aniquilamento do “Rei do Cangaço", no seu regresso ao Cariri.

Quando a tropa lampiônica, duramente perseguida pela polícia, chegou à sua fazenda Ipueiras, município de Aurora, Isaías Arruda mandou pôr veneno na comida dos cangaceiros e, como a comida foi recusada, seus cabras atearam fogo nos quatro cantos da manga, para que os cangaceiros fossem literalmente aniquilados! Mais uma vez, Lampião conseguiu safar-se da traição do régulo missão-velhense.

Tanto isso é verdade que, quando Isaías Arruda foi alvejado em um trem, próximo à estação de Ingazeira, entre Missão Velha e Aurora, todos pensaram que fora uma vingança de Lampião pela grande traição sofrida. Os fatos, todavia, provaram que Isaías Arruda fora baleado por membros da aguerrida família Paulino, de Aurora, que teve, anteriormente, um dos seus membros morto por pistoleiros a serviço de Isaías Arruda, que era capaz de tudo.

Basta citar um exemplo, para aquilatar a elevada periculosidade de Isaías Arruda: certa vez vendera ele dormentes de madeira para os trilhos da Rede de Viação Cearense, extraídos de sua fazenda. Os dormentes foram entregues e pagos e, na calada da noite, Isaías Arruda mandou colocar querosene nos dormentes e atear fogo, para ter a possibilidade de mais lucro, vendendo novos dormentes, quando os trilhos do trem buscavam o Crato!

Como chefe político de Missão Velha, Isaías Arruda sustentou verdadeira guerra contra o seu opositor, Coronel José Dantas, “Zeca Dantas”, que chegou a ser ferido em choque armado, por volta de 1925! Sua situação política foi desastrosa, intranquilizando a pacata cidade caririense.

Era 4 de agosto de 1928 quando o coronel Isaías Arruda tomou tranquilamente o trem da Rede de Viação Cearense, na estação de Missão Velha. Ao atingir a estação do então vilarejo de Ingazeira, foi mortalmente ferido a bala, sobrevivendo ainda por quatro dias, falecendo no dia 8 de agosto, após terríveis padecimentos por peritonite, certamente por falta de uma laparotomia exploradora, já que ainda não havia hospitais em Cariri.

Mais uma vez, a filosofia popular tem razão: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”

Fonte: Napoleão Tavares Neves- Pág 87 - 88.

Cariri- Cangaço, Coiteiros e Adjacências.

" LUÍS BENTO ".

JATI - 20/02/2021/.

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17 de fev. de 2021

BANGALÔS DE JUAZEIRO

 Por Roberto Júnior


Hoje brindamos nossos leitores com uma série de fotos de bangalôs antigos, verdadeiras joias da arquitetura juazeirense cuja construção hoje está em desuso por conta da modernidade. Muitos desses bangalôs já foram destruídos e outros estão bastante deformados, bem diferentes da arquitetura original, ou com grades de ferro na frente razão por que não foram fotografados. Pode ser que esquecemos alguns. Portanto quem tiver fotos de outros bangalôs podem nos mandar cópia por e-mail que teremos o maior prazer em publicar, pois nosso desejo é mostrar o que nossa cidade teve de bom.
 
Ângelo de Almeida, Rua Conceição. Celso Gomes, Rua São José
Odílio Figueiredo, Rua da Matriz (demolido, hoje é o Sesc). Da Família Viana, Rua Padre Cícero (exposto a venda)


José Camilo da Silva, Rua Santa Rosa (demolido para alargamento da Rua Conceição)


Rua Conceição. Rua da Glória com Alencar Peixoto


Odilon Figueiredo, Rua 24 de Março (exposto a venda). Dr. Possidônio Bem, Rua São Francisco


Rua Alencar Peixoto. Dr, Mozart Cardoso de Alencar, Rua Padre Cícero


Sebastião Amorim, Rua Padre Cícero. José Viana, Rua Padre Cícero (demolido para alargamento da Rua São Francisco)


Manoel Bento, Rua Dr. Floro. José Vicente, Rua Padre Cícero (demolido para alargamento da Rua Conceição)


Família Belém, Rua Conceição (demolido para construção da Caixa Econômica). Zeca Marques, Rua Conceição (modificado)


1. Dió Ribeiro, Rua São José. Cruzamento das Ruas da Glória e São Francisco (demolido)


Felipe Neri da Silva, Rua Padre Cícero (demolido para construção de um estacionamento) . Seu Lunga, Rua Conceição (construído pelo casal Cícero Pinheiro-Dona Marieta)

http://www.portaldejuazeiro.com/2012/12/bangalos-de-juazeiro.html

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15 de fev. de 2021

DESEJANDO PARABÉNS...!

 Por Moustafá Veras

Meu amigo Aderbal Nogueira, meu irmão de coração, hoje quero felicitar você por mais um ano de vida e desejar toda felicidade do mundo. 

Feliz aniversário! 

Espero que nunca lhe falte nada, amigo, e que complete muitos anos de vida com saúde, alegria, e sempre rodeado de amor e amizade. 

Parabéns e tenha um dia muito feliz!

Saúde e paz meu irmão!!

https://www.facebook.com/groups/893614680982844/?multi_permalinks=1393200574357583%2C1390261074651533%2C1392741287736845%2C1392050187805955&notif_id=1613070256223532&notif_t=group_activity&ref=notif

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14 de fev. de 2021

DESCANSE EM PAZ NA CASA DO SENHOR, ROSEMBERG!

 Por José Mendes Pereira


O blog do Mendes e Mendes - "http://blogdomendesemendes.blogspot.com" informa com pesar aos seus amigos e leitores, o falecimento do seu seguidor Rosemberg Magalhães de Amorim, de 41 anos. Era Militar do "Corpo de Bombeiros Estado do Rio Grande do Norte (CBMRN)". Ele estava afastado do serviço ativo em tratamento de saúde e foi encontrado desacordado em sua casa, em Mossoró, na noite de sábado (13). Ele era 3º. sargento da Corporação 

Seus pais são o professor Laete Vidal de Amorim  e a cabelereira Zélia Amorim. A causa da morte foi infarto. 

Descanse em paz, grande amigo Rosemberg!

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13 de fev. de 2021

EM BUSCA DO CANGAÇO PARTE 3

  Por Aderbal Nogueira

https://www.youtube.com/watch?v=XLIz-PsrY_o&ab_channel=AderbalNogueira-Canga%C3%A7o

Em busca do cangaço - parte 3 Terceira e última parte do bate-papo entre os pesquisadores Ângelo Osmiro Barreto, Paulo Moura e Aderbal Nogueira, onde eles falam um pouco de como foram suas primeiras viagens de pesquisa em busca da história do cangaço. Link desse vídeo: https://youtu.be/XLIz-PsrY_o

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12 de fev. de 2021

TRÊS LIVROS DO ESCRITOR JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO.

 Por José Mendes Pereira

franpelima@bol.com.br

Acesse também o meu blog com o link abaixo:

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

11 de fev. de 2021

O ASSASSINATO DO JUIZ ULISSES WANDERLEY DE TRIUNFO - PERNAMBUCO.

  Por Geraldo Júnior

https://www.youtube.com/watch?v=WadAzlHAuRU&feature=share&fbclid=IwAR2VyYjzBOXV1_ujUOn6Kvb7aQXlR4ySoWnGSiSBuR7lI4LCSK8qahhJLlE&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Cangaçologia

Uma morte que chocou toda a sociedade da época. Um assassinato motivado por um simples desentendimento entre o Juiz de direito de Triunfo (Pernambuco), Ulisses Wanderley, e o fazendeiro Marcolino Pereira Diniz de Patos de Irerê, sobrinho e cunhado do afamado coronel Zé Pereira de Princesa (Paraíba). Marcolino Pereira Diniz que ficou famoso após ser homenageado através da música XANDUZINHA de Luiz Gonzaga. Após cometer o assassinato do Juiz, Marcolino Pereira Diniz é preso em Triunfo e Lampião ao tomar conhecimento da prisão do seu amigo e apoiador, manda um recado às autoridades locais exigindo a soltura imediata do “Caboclo Marcolino”. O desfecho dessa história vocês conhecerão assistindo a esse vídeo. 

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10 de fev. de 2021

GRÁVIDA AOS 15, MARIA SULEMA DA PURIFICAÇÃO – A MÃE DO CANGAÇO

Por João Sousa Costa

Os conflitos da família Ferreira no final (início) do século 19 abalaram Vila-Bela, o Sertão do Pajeú; sacudiram sete Estados do Nordeste, tornando-se o capítulo mais apaixonante na história das famílias rurais brasileiras, algo como uma tragédia Shakespeariana com “luz e sombra”; muita sombra sobre as origens e alguma luz nos relatos de historiadores. Tem um início novelesco e de paixão proibida.

Eis que uma jovem cabocla, Maria Sulema da Purificação, aos 15 anos, surge grávida de uma relação com um jovem de uma família economicamente poderosa, Venâncio Barbosa Nogueira, de 18 anos, cujas diferenças sociais no meio rural daquele século (1895), torna o casamento inviável.

Mas a garota também não era de família de “pés-rapados”, (para usar uma expressão preconceituosa tão recorrente no Sertão) para ser escorraçada ou deserdada.

A gravidez indesejada de Maria Sulema exigia uma solução, e esta foi sugerida por um velho negro, descendente de escravos, conhecido como “Brucutu” segundo narra José Alves Sobrinho, no seu livro “Lampião, Antônio Ferreira e Livino,”.

Maria Sulema era da família Lopes, não tão rica como a família Nogueira, mas de linhagem respeitada. De tal modo que “Brucutu” tem uma solução capaz de “abafar” tudo.

- “Arranja-se um rapaz que queira casar com a moça, que é bonita e ainda receber um bônus em dinheiro,” propôs Brucutu às famílias Nogueira e Lopes.

Proposta aceita. E ele mesmo, Brucutu, deixou a Serra Vermelha, em Serra Talhada, “vasculhou toda a área da região do Navio à Mata Grande no Estado de Alagoas, fazenda por fazenda em busca de um rapaz com o perfil desejado. Fracassou.

Mudou de roteiro. Voltou para Pernambuco garimpando um rapaz até achar devido a urgência do caso: a barriga da moça crescia. “Brucutu” foi até Triunfo. Novo Fracasso.

O tempo passando e a gravidez de Maria Sulema em segredo. Em Triunfo, Brucutu toma conhecimento de festa de apartação em Conceição do Piancó, já na Paraíba. Ao chegar em Conceição, dia domingo e de feira, não teve dificuldade em aproximar-se de jovens que bebiam numa confraternização de amigos e lançar seu desafio.

Todos ali naquela farra de fim de feira, com Brucutu já familiarizado, um dos rapazes indaga:

-“E o coroa para onde vai?

- “Eu estou procurando um rapaz que queira se casar com uma moça bonita. Alguém se candidata?”, respondeu.

- Que idade tem a moça? Indagou um dos rapazes.

Este moço era José Ferreira. Ali mesmo naquela confraternização e diante do “sim, eu caso” do rapaz, Brucutu, tomou providências, comprou e pagou por cavalo e sela e os dois deixaram Conceição rumando no sentido de Serra Talhada.

Os dois cavalos foram levados à exaustão; o tropel dos animais era grande, mas a causa era urgente: a barriga de Maria Sulema já estava saliente.

Já na fazenda dos Nogueiras, em Serra Vermelha, o rapaz foi apresentado; familiarizou-se com o drama familiar dos Nogueira, conheceu a família Lopes e se entendeu com a jovem; casou e, em vez de dinheiro vivo prometido, optou por receber de comum acordo com a jovem, uma faixa de terra desmembrada da fazenda, que viria a tornar-se Sítio Passagem das Pedras.

Meses depois, nascia Antônio Ferreira, o primeiro de mais 8 irmãos da família Ferreira.

Essa novela shakespeariana, está na raiz dos conflitos entre os Irmãos Ferreira e Zé Saturnino, o primeiro inimigo de Lampião. E quem disse isso foi o próprio Zé Saturnino, em 1970, num depoimento ao historiador Frederico Pernambucano de Melo.

- “Quem arrastou isso pra riba de mim foram os Nogueira. Quando a pessoa cai num abismo, como eu caí mode ou outros, e eles fizeram o que fizeram comigo depois, muito encrenqueiros, a vontade que dá é de meter a espingarda pra riba e matar gente do nosso lado, se não fosse dar gosto ao inimigo”, relatou Zé Saturnino.

Briga por causa de chocalhos roubados foi apenas a gota d’água que detonou a guerra épica que arrastou os irmãos Ferreira para o Cangaço.

Saturnino diz que a aurora do conflito sempre foi entre os Ferreira e os Nogueira, a quem ele deposita culpa por ter se envolvido na disputa.

- “Findou por cair no meu colo, por ter casado na família”, lamentou Saturnino .

O maior desafio dos escritores é entender como os irmãos Ferreira “administravam” a realidade de ter um irmão (Antônio) com sangue Nogueira, ou como Maria Sulema tocou a vida com José, se o primogênito era um Nogueira.

Zé Saturnino deu uma das pistas. O ódio dos irmãos Ferreira aos Nogueira ocorreu em solidariedade ao tio de Virgulino, chamado Manoel Lopes, irmão de Maria Sulema que, envolvido num crime, fora espancado quando preso e sob custódia dos Nogueira. Mas aqui já é outra história, outro capítulo shakespeariano da história familiar de Lampião.

João Costa. Acesse: blogdojoaocosta.com.br e @joaosousacosta

Fonte: “Lampião, Antônio Ferreira e Levino,” de José Alves Sobrinho; Editora Babecco

“Apagando Lampião”, de Frederico Pernambucano de Melo.

Fotos: 1. Vigulino Antônio Ferreira. F2. Zé Saturnino.

 https://www.facebook.com/josemendespereira.mendes.5/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

9 de fev. de 2021

O ATAQUE DO ENCOURAÇADO GRAF SPEE PRÓXIMO A COSTA NORDESTINA

 Por Rostand Medeiros 

A Primeira Nave de Guerra Nazista no Atlântico Sul – Atacou um Cargueiro Inglês na Costa de Pernambuco – Três Tripulantes Eram Brasileiros e Testemunharam Esse Ataque Perto do Litoral Nordestino – Um Hidroavião Alemão Metralhou O Navio Inglês – O Graf Spee Foi Visto Próximo a Natal? – A Estranha Visita do Adido Naval Britânico a Capital Potiguar – A Guerra que Chegou

Rostand Medeiros – Escritor e Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Em 1939, enquanto o mundo assistia a escalada de uma nova guerra mundial, na Alemanha Nazista havia a certeza que a sua Marinha de Guerra, a Kriegsmarine, não poderia enfrentar a Marinha Real Britânica, a Royal Navy. Mesmo com essa desvantagem foram os alemães que executaram os primeiros movimentos daquilo que entrou para a História como a Batalha do Atlântico, um conjunto de ações navais beligerantes que duraria toda a Segunda Guerra Mundial e atingiria toda extensão desse vasto oceano.

O poderoso encouraçado de bolso Admiral Graf Spee.

O comando da Kriegsmarine decidiu posicionar secretamente no Atlântico Norte naves de superfície, submarinos e navios de apoio para manter os britânicos ocupados quando a guerra estourasse. Entretanto, nesses movimentos navais pré-guerra uma das mais importantes naves da Alemanha seguiu em direção do Atlântico Sul.

Esse navio era o poderoso encouraçado de bolso Admiral Graf Spee, que zarpou do porto de Wilhelmshaven, na costa do Mar do Norte, na noite de 21 de agosto de 1939, recebendo o apoio do petroleiro da frota Altmark e sendo comandado pelo capitão de mar e guerra (kapitän zur See) Hans Langsdorff.

Ninguém a bordo do Graf Spee, a não ser seu capitão, sabia o rumo a nave deveria tomar e a natureza da missão a cumprir.

Para muitos naquele poderoso barco, mesmo com toda tensão na Europa, aquela navegação seria apenas mais um cruzeiro de instrução que seguia em direção sul. Mas o que Langsdorff queria era que seu navio desaparecesse na imensidão do Atlântico. E isso ele conseguiu![1]

Uma Grande Nave de Guerra

Graf Spee era um navio excepcional, verdadeiro prodígio da engenharia naval alemã da época. Possuía 186 metros de comprimento, um calado máximo de 7,34 metros e era ocupado por cerca de 1.000 tripulantes. Seu casco era pura inovação para uma nave desse tamanho no final da década de 1930, pois era totalmente soldado e não utilizava rebites.

Seus dois motores principais foram fabricado pela MAN (Maschinenfabrik Augsburg-Nürnberg), sendo modelos M9 Zu 42/53, a diesel, de nove cilindros, dois tempos e média velocidade. A potência projetada para o Admiral Graf Spee era de 54.530 HP, o que permitia a velocidade máxima de 26 nós. Mas durante os testes a nave atingiu 28,5 nós (52,5 km/h), com os eixos da hélice girando a 250 rpm. Também haviam motores auxiliares instalados ao longo de cada um dos conjuntos dos motores principais. Tratavam-se de motores MAN M-5 Z 42/48, a diesel, com cinco cilindros, dois tempos, cada um com a potência de 3.500 HP a 425 rpm. Eles abasteciam bombas, compressores, equipamentos de combate a incêndio, etc. A eletricidade era fornecida por oito geradores fabricados pela AEG (Allgemeine Elektricitäts-Gesellschaft), de Berlin, com potência combinada de 3.360 kW, alimentados por 375-400 HP.

Tinha uma autonomia de 20.000 quilômetros e um deslocamento total de 16.020 toneladas, bem mais que as 10 mil toneladas estipuladas pelo Tratado de Versalhes, que limitavam os navios de guerra alemães a naves de pequeno porte e era uma das punições dos países Aliados após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial.

Para fugir dessas proibições os engenheiros navais alemães desenvolveram os chamados Panzerschiff (navio blindado) da classe Deutschland, que os britânicos logo apelidaram de encouraçados de bolso, pois possuíam artilharia pesada, em um navio com um tamanho e peso relativamente reduzidos. Mas essa relação superava em muito os cruzadores pesados da época ​​e estava no mesmo nível de muitos navios de guerra mais antigos[2]

Aquela impresionante nave possuía seis canhões de 280 milímetros, com três destes montados em duas torres fortemente blindadas – uma dianteira e outra traseira – com capacidade de lançar projeteis a cerca de 30 quilômetros de distância. Havia oito canhões de 150 milímetros e outros vinte e quatro canhões e metralhadoras antiaéreas. Foram montados no tombadilho dois lançadores de torpedo quádruplos de 533 mm e o Graf Spee podia transportar até dois hidroaviões Arado Ar 196 A-1 para buscar seus alvos à distância e lançados de uma catapulta na superestrutura da ponte[3]. A função dessas aeronaves era complementada pela a existência de um rudimentar radar de busca[4].

Seu Bravo Capitão

Graf Spee era comandado por um competente oficial que desde os dezoito anos de idade estava na carreira naval. Hans Johann Wilhelm Rudolf Langsdorff  nasceu em 20 de março de 1894 na cidade de Berguen, a maior aglomeração urbana da Ilha de Rugen, próximo a costa norte do Mar Báltico. Vinha de uma tradicional família de pastores luteranos, sendo filho de Ludwig Langsdorff e Elisabeth Steinmetz. Em 1898 sua família mudou-se para a cidade de Düsseldorf, onde seu pai assumiu as funções de juiz e os Langsdorff se tornaram vizinhos da aristocrática família do Conde e Almirante Maximilian von Spee. Ali o jovem Hans Langsdorff conheceu os filhos desse almirante, os futuros cadetes navais Otto e Heinrich Spee[5].

O Capitão Langsdorff.

Certamente influenciado pelos seus honrados vizinhos, mas contra a vontade dos seus pais, que desejavam que ele seguisse a função de pastor, em 1912 Langsdorff entrou na Academia Naval de Kiel. Durante a Primeira Guerra Mundial o então tenente Langsdorff recebeu a Cruz de Ferro de 1ª Classe e em maio de 1916 participou da Batalha da Jutlândia, considerada por muitos a maior batalha naval da história. Após o fim do conflito ele continuou na marinha e em março de 1924 se casou com Ruth Hager, onde da união nasceram seu filho Johann e sua filha Ingeborg Langsdorff[6].

Principalmente por suas habilidades administrativas, a sua carreira naval chamou a atenção do comando da Kriegsmarine. Em 1933, após a ascensão dos nazistas ao poder, Langsdorff buscou se afastar do novo regime e solicitou retornar para o mar, mas foi nomeado para o Ministério do Interior. Finalmente, entre 1936 e 1937, conseguiu uma comissão que o colocou a bordo do novo encouraçado de bolso Admiral Graf Spee, onde participou do apoio alemão ao lado nacionalista de Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola. 

Logo depois Langsdorff foi promovido a capitão e em outubro de 1938 recebeu o comando do Graf Spee. Nessa nave ele pode mostrar suas habilidades de comandante naval, ficando marcado pela audácia, coragem, companheirismo, capacidade de decisão e um atuante pensamento humanitário.

Essa última faceta do caráter de Hans Langsdorff certamente era fruto de sua criação luterana e foi algo que anos depois lhe custou a vida, mas o fez entrar para a História.

No Atlântico Sul

Foi em uma sexta-feira, 1º de setembro de 1939, o dia que os alemães invadiram a Polônia e a Segunda Guerra Mundial teve início. Nessa mesma data vamos encontrar o Graf Spee já tendo ultrapassado as Ilhas Canárias, estando a cerca de 800 milhas a oeste das Ilhas de Cabo Verde e se aproximando da Linha do Equador, onde, no dia 8 de setembro, teve o privilégio de ser a primeira nave de combate alemã durante a Segunda Guerra Mundial a cruzar essa linha geográfica. Poucos dias depois esse encouraçado de bolso estará em uma posição que o deixou bem próximo do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, seguindo em patrulha para uma área mais próxima do centro do Atlântico Sul. 

O Capitão Langsdorff obedecia à risca às ordens recebidas, onde estava pautado que deveria manter o Graf Spee fora das vistas de outros navios e era proibido de atacar naves cargueiras inglesas e francesas. Seguia acompanhando as notícias na Europa, em velocidade lenta, demorando muito no deslocamento e aguardando as ordens para atacar.

Hitler imaginava que após a conquista da Polônia, a França e a Grã-Bretanha, os principais inimigos da Alemanha, buscariam um acordo para evitar a guerra total. Mas isso não aconteceu e conforme os dias foram passando as restrições de combate de Langsdorff vão caindo, até não mais existirem em 26 de setembro. Nessa data o Graf Spee se encontra praticamente no centro do Atlântico Sul e toma rumo noroeste em busca da sua primeira vítima. Nessa rota se aproxima da costa do Nordeste do Brasil, mais precisamente ao largo de Pernambuco.

Quem observa a linha traçada pelo avanço do Graf Spee naqueles dias, talvez se pergunte o porquê desse navio de guerra ter seguindo em uma rota quase sem alteração e de forma tão célere para a costa pernambucana.

Ao nos debruçarmos sobre as velhas páginas dos periódicos recifenses Diário de Pernambuco e Jornal Pequeno, publicados na segunda quinzena de setembro de 1939, buscando informações sobre a movimentação portuária em Recife, descobrimos que o entra e sai de navios de cargas e passageiros era intenso. Em parte isso se explica porque nessa época a capital pernambucana era terceira maior cidade brasileira, com uma população de 348.424 habitantes[7]. Evidentemente que o maior número de barcos que ali circulavam era de brasileiros, mas nas primeiras semanas da Segunda Guerra Mundial nada menos que nove navios alemães e seis ingleses estiveram escalando no porto de Recife[8]. Também se encontrava atracado o grande transatlântico polonês MV Chrolbry, que segundo os jornais estava sendo totalmente “pintado de cinza para melhor se camuflar no mar” e poder seguir a “qualquer momento para Europa”.

Hidroavião Arado Ar 196 A-1 sendo lançado.

Talvez por estar recebendo mensagens enviadas por espiões germânicos baseados em Recife, o Capitão Langsdorff se aproximou da capital pernambucana para interceptar algum navio inimigo que dali partia[10]. Para melhorar a caçada Langsdorff ordenou o lançamento do hidroavião Arado para uma busca além do horizonte[11].

O Ataque e os Brasileiros a Bordo do Clement

Dias antes desse momento, quando o encouraçado alemão ainda seguia de forma lenta em direção sul, se encontrava no porto de Natal um cargueiro inglês chamado Clement, que deslocava 5.051 toneladas, era comandado pelo Capitão Frederick C. P. Harris, de 58 anos de idade, e possuía um total de 48 tripulantes. Essa nave pertencia a empresa inglesa de navegação Booth Steam Ship Company, sendo uma frequentadora habitual dos portos da costa leste dos Estados Unidos e do norte e nordeste do Brasil. Havia partido de Nova York em 24 de agosto com um carregamento de gasolina e querosene em latas, bacalhau e ferramentas, tendo escalado em Belém do Pará, São Luís e Tutóia (Maranhão), Fortaleza e Natal. Da capital potiguar o Clement partiu para Recife com uma pequena carga de algodão, vindo provavelmente da região do Seridó[12].

Uma particularidade interessante é que entre os tripulantes do Clement havia três brasileiros.

Estes eram Martinho Silva, de 32 anos de idade, Thomaz Brandão, de 30 anos, além de Waldemar Francisco Penedo, com 26 anos. Todos eram paraenses de Belém e haviam embarcado nessa cidade para trabalhar no Clement realizando manutenção e lubrificação dos motores, sendo conhecidos como “graxeiros”, uma das funções mais humildes e sujas a bordo.

Após alguns dias na capital pernambucana, a uma da manhã de 30 de setembro, vamos encontrar o Clement deixando aquele porto para seguir em direção a Salvador para pegar mais cargas. Após essa parada seu destino era o porto de Cabedelo, na Paraíba, onde carregaria mais algodão e depois o próximo porto seria o de Nova York, Estados Unidos[13].

Desde que começou o conflito o capitão Frederick C. P. Harris, veterano da Royal Navy na Primeira Guerra Mundial, vinha navegando mais afastado do litoral, para evitar possíveis ataques[14]

Dias depois Thomaz Brandão declarou para um jornal carioca que por volta das onze e meia da manhã de 30 de setembro, quando o Clement se encontrava a cerca de 70 milhas náuticas (130 quilômetros) da costa pernambucana e a tripulação se preparava para almoçar, o barco foi sobrevoado por uma aeronave. Brandão primeiramente imaginou que fosse “o avião do correio”, mas logo percebeu a cruz negra alemã e soube que aquilo significava problemas[15].

No hidroavião Arado do Graf Spee o piloto Heinrich Bongard, que possuía a patente de sargento (Unteroffizier) da Força Aérea Alemã (Luftwaffe), emitiu uma chamada de rádio ordenando que o Clement não transmitisse sinais de socorro enquanto dava voltas sobre o cargueiro. Mas a ordem foi ignorada e o oficial do rádio da embarcação começou a transmitir “RRRR” em código Morse, que indicava que um cargueiro inglês estava sob ataque. E esse não demorou a vir por parte do hidroavião, quando o Cabo (Obergefreiter) Hans-Eduard Sümmerer despejou várias rajadas de metralhadora MG no Clement, ferindo um tripulante inglês[16].

Logo a sinistra silhueta do Graf Spee surgiu no horizonte a toda velocidade e abriu fogo de advertência com um dos seus canhões. Diante da nova ameaça o capitão Harris ordenou que as transmissões cessassem e os papéis oficiais do navio e códigos de transmissão fossem colocados em uma sacola e jogados ao mar[17]

Perdidos Perto da Costa Nordestina

Clement passou a ser abandonado pelos tripulantes, incluindo o comandante e o engenheiro chefe W. Bryant, de 70 anos de idade, que se acomodaram em quatro botes salva-vidas. Mas eles mal começavam a deixar o navio cargueiro, os alemães também desceram um escaler motorizado do Graf Spee e logo buscaram abordar os botes ingleses.

Clement.

Chegaram armados com pistolas e submetralhadoras e, após identificarem o Capitão Harris e o engenheiro Bryant, ordenaram que os mesmos entrassem em sua lancha para serem levados a bordo do Graf Spee como prisioneiros de guerra e interrogados. Os dois oficiais se resignaram diante da situação, mas antes de partir se despediram de toda tripulação. O homem ferido pelos disparos da aeronave também foi levado para receber tratamento médico pela equipe do navio atacante. Nesse momento os ingleses comentaram aos brasileiros que aqueles homens armados eram alemães.

Os que estavam nos botes salva-vidas receberam instruções para seguirem em direção à costa brasileira[18]. Thomaz Brandão achou interessante o fato dos alemães filmarem os homens do Clement.

Clement sendo destruído pelos canhões do Graf Spee.

Logo, ao meio-dia, esses sobreviventes assistiram o Graf Spee abrir fogo com seus poderosos canhões, rompendo de maneira ensurdecedora o silêncio oceânico. O Clement foi afundado com cinco granadas de 280 mm e 25 de 150 mm. Dois torpedos também foram disparados, mas ambos erraram o alvo. O cargueiro inglês levou 45 minutos para afundar totalmente e enquanto agonizava o navio atacante partiu rapidamente. Seu pequeno hidroavião evoluiu algum tempo sobre a nave sinistrada e depois também se foi.

Devido ao mar agitado os barcos salva-vidas se dispersaram e assim passaram a noite. Pelas sete horas da manhã do outro dia um desses barcos, com dezesseis homens a bordo, foi avistado e recolhido pela tripulação do vapor nacional Itatinga a quinze milhas do litoral, na altura da praia de Porto de Pedras, Alagoas[19]. Comandado pelo Capitão de longo curso Antenor Dias Sanches, este realizou com seu navio buscas aos outros sobreviventes durante algum tempo, apitando estridentemente e fazendo longas curvas, mas sem sucesso.

Depois o Itatinga seguiu para Maceió, Salvador e Rio de Janeiro, onde nesse último porto Herbert John Gill, o 2º piloto do Clement, deu declarações para imprensa carioca sobre o ataque[20]. Já os outros barcos salva-vidas e os sobreviventes, fazendo o uso de velas, chegaram à costa alagoana.

Os náufragos foram vistos com muita curiosidade pela população das cidades onde estiveram e receberam algum ajuda, pois a maioria só tinha mesmo a roupa do corpo.

Mesmo sem se aperceberem, aqueles tripulantes do Clement foram testemunhas oculares de fatos realmente significativos naquela época. A ação do Graf Spee foi o ataque de um navio de guerra alemão realizado mais próximo do Continente Americano em toda a Segunda Guerra Mundial. Igual situação se enquadra a ação do hidroavião Arado Ar 196 A-1, colocando-o como a aeronave da Luftwaffe a ter realizado um ataque aéreo mais próximo do chamado Novo Mundo.

Os Primeiros Brasileiros Envolvidos na Segunda Guerra Mundial e o Graf Spee Próximo a Natal

No Rio de Janeiro o Ministério das Relações Exteriores do Brasil se pronunciou nos jornais afirmando que o ataque ao Clement se deu fora das águas territoriais brasileiras, não caracterizando uma “violação da neutralidade do país”. Vale ressaltar que nessa época o que o Brasil considerava que suas águas territoriais seriam parcas três milhas náuticas a partir das nossas praias[21].

Quando dias depois um dos três tripulantes brasileiros chegou ao Recife, cujo nome o Diário de Pernambuco omitiu, informou ao jornalista que o ataque do encouraçado ao Clement para ele “foi um grande azar”. Independente de se encontrar vivo e sem um arranhão, comentou que depois de ter sido tripulante de outros navios mercantes britânicos e de ter visitado a Inglaterra em várias ocasiões, estava há meses desempregado no Pará e aquele engajamento no Clement era uma verdadeira dádiva, mas que acabou[22].

Os marinheiros brasileiros ainda comentaram junto à imprensa que informaram ao cônsul inglês que desejavam continuar trabalhando como embarcados em naves comerciais britânicas, desde que “recebessem salários de guerra e seguros de vida”[23].

Sabemos que em setembro de 1939 a Segunda Guerra Mundial se desenrolava com maior força na Polônia, mas eu desconheço se nesse período algum cidadão brasileiro tenha se envolvido em alguma ação bélica nesse país, ou em algum outro local onde os alemães e seus inimigos se batiam. Nesse tocante, creio que é possível afirmar que os paraenses Martinho Silva, Thomaz Brandão e Waldemar Francisco Penedo tenham sido os primeiros brasileiros a se envolverem e testemunharem uma ação bélica nesse conflito. E o interessante é que esse fato ocorreu próximo ao belo e caliente litoral nordestino.

O Almirantado Britânico recebeu então um primeiro relatório dando conta que um poderoso navio de guerra alemão estava operando no Atlântico Sul, nesse momento eles acreditavam que a nave era o Admiral Scheer, pois foi esse o nome que os náufragos do Clement viram pintado na proa do encouraçado. Na verdade era mais um ardil de Langsdorff para enganar seus adversários. Muitos jornais brasileiros caíram no logro e durante algum tempo estamparam notícias que o Admiral Scheer era quem aterrorizava o Atlântico Sul. Fosse lá qual fosse o nome daquele navio de guerra, o certo é que nos dias após o ataque ao Clement os ingleses não faziam a menor ideia onde ele se encontrava. Muitos acreditavam que o navio atacante teria navegado em direção leste, para o meio do oceano.

Mas em 7 de outubro, uma semana depois do afundamento do cargueiro inglês, o próprio Almirantado Britânico publicou um documento reservado onde encontramos a informação que um navio americano comunicava ter visto uma nave de guerra classificada como o Admiral Scheer, navegando a somente 60 milhas náuticas (110 quilômetros) de Natal, Rio Grande do Norte. Esses documentos só foram desclassificados em 2012.

Esse fato é interessante, pois certamente esse documento trás uma das primeiras menções sobre a cidade de Natal em um documento militar de um dos países beligerantes envolvidos na Segunda Guerra Mundial.

A Batalha do Rio da Prata

Um mês após o episódio do Clement, sem revelar sua posição aos adversários e sem matar um só marinheiro inglês, o Capitão Langsdorff e a sua equipe a bordo do encouraçado de bolso Graf Spee haviam mandado para o fundo do mar mais de 50.000 toneladas de navios inimigos e criado problemas nas rotas comerciais marítimas dos ingleses.

Entre outubro e novembro sete grupos de navios de guerra da Marinha Real Britânica e Francesa caçavam o Graf Spee no Atlântico Sul, enquanto outro grupo esquadrinhava o Oceano Índico. No total, ingleses e franceses empregaram quatro porta-aviões, três encouraçados, dezesseis cruzadores e outros tantos navios menores. Em novembro o Graf Spee ainda afundou um pequeno petroleiro a sudoeste de Madagascar e depois voltou para o Atlântico Sul, onde reivindicou mais três vítimas, incluindo o Doric Star no dia 2 de dezembro e o Tairoa no dia 3.

Depois de mais de dois meses em alto mar, tornou-se necessário que o navio voltasse para a Alemanha para reparos, mas antes disso Langsdorff decidiu interceptar um comboio que ele sabia se encontrar ao largo do rio da Prata e transportava para a Grã-Bretanha grãos e carnes.

O HMS Exeter.

Quem também estava na mesma região era o Comodoro inglês Henry Harwood, comandando um grupo de combate (Group G) composto pelo cruzador pesado britânico HMS Exeter (comandado pelo Capitão Frederick Secker Bell), o cruzador leve britânico HMS Ajax (Capitão Charles Henry Lawrence Woodhouse) e do cruzador leve neozelandês HMNZS Achilles (Capitão William Edward Parry). 

Também fazia parte do Group G o veterano cruzador britânico HMS Cumberland (Capitão Walter Herman Gordon Fallowfield), que naquele momento estava nas Ilhas Falklands (Malvinas) reparando seus motores, o que deixava o Comodoro Harwood desfalcado diante do poder de fogo da nave alemã. Mesmo assim ele e seus companheiros ficaram patrulhando a área, esperando encontrar o inimigo.

Graf Spee.

De maneira inesperada o encontro entre o Graf Spee  e os três cruzadores se deu às 06:10h do dia 13 de dezembro, a 390 km a leste de Montevidéu, quando a nave germânica foi primeiramente vista de uma posição a noroeste. Langsdorff decidiu acelerar ao máximo seu encouraçado para encurtar a distância das três naves adversárias, que para ele pareciam ser simples destroieres e que achava estarem protegendo o cobiçado comboio mercante. Foi quando percebeu tarde demais que estava enfrentando três cruzadores e não havia nenhum navio mercante por perto. 

Confrontado com o armamento mais pesado do Graf Spee, Harwood decidiu colocar sua força em duas alas e tentar assim dividir o fogo das principais armas inimigas. O cruzador pesado Exeter seguiu ao sul, enquanto os outros dois cruzadores ligeiros seguiram para norte. As 06:18h os disparos dos grandes canhões do Graf Spee irromperam o silêncio do Atlântico Sul.

Disparos no calor da Batalha do Rio da Prata.

Todos os quatro navios envolvidos na luta navegavam disparando incessantemente enquanto manobravam. Logo no começo da batalha naval um petardo inglês destruiu o hidroavião Arado e matou os aviadores Bongard e Sümmerer. O Graf Spee então concentrou os canhonaços de suas duas torres de 280 mm no Exeter, que foi duramente atingido. As dez para as sete da manhã todos os navios estavam indo para o oeste. Nessa altura da contenda o Exeter disparava apenas uma de suas quatro torres de tiro. Chamas eram vistas em várias partes do navio e havia danos generalizados. A ponte de comando foi duramente atingida, com estilhaços matando ou ferindo todo o pessoal, exceto o Capitão Bell e outros dois tripulantes. 

Quando uma das torres de tiro do Exeter foi atingida por um impacto direto de um projetil de 280 mm, o fuzileiro real Wilfred A. Russell teve seu antebraço esquerdo explodido e seu braço direito quebrado, mas recusou os primeiros socorros enquanto outros companheiros não fossem atendidos, além de permanecer no convés incentivando seus amigos durante a luta. Ele não cedeu até que o calor da batalha terminasse, mas faleceu de suas feridas poucos dias depois.

Troca de disparos na manhã de 13 de dezembro de 1939.

As comunicações gerais do Exeter ficaram inoperantes e pelo resto da batalha as ordens internas nesse navio tiveram de ser enviadas por uma cadeia de mensageiros. Até para informar ao timoneiro para girar o leme para esquerda ou direita, a ordem tinha de ser repassada por vários tripulantes. O marinheiro de primeira classe Patrick O’Leary, quando recebeu ordens da sede do controle de danos para fazer contato com o comando principal, em um momento de extrema confusão pela falta de comunicações internas, encontrou seu caminho através do apartamento dos oficiais destruído por um disparo de 280 mm. Mesmo assim, através do fogo e da fumaça densa e mortal, ele fez contato com o comando e depois com a sala das máquinas, o que muito ajudou a equilibrar as decisões dos oficiais naquele momento. De lá retornou com várias queimaduras, além dos pulmões cheios de fumaça. Em decorrência desses ferimentos O’Leary faleceu[24]. Enquanto isso o Ajax e o Aquiles chegaram a 12.000 metros do Graf Spee, sempre disparando seus canhões de 150 mm (armamento principal dessas duas naves). Eles começaram a martelar pesadamente a nave de guerra germânica, fazendo com este que dividisse os disparos do seu principal armamento. Essa ação aliviou o sofrimento do Exeter, que recebeu ordens de deixar a ação e ir para o sul, para as Falklands.

Hidroavião Arado do Graf Spee destruido.

Até às oito da manhã o Graf Spee continuou a trocar disparos contra o Ajax e o Aquiles. Depois de quase duas horas de combate, para alguma surpresa dos ingleses e neozelandeses, a nave alemã levantou uma cortina de fumaça e partiu em direção ao continente sul-americano. Aos binóculos dos seus inimigos, o navio alemão tinha apenas um dano superficial visível.

Na verdade um disparo de 203 mm do Exeter desferiu aquele que foi o golpe decisivo contra o Graf Spee. Quando destruiu seu sistema de processamento de combustível cru e deixou a poderosa nave alemã com apenas 16 horas de combustível, insuficientes para permitir que retornasse para a Alemanha. Sua tripulação não podia realizar consertos dessa complexidade em alto mar. Além disso, dois terços de sua artilharia antiaérea foram destruídos, assim como uma de suas torres secundárias. 

Graf Spee em Montevideo.

Não havia bases navais amigas ao alcance e muito menos reforços disponíveis. Naquelas condições o Graf Spee só poderia seguir para algum o porto neutro, como o da cidade brasileira de Porto Alegre, ou o porto uruguaio de Montevideo, ou para Buenos Aires.

Escolheram Montevideo!

O Fim do Graf Spee

A batalha agora se transformou em uma perseguição marítima. Os cruzadores mantiveram cerca de treze milhas náuticas (24 km) de distância do Graf Spee. Estava claro que a nave alemã seguia para o estuário do rio da Prata, onde entrou em Montevideo a meia noite e dez minutos de 14 de dezembro[25]

Essa decisão foi um erro político, pois o Uruguai, embora neutro, havia se beneficiado do comércio e da significativa influência britânica durante seu desenvolvimento e os uruguaios claramente favoreceriam os Aliados.

Mortos alemães da Batalha do Rio da Prata.

O Capitão Langsdorff libertou 61 marinheiros mercantes cativos que estavam a bordo do Graf Spee, que declararam terem sido humanamente tratados. Os tripulantes alemães feridos foram levados para hospitais locais e os mortos foram enterrados com honras militares completas.

Langsdorff então pediu ao governo uruguaio duas semanas no porto para fazer reparos, mas os diplomatas britânicos começaram a pressionar as autoridades uruguaias para a partida rápida do navio alemão. Langsdorff então recebeu a informação que o governo da República Oriental do Uruguai havia-lhe concedido apenas 72 horas de permanência no porto de Montevideo. 

No enterro dos seus comandados o Capitão Langsdorff faz a tradicional saudação militar, enquanto civis, entre eles religiosos, fazem a saudação nazista.

Ao mesmo tempo, esforços foram feitos pelos britânicos para disseminar falsas informações aos alemães que uma esmagadora força britânica estava chegando, incluindo o porta-aviões HMS Ark Royal e o cruzador HMS Renown. Na verdade, além dos dois cruzadores leves que anteriormente se bateram contra a nave alemã, a eles se juntou apenas o veterano Cumberland, que chegou às 22:00 de 14 de dezembro e sem ter resolvidos todos os seus problemas anteriores.

Os alemães foram totalmente enganados e acreditaram que iriam enfrentar uma força muito superior ao deixar o Rio da Prata. Além disso, o Graf Spee utilizou dois terços de sua munição de 280 mm, o que lhe deixava com o suficiente para aproximadamente 20 minutos de disparos, quantidade de munição limitada para o combate que aconteceria ao sair de Montevideo.

Graf Spee deixando Montevideo para sua última navegação.

Langsdorff sabia das relações amigáveis entre o Uruguai e a Grã-Bretanha e se aceitasse que seu navio fosse internado e mantido sob a guarda da Marinha do Uruguai, esses certamente permitiriam que os oficiais da inteligência britânica tivessem acesso ao seu interior. Algo impensável. Como Langsdorff tinha ordens de afundar seu navio se não houvesse condições de lutar pela liberdade de seu barco e de sua tripulação e o limite de tempo imposto pelo governo do Uruguai estava próximo de se encerrar, ele decidiu afundar sua nave.

O fim.

Com o capitão e apenas outros 40 homens a bordo, o Graf Spee  seguiu três milhas fora do porto de Montevideo, em águas internacionais, onde então Langsdorff ordenou a destruição de todos os equipamentos importantes a bordo e o suprimento de munição restante foi colocado por todo o navio em preparação para o afundamento. 

Pouco antes de nove da noite, diante de uma grande multidão de uruguaios calculada em 250.000 pessoas, primeiramente a sirene anticolisão do navio alemão soou estridentemente, depois múltiplas explosões lançaram jatos de fogo no ar e criaram uma grande nuvem de fumaça que obscureceu o navio. Imediatamente após o seu afundamento o Graf Spee descansou em águas rasas, a uma profundidade de apenas onze metros, com grande parte da sua superestrutura permanecendo acima do nível da água[26].

O Sacrifício do Comandante

O Capitão Langsdorff evitou sob todas as circunstâncias que sua tripulação fosse internada no Uruguai, preferindo uma transferência para a Argentina, do outro lado do Rio da Prata.

O cargueiro alemão Tacoma, presente nessa ocasião no porto de Montevidéu, recebeu ordens para estar pronto para partir e seguir o navio de guerra. Mas devido ao seu calado, não poderia percorrer a rota direta de Montevidéu a Buenos Aires. Foi quando na noite de 17 de dezembro o Capitão Rudolf Hepe, inspetor em Buenos Aires da empresa de navegação marítima alemã Hamburg-Süd, contratou dois rebocadores argentinos para transportar os marujos do Graf Spee até Montevidéu. Este apoio logístico, que funcionou corretamente até o último minuto, foi essencial para evacuar toda a tripulação para uma Argentina amigável à Alemanha, onde os marinheiros poderiam ter um regime de internamento mais benevolente.

Dois dias depois na capital argentina, depois de completar as formalidades com as autoridades locais, Langsdorff fez um breve discurso para seus oficiais e depois se retirou para um quarto de hotel. Pouco tempo depois, com a bandeira de batalha da Marinha Imperial Alemã ao redor de seus ombros, cometeu suicídio com uma pistola. Langsdorff deixou uma carta para sua família e outra para o Barão von Therman, o embaixador alemão em Buenos Aires, onde assumiu a responsabilidade pelo incidente Graf Spee. Tinha 45 anos de idade.

Hans Langsdorff foi enterrado na Seção Alemã do Cemitério La Chacarita, em Buenos Aires, onde chegou até mesmo a ser homenageado pelos seus inimigos por sua conduta honrosa.

No final ficou patente que Langsdorff escolheu sacrificar seu navio para preservar a vida de seus homens. Ao cometer suicídio o comandante do Graf Spee provou que não havia evitado o combate naval para salvar a sua vida e que seu destino era igual ao do seu navio. 

Para outros, nazistas principalmente, Hans Langsdorff não passou de um mero covarde, que teve uma atitude derrotista causada por maus julgamentos, que preferiu enfrentar o suicídio aos seus inimigos imediatos, ou a desgraça nas mãos de seu governo. Afirmaram ainda que, dadas as probabilidades reais de um combate após partir de Montevideo, um comandante com mais coragem teria condições de afundar de dois a três navios inimigos e tentar voltar para a Alemanha.

Essa possibilidade seria viável?

É possível! Mas tudo se mostraria um sacrifício inútil.

Mesmo que vencesse inicialmente os três cruzadores que estavam no estuário do Rio da Prata, Langsdorff, com pouca munição nos seus paióis e importantes problemas para resolver nas máquinas do seu navio, dificilmente conseguiria fugir dos mais de 30 navios de guerra inimigos que o caçariam implacavelmente por todo Oceano Atlântico.

E não podemos esquecer que sob o comando de Langsdorff a missão operacional do Graf Spee  foi cumprida com sucesso. Apesar de tudo que aconteceu ele conseguiu comprometer as linhas de fornecimento marítimo comercial para a Grã-Bretanha por algum tempo, afundando nove navios mercantes e causando pânico nas tripulações e armadores. Mais importante foi o efeito estratégico de desviar muitos navios de guerra da Marinha Real Britânica e Francesa para caçarem um esquivo atacante alemão que surgiu inesperadamente na imensidão do Atlântico Sul e do vizinho Oceano Índico.

De todas as maneiras o que Hans Langsdorff fez desafia o senso comum. Em foco permaneceu a situação limítrofe de um oficial de marinha que rompeu com a tradição, seguiu sua consciência e salvou a vida de centenas de seus comandados[27].

O Destino das Testemunhas Brasileiras e Um Interessante Estrangeiro Visita Natal

Não demorou e os paraenses Martinho Silva, Thomaz Brandão e Waldemar Francisco Penedo, os simples “graxeiros” do Clement, foram totalmente esquecidos pela imprensa nacional.

Sei que após passarem por Maceió os três paraenses chegaram a Salvador, onde conseguiram roupas e dinheiro com o cônsul britânico ali lotado. Depois tomaram o rumo para Recife e sumiram. Mesmo com muitas buscas nos arquivos dos jornais antigos, nada mais encontrei sobre esses brasileiros.

Já em Natal o episódio do afundamento do Clement foi muito pouco comentado pelos jornais A República e A Ordem, os principais que circulavam na capital potiguar nessa época. Mas uma pequena e discreta nota publicada na terceira página do jornal A República, edição de 13 de outubro de 1939, dá conta da inesperada chegada de um interessante visitante estrangeiro, que parece ter relação com os acontecimentos relativos a destruição desse cargueiro inglês na costa pernambucana.

Capitão Donal Scott McGrath, Adido Naval britânico no Brasil.

Na manhã do dia 12 de outubro de 1939 um hidroavião da Panair amerissou no Rio Potengi e entre os passageiros que desembarcaram estava o Capitão Donal Scott McGrath, Adido Naval britânico no Brasil e a maior autoridade da Marinha de Sua Majestade o rei Jorge VI em nosso país. Esse veterano da Primeira Guerra, ex-comandante de barco torpedeiro e de destroieres em Malta e no Extremo Oriente, havia sido designado para a Divisão de Inteligência Naval do Almirantado antes da Segunda Guerra Mundial e enviado ao Brasil como Adido Naval no Rio de Janeiro[28].

Em Natal o Capitão McGrath foi recebido pelo chefe de gabinete do governador Rafael Fernandes, o advogado Paulo Pinheiro de Viveiros. Apesar dessa informação não sabemos praticamente nada da visita de McGrath a capital norte-rio-grandense, mas temos conhecimento que as duas da tarde do mesmo dia ele embarcou em um trem da Great Western para Recife e sabemos o quanto até aquela data era raro uma visita de um adido naval britânico a Natal.

O oficial Capitão Donal Scott McGrath está sentado, ao centro da foto.

Evidentemente não podemos deixar de perceber que o Capitão Donald Scott McGrath veio primeiro a Natal, para só depois seguir para Recife para, talvez, se encontrar com os náufragos do Clement. Outra situação interessante está no fato desse homem aqui chegar cinco dias após o Almirantado Britânico informar que um cargueiro americano havia visto um navio de guerra alemão a 60 milhas náuticas de Natal[29].

Logo estrangeiros bem mais importantes que o Capitão Donal Scott McGrath chegaria com maior frequência a capital potiguar e a própria Segunda Guerra Mundial seria assunto de atenção primária[30].

Com a Guerra Cada Vez Mais Perto

Manoel de Medeiros Britto, ex-deputado estadual e ex-ministro do Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte, nascido em 1924, era um jovem seminarista na primeira metade de 1940, no tradicional Seminário São Pedro em Natal. Ele comentou em uma entrevista ao autor deste artigo que nessa época as notícias sobre a Segunda Guerra Mundial preenchiam cada vez mais os debates do dia a dia no Seminário e como toda essa movimentação alterava a sua rotina e a de seus colegas.

O autor desse artigo e o amigo Manoel de Medeiros Britto.

Nos céus de Natal o ronco de aviões estrangeiros se tornou cada vez mais frequente. Era comum o sobrevoo das aeronaves italianas, alemãs e americanas, partindo ou chegando à capital potiguar. Certo dia, durante o recreio no Seminário, Manoel de Britto viu um grande hidroavião quadrimotor prateado passar roncando fortemente e assustando a todos. Era um modelo Boeing 314 Clipper, de fabricação americana e esse colosso dos céus lhe impressionou bastante. Aquela aeronave era um verdadeiro marco da aviação comercial e percorria a linha aérea de Miami ao Rio de Janeiro, com escala em Natal, sempre amerissando no Rio Potengi.

Em maio de 1940 chamou atenção do jovem Manoel de Britto a forte repercussão que a queda da França teve entre os natalenses. A foto de Adolf Hitler ultrajando a Torre Eiffel foi algo que impressionou os moradores da capital potiguar, tanto pela França ser o país estrangeiro mais admirado pelos brasileiros na época, como pela derrota avassaladora que estes sofreram frente aos nazistas. Ele também comentou que após a rendição da França ouviu várias reclamações sobre o aumento dos preços dos produtos alimentícios que eram importados, como a farinha de trigo, conhecida na época como farinha do reino, a pimenta, queijos, manteigas, entre outros.

Boeing 314 Clipper.

Diante desses acontecimentos Manoel de Britto e certamente grande parte dos quase 50.000 habitantes de Natal na época, perceberam que aquela guerra afetaria o dia a dia de todos de uma forma ou de outra.

Eles só não sabiam o quanto e nem como o perigo algumas vezes esteve bem próximo!

NOTAS


[1] Certamente o comando da Kriegsmarine desejava que as ações de combate do Graf Spee obrigasse a Marinha Britânica a deslocar seus vasos de guerra para o Atlântico Sul a fim de caçarem o poderoso navio alemão, deixando o Atlântico Norte desprotegido.

[2]Foram construídos três navios dessa classe; o Deutschland (lançado ao mar em 1931), o Admiral Scheer (1933) e o Admiral Graf Spee (1934). Nenhum deles sobreviveu a Segunda Guerra.

[3] Por ocasião da viagem do Graf Spee ao Atlântico Sul só u m hidroavião foi levado.

[4] Em janeiro de 1938 o Almirante Graf Spee foi o primeiro navio de guerra alemão a ser equipado com um radar de busca. Era o protótipo “Seetakt” FuMG 39G, sendo instalado a bordo do navio com uma antena de 0,8 x 1,8 metros, montada na carcaça giratória do telêmetro.

[5] Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial os três homens da família Spee seguiram para a Marinha Imperial Alemã, onde todos morreram no dia 8 de dezembro de 1914, junto com toda a tripulação do cruzador SMS Scharnhorst, na devastadora derrota alemã na Batalha Naval das Ilhas Falklands (Malvinas). A história começa em 1 de novembro de 1914, onde uma frota de cruzadores imperiais alemães comandadas por Spee destruiu dois cruzadores pesados britânicos próximos a costa do Chile, naquela que ficou conhecida como a Batalha Naval de Coronel. Essa foi a primeira derrota da marinha britânica desde 1812 e o combate ocasionou a morte de 1.700 oficiais e marujos. Mas o troco não se fez esperar e em 8 de dezembro do mesmo ano uma força naval britânica afundou a leste das Ilhas Falklands (Malvinas) oito navios alemães, sendo dois cruzadores de batalha, três cruzadores leves e três navios auxiliares, ocasionando mais de 2.200 mortos.

[6] O filho de Hans Langsdorff, Joachim Langsdorff, também se juntou à marinha alemã. Ele foi morto enquanto pilotava um submarino anão modelo Biber 90 em dezembro de 1944. Sua nave foi posteriormente recuperada pela Marinha Real e está atualmente em exibição no Imperial War Museum, em Londres.

[7] Em primeiro estava o Rio de Janeiro, Capital Federal, com 1.764.141 habitantes e em segundo São Paulo, com 1.326.261. Sobre as populações das capitais estaduais brasileiras em 1940 e outros períodos ver https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=6&uf=00

[8] Os navios em Recife nessa época foram o TijucaUruguayBertha FisserCuritybaMecklemburgSão PauloCap Norte e Wolfsburg. Já os ingleses foram o BenedictRuperraSoconíaWestern PrincesBaltic e o malfadado Clement. Uma particularidade interessante a todos esses navios é que suas saídas sempre ocorriam à noite e suas luzes eram totalmente apagadas após ultrapassarem a linha dos arrecifes existentes na área desse porto. Apesar do conflito existente na Europa, não consegui encontrar nas páginas dos jornais nenhum conflito que ocorreu com essas tripulações em Recife.

[10] Sobre a existência de espiões do Eixo em Recife e Natal ver https://tokdehistoria.com.br/2017/03/08/o-curioso-caso-do-espiao-nazista-em-natal-durante-a-segunda-guerra-mundial/

[11] Ver o texto “O fim do encouraçado de bolso Admiral Graf Spee”, de Carlo di Risio, in Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 111, números 7/9 e 10/12, p. 390, jul./set. e out./dez. 1991.

[12] Sobre a passagem desse navio por Natal ver Jornal Pequeno, Recife, edição de segunda-feira, 2 de outubro de 1939, na página 3.

[13] Ver jornal Correio da manhã, Rio de Janeiro, edição de quarta-feira, 4 de outubro de 1939, na página 3.

[14] Sobre essa questão os jornalistas do jornal carioca Correio da Manhã tiveram certa dúvida se esse ataque realmente se realizou entre 60 e 70 milhas da costa, pois um barco como o Clement, fazendo uma viagem tão curta, como era o caso entre Recife e Salvador, normalmente “não se afastaria tanto da costa”. Ver jornal Correio da manhã, Rio de Janeiro, edição de quarta-feira, 4 de outubro de 1939, na página 3.

[15] Nessa época era normal que aviões e hidroaviões, principalmente da empresa Air France, transportassem malas postais de norte a sul do Brasil voando próximo ao litoral brasileiro. Ver jornal A Noite, Rio de Janeiro, edição de quinta-feira, 5 de outubro de 1939, na 2ª página.

[16] Quando partiu para o Atlântico Sul o Graf Spee transportava apenas uma aeronave e seu respectivo pessoal de apoio. Este foi o Arado 196A-1 do esquadrão aéreo embarcado Bordfliegerstaffel 1./196 – BFGr. 196.

[17] Não existe nenhum indício que aponte que esse hidroavião Arado 196A-1 sequer tenha visualizado a costa brasileira.

[18] O Capitão Harris e o Chefe Bryant foram embarcados a bordo do navio grego Papalemos, que foi parado e revistado pelos alemães no mesmo dia do afundamento do Clement. Os oficiais ingleses foram desembarcados nas Ilhas de Cabo Verde no dia 9 de outubro. O capitão concordou em não transmitir um sinal de socorro até chegar ao seu destino em troca da libertação da tripulação do seu navio. Ele honrou este acordo.

[19] Ver Diário de Pernambuco, Recife, edição de terça-feira, 3 de outubro de 1939, páginas 1 e 4.

[20] Ver jornal A Noite, Rio de Janeiro, edição de sábado, 7 de outubro de 1939, na 1ª página.

[21] Ver Diário de Pernambuco, Recife, edição de terça-feira, 4 de outubro de 1939, páginas 1 e 3. Essas três milhas seriam ampliadas para seis em 1966, sendo ampliadas depois de três anos para doze milhas e em 1970 chegou as atuais 200 milhas náuticas. Ver texto de Dalmo de Abreu Dallari “O Mar Territorial do Estado Brasileiro”, obtido no link file:///C:/Users/rosta/Downloads/66716-Texto%20do%20artigo-88104-1-10-20131125.pdf

[22] Ver Diário de Pernambuco, Recife, edição de terça-feira, 4 de outubro de 1939, páginas 1 e 3.

[23] Ver jornal Correio da manhã, Rio de Janeiro, edição de quarta-feira, 5 de outubro de 1939, na página 2.

[24] Além do fuzileiro Russel e do marinheiro O’Leary, outros 63 homens morreram no Exeter como consequência desse combate.

[25] No decorrer da batalha o Graf Spee havia sido atingido aproximadamente 70 vezes, com 36 homens mortos e outros 60 ficaram feridos, incluindo Langsdorff, que havia sido ferido duas vezes por estilhaços enquanto estava na ponte de comando.

[26]Apesar das fortes pressões dos Aliados e dos países do Eixo para que os governantes uruguaios da época colocassem essa pequena nação sul-americana participando mais ativamente do conflito, O Uruguai manteve uma neutralidade extrema durante a Segunda Guerra Mundial, sendo o drama do Admiral Graf Spee o mais importante acontecimento desse conflito envolvendo aquela nação.

[27] Ver Führungsentscheidung in einer Grenzsituation: Kapitän zur Ver Hans Langsdorff vor und in Montevideo 1939. Vortrag für Klaus-Jürgen Müller zum 80 Geburtstag in der Helmut-Schmidt-Universität de 11. Março 2010. 

[28] Sobre Donal Scott McGrath ver – http://www.holywellhousepublishing.co.uk/commandingofficers.html

[29] Nos jornais de Natal, Recife e Rio de Janeiro não encontramos nenhuma referência sobre a razão da visita deste Adido Naval nessas cidades, nem sabemos se ele chegou mesmo a se encontrar com os náufragos do Clement  em Recife. Sabemos apenas que no dia 17 de outubro ele retornou ao Rio. Ver Correio da Manhã, Rio de Janeiro, edição de terça-feira, 17 de outubro de 1939, página 6.

[30] Durante a Segunda Guerra Mundial, após deixar seu cargo na Embaixada Britânica no Brasil, o Capitão Donal Scott McGrath teve participação ativa no conflito. Comandou o navio antiaéreo HMS Ulster Queen, depois foi o comandante do navio desembarque de tropas HMS Glengyle, no malfadado desembarque de Dieppe, França, em 19 de agosto de 1942, na sequência comandou o porta-aviões HMS Tracker e o navio varredor de minas HMS Adventures.

Extraído do blog Tok de Histórias do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.

https://tokdehistoria.com.br/2021/02/09/o-ataque-do-encouracado-graf-spee-proximo-a-costa-nordestina/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com