31 de dez. de 2015

NO TEMPO DO TINTEIRO E DA PENA

Por José Mendes Pereira

Até a década de 60, do século XX, a criação de canetas modernas ainda não havia chegado no Brasil, isto é, uma maneira mais simples para estudantes, principalmente aqueles que residiam nas pequenas cidade, vilarejos e campos. Até as carteiras escolares dessa época, tinham nelas, orifícios onde se colocavam os tinteiros que eram cilíndricos, espécie de um pequenino jarro, fabricado de vidro, porcelana, prata, latão ou outro material semelhante, e que servia como recipiente de tinta para a pessoa que estava escrevendo. O usuário mergulhava o bico da pena no tinteiro, quando sentia que a tinta estivesse acabando na ponta da pena. Esta invenção foi criada no ano de 1884.
  
www.geralforum.com

Se algum dos alunos sentisse que a tinta do seu tinteiro havia se acabado, solicitava que a professora fizesse o abastecimento de mais tintas, para que ele continuasse a sua obrigação escolar. Existiam vários modelos de carteiras, mas a que era mais usada nas escolas era carteira individual, isto é, apenas para acomodar um aluno.

  www.patriamineira.com.br

Atualmente a pena é mais utilizada por artistas, devido ao seu formato especial, que permite usufruírem facilmente do chamado "efeito fino-grosso" do traço. Esse efeito costuma ser usado para dar volume aos desenhos, mas poderá ser feito também com simples pincéis.

Se você deseja adquirir picos de pena para colecionar, ou até mesmo para relembrar o seu tempo de escola, quando ainda era pena e tinteiro, entre na Internet que você encontrará vários modelos de penas.
  
tutorialhouse.deviantart.com

Lembro-me bem do tempo da pena e do tinteiro, porque nessa década, eu era aluno da professora Ediesse Rodrigues, na "Escola Isolada de Barrinha", na Fazenda Barrinha, de propriedade da viúva Francisca Rodrigues Duarte, conhecida em toda região por dona Chiquinha Duarte. 
  
worldpel.com

Mas lembrando ao leitor que a caneta esferográfica foi criada em 27 de Dezembro de 1950, pelo inventor húngaro e naturalizado argentino Lárszio Biró. Achando que tinha criado uma excelente invenção, chamou o seu invento de “BIC”. Mas para muitos brasileiros, só conheceram a caneta Bic já no final dos anos 50, e olha lá, muitos conheceram esta invenção, somente nos anos 60. A invenção foi tão admirada, que as vendas ultrapassaram as expectativas do inventor.

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ROUBAM TUDO QUANTO DESEJAM

Por José Mendes Pereira
antigolandia.com.br

Ser honesto é uma das virtudes mais importante para o ser humano, não querer nada de ninguém, não desejar o que é dos outros, não misturar dinheiro alheio e depois não saber separar o do outro do seu dinheiro. Mas nem todo mundo quer ser honesto, alguns dizem que são, mas na verdade, é apenas uma forma de exigir do outro sobre si, respeito. E ainda bate forte no peito dizendo: "- Eu me orgulho em ser honesto. Ninguém um dia há de pegar em minha mão".


A honestidade depende muito da convivência. Quem vive no meio dos desonestos, não todos, mas quase todos serão desonestos, porque começam desviando o "pouco" e posteriormente perdem o medo, e roubam o "muito". Quem desvia o "pouco" geralmente diz que não rouba. Mas se engana! É através do furto "pouco" que o sujeito se torna ladrão fino, porque tudo que se tira escondido de alguém é "roubo".

Fazem poucos meses que eu fui enganado por um sujeito que eu nunca antes tinha o visto. Chegou e me ludibriou de olhos arregalados, como se estivesse me dizendo que não me roubaria, eu iria entregar com as minhas próprias mãos, o que ele desejava me roubar.

Eu me encontrava sobre uma laje que nela eu iria concluir um banheiro. O certo é que eu havia comprado para o serviço: um carro de mão, uma enxada, uma pá, arame..., e enquanto eu permanecia sobre a placa, o sujeito a tempo que observava os equipamentos que estavam lá embaixo, sobre a calçada da minha casa. E creio que ele não se apossara antes porque a rua estava movimentada com pessoas do lugar. 


O esperto sujeito encostado a um muro, colocou apenas a sua cara lisa em minha direção, e perguntou-me:

- O senhor vai precisar deste carro de mão agora?

- Agora mesmo não. Mas já, já irei usá-lo.

- Dá para o senhor emprestar-me para eu levar três carradas desta areia lá para dentro daquela casa?  - Perguntou-me ele apontando com o dedo indicador arruma de areia que existia sobre a calçada de outra casa.

- Se o senhor não demorar muito...

- Não. É rápido. Só são três carradas de areia.

O certo é que esqueci-me, e quando me lembrei do carro, desci e não vi mais o sujeito. Fui até à casa do meu vizinho, sendo esta que supostamente seria colocada a areia, segundo o esperto me dissera.

- Souza, cadê o rapaz que está carregando a areia para dentro?

- Aqui não tem ninguém carregando areia não. - Respondeu-me o meu vizinho.

Sem os equipamentos, peguei o carro (automóvel) e fui ver se localizava o suposto ladrão em algumas ruas. Apenas fui informado por alguns conhecidos que passara um sujeito tentando vender um carro de mão e algumas ferramentas. Perdi tudo que comprei para um malandro que não trabalha para sustentar a si mesmo.

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QUEM FALOU A VERDADE, VILA NOVA OU O CANGACEIRO BALÃO?

Por José Mendes Pereira

No dia 14 de novembro de 1938 Iziano Ferreira Lima, o afamado cangaceiro VILA NOVA, afirmou ao “Jornal A Noite”, que estava na Grota de Angico no momento do ataque das volantes ao grupo de Lampião, na madrugada de 28 de julho de 1938. Vejam o que ele fala:


“ – Escapei pela misericórdia de Deus, afirma. Vi quando o CHEFE (o chefe que ele se refere é Lampião) caiu se estrebuchando pelas forças do tenente Ferreira (ele fala no tenente Ferreira, nas ele quis se referi ao tenente Bezerra). 

Tenente João Bezerra

Meu padrinho Luiz Pedro caiu ferido nos meus pés. Pediu que o matasse, logo. O que fiz, foi apanhar o seu mosquetão e fugir para as bandas do riacho onde o fogo era menor. 

O cangaceiro Zé Sereno

Depois da fuga fui me esconder na Fazenda Cuiabá, onde me encontrei com ZÉ SERENO, e outros que puderam fugir do cerco. Ali soubemos que junto com o capitão tinha morrido mais 11 cabras, inclusive D. Maria Bonita”. 

Ele fala que junto com o capitão haviam morrido mais 11 cabras. Verdade, lógico que lá morreram contando com Lampião 12. 11 cangaceiros e o volante Adrião Pedro de Souza.
  
O cangaceiro Balão - fonte pesquisada - http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/08/cangaceiro-balao-sensacional-entrevista.html

Já o cangaceiro Balão afirmou à “Revista Realidade” em novembro de 1973 sobre Luiz Pedro o seguinte:

Luís Pedro ainda gritou: "Vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião". Não conseguiu, caiu atingido por uma rajada. Corri até ele, peguei seu mosquetão e, com Zé Sereno, consegui furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus.

As duas entrevistas destes dois cangaceiros cedidas ao Jornal A Noite e à Revista Realidade ficam meio confusas, que cabe aqui esta pergunta? 


O cangaceiro Luís Pedro carregava dois mosquetões no momento em que tentava fugir do cerco policial? 

O cangaceiro Vila Nova disse que pegou o mosquetão do Luís Pedro e deu no pé. O Balão também afirma a mesma coisa.

Também as duas afirmativas deles deixam a gente novamente confuso sobre a morte de Luís Pedro. Por quê?


O volante Mané Veio disse aos pesquisadores e repórteres que foi ele quem assassinou o cangaceiro Luís Pedro, e pelo que ele diz, levou um bom tempo para matá-lo, saiu perseguindo, perseguindo entre pedras e ele tentando salvar a sua vida, mas finalmente o assassinou.


Sobre a morte do cangaceiro Luís Pedro você poderá ler em ”Lampião Além da Versão Mentiras e Mistério de Angico”, escrito por Alcino Alves Costa.

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DESPEDIDA DO ÚLTIMO TREM DE PASSAGEIROS QUE ATUAVA EM MOSSORÓ

Por José Mendes Pereira

Quem passeou de trem indo para Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas e outras cidades do Rio Grande do Norte, com certeza ainda sente saudades do balanço e da descontrolada zoada que fazia o velho transporte.

O último trem com passageiros que ainda permanecia rodando sobre os trilhos, foi desativado de uma vez por toda, em um sábado, às 15:30, do dia 30 de Janeiro de 1988, ordem federal, e que muito fez falta às cidades do médio e Alto Oeste do Rio Grande do Norte.

Em 30 de janeiro de 1988 o último trem de passageiro saía da Estação Ferroviária de Mossoró (atualmente Estação das Artes Eliseu Ventania) com destino ao Estado da Paraíba; era um dia de sábado, o relógio marcava 15h30min, e até hoje nunca mais retornou.

A sua desativação, deixou muita saudade encravada no coração de cada mossoroense, ao saber que aquele trem que tanto colaborou pelo desenvolvimento de Mossoró, fora condenado a não mais pisar nas terras mossoroenses, e nunca mais colocaria as suas rodas sobre os trilhos.

Já bem próximo da sua ida sem volta, na Rua Melo Franco, muitos mossoroenses estavam atentos em suas casas, esperando o trem segui, e para verem-no pela última vez.
  

Os que trabalhavam na linha férrea das cidades como: Mossoró, Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas, Jordão, Patu, Almino Afono, Mumbaça Demétrio Lemos Ulrick Graff, Alexandria, Santa Cruz, São Pedro, Sousa, sentiam um incômodo dentro do peito, em saber que durante muitos anos viveram em prol daquela máquina, e por último, só restava saber para onde iriam, já que o trem, infelizmente seguia para um lugar que nunca mais sairia de lá.

https://www.youtube.com/watch?v=zF-tA1tQe9s

Faltavam poucos minutos para que o condutor levantasse a bandeira verde, ordenando que o maquinista partisse com o trem para o destino combinado pelos superiores da rede ferroviária; talvez iria gozar de sua aposentadoria em Sousa, na Paraíba; e os corações humanos aumentavam as suas batidas. Alguns deles nervosos, encostados às portas das suas casas, aguardavam-no, para levantarem as mãos e dizerem: "-Adeus nosso trem querido! Você muito nos serviu por várias décadas, agora chegou a vez de ir embora para nunca mais voltar!".

Pouco tempo, o trem foi ligado a sua máquina. Os vagões encarrilhados, um a um, também estavam proibidos de voltarem a esta terra que tanto os acolheu por anos e anos.


O maquinista posicionado à cabine, não dava nenhuma palavra, apenas olhava firme em direção aos trilhos à sua frente. O seu ajudante permanecia ao seu lado com o olhar ao piso da máquina. O mecânico aproximou-se com uma mala cheia de chaves, e lá, a agasalhou em um vagão. E antes que descesse, bateu-lhe uma crise de choro. Os companheiros de trabalho acalentavam-no, pedindo-lhe que tentasse controlar a sua emoção. Mas o mecânico chorava descontrolado.

Finalmente, o trem que tanto rodou, deu o primeiro deslocamento sobre os trilhos, e partiu vagarosamente, recebendo o adeus de todos que ao lado dos trilhos esperavam a sua partida, e que nunca mais voltaria a esta terra.

 A ponte da estrada de ferro no Rio Mossoró-RN, foi concluída no dia 7 de fevereiro de 1915, um dia de domingo e oficialmente em 19 de março de 1915 (sexta-feira), idealizada pelo suíço JOHAN ULRICH GRAFF. Comerciante que fixou-se em Mossoró, em 1866, com seus companheiros Henrique Burly, Rodolfo Guyane e Conrado Meyer, este, também, suíço. Em 1868, Johan Ulrich abriu, na praça mossoroense, a Casa Graff, voltada ao comércio de importação e exportação. Na época da inauguração o prefeito de Mossoró era FRANCISCO VICENTE CUNHA DA MOTA (1914 - 1916)http://joatamaria-mossorovenezarn.blogspot.com.br/ 

O trem foi desaparecendo, e apenas se ouvia o seu apito sanfonado, como um choro de quem está partindo para bem distante de seus familiares. E a fumaça cobria um pouco a visão de quem o olhava.

Os que permaneciam ao lado da linha férrea, baixaram os seus olhares, como se tivessem perdidos um dos seus entes queridos. Mas mesmo assim, não paravam de acenar para ele.
  

O trem seguia lentamente, porque era um desejo do maquinista, demorar mais um pouco, já que nunca mais iria manobrar aquela máquina tão importante na sua vida. As lágrimas deslizavam sobre a sua face magra e quente, provocadas pelo calor da temperatura da máquina.

Em um momento, o ajudante percebeu que o maquinista lacrimejava, e perguntou-lhe:

- Você Está chorando?

- Um pouco. Sinto um forte arrocho no meu coração, devido a saudade que já estou sentindo, por quem não voltará comigo, deixou-me doente. Foram décadas que passamos juntos. Mais momentos bons do que ruins.

Infelizmente, o trem que tanto rodou sobre o chão de nossa cidade, que a engrandeceu, prestando os seus serviços, desapareceu dos trilhos e dos olhares mossoroenses. E alguns que haviam acompanhado a sua partida, no silêncio, também lacrimejavam.
  
http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=146 

O trem se foi. Em todos os momentos de metros rodados, os olhares dos sertanejos que residiam próximo à linha férrea, acompanhavam-no. Animais, pássaros, árvores, todos estavam com os seus holofotes virados em sua direção, para despedirem-se do trem que nunca mais voltará a nossa querida Mossoró.

O adeus dos mossoroenses dirigido a você, trem, ficou registrado na mente de cada um. Você se foi, e com certeza, está guardado sob um galpão, sujo, empoeirado e coberto por malditas crostas ferrugentas.

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Fonte:
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com.br/2014/02/despedida-do-ultimo-trem-de-passageiro.html

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CHINELOS DE BORRACHA (HAVAIANAS)

Por José Mendes Pereira


Em 8 de junho de 1962 foram lançadas as sandálias brasileiras feitas de borracha, e como modelo principal, foi o branco, com tiras e laterais da base azuis. Mas ainda não possuía um atrativo visual, porém, eram baratas, e que logo foi considerada pela população como “chinelo de pobre”.

Mas assim que este chinelo foi lançado em todas as lojas do Brasil, muitos pais de famílias não queriam que os seus filhos usassem este tipo de “sandália”, achando que era de uso para homens afeminados, e somente as filhas poderiam usar e abusar desta nova invenção para os pés.

Lembro que o meu pai Pedro Nél Pereira não deixava que nós filhos, calçássemos este tipo de “chinelo”, e que teríamos que manter o antigo e desajeitado chinelo fabricado pelo sapateiro, ou pelos aprendizes nesta profissão. Mas posteriormente os pais resolveram admitir que, não só as suas filhas, como também os filhos usassem o chinelo, vez que o preço era do tamanho dos seus bolsos.

Com o passar do tempo este “chinelo” começou a fazer parte da vida de quase todos os brasileiros, quando sabemos que: de três canarinhos do Brasil, dois usam o “chinelo” conhecido “havaiana”, muito embora sabemos que existem dezenas de fabricantes e modelos, mas o que mais tem se destacado no comércio, é mesmo o “chinelo” chamado “havaiana”.

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30 de dez. de 2015

ESPEDITO SELEIRO, FILHO DO CRIADOR DA SANDÁLIA DE LAMPIÃO, VIROU GRIFE VALORIZADA NO MUNDO DA MODA E DO DESIGN

 FERNANDA DA ESCÓSSIA DE NOVA OLINDA (CE) PARA A BBC BRASIL

"O cabra chegou para meu pai e disse que queria uma sandália diferente, de solado quadrado, sem marca da curva da sola do pé. Mostrou um modelo desenhado. Meu pai disse que fazia. Dias depois o cabra veio buscar a encomenda e perguntou a meu pai se ele sabia para quem era a sandália. 'Não é para você?', meu pai perguntou. 'Não, é para o Capitão Virgulino'. 'Pois leve a sandália e nem precisa pagar'".

É assim que Espedito Velozo de Carvalho, o Mestre Espedito Seleiro, 77 anos, resume como surgiu a sandália mais famosa de tantas de seu ateliê em Nova Olinda, cidade do interior do Ceará, a 500 km de Fortaleza.

A sandália de solado quadrado era mesmo para o Capitão Virgulino Ferreira, o Lampião, chefe do bando de cangaceiros que impunha medo, respeito e fascínio no interior do Nordeste nos anos 1930.

O solado quadrado, sem indicar qual era a frente da sandália, tinha um propósito: despistar as volantes, como eram chamadas as equipes policiais que caçavam os cangaceiros pelo sertão. "O solado quadrado deixava uma pegada quadrada, de modo que a volante não conseguia saber para que lado Lampião tinha ido, se estava indo ou voltando", explica Espedito Seleiro.

O filho do criador da sandália de Lampião se transformou, nos últimos anos, em uma assinatura valorizada no mundo da moda, do cinema e do design. Espedito (assim mesmo com S) Seleiro fez peças para marcas como Farm, Cavallera e Cantão.

Em 2006, participou da São Paulo Fashion Week. Sua obra foi tema da exposição "Da Sela à Passarela", que passou por São Paulo e Rio de Janeiro. É criação de Espedito Seleiro o gibão colorido de couro usado pelo personagem do ator Marcos Palmeira no filme O Homem que Desafiou o Diabo (2007).


Seleiro apareceu no programa da global Regina Casé, cliente de suas sandálias. Recebeu em 2011 a Ordem do Mérito, concedida pelo Ministério da Cultura a personalidades do setor. Seu trabalho cheio de referências do sertão, com couro colorido e enfeitado, atraiu os designers Humberto e Fernando Campana, que fizeram em 2015 uma parceria com Seleiro para uma linha de móveis intitulada Coleção Cangaço, juntando madeira, palhinha e couro, e os móveis são a novidade em seu trabalho.

"É bom variar, fazer coisas novas", filosofa o artesão.

TALENTO E APRENDIZADO

Ainda menino, Espedito aprendeu com o pai, Raimundo Seleiro, que aprendeu com o pai dele, Gonçalves Seleiro, filho de Antônio Seleiro, a arte de tratar e transformar o couro de boi e de cabra em peças usadas pelos vaqueiros, como selas, cintos e chicotes.

Para vaqueiro, mesmo, ele nunca teve talento: no primeiro dia em que montou no cavalo para laçar um boi levou uma queda tão feia que desistiu da profissão.

Quando ele ainda era criança, sua família fugiu da seca e trocou o sertão dos Inhamuns, área mais árida do Ceará, pelo quase sempre verde Cariri, na região sul do Estado, divisa com Pernambuco. Aos 16 anos, em busca de uma vida melhor, Espedito foi embora para o Paraná. Ficou três anos, sempre trabalhando com couro, e voltou para o Cariri.

Um dia, cansado de tantas peças parecidas - sandálias de couro são uma tradição no interior do Ceará, vendidas em cada esquina e cada mercado popular-, viu que precisava inovar. Usando produtos naturais, como a tintura da casca do angico, árvore comum na região, tingiu o couro.


O criador das sandálias coloridas ganhou a admiração da então secretária de Cultura do Ceará Violeta Arraes - de uma família tradicional do Cariri e irmã de Miguel Arraes, cearense que fez carreira política em Pernambuco, Estado que governou três vezes.Fez sandálias vermelhas, azuis, amarelas e roxas, cheias de desenhos. Levou para um conhecido no mercado vender. No outro dia vieram pedir mais, e as sandálias coloridas abriram caminho para que ele se diferenciasse dos demais artesãos.

O diretor de TV e cinema Guel Arraes, filho de Miguel Arraes, também se tornou cliente das sandálias de couro de Seleiro, e a fama do artesão foi se espalhando.

Um dia, o educador Alemberg Quindins, criador da Fundação Casa Grande, premiada organização de Nova Olinda que capacita crianças e jovens para as artes, pediu a Seleiro que fizesse uma sandália igual à de Lampião para uma exposição sobre o Cariri.

Seleiro tinha guardado os desenhos do pai e reproduziu a sandália "cobertão", de solado quadrado. "Mudei o nome para sandália Lampião. E quando me pediram um modelo para mulher, fiz a sandália Maria Bonita", explica o artesão.

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

Do Cariri para o Brasil, aos poucos o E.S. de Espedito Seleiro, numa letra bem desenhada, foi marcando sandálias, bolsas e mochilas em couro que se espalharam no circuito fashion.

O trabalho atraiu também a atenção da pesquisadora Heloisa Bueno Rodrigues, que fez de Seleiro personagem principal de sua dissertação de mestrado defendida em outubro de 2015 no Programa de Cultura e Territorialidades da UFF (Universidade Federal Fluminense) e intitulada Espedito Seleiro: filho dos Inhamuns, mestre do Cariri e artista do Brasil.


Num estudo sobre economia criativa e cultura, apresentado num seminário na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, a pesquisadora analisa como Seleiro se diferenciou dos demais artesãos ao inovar dentro da tradição popular, mantendo sua identidade. Ao mesmo tempo, explica que o trabalho de Seleiro não é só produto de sua sensibilidade individual de artista, mas resultado de um conjunto de conhecimentos, histórias e tradições.

"O Ceará é muito marcado pelo que historiadores como Capistrano de Abreu chamam de civilização do couro, um ciclo econômico baseado na criação de gado. A obra de Espedito Seleiro traduz essas tradições dos vaqueiros, dos cangaceiros, dos ciganos, desses homens que se espalharam pelo interior do Nordeste. E ele conseguiu manter sua originalidade dentro dessa tradição, conseguiu se diferenciar", afirma a pesquisadora.

Assim como aprendeu o ofício em família, Seleiro ensina o que sabe aos filhos, netos e sobrinhos, e juntos eles mantêm a cooperativa Associação Familiar Espedito Seleiro, que reúne 22 profissionais.

Mestre Seleiro é um professor exigente, que acorda de madrugada, cobra qualidade em cada passo do trabalho e manda recomeçar tudo se achar algo errado. "Eu ensino, eles fazem, eu vejo se ficou bom. Se estiver boa, assino a sandália. Se estiver ruim, desmancho e mando fazer de novo".

Em sua oficina, entre aprendizes e cortes de couro, Seleiro recebe quem chega e tem sempre tempo para um dedo de prosa. Ao lado da oficina criou o Museu do Couro, que conta a história de sua obra e também a saga dos vaqueiros no sertão.

Seleiro sabe que é imitado por muitos, mas não liga. Às vezes pensa em registrar sua marca, às vezes não. De olho nas novidades, investe em capas para celulares e tablets e selas de moto. Comprada na lojinha de Seleiro em Nova Olinda, a sandália Maria Bonita custa R$ 80.

Entre bolsas, mochilas, carteiras e sandálias, as peças trazem tons e desenhos inusitados. Lembram vestidos coloridos numa quadrilha, disputas de vaquejadas, cangaceiros em luta, leques ciganos, flores brotando - e todas as cores do sertão em dias de chuva depois dos meses de seca.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/12/1724368-filho-do-criador-da-sandalia-de-lampiao-vira-icone-do-mundo-fashion.shtml?cmpid=compfb

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O COLIBRI

Por José Mendes Pereira

Todas as tardezinhas eu me deslocava para o quintal da minha casinhola, na intenção de usufruir um pouco dos ventos que vinha do Norte e posteriormente direcionava-se para o Sul. E lá eu me aconchegava a uma touceira de babosa viçosa, que em anos longínquos eu tinha plantado uma muda que adquiri no meu amado berço "BARRINHA", e com o passar dos anos ela foi se expandindo, até que formou uma ramagem bastante esverdinhada e de forma arredondada.

E Todas as tardezinhas um colibri chegava e entre as folhas espessas da babosa enfiava o bico fino e alongado nas flores em desenvolvimentos, e ficava sugando as gotículas fertilizantes. E em um pequeno espaço de tempo, ele se apoderava de um voo entre o pomar frutífero verdejante, em direção a um outro lugar. O colibri desaparecia, e minutos depois retornava, e com a sua lentidão, repetia tudo o que tinha feito antes. Eu ali, apenas acompanhava os pequenos movimentos das suas asas e corpo. O colibri tinha diversas cores, mas a que mais predominava era a azul celeste.

E com o passar dos dias ele foi permitindo que eu me aproximasse cada vez mais dele. O colibri ficava como se estivesse paralisado, e apenas com uma tremura nas asas e no seu pequeno corpo, eu notava que ele estava em movimentos. Mas quando ele percebia que no horizonte, um lençol amarelado formado por nuvens encarneiradas, dando sinal aos viventes do planeta que o pai da natureza já estava se preparando para se deitar, o colibri tomava o último voo daquele dia, e desaparecia no gigantesco espaço do universo. Depois disso, só no dia seguinte era que ele retornava para repetir tudo de novo, colhendo as novas gotículas fertilizantes que a natureza tinha autorizado a sua reprodução.

Certo dia eu me apoderei de uma maldade de humano devastador, e tentei capturá-lo, mas o colibri não permitiu a minha ignorância, e apossou-se de um voo, e foi-se embora para nunca mais voltar. Nunca mais o vi!

Será que o colibri já tinha completado o seu ciclo vital aqui na terra, e foi recolhido pela natureza, paralisando os seus movimentos para sempre? 

Será que o colibri foi alvejado por uma carabina de caçadores? 

Ou será que o colibri descobriu que eu pertenço a uma espécie de animais que rouba, mente, devasta, difama, odeia, desfaz do seu próprio criador, explode e implode, mata os rios, polui a natureza, extingue os pássaros e faz cilada para matar o seu semelhante? 
Minhas simples histórias

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Fonte: 
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com.br/2015/09/o-colibri.html

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FELIZ ANO NOVO!


São os sinceros votos dedicados aos seus leitores pela família de blogs administrados por José Mendes Pereira. 

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JUNTAS SUSI RIBEIRO NORA DOS CANGACEIROS SILA E ZÉ SERENO E LILIANE PEREIRA SOBRINHA DA EX-CANGACEIRA LÍDIA PEREIRA

Por Susi Ribeiro 
Susi Ribeiro é nora dos cangaceiros Sila e Zé Sereno - Foto do acervo da Susi Ribeiro

Boa noite, amigo José Mendes Pereira:

Venho com muita alegria, deixar registrado aqui, um dia muito feliz em minha vida.

Em Janeiro deste ano, eu e meu esposo Ivan Antunes de Campos, em nossa viagem pelo interior da Bahia, visitamos muitos lugares de grande valor histórico e cultural nas regiões de Paulo Afonso/BA, Alagoas e Sergipe.

Os cangaceiros Sila e Zé Sereno estão circulados

Finalmente eu, nora do ex-casal de cangaceiros Sila e Zé Sereno (pais de meu primeiro e já falecido esposo Wilson Ribeiro de Souza) iria conhecer o palco dos relatos da vida de meus sogros, os locais onde Lampião e seu grupo viveram, lutaram, sofreram, enfim, conferir registros históricos e conhecer pessoas que conviveram com eles na época do Cangaço.

Após conhecer Angico, seguimos com um guia turístico para o sertão de Paulo Afonso, onde visitamos vários Povoados e casas, trilhas e estradas por onde o Subgrupo de meu sogro Zé Sereno teria passado, inclusive quando este ainda era apenas um integrante do subgrupo de seu primo, o temível cangaceiro Zé Baiano, que ficou conhecido por sua crueldade ao assassinar sua companheira Lídia, a mais bela cangaceira e por após esse acontecimento ter se tornado o ferrador de mulheres.

Susi Ribeiro e Wilson Ribeiro - Foto do acervo da Susi Ribeiro

Entre os vários povoados, chegamos ao Povoado Salgadinho, que me despertou muita atenção. Lá estava a casa, já em ruínas, da famosa ex-cangaceira Lídia de Zé Baiano.

Ao lado desta, a casa de seus descendentes, Sr. Terto e Sr. Manoel com a esposa Sra. Atení e os filhos Tânia e Marcos. Fomos recebidos alegremente por Tânia, com quem fiz muita amizade.

Ali, a sombra de uma árvore, ficamos conversando por horas. Eu ouvia com atenção, parecia que os relatos de meus sogros sobre a vida no sertão, ganhavam vida, cor, forma diante de meus olhos.

O cangaceiro Zé Baiano companheiro da cangaceira Lídia Pereira

Sr. Terto, o sobrinho mais velho de Lídia, ainda se lembra dela, pois quando criança, sentiu muito a entrada da tia para o Grupo de Cangaceiros.

Segundo ele, Lídia era uma moça de 15 anos quando entrou para o Cangaço ao lado de Zé Baiano. Era alta, esbelta, cabelos à cintura, muito negros, que lhe " serviam de esteira" e uma personalidade forte, decidida.

Nos emocionamos com essa Família, pessoas simples, humildes, trabalhadores incansáveis do sertão: plantando, colhendo, esperando chuva, cuidando da criação, da casa, da lavoura.

Povoado Salgadinho/sertão de Paulo Afonso/Bahia - Janeiro de 2015: Tânia, Ivan, Eu e Sr. Manoel, sobrinho da cangaceira Lídia. - Foto do acervo da Susi Ribeiro

Pessoas religiosas, respeitadoras, com uma formação moral e ética que há muito não mais é vista nas grandes cidades, principalmente do Sudeste do Brasil.

Encanto, alegria, um sentimento de amizade muito grande tomou conta de meu coração.

Em Março, voltei à casa deles, onde tive a oportunidade de permanecer por vários dias! pude então sentir como é a vida do sertanejo no nordeste.

Foto da casa da cangaceira Lídia - Foto da Susi Ribeiro

Me encantei, me identifiquei muito com os costumes, com a comida, com a religiosidade. Tudo no sertão é maravilhoso: as pessoas são ricas em sentimentos, são solidárias, unidas, em uma palavra: São humanas! Ao voltar para minha casa no interior de São Paulo, nunca mais deixamos de nos comunicar por telefone.

Povoado Salgadinho/sertão de Paulo Afonso/Bahia - Março de 2015: Marcos, Tânia e eu. - Foto do acervo da Susi Ribeiro

Aqui, só faltava uma coisa, conhecer a sobrinha de Sr. Terto, a sobrinha neta da cangaceira Lídia, Liliane Pereira, nascida no povoado e que com seus pais, tinha se mudado para Jacareí, também interior de São Paulo.

Foi então, depois de muito conversarmos pela internet, que no último dia 21 de Dezembro, fomos à sua casa, em Jacareí, onde ela mora com seus dois sobrinhos, Vítor e Nathan, respectivamente de 3 e 8 anos de idade, lindos, filhos de sua falecida irmã Cristiane Pereira.

Eu e Liliane Pereira em sua casa em Jacareí-SP, Dezembro de 2015 - Foto do acervo de Susi Ribeiro

Passamos horas conversando, almoçamos com ela, brinquei muito com as crianças, muito alegres, muito queridas. Pude sentir novamente o coração simples, honesto, puro, das pessoas que vivem a vida com simplicidade e alegria.

Liliane é uma moça muito bonita, mas a maior beleza que sinto nela é, sem dúvida seu coração, sua luz! Uma pessoa muito querida, meiga, corajosa, de muita fé, que cuida dos sobrinhos como se fossem seus próprios filhos, que não se preocupou com mais nada ao abraçar a missão de se tornar, além de tia, também a mãe deles. Mesmo ainda muito jovem, Liliane Pereira traz a maturidade e a confiança na Providência Divina.

Eu e meu esposo Ivan com Liliane Pereira e seus sobrinhos, Vítor e Nathan em sua casa em Dezembro de 2015 - Foto do acervo da Susi Ribeiro

Sem dúvida, uma pessoa, que veio confirmar em minha mente e coração, a integridade e os valores de sua família. Liliane Pereira é, sem sombra de dúvidas, a descendente direta da Cangaceira Lídia, que traz geneticamente seus traços de beleza.

Esperamos, que algum dia, os historiadores e pesquisadores do tema Cangaço ainda encontrem alguma foto de Lídia, pois até o momento ninguém a tem.

Família Pereira, meus mais queridos amigos! Obrigada por tudo, por toda doçura, por todo o carinho, pela hospitalidade, pela atenção, pela alegria com que vocês nos receberam, desde o primeiro momento em que nos viram, no sertão de Paulo Afonso/Bahia!

Observação: - Amigo Mendes, segundo Francimary Oliveira mencionou no grupo Ofício das Espingardas dizendo o que segue:  “Eu sou nora do irmão do homem que matou sua tia avó Lídia”. 

Até Breve!
Obrigada pela oportunidade, amigo José Mendes Pereira!

Enviado para postagem neste blog por Susi Ribeiro nora dos cangaceiros Sila e Zé Sereno.

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