31 de jan. de 2016

CHEGOU O CARNAVAL - 31 DE JANEIRO DE 2016

Por Geraldo Maia do Nascimento

Fevereiro chegando e o povo começa a se programar para o carnaval, mesmo numa cidade onde não há carnaval. Praias, serras e outras cidades onde haverá “festa de Momo” estão na programação dos mossoroenses: uns em busca de carnaval; outros, fugindo do mesmo. 


Podemos dizer que o carnaval é uma das festas mais antigas da humanidade. Dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. As origens do carnaval têm sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade, tais como as Festas Egípcias que homenageavam a deusa Isis e ao Touro Apis. Os gregos festejavam com grandiosidade nas Festas Lupercais e Saturnais a celebração da volta da primavera, que simbolizava o Renascer da Natureza.
               
O carnaval, tal como conhecemos no Brasil, tem sua origem no entrudo português, onde, no passado as pessoas jogavam umas nas outras, água, ovos e farinha. O entrudo acontecia num período anterior à quaresma e, portanto, tinha um significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje no Carnaval.
               
O entrudo foi trazido para o Brasil por volta do século XVII, por influência dos portugueses das Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Era uma brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, colorau, etc. Em meios mais nobres, esses produtos eram substituídos por confetes e serpentinas. Esse formato primitivo do entrudo permanece até hoje em algumas regiões do Brasil, principalmente no Nordeste. Damos como exemplo a vizinha cidade de Aracati, no Ceará, onde essa prática ainda é usada. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a colombina, o pierrô e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem europeia.
               
E dessa forma foi sendo formado o carnaval brasileiro. Uma mistura do entrudo português, com os mascarados da Itália e França, apimentado com o ritmo alucinante dos tambores africanos e o requebrado de nossas mulatas. Vieram depois as marchinhas que deram um novo ritmo ao carnaval brasileiro, tornando-o mais animado e com características únicas.
               
No final do século XIX, começaram a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos \"corsos\". Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está aí a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. A folia continuou crescendo até tornar-se a maior festa popular brasileira.
               
Em nosso país é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. Na Bahia é comemorado também na quinta-feira da terceira semana da Quaresma, mudando de nome para Micareta. Esta festa deu origem a várias outras em estados do Nordeste, todas com características baiana, e com a presença indispensável dos Trios Elétricos. Com esse formato são realizadas no decorrer do ano; em Fortaleza realiza-se o Fortal; em Natal, o Carnatal; em João Pessoa, a Micaroa; em Campina Grande, a Micarande; em Maceió, o Carnaval Fest; em Caruaru, o Micarú; em Recife, o Recifolia, etc.
               
As primeiras notícias que temos da festa de momo em Mossoró é de 1913, quando “um pequeno grupo de cavalheiros e pouco maior número de crianças” saíram fantasiados pelas ruas da cidade no domingo de carnaval. Naquele mesmo dia houve uma festa no Cinema Almeida Castro, onde “a fina flor mossoroense” travou uma verdadeira batalha de confete, serpentina e lança-perfumes. Na segunda-feira outros bailes se realizaram. O jornal “O Mossoroense” registrava “uma soirée (festa) familiar na casa do diretor desta folha e, outro ainda no Polytheama (cinema que existia em Mossoró, naquela época) como remate à festa anual tão cheia de atrativos. ”
               
No ano seguinte, 1914, apareceu um grupo de senhoras, “virtuosas esposas e mães dos proprietários do Polytheama”, promovendo festivo assalto de confetes, em intervalos de danças, durante a soirré. A assim, ano após ano, foram surgindo os blocos carnavalescos, os clubes, os grupos folclóricos e até os tradicionais ursos compondo nossa festa de Momo.
               
Hoje já não há carnaval em Mossoró. Algumas iniciativas individuais tentam, sem sucesso, reergue o evento na cidade. Mas o certo mesmo é que nessa época a cidade se esvazia, com grande prejuízo para a economia local. 

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Autor:
Geraldo Maia do Nascimento

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EUCLIDES 150

Por José Gonçalves do Nascimento

No dia 20 de janeiro deste ano, o jornal o Estado de São Paulo publicou, em caderno especial, longa reportagem sobre os 150 anos de nascimento de Euclides da Cunha. Acreditamos ser esta apenas a primeira de uma série de outras tantas publicações que, em 2016, haverão de homenagear o escritor nascido em Cantagalo, antiga província do Rio, em 20 de janeiro de 1866.

E não é para menos. Engenheiro, militar, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, sociólogo, professor, filósofo, poeta, romancista, ensaísta e escritor, Euclides da Cunha é um dos mais legítimos representantes da inteligência brasileira. Intelectual de escol, foi ele responsável pela descoberta de um Brasil que até então era desconhecido: o Brasil do interior. Para ele, a construção da identidade nacional brasileira teria de buscar seus fundamentos na profundidade do Brasil interiorano, pois era lá que estava “o cerne da nacionalidade”.

Dedicado aos estudos das questões brasileiras, conforme pontifica um dos seus melhores biógrafos – Olímpio de Souza Andrade – Euclides valeu-se “da ciência para examinar sob vários aspectos a conformação do território brasileiro, seus ares, suas águas, sua flora, sua fauna, bem como a evolução do povo brasileiro, ressaltando conflitos entre estágios diversos de civilização. Mas principalmente valeu-se disso tudo, com engenho e arte, assim vendo o que os outros não viam, e dizendo-o numa linguagem clara e precisa, de rara beleza”.

Com efeito, é esta a tônica de toda produção literária de Euclides da Cunha, sendo que Os sertões é a obra que melhor encarna a preocupação do autor. Dividido em três partes – a Terra, o Homem e a Luta – o livro empreende ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre o exército brasileiro e os heroicos habitantes de Canudos. Tem o texto o mérito de mediar o difícil e doloroso diálogo entre o “Brasil real e o Brasil oficial” – para usar uma expressão de Machado de Assis – despertando a atenção das elites políticas, econômicas e culturais para os inumeráveis problemas que faziam (e fazem) desta uma nação dividida entre o progresso do litoral e o atraso do interior. Pela primeira vez, no Brasil, uma obra de literatura assumia a discussão sobre os reais problemas do país e lançava as bases para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Além d’Os sertões, há, na extensa obra de Euclides da Cunha, mais dois livros sobre a temática de Canudos: Caderneta de campo e Canudos: diário de uma expedição. O primeiro, publicado postumamente em 1975, traz uma série de anotações e croquis da época em que o escritor se achava no campo de batalha. O segundo, também publicado após a morte do autor, em 1939, reúne o conjunto de correspondências encaminhadas ao jornal O estado de São Paulo, informativo para o qual trabalhou o escritor na condição de enviado especial ao teatro da guerra. O acervo de informações reunido na Caderneta e no Diário seria de grande utilidade para autor, quando da feitura d’Os sertões.

Fora do chamado “ciclo d’Os sertões” (que compreende toda a literatura referente à guerra de Canudos), é Euclides da Cunha autor de outros três títulos igualmente notáveis: Perus versus Bolívia (1906), Contrastes e confrontos (1907) e À margem da história (1909), este último publicado depois da morte do escritor. As três obras reúnem artigos, ensaios e estudos produzidos por Euclides ao longo de sua atividade intelectual. Sua extensa produção literária inclui ainda correspondências, poesias, e um sem-número de crônicas e artigos publicados em jornais e revistas da época.

Como homem de ciência, sintonizado com o que havia de mais avançado no âmbito da intelectualidade, e imbuído dos ideais do positivismo – corrente filosófica que defendia o primado da razão como único meio de construção da civilização e, por conseguinte, da ordem e do progresso dos povos – além de intransigente defensor da causa brasileira, Euclides da Cunha foi firme e enérgico na defesa das suas convicções mais profundas. Acabou decepcionado com a República, após perceber que esta não conseguira atender à expectativa do povo brasileiro. E, uma vez decepcionado, tornou-se crítico ferrenho da forma de governo imposta pelo golpe militar de 1889.

Para Gilberto Freire “ele [Euclides da Cunha] foi a voz que clamou a favor do deserto brasileiro: Endireitai os caminhos do Brasil (O Brasil era o seu “sonho”) os caminhos entre as cidades e os sertões. Esta foi a grande mensagem de Euclides: que era preciso unir-se o sertão com o litoral para a salvação – e não apenas conveniência – do Brasil. Ninguém mais do que ele enalteceu tanto o sertão e o sertanejo. Em Euclides [prossegue o autor de Casa Grande e Senzala] a tendência foi quase sempre para engrandecer e glorificar as figuras, as paisagens, os homens, as mulheres, as instituições com que se identifica o vaqueiro, o sertanejo, o próprio jagunço. Até mesmo o negro dos sertões – sobrevivência do quilombola colonial – sai engrandecido de suas páginas”.

Salve Euclides! Salve o Brasil!

José Gonçalves do Nascimento
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30 de jan. de 2016

UM HOMEM DE FÉ E OS CÍCEROS DE CAPOEIRAS

Por Júnior Almeida

Como alguns amigos devem saber, eu estou preparando um novo livro, com o título provisório de OS CAUSOS DA MINHA TERRA, que vai falar das histórias da nossa gente. Algumas tristes, outras engraçadas e também algumas crônicas de minha autoria. Personagens marcantes para mim e para a cidade também terão seu espaço nesse novo trabalho. Já publiquei alguma coisa por aqui. O texto abaixo é sobre um cidadão, capoeirense da gema, que com sua simplicidade e bom humor, dá um exemplo de vida e de fé para todos. Vamos ao relato:

Corria 1961. Na região do Sítio Riacho do Mel em Capoeiras, moravam os jovens recém-casados Arlindo José e Ana Tavares. Ele então com 20 anos chamado por todos de “Golinha”, por ser filho do caçador com a alcunha “Zé Rolinha”, e ela com 19 anos com o carinhoso apelido de Nininha. Como tantos casais do campo, Golinha tirava o sustento na lida da roça, e sua esposa como boa dona de casa. Desde que casaram, os dois planejavam ter filhos, mas Nininha não conseguia engravidar. Ela com frequentes hemorragias, combinou com o marido, e resolveram procurar um médico. Foram à Garanhuns. Lá o profissional de saúde examinou a paciente, e disse não ter jeito a dar ao problema de Nininha. Estranho diagnóstico esse, e logo na primeira consulta. Mas se a saúde pública já não é lá essas coisas hoje em dia, imaginem nos anos sessenta e ainda mais no interior de uma cidade nordestina. O casal desanimou. Ao final da consulta, o doutor deu um conselho ao casal: disse que esses fizessem uma promessa com o “Padim Ciço” pra Nininha ficar boa, e se isso acontecesse, e ela conseguisse engravidar que colocassem o nome do filho de Cícero. Não dá pra saber se o médico era devoto do padre cearense ou se apenas zombou do casal de roceiros, mas o fato é que Arlindo seguiu o conselho e fez a promessa, indo além. Não só o primeiro filho iria homenagear o Patriarca do Juazeiro, mas todos que nascessem daquela união iriam ser batizados por Cícero ou Cícera. Pouco tempo depois Nininha sarou. Ficou completamente curada das hemorragias e pode assim realizar o sonho de ser mãe. Em 1962 nasceu o primeiro Cícero da família, José Cícero. O tempo foi passando e o casal seguindo com sua vida. Como manda a tradição matuta, um filho a cada ano, e em 1970 Golinha e Nininha já tinham sete, todos com o nome de Cícero. Ano ruim pra lavoura. A seca acabava com tudo. Muita gente abandonou tudo e foi tentar a sorte em outras paragens. Muitos trocavam suas poucas terras em passagens nos paus de arara pra São Paulo. Muitos donos de caminhão enriqueceram com essas viagens, às custas da miséria alheia. Golinha não sabia mais o que fazer pra dar o “de comer” para sua família. Eram nove bocas pra alimentar, e o roçado estava perdido. Decidiu então ir ao povoado Riacho do Mel, tentar algum emprego com Gedeão Rodrigues, homem de posses no lugar. Esse disse não poder atender Golinha, pois como ele mesmo sabia, as coisas estavam ruins para todos. Gedeão então sugeriu que esse fosse procurar seu irmão Joaquim de Neco, que com muitas terras e mais um fabrico de queijo, talvez lhe arrumasse um trabalho. Joaquim se compadeceu com a situação, mas também não podia fazer nada pelo amigo. O chamou à parte, e disse-lhe que estava naquele momento com oito empregados, mas infelizmente teria que demitir cinco. Golinha apenas baixou a cabeça. Sabia que o fazendeiro tinha razão. Antes de sair de sua casa, Joaquim chamou Golinha para o local em que estava acabando de sair do fogo um tacho com queijo de manteiga. Deu ordem para que os empregados que mexiam o queijo quente, deixassem toda raspa para que Arlindo pudesse levar. Depois de todo queijo derretido ter sido colocado nas formas, o cascão pregado no tacho e mais um pouco de queijo, ficou à disposição de Golinha. Com os empregados ele arrumou um saco de tecido, colocou o produto dentro e levou a comida pra casa. Eram cerca de cinco quilos de raspa de queijo. Um manjar dos deuses que alimentou sua família por uma semana. No caminho da fazenda de Joaquim de Neco até a sua casa, Golinha nem sentiu que o queijo ainda quente tinha queimado o seu ombro e a sua orelha direita. É que ele carregou o saco no ombro, encostado na cabeça. Sentiu arder, mas achava que era apenas o atrito do tecido do saco com a sua pele. Em casa foi que viu o tamanho da queimadura. Alguns dias se passaram, e não se sabe se os irmãos Gedeão e Joaquim conversaram sobre a situação difícil por qual passava a família de Golinha, mas o fato é que Gedeão mandou avisar que tinha um trabalho pra ele. O ganho era pouco. O trabalho alugado pagava por dia o que dava pra comprar um quilo de açúcar e dois quilos de fubá de milho. Estava bom? Não. Mas era o que tinha, e Arlindo não teve medo do serviço. Brocar, capinar, fazer cercas, coivaras e tudo mais que se faz no campo. Golinha trabalhava praticamente pela comida, mas não reclamava. O importante era dar comida aos seus. Foram oito meses e meio nessa lida. Certo dia ouviu da mulher do dono da bodega em que comprava, que se ele só podia comprar cem gramas de açúcar, não comprasse um quilo. Ele se sentiu humilhado, e ficou cabisbaixo no estabelecimento. O dono da bodega percebeu, e perguntou o que tinha acontecido. Golinha disse tudo o que tinha ouvido. O bodegueiro disse que ali mandava ele, e em um saco de pano colocou 15 quilos de açúcar, 25 de fubá, 1 de charque, 1 de sardinha e mais três barras de sabão, e disse ao amigo que esse só pagasse quando pudesse. Em 1972 nasceu mais dois filhos do casal. Os gêmeos Cícero Paulo e Cícera Aparecida. Mais um tempo e nasceu outro menino: Cícero Jorge. Um problema de nascença no menino fez com que o agricultor rezasse pedindo a Padre Cícero que curasse seu filho, que tinha os dois pés aleijados. Mais uma vez as preces de Golinha foram ouvidas, e o menino ficou curado. Em agradecimento ao Santo do Cariri, Golinha e Nininha foram ao Juazeiro do Norte, onde deixaram uma mecha do cabelo de Cícero Jorge, chamado por todos de “Dó”. Na lápide do túmulo do Padre Cícero, chamado pelos romeiros Santo Sepulcro, o casal deixou o cabelo do filho curado e rezou de joelhos em agradecimento por mais uma graça alcançada. Na data deste texto, Golinha e Nininha estão para comemorar bodas de ametista, são 55 anos de união abençoada por Deus, e porque não pelo Padre Cícero. Do casamento dos dois, onze Cíceros vieram ao mundo. São eles: José, Heron, Paulo, José Irmão e Jorge. As Cíceras são: Vera, Luzia, Raimunda, Fernanda, Madalena e Aparecida.

Fonte: facebook
Página: Junior Almeida

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LUIZ GONZAGA O REI DO BAIÃO

https://www.youtube.com/watch?v=apz1_UVztYE

Publicado em 22 de jan de 2013

Ô de casa... A Vila do Araripe, no sertão de Pernambuco, é a casa de Gonzagão. Foi onde ele nasceu, de onde partiu em busca da fama e para onde voltou, 16 anos depois, protagonizando o diálogo mais famoso da música nordestina ao abraçar o pai, Januário. Visitamos a Vila nas festividades que marcaram o centenário do Rei do Baião. Tem depoimentos de sanfoneiros e artistas gonzagueanos. Não perca.

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"A Vida Do" por Luiz Gonzaga ( • )

Veja biografia de Luiz Gonzaga clicando neste link:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Gonzaga

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POLÍCIA MILITAR PRESTA HOMENAGEM A SOLDADOS MORTOS POR CANGACEIROS EM 1929


A Polícia Militar da Bahia homenageou sete policiais mortos em combate no dia 22 de dezembro de 1929, pelo bando de Lampião, na cidade de Queimadas, a 103 quilômetros de Senhor do Bonfim

No local foram descerradas placas, uma delas na Delegacia com os nomes dos combatentes onde eles foram mortos, e outra no Pelotão como forma de homenagem especial ao Soldado Aristides, que antes de morrer havia desafiado o cangaceiro, mesmo cercado pelo bando.

• Aristides Gabriel de Souza
• Olímpio B de Oliveira
• José Antônio Nascimento
• Inácio Oliveira
• Antônio José da Silva
• Pedro Antônio da Silva
• Justino Nonato da Silva


Houve ainda um desfile Cívico marcando o momento histórico para a PM da Bahia.

Maravilha Notícias
Foto: Facebook
Se você não quer virar notícia não deixe que o fato aconteça, acesse:
www.esmeraldanoticias.com.br
Aqui a notícia em primeiro lugar e em tempo real.


Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio - http://cangaconabahia.blogspot.com

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TV MONÓLITOS: CONHEÇA O ÚLTIMO AMIGO VIVO DO CANGACEIRO LAMPIÃO EM QUIXADÁ

Raimundo Faustino do Nascimento foi amigo do cangaceiro Lampião. Ele mora em Quixadá e, em 2016, completará 110 anos de vida. (Foto: Gooldemberg Saraiva)

Quando ele nasceu o Brasil era muito diferente. Não havia energia elétrica em larga escala, nem carros e motos circulando pelas ruas; não havia celulares, nem computadores ou internet. O mundo ainda não havia experimentado a Primeira Guerra Mundial e a bomba atômica sequer havia sido imaginada. O Brasil era governado por Afonso Pena, eleito na quinta disputa presidencial após a queda do Império. No Ceará, Nogueira Accioli era o governador.

Raimundo Faustino do Nascimento, natural do município de Quixeramobim, mora atualmente na Fazenda Canadá, na localidade de Daniel de Queiroz, no município de Quixadá, Sertão Central do Ceará. Segundo seus documentos de identificação, o idoso nasceu no longínquo ano de 1906 e, em 2016, completará 110 anos. É provavelmente o cidadão mais velho de Quixadá.

O aposentado é um verdadeiro baú de memórias. Bastante lúcido, conta histórias do que viu ao longo de todo o século vinte. Diz que, quando rapaz, gostava de frequentar as rodas de cantoria, onde fazia questão de tentar conquistar o coração das moças mais bonitas. Casou sete vezes e teve trinta e dois filhos! Não sabe dizer quantos netos tem e nem onde cada um mora atualmente. Um mosaico de fotos no alpendre da casa mostra várias dezenas de pessoas. “Saíram todos d’eu”, diz Sr. Raimundo, com evidente orgulho. São filhos e filhas, genros, noras e netos, hoje espalhados por São Paulo, Minas Gerais e Ceará.
Memória Viva do Sertão

Segundo avaliação feita pelo próprio Sr. Raimundo, sua vida tem sido muito boa durante essas onze décadas. Realmente, ele tem lembranças preciosas de um estilo de vida no sertão que não guarda quase nenhuma semelhança com o modo do homem do campo viver atualmente.

Fazenda Canadá, na localidade de Daniel de Queiroz, onde Sr. Raimundo mora com sua sétima esposa. (Foto: Gooldemberg Saraiva)
Inverno e seca

“Vi muitos períodos de inverno pesado. Épocas boas, de fartura. Muita mata verde, muitos passarinhos e bicho que menino de hoje não conhece mais”, afirma, empolgado. “Mas tinha seca também. Já vi gente cortando mandacaru pra comer. Graças a Deus eu nunca me aperreei muito. Sempre tive leite e queijo pra comer”, relembra, referindo-se à seca no Ceará no ano de 1958, quando já tinha 52 anos de idade e estava com a sexta esposa.

II Guerra Mundial

Sr. Raimundo também relembra o período da Segunda Guerra Mundial. “A gente aqui ouvia falar. O pessoal dizia que era uma guerra medonha, mas graças a Deus era lá pelas bandas dos Estados Unidos. Mas as mulheres pediam era muito a Deus que não viesse pra cá”, ele conta, mantendo ainda a inocência de quem não sabe que mais de setenta milhões de pessoas morreram em decorrência daquele conflito mundial. 
  
“Os padres mandavam até em quem a gente votava”, diz Sr. Raimundo. (Foto: Gooldemberg Saraiva)

A autoridade dos Padres

“Padre era autoridade. O que os padres dissessem tava era dito. Votar a gente votava em quem o padre mandasse”, afirma. “Briga de família e tudo no mundo o povo resolvia na faca ou no Padre”, diz, sorrindo.

O automóvel

“Ave Maria! Quando eu vi um carro andar pela primeira vez deu vontade foi de dar uma carreira. A gente num entendia como aquele negócio andava sem ser puxado. Tinha quem pensasse até que fosse coisa do cão”, explica, sem saber precisar em que ano ocorreu seu primeiro contato com um automóvel. “Meu filho, o mundo era outro”, diz.

Dona Maria Augusta, sétima esposa do Sr. Raimundo. Conheceu-o quando tinha 22 anos e ele na casa dos sessenta. (Foto: Gooldemberg Saraiva)

Sete esposas e 32 filhos

Dona Maria Augusta é a atual esposa do Sr. Raimundo. Simpática, explica que o conheceu quando tinha apenas 22 anos. Na época, ele já estava na casa dos sessenta anos e tinha a experiência de seis casamentos.

Ao repórter Everardo Gomes, disse que nunca teve medo de ser traído, mas que hoje não teria a mesma disposição. Com alegria, ri de lembranças que prefere não contar sobre namoradas que já morreram. Sr. Raimundo não sabe como se definir, mas pelas histórias que nos contou, nota-se que ele foi, na juventude, uma versão dos anos 20 e 30 do século passado do que seria um cavalheiro 99% anjo e 1% do que você já sabe. Gargalhou quando fizemos essa comparação.

Dos sete casamentos nasceram 32 filhos cujos nomes ele nem sabe mais dizer. Os descendentes moram em várias partes do país. Deram ao pai dezenas de netos e bisnetos. Um mosaico de fotografias no alpendre da casa deixa escapar a “capacidade de produção” do homem que é, provavelmente, o mais velho da Terra dos Monólitos.

Carteira de Trabalha mostra data de nascimento do Sr. Raimundo, o ano de 1906.

Amigo de Lampião

Das histórias que tem para contar, uma de que gosta muito é aquela que tem a ver com o homem que foi o cangaceiro mais famoso do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, considerado o Rei do Cangaço no Nordeste.

Sr. Raimundo afirma que tinha amizade com Lampião. O cangaceiro avisava com antecedência quando queria ir almoçar e jantar – junto com todo o bando -, na casa da família dele. Em resultado das visitas frequentes do bando, um irmão de Sr. Raimundo tornou-se cangaceiro, acompanhando o homem mais temido do sertão.

“Ele não era ruim. Ele era justiceiro. O cabra que ele visse que fazia maldade ele resolvia. O bando matou muita gente e todo mundo tinha medo”, diz. “Mas o pessoal lá de casa tratava ele com amizade e nenhum mal nunca foi feito”, diz, aliviado.

O idoso explica que muitas das histórias contadas até hoje sobre Lampião não aconteceram realmente. “As histórias chegavam aos vilarejos antes do bando já pra deixar o povo assustado”, explica. Uma dessas histórias famosas é a de que Lampião teria jogado o bebê de um fazendeiro para cima e aparado na ponta da sua faca.

Relembra que Lampião tratava Maria Bonita – sua companheira – como uma rainha. O casal morreu – junto com a maior parte do bando -, em 1938, ao enfrentar os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. O Rei do Cangaço, Maria Bonita e os principais cangaceiros do bando tiveram suas cabeças decepadas.

Sr. Raimundo conta que a notícia foi chocante e deixou muitas pessoas tristes. “Tinha muita gente pobre que torcia por ele e que ficou de luto no sertão, mas a gente sabia que o Virgulino era fugitivo da Justiça”, diz Sr. Raimundo, com lucidez e sobriedade impressionantes.

“Não me arrependo de nada”

“Não me arrependo de nada”, diz Sr. Raimundo do alto de seus mais de cem anos. (Foto: Gooldemberg Saraiva)

“Fiz muita coisa na vida. Não tenho nenhum arrependimento”, afirma do topo de seus mais de cem anos. Diz, também, que não espera viver mais por muito tempo, mas que está satisfeito com a vida que teve. Reclama que não pode mais se alimentar das mesmas coisas de antes. “Minha diversão hoje é acordar cedo para ouvir o Herley Nunes falar. Homem da voz bonita aquele”, diz sobre o radialista do Sistema Monólitos de Comunicação, que apresenta um programa noticioso diário nas rádios Monólitos AM e Liderança FM.

“O segredo pra viver bem é não reclamar, trabalhar, respeitar a família e ajudar os outros. Foi isso o que fiz por esse tanto de anos que tive”, diz, pedindo que a esposa lhe traga um lenço para enxugar os olhos lacrimejados.

Assista parte da conversa com o Sr. Raimundo no vídeo abaixo, do repórter Everardo Gomes:

https://www.youtube.com/watch?v=-5hWleSkiqA

Reportagem TV Monólitos: Everardo Gomes


Contato: 88 9 9696 8070
Redação: Gooldemberg Saraiva
Contato: (88) 9 9972-5179 / bergsaraiva@gmail.com

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ANTONIO SILVINO NO "ESTADÃO" PARTE IV (FINAL)

Por Antonio Corrêa Sobrinho

A prisão do facínora Antônio Silvino – RECIFE, 29 – Antônio Silvino, cujo nome verdadeiro é Manuel Batista de Moraes, é filho de Francisco Silvino Batista de Moraes e cangaceiro há mais de 14 anos.
Pelos seus inúmeros crimes está pronunciado nos artigos 294 e 338 do Código Penal em Belo Jardim, Timbaúba, Caruaru, Distrito de Tapera, Brejo, Lagoa Baixa, Altinho e muitas outras localidades.
O famigerado facínora conta 39 anos de idade, tendo nascido em Alagoa do Monteiro, no estado da Paraíba do Norte.
Fez-se cangaceiro para tirar desforra do assassínio de seu pai.
Tomou o nome de guerra porque é conhecido, indo buscar o seu sobrenome à história de seu tio Silvino Ayres, conhecido e temido bandido da Paraíba.
Depois do assalto à usina de Santa Filonila, o célebre salteador promoveu-se, em 1911, a chefe de grupo, onde era influente José Francisco, de triste e execranda memória.
Esse grupo quase todo foi destruído na luta que teve de travar contra cem praças da força policial de Pernambuco e Paraíba.
Antônio Silvino deve a sua vida talvez ao fato de ter procurado retirar-se, o que fez logo depois de manter fogo durante alguns minutos. Silvino escolhera para suas almas danadas os célebres “Cocada” e “Rio Preto”. O primeiro desses bandidos finou-se na casa de detenção e o segundo acompanhou até a morte o seu primo Argemiro Pereira, cangaceiro, que conseguiu fugir da ilha de Fernando de Noronha, onde cumprira sentença.
Do seu bando fizeram parte os celerados “Bacurau”, “Pilão Deitado”, “Relâmpago” e “Cavalo do cão cassaco”.
Antônio Silvino é de estatura regular.
30.11.1914
PERNAMBUCO
Remoção de Antônio Silvino para Taquaritinga – Como foi feita a Prisão do Bandido – RECIFE, 1 – Partiu esta noite em trem especial para Caruaru, de onde seguirá para Taquaritinga, o chefe de polícia deste Estado, que vai acompanhado de um médico legista, força de infantaria e cavalaria e vários repórteres.
“O Diário” tem publicado correspondências telegráficas de Taquaritinga.
O seu correspondente naquela cidade conta que o alferes Teófanes Torres, tendo recebido denúncia de que Silvino andava nas proximidades, saiu de Taquaritinga na noite de 26 do corrente, percorrendo nove léguas.
Chegando a força à fazenda de Lagoa Lage, o alferes cercou a casa do proprietário, Joaquim Pedro, que se negava a indicar o paradeiro do bandido, quando informações colhidas no percurso afirmavam que Antônio Silvino ali estava.
O alferes penetrou na casa e efetuou a prisão da família.
Momentos depois, entrou um moço conduzindo uma bacia contendo talheres e pratos sujos. Interrogado a respeito, o moço declarou que tinha ido levar comida aos trabalhadores da fazenda. Diante dessa declaração, o alferes intimou Joaquim Pedro e o moço a que lhe mostrassem os trabalhadores. Em caminho, confessaram que a comida não tinha sido levada a trabalhadores da fazenda, mas sim, a Antônio Silvino, que ali se achava.
O alferes surpreendeu a quadrilha do célebre bandido, travando com ela renhida luta, que durou cerca de uma hora. Os bandidos, vendo-se obrigados a recuar, entrincheiraram-se, resistindo tenazmente até às 18 horas, só se rendendo depois de ter morrido o bandido Joaquim Moura.
Preso Silvino, verificou-se que o facínora estava ferido gravemente na região lombar e trajava uniforme de tenente-coronel.
Da quadrilha, quatro bandidos conseguiram fugir.
Antônio Silvino, apesar de ferido, conserva-se altivo e calmo, contando as peripécias de sua vida.
O povo recebeu a escolta que efetuou a prisão do famigerado Silvino com estrondosas festas.
À cadeia onde está preso o facínora tem ido contínuas romarias de curiosos.
Notícias sobre a prisão de Antônio Silvino – RECIFE, 1 – A expedição que foi hoje buscar Antônio Silvino chegou pela madrugada a Caruaru, de onde partiu às primeiras horas da manhã para Taquaritinga:
Adiantei-me à comitiva, encontrando ao pé da serra de Taquaritinga o alferes Teófanes Torres e o destacamento conduzindo Antônio Silvino.
O bandido vinha montado num burro e amparado por duas praças. Gemia, mas vinha calmo, resignado. Contou que, recebendo a primeira bala, caiu com uma síncope, sendo despojado do dinheiro que possuía pelos seus companheiros, que o abandonaram. Foi então preso.
“O Diário” abriu uma subscrição pública em favor do oficial e dos soldados que capturaram Antônio Silvino.
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Proezas do bandido Antônio Silvino – RECIFE, 1 – Entre outras muitas, contam-se as seguintes proezas do célebre facínora Antônio Silvino:
O trovador popular Leandro Gomes de Barros encontrou um dia Silvino fardado com o uniforme de capitão da polícia, trazendo um chapéu de couro.
- Que levas aí? perguntou-lhe Silvino.
Leandro, que levava um sortimento de folhetos, respondeu:
São livrinhos narrando histórias em versos.
- Há alguma a respeito de Antônio Silvino?
Leandro afirmou-lhe que sim, oferecendo-lhe um folheto e convidando-o a ler algumas estrofes. Leu-as o trovador mesmo. Silvino gostou dos versos e pôs-se a rir do que acabava de ouvir a seu respeito. Depois pediu vinte exemplares.
- Quanto custam?
Como Leandro lhe respondesse que não custavam coisa alguma, Silvino insistiu com ele para que cobrasse os folhetos pedidos e acabou por lhe pagar espontaneamente 20$000.
Doutra feita, uma noite Silvino foi a um rancho de certo sertanejo, e ali se hospedou. Deitou, dormiu e uma hora depois levantou-se, dizendo ao dono do rancho que queria ir-se embora.
Que há? perguntou-lhe o hospedeiro.
- Sinto cheiro de “fumaça”...
Perguntando quanto devia, e o dono do rancho não querendo cobrar a pousada, Silvino retirou-se.
O seu pressentimento não falhara. Às 5 horas a casa estava cercada de polícia.
- Faz já alguns anos, o célebre facínora veio a Recife, onde visitou a redação da “Província” para conhecer José Maria de Albuquerque de Melo.
Conversando com a pessoa que tanto desejava conhecer, Silvino disse que regressaria descontente se não tivesse visto o homem cuja fama de democrata chegava aos sertões.
Testemunhou esta cena Gonçalves Maia:
Uma ocasião Silvino fora ao lugar denominado Queimadas Fagundes, de propriedade de conhecido sexagenário, que era seu desafeto.
O bandoleiro friamente assassinou o pobre velho, colocando o seu corpo sobre a mesa de jantar com os pés voltados para o dorso.
Em seguida, ordenou a viúva e aos filhos da vítima que o servissem, e aos seus companheiros.
02.12.1914
A Prisão de ANTONIO SILVINO – Várias notícias – RECIFE, 4 – Um abalizado (...) define a característica criminal de Antônio Silvino, dizendo que este não tem estigmas aparentes de criminoso nato – nem prognatismo, nem dismetria facial, nem estrabismo, conforme a Escola Positiva, na parte que se refere ao processo de regressão atávica. Tem o aspecto comum do sertanejo.
Silvino odeia as tatuagens, dizendo que essas “calungas” são próprias de gente baixa. Quando algum tatuado pretendia entrar no seu grupo, recusava; desconfiando que fosse policial disfarçado.
A ausência de tatuagens e outros estigmas de degenerescência fazem acreditar que Silvino não é um criminoso nato, mas um resultado do meio, um produto da (...) bárbara e sertaneja, aliada às circunstâncias especiais da vida.
O bandido reduziu as entrevistas. Entretanto, respondeu a um ou outra pergunta.
Disse que está preso porque esta é a vontade de Deus. Acredita em Deus e na Virgem Maria. “Deus quis ver-me preso, para depois ver-me solto”.
- Como assim?
- “Não sei”, respondeu o facínora.
- Porque preferiu o gênero de vida que tem levado?
- “Não o preferi. Mataram o meu pai, e fiz justiça, vingando-o, peguei-me com Deus, e ganhei o mundo.”
Um soldado de polícia e o repórter do “Diário”, na viagem de Taquaritinga caíram do cavalo. O primeiro feriu-se na cabeça e o segundo no queixo.
O representante do “Diário” trouxe inúmeras notas sobre a prisão de Antônio Silvino. Este não permitiu que o fotografassem.
Designava os seus companheiros com um só nome – Mateus, Venâncio, etc. Interrogado a propósito do seu sobrenome, respondeu: “Gente ruim só tem um nome”.
Na viagem de Taquaritinga a Caruaru, Silvino perguntou ao chefe de polícia: “Onde é que me vão matar? ”
Antônio Silvino declarou que nasceu em Afogados, no estado de Pernambuco.
Quando o bandido foi preso, muitas mulheres choraram...
- Entrevistei hoje o sargento José Alvim, ontem promovido a alferes, o que fez parte da escolta que prendeu Antônio Silvino.
Disse-me ele:
“Como sabe, alistei-me na polícia com o fim, bem decidido, de inutilizar a ação de Silvino, de quem eu era vítima. O meu cuidado era quase somente o de ser incluído nas diligências policiais, que iam ao encalço do bandido. Algumas vezes, estive prestes a ver realizadas as minhas aspirações; mas sempre sucedia que, no último momento, as coisas se transtornavam.
- E quando foi a Taquaritinga?
- Ainda não perdera as esperanças. Lá me demorei um ano, até que chegasse o alferes Teófanes...
- Já seu conhecido?
- Pois não. Ele e eu tínhamos feito algumas diligências, e por isso tinha e tenho muita confiança nele.
- Como explica o fato de não ter sido ferido nenhum dos soldados que atacaram Silvino?
- Foi uma surpresa. Os bandidos começaram a atirar à doida, e depois fugiram, deixando munições pelo chão. O próprio Silvino confessa que gastou três cargas de rifles e 36 balas, atirando contra nós, principalmente contra o alferes Teófanes, único que estava fardado.
- De modo que era fama a tal pontaria do bandido...
- Não, pontaria ele tem; mas aquele dia não era dele. Quando as coisas estão escritas, sucedem mesmo.
- Que impressão teve no mais aceso da luta?
- Não é a primeira vez que faço diligência arriscada. Mas digo-lhe que senti o que nunca tinha sentido.
- Foi reconhecido por Silvino?
- Não. Somente lembrou-se de que me fizera quando eu me dei a conhecer. Então pediu-me perdão, e eu atendi.”
As entrevistas do alferes Teófanes confirmam, inteiramente, os telegramas que mandei, descrevendo o assalto, a luta e a prisão.
Como Silvino narra a sua prisão – RECIFE, 4 – O bandido Antônio
Silvino vai experimentando algumas melhoras.
Hoje, interrogado pelo comandante da Força Pública, Silvino narrou, da seguinte forma, o combate que, antes da sua prisão, manteve com a polícia:
“Depois da refeição, eu e o meu grupo estávamos descansando, sem que pressentíssemos coisa alguma.
De repente, ouvi um tiro, dado atrás de mim, que foi seguido de outros. Voltando-me rapidamente, indaguei se atiravam para mim, e os meus companheiros responderam afirmativamente.
Foi, então que tomei do meu rifle, e iniciei o combate. Corri a arma três vezes, disparando trinta tiros. Quando dava o último tiro, senti-me ferido. A vista turvou-se-me, e esmorcei. Não tive mais ânimo pra nada.
Caído de costas, apenas pude ver um companheiro meu aproximar-se, e dizer:
“Manuel, lembra-te do nome de Jesus”.
Fiquei como morto. Algum tempo depois, levantaram-me e fui arrastado até a casa onde o alferes Teófanes me encontrou. Antes, no campo onde caí ferido, quando dei acordo de mim, não encontrei, nos meus dedos, os anéis de ouro.
E é só o que sei dizer sobre o meu triste fim”.
05.12.1914
Antônio Silvino – RECIFE. A prisão de Antônio Silvino continua a preocupar a opinião pública.
O facínora, embora tivesse experimentado algumas melhoras, ainda não está fora de perigo.
Os jornais de hoje vêm cheios de episódios, anedotas, publicam até entrevistas concedidas por Silvino.
Numa delas, o repórter se lembrou de interrogar o bandido sobre a guerra europeia. Silvino declarou que é favorável à Alemanha. Acha que os soldados franceses e ingleses são fracos ao passo que o alemão é forte...
A prisão de Antônio Silvino – Festival em homenagem ao tenente Teófanes – Felicitações ao Sr. Dantas Barreto – RECIFE, 5 (A.) – Realizar-se-á sábado próximo, no teatro Santa Izabel, um grande festival em homenagem ao tenente Teófanes Ferraz, pelos relevantes serviços que este oficial tem prestado ao desempenho de sua missão.
O general Dantas Barreto, governador do Estado, tem recebido grande número de telegramas de felicitações pela prisão de Antonio Silvino, efetuada pelo tenente Teófanes Ferraz, em Queimados, entre os quais se encontram um do Dr. Alberto Maranhão, governador do estado do Rio Grande do Norte e outro do coronel Antonio Pessoa, em nome da população de Umbuzeiro.
A prisão de Antônio Silvino – PARAÍBA, 6 (A.) – O jornal daqui “União” abriu uma subscrição para gratificar a polícia de Pernambuco, que capturou o bandido Antônio Silvino
07.12.1914
PERNAMBUCO
A saúde de Antônio Silvino – RECIFE, 8 – Continua pouco animador o estado bandido Antônio Silvino.
Durante a noite, foi medicado constantemente pelos médicos da cadeia pública.
Hoje, de madrugada, Silvino teve fortes calafrios.
Às onze horas, era julgado grave o seu estado.
09.12.1914
Uma entrevista com Antônio Silvino, 10 – RECIFE – Um jornalista foi hoje à enfermaria da cadeia, onde entrevistou Antônio Silvino.
O bandido declarou que nunca esteve em Recife. Em Taquaritinga, também não entrou em Triunfo, como se diz. Ali foi apenas conhecido por ter passado perto da feira, seguido de dois companheiros.
- Qual foi o fogo mais pesado que você sustentou?
- Foram tantos, que nem sei a conta.
Na cidade de Bonito, no estado de Pernambuco, tendo ido comprar um par de esporas na loja, foi um dia atacado por alguns homens, que se haviam escondido debaixo do balcão. Quebraram-lhe a ombreira do rifle, ficando Silvino com a mão retalhada. Mesmo com arma sem coronha, sustentou o combate com os inimigos, que eram valentes.
Disse que andou com “Tempestade”, Manuel Antão, João Godé e outros facínoras.
Gostava de jogar no bicho. Certa ocasião, ganhou muito dinheiro no pavão. Com esse dinheiro, socorreu vários pobres.
Não podia ver os necessitados, sem lhes prestar auxílio. Uma vez, entrou num engenho, onde encontrou muitas pessoas implorando caridade. Como tinha três contos no bolso, dispendeu dois contos, repartindo entre todos, que ficaram satisfeitos.
Referiu-se depois à sua prisão em Taquaritinga. Declarou que, após o forte tiroteio que sustentara, não se queria entregar às praças. Mas, como ficara desarmado e ferido gravemente, não teve outro remédio. Isto tinha que acontecer. Era no ano de 1914, que, para ele, desde princípio, fora desfavorável.
No combate, não esmoreceu um só minuto. Atirou sempre, até receber o ferimento nas costas.
20.12.1914
PERNAMBUCO
O bandido Antônio Silvino – RECIFE (A) – Consta que, no dia 1º de janeiro próximo, começarão os interrogatórios do célebre bandido Antônio Silvino.
29.12.1914
O bandido Antônio Silvino – Um ato de loucura – RECIFE, 13 – O bandido Antônio Silvino que, como há dias telegrafei, tem dado demonstrações de estar sofrendo das faculdades mentais, praticou ontem mais um ato de loucura.
Na ocasião em que lhe foi servida a refeição, o bandido recusou-se a recebê-la e desceu da enfermaria a que estava recolhido, veloz como um raio. Dirigindo-se ao portão da prisão, pôs-se a dar-lhe formidáveis murros.
Como o administrador o repreendesse, ameaçando-o de castigo severo, Antônio Silvino pediu-lhe que não continuasse com a repreensão. Preferia mil vezes eu o mandasse fuzilar.
Quando voltou para a enfermaria, o famigerado bandido encontrou sobre uma mesa uma raspadeira e uma tesoura. Tomando-as, dirigiu-se para o companheiro e disse-lhe:
“Querem fuzilar-me. Vou morrer pelas minhas próprias mãos.”
Ato contínuo, produziu com aqueles instrumentos três ferimentos no próprio pescoço, ao lado esquerdo.
Dado alarme, Antônio Silvino a muito custo foi desarmado pelos guardas que o acudiram.
Examinado depois, o médico verificou que os ferimentos não tinham grande importância.
Depois de medicado convenientemente, o célebre bandido foi recolhido à prisão.
16.03.15 
O facínora Antônio Silvino – Censura do “Diário” à polícia – RECIFE, 17 – O “Diário”, na sua edição de hoje, censura a polícia desta cidade por não haver até agora interrogado o célebre bandido Antônio Silvino, que ultimamente tem dado demonstrações de estar sofrendo das faculdades mentais e tentou suicidar-se. Essa tentativa, segundo afirmam os jornais, foi simulada.
18.03.1915
O Julgamento de Antônio Silvino – RECIFE, 1 – O célebre facínora Antônio Silvino, que vai responder a júri em Caruaru, telegrafou com resposta para o Sr. Diocleciano Mártir, pedindo-lhe que venha com urgência a esta capital, a fim de tratar de sua defesa.
A seca – Assalto a Tauá – Mortos e feridos – FORTALEZA, 1 (A) – Em todo o interior tem caído pequenas chuvas.
Notícias aqui recolhidas de Crateús, Tauá e das zonas do norte e do este, dizem que reina entre a população grande desalento.
Quase todo o gado morreu e as povoações se preparam para emigrar para os Estados limítrofes.
Tauá foi ontem assaltada por um grupo de bandoleiros, chefiados por Vicente Silvino, irmão do célebre Antônio Silvino, atualmente preso na Cadeia do Recife.
A casa do Sr. Mariano Marques foi assaltada, morrendo o irmão do proprietário Ernesto Marques.
Foram também feridas diversas pessoas.
O grupo, depois do assalto retirou-se em direção a Crateús.
02.04.1915
Julgamento de Antônio Silvino – RECIFE, 6 – O bandido Antônio Silvino, que aqui se acha preso, seguirá no dia 8 do corrente para Caruaru, a fim de ser submetido a julgamento.
Antônio Silvino, que vai escoltado por 30 praças, requererá adiamento.
07.04.1915

Julgamento do facínora Antônio Silvino – RECIFE, 8 – O célebre criminoso Antônio Silvino, que deveria seguir para Caruaru a fim de ser submetido a júri, conseguiu que o seu julgamento fosse adiado para o mês de julho. Para isso o criminoso alegou que está sem advogado, visto como o sr. Deocleciano Mártir se acha enfermo e impossibilitado de o defender.
09.04.1915
O julgamento de Silvino – RECIFE, 9 (A.) – Retardado – O cangaceiro Antônio Silvino, que responderá a júri brevemente em Caruaru, escolheu o Dr. Adolfo Simões para fazer a sua defesa, visto o advogado Deoclecio Marques não ter aceito o seu convite.
Antônio Silvino, cujo embarque para Caruaru se dará na próxima segunda-feira, adiantou ao seu advogado a importância de 2:500$000.
Ainda o julgamento de Antônio Silvino – RECIFE, 10 – O bandido Antônio Silvino, que deveria entrar por estes dias em julgamento no Tribunal do Júri, requereu e obteve que o seu julgamento fosse adiado para o mês de outubro.
11.07.1915

Habeas corpus a favor de Antônio Silvino – RECIFE, 25 (A.) – O Tribunal Superior resolveu pedir informações suplementares aos juízes de direito das comarcas onde existem processos contra Antônio Silvino, que requereu ao mesmo Tribunal uma ordem de habeas corpus.
26.09.1915

O julgamento do habeas corpus requerido pelo bandido Antônio Silvino – RECIFE, 22 – O Tribunal de Justiça adiou o julgamento da ordem de habeas corpus impetrada pelo bandido Antônio Silvino.
Este compareceu ao tribunal em carro da Assistência, escoltado por uma força de cavalaria.
À porta do edifício estacionou um piquete de 25 praças.
Ainda o julgamento do habeas corpus a favor de Antônio Silvino – RECIFE, 22 – O julgamento da ordem de habeas corpus impetrado a favor de Antônio Silvino foi adiada a requerimento do Dr. Souza Filho, procurador do Estado, que alegou não conhecer os fundamentos da petição.
Nas imediações do edifício em que funciona o Tribunal estacionou grande massa popular, ansiosa por conhecer o famigerado criminoso.
Por ocasião do interrogatório, o presidente do Tribunal perguntou:
Como se chama?
- Manuel Batista da Silva.
Tem algum apelido?
- Algumas pessoas me conhecem por Antônio Silvino, mas há muitos Antônios Silvinos.
Que motivo atuou no seu espírito para requerer o habeas corpus?
- Meu advogado dirá.
Não estou interrogando o seu advogado; interrogo o senhor, que dentro da lei tem de me responder porque requereu o habeas corpus.
- Porque estou preso.
Acha que está preso ilegalmente?
- Numas coisas sim, noutras não.
Então acha que uns motivos da sua prisão são ilegais e outros não?
- Perfeitamente.
23.10.1915

PERNAMBUCO
Uma interessante entrevista concedida pelo famoso bandido Antônio Silvino – O correspondente do “Diário do Estado”, do Ceará, em Pernambuco, ouviu há poucos dias o célebre facínora Antônio Silvino.
Para aqui trasladamos a entrevista.
O fato de haver Manuel Batista de Morais, mais comumente conhecido por Antônio Silvino, por intermédio de seu advogado doutor Adolfo Simões, requerido em seu favor uma ordem de habeas corpus ao egrégio Tribunal de Justiça deste Estado, despertou em nosso espírito o desejo de ouvi-lo a respeito da esperança, que naturalmente nutria sobre a concessão do remédio invocado.
A curiosidade guiava os nossos passos, queríamos ouvir o bandido falar sobre o seu direito, porque duvidávamos muito de sua inteireza.
A opinião pública não se agitara, mostrando-se como que indiferente ao resultado da ordem impetrada.
Psicologicamente é digno da maior consideração esse fato, porque a multidão alheando-se por completo demonstra de modo evidente a mais plena confiança nos julgadores do habeas corpus.
Não se pode crer que a massa social seja indiferente à sorte de Antônio Silvino, o terror dos sertões pernambucanos, o catecismo dos crimes como a alguém já aprouve chamá-lo, de modo que o desinteresse votado à decisão da elevada corte de justiça não pode ser traduzido senão como prova de confiança nos venerandos desembargadores pernambucanos, pois que a reclusão do bandoleiro é exigida em nome da própria ordem social e da segurança pública.
Registramos, pois, com o máximo desvanecimento esse descaso pela sorte de Antônio Silvino porque verificamos com ele a realidade do império da lei e do direito.
Uma sociedade em que a Justiça não inspira confiança é uma sociedade em desorganização.
A magistratura é o máximo esteio da sociedade.
Silvino na ocasião em que chegamos à grade da célula em que está recluso, trajava calças de casimira cinzenta e camisa branca, calçando meias pretas e sapatos de tapete. Tinha o ar prazenteiro, não demonstrando em sua fisionomia nenhuma contrariedade.
É um tipo comum, de estatura regular e cheio do corpo, alvo, rosto arredondado, denunciando, porém, proto-saliência maxilar, cabelos pretos, bigodes compridos e bem cofiados, não impressionando mal a quem se aproxima.
É um representativo legítimo do homem rústico, com a educação peculiar do sertanejo nortista, franco e desenvolvido, entremeando a palestra de risadas.
Boçal e “dogmático”, procura convencer de sua inocência a quem o ouve.
Suas palavras são confirmadas e auxiliadas por gesticulação constante.
Perquirimo-lo acerca da probabilidade da concessão da ordem de habeas corpus e Silvino disse-nos sem subterfúgios – “não acalento nenhuma esperança em ser solto agora; não porque não tenha direito, mas porque nesta terra não há justiça. Todos os desembargadores afirmaram ao meu advogado que eu tinha direito ao habeas corpus, porém, que não podia ser solto, pois eu era um bandido. Bandidos tem na polícia”.
“Eu nunca fiz o que a polícia costumava praticar”.
“As forças que saíam em minha perseguição cometiam atrocidades sem igual, desonravam e saqueavam até, sem nenhuma punição por parte do governo ou porque não soubesse ou porque não quisesse”.
“O meu grupo – e cheguei a andar com cinquenta homens – era respeitador. De uma feita um dos meus homens tentou violentar uma mulher, mas dois outros descarregaram-lhe os rifles em cima e remataram com duas pauladas. O cabra ficou como morto, porém escapou, saiu arrastando-se e o exemplo ficou”.
“Quando um homem ia ‘trabalhar’ comigo eu dizia o meu proceder, de modo que depois daquele fato nenhum outro tive”.
- Quantos processos existem preparados contra você?
- “Um cento”, respondeu-nos num misto de ironia e cinismo.
- “Muitos, senão a maior parte dos processos feitos contra mim, foram por crimes praticados por outras pessoas, que tomavam o meu nome.
Pensei por muito tempo que houvesse outro Antônio Silvino que não eu. Às vezes estava num lugar e chegava ao meu conhecimento que Antônio Silvino tinha matado, esfolado, saqueado, praticado, enfim, o diabo.
Ora, não podia ter sido eu que já não estava e por isso entendia que havia outro Antônio Silvino.
Muita gente fez bandeira do meu nome”.
- Por que e desde quando pegou em armas?
- “Desde 1896, quando assassinaram meu pobre pai. Foi morto por causa de política e quando os bandidos o mataram as armas que ele conduzia eram: - um livro e uma carteira de homeopatia, porque ele gostava de curar gente.
Vivíamos do nosso trabalho, meu pai, eu e meus irmãos, e estávamos no serviço, quando recebemos a notícia dessa fatalidade. Corremos, porém não pudemos chegar junto do cadáver, porque os bandidos estavam à nossa espera, voltamos para mandar buscar o corpo.
Meu pai foi morto porque votou com um amigo. Dois homens do mesmo partido queriam ser chefe; meu pai tinha de ficar com um e por isso o outro mandou assassiná-lo.
Era governador do Estado o senhor Barbosa Lima, que não puniu os assassinos, parecendo ao contrário que os animou, porque começou para nós a perseguição, não escapando ninguém de minha família.
Não pudemos continuar a trabalhar em nossas lavouras; fomos para a companhia de um tio e os bandidos foram lá – incendiando o cercado, que ficou arrasado. Nessa ocasião trocamos uns tiros, porque já era tarde demais. Tinham antes destruído as propriedades de uma minha irmã viúva, que, coitada, ainda hoje vive destroçada por causa disto.
Jurei vingar-me e vingar a morte de meu pai, porque tinha toda razão, mas a Justiça não entendeu assim e começou a perseguir-me.
Nesta terra não há justiça.
Quem maiores perseguições fez foram os governadores Barbosa Lima, Segismundo Gonçalves e Herculano Bandeira.
Eu não sou bandido, como dizem. Bandidos são todos que assim me chamam.
Aqui, eu queria que muita gente que conheço viesse para contar-lhe na cara todas os crimes que cometeram em meu nome.
Há gente rica com esse expediente”.
Nesse ponto da conversa, interferiu o companheiro de prisão de Antônio Silvino, dizendo-se um inocente, uma vítima de perseguições, mas que era desmentido em suas palavras pela sua própria fisionomia.
Homem mal-encarado, retratando em si todos os traços do criminoso nato descrito pelo professor Lombroso, no “Homem delinquente”, o companheiro de Silvino, que na pia batismal recebeu o nome de Olegário de Gusmão, cumpre uma sentença de 9 anos e 4 meses, a que foi condenado pelo júri da comarca de Caruaru.
Olegário com muita propriedade pode ser chamado um tipo escovado e pernóstico.
Estuda a palavra que tem de proferir e escolhe termos.
É um “ilustrado”, tendo adquirido os seus conhecimentos no cárcere, durante os vinte e um meses que ali está.
Discorreu sobre a prova testemunhal do processo e asseverou ir intentar o recurso de revista, para reabilitar sua reputação enxovalhada pela acusação de um furto que não cometeu.
Sua preocupação máxima foi convencer-nos de sua inocência e como pretendesse desviar do nosso espírito qualquer dúvida traída, talvez, por um gesto, por uma expressão fisionômica nossa suplicou-nos: doutor, ouça aquele rapaz que está “residindo” ali defronte, que ele melhor dirá que não tenho culpa nenhuma.
Achamos graça no emprego da expressão “residindo” empregada pelo “inocente” Olegário e procuramos sair, no que fomos obstado por Silvino que ainda tinha para declarar:
- “Do meu habeas corpus vou recorrer para o Supremo Tribunal, no Rio, pode ser que os juízes de lá sejam melhores que os daqui”.
O Superior Tribunal satisfez as previsões de Antônio Silvino negando por unanimidade de votos o habeas corpus impetrado.
25.11.1915
Julgamento de Antônio Silvino – RECIFE, 10 – O célebre bandido Antônio Silvino seguirá hoje para Caruaru, a fim de responder a júri.
Sendo protestante, os evangelistas estiveram ontem na Detenção, onde fizeram prédica e cantaram um hino evangélico.
O sicário, durante esse tempo, ficou resignado e contrito.
11.04.16
O bandido Antonio Silvino – RECIFE, 27 – Entrará em julgamento no próximo mês de junho, na cidade de Olinda, o famigerado bandido Antonio Silvino.
Contra Silvino são movidos onze processos, cujas peças chegaram hoje de Caruaru, Limoeiro, Bom Jardim e Timbaúba, sendo remetidos para Olinda.
28.05.1916
PERNAMBUCO
Julgamento de Antonio Silvino – RECIFE, 31 (A) – O bandido Antonio Silvino entrará em julgamento no próximo dia 1º de setembro, no município de Olinda.
02.08.1916
Julgamento de Antonio Silvino – RECIFE, 2 (A) – O julgamento do bandido Antonio Silvino foi transferido para 5 de setembro próximo futuro.
Silvino nutre esperanças de ser absolvido.
03.08.1916
O bandido Antonio Silvino – RECIFE, 31 – O “Jornal Pequeno” diz hoje que o bandido Antonio Silvino, cujas faculdades mentais se acham bastante alteradas, está atualmente possuído da ideia de aprender a discutir a Bíblia Protestante.
01.09.1916
PERNAMBUCO
Julgamento de Antonio Silvino – RECIFE, 5 (A.) – O julgamento do bandido Antonio Silvino prolongou-se até a madrugada de hoje.
Os debates correram animados, sendo, finalmente, o réu condenado a trinta anos de prisão simples.
Julgamento de Antônio Silvino – O célebre bandido é condenado a trinta anos de prisão – RECIFE, 5 – Anto Silvino, que, por motivo dos seus sintomas de desequilíbrio mental, aguardava, há cerca de um ano, julgamento, na cadeia de Olinda, foi ontem levado perante o Tribunal do Júri daquela comarca, sendo condenado à pena de trinta anos de prisão.
A sustentação do libelo acusatório esteve ao cargo do promotor público dali, Dr. Pedro Cahu, sendo a defesa confiada ao advogado Dr. Adolfo Simões.
Os trabalhos do júri foram iniciados às 12 horas e terminaram às 24, permanecendo o salão, durante todo esse tempo, repleto de populares.
Ainda na presente sessão do júri, Antonio Silvino responderá a onze processos.
06.09.1916
O bandido Antonio Silvino – RECIFE, 12 (A.) – Será julgado amanhã em Olinda outro processo criminal a que responde o famigerado bandido Antonio Silvino.
13.09.1916
O julgamento de Antonio Silvino – RECIFE, 27 – O advogado do facínora Antonio Silvino pediu que fosse adiado para a sessão vindoura do Tribunal do Júri o julgamento do seu constituinte, sendo atendido.
28.09.1916
PERNAMBUCO
O bandido Antônio Silvino descompõe um jornalista – RECIFE, 23 – O bandido Antonio Silvino regressou hoje para a Detenção. Vendo, ali, um repórter do “Jornal Pequeno”, que queria aproximar-se dele, Silvino teve estas frases:
“Não quero conversa com repórteres, porque me chamam de bandido! Dou agora mais atenção a um cachorro latindo que a um repórter. São muito santos junto de mim; mas, nas folhas, me chamam de assassino. Parto o espinhaço de um sujeito desses quando sair da cadeia”.
Em seguida, queixou-se que foi maltratado na cadeia de Olinda. E acrescentou: “A alimentação, ali, é pouca, tendo às vezes sincopes de fome. A ‘boia’ daqui dá para vinte da de Olinda. O meu advogado pediu a minha condenação! Aquilo não é advogado nem aqui nem no inferno! ”
29.09.1916
Visita à Casa de Detenção – RECIFE, 30 (A.) – O chefe de polícia esteve em visita à Casa de Detenção, onde ouviu vários detentos, entre os quais Antonio Silvino, que se queixou àquela autoridade de haver entregue a um guarda a quantia de 70$000 para a retirada de objetos penhorados, tendo o guarda extraviado essa importância.
O chefe de polícia determinou a abertura de inquérito para apurar esse fato.
01.10.1916
Uma entrevista com Antônio Silvino – RIO, 30 (A.N.) – Ouvido por um vespertino, o senhor Washington Garcia referiu-se a uma visita que fizera, na casa de Detenção de Recife, ao antigo bandoleiro Antonio Silvino, que ali está cumprindo sentença.
Observando, no presídio, conduta irrepreensível, a par de revelação de sentimentos nobres e exemplares, são os serviços de Antonio Silvino aproveitados: é auxiliar de chaveiro da cadeia, prestando aos visitantes toda sorte de esclarecimentos e informações de que careçam.
Interpelado sobre sua vida, no cárcere, declarou que atualmente se entrega a prazeres espirituais, como o demonstrava a sua pequena biblioteca, constituída de livros de espiritismo. Ao ser interrogado sobre os desejos de liberdade, de que certamente estaria animado, disse que de tal não cogita e que, ao contrário, considerando dupla a sua prisão, isto é, a do espírito à matéria, e a desta ao ergástulo, anseia apenas pela liberdade do espírito. Diz que os seus 72 anos de idade não lhe permitirão, certamente, o cumprimento total da pena imposta, para cujo termo ainda lhe faltam 17 anos. Declarou que não o magoava a reclusão, mas não podia perdoar à Justiça, que lhe negara os recursos a que se julgava com direito.
Interrogado acerca dos atos do célebre cangaceiro “Lampião”, declarou que os seus intuitos de outrora eram bem diversos dos daquele que, “sem justificar o seu procedimento, o que seria impossível, comente atrocidades e desatinos que bem definem os seus sentimentos”.
Afirmou Silvino que se fez cangaceiro com o fim de exercer o direito, a seu ver, muito nobre, da vindita privada, pois seu pai fora morto e ele jurara vingança. Posteriormente, viu-se na contingência de organizar a sua defesa. Se, por vezes, foi forçado a atos reprováveis, assim o fizera ou em legítima defesa, quando atacado, ou para estabelecer uma norma de moral entre os seus “cabras” que, constituindo o seu séquito, deveriam observar conduta regular, sendo castigados sempre que se afastavam dos princípios pregados por Antônio Silvino. Negou que tivesse praticado a pilhagem, pois só exigia dos abastados e fazendeiros apenas o necessário para a manutenção dos seus “cabras”, em um verdadeiro regime de igualdade. Contou a morte trágica e impressionante de “Negrão”, individuo façanhudo e ladrão homicida, que, em suas ações, no sertão fazia constar ser autor das mesmas Antonio Silvino. Disse que, de uma feita, “Negrão”, tendo invadido um lar, cujo chefe estava ausente, fez exigências de toda ordem e recolheu-se aos aposentos particulares, onde se acomodou. Eis que, por acaso, surgiu Antonio Silvino que, informado à porta, da presença do referido indivíduo, no interior do lar, ali penetrou tendo descarregado o seu rifle em pleno peito do famigerado bandido.
Contou ainda alguns fatos da sua vida acidentada. Disse o seu amor pelos animais. E, para encerrar a visita, o dr. Washington Carlos percorreu com a vista as paredes da célula de Silvino, tendo observado ali várias gaiolas de pássaros e chicotes de crina de cavalo. É essa a matéria-prima de que lança mão Antônio Silvino para, em horas de labor, fazer interessantes abotoadura de punhos e cadeias de relógio, que vende aos visitantes a preço módico e mediante uma declaração autografada. Em suma: Antonio Silvino se afigura um regenerado, e procura fazer a prova de que a sua ação de delinquente foi menos dolosa do que culposa.

01.10.1927

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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