30 de mar. de 2016

UMA HISTÓRIA SEM FIM

 Por Edvaldo Feitosa
Casa do Barão da Água Branca

Uma história sem fim! "Casa do Barão de Água Branca Capitão-Mor, Joaquim Antônio de Siqueira Torres ". Alguém há de contar para as futuras gerações que aqui residiu o Barão, a Baronesa e seus filhos. Uma construção que teve início nos anos de 1860. Ao lado deste palacete, em 1919 existiu um sobrado estilo colonial. Marcas de paredes bem dimensionadas, espessas, consistentes, logo percebemos a sua homogeneidade a base de água, barro, cal e pedra, evidentemente não existem tijolos, este sobrado foi sede da Banda Filarmônica Santa Cecília e do Teatro Municipal Água-branquense. 


 Demolição do prédio ao lado da Casa do Barão de Água Branca



Certa vez, a sede foi incendiada o que causou constrangimento ao maestro José Hemiliano Vieira Sandes que teve instrumentos e uma boa parte de suas partituras queimadas. Hoje este local foi "demolido" para dar sustentabilidade as bases de uma arquitetura moderna com fins comerciais. "Nada do que foi será, de novo, e do jeito que já foi um dia"! A História existe para que possamos registrar e anunciar os fatos. O texto está evidente de que a demolição não é da casa do Barão.

Edvaldo Feitosa, pesquisador e escritor de Água Branca

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29 de mar. de 2016

LANÇAMENTO DO LIVRO CAPITÃES DO FIM DO MUNDO

Por André Carneiro de Albuquerque

Olá José:

Muito obrigado mais vez pela gentileza.



Aproveito a oportunidade para divulgar o lançamento do livro dia 08/04 as 19h30 conforme convite anexo, se puder ajudar na divulgação do trabalho. Percebi que o seu site é um doa poucos especializados no Brasil com a temática cangaço o que é de grande valia, pois somos muitos e ao mesmo tempo distantes fisicamente. 


https://www.youtube.com/watch?v=AQ_i5DfyMwg

https://www.youtube.com/watch?v=PQWPoMVffQ8

https://www.youtube.com/watch?v=0MjByRFwETU

Remeto também o vídeo de duas entrevistas recentes a respeito do livro divulgado em Pernambuco (um no bom dia Pernambuco e a outra na Rádio SEI do governo do Estado, que pode ser explorado como desejar. (Que também pode ser encontrado no youtube. 

Grande abraço! 

Enviado pelo escritor, professor e pesquisador do cangaço André Carneiro de Albuquerque

https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/153b7d3c6fbee931?projector=1

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28 de mar. de 2016

DUDA MAMBERTTI INTERPRETOU FILME BAILE PERFUMADO


Ator que interpretou o libanês Benjamin Abrahão Botto no filme BAILE PERFUMADO de Paulo Caldas e Lídio Ferreira.

Para quem está chegando agora ao nosso grupo e ainda não conhece a história, Benjamin Abrahão, antigo “Secretário” do Padre Cicero (Juazeiro do Norte/CE), foi o responsável pelas fotografias e filmagem do bando de Lampião que ocorreram entre os anos de 1936/1937.

Duda Mambertti realizou um trabalho excepcional de interpretação ao dar vida ao sagaz personagem que se “infiltrou” na história do cangaço e nos presenteou com as melhores imagens e filmagem que existem de Lampião e seu bando.
Parabéns Duda Mambertti!!!


Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: ‎O Cangaço
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=564516887045545&set=gm.1192558844090565&type=3&theater

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27 de mar. de 2016

SILVINO JACQUES, O ÚLTIMO DOS GRANDES BANDOLEIROS. TOMBA O TERROR DOS SERTÕES DE MATO GROSSO! ENCONTRADO O CADÁVER DE SILVINO JACQUES, ESTENDIDO NUMA REDE E COM O TÓRAX ATRAVESSADO POR TRÊS BALAS

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho
Imagem de Silvino Jacques, utilizada pelo Jornal para ilustrar a matéria

TROUXE ao grupo, poucos dias atrás, esta matéria de “O GLOBO”, a respeito do famoso bandoleiro sulista, que terrorizou as populações pantaneiras do Mato Grosso, nos anos inciais do século passado, JACQUES SILVINO, propositadamente sem nenhuma observação ou esclarecimento de minha parte, para sentir, pela indiferença ou não ao referido texto por parte dos amigos, o quanto ou nada sabemos deste facínora gaúcha, militar de carreira que se transformou num bandido de marca maior, que, segundo consta, construiu uma história de crimes tal qual a de Virgulino Ferreira (Lampião), Antônio Silvino, Lucas da Feira, Jesuíno Brilhante e outros famosos bandoleiros nordestinos.

O que faltou em SILVINO JACQUES que sobrou em Lampião?

Intérpretes, tradutores, biógrafos?

Ou um Nordeste pródigo de talentos, na arte de escrever e contar suas histórias, de dizer das angústias e sofrimentos do seu povo? Porque não é todo mundo que tem um José Lins do Rego, uma Raquel de Queiroz, um Graciliano Ramos, um Ariano Suassuana; pesquisadores profundos e persistentes como um Frederico Maciel, um Antonio Amaury Corrêa, um Frederico Pernambucano, um Juarez Conrado; da nova geração, um João de Souza Lima, um Sérgio Dantas, dentre outros notáveis, sem mencionar os grandes cantadores, como um Luiz Gonzaga, um Alceu Valença, além de um monte de artistas, poetas populares, repentistas, cordelistas, a exemplo de um Manuel d’ Almeida Filho, um João Firmino Cabral, um João Melchiades Ferreira, um Patativa do Assaré. 

Ou, quem sabe, um interesse dos sulistas, pelas vias de sua poderosa imprensa, de, veladamente, discriminar o povo nordestino, especialmente os das zonas sertanejas, estigmatizando-o como uma gente violenta, criminosa, portanto, um tipo menor, inferior?

Ou mesmo uma certa necessidade do nordestino de fazer a sua violência e de seus extremismos (cangaço, messianismo) como resposta às injustiças sociais secularmente sofridas, ou seja, a violência como inescapável de justiça do pobre e do oprimido?

É um caso pra estudo, não?

SILVINO JACQUES, O ÚLTIMO DOS GRANDES BANDOLEIROS.

TOMBA O TERROR DOS SERTÕES DE MATO GROSSO!

ENCONTRADO O CADÁVER DE SILVINO JACQUES, ESTENDIDO NUMA REDE E COM O TÓRAX ATRAVESSADO POR TRÊS BALAS

Uma metralhadora entre as armas do facínora – Tentam internar-se no Paraguai os remanescentes do bando terrível.

CUIABÁ 26 (M) – O pelotão de cavalaria da Força Pública do Estado, organizado para dar combate ao bandoleiro Silvino Jacques, travou combate no dia 19 do corrente com os bandidos, na região de Triunfo, entre os municípios de Murtinho e Bela Vista. Do combate, resultou saírem feridos vários elementos do bando, inclusive Silvino Jacques. Agora, procedendo a reconhecimento no local do combate, a polícia encontrou morto o próprio Silvino. O cadáver do conhecido facínora estava estendido em uma rede, coberto com um puitã. O delegado especial do Sul, encarregado da campanha contra o banditismo na fronteira, mandou reconhecer o cadáver e lavrar o competente auto, tendo constatado que Silvino recebeu três tiros mortais na região do tórax. A polícia apreendeu uma metralhadora piripipi, vários mosquetões e (...)

ATÉ BALAS DUNDUM USAVA SILVINO JACQUES

O FAMOSO BANDOLEIRO PREPARAVA SEUS ASSECLAS PARA VERDADEIRAS BATALHAS

Reação organizada pelo Exército – A tática do general José Pessoa vitoriosa com a morte da fera humana – O GLOBO ouve o ilustre militar – Prisão do pai e da esposa do “rei do cangaço” no Oeste

Filho de um açougueiro radicado em Aquidauana, Silvino Jacques conseguiu celebrizar-se por uma macabra campanha de crime, rapina e degradação, depois de lhe terem sido oferecidos os meios de se tornar útil à humanidade, de se mirar no espelho da bravura e dos grandes exemplos de que o Exército do Brasil é fértil, fazendo um curso na Escola de Sargentos, nesta capital. Seria tarefa das mais difíceis conseguir explicar, à luz da psicologia, a transformação sofrida pelo espírito desse homem, que teve um são princípio e se transformou em poucos anos no alvo de populações inermes, no salteador covarde que atacava à noite as fazendas sem defesa, no bandido que atassalhava a honra das famílias, como um vulgaríssimo ladrão de mulheres, na personalidade, enfim, do criminoso completo, que não via obstáculos à consecução dos seus macabros desígnios.

Durante mais de uma década, o sertão de Mato Grosso viveu em estado de permanente alarme, de receio continuado, dessa personagem sem entranhas, desse homem sem o menor sentimento de humanidade. Regiões inteiras, no raio de muitas léguas, viveram dias e noites de permanente pânico, à espera do ataque noturno do bandido.

Silvino Jacques está morto. Foi, finalmente, vencido no seu próprio reduto, depois de mais de dez anos de luta permanente, de fugas, pontilhando de sangue rubro os caminhos da sua passagem.

A CAMPANHA DA DERROTA

Silvino Jacques teve duas grandes campanhas, em toda a sua longa vida de bandoleiro: uma de vitórias e outra de derrotas. Agora, acaba de sucumbir à segunda, iniciada há apenas, alguns meses. Foi, porém, vencido pelo inimigo que sempre temeu e de que fugiu durante toda a vida: o Exército.

Acuado no pantanal, já reduzido o afetivo dos seus sequazes a dezesseis homens, não teve como resistir à patrulha que o perseguia e esperava na serra, como a retirada fechada pela enchente do rio Paraguai, a impedir-lhe a passagem para a fronteira e a liberdade em país estrangeiro.

O INÍCIO DA CAMPANHA

A campanha contra Silvino Jacques iniciou-se, virtualmente, com a nomeação do general José Pessoa para o comando da 9ª Região Militar. Conhecedor profundo da situação de pânico da população do Estado, com as populações permanentemente ameaçadas pelo flagelo, os lares atacados, as famílias inseguras, o comandante da região, estabeleceu um programa de ação. E o Exército sob o seu comando entraria, na paz, num serviço de guerra sem tréguas aos perturbadores da segurança pública.

QUEM FOI SILVINO JACQUES

O público ainda deve estar lembrando das primeiras notícias aparecidas na imprensa sobre Silvino Jacques. Àquela época, seguido de numeroso séquito de bandidos ele desafiava as autoridades de Mato Grosso, semeando o pânico em quase todo o Estado, principalmente na zona sul, onde tiveram início as suas tropelias. Fizeram-se, então, paralelos entre ele e Lampião, que continuava no Nordeste o seu reinado de terror. Silvino resultara pior e mais brutal nesse cotejo. Não havia a seu favor nem a simpática explicação dada aos cangaceiros do Nordeste – de Cabeleiro lino – de serem vítimas de uma injustiça obrigados, pela perseguição da politicagem, à vida errante e criminosa. Enquanto no Nordeste o cancioneiro popular revelando virtudes que descobriam nos “fora da lei”, os celebrava, Silvino que se fizera bandido simplesmente pela maldade de suas ambições sanguinárias ficava desconhecido e ignorado a esta simpática mestiça. Os cantadores não o celebraram nunca, apesar de ele mesmo, admirador de todos os versos caboclos em que “Lampião” era exaltado nas suas façanhas tremendas, ter procurado a lira sertaneja para celebrar as suas proezas. Era repelido de todos. O seu nome só infundia pavor. Fazendas, sítios e cidades, à proporção que aumentava a sua malta e maior se fazia o seu atrevimento, sofreram os saques covardes e desalmados do bando que dirigia e para o qual propriedade, honra e velhice nada valiam. Para “Lampião” havia a hipótese de que fazia a justiça dos fracos. A favor de Silvino Jacques nunca se levantou uma palavra de defesa. Ele era simplesmente bandido, matando, saqueando, destruindo. Atrás de seus passos ficavam os gritos de suas vítimas apelando para o Governo no sentido de que fosse perseguido o bandido. A campanha começa, depois de alguns meses de suas razias. Silvino Jacques já estava, então, suficientemente armado e audacioso, não rareando, assim, enfrentar as forças policiais. Estas pareciam impotentes contra ele. O Exército, porém, foi chamado para destroçar o grupo sinistro. Tropas federais caíram-lhe no encalço. Algum tempo depois Silvino Jacques se viu atirado nos pântanos de Mato Grosso. Dia a dia apertava-se o cerco. Já faltavam armas e munições, além de víveres, ao grupo de bandoleiros, reduzido, também, em número. Praticamente se de desfizera, restando-lhe, apenas, a fuga para o Paraguai. O Exército a esta altura retirou-se deixando às forças do estado o fim da campanha. O telegrama que acabamos de receber de Cuiabá nos diz da atividade da polícia mato-grossense. Na última luta travada com os bandidos Silvino Jacques foi ferido e morto. Desaparecera, assim, odiado por todos, o bandido. Ao contrário do que ele quis, não há versos que lembrem a brutalidade dos seus instintos selvagens, os seus grosseiros desejos de fera.

DESARMAMENTO GERAL

De início, o comandante da 9ª Região Militar estabeleceu um programa; era necessário desarmar completamente as populações civis, que, desde 1922, eram servidas de armas do próprio exército. Nas fazendas e residências particulares existiam armamentos para várias divisões de infantaria. E o pior é que esse mesmo armamento servia como garantia dos coiteiros do grande bandido, políticos que dele se utilizavam para as suas negregadas campanhas de morticínios.

A princípio, foram desarmadas as populações urbanas. Depois, uma proclamação feita em termos os mais veementes, assinada pelo general Pessoa, foi distribuída por todo o território do Estado. Houve, como era de se esperar, as primeiras relutâncias. A ordem, porém, partiu fulminante. “Se necessário fosse, seria empregada a força em apoio do direito”. E os oficiais, sob o comando do general, em pouco regressavam à sede da Região com os caminhões carregados de armas de todos os tipos; munição a mais variada, pois até balas dum-dum foram apreendidas nas casas dos coiteiros do bandoleiro. E centenas de metralhadoras, fuzis-metralhadoras, fuzis, pistolas, revolveres, tudo aos milhares, não sendo recambiado de Mato Grosso para esta capital, numa demonstração viva da seção vigilante do Exército no grande Estado.

DESMORALIZAÇÃO DO BANDIDO

Iniciava-se, assim, a campanha contra o bandido. Os seus amigos, todos influentes, iam sendo desmoralizados, porque a força, mantida durante anos inteiros à custa de um armamento eficiente, lhe desaparecia das mãos.

Silvino não encontrava mais, nas fazendas dos seus coiteiros, as armas e os homens de que carecia para as suas campanhas de destruição. Nos seus avanços contra os povoados, já não contava mais com o apoio eficiente que sempre lhe facilitava a organização das batalhas que travava com as populações indefesas. O seu quartel Federal em Bonito, no sul do Estado, ia-se esvaziando. Desmoralizava-se aos olhos do povo, que sempre o temeu.

PRESO ATÉ O PAI

Num dos últimos embates, as forças comandadas em pessoa pelo general que dirigia a campanha conseguiam uma das mais expressivas vitórias. Foram presos mais de trinta bandoleiros e, entre eles, o próprio pai do salteador. Nessa ocasião, foram presas as duas mulheres que acompanhava o bando: as esposas de Silvino e do seu ajudante de campo, um antigo oficial paraguaio, expulso do Exército daquele país, que se filiara ao bando. Com elas, mais três jovens, sequestradas pelos bandoleiros em ataques a localidades do sul. (...) Ficou reduzido a apenas dezessete acompanhantes, número irrisório a que se limitava o seu séquito de criminosos.

A DERROCADA

Ao mesmo tempo que os combates se travavam e o bandido perdia terreno, uma nova obra iniciava-se entre as populações até então descrestes e desesperançadas do sucesso das armas federais.

Estavam habituados os civis a assistir cenas dolorosas de barbaria, ante a impossibilidade em que se encontrava a polícia estadual de combater eficientemente o banditismo. Viam os civis, todos os anos, chegar o bando nos últimos meses e entrar a assaltar, trucidar, matar covardemente homens indefesos, roubar o gado, o dinheiro, os cavalos e as mulheres, para internar-se, depois, no Paraguai e na Bolívia, para gozar, o resto do ano, a impunidade em que sempre viviam, acobertados pela falta de policiamento eficiente, dos sertões do sul.

Agora, a situação transformava-se. O desafogo que a segurança permitia apoderava-se de todos. Os povoados já sentiam os movimentos livres para o trabalho útil e o reconhecimento à obra magnifica do general José Pessoa já se fazia sentir.

Em Bonito, por assim dizer o quartel general do bandoleiro, a população reconhecida junta-se ao contingente do Exército, no afã de auxiliar a tropa no seu trabalho civilizador. À noite, o policiamento da vila era feito pelos próprios moradores. No campo de aviação que o general ali resolvera estabelecer já trabalhavam os civis, que desejavam demonstrar o seu reconhecimento pela obra do comandante da Região. E ao inaugurar-se o campo, foi batizado com o seu nome.

BANDIDO ESTRATÉGICO...

Na figura terrível desse malfeitor que tombou varado pelas balas da lei, há traços singulares. Se uma comparação errada foi feita a seu respeito, esta será a de “Lampião” do Mato Grosso. Silvino Jacques era outra espécie de homem, outra espécie de bandido, outra espécie de aventureiro. Só havia um ponto de contato entre ele e aquele que o antecedeu ao túmulo: - a perversidade. Aí, o páreo realmente seria difícil. No mais pareciam-se tanto como a água e o azeite. 

Enquanto o bandoleiro das caatingas do Nordeste se protegia pelas defesas naturais da região em que vivia, onde o ataque se tornava quase impossível, Silvino Jacques se revelou, durante os anos trágicos em que escreveu sua página de sangue nos sertões de Mato Grosso, um estratégico. Pode-se lhe negar tudo, menos essa qualidade. Sargento do Exército, aprendera a arte das guerrilhas e de pouco em pouco, de aldeia em aldeia, pulando daqui para ali, sabia como se livrar do cerco.

LEGIÕES DE GADO

Seus ataques às fazendas e aos povoados não era obra improvisada em minutos. Estudava os detalhes, distribuía os seus homens, avaliava os riscos e as probabilidades de fracasso. Só então se lançava como uma onça sobre os infelizes habitantes. Nesses momentos, mudava completamente. Seus olhos, que em outras ocasiões eram olhos ternos como de um carneiro, segundo relatam aqueles que com ele conviveram, se transformavam em olhos ferozes.

Era um homem sedento de sangue, uma besta humana. Nem “Lampião” talvez o ultrapasse na explosão desses instintos horrorosos. 

Acabada a luta, terminadas as execuções, voltava a ser o sujeito prático, que matava por prazer e ambições. E atrás dele, na retirada, seguiam legiões de gado.

SENHOR DE TODA UMA CIDADE

O apogeu da fama, Silvino Jacques reconheceu na cidade do Peixe, em Mato Grosso. Invadindo essa localidade, o bandido dominou-a inteiramente durante dois meses, só abandonando pelo seu espírito de itinerante, para ir buscar novos gados. Tinha Silvino Jaques muito do famoso corsário Morgan, apenas sem a figura legendária do pirata inglês. Não conseguiu a popularidade de “Lampião”, e este devia ser seu maior tormento. Dizem que lia avidamente, desde a sua infância no Rio Grande do Sul, onde nasceu, até sua estada na Escola de Sargentos desta capital, todos os livros de modinha sobre o rei do cangaço nordestino, pondo em prática as suas barbaridades.

A estas horas, os dois devem estar comentando, no fogo eterno, as suas tétricas façanhas...

Esperava o general a aproximação dos primeiros dias de maio para conseguir a derrocada completa do bandido. As suas tropas já haviam conseguido, nos embates anteriores, levar o inimigo de vencida até o Pantanal, onde o sitiavam. Acompanhava a tropa um contingente da Polícia do Estado, já agora adestrada no combate ao bandido.

Esperava-se o fenômeno climatérico das enchentes do rio Paraguai, que forçariam a retirada do bandido. Restava a expectativa paciente e vigilante, para não permitir uma retirada hábil de Silvino Jacques.

Essa expectativa coroou-se de êxito no dia 19, dentro das previsões do general, que já se retirara para esta capital, mas que acompanhava, com o coração, o movimento do contingente policial, que lá ficara, substituindo o grupo de soldados do Exército, cujo desengajamento estaria próximo.

SATISFEITO PELO POVO

Hoje, o general José Pessoa recebeu, por intermédio do GLOBO, a informação que os telegramas de Mato Grosso nos transmitiram. Silvino estava morto. Fora colhido na armadilha que preparara cuidadosamente.

Sua Excelência com o olhar longe, pensando certamente no povo a que se habituou a querer bem, teve uma expressão admirável:

- Sinto-me satisfeito, não pela morte desse bandido, mas pela liberdade que afinal pode usufruir o povo de Mato Grosso. Desapareceu, a meu ver, o maior flagelo daquela terra.

JORNAL “O GLOBO” – 26.05.1939
Fonte: facebook

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26 de mar. de 2016

A VERSÃO DO EX CANGACEIRO VOLTA SECA SOBRE A MORTE DO CANGACEIRO SABIÁ.

Por Jornal “O GLOBO” em 08 de novembro de 1958.

O depoimento (abaixo) foi prestado ao Jornal “O GLOBO” em 08 de novembro de 1958.

CAÇA AO SABIÁ

Além de religioso, Lampião tinha-se na conta de homem decente. Gostava de mostrar isso quando se tratava de mulheres violentadas. Ele podia admitir as crueldades de José Baiano, mas nunca admitiu que um “cabra” violasse uma mulher e continuasse vivo. O amor era livre, mas o amor correspondido, nunca o amor forçado, amor de violência...

Vou, aliás, encerrar este capítulo contando um fato desses, que se deu com o bando em Lagoa do Rancho, no interior da Bahia. O bando estava acampado nesse local, quando, após alguns dias, estourou um escândalo: o dono da fazenda onde estávamos queixou-se a Lampião de que um de seus “cabras” havia estuprado sua filha. Lampião, seguido pelo bando, foi ver a filha do fazendeiro, e o quadro a que assistimos era triste: a mocinha (pouco mais de treze anos), horrorizada, chorava e estava num estado lamentável. O autor do ato bárbaro fora Sabiá, um rapaz forte, com seus dezoito anos, mais ou menos, e novo no bando.

Praticado o atentado, Sabiá, provavelmente caindo em si, fugira para o mato a uns quinhentos metros da fazenda, quando muito. Lampião, depois de ver o estado em que ficou a filha do fazendeiro, falou secamente: 

- Volta-Seca e Gavião... Vão buscar Sabiá!.

- Eu e Gavião saímos à procura de Sabiá, e fomos encontrá-lo entrincheirado atrás de uma pedra grande. Não quis fugir para longe, e estava apavorado. Quando nos aproximamos, ele gritou:

- Não avancem mais um passo que abro a cabeça dos dois a bala!

Olhei para Gavião e certifiquei-me de que faria mesmo o que prometera, mas felei-lhe: 

- Sabiá... O capitão quer lhe falar, e nos mandou buscar você. 

A resposta não tardou:

- Pois eu não vou e vocês não se aproximem. Se o capitão quer falar comigo, que venha ele mesmo me buscar.

- Achei muita ousadia, mas não tentei capturá-lo. Seria loucura, pois estando num ponto ideal para defender-se, matar-nos-ia facilmente. Olhei para Gavião e retornamos à fazenda. Lampião, quando nos viu sozinhos, perguntou intrigado: 

- Cadê ele? Fugiu?

– Não, senhor, respondi. Sabiá está entrincheirado ali embaixo, atrás de uma pedra. 

– Por que não trouxeram ele? Retornou Lampião. 

– Porque ele nos mata. Nós dissemos pra ele se entregar porque o capitão queria falar com ele. Mas ele disse que o senhor vá buscar ele, se quiser.

Foi a conta! A testa de Lampião franziu-se, os lábios se comprimiram e, trilhando os dentes, falou: 

- Cachorro, pois vou buscar esse cão... 

E mandou que eu e Gavião o guiássemos até o local onde Sabiá se encontrava.

Sabiá estava ainda no mesmo lugar, como se nos esperasse. Quando já estávamos a uma boa distância, distância esta aconselhada pela prudência, eu e Gavião paramos, mas Lampião continuou andando no mesmo passo, sem se abalar e sem dar a menor importância a nós dois. 

Sabiá, ao vê-lo cada vez mais próximo, berrou: 

- Pare, capitão, que eu atiro... Pare! Pare! 

Lampião só parou a uns cinco metros da pedra. Segurava o fuzil com as duas mãos, na posição de soldado que se prepara para uma carga de baioneta. 

Eu e Gavião, à distância, estávamos admirados com o que víamos e, por mim, digo que julguei ter chegado o fim de Lampião, pois Sabiá era um rapaz valente.

VOCÊ NÃO ATIRA EM NINGUÉM

- Não avance nem mais um passo, capitão, que eu atiro! Ninguém vai me pegar!, dizia Sabiá.

Lampião olhou-o por um momento e, de repente, falou: 

- Você não atira em ninguém, menino. 

E avançou. Avançou resoluto, com Sabiá fazendo pontaria para ele. A todo instante eu esperava o estampido assassino do fuzil de Sabiá, mas o tiro não saiu. Frente a frente com Sabiá, Lampião gritou: 

- Atira, cachorro! Atira! 

E Sabiá não atirou... Pelo contrário, arriou o fuzil. Foi seu fim, pois Lampião, rápido, deu a coronha de seu fuzil na cara do rapaz, que rolou pelo chão, ensanguentado.

Eu e Gavião aproximamo-nos depressa do local e Lampião mandou que o levássemos a fazenda. Desarmei Sabiá e, eu de um lado e Gavião do outro, levamo-lo de volta, enquanto Lampião ia à frente, a passos rápidos. Sabiá estava tonto, com a boca arrebentada e todos os dentes da frente quebrados. Sangrava muito e vinha amparado por mim e Gavião.

Na fazenda, todos se acercaram de nós. Eu sabia que a coisa ia ter um trágico, pois Lampião estava furioso. Foi feito um círculo de gente e, no meio dele, Sabiá, ladeado por mim e Gavião, com Lampião na frente, que olhava sem afastar por um segundo sequer os olhos de Sabiá. Olhava-o com ódio, sem dizer nada, e o silêncio era completo, pois ninguém ousava falar. Sabiá mal se aguentava em pé. Estava vencido. Vencido e convencido.

Lampião, então, pôs-se a falar:

- Vais morrer porque não prestas, cão. É por causa dessas coisas que falam mal da gente por aí. Mas eu te dou um exemplo, pra todos saberem que o bando de Lampião tem vergonha.

FUZILADO

E, apontando para dois empregados da fazenda, ordenou: 

- Vocês dois aí, cavem um buraco para enterrar esse Cabra. 

Os homens obedeceram e, de enxada em punho, puseram-se a abrir a cova. Sabiá não falava, e tenho até a impressão de que não compreendia o que se passava.

Depois de alguns minutos, a cova pronta, isto é, dada como pronta por Lampião, apesar de não ter mais de dois palmos de profundidade, mandou ele, que os dois homens parassem e, apanhando uma “Berbere”, apontou para a cara de Sabiá, que nem moveu a cabeça. Quem estava atrás de Sabiá correu para se abrigar. Lampião fez a pontaria e gritou: 

- Vai-te pros infernos, cão! E deu no gatilho! 

Sabiá caiu morto, mas Lampião continuou a atirar. Houve quem contasse quinze tiros... Aquela expressão: 

- Vai-te pros infernos!” 

Era muito comum a Lampião, quando matava alguém naquelas condições. Saciada sua fúria assassina, Lampião ordenou aos dois empregados que abriram a cova:

- Joga este peste aí! Cachorro se enterra de qualquer jeito!

Mas a coisa não acabara ainda. Lampião virou-se para mim e Gavião e disse: 

- Vocês dois são os culpados, pois eu mandei vocês vigiarem Sabiá. Eu sabia que esse rapaz era malucão.

Enquanto falava, segurava ameaçadoramente sua “Berbere”, e eu senti que ele pretendia matar-nos. Mas eu não morreria como Sabiá, pus logo a mão no parabélum e respondi: 

- Nós estávamos tomando conta dele, mas ele fugiu. Que é que podíamos fazer? 

O fazendeiro, pai da moça, talvez horrorizado com o que assistiu, veio em nossa defesa dizendo que, de fato, ninguém deu pela coisa, pois Sabiá agira premeditadamente...

Todo mundo foi enganado, seu capitão... disse o fazendeiro.

Parecia que já tinha passado o ódio de Lampião, pois ele deu as coisas e afastou-se. Eu respirei aliviado. Sabia muito bem o que significava a sua frase: “Tanto faz matar um como mil”. Ele não parece ter ficado zangado comigo, pois no dia seguinte já me dava ordens. Aliás, a morte de Sabiá foi dramática, mas não foi a única motivada por estupro. Outros “cabras” encontraram o mesmo fim, uns nas mãos de Lampião diretamente, e outros nem essa chance tiveram, pois Virgulino mandou que outros os exterminassem.

Fonte: Jornal O GLOBO
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)


 Fonte: facebook
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25 de mar. de 2016

CHIKUNCUNYA ME DERRUBOU


Amigos leitores deste blog, infelizmente o Chikuncunya me derribou. Estou colocando à disposição dos leitores este excelente trabalho do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros já que eu não estou com condições de fazer a postagem completa no blog, por falta de ânimo.

Agradeço a compreensão de todos os leitores.

Clique no link é um excelente trabalho.

http://tokdehistoria.com.br/2016/03/23/chapeu-estrelado-vem-ai/

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LANÇAMENTO DO SEU LIVRO "SILA, DO CANGAÇO AO ESTRELATO"

Os escritores Elane Marques e Archimedes Marques

A pesquisadora e escritora ELANE MARQUES tem o prazer de convidar todos vocês que fazem parte desse SELETO GRUPO para o lançamento do seu livro "SILA, DO CANGAÇO AO ESTRELATO" a ser realizado às 18:00 horas do dia 15 de abril de 2016, no Centro de Cultura Sociedade Semear, em Aracaju-SE.

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23 de mar. de 2016

NAZARÉ DO PICO MUNICÍPIO DE FLORESTA,TERRA DA MINHA FAMÍLIA,MEU AVÔ JOÃO DE SOUZA NOGUEIRA (JÕAO FLOR)UM DOS SEUS FUNDADORES .


A primeira questão de Lampião com o povo de Nazaré

No Campo da Ema, terra pertencente à antiga Fazenda Algodões – arrendada em 1819 pelo conselheiro Manoel de Souza Ferraz -, nasceu, em 1917, o povoado de Nazaré do Pico, há 46 km de Serra Talhada (PE). Marco divisório entre Floresta e Serra Talhada, no final do século XIX, o governo de Gonçalves Ferreira dividiu os municípios em várias subdelegacias que contrariam com cartórios de registro civil, local de votação, subdelegados e inspetores policiais. Na região do vale do Riacho São Domingos foi criada a subdelegacia do povoado de São Francisco, em Serra Talhada (PE), com outra, igualmente criada, na Fazenda Ema, no município de Floresta (PE). 

Coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, o Padre Pereira

A primeira tinha o comando do coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, o Padre Pereira, ex-prefeito assassinado de Serra Talhada e pai do famoso cangaceiro Luís Padre. A segunda ficava com o comando do major João Gregório Ferraz Nogueira que tinha em seu sobrinho, Severiano Ferraz Nogueira, o representante legal do cartório eleitoral e do registro civil. Com a chegada ao poder do padre Afonso Antero Pequeno, eleito prefeito municipal em 1907 como candidato de consenso, o mesmo conseguiu do governador Sigismundo Gonçalves a transferência do comando da subdelegacia de São Francisco e entregou o cargo ao major João Alves Nogueira, da Fazenda Serra Vermelha. Com esse ato, o ex-prefeito Antônio Andrelino Pereira da Silva (filho do Barão do Pajeú e cunhado do Padre Pereira) rompeu politicamente com o senador Rosa e Silva, homem que dominava a política pernambucana na época. Amigo do coronel Antônio Pereira, o major João Gregório também sofreu as consequências da política da época. Pacífico e calmo, o major também foi substituído do cargo de subdelegado, porém, conseguiu que o nomeado fosse um sobrinho, João de Souza Nogueira (João Flor), filho de seu irmão Manoel de Souza Ferraz, dono do sítio Catarina, na Ema. Já o comando do cartório do registro civil que estava nas mãos de Severiano Ferraz Nogueira passou para as mãos de Domingos Soriano de Souza, primo do major João Gregório. Representante do cartório civil e da seção eleitoral, Domingos Soriano viu sua Fazenda Carqueja virá um local de bastante frequência na época. Lá ele, Domingos Soriano, ministrava aulas para alguns alunos das regiões do São Domingos, Cipós e São Miguel, no município de Serra Talhada (PE), e Ema, Santa Paula e São Gonçalo, no município de Floresta (PE). Naquela escola as aulas eram dadas ao ar livre. Os alunos traziam de casa os banquinhos em que se sentavam para assistir às aulas à sombra de frondoso cajueiro, na fazenda Carqueja. “O esforçado mestre não se furtava aos pedidos de pais residentes em outras fazendas das ribeiras adjacentes, os quais receberiam a rara oportunidade de poder proporcionar instrução aos filhos. Gerações tiveram a benéfica influência do professor, que se preocupava em manter os pupilos afastados da onda do cangaço que corroía o Sertão”. (GOMINHO, Leonardo, 1996: Floresta, uma Terra, um Povo).

Conta Marilourdes Ferraz, neta de João Flor, no seu livro “O Canto do Acauã”, que o professor via sua residência ser invadida por rapazes e moças, alunos e companheiros de seus filhos, que permaneciam por várias horas em palestras e reuniões alegres, nos dias de repouso. Foi num desses encontros que um filho do professor, Manoel Soriano, contou o sonho que tivera na noite anterior: – “Vira surgir uma vila naquela área em que residiam”. A ideia empolgou os presentes, entre os quais Manoel Flor e seus irmãos Euclides Flor e Odilon Flor, filhos do subdelegado João Flor. O entusiasmo foi geral e o primeiro passo foi a criação de uma feira semanal, marcada para os domingos. “A data inaugural da mesma foi fixada para 12 de setembro de 1917. Os idealizadores da vila a ser formada percorreram as ribeiras do São Domingos e São Gonçalo e a fazenda Campo Alegre, anunciando o acontecimento” e pedindo a cooperação de todos. Os resultados não se fizeram esperar. Domingos Soriano logo doou trinta braças em quadra de terras de sua Fazenda Carqueja para patrimônio do povoado que surgia, sendo seguido pelo vizinho Antônio “Campo Alegre”, que doou área igual. Aí foram construídas residências pelos fazendeiros das redondezas. “Da sede do município, Floresta, veio preciosa ajuda ao fortalecimento do comércio local, por intermédio dos senhores João Gominho Filho, José Tiburtino Novaes e major João Novaes, que instalaram pequenas lojas de tecidos”.

O padre Antônio Zacarias de Paiva, de Serra Talhada, ao celebrar a primeira missa, sugeriu fosse dado o nome de Nazaré ao nascente povoado, pois o considerava abençoado pela paz e pela união de suas famílias. Elevada à vila, anos depois, teve sua igreja construída com a orientação dos padres Luís e José Kherle, irmãos. Para a construção, os comerciantes Luiz Gonzaga Lopes Ferraz, de Belmonte (PE), Ubaldo Nogueira de Carvalho, de Triunfo (PE), e o João Lopes Ferraz, da fazenda Ilha Grande e irmão de Domingos Soriano, ofereceram quantias consideráveis. O padre Zé Kherle foi quem comprou uma imagem de Nossa Senhora da Saúde, padroeira de Nazaré. Um filho de uma prima-cunhada do major João Gregório, Antônio Gomes Jurubeba, uma figura simples, mas destemida, respeitada e sempre lembrada, contribuía para a afirmação do povoado.

A vida na pequena povoação correu tranqüila até quando chegou na região a família de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Este, acompanhado dos irmãos Antônio e Levino Ferreira, começaram a se envolver com pequenos furtos, o que fez com que os três se indispusessem com a gente de Nazaré. O ano de 1919 constituiu o início de longa temporada de apreensões para o povo de Nazaré. Naquele ano, partindo de Serra Talhada, o ex-vereador Jacinto Alves de Carvalho (Sindário Carvalho, genro do coronel Antônio Alves do Exu) sitiava Nazaré a procura de inimigos (Francisco Nogueira e seus genros Raimundo Torres e Praxedes Pereira, irmão de Né Pereira e Sinhô Pereira) que passaram alguns dias no povoado, mas que já haviam partido em direção ao Riacho do Navio. Vendo o povoado invadido, Virgulino e Levino juntaram-se aos filhos e parentes de João Flor, prontificando-se a lutar ao lado dos nazarenos que, por pouco, não se envolveram na luta fratricida da época entre Pereira e Carvalho, de Serra Talhada (PE). Com a resistência dos moradores do povoado, Sindário foi embora prometendo um dia voltar. Dias depois, Lampião e seu irmão Antônio Ferreira emboscaram José Alves Nogueira, cunhado de seu inimigo Zé Saturnino, quando o mesmo voltava de uma feira em Nazaré. Ouvindo os tiros, os nazarenos correram em socorro de Zé Nogueira, acompanhados de Levino Ferreira, que desconhecia serem seus irmãos os agressores. Chegando no local, os nazarenos foram repelidos por tiros do adversários que foram reconhecidos com sendo os irmãos Ferreira. Padrinho de fogueira de Lampião quando o mesmo morava na Fazenda Poço do Negro, em Nazaré, o subdelegado João Flor ordenou a suspensão do fogo e repreendeu:

- “Que é isso, Virgulino? Então você atira em seu padrinho? Não me reconheceu quando cheguei?”. Lampião respondeu que era aquilo mesmo, adiantando que, naquelas ocasiões, “afilhado briga com padrinho e padrinho com afilhado”.

Fotografia de Antônio Gomes Jurubeba, nascido em 28/4/1874, na Fazenda Ema, Floresta (PE). Homem respeitado na região, foi quem expulsou os irmãos Ferreira das imediações de Nazaré do Pico quando era subdelegado, sendo por eles odiado e perseguido.

Furioso com a resposta, João Flor intimou os irmãos a não retornarem a Nazaré se não quisessem viver pacificamente. Levino Ferreira pulou para o lado dos irmãos dizendo que agora eram três para brigar. Estava iniciada a rixa dos irmãos Ferreira com os filhos do lugarejo. Passaram-se alguns dias e os irmãos Ferreira voltaram acintosamente a Nazaré, provocando a todos, e poucos dias depois começaram a formar um bando de cangaceiros. Tentaram entrar mais uma vez na povoação, mais foram repelidos a bala, ocasião em que Levino Ferreira foi baleado, preso e conduzido até Floresta (PE). Os Ferreira, que na época eram correligionários políticos da família Ferraz de Floresta, procuraram o coronel Antônio Boiadeiro, ex-prefeito da cidade e chefe político da família, e com ele firmaram um acordo. Levino seria solto, mas família Ferreira teria que ir embora do povoado. Levino foi solto e os Ferreira mudaram-se, no segundo semestre de 1919, para Alagoas. Lampião não ficou muito tempo em Alagoas. Voltou a incursionar pela região de Nazaré e passou a perseguir parentes de João Flor. Temendo uma tragédia, os primos Manoel Flor (filho de João Flor) e Luís Soriano (filho de Domingos Soriano) viajaram no dia 24 de julho de 1923 para Floresta e solicitaram ao coronel Antônio Boiadeiro, que havia feito o acordo com os Ferreira, um reforço policial para o povoado. Receberam um conselho:

- “Voltem e nada relatem a qualquer pessoa, porque não temos soldados para enviar! E se os cangaceiros souberem que vieram aqui com esse propósito, a situação vai piorar”.

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CARIRI CANGAÇO E A MORTE DE ISAIAS, POR JOSE CÍCERO


CARIRI CANGAÇO E A MORTE DE ISAÍAS, POR JOSÉ CÍCERO

Enviado em 3 de janeiro de 2012

Um dos episódios marcantes da época de ouro do coronelismo do Cariri foi entre os idos de 1900 a 1930, neste vídeo teremos a descrição da emboscada e morte do grande coronel Isaías Arruda, de Aurora, prefeito de Missão Velha, que tombou morto à bala pelos irmãos Paulino. Quem nos conta é o pesquisador José Cícero da Silva em entrevista ao cineasta e pesquisador do cangaço Aderbal Nogueira.

Manoel Severo

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22 de mar. de 2016

O BRASIL DE LUTO, MORRE CHRISTIANO CÂMARA

Por Manoel Severo
Christiano Câmara e sua amada Douvina

Esta manhã de 22 de Março de 2016 o Brasil amanheceu mais triste. Partiu para sua mais espetacular viagem, nos tempos dos Céus, o inigualável memorialista Christiano Câmara. Vítima de complicações cardíacas e pulmonares faleceu na madrugada de hoje aqui em Fortaleza. O que poderemos dizer? 

Muito e muito mais, mas não será necessário... Os que conheceram e compartilharam da grandeza desse Brasileiro com "B" maiúsculo, sem dúvidas guardam e elevam do coração uma prece de luto e gratidão a Deus por nos ter permitido tê-lo ao nosso lado. Vai com Deus, grande Christiano!!! Ficaremos aqui procurando a passos trôpegos, seguir teu exemplo de paixão, dedicação e força...

Manoel Severo

O Brasil perde Christiano Câmara

Christiano Câmara por "tribunadoceará" em 03/11/2014...

Quem passa pela rua Baturité, ou rua da Escadinha, como é popularmente chamada, ouve de longe a música dos anos 20. O som vem de uma vitrola e convida a entrar na casa. O casal Christiano e Douvina Câmara aguarda ansioso para receber os visitantes. Apaixonado pela música e cinema, o pesquisador de 79 anos transformou a casa em que nasceu em um museu de cultura.

“Se você vai a uma festa hoje em dia, você sabe de onde vem o som, mas se você escuta uma música nessa vitrola, você não sabe de onde vem. O som ocupa toda a casa, onde você estiver vai sentir a música”, justifica o dono da casa, exibindo com orgulho a decoração do seu lar.

Em 1952, quando tinha dezessete anos de idade, começou a colecionar discos de cera e de vinil, além de filmes da década de 30. Atualmente possui um acervo com 20 mil discos, 4 mil fitas VHS que pouco a pouco estão sendo convertidas para DVD e 800 quadros com fotos de artistas que marcaram época. “Eu gosto porque as pessoas ficam curiosas em ver como eram os artistas, os autores, a moda”, defende.


As 50 estantes que adornam a residência são cuidadosamente espanadas e organizadas por sua esposa, Douvina Câmara, que não se importuna com a quantidade de artigos. “Eu vi que aquilo era importante pra ele, então resolvi ajudar. Não me incomodo não, pelo contrário, eu acho é bonito”, comenta.

A casa de 90 anos, localizada no Centro de Fortaleza, é mais uma raridade que Christiano Câmara preserva. Seus irmãos tentaram derrubar a casa para dar lugar a um estacionamento, mas o pesquisador fez o que pode para impedir. Com o apoio do político Cid Saboia de Carvalho, o caso correu na Justiça e a posse da residência foi dada ao casal. Aos poucos, a casa recebeu livros, enciclopédias de amigos que o ajudaram a compor o acervo. Entre eles, um jornal Desmoiselles, de 1901, e oito pares de cadeiras que pertenceram ao Cine São José no ano de 1917.


Conhecedor e referência sobre música, Christiano escreveu centenas de artigos para a imprensa cearense e durante alguns anos apresentou um programa de rádio chamado “Para você recordar”. A paixão deu nome ao cômodo da casa que mais gosta: Sala Francisco Alves, onde reúne discos, com obras raras de 1910. Em meio a tantas antiguidades, um objeto contrasta o ambiente. “Me deram um computador e eu achei uma máquina fabulosa de gravar CD e DVD. Aí me disseram: ‘você não ligou na internet não? Liga, tem tudo lá.’ Tem tudo coisa nenhuma! A internet dá, inclusive, informação errada”, brinca.

Casados há 58 anos, Douvina e Christiano têm três filhas e cinco netos. A paixão aconteceu quando Douvina saiu de Jaguaribe e veio morar em Fortaleza com os pais. “Ela veio morar aqui em frente, foi sedução a domicílio”, Christiano sorri com um olhar apaixonado contemplando a esposa. Aos 77 anos, Douvina se diverte com as brincadeiras do marido e exibe com orgulho publicações em livros nas quais Christiano menciona a esposa.

"Convido a todos os amigos para rever esta postagem ainda do ano de 2012, quando tivemos a honra de receber o Gigante Christiano Câmara em uma de nossas Noites GECC-CARIRI CANGAÇO na Saraiva Mega Store em Fortaleza..."


Mais uma vez a noite Cariri Cangaço-GECC foi coroado de sucesso. A Conferência "A História na Música" com o grande musicólogo, memorialista, colecionador, Christiano Câmara foi sensacional. Todos os que tiveram a oportunidade de participar foram brindados; além do entusiasmo e carisma natural do palestrante, que é um ser humano incomum; com o que de melhor poderíamos esperar sobre a fantástica viagem da história através da música.
  
Leo Kawisner, Adail Colares e o grande público da noite na Saraiva
Presidente do GECC, Ângelo Osmiro e Wilton Dedê 
Edilson e Aldo Anísio

O Encontro foi aberto pelo Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, que deu as boas vindas a todos os presentes e reforçou a parceria de sucesso entre o Cariri Cangaço-GECC e o grupo Saraiva para logo em seguida dizer da grande satisfação de receber o palestrante da noite, Christiano Câmara. Em seguida o Presidente do GECC, escritor Ângelo Osmiro deu os informes do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará. 

O documentarista Aderbal Nogueira foi o responsável pela apresentação de Christiano Câmara um "homem que dispensa apresentações" , que assumiu o comando da noite com  maestria e talento para o deleite de todos. Por mais de duas horas Christiano proporcionou ao público da noite uma palestra cheia de charme, humor e conhecimento, vestindo de luxo mais um encontro do Cariri Cangaço-GECC.

Aderbal Nogueira, Tomaz Cisne e Manoel Severo
 
Lívio Ferraz e Sarinha Saraiva 
Maristela Mafuz e dona Douvina

Estiveram presentes 57 convidados, entre sócios e amigos do Cariri Cangaço-GECC, além da equipe da FGF Tv, que gravou todo o encontro e que será disponibilizado dentro da programação da emissora, como também estará disponível a todos os leitores deste blog. Dentre as presenças; além de dona Douvina Câmara, esposa do conferencista da noite, sua filha e neta; da diretoria do GECC: Ângelo Osmiro, Manoel Severo, Aderbal Nogueira e Tomaz Cisne, além dos sócios: Wilton Dedê, Afrânio Gomes, Adail Colares, Maristela Mafuz, Coronel Gutemberg Liberato, Lapa Carabajal, Edilson Junior, Leo Kawisner, Aldo Anísio, Ricardo Albuquerque, Lívio Ferraz, Alexandre Cardoso, Ivan Guimarães, Pitonho, Ricardo Simões, Odilon Camargo, dentre outros.

Arlindo, grande fotografo e produtor de cinema
Leo Kawisner, Ricardo Albuquerque e Manoel Severo
Aderbal Nogueira e Cel Gutemberg Liberato
Odilon Camargo e Manoel Severo
 
Lapa Carabajal e Christiano Câmara

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