29 de abr. de 2019

A MAGIA DO BAIÃO

Por Aderbal Nogueira

Paulo Vanderley fala um pouco sobre dois ícones da música brasileira:  Gonzagão e Dominguinhos.


Publicado a 29/04/2019

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28 de abr. de 2019

AINDA SOBRE O CORONÉ PAFÔNCIO CABROEIRA

*Rangel Alves da Costa

Até fizeram inimizade comigo pelo que escrevi sobre o Coroné Pafôncio Cabroeira. Uns disseram que eu teria de ter dito mais, de destripar o cabra de vez e contar tudo daquela malvadeza em pessoa. Outros até juraram me tocaiar, me emboscar, fazer o mesmo que o coroné tanto mandava fazer. Mas não retiro nem ponto nem vírgula do que escrevi. E taí a prova.
Digo e repito tudo novamente. Na certeza de haver gente ruim no mundo, também a certeza de que nunca houve uma pessoa tão ruim igual ao tal do Coroné Pafôncio Cabroeira. A ruindade em pessoa, como se dizia na região de seu feudo e mando.
Um fi da gota serena, dizia um. Uma imundiça das braba, asseverava outro. E mais adjetivos tão mirabolantes emoldurando um quadro verdadeiramente dantesco: um homem nascido para ser a arrogância em pessoa, a brutalidade em forma de gente, tudo o que não presta num só ser humano. Humano? Ora, muita gente assegurava que não.
A Velha Tinhó muita sabia da vida do renegado, como dizia. Segundo a centenária rezadeira, desde que veio ao mundo aquele homem logo se mostrou a nojeira humana que mais tarde seria. A primeira coisa que fez foi dar uma mordida tão grande no peito da mãe que arrancou-lhe o tampo. Como, se criança de pouco tempo nascida? Explica-se.
Como verdadeira aberração, o menino já nasceu com dentes. E afiados. Porém, o mais estranho ainda era que no lugar da língua tinha uma coisa fina e dividida, bifurcada igualmente a língua de cobra, que se estendia horripilante além da boca. Não chorava. O que fazia era sibilar igual serpente.
Uma aberração do outro aquele que mais tarde se tornaria no Coroné Pafôncio Cabroeira. Dizia ainda a Velha Tinhó que o meninote nunca brincava igual a outras crianças de sua idade. Comprazia-se mesmo em arrancar cabeça de calango, em furar olho de preá, em amarrar o rabo do gato ao rabo do cachorro. E depois açoitar.
Certa feita que arranjou uma desavença com um de sua idade e que fez foi morder o calcanhar do menino. Dois dias depois este morreu todo arroxeado, envenenado. Chegou ao ponto de ninguém da região sequer passar perto de sua casa. Todos temiam suas atrocidades. Acertou uma pedrada com baleadeira no jumento montado pelo padre Minervino, que o bicho caiu já despedido de tudo. E por cima do sacristão.


Ao invés de socorrer o sacristão, o endiabrado Pafôncio colocou cansanção dentro de sua batina. O pobre do homem tanto se remexia como gritava por socorro, até que encontrou força para empurrar o jumento e saiu correndo desesperado. Até hoje ninguém sabe o seu paradeiro. Enquanto isso, o terrível menino sibilava com sua língua de cobra ruim. E planejando mais maldade, mais aporrinhação na vida de cada um que pudesse alcançar.
Filho único, seus pais desapareceram misteriosamente. Segundo dizem, ao invés de entristecido pelo ocorrido, o que se viu foi um Pafôncio já rapazote até sorrindo. E foi por isso que Totonho Chibanga logo sentenciou: Aquela cobra ruim deu conta dos pais. Eles num sumiro não, sumiro cum eles. E só pode ter sido o coisa ruim.
Depois disso se mostrou até outro homem. Mostrava-se trabalhador, sempre progredindo na terra e aumentando seu chão. Mas uma coisa continuava atiçando a curiosidade de todo mundo. É que Pafôncio nunca falava, sequer abria a boca. Ninguém sabia, mas ele próprio havia cortado a língua viperina, de cobra peçonhenta.
Queria ser outro homem, imaginando até que no lugar daquela aberração surgiria uma língua igual a de todo mundo. Mas nada disso aconteceu e ele simplesmente resolveu não mais abrir a boca. Daí então, aquele que já carregava em si a maldade do mundo, sentiu-se cada vez mais reprimido, dolorido por dentro. E tudo isso descarregou no lombo dos outros.
Já era grande latifundiário, senhor de meio mundo de terras, quando começou a exasperar todo o aprisionado dentro de si. Em suas mãos, trabalhando em suas terras, o ser humano era bicho. Como não abria a boca pra gritar, ou dava chibatada ou ferroada no lombo. Pobre do trabalhador tendo de suportar tudo isso.
Mas suportava para não morrer de fome naquele mundo sem nada. Suportava para não ser pior, pois sabia que corria até risco de morte se retrucasse, sem ao menos pensasse em dar o troco. O patrão era grande, era forte, era poderoso, era coronel.
O troco, contudo, foi dado um dia. Tonico Pilica amolou a faca e só esperou que o seu algoz chegasse de chibata à mão e a lançasse sobre seu lombo. E Pilica chamou a presa à lâmina afiada. Fez um trabalho mal feito e ficou esperando. O homem chegou já soltando fogo pelas ventas. Assim que levantou a chibata recebeu uma pontada. Depois mais outra e mais outra. Ali mesmo se findou.
Nenhum urubu apareceu para comer da carniça. Nenhum carnicento quis provar daquele resto imundo até na morte. Depois disso e até agora o lugar se tornou mal-assombrado. Depois do anoitecer então. Até mesmo de longe se ouve grunhidos seguidos de terríveis gemidos, como se alguém estivesse sendo ferozmente chibatado. O mal pagando ali mesmo pelos seus pecados.
Vai-te pra lá coisa ruim, desgrameira.

Escritor
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27 de abr. de 2019

HISTORIANDO NA FILA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.099


E enquanto se aguarda na fila o dever com a saúde, entra-se também na conversa alheia. A mulher da frente diz que a sogra não quer vacina contra a Influenza. Repassamos os inúmeros conselhos para se proteger da gripe que matou milhões de pessoas desde a I Guerra MundialE nas palavras vamos até a igrejinha de São João no subúrbio Bebedouro/Maniçoba, em Santana do Ipanema. Erguida em 1917, juntamente como motivo de promessa ao santo, contra essa mesma gripe de hoje. Foi o senhor João Lourenço, morador local e grande promotor de festas no lugar, o responsável pela igreja. Trabalhava ele no artesanato em couro de bode produzindo chapéus juntamente com a família.
RUÍNAS DA IGREJA DE SÃO JOÃO EM 1994. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

Devido as constantes notícias de mortes em massa, pelo mundo, procissões eram realizadas com velas acesas da igrejinha de São João até o centro da cidade.  A igreja do Bairro São Pedro – localidade mais próxima ao Bebedouro/Maniçoba – ainda não existia porque apenas fora iniciada em 1915 e somente concluída na década de 30. A igreja de São João foi profanada, mais ou menos na era 1960. Os santos foram retirados e o templo foi acabado ao abandono.  Minhas fotos mostram os seus estertores. O senhor João Lourenço, já idoso, veio a falecer devido às consequências de uma mordida de cobra jiboia, conduzida por um soldado do Coronel Lucena. O praça, além da bebida, havia surtado e percorria a feira com a jiboia retirada do quintal de Lucena que criava animais presenteados. O praça, ao passar por Lourenço, jogou a cobra estressada nas suas partes íntimas.
Não sei se consegui sensibilizar a senhora da fila para tentar convencer a sogra pela opção da vacina Mas, de qualquer maneira contei a narrativa, episódio da cidade e exclusiva do nosso livro: “O boi, a bota e batina; história completa de Santana do Ipanema”.
Fila também é lugar de “casos” e me faz lembrar o compositor que fala sobre o canário-do-reino, lembra-se?
Fui.


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22 de abr. de 2019

EM 22 DE ABRIL DE 2017 FALECIA DR. MILTON MARQUES DE MEDEIROS


A cidade de Mossoró lamentava a perda do amigo, empresário, médico, companheiro, cidadão do bem, MILTON MARQUES DE MEDEIROS, que nos deixou. O seu falecimento ocorreu em Fortaleza-CE, onde o mesmo estava internado.

Seu corpo será velado na Loja Maçônica 24 de Junho, centro de Mossoró, a partir de 01:00 da manhã.

A missa de corpo presente foi no dia seguinte, às 15hs na Capela de Santa Teresinha. Em seguida foi sepultado no Cemitério São Sebastião, nesta cidade.


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21 de abr. de 2019

QUARTA-FEIRA SANTA

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.094 – Literatura viva
Aos escritores alagoanos

 
Lembrei-me do antigo relógio da Matriz como se aguardasse as doze badaladas costumeiras. Nem era meia-noite ainda. A grande lua redonda sorria como nunca no céu límpido, extremamente iluminado. Silêncio sepulcral na minha rua, ausência total de humanos, talvez somente almas em passeio noturno. Uma brisa leve soprava como algo vivo; e apenas um gato gordo e peludo mostrava-se na via tentando escalar certa árvore adormecida. O riso do céu continuava na Quarta-Feira Santa, bela e lúgubre numa solidão de fim de mundo. Veio à mente a novela “Noite” de Érico Veríssimo; a matraca de luto agitada pelo saudoso sacristão Jaime; o comprido das procissões; sons harmoniosos e inexistentes de violão boêmio. Um arrepio na pele. 
 
                                     (FOTO: B. CHAGAS).
Lá no alto do relevo perto e longe, uma luz de poste acenava. Para quem se mostrava aquele foco? Tristonho como o roxo dos panos que esconde os santos, solucei sem soluços. Sarjetas enxutas, natureza morta, silêncio calado na minha rua, em todas as ruas... Metais reluzentes nas antenas retorcidas, ausência de pirilampos, nem um grito dentro da noite, nem metamorfose de bitucas na calçada. Espicho o pescoço ignorante. Monto no tempo e revejo o leito seco do rio ali pertinho, a areia grossa, a languidez de outra Semana Santa, no passeio solitário do poeta. Novamente o hálito misterioso daquele dia e desta noite soma-se às dores de Maria e sopra no coração do sutil observador da rua. O que estará pensando os céus?
Recolho-me à noite de dentro, à noite sem o riso farto da lua cheia, ao mundo das filosofias, dos enigmas, dos idílios reticentes ou das virtudes duvidosas. Portão fechado, passos de bichano, um café pequeno que transgride a hora, perguntas mudas, respostas sem tempo... Uma implosão de ais. Não sei se a madrugada entra na Semana Santa ou se a Semana Santa entra pela madrugada. Será que o gato subiu na árvore? Será que surgiu algum retardatário na rua? Não posso responder pelas bitucas, nem pela luz do poste que imita estrela. Estou perdido e achado dentro da “Noite” de Érico Veríssimo, de um conto de Fábio Campos ou da angustiosa vivência de Jesus.
Hoje é noite de quarta-feira, de Quarta-Feira Santa.


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20 de abr. de 2019

ZÉ CIRILO, O HOMEM QUE A CANGACEIRA DADÁ QUERIA OUVIR ASSOBIAR DÁ ADEUS

*Rangel Alves da Costa

Poço Redondo, no sertão sergipano, perdeu hoje, aos 101 anos, um dos maiores personagens de sua história: José Cirilo dos Santos.
A Família Cirilo, aliás, que tantas raízes e frutos bons floresceu ao longo dos anos pelos rincões sertanejos, bastando citar alguns nomes: Ireno, Pai Né, Aduilson, Marietinha e outros irmãos.
Pois bem. José Cirilo, ou apenas Zé Cirilo, era dessa seara de pessoas honradas e distintas de Poço Redondo. Ao lado da saudosa Doce, gestou um seio familiar com filhos de igual distinção, dentre os quais o saudoso Zé Rivaldo, Edileuza, Izo, Aduilson, Mazé, Djanira, Marineide e outros.
Homem da terra, da vida simples, sempre foi mais apegado aos afazeres da digna sobrevivência. Viveu muitos anos, mas os anos vividos como se fossem num singelo e humilde calendário.
Mas também personagem histórico desde os tempos do cangaço, pois aquele assobiador que ao longe teve o assobio apreciado pela famosa cangaceira Dadá, companheira de Corisco, mas que, amedrontado, não conseguiu que mais nada saísse de sua boca quando ordenado que continuasse sua melodia, no episódio que fiou conhecido como A Vingança Cangaceira e a Morte dos Soldados Sisi e Tonho Vicente, pelos arredores da Estrada de Curralinho, onde hoje há As Cruzes dos Soldados.
Tal episódio envolvendo Zé Cirilo foi narrado com maestria por Alcino Alves Costa em seu livro “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”. Assim relata o saudoso escritor:


“O primeiro a receber voz de prisão foi o pai de Zabelê, depois foi à vez de Dorcelino, Melonia, Mané Azedinho, Antônio Lucas, Enoque, Baiá, Antônio Silva, Ercílio de Lulu, Virgilio Rozendo, João Mulatinho, que mais tarde seria o cangaceiro Delicado, e por último vem Zé Cirilo, um dos filhos de João Cirilo; o rapaz viaja montado num jumento, com serenidade, sem nada desconfiar, assobia antiga canção. Dadá escuta-o com atenção. Fica impressionada com a competência do assobiador e ao prendê-lo ordena-lhe que continue assobiando a mesma cantiga. Apavorado e pensando que os cangaceiros iriam judiá-lo, ou até mesmo matá-lo, o moço, apesar do grande esforço que fez para atender ao pedido da famosa bandida, não conseguiu que de sua boca saísse nem um único piu, quanto mais assobiar. Não tinha forças. Não tinha coragem. Estava esmorecido, sem ação e sob os risos da cangaceirada; o moço teve a sorte de ter sido compreendido por Dadá que não insistiu com seu pedido, também sorrindo com o pavor estampado no rosto do mocinho de Poço Redondo”.
Mas hoje Zé Cirilo partiu, deu adeus aos seus, rumando aos horizontes celestiais. Que a melodia no seu assobio seja lá em cima apreciada para festa dos céus.


Escritor
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15 de abr. de 2019

A LENDÁRIA FAZENDA ABÓBORA PARTE 1

Por Rostand Medeiros
Sede da Fazenda Aboboras

Desde que comecei a ler temas relacionados ao ciclo do cangaço, a sua figura maior, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e a história do Nordeste no início do século XX, um local em especial me chamava atenção pelas repetidas referências existentes em inúmeros livros. Comento sobre uma antiga propriedade denominada Abóbora, localizada na zona rural do município de Serra Talhada, próximo a fronteira com a Paraíba e não muito distante das cidades pernambucanas de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo.

Vamos conhecer um pouco de sua história e da visita que realizei a este local.Uma Rica Propriedade. Quem segue pela sinuosa rodovia estadual PE-365, que liga as cidades de Serra Talhada a Triunfo, antes de subir em direção a povoação de Jatiúca e as sedes dos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo, percebe que está em um vale cercado de altas serras, que dão uma beleza singular a região. Atrás de uma destas elevações se encontra a Fazenda Abóbora.

Até hoje esta fazenda chama atenção pelas suas dimensões. Segundo relatos na região, suas terras fazem parte das áreas territoriais de três municípios pernambucanos. Aparentemente no passado a área era muito maior. Ali eram criados grandes quantidades de cabeças de gado, havia vastas plantações de algodão, engenho de rapadura e se produziam muitas outras coisas que geravam recursos. No lugar existem dois riachos, denominados Abóbora e da Lage, que abastecem de forma positiva a gleba.[1] Com tais dimensões, circulação de riquezas, no passado o lugar era ponto de parada de muitos que faziam negócios na região e transportavam mercadorias em lombo de animais, os antigos almocreves. No lugar estes transportadores do passado eram recebidos pelo “coroné” Marçal Florentino Diniz, que junto com irmão Manoel, dividiam o mando na propriedade.

Manoel Severo e Rostand Medeiros

Informações apontam que Virgulino Ferreira da Silva, quando ainda trabalhava como almocreve, realizou junto com seu pai e os irmãos vários transportes de mercadorias entre as regiões de Vila Bela (sua cidade natal, atual Serra Talhada) e Triunfo.[2] Certamente em alguma ocasião, o jovem almocreve teve a oportunidade de conhecer a fazenda do “coroné” Marçal e de seu irmão Manoel. Além destes o almocreve da família Ferreira conheceu o impetuoso filho do fazendeiro Marçal, Marcolino Pereira Diniz.[3]

Chefe de bando inteligente e perspicaz, Lampião buscava antes do confronto, o apoio e as parcerias com os antigos proprietários rurais e assim agiu junto aos donos da Fazenda Abóbora. Após assumir a chefia efetiva de seu bando, depois da partida do seu antigo chefe, o mítico cangaceiro Sinhô Pereira, Lampião frequentou em várias ocasiões as terras da Abóbora, onde o respeito do chefe e dos seus cangaceiros pelo lugar estava em primeiro lugar.

Rodrigues de Carvalho, autor do livro “Serrote Preto” (1974), informa nas páginas 252 a 254 que ocorreu uma intensa e positiva relação de amizade entre Lampião e a família Diniz principalmente com o “jovem e pretensioso doutor” Marcolino Diniz, que chegou há cursar durante algum tempo a Faculdade de Direito em Recife, mas não concluiu. Esta relação ambígua de amizade entre estes ricos membros da elite agrária da região e o facínora Lampião foi posta a prova em duas ocasiões.


Marcolino Diniz, sentado, filho do poderoso Cel. Marçal Florentino Diniz

A primeira no dia 30 de dezembro de 1923, quando Marcolino Diniz é preso pelo assassinato do juiz de Direito Ulisses Wanderley em um clube de Triunfo. Marçal solicita apoio de Lampião para tirar Marcolino da cadeia, se necessário a força. Juntos vão acompanhados de um grupo que gira em torno de 80 a 100 cangaceiros armados. Não Houve reação dos carcereiros. A segunda ocorreu no mês de março do ano seguinte. Após o episódio do ferimento do pé de Lampião na Lagoa Vieira e o posterior ataque policial na Serra das Panelas, onde o ferimento de Lampião voltou a abrir e quase gangrenar, é a família Diniz que parte em socorro do cangaceiro. Marçal e Marcolino cederam apoio logístico para a sua proteção, transporte, medicamentos e plena recuperação com o acompanhamento dos médicos José Lúcio Cordeiro de Lima, de Triunfo e Severino Diniz, da cidade paraibana de Princesa. Sem este decisivo apoio, certamente seria o fim do “Rei do Cangaço”.[5]
Lagoa Vieira-Foto-Alex Gomes

Foi igualmente na propriedade Abóbora que Lampião conheceu Sabino Gomes de Gois, também conhecido como “Sabino das Abóboras”.[6] Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), nas páginas 243 a 246, informa que Sabino efetivamente nasceu na Fazenda Abóbora, sendo filho da união não oficial entre Marçal e uma cozinheira da propriedade. Consta que ele trabalhou primeiramente como tangedor de gado, o que certamente lhe valeu um bom conhecimento geográfico da região.

Valente, Sabino foi designado comissário (uma espécie de representante da lei) na região da propriedade Abóbora, certamente com a anuência e apoio do pai. Organizava bailes e em um destes envolveu-se em um conflito, tendo de seguir para o município paraibano de Princesa. [7]

Depois, entre 1921 e 1922, acompanhou seu meio irmão Marcolino para Cajazeiras, no extremo oeste da Paraíba. Marcolino Diniz desfrutava nesta cidade de muito prestígio. Era presidente de clube social, dono de casa comercial, de jornal e tinha franca convivência com a elite local. Sabino por sua vez era guarda costas de Marcolino e andava ostensivamente armado. Nesta época Sabino passou a realizar nas horas vagas, com um pequeno grupo de homens, pilhagens nas propriedades da região. O autor de “Guerreiros do Sol” informa que teria sido Sabino que coordenou a vinda do debilitado Lampião para ser tratado pelos médicos José Lúcio Cordeiro de Lima e Severino Diniz. A amizade entre o “Rei do Cangaço” e o filho bastardo de Maçal Diniz, nascida na Fazenda Abóbora, teria então se consolidado a ponto deste último se juntar a Lampião e seu bando, em uma posição de destaque, no famoso ataque de cinco dias ao Rio Grande do Norte, ocorrido em junho de 1927.

Continua...

NOTAS
[1] Relatos transmitidos em entrevista gravada junto ao Sr. Antônio Antas, da cidade paraibana de Manaíra, em dezembro de 2008. O Sr. Antônio, parente de Marcolino Diniz, conviveu com o filho de Maçal quando este estava idoso e vivendo na Comunidade de Patos do Irerê. Vale ressaltar que é relativamente pequena a distancia da sede da Fazenda Abóbora para a cidade de Manaíra.
[2] Relato transmitido ao autor em entrevista gravada junto ao Sr. Antônio Ramos Moura, em agosto de 2006, em Santa Cruz da Baixa Verde.
[3] Para Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), na página 244, afirma que Maçal Diniz conheceu Lampião e seus irmãos quando os mesmo já eram membros do bando de Sinhô Pereira, cangaceiro que igualmente recebeu proteção e apoio deste fazendeiro em 1919.
[4] Entrevista gravada com Antônio Antas, dezembro 2008.
[5] Sobre o combate de Lampião na Lagoa Vieira ver – tokdehistoria.wordpress.com/2011/02/10/quando-lampiao-quase-foi-aniquilado
[6] Segundo Frederico Pernambucano de Mello, Sabino também era conhecido como Sabino Gomes de Melo, Sabino Barbosa de Melo, ou ainda com os denominativos Gore, Gório ou Goa. Ver “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), pág. 243.
[7] Rodrigues de Carvalho (pág. 164) afirma que Sabino nasceu na Paraíba, no lugar denominado Pedra do Fumo, então município de Misericórdia, atual Itaporanga. Pela lei estadual nº 3152, de 30 e março de 1964, o antigo distrito de Pedra de Fumo foi desmembrado do município de Itaporanga e elevado à categoria de município com a denominação de Pedra Branca, localizado a cerca de 20 quilômetros de Itaporanga. Pelo que escutamos durante nossas visitas a região, acreditamos que a versão do autor de “Guerreiros do Sol” é mais correta.

Rostand Medeiros, pesquisador e escritor
Natal, Rio Grande do Norte
Fonte: tokdehistoria.com


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13 de abr. de 2019

PROGRAMA DA GLOBO, 8 OU 800....1976


O renomado pesquisador do cangaço, Dr. ANTÔNIO AMAURY CORREIA DE ARAUJO responde ás perguntas feitas sobre LAMPIÃO, pelo grande apresentador Paulo Gracindo, concorrendo ao grande prêmio.
..
Próximo da etapa final e, alertado por terceiros de que a emissora estava propensa a pregar uma peça sobre ele, o pesquisador desiste de participar da final do programa, mas foi recompensado com um grande prêmio, que já havia adquirido, por sua sensacional apresentação.


Foto: cortesia do famoso escritor


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10 de abr. de 2019

LUIZ GONZAGA - ASA BRANCA FT. FAGNER, SIVUCA, GUADALUPE

https://www.youtube.com/watch?v=zsFSHg2hxbc
Publicado em 16 de jul de 2015

Videoclipe oficial da música Asa Branca de Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe de seu álbum, Danado De Bom. Compre Danado De Bom: http://smarturl.it/ud15r0?IQid=YTO.O0... 

Ouça Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe no Spotify: https://www.youtube.com/user/OsTraves... Visite o canal de Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe: http://smarturl.it/ls46m3?IQid=YTO.zs... Confira mais vídeos de Música Nacional: http://smarturl.it/MusicaNacional Conecte-se: Facebook: http://smarturl.it/jzxxhb?IQid=YTO.zs... Twitter: N/A Mais de Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe: Luiz Gonzaga - Pense N'Eu ft. Gonzaguinha: https://www.youtube.com/watch?v=Q9n7o... Luiz Gonzaga - Sete Meninas ft. Dominguinhos: https://www.youtube.com/watch?v=kq_CQ... Luiz Gonzaga - Sanfoninha Choradeira ft. Elba Ramalho: https://www.youtube.com/watch?v=l0vzG... 

Letras: Até mesmo a asa branca Bateu asas do sertão Então eu disse, adeu' Rosinha Guarda contigo meu coração Então eu disse, adeu' Rosinha Guarda contigo meu coração Hoje longe muitas légua Numa triste solidão Espero a chuva caír de novo Para eu vortar pro meu sertão Espero a chuva caír de novo Para eu vortar pro meu sertão Quando o verde dos teus óio Se espalhar na prantação Eu te asseguro, não chore não, viu Que eu voltarei, viu, meu coração Eu te asseguro, não chore não, viu Que eu voltarei, viu, meu coração
Categoria
Música neste vídeo
Música
Asa Branca
Artista
Luiz Gonzaga feat. Fagner, Sivuca and Guadalupe
Compositores
Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira
Licenciado para o YouTube por
SME (em nome de Best); Wixen Music Publishing, União Brasileira de Compositores, Warner Chappell, LatinAutor - Warner Chappell, LatinAutor, EMI Music Publishing e 7 associações de direitos musicais.

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9 de abr. de 2019

FOTOS QUE AINDA CHOCAM O QUE SOBROU DE MANUEL MORENO, SUA ESPOSA ÁUREA E O CABRA GORGULHO


Subgrupo de Lampião eliminado enquanto festejavam  na Fazenda Poço da Volta, em Porto da Folha/SE. Foram executados pela volante baiana do Sargento Odilon Flor, a 23 de junho de 1937, durante as festas de São João.

Fonte: Livro Guerreiros do Sol, Frederico Pernambucano de Mello.

"Blogdomendesemendes - Em vez de Gorgulho é o cangaceiro Gravo Roxo.

O escritor Alcino Alves diz em seu livro "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistério de Angico que Gorgulho estava no combate, mas escapou da chacina e morreu velhinho".

Créditos:
Ivanildo Alves  da  Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e do CARIRI-CANGAÇO
Natal / RN

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8 de abr. de 2019

SEM TERRA

Por Rangel Alves da Costa

Difícil romantizar uma saga tão brutal e sangrenta. Nada fácil tornar em ficção a veia aberta e o grito de dor, ainda hoje espargindo sofrimento e ecoando o temor e a aflição. Ao escritor, apenas imaginar como tudo poderia ser no mundo real. E por isso mesmo relato aqui uma das possíveis feições para que o homem, escorraçado da terra, começasse a lutar pelo direito a terra.
Eustáquio preferiu sair da cozinha pela porta dos fundos, indo em direção ao quintal aberto. Não conseguiria passar pela sala e avistar os meninos já famintos àquela hora do dia e sem nada na panela que causasse a ilusão de comida.
Creuzina, sua esposa, havia puxado o pano da cabeça e agora o utilizava como lenço, e já completamente molhado de lágrimas. Nada podia fazer senão despejar o restinho de farinha de mandioca numa panela, jogar um pouco de água por cima e depois mexer até aprontar uma papa d’água.
Tiziu comeu do que lhe foi colocado no prato. Assim também com Pedro e Zefinha, a mais nova da família. Já Eustáquio, o pai, e Creuzina, a mãe, beberam do fel salivento da dor, da agonia e do sofrimento. Continuaram famintos, porém satisfeitos. Os filhos haviam tido a ilusão do alimento. E depois, e mais tarde, quando a fome dos filhos novamente despertasse?
Adiante do barraco o mundo da desolação. A estiagem havia deixado a terra em pó. Não havia verdor nem seiva de vida numa só planta. A ossada do bicho parecia uma assombração esbranquiçada. Mandacarus ressequidos, facheiros murchos, jurubebas mortas pelos beirais pedregosos das estradas. Mas o pior estava por acontecer.
Quando o portentoso alazão riscou defronte a morada, então Eustáquio logo imaginou o chão se abrindo a seus pés. A notícia já era esperada e seria o fim do mundo. E ela havia chegado. Já acreditava nisso, porém não acreditava que tão cedo pudesse acontecer. O recado foi tão breve quanto arrogante: “O patrão avisou que junte as coisas e abandone a casa”.
Já na manhã seguinte e mais parecia um quadro de Portinari. A pequena família em retirada e sem ter aonde ir. Não eram retirantes das secas, e sim retirantes do teto e da guarida de sobrevivência. Retirantes do pedaço de chão aonde se mantinham feito bicho entocados sem ter outra saída. Retirantes da esteira ao chão, do estrado da cama, do pote e do candeeiro.


Mas a família foi seguindo adiante levando toda a riqueza em saco e cuia. Molambos, restos, pedaços. Já ao longe, antes de tomar uma curva para o deus dará, Eustáquio parou um instante, olhou para trás e estremeceu de ódio. Avermelhou ainda mais a pele já tostada de sol, afogueou por dentro feito vulcão irrompendo todas as fúrias da vida. Quanta indignação, quanto rancor, quanto ódio!
E um ódio tão animalesco que só os feridos no espírito, corpo e alma podem sentir. Aquela paisagem sem fim, aquele meio mundo de terra e chão, aquela vastidão sem limites, e tudo de um só dono, tudo de quem sequer sabia a quantidade de terra que possuía nem a serventia de toda aquela riqueza. E ele, caminhante pelo mundo dos outros, não tendo sequer um palmo de chão.
Quis voltar. Fez menção de retornar e ir diretamente até a porta daquele senhor dono do mundo, daquela víbora recoberta de gente, daquele imprestável que se abancava na cadeira da varanda, mirando sem ter o que fazer com as suas léguas e mais léguas de terra, mas sem ceder a ninguém um só quadrado de chão. E sem deixar que o pobre fizesse vingar sobre a terra um pé de milho e de feijão, uma abóbora, uma melancia.
Quis voltar. Fez menção de retornar, mas de repente novamente voltou-se adiante e avistou sua pequena família a lhe esperar. Também sabia que não voltaria com vida acaso fosse pedir satisfação ao ex-patrão. Ele mesmo sabia das cruzes espalhadas por aqueles carrascais, das tocaias feitas e das emboscadas mortais. Um mundo de urubus, de carcarás e gaviões, de vidas definhadas ao sol pela sangria das injustiças.
A família virou a curva da estrada e seguiu adiante. Talvez Tiziu estivesse com sede. Talvez Pedro estivesse com sede. Talvez Zefinha estivesse doente. Mas tinham que seguir adiante. E para trás os imensos descampados, as catingueiras e as umburanas num canto e noutro. Pouco bicho para tanta terra e quase nenhum plantio que alimentasse a vida. Um mundo do tamanho da ganância, da injustiça e da soberba.
Um mundo grande demais para quem não merecia. E nenhum pedaço de chão àqueles que seguiam em frente na incerteza do instante seguinte e do amanhã. Porém, na mente já menos raivosa de Eustáquio um pensamento que mais tarde se tornaria ação: “Nem que sangre de morte, nem que seja ferido pelo açoite da bala, mas ainda lutarei com toda força que tiver para transformar esse chão num chão de todos. Para repartir essa terra com quem dela precisa para trabalhar e sobreviver”.
E foram seguindo adiante. E pela certeza da luta. A luta pela terra. Foi assim que muito da saga da reforma agrária se iniciou. E muito vingou e muito frutificou.

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