3 de ago. de 2025

TENENTE JOÃO BEZERRA O MAÇOM QUE DEU CABO DE LAMPIÃO.

 Por Alexandre Lopes Fortes


“O Batalhão Tenente João Bezerra da Silva – 3º BPM, relata a passagem de um dos homens que mais marcaram a briosa Polícia Militar do Estado de Alagoas, rendendo-lhe esta justa homenagem, provocada por seu grandioso feito histórico.

Trajetória
 

 
Nasceu no dia 24 de junho de 1898, na Serra da Colônia, Município de Afogados da Ingazeira – Estado de Pernambuco. Seus pais: Henrique Bezerra da Silva e Marcolina Bezerra da Silva, eram pequenos fazendeiros e tiveram sete filhos: João, Cícero, Amaro, Manuel, José, Vitalina e Maria.
Com vontade de aprender a ler, trazia consigo sempre, uma “carta de ABC” (cartilha) e um “ponteiro” (lápis). Aos oito anos, já ajudava seu pai na agricultura e na criação de animais.

Ironicamente, teria aprendido a atirar com Manoel Batista de Morais, popularmente conhecido como Antônio Silvino, “O Rifle de Ouro”, também de Afogados da Ingazeira/PE, que era primo de João Bezerra em segundo grau, tornando-se em um exímio atirador.

Antonio Silvino foi conhecido no sertão como um dos homens mais valentes do Nordeste antes de Lampião, tendo sido ainda testemunha do assassinato do jornalista João Dantas na penitenciária de Recife, que era o assassino do ilustre paraibano João Pessoa, contrariando a versão oficial da época de que dizia ter sido suicídio.

Aos quatorze anos, Bezerra fugiu de casa após ter sido surrado pelo pai, por ter desobedecido à proibição de namorar uma moça, fugindo para o Recife/PE. Já demonstrava uma personalidade marcante, corajosa e propensa à aventura. Um menino sertanejo, desbravando a Capital. A partir daí, foi carregador de carvão de pedra no cais do porto; ajudante de soldado; assentador de dormentes em linha férrea; trabalhador de pedreira e de lavoura. Após um ano, voltou para casa e montou um comércio (uma pequena bodega), onde vendia de tudo.

No tempo em que passou com a família na sua cidade natal, realizou o incrível feito de matar uma onça, que de tão grande assustava a todos do lugar e dizimava as criações das fazendas, o que o tornou já famoso nas imediações onde morava, fazendo-o receber muitos presentes dos proprietários de terra da região.

Tempos depois, foi forçado a sair do seio familiar; indo trabalhar com um dos maiores inimigos de Lampião, o famoso Coronel José Pereira, em Princesa/PB, de onde partiu para Maceió, no Estado das Alagoas para “sentar praça”. Iniciou sua carreira em 1919, na Policia Militar de Alagoas, como policial contratado para integrar as “volantes”, sendo incorporando definitivamente, em 29 de março de 1922, onde permaneceu por 35 anos e 07 meses.

Prestou serviço no 2º Batalhão de Infantaria, deslocado para Santana do Ipanema/AL, para combater o banditismo que assolava a região sertaneja, de onde saiu para o combate de angicos, hoje 3º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Arapiraca/AL.

Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922, e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com os bandidos, tendo de uma feita, morto três dos comparsas de Lampião. Sendo considerado oficial valoroso da Polícia Alagoana e de imediata confiança do governo.
Casou-se com Cyra Gomes de Britto, em Piranhas/AL, no ano de 1935, que em entrevista ao Jornal do Bandepe em 1985, confirma a natureza valente e perspicaz de seu marido, que chegava a passar meses no encalço dos cangaceiros, vindo inclusive a ignorar o nascimento de sua primeira filha, por estar em missão na caatinga, tendo em vista ter empenhado sua palavra de capturar Lampião.
Foi Maçom, alcançando o 18° grau na instituição em que participava.

Assentamentos Militares

Foram 19 Nomeações de comando, incluindo o de Comandante da Corporação (Apesar de não estar incluído no histórico de comandantes da Polícia Militar de Alagoas, devendo ter assumido o Comando Geral em algum espaço entre nomeações deixados por algum comandante entre 1950 e 1954);

12 Nomeações para delegado em diversas cidades de Alagoas, designações concedidas após o combate em angicos.

Participação como “Chefe de Volante” por um período de 12 anos, travando 11 combates com os grupos de cangaceiros, entre eles, os chefiados por Luiz Pedro do Retiro, Corisco, Gato, Zé Baiano, Português, Manoel Moreno, Moita Brava e por último com o famoso Lampião, o mais importante desses combates, que foi travado na Grota de Angicos, atual Município de Poço Redondo, estado de Sergipe, no qual ocorreu a morte de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sua companheira Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita), e dos cangaceiros: Luiz Pedro, Quinta-feira, Elétrico, Mergulhão, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.

Participação em diversas missões fora do Estado, com os contingentes alagoanos, entre elas: Combate à Coluna Prestes, em 1925; Deposição do governo Washington Luís, em 1930 e Revolução Constitucionalista em 1932.

Nomeação como Prefeito Interventor da cidade de Piranhas/AL, no ano de 1933.
Durante a sua vida militar, recebeu diversos elogios por seu desempenho nas missões em que participou, conforme foram publicados nos boletins da Policia Militar de Alagoas. Entre eles:
Elogio do Comandante do 2º Batalhão;

– Louvor do Coronel Lucena comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl., de 17 de dezembro de 1938.

“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontaneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra a horda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinham sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo. Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre

“Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal“.

Elogio do Comandante da Corporação;

“Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou. O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.

Coronel EB Carlos Eugênio Pires de Azevedo – Comandante da Polícia Militar de Alagoas em 6/12/1970, quando da ocasião de seu sepultamento em Maceió.

Elogio do Interventor Federal;
Elogio do Governador do Estado;
Elogio do General de Exército;
Elogio do Presidente da República.

Tendo sido inclusive recebido no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, no ano de 1938, pelo então Presidente Getúlio Dorneles Vargas, que nutria grande interesse pela campanha contra o cangaço, em virtude do sucesso da missão em Angicos.
Elogio da população de Piranhas/AL

Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e orgulhosamente, a espada que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938, expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Oferece o povo de Piranhas. ”

Foi para a reserva da Polícia Militar de Alagoas em 04 de novembro de 1955, quando passou a dedicar-se à agricultura e à pecuária.

Faleceu na cidade de Garanhuns/PE, no dia 04 de dezembro de 1970, vitimado por um acidente vascular cerebral, recebendo alusões honrosas pela Câmara Municipal daquela cidade.

Seu corpo foi velado no quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Alagoas, e em seguida sepultado com honras militares no mausoléu da maçonaria em Maceió, como última homenagem da Corporação em satisfazer o pedido do próprio João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano. Anos mais tarde seu corpo foi transladado para o Estado de Pernambuco, a pedido de sua família.

João Bezerra foi um perseguidor empenhado em não dar trégua aos cangaceiros, reconhecido pelos seus pares e superiores, ao ponto de ganhar de Lampião o apelido de “Cão Coxo”, coxo em decorrência da redução de 04 centímetros em uma das pernas, causada por um ferimento em combate, e cão, pela valentia e destemor que apresentava nos combates. Em entrevista dada pelo então Capitão Manuel Neto, outro grande oficial das volantes, após a morte de Lampião, referia-se a Bezerra dizendo: – “O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia Alagoana e dos Estados vizinhos”.

Era homem obstinado, desbravador e estrategista. Cidadão honrado, decidido, extremamente observador, perspicaz e de muita fé. Seus passos foram cuidadosamente planejados, prevalecendo sempre a sensatez e a dignidade. Incansável na luta contra o banditismo. Seus contemporâneos sabiam do seu empenho, da sua responsabilidade e do seu valor: Nada em sua vida parecia ter sido por acaso.

Frases de João Bezerra

“Soldado não briga deitado. O que eu encontrar deitado, ou outro qualquer encontrar deitado, atire e mate que esse é covarde. Quando vocês me verem deitado atirem em mim também.” (Frase proferida antes do confronto em Angicos).

“Para vencer os ímprobos que nos impunha um vaivém penoso, só Deus sabe o quanto tivemos que lutar! Descrever esses sofrimentos seria dedicar centenas de páginas ao nosso grande martírio que jaz no anonimato, morto nos segredos das caatingas!” (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).
“Soldados do Brasil! Eu vos admiro! Permiti que eu seja sangue do vosso sangue guerreiro, para felicidade da minha vida toda voltada à Pátria na honrosa carreira das armas”. (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).

O portal MN parabeniza a todos os militares integrantes do 3º BPM pelos serviços prestados a cidade de Arapiraca e região. Que os bravos e honrosos militares sejam vistos pela sociedade não apenas pelas fardas e patentes, mas como seres humanos que ariscam suas vidas para proteger a cada cidadão, e junto a população, construir uma sociedade mais harmônica.”.

Por Genival Silva. Fonte: Ascom/3º BPM e http://3batalhao.blogspot.com.br/

Cap. João Bezerra era maçom – Grau 18° do R.E.A.A.

Segundo preliminares informações na internet, provas documentais e depoimento do Irmão Paulo Britto, filho de João Bezerra, o Capitão João Bezerra da Silva foi maçom, sendo Grau 18 do R.E.A.A., iniciado em 25 de junho 1949, com 51 anos de idade, na Loja Maçônica Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL e, inclusive, enterrado no Mausoléu Maçônico Segredo 33, como seu último pedido, posteriormente, a pedido da família, seu corpo foi trasladado para Pernambuco. Este detalhe acena para o crivo legalista do homem militar, que deu cabo a Lampião e seu bando, em 28 de julho de 1938, e do homem maçom, 11 anos após o Combate de Angicos, na luta porfiada nessa história de combates quase “intermináveis”, bárbaros e cruéis, entre volantes e cangaceiros na caatinga nordestina pela ordem e legalidade.
Loja Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL
REGISTROS FORNECIDOS, FRATERNALMENTE, PELO GRANDE ORIENTE DO BRASIL DE ALAGOAS – GOB-AL
Carteirinha Maçônica
 

O Marco do Fim do Cangaço – A Morte de Lampião

O cangaço, segundo Moacir Assunção, é um fenômeno social característico da sociedade rural brasileira. No nordeste, existiu desde o século XVIII, quando José Gomes, o Cabeleira aterrorizava populações rurais de Pernambuco. O movimento atravessou o século XIX, só terminando em 25 de maio 1940, com a morte de Corisco (1907 – 1940), sucessor de Lampião e seu principal lugar-tenente, pela volante de Zé Rufino (Diário de Pernambuco, 1º de junho de 1940, na sexta coluna).

‘Os homens do cangaço espalhavam fama, violência e aplicavam um conceito muito particular de justiça em sete estados do Nordeste. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia sofriam não apenas nas mãos desses grupos nômades, mas também com a seca, com a fome e com uma sociedade desigual e injusta, que perpetuava um modelo pérfido de exploração do trabalho.’ (Ângelo Osmiro Barreto in Iconografia do Cangaço, 2012)

Em 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em Sergipe, perto da divisa com o estado de Alagoas, o bando de Lampião foi cercado por uma força volante comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela, Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Estes foram todos decapitados. 

No combate, foi morto o soldado Adrião Pedro de Souza. João Bezerra e outro militar ficaram feridos (Jornal do Brasil, 30 de julho de 1938, na primeira coluna, Diário de Pernambuco, 30 de julho de 1938). Eram 49 homens da volante e 36 cangaceiros. Os outros 25 cangaceiros presentes naquele dia, no local Grota de Angicos, saíram vivos e conseguiram fugir, mais tarde alguns sendo mortos e outros entregando-se à polícia. Foi o fim do cangaço no sertão, muito embora alguns pesquisadores ainda considerem o fim do cangaço com a captura do cangaceiros Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto, (Água Branca, 10 de agosto de 1907 – Barra do Mendes, 25 de maio de 1940).



“Os onze do Angico”
 
Foto do Soldado Adrião Pedro de Souza, componente da volante do Aspirante Francisco Ferreira de Melo e croqui do mapa do combate de Angicos, feito pelo Ten. João Bezerra, e que se encontra ás fls. 102, do seu livro “Como dei cabo de Lampeão”. 
 
Vê-se, no mapa, que os grupos de Lampião, Zé Sereno e Luís Pedro, foram cercados pelas volantes comandadas por: Ten. João Bezerra, Aspirante Ferreira de Melo, Sgt. Aniceto e por homens comandados por Juvêncio e o Cabo Bertoldo. O cerco, bem planejado, foi quase perfeito e quase não foi dado chance aos cangaceiros. Foram utilizadas 04 metralhadoras, além de um bem planejado cerco e o elemento surpresa que foi decisivo, a topografia do local (serras íngremes), também, foi altamente desfavorável aos cangaceiros, tanto na defesa, como nas correrias da fuga.
Lampião, com seu bando.
Zona de atividade dos cangaceiros – anos [1922] a 1930

Considerações finais

Correspondências enviadas ao Ir. Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra, extraídas de Citações sobre João Bezerra Parte II, por Paulo Britto.
Antonio Amaury Correa de Araújo

Correspondência enviada ao Irmão Paulo Britto, em 06.07.2002 pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo:

“… Não é novidade para os pesquisadores que seu pai foi amplamente injuriado, invejado e que teve sua imagem denegrida por comentários oriundos de mentes tacanhas pelo fato de haver sido o comandante que eliminou Lampião e parte do seu bando cangaceiro, … Isso causou-lhes profundo ressentimento e usaram então dos mais baixos argumentos para achincalhar o episódio da Fazenda Angico.

… Pelo que pude observar nesses 53 anos de pesquisas e com seis mil entrevistas realizadas qualquer pessoa, em qualquer época usando de qualquer método para eliminar Lampião, … … seria questionado e destratado e sua atuação estaria sempre em dúvida na visão daqueles que não conseguiram o mesmo desideratum. A imaginação humana não tem limites e até mesmo episódios claros como cristal são colocados sob suspeita…. Para terminar, a polêmica não tem fim. É traição, veneno, tiro e Lampião ainda vivo até a década de 1990. Viva a fantasia, a ficção, a criatividade de alguns pesquisadores menos cuidadosos e pouco honestos para com a história…

PS. Faça o uso que quiser destas, pois é a expressão do meu pensamento e da verdade que obtive de cangaceiros, soldados, coiteiros e outras pessoas envolvidas no episódio de Angico. ”.

Gazeta de Alagoas – 06.12.1970 – 1º Caderno, página 3:
“Matador de Lampião sepultado em Maceió com honras militares…O Coronel (de Exército) Carlos Eugênio Pires de Azevedo, comandante da Polícia Militar, conheceu pessoalmente o Coronel Bezerra há 02 anos em Garanhuns. Lamentou a sua morte. Como última homenagem a corporação da qual é comandante, satisfazia o pedido de João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano.

Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o Nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou, disse o comandante da Polícia Militar de Alagoas.”

… “O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.
Ir∴ Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra
Ir∴ Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra, em http://lampiaoaceso.blogspot.com/2011/11/citacoes-sobre-joao-bezerra-por-paulo.html:

“Espero que estas citações consigam demonstrar, um pouco, de quem foi o homem, o policial militar, o maçom grau 18 que, em todas as suas ações e missões, só fez enaltecer o nome da instituição a que pertenceu, e que, graças a Deus, teve o privilégio do reconhecimento e do respeito dos familiares, amigos, superiores e subordinados…”. Coronel Lucena

Louvor do Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl, de 17 de dezembro de 1938. (Grafia original):
“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontâneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra o orda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinha sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo.
Coronel Lucena
Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal.”

Fontes:

http://etalasquera.ueuo.com/cangaco/cangtb.htm
http://sociedadeolhodehorus.blogspot.com/2013/03/lampiao-o-fora-da-lei.html
http://3batalhao.blogspot.com/p/historico.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Bezerra_da_Silva
Como dei cabo de Lampião, do Ten. João Bezerra da Silva. 1940
https://canoadetolda.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Brasil-Canga%C3%A7o-2011
http://cariricangaco.blogspot.com/2011/10/citacoes-sobre-joao-bezerra-parte-ii.html
http://3batalhao.blogspot.com/p/ten-joao-bezerra.html
http://lampiaoaceso.blogspot.com/2018/07/joao-bezerra-falou-ao-o-globo-em-26-de.html
http://www.minutonordeste.com.br/noticia/34-aniversario-do-3-bpm-de-arapiraca-encerra-com-homenagens/2930/imprimir
http://brasilianafotografica.bn.br/?p=9527
http://lampiaoaceso.blogspot.com/2009/06/angicos-aspectos-geograficos-e.html?m=1
http://cariricangaco.blogspot.com/2012/07/um-olhar-mais-apurado-porpaulo-britto.html

Sobre o autor

Alexandre Lopes Fortes é M∴ I∴, membro da ARLS Irmão Cícero Veloso n
°4543 (GOB-PI). Grau 33 do REAA, grau 33 do Rito Adonhiramita, grau 9 do Rito Moderno e companhiro do Sagrado Arco Real.

https://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Adri%C3%A3o

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2 de ago. de 2025

O DIA QUE LAMPIÃO ENCONTROU PADRE CÍCERO – O ENCONTRO QUE PODERIA MUDAR O SERTÃO.

  Por A história do Cangaço

https://www.youtube.com/watch?v=WR364UQMOZM&ab_channel=AHistoriaDoCanga%C3%A7o

Agora você pode assistir os Filmes Completos e Exclusivos do Lampião! 🔥 São produções incríveis, por menos de R$10 👉 Clique no link e garanta já o seu antes que acabe! https://bit.ly/FilmesDoLampiao Em 1926, o sertão presenciou um dos encontros mais marcantes da história nordestina: Lampião, o rei do cangaço, e Padre Cícero, o santo do sertão, ficaram frente a frente em Juazeiro do Norte. O que realmente aconteceu nessa conversa? O que Padre Cícero disse ao maior cangaceiro do Brasil? E por que Lampião saiu de lá convencido de que nunca poderia confiar em ninguém além de seus homens? Essa história envolvente revela o que poucos sabem sobre esse momento decisivo da vida de Lampião e como ele se tornou ainda mais forte após esse encontro. 🔥 Comente de onde você está assistindo e compartilhe essa história incrível!

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28 de jul. de 2025

O COMBATE A LAMPIÃO CONFORME DECLARAÇÕES DO GENERAL JUAREZ TÁVORA.

  Por Joel Reis

Figura 01 - Juarez do Nascimento Fernandes Távora
Fonte: 
Revista O Cruzeiro, ano III, Rio de Janeiro, 8 de nov. 1930

E
m Fevereiro de 1931, "Juarez Távora estava decidido a fazer com que se acabe o reinado de Lampião e seu bando, instituindo um prêmio de100:000$000 (cem contos de Réis) para a tropa que o exterminar! Desta vez o Lampião 'apaga-se' no Nordeste brasileiro..."
Figura 02 - O combate a Lampião, conforme declarações do General Juarez Távora
Fonte: A Batalha (RJ), n. 351, 27 fev. 1931, p. 08


A CONTRIBUIÇÃO DE CADA ESTADO 

BAHIA.............40:000$000
SERGIPE...........5:000$000
ALAGOAS...........5:000$000
PERNAMBUCO........25:000$000
PARAÍBA...........10:000$000
RIO G. DO NORTE...5:000$000
CEARÁ.............10:000$000


O valor TOTAL de (cem contos de réis) em fevereiro de 1931 convertido para Real: 

100:000$000 = 100 milhões de Réis = 100.000.000 
= R$ 2.000.000 (Dois Milhões de Reais). 

Um valor bem maior que esse famoso Cartaz distribuído pelo governo baiano.

Figura 03 - Cartaz de 1930 em que o governo da Bahia oferece recompensa pela captura de Lampião

REFERÊNCIA

MENDONÇA, Carlos Sussekind de. O combate a Lampeão conforme declarações do general Juarez Távora. Rio de Janeiro, A Batalha, ano III, n. 351, 27 fev. 1931, p. 08. Disponível em: Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional. Acesso em: 27 out. 2017.

https://viacognitiva.blogspot.com/2017/12/o-combate-lampiao-conforme-declaracoes.html?fbclid=IwAR0J2-Z8iyO2S9nmVe4916i5Wbt44TbM7e3jFtiJl72fuqPrKIHRZQso-5Y

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24 de jul. de 2025

VÓ MARICA DO TIPI - PARTE 1

  Por Vicente Landim Macedo

Lamartine Lima, Manoel Severo e Vicente Landim Macedo

Acredito que a direção do Cariri Cangaço incluiu Maria da Soledade Landim, minha avó, na sua programação por ela, além de ter sido uma das Coronelas do Ceará, recebeu em sua residência Lampião e foi uma das responsáveis pelo acontecimento conhecido como Fogo do Taveira ou Questão de 8.

Não tive a alegria de conhecer minha avó, pois nasci seis anos após o seu falecimento, mas, desde criança, eu ficava fascinado quando ouvia as histórias sobre ela, seu temperamento forte, suas atitudes firmes, decididas e corajosas, narradas pelos meus pais, tios, primos e pessoas moradoras do Tipi e de regiões próximas que conviveram com ela.

Maria da Soledade Landim, conhecida por Marica Macêdo ou Marica do Tipi, nasceu no Sítio Gameleira, Município de Missão Velha, em 1865. Filha de Joaquina de Sales Landim (Quininha) e de João Manuel da Cruz (Joca da Gameleira). Em 1997, quando eu estava colhendo dados para o livro Marica Macêdo, a brava sertaneja de Aurora, a minha querida prima Maria da Soledade de Macêdo (Soledade), que faleceu em 2003, com 97 anos, primeira neta de vó Marica, repetindo o que os meus pais e tios falavam, contou-me que se lembrava perfeitamente dos traços físicos da nossa avó.


Ela era morena, cabelos longos, rosto comprido e fino, boa estatura, aparentando gozar boa saúde. Disse-me, ainda, que a sua irmã Adalgiza (Duga) era a neta que mais parecia com a avó, até na coragem.  Quem olhasse para a Duga parecia que estava vendo vó Marica. Minha avó teve sete irmãos: Raimundo Saraiva da Cruz (Mundinho), Manuel Inácio da Cruz (Manezinho), Inácia de Sales Landim (Inacinha), Isidoro João da Cruz, Amâncio João da Cruz, José Francisco de Sales Landim e Antônio João da Cruz (Toinho).

Vó Marica casou-se duas vezes. A primeira, em 1884, na Igreja de Missão Velha, com seu parente José Antônio de Macêdo. Vó Marica e seu marido José Antônio de Macêdo (Cazuza ou Cazuzinha do Tipi), meu avô, são dos Terésios, isto é, são descendentes do Capitão José Paes Landim e Geralda Rabelo Duarte, fundadores, em 1731, do Sítio Santa Tereza, no Município de Missão Velha, CE, objeto da admirável obra A Estirpe da Santa Tereza do escritor Joaryvar Macêdo.

 Bustos dos pais de Vicente Landim, na Pracinha do Tipi

Dos fundadores Marica é tetraneta (quinta geração) e Cazuzinha trineto (quarta geração). Meus avós, em 1890, já com três filhos - Raimundo Antônio de Macêdo (Mundoca Macêdo), Joana da Soledade Landim (Joaninha) e João Antônio de Macêdo - visualizando um futuro promissor, juntamente com seus irmãos Amâncio e José Francisco, migraram para o município de Aurora. O casal Marica e Cazuzinha, e Amâncio adquiriram propriedades no Tipi, onde se instalaram, região ainda em desenvolvimento, e José Francisco comprou o Sítio Angico, próximo à cidade de Aurora.  

Outros dois irmãos de minha avó, Mundinho e Manezinho, na mesma época, seguindo o exemplo de meus avós, deixaram Missão Velha e foram para o Sítio Calabaço, município de Lavras da Mangabeira. Assim, dos oito irmãos, permaneceram no Cariri somente três: Inacinha, Isidoro e Toinho. Marica e Cazuza, nas terras que adquiriram, ainda virgens, desenvolveram atividades agrícolas e pecuárias e passaram a tomar parte ativa no desenvolvimento e na política do município aurorense. No Tipi, meus avós tiveram mais cinco filhos: Antônio Landim de Macêdo, José Antônio de Macêdo (Cazuza), Silvino José de Macêdo, Felinto José de Macêdo e Augusto Landim de Macêdo. 

Em decorrência de meus avós viverem no Tipi, foi que eles passaram a ser conhecidos por Marica Macêdo ou Marica do Tipi e Cazuza ou Cazuzinha do Tipi. Tudo corria bem, quando, em 8 de janeiro de 1905,  faleceu meu avô, ficando vó Marica viúva com 40 anos de idade. Vó Marica com muita competência e habilidade assumiu a responsabilidade da administração dos seus bens e dos filhos, uma vez que o filho mais velho, Mundoca, tinha 18 anos e o mais novo, Augusto, apenas 6. Vó Marica resolveu em 1906 contrair novas núpcias com o viúvo Antônio Abel de Araújo, originário de Missão Velha.

Banner do Cariri Cangaço 2013 em Aurora, personagem principal: Marica Macedo, sob as bençãos do Conselheiro Cariri Cangaço, José Cícero.

Minha mãe, Vicência Leite Landim (Maroca), nora e sobrinha de minha avó, contou-me que perguntou à sua sogra qual a razão dela querer contrair novo casamento, uma vez que demonstrara capacidade e disposição para continuar as atividades desempenhadas pelo primeiro marido. Ela lhe respondeu: “vou casar, porque toda mulher necessita de um companheiro”.

Vó Marica não levou em conta a observação da minha mãe e contraiu novas núpcias. A realização do segundo enlace matrimonial de minha avó ocorreu no Sítio Cantinho, em Lavras da Mangabeira, com uma grande festa, pois, no mesmo dia, foram realizados três casamentos: vó Marica com o viúvo Antônio Abel; Maria Abel, filha de Antônio Abel, com o viúvo Manezinho, irmão de vó Marica e, Raimundo, filho de vó Marica, casou-se com a prima Glória, filha de Manezinho.

Diferentemente dos costumes da época, quando as mulheres se conformavam em, apenas, cuidar da casa e da prole, vó Marica continuou administrando os bens que lhe pertenciam e a seus filhos, tomando parte  na vida política e administrativa de Aurora.Seu marido Antônio Abel possuía temperamento calmo, tranquilo e pacato, conformando-se em ser somente o segundo marido de Marica, ele nada resolvia. Minha avó procurava educar os filhos de acordo com seus valores e ideais.

Desde pequeninos, lhes ensinava que a união entre eles era essencial para fortalecer a família, orientando-os a que não brigassem, mas que resolvessem suas pendências através do diálogo. Incentivava-os o respeito aos mais velhos, o senso de justiça, o amor à terra, o valor à palavra dada e o cultivo da religião. Ao inspecionar as plantações de milho, feijão, arroz, algodão e cana de açúcar, vó Marica levava os filhos para iniciá-los nos trabalhos agrícolas. Quando ia entabular algum negócio ou tratar de assuntos políticos, se fazia acompanhar por alguns deles.
 
Continua...

Vicente Landim de Macêdo

Parte da Apresentação de Conferência no Cariri Cangaço 2013 no dia 20 de setembro no município de Aurora

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CAPITÃO TIMÓTHEO E OS VIRIATOS.

  Por: Cícero Pereira de Sousa


No começo de julho de 1878, o Capitão Francisco Timótheo de Sousa recebeu ordens do Governo Imperial para combater os Viriatos, conhecidos bandidos que, homiziados em Boa Esperança, no Ceará, aterrorizavam fazendeiros e populações daquela província e dos vizinhos Rio Grande do Norte e Paraíba. Com apenas 28 anos de idade, embora já integrasse a Guarda Nacional, Francisco Timotheo ainda não havia consolidado sua liderança na região, a ponto de poder organizar com a rapidez que o caso requeria, um contingente capaz de cumprir com sucesso tão grave missão.

Os homens de que dispunha no momento não passavam de trinta e cinco, embora contasse com um bom armamento de fuzis, mosquetões e rifles,além da coragem e lealdade desses valorosos companheiros. Por outro lado, a grande seca de 1877, que ceifou centenas de milhares de vidas naqueles sertões, continuava vitimando famílias inteiras com epidemias e doenças de todo tipo. Para completar, os constantes assaltos de bandos armados que pululavam por todo o sertão, representavam impedimento à ausência daqueles homens de suas próprias casas, ainda que por pouco tempo. Mesmo assim, tão logo pôde, o Capitão os convocou e se organizaram todos para a luta.

Foi nessas condições desfavoráveis que partiram de Bonito-PB, na madrugada de 25 de julho de 1878. Rumaram até São José de Piranhas-PB e, a partir daí, seguiram pela estrada das Cuncas. Era a mais curta, embora acidentada. Seguindo pelo Vale do Piranhas, com suas terras férteis e matas ainda fechadas, rumaram por umas trilhas pedregosas até atingirem o sopé da serra do Bongá. Dalí por diante, em direção ao oeste, tiveram que enfrentar sucessivas ladeiras para chegarem ao sítio Barros, (hoje cidade e à época pertencente ao Termo de Milagres, no Ceará). Gastou-se um dia e meio de viagem até esse ponto. Aí, na fazenda de um amigo, para descanso da tropa e refazimento dos animais, o Capitão resolveu acampar antes de percorrer o último estágio da caminhada até Boa Esperança (Cangati), o reduto do inimigo.

Quando ainda se preparava para essa missão, o Capitão Timotheo teve o cuidado de avisar o seu grande amigo e compadre José Guimarães, um português conhecido como Cazuza Marinheiro, residente em Cajazeiras-PB. Ao receber a mensagem, Cazuza exclamou para o portador: - Meu compadre ficou doido! Enfrentar aqueles bandidos com apenas trintae cinco homens? Volte agora mesmo e diga a ele que eu vou também. Pra vencer ou pra morrer com ele! Comerciante abastado e bem relacionado na região do Rio do Peixe, Guimarães depressa conseguiu recrutar cem homens bem armados e marchou com eles em auxílio do amigo Timotheo.

O COMBATE

Francisco Timotheo acercou-se de Boa Esperança, com os seus comandados, no início da noite do dia 26. No entanto, já tinha decidido que só atacaria na manhã seguinte, pois tinha conhecimento de que aqueles bandidos agiam à noite e dormiam durante o dia(*). Os Viriatos, por sua vez, ao notarem a aproximação daquela pequena tropa, debocharam, mandando repicar o sino da igreja e tocar sanfona, zabumba e cornetas, em clima de festa. (*) José do Patrocínio, em seu livro Os Retirantes, p 84, escreveu: Os Viriatos andam à noite, como as corujas agoureiras, com as onças; assustam e matam sem ver a quem o fazem. Nenhum deles por isso mesmo conhece as suas vítimas, nem é por elas conhecido, e no entanto ficam da passagem dos bandidos rastros de sangue e de cinzas, resultado dos assassinatos e dos incêndios .É noite e chove. Uma raridade nos sertões, durante julho. Um pouco pela chuva, um pouco pela iminência dos combates, ninguém dorme. Todos aguçam os ouvidos. Continuam repicando na escuridão os sinos da Capela da Conceição e as danças ao som das sanfonas e dos zabumbas. Entre os homens do Capitão, o silêncio. Diálogo mudo na treva chuvosa, prelúdio daquele combate histórico que fuzis, rifles e bacamartes travarão, mal desponte o dia.

Na manhã de 27, quando cessou o irônico folguedo na praça centralde Boa Esperança, o Capitão ordenou o ataque, suspendendo o sono dos Viriatos. Não durou muito para que estrugissem repetidos, prolongados e pavorosos viva aos Viriatos e, ao mesmo tempo, o bater dos mourões nas portas e janelas das casas. O espanto e a confusão propagaram-se e, de imediato, em todas as residências, cada um, temendo pela própria sorte, buscava refúgio para não ser atingido. A batalha começou heroicamente, envolvendo os combatentes dos dois lados, com um novo ressoar de cornetas e a vibração do sino daigrejinha. Desta vez, não mais em festa. Após três horas de um cerrado tiroteio, Francisco Timotheo, considerando sua posição de inferioridade em homens e armas, pensou em recuar. Contra ele, com mais de cem mosquetões e bacamartes, a artilharia inimiga, favorecida pela configuração topográfica do terreno, disparava cem cessar. Mesmo nessa condição, o Capitão logo ponderou: - “Uma retirada agora, em plena luz do dia, seria insensatez. E, para onde? Por onde? Seria levar ao sacrifício homens extenuados por dois dias de uma longa caminhada, uma noite sem dormir e horas a fio de intenso combate. – Eu nunca recuei na vida, por maior que fosse o perigo. Não será agora, quando empenhei minha honra e a de tantos companheiros que vou fazê-lo. Portanto, vou prosseguir.” Por volta do meio dia, quando o efetivo do Capitão já oscilava entre o cansaço e o desânimo, chegou o amigo Cazuza Marinheiro com a sua tropa, composta por cem guerreiros, ansiosos por entrarem na luta. -Compadre! – disse Cazuza a Francisco TImotheo. – Os seus homens estão exaustos! Recue para descansar com eles, enquanto eu e os meus assumiremos o ataque.

O tiroteio seguiu por toda a tarde, ora esparso ora mais intenso. Com o reforço de Cajazeiras, foram bloqueados os demais acessos à fortaleza dos Viriatos, do Muquén e de Monte Alegre (hoje um posto fiscal), ficando os bandidos completamente isolados. Favorecido por essa vantagem, metade do batalhão de Cazuza Marinheiro marchou veloz, sob uma saraivada de balas, até o início do arruado onde se entocavam os bandidos, a pouco mais de cem metros da igreja. Em menos de uma hora pisavam no centro de Boa Esperança os primeiros guerreiros do seu valoroso grupo, dispostos a tomar de assalto a cidadela. Alguns tombaram ali mesmo, atingidos pelos tiros do inimigo entrincheirado no interior do casario, que se erguia em torno da praça. Enquanto isso, houve um princípio de desorganização na formatura do combate, por parte das forças do Capitão. De repente, embora extenuados, seus soldados se reanimaram, vendo avançar à sua frente o próprio Francisco Timotheo, manejando seu rifle Winchester com a mesma presteza e velocidade com que os bandidos assomavam e desapareciam nas cumeeiras das casas em volta. Já era madrugada do dia 28 quando o Capitão foi informado da chegada de mais reforços. A boa notícia vinha de Lavras da Mangabeira (distrito de Milagres), no Ceará. Era uma volante composta de cento e quarenta homens da polícia estadual, com ordens para se apresentarem aele e submeterem-se ao seu comando. Com esse novo contingente, as tropas legais resolveram invadir, definitivamente, o reduto do inimigo. 

Acossados, os Viriatos e seus sequazes, que apesar das perdas, ainda somavam quase duzentos homens, fortaleceram suas trincheiras, com certa vantagem sobre os atacantes, uma vez que se posicionavam fora da pontaria destes. Os combates, agora mais organizados e também mais ferozes com a entrada do elemento policial, prosseguiram por mais três horas consecutivas. Sentindo-se perdidos, os bandidos atacavam atônitos, apenas o tempo necessário para uma pontaria malfeita, uma descarga e recuavam. Em seguida, protegiam-se pelas casas adentro, ou então lançavam-se, atrevidamente, sobre os invasores num desespero suicida, empunhando sabres e punhais num corpo a corpo de vida ou morte. Era uma cena dantesca, que provocou inúmeras baixas em seu próprio reduto. Por fim, perdidos e sem mais ilusão de vitória, os Viriatos improvisaram a própria fuga. Liderados por José Vicente Viriato, sob intenso tiroteio, os principais chefes do bando deslocaram-se de suas posições até o interior da capela onde algumas famílias permaneciam em segurança e rezavam. Ali eles rasparam barbas e bigodes, trocaram de roupa com suas companheiras, fizeram turbantes com tiras de pano na cabeça e fugiram disfarçados de mulheres. Muitos outros empreenderam a fuga rompendo as paredes internas das habitações e transpondo-as, uma a uma, até atingir o extremo da rua, por onde se evadiram. A formação dessas casas, todas conjugadas, facilitou essa estratégia de fuga.

Terminado o conflito, Francisco Timotheo dirigiu-se à Capela do lugar para agradecer a Deus pela vitória. Ao adentrar o seu interior, surpreendeu-se com a presença ali de dezenas de mulheres assustadas e em pranto, todas vestindo roupas masculinas. Diante disso, determinou aos seus comandados, que perseguissem imediatamente, e abordassem qualquer bando, ainda que de senhoras, caminhando às pressas, nadireção de Milagres-CE ou de Cajazeiras-PB. Retornando, tranquilizou aquelas criaturas aflitas, prometendo respeitar a integridade física dos prisioneiros e rezou com elas. Deu graças também porque nessa refrega a grande maioria dos seus comandados retornaria ao seio de suas famílias sãos e salvos. Apenas um deles perdeu a vida e seis sofreram ferimentos em combate. Mandou tocar o sino da capela e saiu. Eram 18 horas do dia 28 de julho de 1878.Perseguidos, o mais valente dos Viriatos, José Vicente, resistiu e foi morto. Seu irmão Miguel entregou-se às forças legais e foi conduzido com vários outros prisioneiros para Fortaleza, onde seriam julgados e condenados por seus inúmeros crimes. 

Quase seis meses depois, os jornais do Ceará publicavam as informações oficiais da guerra contra os Viriatos: [...] contavam-se treze mortos, sendo doze dos Viriatos e um das forças legais. Os feridos eram muitos de lado a lado. Ao retornarem para suas bases, os vencedores conduziam vários prisioneiros, cem cavalgaduras e grande quantidade de ouro e moeda, fruto dos inúmeros assaltos dos bandidos.

Cícero Pereira de Sousa, Bacharel em Ciências Jurídicas, escritor e pesquisador, consultor do SEBRAE, Ex Diplomata da ONU / FAO

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