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04 fevereiro 2016

JOÃO BOSCO, FUNCIONÁRIO DO DEPARTAMENTO DE CULTURA DE PAULO AFONSO SERÁ UMA DAS ATRAÇÕES DA NOVA NOVELA DA GLOBO - VELHO CHICO

Por João de Sousa Lima

João Bosco Gomes da Silva conhecido comediante de Paulo Afonso e funcionário do Departamento de Cultura, é um dos contratados pela Rede Globo de televisão, para atuar como Elenco de Apoio na nova novela "Velho Chico".

A equipe já realizou filmagens mostrando as paisagens naturais de Paulo Afonso e região, estiveram no povoado Juá e no Raso da Catarina.
Bosco é filho de Santina Gomes da Silva e reside no Bairro Mulungu (BTN).
Tem uma trajetória artística bem conceituada  em Paulo Afonso, sendo sempre convidado para abrilhantar festas, eventos educacionais e culturais. Já gravou um DVD (Surra que é Bom) e trabalhou como ator no filme " Cangaceiro Gato: Um Rastro de Ódio e Sangue".

Escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br 

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SOU MULHER, SOU NEGRA, SOU DA FAVELA E HOJE SOU MÉDICA


Ariana Reis, 32 anos, chegou ao fim de 14 anos dedicados à universidade: três de preparação para as provas de acesso, cinco do curso de Pedagogia, seis do de Medicina. 

No convite para a cerimônia de formatura, terminava com o seguinte: “Sou mulher, sou negra, sou da favela e hoje sou médica.” Porque “é difícil”.

Porque Ariana é a grande exceção num Brasil onde é raro encontrarem-se médicos negros nos hospitais. A “caçula” de 12 irmãos foi a primeira a ir para a universidade. Era a única mulher negra da sua turma na Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia. Em seis anos a estudar Medicina, cruzou-se com apenas duas estudantes negras de outros anos. “Nos hospitais sempre me confundem com a menina que limpa o chão. Se cai qualquer coisa: ‘Você vem aqui, pega o pano, limpa.’ Quantas vezes eu já ouvi isso? Muitas vezes. ‘Ah, é a enfermeira, a técnica.’ Se estou sentada lá na mesa — sabem que é um médico que está ali na mesa — ‘É você? Ah…’” E Ariana responde: “Vou chamar a pessoa responsável por isso.” Ou então mostra o distintivo na bata: “Está aqui, sou médica.”

Isto acontece com pacientes brancos e negros: “Na verdade, os brancos ficam mais impressionados. Os negros me abordam mais porque não estão acostumados a ver na sua comunidade pessoas em cargos assim de mais prestígio.” Ariana tenta mudar o olhar de quem a ofendeu: um negro não faz só limpezas, é possível que uma médica seja negra.

De facto, ela raramente se cruza com médicas negras — médicos ainda vai vendo, mas poucos. Cresceu a ouvir: “Negro não presta.” E por isso: “Cresci dizendo: ‘Meu Deus, eu sou negra e negro não presta.’ Não tinha orgulho de ser negra. Meu pai era o primeiro a dizer que negro não presta, que negro faz sempre coisa ruim e que não é para ter orgulho de ser negro — ele sendo negro.”

Mas o pai, pedreiro, morreu com orgulho da filha negra. Estava bastante doente, com Alzheimer, quando Ariana soube que tinha conseguido a bolsa para entrar em Medicina — cancelando assim o curso de Pedagogia que estava quase no fim. Chegou a casa, e contou: “Pai, passei em Medicina. Eu acho que ele entendeu. No outro dia faleceu. Isso é uma dor para mim. Ironia do destino, né? Filha passando em Medicina, pai falecendo no outro dia.”

Apesar de tudo, quando pedia dinheiro para livros, para a escola, ele dava. “Era o maior sacrifício.” Mas ele dava. Na época de aulas, tinha o costume de a esperar à noite nas paragens de autocarro, porque o bairro era perigoso e “tem que ficar olhando”. “Sempre me incentivou. Sempre.”

Ela cresceu a ouvir que negro não presta, mas cresceu também a dizer que queria ser médica. Aos 15 anos, estava num hospital com o sobrinho que tinha caído. Virou-se para o médico, até ali brincalhão, “dando risada”, e disse: “Olha, eu estudo muito para ser médica como você.’ Houve um silêncio da parte dele. Aquele que estava brincando, sorrindo, conversando com a gente se fechou. E aí, como eu falo muito baixo, [pensei] que ele não ouviu, falei mais alto: ‘Olha eu estudo muito porque quero ser médica como você, como o senhor.’ Aí ele virou, olhou para mim como se dissesse: ‘Ponha-se no seu lugar, você não vai conseguir.’ Saí dali arrasada. Arrasada.”

Tinha levado “um balde de água fria”. “Mas não desisti por isso, não.” Afinal, Ariana é conhecida por ser “do contra”: “Se tinha aquilo para fazer e ninguém conseguia, eu ficava, ficava, ficava até conseguir.”

Tentou Medicina, antes de entrar em Pedagogia, por três vezes. Numa delas, em que “não passou”, chegou a casa, à varanda de um apartamento numa favela, e “chorou, chorou, chorou”, lembra a mãe, no mesmo sítio, agora numa noite de Fevereiro, já com a filha formada. E o irmão a dizer-lhe: “Você vai alcançar, vai alcançar.” O irmão não está em casa da mãe na noite em que lá vamos, mas estão algumas das irmãs, sobrinhas e sobrinhos. Os jovens sentam-se na sala, logo à entrada, agarrados aos telemóveis e a olhar para o ecrã da enorme televisão. Vê-se logo a fotografia da cerimónia de formatura de Ariana, em formato gigante: ela de bata, cabelo arranjado, maquilhada. Morro acima, vivem as irmãs, noutras casas. Foi naquela sala que ela estudou e continua a estudar Medicina, com gente a entrar e a sair. No edifício ao lado, fiéis de uma Igreja Evangélica cantam alto, batem palmas.

Quando entrou em Medicina, pagava três mil reais por mês (cerca de 920 euros) — mas tinha uma bolsa do ProUni, um programa do Ministério da Educação que paga 50% da mensalidade a alunos em instituições privadas. Quando estudou Pedagogia, fê-lo ao abrigo das cotas raciais.

As cotas raciais é uma das políticas de ação afirmativa no Governo da Presidenta Dilma que pretendem aumentar a percentagem de população negra nas universidades.


No segundo país com a maior população negra do mundo a seguir à Nigéria, ser negro é pertencer a uma maioria de 51% da população de 200 milhões. Mas o último Censos, de 2010, mostrava que apenas 26% dos universitários eram negros; e apenas 2,66% dos alunos que terminaram o curso de Medicina eram negros, num estudo feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais para o canal UOL. Estes números explicam-se, em parte, com a despesa da educação no Brasil: quem estuda em escolas privadas até ao fim do secundário tem mais hipóteses de entrar nas universidades públicas, as melhores. Para conseguir pagar a universidade privada, Ariana fez uns trabalhos avulsos, como limpar a casa da irmã ou ajudar alguns colegas na faculdade. “É muito difícil. Consegui entrar na universidade porque cheguei num tempo em que meus irmãos já estavam trabalhando e puderam me ajudar também. As cotas ajudam e muito. Como é que a gente que vem da escola pública vai concorrer com esse pessoal da escola privada que não passou por greves de professores e de funcionários? É-lhes cobrado desde que nascem: ‘Vocês têm que ter um nível superior.’ Têm espelhos na família: médicos, engenheiros, professores. Nas famílias pobres, a maioria negras, a mãe é dona de casa, o pai é pedreiro, o pai está desempregado, o pai é bandido, o pai é ladrão.”

Ela estava entre os melhores da turma, diz. Em cirurgia, foi considerada a aluna-padrão. A diferença em relação aos outros é que tudo custava muito mais: saía de casa de madrugada para não apanhar engarrafamentos e garantir que estava nas aulas a tempo e horas, fazia “ginástica” ao dinheiro porque tinha de passar um dia inteiro fora de casa, tinha de comprar livros caríssimos, alguns a “mil, dois mil reais”…

Voltamos à história do convite. Queremos saber o significado daquela frase que ela colocou no final: “Mulher já é discriminada por si só, tem salários inferiores aos dos homens, se for negra ainda pior. Da favela, o pessoal acha que é ladrão. Virei médica: isso é possível.”

Para se ter uma ideia do que diz: com o mesmo nível de escolaridade, as mulheres brancas ganham 68,7% do salário dos homens brancos, enquanto os homens negros ganham metade e as mulheres negras menos ainda, 38,5% (dados retirados do estudo Igualdade Racial no Brasil: reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes, 2013, IPEA).

Ariana está num hospital militar como voluntária (mas tem um salário). Quer fazer bancos em hospitais do interior para ganhar algum dinheiro e estudar para fazer a prova de cirurgia geral. “Vou cursar dois anos de cirurgia geral em hospitais e terminando os dois anos vou prestar novamente prova para fazer residência em cirurgia pediátrica durante três anos.” Cirurgia porquê? “Gosto de resolver. E cirurgião resolve muito.”

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MARIA BONITA, A RAINHA DO CANGAÇO.

Por João de Sousa Lima

Maria Bonita, A Rainha do cangaço, em breve histórico do escritor João de Sousa Lima
MARIA BONITA
"A RAINHA DO CANGAÇO"

Dia 08 de março de 1911, o dia amanhece nublado e apesar da aparente calma que cerca o Sítio Malhada da Caiçara, município de Paulo Afonso, Bahia, no casebre do casal José Gomes de Oliveira (conhecido como Zé, de Filipe) e Maria Joaquina Conceição Oliveira (dona Déa), uma forte tensão ronda um dos quartos da casa. Mais alguns minutos e ouve-se um choro de uma criança que acabara de nascer. Era a segunda filha do casal, a primogênita chamava-se Benedita Gomes de Oliveira.

A parteira levou a criança até a sala onde o pai e a mãe aguardavam a nova vida. No calor dos braços paterno a criança foi acalentada e admirada. Nos mesmos braços ela receberia o nome: Maria Gomes de Oliveira. Um nome que na adolescência seria reduzido para Maria de Déa e alguns anos mais tarde, já no cangaço, passariam a se chamar Maria de Lampião ou Maria do Capitão, até tombar morta, em 28 de julho de 1938 e ter o nome de Maria Bonita, imortalizado, propagando-se e ganhando fama através das violas dos ágeis improvisos dos poetas repentistas, sendo tema de livros, filmes, teses e estudos sociológicos.

MORENA BONITA E FACEIRA
DOS LÁBIOS BELOS ROSADOS
FLOR QUE A DOCE BRISA CHEIRA
NOS RAMALHETES SAGRADOS

CABOCLA COR DE CANELA
QUE ATÉ O VENTO PALPITA
SENTINDO OS OLHOS DA BELA
DA RAINHA MARIA BONITA
  
João de Sousa Lima
Escritor.

Para conhecer mais:

A TRAJETÓRIA GUERREIRA DE MARIA BONITA, A RAINHA DO CANGAÇO.
75-98807-4138
WWW.joaodesousalima.blogspot.com
joaoarquivo44@bol.com.br 










Escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

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LAMPIÃO - Herói de Cinema

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Quando pesquisamos o cangaço, chegam em nossas mãos muitos artigos e livros, fora os e-mails de confrades. Como se diz, é a perder de vista. São um universo de escritores, jornalistas, pesquisadores, historiadores e amantes do assunto, que alimentam esse formidável veio aurífero onde encontramos aproximadamente 477.000 resultados para a palavra no site de buscas do google. Para a busca "Lampião e Maria Bonita" temos aproximadamente 276.000 resultados. Para "Lampião" temos aproximadamente 545.000 resultados. Para "Lampião em Sergipe temos aproximadamente 136.000 resultados.

Sim, é um assunto eloquente e viciante ao ponto de anualmente diversas sociedades voltadas para o mesmo, reunir seus associados para trocarem conhecimento. Trago hoje para os amigos, uma matéria da revista Fatos e Fotos, da coleção particular que pertence a nosso amigo e pesquisador Geziel Moura, que reside em Belém do Pará e que a enviou para o grupo Luar de Prata (clique) que é uma página no Facebook direcionada para a cultura de modo geral e arquivos compartilhados de livros e publicações de assuntos diversos. Vamos então a essa reportagem:


DEZEMBRO de 1932. A seca castigava implacável o sertão e o agreste baiano, mas a perseguição a Lampião continuava. Foi instituído, pelo chefe de polícia da Bahia, um prêmio de dez contos de réis pela captura do cego, vivo ou morto. (Cego era o tratamento dado pe-la polícia para Lampião.) Os interventores da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, firmaram um convênio no sentido de empregar todos os recursos possíveis contra o cangaceiro, que permanecia no Raso da Catarina como um desafio a toda e qualquer estratégia militar. Com o auxilio de coiteiros de Lampião, presos e seviciados pela policia, foi feito um levantamento do Raso. Tropas baianas, pernambucanas, sergipanas e alagoanas foram entregues ao comando de oficiais do Exército; entre eles, os Tenentes Ladislau, Liberato, Manuel Arruda, Filadelfo Neves, Campos de Meneses, Luís Mariano, Arsênio de Sousa e Osório Cordeiro. Cada tropa era formada por cinquenta homens. 


As tropas saíram de Jeremoabo, abrindo picadas a facão-de-mato, e cruzaram por Bebedouro, Abobreira, Rosário, chegando à boca do Raso. Alguns positivos de Lampião (que eram os coiteiros de absoluta confiança) correram a avisar o cangaceiro que a macacada estava na sua rabeira, tal qual onça no rasto de quati, disposta, dessa vez, a entrar no Raso, de qualquer maneira. 

No dia 7 de dezembro de 1932, por volta das 10 horas da manhã, as fôrças volantes dos quatro Estados surpreenderam Lampião numa caverna na Serra do Chico, em pleno Raso da Catarina.

Os cangaceiros brigavam de faz-de-conta para serem filmados. Lampião fazia poses especiais para o filme. Os homens, cantando, tiravam água dos crauás e dos gravatas para preparar o de comer, e as mulheres cuidavam de arrumar as tacurubas para o fogão. Rajadas de metralhadoras varreram o coito e os cangaceiros, atarantados, não puderam oferecer resistência. 

Uns caíam feridos, outros mortos. Lampião colocou Maria Bonita às costas e fugiu pelos fundos da caverna. Com ele, fugiram Corisco, Volta Seca e mais uns dez cabras. Na fuga, levaram apenas a roupa do corpo. Os soldados penetraram na caverna e recolheram armas, munição, chapéus de couro, bogós, alpercatas de rabicho, perfumes, moedas de ouro e o livro "A Vida de Cristo", de Papini, que Lampião havia ganho em Capela. 

Quebrou-se assim o encanto de Lampião no Raso da Catarina, onde êle nunca mais botou o pé. Dessa estirada do Raso, o cangaceiro foi bater em Itapecuru, onde só não matou o Dr. João da Costa Pinto Dantas, filho do Barão de Jeremoabo, que era um dos seus coiteiros, porque ele foi avisado a tempo e fugiu para Salvador. 


O árabe cinegrafista estava em todas ao lado das cangaceiros; fazia questão de aparecer na fita.

Lampião atribuía ao Dr. Pinto Dantas a denúncia do local em que se encontrava no Raso da Catarina. 

Após assaltar um armazém em Itapecuru, de onde carregou bastante munição de boca, todas as armas de fogo e até as faquinhas canindé de cabo de chifre, Lampião foi seguindo no rumo de Massaracá, onde encontrou uma fôrça de contratados (famintos, como chamava), comandada pelo sargento José Joaquim de Miranda, a quem apelidara de Bigode de Ouro. 

Na luta que então se travou, o sargento foi morto por Lampião com uma punhalada no peito. Entre os anos de 1932 e 34, Lampião viveu num corre-corre incessante. Trajados à moda do cangaço, os soldados batiam pelos sertões e pelas caatingas dia e noite, quase sem descanso, e Lampião furava num vaivém entre a Bahia e Alagoas. Dividiu o bando em três grupos, entregou a chefia de um a Corisco e de outro, a Virgúrio, apelidado de Moderno, que era seu cunhado (fora casado com Angélica, a irmã mais moça de Lampião e que já era morta). 

Enquanto um grupo invadia Canindé, em Sergipe, outro atacava Bonfim ou Pombal, na Bahia, e Lampião chegava de surpresa, chefiando dez cabras, a Pão de Açúcar, Alagoas. Esses ataques, feitos quase ao mesmo tempo, na zona do São Francisco, desorientavam a polícia. Havia um ponto convencionado para o encontro dos três grupos em dia determinado. 

Para desnortear os rastejadores, que tinham faro de onça parida e curavam bicheira no rasto, os cangaceiros andavam léguas e léguas a pé, a um de fundo, todos a pisar, cuidadosamente, a mesma pegada, dando a ideia de um só caminheiro. Quando as volantes estavam pega-não-pega, os cangaceiros subiam às céreas de pau-a-pique e andavam, como macacos de verdade, agarrando-se aos moirões.


Foi no ano de 1934 que o bando de Lampião caiu, perto da fazenda Touro, em Macambira, na Sabiá, numa tocaia armada pelo Tenente Arsênio de Sousa com um grupo de contratados. O bando vinha de assaltar as vilas de Arrasta-Pé e Ana Bebé, quando foi tocaiado numa garganta de serrote. Ezequiel, Ponto Fino foi atingido por uma descarga de metralhadora, que lhe rasgou a barriga, e ficou com as tripas na mão. Como não era possível carregá-lo para longe, tal a fuzilaria, que não deixava sequer alguém aproximar-se do seu corpo, Lampião, compreendendo que o irmão não sobreviveria, dormiu o olho esquerdo na mira do fuzil e amolegou o dedo no gatilho: deu o tiro de misericórdia em Ezequiel, Ponto Fino, e bateu em retirada. 

Lampião dizia sempre aos seus cabras que era preferível matá-lo, caso o vissem ferido irremediavelmente num combate, do que o deixarem agonizante para cair em poder dos macacos. Ezequiel era o terceiro e último irmão que Lampião perdia no cangaço. Restavam-lhe apenas as irmãs Anália (que ainda vive na Várzea do Pico, em Agua Branca, Alagoas) e Maria, chamada Mocinha, além de João, o único irmão que não o acompanhou na vida criminosa e que reside atualmente em Propriá, Sergipe. (Mocinha é viva também e mora em companhia de João.) A esta altura, Lampião estava totalmente cego do ôlho direito. Esse fato e mais a morte de Ezequiel Ponto Fino, que era o irmão a quem mais estimava, por ser o caçula, e ainda por insistência de Maria Bonita, que vivia então a lhe pedir para ver se conseguia o perdão das autoridades, a fim de comprarem uma fazenda e viverem em paz, entregou praticamente a chefia do bando a Corisco e aquietou-se nas ribas do São Francisco, entre Alagoas e Sergipe. 

Numa das suas andanças pelo sertão de Sergipe, bateu um dia na fazenda do Dr. Bragança, que era oculista e tinha consultório em Aracaju. Pediu que lhe examinasse o olho esquerdo, cuja visão começava a falhar. Apesar das versões de que ele ficara cego do olho direito por ter sido atingido por uns galho de jurema ou por um tiro, o certo é que o Dr. Bragança (cujo filho, padre Francisco Bragança, conhecido como padre Bragancinha, é o atual diretor do Instituto de Química Parreiras Hortas, em Aracaju) diagnosticou um glaucoma congênito, que já estava provocando a perda da vista esquerda do cangaceiro.

Em janeiro de 1935, Lampião prendeu em Forquilha, Alagoas, o promotor Manuel Cândido, de Água Branca, por ter sido informado que ele havia escrito um livro cheio de mentiras sobre os cangaceiros. O promotor começou então a contar uma história triste, disse que só tinha medo de morrer porque deixaria ao desamparo a sua filhinha de seis anos de idade.

— Virgulino, agaranta o doutô — disse Maria Bonita ao ouvir falar na menina, e o promotor foi posto em liberdade. Como a de Manuel Cândido, muitas vidas foram poupadas pela intercessão de Maria Bonita. 

O prefeito da cidade alagoana de Pão de Açúcar, Joaquim Resende, recebeu, em agosto de 1935, um bilhete de Lampião, pedindo-lhe quatro contos de réis, com a promessa de tornar-se seu amigo. Mandou dizer, em resposta, que só entregaria o dinheiro pessoalmente. Três dias depois, novo bilhete: que fosse então sozinho à fazenda Floresta, em Porto da Folha, e o esperasse a um hora da madrugada. Foi e levou alguns litros de conhaque. Encontraram-se, beberam cordialmente. Perguntou:

— Quanto quer em dinheiro? 

Lampião respondeu: 

— O doutô dá quanto quizé. Eu dou mais por um amigo de que pulo dinhero. 

Tornaram-se amigos. Lampião deu-lhe um cartão, onde escreveu: "Au Amo. Joaquim Rezendis como prova di amizadi e garantia perante os Cangaceiro. Oferci C. Lampeão." Esse cartão (igual a tantos outras que valiam como salvo-conduto na região dominada pelos cangaceiros) está atualmente em poder do jornalista Melquíades da Rocha, chefe de reportagem de "A Noite", do Rio. 


Foi em 1936 que Lampião entrou para o cinema, como herói, apesar de o Cinema Parisiense, no Rio (onde hoje é o Teatro Nacional de Comédia, na Avenida Rio Branco) ter exibido, de 27 de julho a 2 de agôsto de 1931, um filme-documentário sobre a chacina do Rio do Peixe, na Bahia, com o título de "Lampião, o Terror do Nordeste". Esse filme, montado com fotos de vários fatos da vida do cangaceiro, foi o ponto de partida da filmografia de Lampião. 

Um árabe chamado Abraão Benjamim, que era cinegrafista e morava no Juazeiro do Norte, onde fez vários documentários sobre a vida e os milagres do padre Cícero para a Aba Filme, de Fortaleza, juntou-se aos irmãos José (conhecido por Zé da Bodega) e Noel Cassis, que viviam mascateando no Juazeiro, e com eles saiu pelos sertões à procura de Lampião, levando filmes e uma máquina de filmar Rimam), de 35 milímetros. As façanhas de Lampião abalavam o País e filmar os seus movimentos era desejo, inclusive, de cinegrafistas alemães, norte-americanos e franceses, que vinham ao Brasil com esse objetivo, mas não se arriscavam à aventura. 

Depois de três meses de procura, o árabe e os irmãos Cassis encontraram Lampião na divisa de Alagoas com Sergipe. Como já eram conhecidos do cangaceiro e porque levavam um bilhete do padre Cícero pedindo que os atendesse, Lampião não se recusou a ser filmado com o bando. Pensou apenas, de início, que a máquina de filmar fosse uma bordadeira, que é como chamava metralhadora. 

Abraão Benjamim passou seis meses em companhia de Lampião. Para documentar a sua proeza — que foi, sem dúvida, maior façanha de reportagem feita até hoje no Brasil — armava a máquina, em certas tomadas de cena, e posava ao lado de Lampião, Maria Bonita, do bando todo, enfim. 

Dois meses após ter deixado Lampião, o árabe foi assassinado, com cerca de cinquenta facadas, em Pau dos Ferros, perto de Vila Bela, Pernambuco. O capião do filme, que foi apreendido pela policia de Fortaleza, por ordem do DIP, sob a alegação de que a sua exibição dificultaria a captura do cangaceiro, foi recolhido à Secretaria de Segurança do Ceará, onde ficou esquecido até 1957, quando o cinegrafista Ale-xandre Wulfes o descobriu. 

Por ter sido atirado ao chão, guardado em latas que enferrujaram, vários pedaços do filme não puderam ser aproveitados. Depois dos cortes, ficou resumido a apenas quinze minutos de projeção. No começo de 1937 houve um desentendimento entre Corisco e Lampião na partilha do dinheiro de um assalto. Corisco decidiu passar a agir por conta própria, internando-se no sertão de Alagoas, e Lampião passou a Sergipe, onde havia feito amizade com o coronel Antônio Caixeiro, dono de uma fazenda em Angico, perto de Porto da Folha. 

Lampião, em junho de 37, tentou invadir Serrinha, a cinco léguas de Garanhuns, Pernambuco, e foi rechaçado pelas fôrças comandadas pelo Tenente Manuel Neto e Capitão Miguel Calmon. Nesse combate, Maria Bonita foi atingida na coxa esquerda por uma bala de fuzil. 

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EXPEDITA FERREIRA FILHA DE LAMPIÃO E MARIA BONITA


Expedita de Oliveira Ferreira Nunes (Porto da Folha13 de setembro de 1932) é a filha mais velha de Virgulino Ferreira da Silva e de Maria Gomes de Oliveira, respectivamente, Lampião e Maria Bonita.

Expedita nasceu em Porto da FolhaSergipe, em 1932. Filha de Lampião e Maria Bonita, seus pais faleceram quando Expedita tinha apenas 5 anos. Ela foi criada pelos vaqueiros Severo e Aurora desde seus 21 dias de idade até seus 8 anos, já que seus pais viviam na luta do cangaço e não puderam criá-la. Só viu seus pais biológicos por três vezes na vida e os pais adotivos nunca esconderam dela a verdade. Expedita também conviveu com 11 irmãos de criação, todos filhos legítimos do casal de vaqueiros, no qual ela os considerava de fato irmãos. Aos 8 anos foi morar na cidade de Propriá (SE), na casa do tio paterno, chamado João Ferreira, o único que não seguiu o cangaço.

Continuou os estudos e ao terminar o primário passa a querer trabalhar, mas o tio a impede, por ela ser mulher e jovem demais. Revoltada, querendo sua independência, ela sai de casa com 14 anos. Ela vai morar com os pais adotivos em Aracaju. Lá ela passa a trabalhar no comércio, tendo trabalhado em diversas lojas e fez muitas amizades. No começo sentia vergonha por ser filha de cangaceiros e evitava comentar, todos sempre a aceitaram, mas ela nunca entendeu bem se o cangaço era bom ou mau.

Em Aracaju reencontrou seu melhor amigo de infância, Manoel Messias Nunes Neto. Eles se conheceram aos 6 anos de idade e ficaram amiguinhos como toda criança. Quando fez 10 anos o tio a prometeu a ele, pois na época o parente mais próximo escolhia logo um menino para casar a menina no futuro, e o mais cedo possível. Após meses de amizade, começaram a namorar. Os pais foram contra por ela ser muito jovem, e com raiva, ela saiu de casa e alugou um quarto numa pensão. O namoro prosseguiu. Manoel foi o primeiro e único namorado de Expedita. Com um ano de namoro, aos quinze anos, a jovem descobriu estar grávida, ficando muito assustada. Manoel, com 20 anos, não a deixou por isso, e a chamou para morar com ele na casa de seus pais.

Ao completar 18 anos e já com dois filhos, Manoel, com 23, a pediu em casamento, por ela já ser maior de idade e ele já ter juntado dinheiro para casar. A união foi feita em um cartório, com uma festa muito bonita, onde compareceram todos seus irmãos adotivos, o tio e os pais adotivos. A noiva passou a assinar Expedita de Oliveira Ferreira Nunes.

O casal teve 4 filhos: Dejair, Vera, Gleuse e Iza. Expedita também é avó de três netas: Karla, Gleusa e Luana.

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03 fevereiro 2016

EUCLIDES RODRIGUES DA CUNHA - AUTOR DE "OS SERTÕES"




Infância e juventude [editar | editar código-fonte]

Euclides nasceu na fazenda Saudade, em Cantagalo, filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe desde os 3 anos, passa a viver em casas de parentes em TeresópolisSão Fidélis eRio de Janeiro. Em 1883 ingressa no Colégio Aquino, onde foi aluno de Benjamin Constant, que muito influenciou a sua formação introduzindo-lhe à filosofia positivista

Em 1885, ingressa na Escola Politécnica, e no ano seguinte, na Escola Militar da Praia Vermelha, onde novamente encontra Benjamin Constant como professor[3] [4] .

Clique no link abaixo para ler a biografia completa de Euclides Rodrigues da Cunha

https://pt.wikipedia.org/wiki/Euclides_da_Cunha

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LAMPIÃO - A análise de poeiras em criminalística


Esse artigo "Lampião / a Analise de Poeiras em Criminalística" da publicação "Enciclopédia da Luta Contra o Crime" com textos de diversos autores traz no fascículo de número 60 o texto de John Merionès Shawi  onde encontramos algumas informações divergentes com a maioria dos autores e pesquisadores, mas que é um razoável em seu conteúdo. Foi lançada no ano de 1974 pela Abril Cultural e constitui-se de seis volumes.LAMPIÃO - Por John Merionès Shawi

Assassinando um inimigo no Ceará, sua terra natal, Antônio Alves Feitosa fugiu para Pernambuco com seu filho José e se estabeleceu no povoado de Carqueija. Com a morte de Antônio, José trocou seu sobrenome marcado pelo crime do pai e adotou o de Ferreira da Silva. Casou-se com Maria Lopes e mudou-se para uma fazenda que comprou em Ingazeira. Teve nove filhos: Antônio, Livino, Virgulino, Virtuosa, João, Angélica, Maria, Ezequiel e Amélia. Embora desejasse acima de tudo paz e tranquilidade, José Ferreira da Silva não pôde deixar de se aliar a uma grande família, os Pereira. Seu vizinho, José Saturnino, pertencia ao clã dos Nogueira, aliados dos Carvalho. Ferreira da Silva e Saturnino desejavam manter boas relações, mas, como seus "patrões" se encontrassem num conflito encarniçado, suas relações só podiam se deteriorar.

Por causa de algumas cabras — furtadas diziam uns, perdidas diziam outros — as duas famílias passaram das ofensas à linguagem dos fuzis. Antônio, o filho mais velho de José, é ferido. Para evitar a continuação da violência, os Ferreira da Silva deixam a fazenda e mudam-se para outra propriedade que possuem, em Nazaré. Mas o ciclo de violência fora iniciado. Os Saturnino passam a perseguir os Ferreira da Silva. Depois de três horas de cerco, os Saturnino são rechaçados, sofrendo uma baixa. José muda-se de novo ajudando a incendiar a fazenda de uma família rival, Lampião e seu irmão Livino tornaram-se marginais.

Com sua família e se instala em Olho d'Água, a 46 quilômetros de Mata Grande, em Alagoas. Seu obstinado pacifismo não basta, porém, para afastá-lo da luta entre famílias. Seu primo, Antônio Matilde, é agredido pelos Saturnino e envia uma mensagem a Livino e Virgulino, dois dos filhos de José Ferreira da Silva, pedindo-lhes que o ajudem na vingança. Antônio Matilde forma um grupo de quinze homens que vai queimar a fazenda Pedreira, pertencente a José Saturnino. Em Mata Grande, Antônio Matilde, Livino e Virgulino passam a ser procurados pela polícia e decidem dar uma lição a um delegado, dócil aos Carvalho: espancam-no e destroem sua casa. Em seguida, partem para Pernambuco. José Ferreira da Silva também realiza uma nova migração — sua última tentativa para preservar seus filhos do cangaço.

Sua mulher morre de exaustão, na estrada, e dez dias depois o próprio José Ferreira da Silva cai, vítima do ataque de uma volante à sua casa. Assim que recebem a notícia, seus três filhos mais velhos voltam para Alagoas. Embora mais moço do que Antônio e Livino, Virgulino assume a chefia da família e distribui as responsabilidades: — João, você cuidará de nossas quatro irmãs e do pequeno Ezequiel. Vá para longe daqui, procure um lugar onde possa viver em paz ... Em seguida, traça a linha de conduta dos mais velhos:

— Nós perdemos tudo. Só nos resta matar, até a morte. 

O ano era o de 1919 e Virgulino tinha 21 anos de idade. Em 1920, os três irmãos entram para o bando de Sinhô Pereira e Luís Padre, que dá caça aos Carvalho, aos Nogueira e aos Saturnino. Depois do primeiro confronto mais sério, Virgulino conta a seus companheiros:

— Durante o tiroteio contra a volante, meu fuzil iluminava a noite como se fosse um lampião. Luís Padre acha muita graça nessa comparação e dá a Virgulino Ferreira da Silva a alcunha pela qual ficou conhecido: Lampião. Durante dois anos, o bando de Sinhô Pereira pilhou os Estados de Pernambuco, Alagoas e Ceará. No correr dos ataques, das emboscadas e das retiradas, Lampião revelou-se um estrategista e um combatente excepcional. Ao resolver deixar o cangaço e recomeçar a vida longe dali, foi a Lampião que Sinhô entregou a chefia do bando. A seu sucessor, confiou também duas missões, duas vinganças que não pôde realizar. Lampião resolveu cumprir suas promessas sem demora.

Luís Gonzaga, prefeito do município de Belmonte, é a primeira vítima. À frente de seus homens, Lampião invade o lugar — um povoado importante — e cerca a prefeitura. Aterrorizado, o prefeito prefere se jogar pela janela a cair vivo nas mãos dos cangaceiros. Ateando fogo às roupas e arquivos encontrados na casa, Lampião lança ao braseiro o corpo do suicida.

A segunda vítima marcada, João Nogueira, prefere fugir. Enquanto procura sua pista, Virgulino mata-lhe o pai e alguns outros membros da família. Consequência imediata: os Nogueira e seus aliados se alistam na polícia de Pernambuco. Tendo cumprido sua palavra, Lampião iria, daquele momento em diante, impor sua própria lei ao sertão.

VINGANÇA PARA TODOS

Todo aquele que se opõe vitoriosamente aos poderosos, mesmo quando sua motivação não é das mais exemplares, torna-se rapidamente um herói aos olhos das massas miseráveis e oprimidas. Entrando no cangaço por um desejo de vingança pessoal, Lampião passou a simbolizar rapidamente as esperanças dos pobres do sertão. Através das proezas do "capitão", os oprimidos viviam um sonho de liberdade e de justiça que os cangaceiros não expressavam conscientemente. Lampião considerava sua revolta como o resultado amargo das circunstâncias; era mais um bandido de honra do que um bandido social. Havia nele mais aristocracia do que rebelião: comportava-se como um príncipe fora-da-lei, não como um revolucionário. Mas a lenda não se embaraça com muitas sutilezas nem se perde na penumbra da psicologia. Se Lampião se mostra corajoso, generoso, tira dos ricos para dar aos pobres, ele é o campeão do povo. Tremia-se ante o relato de suas crueldades, esqueciam-se os seus laços com alguns coronéis: era melhor ignorar as suas sombras e acalentar o coração à sua luz. "Onde vive o Lampião, a minhoca fica corajosa, o macaco enfrenta a onça, o carneiro não é carneiro."

Ao chegar à localidade de Princesa, na Paraíba, o "capitão" é aclamado e festejado, pois acaba de dizimar a família Dantas, que há muito tempo oprimia e humilhava a população local. Um dos sobreviventes da família Dantas entra para a polícia a fim de se vingar do bandido. Toma-se o sargento Quelé, um dos mais determinados adversários de Lampião. 

Em 1923, descobrindo um dos informantes do "capitão", Quelé o torturou até que ele revelasse o esconderijo do cangaceiro na caatinga. Depois, aproximou-se silenciosamente do lugar, cercado de uma barreira de arbustos espinhosos e, subitamente, desencadeou nutrida fuzilaria. Surpreendido, Lampião ordenou imediatamente a retirada, sem barulho. Não encontrando resistência, os soldados diminuíram o fogo. Nesse instante, os cangaceiros fizeram meia-volta, surgiram do cerrado e lançaram-se sobre os soldados numa carga terrível, berrando, cantando e xingando os adversários a plenos pulmões. Esse contra-ataque, de uma violência inacreditável, colocou os soldados em debandada. 

Mas Lampião ficou ferido no decorrer dessa luta; um de seus homens o carregou às costas durante a interminável caminhada que se seguiu pela caatinga. Em 1924, Lampião dá a impressão de ser onipresente. Surge na Paraíba e saqueia a povoação de Souza. É visto em todo o Estado de Pernambuco e enfrenta as volantes várias vezes. Executa algumas vinganças e reabastece-se em diversas localidades. Ele e seu bando se deslocam quase sempre a pé, dada a excepcional resistência dos cangaceiros. 
(1) Lampião e sua fiel companheira, Maria Bonita. A jovem tinha apenas 19 anos e vivia com um sapateiro chamado Zé do Nenen, quando encontrou o bandido. Segundo a lenda, ela imediatamente se dispôs a segui-lo por toda parte e até o fim da vida. (2) Padre Cícero Romão Batista, personalidade de forte ascendência sobre as populações nordestinas. (3) Maria Bonita, num raro momento de tranquilidade. 
Cangaceiro Corisco, considerado como o braço direito de Lampião, com sua mulher, Dadá. 
EPISÓDIOS

Sempre vitorioso, a lenda do "capitão" se firmou em todo o sertão e lhe conferiu um poder real. Alguns episódios o provam e permitem traçar o retrato do bandido. Ferido no olho por um galho de espinhos, Lampião encontra pouco depois um jovem médico do Rio de Janeiro, a caminho de seu novo posto. Eis o que se passou, segundo Pássaro Preto, um dos "cabras" de Virgulino: 

— O moço empalideceu; pensou que Lampião quisesse matar alguém formado pela universidade a fim de aumentar o rol de seus feitos. Suplicou ao cangaceiro que o poupasse, que era o único arrimo de uma velha mãe e de muitas irmãs. Lampião sossegou-o, dizendo: "Não tenha medo, doutor, o senhor está são e salvo. O senhor vai apenas desaparecer por uma semana; preciso do senhor para tratar do meu olho machucado. Vamos nos refugiar na serra que pode ver no horizonte. Conheço ali algumas cavernas que são verdadeiras casas". O médico foi forçado a acompanhar o bando. Ele levava remédios na sua bagagem e pôde tratar do ferimento. Cinco dias depois a infecção ce-dera quase que completamente e Virgulino resolveu libertar o jovem médico. Deu-lhe 4 contos de réis em pagamento pelo trabalho e conduziu-o até a estrada. Ao se despedir, perguntou onde pensava se estabelecer e prometeu: "Siga o seu caminho sem medo, doutor. Prometo-lhe que durante muito tempo não haverá outro médico nas suas paragens. O senhor será o único ali e ganhará muito dinheiro ..." 

De fato, Lampião fez tantas ameaças que nenhum outro médico ousou se estabelecer na região, e o médico conseguiu formar uma grande clientela. Lampião também se impunha aos outros bandos de cangaceiros que operavam no sertão. Em 1925, o "capitão" e seus homens entram na aldeia de Custódia, reclamando dinheiro e remédios. Contente com a acolhida da população, Lampião redige uma carta em que declara colocar o povoado sob a sua proteção. E diz ao farmacêutico: 

— Se outros cangaceiros aparecerem por aqui, o senhor só precisa mostrar este bilhete que estará são e salvo. O poder de Lampião viu-se subitamente confirmado pelas autoridades do Estado. Depois de Custódia, o bandido ocupou em quinze dias três povoados. De Rio Branco — sua última conquista — telegrafou ao governador de Pernambuco, ameaçando cercar Recife se os destacamentos policiais continuassem no seu encalço. O governador assustou-se e mandou suspender a perseguição. Lampião não teve problemas para tomar as vilas de Granito, Leo-poldina e Cabrobó.

O CAMINHO CAÓTICO

Entretanto, a despeito de sua popularidade e de seu poder de fogo, o "capitão" não procura estruturar sua revolta e lhe dar urna expressão reivindicativa. Nunca tenta organizar as massas que lhe são espontaneamente favoráveis. Lampião é um bandido, um excepcional comandante, mas incapaz de imaginar seu papel, em termos de poder. Entre ele e Pancho Villa existe a distância infinita de uma revolução mental. Nos dois casos, o sentido da honra e o desejo de vingança moldaram o destino, mas por caminhos opostos. Enquanto Villa participa da transformação da realidade social mexicana, Lampião, bandoleiro glorioso e solitário, não compreende nada dos problemas e movimentos da sociedade brasileira. A vida de Lampião não passa de uma sucessão de combates, fugas, atos cruéis ou nobres, sem que nunca ele tenha pensado em unificar, dar um sentido a essas ações. Virgulino não domina o seu destino — sofre-o; sabe defender-se maravilhosamente, mas é cego. Além disso, periodicamente sonha com a respeitabilidade, ser reconhecido e acatado pelas autoridades, servi-las se preciso. Vários episódios ilustram esse desejo de reintegração social — são como encruzilhadas no caminho caótico do bandido. 

Em fins de 1925, chefiando trinta cangaceiros, Lampião assalta a fazenda de Vicente Moreira, que se encontra sozinho. O fazendeiro se defende bravamente por todos os lados e os bandidos não conseguem vencê-lo. — Vicente Moreira, cabra da peste, você devia morrer hoje. Mas você é muito valente; não se deve matar um homem como você. Saia de casa, façamos as pazes — grita Lampião. Os dois homens parlamentam longamente e entram num acordo. O "capitão" promete não atacar mais nem Moreira nem seus parentes, particularmente José Saturnino, seu mais velho inimigo. E cumpre a palavra. Pouco tempo depois disso, ocupa a cidade de Flores, mata o chefe da família Teotônio, que o denunciara à polícia, e, em seguida, resolve se refugiar na casa de José Jósimo, um de seus amigos coronéis. 

Na estrada de São João dos Leites, o bando é atacado por uma volante da polícia. Os cangaceiros conseguem escapar, mas Livino, um dos irmãos do "capitão", cai morto e os soldados ficam com o seu corpo. "A perda do irmão afetou muito a Lampião; ele ficou muito triste e deixou crescer o cabelo e a barba em sinal de luto." Depois desse revés, o bandido comprou uma fazenda na localidade de Barreiros, perto de Vila Bela, Estado de Pernambuco, onde pretendia viver em paz. E — estranha ingenuidade — enviou uma mensagem ao governador na qual lhe propunha dividir Pernambuco em duas partes: o governador reinaria nas regiões costeiras, enquanto Lampião dominaria o sertão . A absurda iniciativa demonstra o temperamento feudal do cangaceiro.

UM RICO TURISTA

O ano de 1927 começou de modo dramático. Antônio, o irmão mais velho, foi morto por um tiro de fuzil disparado durante um jogo. Lampião sentiu profundamente o acidente. Fechou-se durante seis meses no vale do Pajeú e chamou para junto de si seu irmão caçula Ezequiel, então com quinze anos. O rapaz revelou-se um atirador de espantosa habilidade e Lampião lhe deu o apelido de "Ponto Fino". Com ele e uns cinqüenta "cabras", resolveu assaltar a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Era uma empreitada insensata, sobretudo porque o cangaceiro anunciara a sua chegada. Antes de atingir Mossoró, incendiou algumas aldeias, pensando apavorar assim os habitantes da cidade, para tomá-la sem luta. Errou no cálculo: tendo tido tempo de avaliar a força do bando de assaltantes, o chefe da polícia organizou a defesa da cidade e, em conseqüência, Lampião e seus homens foram repelidos. Essa derrota fez renascer suas hesitações: como abandonar o cangaço? Refugiou-se no Ceará até o fim do ano. Como a polícia estivesse no seu encalço, dispersou seu bando e partiu para o norte da Bahia, onde foi acolhido pelo coronel Petronilho, o mais rico fazendeiro-da região, que o ajudou o melhor que pôde. Lampião foi encarregado de cuidar do gado solto nos grandes pastos de uma das suas fazendas, Gangorra. "A regeneração de Lampião foi com-pleta. Durante um ano viveu tranqüilamente. Soube conquistar a simpatia de quase todos os moradores dos arredores. Tratava-os com grande amabilidade e gastava prodigamente todo o dinheiro que havia juntado. Depois, passou seis meses na fazenda Três Barras. Levava uma vida de turista rico. Muitos bandidos da região resolveram viver perto dele: Corisco, Antônio de Ingrácia e outros, atraídos pela divertida vida que se levava ao lado do 'capitão'. Mais de cem homens e mulheres moravam então na fazenda. Sua palavra era lei. Ele se tornara uma autoridade na região. Periodicamente ia até a cidade próxima, Jeremoabo, onde conversava com o prefeito, o juiz, o delegado de polícia." (Optato Gueiros: Lampião.) Entretanto, as volantes vindas de Pernambuco continuavam a vigiar as idas e vindas do cangaceiro. Muitos de seus elementos tinham contas pessoais a ajustar com Lampião e não estavam dispostos a desistir dos seus intentos de vingança.

SÓ O DIABO PODE RESISTIR

A perseguição, às vezes, colabora com o acaso. Voltando de Jeremoabo a Gangorra, o "capitão" notou que era seguido por uma volante. Com seus companheiros, desapareceu na caatinga, reaparecendo depois no distrito rural de Santa Brígida, na fazenda Malhada do Caiçara. O proprietário do lugar, João Casé, e sua mulher, Maria Déia, tinham uma filha de 19 anos, alcunhada de Maria Bonita por causa de sua beleza. Maria vivia com um sapateiro, Zé do Nenen, sem que o casamento tivesse sido legalmente celebrado. A moça confiara a Luís Pedro, um dos amigos do cangaceiro, que amava Lampião, embora jamais o tivesse visto. Luís Pedro pintou ao capitão um retrato entusiasta de Maria: " 'Compadre, essa mulher tem olhos extraordinários, seus olhos viram a cabeça das pessoas. Tudo nela é atraente. Só o diabo pode resistir à sedução dos gestos e das palavras de Maria.' 

Embora desconfiado, Lampião concordou em acompanhar o amigo até a casa do sapateiro. Segundo o cangaceiro Cambaio, a cena foi assim: Maria Bonita abriu a porta e reconheceu imediatamente aquele que elegera. Disse então em voz alta: 'É ele quem eu amo ... Você quer me levar ou quer que eu o siga?' Como quiser, Maria; eu quero tudo o que você quiser. Se quiser viver definitivamente comigo vamos.' Maria entrou no quarto. Quando saiu, vestia uma capa e trazia duas bolsas: apresentava-se um pouco à moda dos cangaceiros. Voltando-se para o marido, que ficara petrificado num canto da sala, ela lhe disse simplesmente: 'Adeus Zé'. E desapareceu atrás do homem que amava". (Optato Gueiros, op. cit.) Essa versão do "encontro" possui a beleza e a simplicidade das lendas populares. Contudo, um ponto foi confirmado pelos pais da moça, que sobreviveram: ela realmente se comprometera a seguir Lampião antes de tê-lo conhecido. Maria Bonita se conservaria fiel ao herói de seus sonhos durante dez anos.

Por seu lado, Lampião devotou-lhe constante paixão. Em conseqüência de uma desavença com seu protetor, o coronel Petronilho (questão de partilha do gado), o bandido retomou o caminho do sertão. Seu grupo abrangia agora diversas mulheres, o que o distinguia de todos os outros bandos do nordeste brasileiro, assim como de todos os outros bandos da história do banditismo rural. O papel das mulheres limitava-se a serviços domésticos; não usavam fuzis nem participavam dos combates. Para se vingar do coronel Petronilho, o "capitão" incendiou a fazenda Gangorra e depois se retirou para o Raso da Catarina, espécie de deserto recoberto de arbustos espinhosos, sem uma gota de água em toda a sua enorme extensão. As volantes não ousavam penetrar nesse inferno. Lampião conhecia a região como a palma da mão e ali se sentia na mais completa segurança. 

De 1930 a 1932 o cangaceiro permaneceu no meio do seu deserto, juntamente com Maria Bonita, Corisco e sua mulher Dadá, o jovem Volta Seca, seu irmão caçula Ezequiel e alguns "cabras". Limitava-se a algumas expedições às povoações vizinhas, para se reabastecer. "Em 1932, porém, os governadores da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco resolveram unir esforços para perseguir o bandido. Os destacamentos policiais dos vários Estados foram reunidos num só contingente e seu comando entregue a oficiais do exército." (Nonato Masson, A Aventura Sangrenta do Cangaço.) 

Os habitantes da caatinga foram levados para a cidade de Jeremoabo: o governo estava resolvido a empregar os grandes meios. Contudo, embora avisado por seus infor-mantes, Lampião não pensou que os soldados tivessem a coragem de penetrar no Raso da Catarina. Sete de dezembro de 1932, 10 horas da manhã: "Lampião estava no interior de uma caverna, em plena serra do Chico, no meio do Raso do Catarina. As mulheres preparavam a comida; os homens tratavam de esmagar crauás e gravatás a fim de obter água. Subitamente a fuzilaria ecoou na caverna, e os cangaceiros, tomados de surpresa, não puderam resistir. Alguns foram mortos, outros feridos. Lam-pião, levando Maria Bonita às costas, fugiu pelo fundo da grota. Corisco, Volta Seca, Dadá e alguns outros seguiram-no. Mas não puderam carregar nada consigo. Ao entrar no refúgio, os soldados ali encontram armas, muita munição, chapéus de couro, bolsas, sandálias, objetos de ouro e prata. Terminado o mistério da inexpugnabilidade do Raso da Catarina, Lampião nunca mais voltou para lá". (Nonato Masson, op. cit.) Depois dessa fuga miraculosa, Maria Bonita convenceu Lampião de que era tempo de comprar uma fazenda para nela viver em paz. Ezequiel fora morto num combate recente e o cangaceiro não enxergava mais do olho direito, ferido por um espinho. Lampião, contudo, não pensava em se recolher a uma existência difícil; depois de refletir, concebeu um engenhoso plano de rapina.
Com suas roupas características e suas armas, quinze dos companheiros de Lampião posam para o fotógrafo. No centro do grupo, vê-se a jovem Dulce, mulher do cangaceiro Criança.

O HOMEM DE NEGÓCIOS

Lampião convocou seus homens, dispersos pelas diversas regiões do nordeste; eram cerca de noventa. Dividiu-os em pequenos grupos de seis homens, sob a direção de um chefe. Este tinha o direito de escolher a região em que preferia operar. Quanto ao chefe supremo, instalou-se nas grotas da fazenda Angicos, de propriedade de um amigo, onde estabeleceu um verdadeiro quartel-general. "Os pequenos bandos atacariam fazendas e povoados, às vezes muito afastados da fazenda Angicos, que ficava no Estado de Sergipe. Antes de partir, recebiam de Lampião todas as instruções necessárias para o êxito de seu 'trabalho'. Em seu esconderijo de Angicos, Lampião só conservava oito 'cabras', seus guarda-costas. Eles vigiavam a 'fortaleza' do chefe, em que moravam Maria Bonita e as outras mulheres. 

Lampião quase nunca saía do seu acampamento. Ali recebia carregamentos de munição, comprada a 1 000' réis por bala e revendida a seus tenentes a 10 000 réis." (Optato Gueiros, op. cit.) Esse comércio florescente permitia ao chefe não participar das ações e viver como um rico fazendeiro. Os anos passaram sem problemas nem perigos especiais. Em 1937, um boato percorreu o sertão: Lampião morrera já havia algum tempo, vítima de tuberculose. Tanto os cúmplices do bandido como a polícia sabiam que a notícia não tinha fundamento e que, pelo contrário, Lampião continuava a preparar seus homens para os assaltos que não comandava mais. "Em junho de 1938, o cabo João Bezerra ( ...) prendeu o comerciante Pedro Cândido, na cidade de Piranhas, Estado de Alagoas; o cabo suspeitava há tempos de que Pedro Cândido tinha negócios com Lampião. Torturado, Pedro Cândido confessou tudo, revelando que todas as semanas ia ao lugar onde Lampião e seus homens se escondiam. E ali ficava, às vezes, muitos dias." (N. Masson, op. cit.) Os soldados, porém, não tinham coragem de atacar o esconderijo do cangaceiro e o cabo imaginou um ardil que tinha a imensa vantagem de só expor Pedro Cândido: deu-lhe um frasco de veneno e a missão de vertê-lo no café dos bandidos. Quando, em 29 de julho de 1938, os soldados assaltaram as grotas de Angicos, puderam atirar à vontade, sem temer resposta. Lampião e seus companheiros já estavam mortos. A polícia limitou-se a simular o combate, pilhar a caverna, despojar os cadáveres do dinheiro que levavam em seus cinturões e, por fim, como epílogo dessa cena macabra, decapitar os cangaceiros e colocar suas cabeças em baldes de sal.

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