01 fevereiro 2022

O VAQUEIRO "SANTO" SAI DA FAZENDA EXU, E MUDA-SE PARA A FAZENDA MANDAÇAIA, E LÁ, SE DEU MAL COM O CANGACEIRO CORISCO.

  Por José Mendes Pereira

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Diz o escritor Alcino Alves Costa em seu livro “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico", que em Poço Redondo, o maior criador de gado era um senhor de nome Manoel do Brejinho. Homem do trabalho, e com isso conseguiu amealhar grandes posses de terras, tornando-se um dos mais ricos da região daquela cidade. Mas o Manoel do Brejinho era filho de Porto da Folha, e todas as suas fazendas eram em terras de Poço Redondo, no Estado de Sergipe. Possuidor de grandes rebanhos de bovinos, caprinos e ovinos. O seu gado era em torno de 4 e 5 mil reses.

O velho caipira não tinha desejos de luxar ou demonstrar ser rico, e nunca desejou ser coronel ou ter outra patente semelhante. O seu desejo era somente permanecer entre as suas fazendas, e cuidando dos seus animais. Não costumava sair para frequentar feiras..., e quando saía a um lugar qualquer, era confundido com qualquer um catingueiro, ninguém o via como um senhor proprietário de grandes fazendas e animais. O portofolhense tinha a fala mansa e arrastada, e suas fazendas eram: Brejinho, Exu, Propriá, Emendadas, Caibreiras, Poço Dantas, São Joaquim, Logrador, Quiribas e Carnes.

Manoel do Brejinho tinha o maior prazer de andar pela caatinga para ver a sua bezerrada engordar, e, além do mais, acompanhar passo a passo o seu crescimento. E ainda andar no pino do meio-dia pastoreando o gado, que procurava uma sombra embaixo das árvores daquelas terras do rio São Francisco. Isto para ele era o mais importante para o seu viver, considerando um paraíso. Mesmo não gozando de certos confortos, para seu Manoel do Brejinho, nada melhor do que viver entre aquela caatinga que o viu nascer. Era um tanto sovino, mas atendia todos os pedidos que lhe faziam os exploradores.

Na sua fazenda “Exu” o vaqueiro era o Santo sendo este filho lá da cidade de Poço Redondo, grande e veterano pelejador de gado, este era casado com uma senhora carinhosamente chamada de Caçula, que era da família dos Santanas. O casal tinha uma numerosa família, os quais eram: Manoel, Daniel, Rosalvo (aqui abro um parêntese para informar ao leitor que o escritor Alcino Alves não diz se este Rosalvo era aquele que acoitou o ex-cangaceiro Juriti em sua casa, e por infelicidade, ele foi capturado em sua residência pelo sargento Deluz, e que o matou em uma fogueira em plena caatinga), Miguel, Pedro, Angelino, Celestina, Maria Mariquinha e Josefina. Angelino e Josefina uma febre que assolou aquele sertão foram vítimas e faleceram.

Escritor Alcino Alves Costa

Diz o escritor Alcino Alves que no ano de 1932, a seca assolou aquela região. Sentindo dificuldade para tanger o barco, isto é, para sustentar a sua família, o “Santo” resolveu pedir aumento ao seu Manoel do Brejinho, alegando que o seu ordenado não estava dando para o sustento de casa. Mas o seu Manoel do Brejinho não cedeu o solicitado, alegando que se ele estava em dificuldade, ele também estava, e assim não poderia lhe ceder um possível aumento.

Santo desgostoso, deixa a fazenda Exu e vai morar na Fazenda Mandaçaia, na intenção de melhorar aquele sofrimento, isto é, talvez achava ele, que o seu ordenado não estava à altura dos seus trabalhos. 

Mas infelizmente, o Santo não se deu bem com a sua decisão, deixar a Fazenda Exu do seu Manoel do Brejinho para se  tornar morador da Fazenda Mandaçaia (Lamento, leitor, pois o escritor Alcino Alves não fala quem era o verdadeiro dono da Fazenda Mandaçaia).

Santo está ali, achando ele que estava tudo bem, mas, infelizmente, ele havia feito mal escolha. E meses depois, sem desejar, recebe a visita inesperada do cangaceiro Corisco. 


O bandido que o conhecia desde quando ele morava na Fazenda Exu, ordena que, vá até a casa do seu ex-patrão Manoel do Brejinho levando um bilhete, solicitando uma quantia de três contos de Reis. E sem muita demora, o Santo vai até a casa do ex-patrão com o bilhete. 

O seu Manoel não nega a solicitação, e diz ao seu ex-vaqueiro que diga ao cangaceiro Corisco, que no momento não tem, mas irá providenciar a quantia solicitada dentro de oito dias. O prometido não foi com oito dias, mas 10 dias, e que não fez tanta diferença, o cangaceiro Corisco iria receber o valor pedido ao fazendeiro, aliás, a exploração. Santo recebe o valor em sua nova residência, localizada na Fazenda Mandaçaia, e o guarda cuidadosamente, até que o Diabo Loiro apareça.

Na mesma semana, era um sábado, Lampião visita o vaqueiro, e como sabia da solicitação que fizera o Diabo Loiro ao Manoel do Brejinho faz-lhe a seguinte pergunta:

- Santo, o dinheiro que o compadre Corisco pediu ao fazendeiro Manoel do Brejinho já está com você?

Sem poder negar, Santo diz:

- Já, capitão! Estou aguardando a sua presença aqui para ele levá-lo.

Lampião muito esperto, e possivelmente estava precisando de alguns trocados, para comprar alimentos para os seus comandados, diz-lhe:

- Este dinheiro é para ser entregue a mim, Santo.

Sem poder negar, e também não iria desobedecer a ordem do capitão, vai lá dentro da casa e traz a quantia, entregando-a ao famoso Lampião.

O rei a recebe, guarda-a em seu embornal, e, em seguida, faz outro bilhete, endereçado ao Manoel do Brejinho, pedindo-lhe mais três contos de reis, porque o que era para o compadre Corisco ele precisara, e que o fazendeiro não se aborrecesse, que com certeza, um dia qualquer, seria recompensado.

Mesmo aperreado e resmungando, e sem outra alternativa, o velho caipira vende mais alguns bois, e uma semana depois, a outra quantia, desta vez, solicitada pelo capitão Lampião chega às mãos do vaqueiro Santo em sua residência Fazenda Mandaçaia. 

Mas o pobre vaqueiro não estava com sorte. Misteriosamente dois sargentos, o Ernani e Amintas que trabalhavam no destacamento de Poço Redondo, tomaram conhecimento do envio deste dinheiro para o Diabo Loiro, pelo o Manoel do Brejinho. E astuciosos, intimaram o vaqueiro para suas devidas explicações sobre este envio de dinheiro.

Santo que era um homem honesto e que nunca havia sido intimidade para nenhuma explicação na vida, sentira-se desonrado. Sem outro meio de escapar desta intimação, foi atender ao pedido dos espertos sargentos, e lá, foi logo trancafiado, e todas as perguntas que os patenteados lhe fizeram, não obtiveram respostas. A causa, vingança, por ter sido decepcionado, coisa que nunca havia lhe acontecido, ser chamado aos pés de uma autoridade. Santo foi solto no cair da tarde, mas numa condição, avisar ao destacamento quando os cangaceiros aparecessem em sua casa.

Santo ficou triste, como se estivesse depressivo, não queria mais se alimentar, o jantar que a dona Caçula preparara, não foi usado por ele. Deita-se e quer ficar sozinho, imaginando a grande desonra que ora ganhara. Não imaginava ele qual a verdadeira desgraça que o esperava.

O cantar do galo está próximo, e alguém o chama:

- Santo! Santo! Abra a janela! Sou eu, Corisco, vim apanhar o dinheiro, não precisa acender candeeiro não, estamos com pressa e já vamos.

O vaqueiro estranhou aquela voz, achando que não era a voz do Corisco, mas melhor entregar aquele maldito dinheiro, do que partir para uma discussão. Santo jamais poderia imaginar que aquela voz não fosse de cangaceiro algum, mas a do sargento Ernani que estava acompanhado do outro que juntos, queriam roubar o dinheiro do cangaceiro Corisco. Santo estava condenado, poderia ser justiçado injustamente por policiais ou cangaceiros.

Uma semana depois o cangaceiro Corisco visita a cidade de Poço Redondo, e de lá, sai bêbado, levando preso, sobre ordens, um jovem chamado “Airton” um rapaz filho de um senhor chamado “Horácio”. O destino do Diabo Loiro seria a Fazenda Mandaçaia, lugar onde está o vaqueiro Santo, e que é lá, que ele deveria receber o envio da quantia, mandada pelo Manoel do Brejinho, mas desta vez, solicitada pelo capitão Lampião.

O dia amanheceu claro, alegre e simpático. Santo já estava na roça cuidando das suas obrigações, acompanhado de alguns amigos. Lá da roça, ele ver os cangaceiros chegarem em sua casa, seu coração fica agitado, como se estivesse lhe avisando algo ruim. Estava com medo, mas o que fazer?

Santo diz aos amigos que temia algo que pudesse acontecer naquele momento. Os amigos o aconselharam para não ir até a sua casa. Mas ele pensava na sua família, pois os cangaceiros poderiam fazer algo contra ela. Jamais deixaria sua esposa e filhos sozinhos no meio daqueles delinquentes. Se algum deles morressem causados pelos cangaceiros, possivelmente ele queria ser vítima também. Afinal, era pai e esposo daquela gente.

Assim que chegou, deu bom dia a todos os cangaceiros que ali estavam.

Corisco respondeu o cumprimento e perguntou:
- Cadê o dinheiro? Vim buscá-lo!

Santo fica apavorado com o que estava ouvindo, dito pela boca do Diabo Loiro, respondendo-lhe:

- Ôxente! Eu lhe entreguei na semana passada? Naquela noite?

Na verdade, Santo enganadamente, havia entregue aos sargentos a quantia de dinheiro que o Manoel do Brejinho enviara para Corisco, mas desta vez, solicitada pelo então capitão Lampião, porque a primeira quantia, fora Lampião que ficara com ela. E a segunda, fora roubada pelos dois sargentos que se passaram por Corisco.

Ouvindo isso do Santo Corisco ainda bêbado, achou que o vaqueiro estava querendo lhe enganar.

Agora Santo irá morrer. 

O cangaceiro Diabo Loiro ficou louco, e logo apontou a sua arma para Santo, e não pensou duas vezes. Infelizmente, o Santo caiu morto, a bala estraçalhou a cabeça do coitado catingueiro.

Foi-se mais a vida de um um homem honrado por assassinato. Um bom pai, um bom marido, um bom trabalhador. Os filhos e a dona Caçula viram seu pai e esposo ser assassinado, por um delinquente que não tinha dó de ninguém.

Fonte de Pesquisas:
Livro: “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico”.
Páginas: 145, 146, 147 e 148.
Autor: Alcino Alves Costa

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31 janeiro 2022

A FACE POUCO CONHECIDA DE LAMPIÃO

  Por Na Rota do Cangaço

https://www.youtube.com/watch?v=n83fQX-zeE4&ab_channel=NaRotaDoCanga%C3%A7o

Baseado na obra, Lampião, nem herói, nem bandido do escritor Anildomá Willians de Souza. Traz a narrativa histórica da entrada de Lampião na cidade de Carira SE, recheada de valores culturais que agregam conhecimento e cultura na história da região Nordeste do Brasil.

Lampião não só atacava os ricos e poderosos – às vezes se amigava com eles também. Isso fez com que tivesse alianças em grande parte das cidades do Nordeste. Para os amigos, deixava de agir em certos territórios, abastecia homens quando necessário, vingava-se de seus inimigos e fazia outros serviços. O mesmo valia para os sertanejos comuns, os coiteiros. Eles davam abrigo, armas, mantimentos e informações sobre a localização das volantes, e recebiam amparo em troca. Entre cangaceiros e policiais igualmente violentos, os agricultores se viam divididos – e, por isso, Lampião era considerado um herói.
Fotos ilustrativas de domínio público. Vídeo: Benjamin Abrahão Botto. Narração: Sizinho Junior Se você gosta do nosso trabalho e quer nos ajudar nessa caminhada. Siga-nos no instagram e participe do nosso dia a dia. https://www.instagram.com/narotadocan... Inscreva-se no nosso canal e deixe seu like.

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30 janeiro 2022

LIVRO DO ESCRITOR JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO

     Por José Bezerra Lima Irmão

Diletos amigos estudiosos da saga do Cangaço.

Nos onze anos que passei pesquisando para escrever “Lampião – a Raposa das Caatingas” (que já está na 4ª edição), colhi muitas informações sobre a rica história do Nordeste. Concebi então a ideia de produzir uma trilogia que denominei NORDESTE – A TERRA DO ESPINHO.

Completando a trilogia, depois da “Raposa das Caatingas”, acabo de publicar duas obras: “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste” e “Capítulos da História do Nordeste”.

Na segunda obra – Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste –, sistematizei, na ordem temporal dos fatos, as arrepiantes lutas de famílias, envolvendo Montes, Feitosas e Carcarás, da zona dos Inhamuns; Melos e Mourões, das faldas da Serra da Ibiapaba; Brilhantes e Limões, de Patu e Camucá; Dantas, Cavalcanti, Nóbregas e Batistas, da Serra do Teixeira; Pereiras e Carvalhos, do médio Pajeú; Arrudas e Paulinos, do Vale do Cariri; Souza Ferraz e Novaes, de Floresta do Navio; Pereiras, Barbosas, Lúcios e Marques, os sanhudos de Arapiraca; Peixotos e Maltas, de Mata Grande; Omenas e Calheiros, de Maceió.

Reservei um capítulo para narrar a saga de Delmiro Gouveia, o coronel empreendedor, e seu enigmático assassinato.

Narro as proezas cruentas dos Mendes, de Palmeira dos Índios, e de Elísio Maia, o último coronel de Alagoas.

A obra contempla ainda outros episódios tenebrosos ocorridos em Alagoas, incluindo a morte do Beato Franciscano, a Chacina de Tapera, o misterioso assassinato de Paulo César Farias e a Chacina da Gruta, tendo como principal vítima a deputada Ceci Cunha.

Narra as dolorosas pendengas entre pessedistas e udenistas em Itabaiana, no agreste sergipano; as façanhas dos pistoleiros Floro Novaes, Valderedo, Chapéu de Couro e Pititó; a rocambolesca crônica de Floro Calheiros, o “Ricardo Alagoano”, misto de comerciante, agiota, pecuarista e agenciador de pistoleiros.

......................

Completo a trilogia com Capítulos da História do Nordeste, em que busco resgatar fatos que a história oficial não conta ou conta pela metade. O livro conta a história do Nordeste desde o “descobrimento” do Brasil; a conquista da terra pelo colonizador português; o Quilombo dos Palmares.

Faz um relato minucioso e profundo dos episódios ocorridos durante as duas Invasões Holandesas, praticamente dia a dia, mês a mês.

Trata dos movimentos nativistas: a Revolta dos Beckman; a Guerra dos Mascates; os Motins do Maneta; a Revolta dos Alfaiates; a Conspiração dos Suassunas.

Descreve em alentados capítulos a Revolução Pernambucana de 1817; as Guerras da Independência, que culminaram com o episódio do 2 de Julho, quando o Brasil de fato se tornou independente; a Confederação do Equador; a Revolução Praieira; o Ronco da Abelha; a Revolta dos Quebra-Quilos; a Sabinada; a Balaiada; a Revolta de Princesa (do coronel Zé Pereira),

Tem capítulo sobre o Padre Cícero, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, o episódio da Pedra Bonita (Pedra do Reino), Caldeirão do Beato José Lourenço, o Massacre de Pau de Colher.

A Intentona Comunista. A Sedição de Porto Calvo.

As Revoltas Tenentistas.

Quem tiver interesse nesses trabalhos, por favor peça ao Professor Pereira – ZAP (83)9911-8286. Eu gosto de escrever, mas não sei vender meus livros. Se pudesse dava todos de graça aos amigos...

Vejam aí as capas dos três livros:


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29 janeiro 2022

LAMPIÃO E SEU BIGODINHO!

Por Joel Reis

Foto recortada / ampliada que mostra detalhes do rosto de Lampião.

Foto: Francisco Ribeiro de Castro e Silva, Limoeiro do Norte - CE, em 15 de junho de 1927.

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28 janeiro 2022

O HUMILHANTE FIM DO VALENTÃO JOÃO JANUÁRIO.

  Por Cangaçologia

https://www.youtube.com/watch?v=adYuddlFzZ0&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Nesse vídeo o ex-comandante de Força Policial Volante baiana, José Mutti de Almeida "Mutti", conta a história do valentão João Januário, um velho e conhecido desordeiro que foi integrado nas Forças Volantes baianas que naquela época combatia o cangaceirismo e o banditismo nos sertões do Nordeste. Um elemento de alta periculosidade que chegou a desafiar e encarar notórios chefes de Volantes baianas a exemplo do Tenente Arsênio Alves de Souza e o temível Santinho (Ladislau Reis de Souza), sendo expulso de ambas as Volantes por insubordinação e por obra do destino foi integrado na Força Volante comandada por Mutti, onde não foi diferente, chegando inclusive as vias de fatos com o comandante. Quer saber o como terminou essa história? Assistam o vídeo e se inscrevam no canal para receber todas as nossas publicações e postagens. 

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27 janeiro 2022

Lampião Aceso entrevistou o pesquisador e documentarista Aderbal Nogueira

 Por Kiko Monteiro

Este cearense é atualmente o maior videomaker do cangaço. Frutos da sua produtora a Laser Vídeo seus inúmeros documentários se espalharam pelo mundo afora e são itens indispensáveis na coleções de nós cangaceirólogos.

E parece ainda há muita coisa por vir visse? É o que ele promete na entrevista que nos concedeu na ocasião do ultimo dia do Cariri Cangaço e que veremos a seguir.

A sua introdução no cangaço é semelhante à de muitos. Desde os tempos de menino. O avô era da RVC - rede de viação cearense; sempre lhe contava histórias sobre Lampião. Ele inclusive foi testemunha ocular do episódio ocorrido com o Cel. Isaías Arruda, em Aurora no Ceará.


Na infância adorava filmes de bang-bang e não imaginava aquelas histórias de tiroteios acontecendo ali na sua terra... Quando soube de Lampião... "O Faroeste Brazuca" Já viu né? Nunca mais deixou o tema.

Lia tudo que encontrava. Começou a viajar e gravar entrevistas apartir de 1984 e em 1997 conheceu aquele que viria à ser o seu grande parceiro de viagens... o estimado Paulo Gastão.

Messier Paulo e Aderbal, durante o Cariri Cangaço 2010.

 Á esquerda Dezinho Magalhães, Aderbal (com um punhal que foi do cangaceiro Sabino) e o chanceler Paulo na residência do colecionador em Serra Talhada, PE.

Estes dois cavalheiros juntos já fizeram incontáveis viagens em busca dos mais diversos depoimentos. Só para se ter uma ideia, a primeira vez que realizaram rumo à Angico foi em 1996 e, de lá pra cá, só para àquela região somam umas quarenta incursões, no mínimo. E de tudo que é jeito visse? Sozinho, com o grupo da SBEC, com jipeiros, com colegas que fazem trilha a pé, com grupo de ciclistas de Fortaleza, de caiaque, desceram desde a Cachoeira de Paulo Afonso até a forquilha do começo da trilha de Angico, na beira do Rio São Francisco remando com oito companheiros de Fortaleza. Levaram dois dias para ir de Paulo Afonso até a Grota.

Duvidam? Mai rapaz o "homi" é atleta!  E é evidente que ele prova todas essas façanhas em vídeo.

Equipe da Laser Vídeo em Angico, 1996.

Sila e Candeeiro na Missa do Cangaço em Angico
 
Gravando com Sila em Angico.

No Raso da Catarina, em 1997, entrevistou entre os índios Pankararés pessoas que eram amigas de cangaceiros; inclusive, encontrou entre estes um parente do cangaceiro Gato, oriundo desta tribo.
"Foi interessante porque no começo da entrevista um senhor que estava sentado e era cego, ouvindo a história, começou a chorar. Foi quando sua esposa disse: - Ele é primo de Gato. Essas entrevistas ainda hoje não foram usadas".
Vislumbrando o Raso da Catarina.

Na tribo com os curumins Pankararés

Então, apresente suas crias! 
- Nós temos em torno de sete documentários acerca do cangaço.
1 - FATOS2 - S I L A – Esse vídeo também apresenta uma entrevista com a ex cangaceira ADÍLIA companheira de Canário; 3 - A VIOLÊNCIA OFICIALIZADA NO TEMPO DO CANGAÇO4- CANDEEIRO depoimento do ex-cangaceiro Manuel Dantas Loiola; 5- MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO e a série de dvd´s do 6 - CARIRI CANGAÇO 2009. E mais um trabalho ainda inédito “VINTE E CINCO, UM CANGACEIRO DE LAMPIÃO”. Nos comprometemos com o mesmo a apresentá-lo somente após sua partida, espero que tão cedo eu não realize este lançamento.

Filho preferido? 
- O documentário Fatos é o meu trabalho preferido. Por conter depoimentos de pessoas que conviveram com Virgulino antes de se tornar o Lampião e outros que estiveram com ele na ocasião de sua morte.

 Com Durval Rosa em sua residência. Piranhas/AL.

De outro autor? 
- “O Ultimo dia de Lampião” do Maurice Capovilla.

E o livro? 
- Guerreiros do sol, de Frederico Pernambucano de Mello “E assim morreu Lampião” de Antonio Amaury.

Qual é o primeiro título recomendado para um calouro? 
- Indico Billy Jaynes Chandler. Não pende a balança para nenhum dos lados da história.

Qual destes contatos foi, ou foram, os mais difíceis? 
- Foi com Aureliano Alves, o “Lero”. Filho de Zé Saturnino. Ele mantém uma resistência, até com razão, porque a maioria dos trabalhos tende a incriminar mais o pai dele que o próprio Lampião. Após muita relutância nosso encontro só foi possível graças a um intermédio do Seu Luiz de Cazuza que é como se fosse um tio e de seu filho Zé Alves. Ele aceita, mas sempre acusando a imprensa - embora eu sempre o lembrando que eu não era repórter – E que iria usar a entrevista exatamente como ele me relatasse.

Isso foi gravado há vários anos, mas ainda não a utilizei em nenhum trabalho. Em um futuro próximo espero, assim como inúmeras entrevistas que temos e nunca sequer assisti, pois o material é muito vasto e só produzimos esses vídeos quando nos sobra um tempinho na produtora para edição etc; e para quem trabalha em produção de documentários empresariais sabe que tempo é coisa rara.

Já teve que pagar para obter alguma entrevista?
- Nunca, pelo contrario, eu que sai recompensado com uma amizade sincera de todos esses personagens, por exemplo, o Candeeiro, reservado caseiro, não se ausenta de casa passou uma semana hospedado em nossa casa em Fortaleza. A Eliza filha dele ficou admirada com o pedido do velho que gostaria que eu fosse pegá-lo em Buíque/PE e eu fui prontamente.

Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado? 
- Foi com o velho Antônio da Piçarra. Pra se ter uma ideia da ironia do destino eu viajaria num sábado com este intuito e ele vem há falecer dois dias antes.

Com quem gostaria de ter conversado? 
- Como documentarista você queria ter estado com inúmeros. Gravei muitos depoimentos importantes, alguns destes que até hoje eu nem assisti. Mas eu gostaria muito de ter conversado com o grande líder.

E filmado?
- Se eu pudesse estar presente, gostaria de ter registrado a invasão de Mossoró. Evidente que a resistência de Mossoró não é única, mas pense bem no pandemônio que foi em uma cidade daquele porte em total alvoroço com a chegada dos cangaceiros? Tiveram outras, como a pequenina Nazaré do Pico em Floresta, PE. Mesmo assim, eu imagino os fatos de Mossoró lendo o diário do Antônio Gurgel. Suas linhas nos relatam aquele final de tarde, chuva fina, o sino a repicar, a correria das pessoas, muitas embarcando no trem para se refugiar no litoral e a cidade fica praticamente deserta... Enfim, o restante da história quem pesquisa já sabe. Por isso eu, evidentemente, gostaria de estar presente.

Zé Cordeiro participou das trincheiras em Mossoró (1997)


Qual é o seu capitulo preferido? 
- Dentre tantos relatos emocionantes o meu capítulo é mais particular.
Eu viajava em companhia de Sila (ex-cangaceira, companheira de Zé Sereno) pelo interior da Bahia, cinco e meia da tarde, o sol se pondo, a seca predominava na paisagem, não pude deixar de perceber que ela estava chorando... (Pausa na entrevista - Aderbal viaja em pensamento e as lágrimas correm no seu rosto)
... Então eu pergunto - Sila você se sente mal? Ela não responde, continua chorando. Eu me prontifico a parar o carro e ela explica a razão: 
- Aderbal, essa é a hora mais triste da minha vida... Porque no mato eu começava a pensar: Meu Deus, onde eu ia dormir? Pensava se estaria viva ao amanhecer, se voltaria a ver meu pai, minha mãe e meus irmãos novamente. E nem ao menos se eu voltaria a comer arroz e feijão algum dia na minha vida. 
Então, Kiko, eu choro como chorei naquele dia ao presenciar as memórias de uma mulher de quase 90 anos, personagem desta história que a gente tanto persegue. Imagino o drama... É pra ficar imune ao sentimento? Como não ceder à emoção? 
Fico triste quando vejo algumas pessoas falarem tão mal de Sila. Pessoas que privaram de sua amizade e souberam utilizá-la. Mas que depois agiram de uma forma injusta. Não entendo... Tudo bem, se ela falou o que era mais conveniente para ela, – coisa que muitos outros ex cangaceiros fizeram, pra não dizer quase todos (tenha certeza disso) – Porém nós, como pesquisadores, é que temos que filtrar e colocar só o mais plausível. 
Eu, particularmente, só tenho a agradecer a todos com quem estive, pois todos me receberam muito bem e me ajudaram na hora em que precisei, então seria uma grande desfeita de minha parte hoje desdenhar de algum destes.

As meninas Sila e Adília depõem para o documentário
Um cangaceiro (a)? 
- Conhecendo alguns cangaceiros como eu tive a oportunidade eu elejo o Candeeiro! Principalmente pela irreverência.

Gravando com Candeeiro
 A direita o ex-cangaceiro "25"


Um volante? 
- Tenho um carinho muito especial pelo tenente João Gomes de Lira. Sempre me recebeu muito bem, tenho depoimentos seus gravados que não ainda tive oportunidade de utilizar.

 Equipe da Laser Vídeo com o tenente João Gomes.

Um coadjuvante?  
- Sr Saraiva o irmão do juiz de Limoeiro do Norte (CE) que estava presente na ocasião da visita do bando logo após o fracasso em Mossoró.

Uma personagem secundária?  
- O Cabo Panta, que diz ter sido ele o carrasco de Maria Bonita. Nunca provou e os seus contemporâneos, ou seja, colegas de farda sempre negaram este feito. (eu não estava lá, não posso julgá-lo... quem sabe foi ele mesmo? E outros dizem que não por quererem ficar com a glória; é muito fácil se dizer ‘conversei com fulano e ele disse que é mentira, quem matou foi ele e não o Panta’. Como saber se essa pessoa fala a verdade? Portanto, não podemos acusar alguém de mentiroso sem ter absoluta certeza.

Eu cito inclusive outro o soldado Bertoldo que também se declarou o samurai de Angico.
- Eis aí mais um mistério!

Geralmente todo pesquisador é colecionador qual é o foco de sua coleção? 
- Sou contra as coleções de relíquias tipo: tijolo, telha pedaço de madeira da casa de Lampião ou de qualquer outra personagem. Nêgo visita e resolve levar um souvenir diferente ai outros agem da mesma forma e amanhã? Minha neta e a de vocês não vai ver nada disso porque da história não vai restar nem os cacos. Enquanto outros estão guardando tudo em suas casas para o seu bel prazer, sem um mínimo de utilidade, é o que vai acontecer, quando estes se forem? A família que não vê qualquer importância vai jogar aqueles "cacarecos" no mato, e aí?... Não me levem a mal, é apenas o meu insignificante pensamento.

Portanto só coleciono imagens e vozes dos remanescentes e testemunhas desta história.
  
 A repórter Vânia entrevista os sargentos Elias Marques e Josias Valão às margens do velho Chico.

No local do Massacre da família Gilo.

Na residência do tenente nazareno Neco de Pautília em Floresta, PE,
junto com Luiz de Cazuza.


Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário enfim sem exagero da ficção lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia, enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou? 
- Baile Perfumado. Embora não seja um filme exatamente sobre Lampião, mas sobre o mascate Benjamim Abraão. Ele conseguiu produzir o documentário que eu gostaria de ter feito (RISOS). Em minha opinião não há ficção alguma que supere a realidade.

Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião? 
- Houve um relato de que Lampião andava em Recife. Onde se podia conceber a figura já pública do rei do cangaço perambulando num grande centro sem ser reconhecido?

Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: “Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde”, “João Peitudo, filho de Lampião”, “O Lampião de Buritis” e “a paternidade de Ananias”? 
- Não gosto de polemizar, no entanto acredito que ainda há muita coisa pra ser investigada acerca dos mistérios do cangaço. Esse caso Ezequiel: Nós inclusive temos um documentário sobre o assunto. Neste vídeo vocês vão ver seu Luiz de Cazuza que conheceu Virgulino e todos os irmãos Ferreira narrar o encontro com o suposto Ezequiel e o momento em que ele tem a certeza de estar diante do irmão de Lampião que todos acreditavam ter sido morto no combate na Lagoa do Mel em Paulo Afonso. O amigo João de Sousa conheceu o homem que disse ter enterrado Ezequiel. 

É impressionante, vejam bem: De súbito ele não reconhece traços semelhantes aos do velho amigo, a última vez que o viu ele estava equipado de cangaceiro. Naquele momento estava ali um homem trajando vestes comuns, como tirar esta dúvida? Seria preciso uma pergunta e ele se lembra de uma passagem entre eles no passado que só o próprio Ezequiel poderia recordar vou lhes contar a conversa:  
Pois bem, Estávamos eu (Luiz de Cazuza), Lampião, você e mais um cangaceiro (cujo nome seu Luiz não recorda) Tu lembras? 
- Lembro sim! 
- Quando vocês retornavam de Mossoró não foi? 
- isso mesmo! 
- Você há de lembrar que Lampião pede que eu vá buscar umas alpercatas que ele tinha encomendado... Pois bem, qual foi a reação daquele cangaceiro ao receber as alpercatas? 
E na lata o suposto Ezequiel responde: 
- Ele calçou e saiu pulando por cima de umas rochas gritando olha os macacos! Olha os macacos! 
- Aderbal foi daquele jeito mesmo. 
Só quem estava presente poderia saber se ele narrasse qualquer outro capitulo ele poderia estar simplesmente blefando, mas neste caso eu não posso duvidar da identidade do cabra. No evento do julgamento simulado de Lampião em Serra Talhada eu convidei dois importantes pesquisadores a ouvir este mesmo relato de seu Luiz e estes simplesmente se recusaram acreditar, por quê? Vai ver que não queriam comprometer seus trabalhos escritos e também porque não queriam correr o risco de se contradizerem mais tarde diante de um novo fato que fazia muito sentido! A obrigação do pesquisador é ouvir os fatos, não? 

Seu Luiz narra o aludido fato.

E Lampião: morreu baleado ou envenenado? 
- Do jeito que e história conta eu não aceito. Lampião morreu? Morreu. Mas como? É intrigante, pode até ter sido do jeito que se diz, mas é estranho.

Não posso concordar com a calmaria de Angico! Eu explico: Conheço muitos dos cenários visitados por Lampião, já cruzei a pé o Raso da Catarina. Sabe, eu gosto de sentir a atmosfera dos locais, então imagine a situação... Madrugada em Angico a aproximação de uma tropa de 40 e tantos soldados em sua maioria embriagados na escuridão para ninguém quebrar um galho, ninguém pisar numa pedra em falso... enfim ninguém produzir qualquer barulho que denotasse suas presenças? Acho improvável!

Em que assunto ou personagem está trabalhando ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes? 
- Meu próximo trabalho não é um vídeo, mas um livro. Um trabalho que tem como foco as minúcias do cangaço. Relatos que nunca foram escritos. Posso até antecipar um trecho: Gravando um depoimento do Sr. Chiquinho Rodrigues sobre o dia do ataque do cangaceiro Gato a Piranhas, na tentativa de libertar Inacinha, aquele tiroteio terrível, em certo momento ele diz: “– Olhe, foi a primeira vez que vi um homem sem chapéu!” Se não me engano, ele se refere ao Juiz da cidade que passa correndo por ele sem o chapéu. Avalie a importância que o chapéu tinha para o sertanejo? Ouvi relato também do Ten. Pompeu Aristides de Moura justamente sobre o uso do chapéu.
E além destes, são mais três relatos falando sobre este detalhe próprio da nossa gente. São assuntos deste tipo que vou colocar em folha.


O tenente Pompeu foi um dos responsáveis pela morte
do cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião. 

Uma coisa interessante é que não terá fontes bibliográficas, pois tudo será fruto de depoimentos colhidos por nós. Pra encerrar deixo aqui também registrada uma pequena mágoa. Já vi alguns relatos em livros que foram tirados de nossos vídeos, pois até então ainda não haviam sido registrados em nenhum outro trabalho, e nenhum destes autores citou a fonte.


Para não cometer injustiça, apenas o escritor canadense Gregg Narber atribuiu à nossa pesquisa os devidos créditos em seu excelente livro “Entre a cruz e a espada: Violência e misticismo no Brasil Rural”, da Editora Terceiro Nome.

 *As duas primeiras fotos foram concebidas por Coroné Severo.

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2010/10/prazer-em-conhecer-lampiao-aceso_15.html

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ANTÔNIO DA PIÇARRA COITEIRO DE LAMPIÃO.

Por  Itamardasilvabaracho Baracho Antônio da Piçarra com seu neto Wilton Santana e a escritora Aglaie Lima de Oliveira em 1970. O Cangaço pe...