11 de jul. de 2016

O VERDE DA POMBAL DO MEU TEMPO

Por Jerdivan Nóbrega de Araujo

Na casa em que nasci, na Rua de Baixo, e lá vivi até mil novecentos e setenta e um, lembro-me apenas de dois pés de cocos, um de ciriguelas e outro de cuité, além da cerca verde feita de Algodão do Pará. Mas, a Pombal dos anos sessenta era pródiga em verde, o que fazia da cidade, mesmo em meio aos seus 34 ou 38 graus, (à noite, quando soprava o vento da serra do Acari, baixava para 25 ou 27 graus), agradável e até despertava a preguiça convidativa a cesta do meio dia, ás sombras dos Fícus Benjamin que rodeavam a Praça Getúlio Vargas.


A Praça do Centenário era de um arvoredo tão esplendoroso e de copas tão fechadas que mal deixavam à luz do sol chegar ao chão. Eram tamarineiras, marizeiras, trapiás e muitas Acácias Ferrugina, além de uma árvore espinhosa, cujo nome foge-me a memória, mas que a chamávamos de “mata fome”, por nos oferecer um fruto de polpa avermelhada que era gostosa de comer. Acredito ser também um tipo das mil e duzentas variações de Acácias existentes no mundo.

As Palmeiras Imperiais só vieram a ser plantadas no início dos anos oitenta.

Outra árvore de igual espécie, havia no pátio do João da Mata, onde hoje está instalado o Hospital Distrital de Pombal e muitas outras sombreavam as calçadas das Ruas: Nova, Joubert de Carvalho e do Comércio, alterando-se com Acácias amarela e ferrugina. Como estas plantas resistem por quarenta anos, ainda deve existir remanescentes naquelas ruas. Tínhamos na RUA José Américo dois "Pau Brasil"

“Meu flamboyant na primavera, que bonito que ele era dando sombra no quintal”.

Sempre que escuto esta música lembro-me do grande flamboyant da casa de Doca de seu Mizim. Na primavera as flores pareciam sangrar em carne viva e no verão as suas vargens, em forma de facão, que usávamos para brincar de guerra de espada.


Em mil novecentos e setenta e dois foi construída uma praça em frente à Prefeitura, Hoje Praça Hermínio Monteiro Neto, ornamentada só com palmeiras Imperiais e Jambeiros, este último não se adaptou ao clima ao ponto de produzir frutos, porém as suas copas deram uma beleza especial ao local.

Nas roças de Mila, Bozó e dona Porcina, valia a pena nos arriscarmos para roubar mangas, carnaúbas, Trapiás e Pinhas ou Fruta do Conde, como preferir.

No centro da cidade, exceto na Rua Padre Amâncio Leite, Leandro Gomes de Barros e Jerônimo Rosado, poucos jardins tínhamos. Porém havia nestes, muitas rosas vermelhas, bugaris brancos, “boa noite”, “boa tarde”, “bom dia” e raramente girassóis. N jardim da casa de Doutor Atêncio outro flamboyant, e na lateral um pé de Araçá, além do Jasmineiro-branco que perfumava toda a rua nos finais de tardes.

Do jardim da casa de seu Saturnino, na Coronel José Avelino, peço que me mandem pelo menos um cheiro daquele Jasmineiro.

Ao lado da Igreja Matriz, na casa de Cícero Gregório, um enorme Fícus Benjamim nos divertia: a ideia era fazer com que os desavisados olhassem para cima, para encher os olhos de micuim ou incensar as vestes com o fedor dos percevejos. Mas, o mais engraçado eram os seis mudos de João Josias, que se aproveitavam da sombra para gozar dos transeuntes com as suas gargalhadas marcantes.


O corredor do rio era ladeado por cercas vivas de Melão de são Caetano, Jerimuns, Algodão do Pará e muita Marizeiras, Trapiás e Cajazeiras, Canafístolas e muitas Oiticicas que outrora fora a redenção financeira da cidade de Pombal.

As matas ciliares do rio Piancó eram formadas por Ingazeiras e Mufumbus, em sua maioria, onde o passaredo se agasalhava.


No campo de futebol o Aveloz, de tão abundante que era, emprestou o seu nome ao campo de futebol da cidade que, batizado de “Estádio Vicente de Paula Leite”, para nós, porém, sempre foi o bom “Aveloszão” das nossas tardes futebolísticas, assistidas dos galhos das avelozes. 


Depois e só depois vieram as algarobas que substituíram os Fícus Benjamim por se tratarem de plantas resistentes aos ventos fortes na temporada das chuvas de inverno e por resistir a seca quando da escassez da água.

Deixei para o fim a grande castanholeira do João da Mata. Animais e gente disputavam as sombras desta árvore, porém, o mais gostoso para os moleques era se esconder em suas frondosas copas e, de lá atirar castanholas maduras nas pessoas que passavam nas imediações.

Era uma árvore enorme, cuja copa sombreava os dois lados da rua, e tronco não era abraçada senão por três homens de mãos dadas. Por ficar na esquina das duas ruas e um pouco fora da calçada onde os motoristas bêbados batiam com seus veículos no tronco da grande árvore. Lembro-me que seus galhos chegavam até o chão.

Hoje as ruas de Pombal continuam arborizadas e não poderia ser diferente: não há outra forma de suportar o calor dentro de casa e uma arvore na calçada continua sendo necessário.

O que nos falta nos dias de hoje é tempo e disposição para uma boa cadeira preguiçosa a sombra destas árvores, onde podíamos prosear jogar ludo ou baralho, numa boa conversa acalantada pelas difusoras do “Lord Amplicador’ ou sintonizando um rádio de pilhas no programa “Terreiro da Fazendo” da” Rádio Alto Piranhas” de Cajazeiras.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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