28 de fev. de 2017

A CHEGADA DE LAMPIÃO A TERRAS BAIANA. COM AMIZADES E INIMIGOS PÚBLICOS...!!!

Por Guilherme Machado

Em 21 de agosto de 1928 Lampião cruzou a fronteira do São Francisco e adentrou na Bahia para homiziar-se durante algum tempo no sertão. Fugia da implacável perseguição de policiais de vários Estados desde quando ousará invadir Mossoró, em junho do ano anterior, então a maior cidade do Rio Grande do Norte. Iniciativa esta atrevida e mal sucedida.


Lampião aportou na Bahia com o propósito de dar um tempo, recompor forças, restaurar o seu bando e planejar novas investidas longe das fronteiras pernambucanas que a polícia desse Estado se apressou em controlar temendo o retorno do Capitão Virgulino. Lampião chegou na Bahia faminto, cansado, porém com muito dinheiro na mochila; assim declarou na época ao Coronel Petronilo de Alcântara Reis, chefe político de Santo Antônio da Glória.


Entenderam-se o bandido e o Coronel em torno de um acordo de proteção, cogitaram negócios em comum, desentenderam-se mais tarde. Em represália o Rei do Cangaço botou fogo nas propriedades do chefe político e matou várias cabeças de gado. Este reagiu, segundo conta Oleone Coelho Fontes no seu livro “Lampião na Bahia”, contratando mais de 50 jagunços em Pernambuco, a maioria criminosos comuns, para defender seu patrimônio.


Os primeiros dias de Lampião na Bahia sequer foram percebidos pelo governo e pela imprensa. Contribuiu para isso a atitude pacífica do cangaceiro que encarou essa etapa de sua vida como um momento para relaxar, mantendo-se por um tempo longe das forças policiais determinadas a capturá-lo. Então, descreve Oleone Coelho Fontes, assistiu festas de casamento, bebeu na companhia de soldados, foi perdulário nos gastos, promoveu vaquejadas e rodeios com ele mesmo como protagonista e ainda organizou animados arrasta-pés em concorridas festas com a sua sanfona de 8 baixos marcando o tom.

Durou pouco esse estado de espírito do Rei do Cangaço. Meses depois, em dezembro de 1928, reaparecia em público na Vila do Cumbe (hoje Euclides da Cunha) para extorquir dinheiro dos fazendeiros da região e retomar a sua rotina de saques e violência. Os primeiros dias de Lampião na Bahia poderiam ser interpretados, no contexto aqui retratado, como um período de férias...!!!!

Fontes: Lampião na Bahia. Oleone Coelho Fonte, e Caminhos De Lampião Rubens Foto de João de Souza Lima e Museu do Cumbe.

https://www.facebook.com/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotigua.blogspot.com

PROFESSOR E ESCRITOR LUIZ SERRA


Recebemos esta lembrança amabilíssima de dois leitores de Pirenópolis, evento impulsionado pela escritora e livreira Íris Borges.


Foto Paulo de Araújo. — com Maria Clara Arreguy Maia.


Na Rádio Senado. Entrevista com Margarida Patriota, escritora, professora, notável estudiosa de nossa literatura.


Bienal do Livro Brasília 2016

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

27 de fev. de 2017

LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO


Amigo leitor:

Se você quer adquirir um livro com excelentes histórias sobre o cangaço solicite este: "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico".

Você irá adquirir uma grande obra sobre as grandes invasões de Lampião. Adquira-o logo. 

Valor: R$ 50,00 (Com frete incluso).
Contatos para aquisição:
franpelima@bol.com.br
tel. (83) 9911 - 8286 / 8706 2819.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://blogdodrlima.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

26 de fev. de 2017

O AUTO DA COMPADECIDA: FILME COMPLETO

Por José Mendes Pereira
https://www.youtube.com/watch?v=EFmB8Qo-g-k

Este é um dos filmes mais engraçado que o Brasil já produziu. Todo brasileiro já o viu várias vezes. Você que não é brasileiro deveria assistir este filme e morrer de rir com as atrapalhadas do João Grilo e Chicó. João Grilo tem ideias para todas as dificuldades que lhe aparecem na vida. Nada fica sem solução. Você rirá do começo ao fim.

Publicado em 24 de mai de 2016
Categoria
Licença
Licença padrão do YouTube

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

25 de fev. de 2017

IGREJA DA BUNDA REDONDA

Por José Mendes Pereira
Igreja de São Vicente (templo católico construído pelos flagelados da Seca de 1915).

Segundo afirmam alguns pesquisadores que quando o cangaceiro Lampião esteve em Mossoró, juntamente com o seu afamado bando, no dia 13 de junho de 1927, chamou a Igreja de São Vicente de Paulo de "Igreja da Bunda Redonda".

Eu não tenho a informação se o bandido a chamou de "Igreja de Bunda Redonda" antes ou se foi depois da tentativa de invasão à cidade.

Igreja de São Vicente de Paulo - (templo católico construído pelos flagelados da Seca de 1915).

Se foi depois, tudo bem, mas se foi antes, São Vicente de Paulo possivelmente não gostou da sua atitude humilhante, chamando a sua residência de "Bunda Redonda", e com ódio, São Vicente partiu para vingança e ignorância, não deixou a malta levar nada, ao contrário, teve um prejuízo enorme, perdendo da sua afamada e respeitada "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia", o cangaceiro Colchete, que foi morto no combate, em frente a residência do Prefeito Rodolfo Fernandes, e José Leite de Santana o cangaceiro Jararaca, este saiu gravemente ferido do combate, fugindo em direção à ponte de trem, e no dia seguinte, foi capturado, e 5 dias depois, foi justiçado, tendo sido assassinado dentro do Cemitério São Sebastião de Mossoró.

Túmulo do cangaceiro Jararaca em Mossoró, o mais visitado de de finados

É quase certeza que em conversa com São Sebastião o dono do cemitério de Mossoró, São Vicente de Paulo tenha dito para ele:

Cemitério São Sebastião de Mossoró

- Sebastião, enterre este cretino aí e não o deixe mais sair". Ele chamou a minha residência de "Bunda Redonda".

- Agora saia, Vicente! Tô de olho nele! -Garantiu São Sebastião.

Esta informação do apelido dado à igreja de bunda redonda circula na literatura lampiônica, só que eu não disponho de fontes no momento, e não estou criando.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

23 de fev. de 2017

EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS NO TEXTO DO ARTIGO 26, DO COMPOSITOR CEARENSE EDNARDO

Por Anchieta Pinheiro Pinto²
https://www.youtube.com/watch?v=p5rsMmgivAQ

AUTOR EM DESTAQUE:

Ednardo, compositor contemporâneo, autor de composições antológicas das décadas de 70 
e 80, como Pavão Mysteriozo e Terral; 
nome de destaque no grupo chamado de 
Pessoal do Ceará e organizador ativo do coletivo cultural Massafeira (1979-1980). 
Palavras chaves: Educação, Filosofia, Música.
7.08.01.01-0  Filosofia da Educação

INTRODUÇÃO
             
A comunicação aqui apresentada é construída a partir de uma leitura com análise crítica do texto da música “Artigo 26”, do compositor cearense Ednardo, ou José Ednardo Soares Costa Sousa (nascimento em 17/04/1945), encontrando nele referências diretas à Declaração Universal dos Direitos Humanos e indícios de resistência cultural e valorização dos elementos regionais, em detrimento das imposições filosóficas e socioculturais do status quo. De modo paralelo, tal análise nos possibilita a redescoberta de presságios iniciais das estéticas simbolistas e modernistas em terras nordestinas.
              
A canção de Ednardo aqui analisada como texto, divulgada inicialmente no LP Berro de 1976, chegou com maior impacto ao grande público no final dos anos de 1970 e início da década de 1980, com o compositor, autor de mais de trezentos textos de músicas divulgadas, ganhando maior notoriedade nos anos 80, junto com seus conterrâneos Belchior e Fagner, em apresentações e reuniões musicais que os definiam como o “Pessoal do Ceará”.  Para acompanharmos essa leitura, cabe-nos apresentar o escrito por inteiro, corroborando com a posterior análise:

ARTIGO 26³

https://www.youtube.com/watch?v=wnGLWiZTpwQ

Olha o padeiro entregando o pão 
De casa em casa entregando o pão 
Menos naquela, aquela, aquela, aquela não 
Pois quem se arrisca a cair no alçapão? (BIS)
Anavantu, anavantu, anarriê 
Nê pa dê qua, nê pa dê qua, padê burrê 
Igualitê, fraternitê e libertê 
Merci bocu, merci bocu / Não há de quê!
Rua Formosa, moça bela a passear 
Palmeira verde e uma lua a pratear 
Um olho vivo, vivo, vivo a procurar
Mais uma idéia pro padeiro amassar (BIS) 
Anavantu, anavantu, anarriê 
Nê pa dê qua, nê pa dê qua, padê burrê 
Igualitê, fraternitê e libertê 
Merci bocu, merci bocu / Não há de quê! 
Você já leu o artigo 26, 
ou sabe a história da galinha pedrês? 
E me traduza aquele roque para o português 
A ignorância é indigesta pro freguês (BIS)
Anavantu, anavantu, anarriê 
Nê pa dê qua, nê pa dê qua, padê burrê 
Igualitê, fraternitê e libertê 
Merci bocu, merci bocu / Não há de quê! 
Você queria mesmo, é ser, um sanhaçu  
Fazendo fiu e voando pelo azul 
Mas nesse jogo lhe encaixaram, e é uma loucura  
Lá vem o padeiro, pão na boca é o que te cura  (BIS) 
Anavantu, anavantu, anarriê 
Nê pa dê qua, nê pa dê qua, padê burrê
Igualitê, fraternitê e libertê 
Merci bocu, merci bocu / Não há de quê! 
3. LP Berro. Gravadora RCA Victor, 1976.

1. METODOLOGIA
       
Neste artigo, serão feitas algumas reflexões a respeito do assunto Direitos Humanos a partir da educação, construindo-se um  estudo hermenêutico epistemológico que toma como base inicial o texto da música “Artigo 26”, no qual surge de forma emblemática a reflexão filosófica acerca da necessidade de oferta de educação e conhecimento para todos. A fim de alcançar os objetivos propostos ao longo de tal estudo, pretende-se analisar o texto em foco observando-se, em seu corpus, elementos e excertos que podem:  a) ser comparados ou mediatizados com a alegação de que, pela ótica da análise do discurso (ORLANDI, 2002), a linguagem jamais é neutra;  b) sugerir, de encontro com o Diálogo de Platão (PLATÃO, 1993), a descoberta da educação como “órgão” de visão que faz o “ser” sair integralmente das trevas, agregando-se à construção do cidadão da polis; c) demonstrar o elo filosófico com a mensagem humanística do Iluminismo francês; d) expressar a coerência do discurso ednardiano com o da Declaração Universal dos Direitos do Homem, da ONU; e) dimensionar a função didática e social dos “padeiros” aludidos pelo compositor, face à influência da belle époque e à doutrina assumida pelos estatutos da padaria espiritual que, conforme Sânzio de Azevedo (AZEVEDO, 1983), visaram normatizar a atuação da agremiação; Ademais, será desenvolvida uma discussão sobre os valores circulantes, em especial os de natureza cultural, guindando-os aos fatores sócio-históricos, artísticos ou científicos nos quais a educação está sempre imbricada.
    
2. PADEIRO: UM OLHO VIVO A PROCURAR MAIS UMA IDEIA
            
Aparentemente, o texto musical do “Artigo 26” foi composto como homenagem à Padaria Espiritual, uma curiosa agremiação cultural criada na cidade de Fortaleza, Ceará, em 1892 por alguns “rapazes de Letras e Artes”, dentre eles    o    músico    Henrique    Jorge  (10/02/1872 a 06/10/1928), os poetas simbolistas Lopes Filho (1868 – 1900) e Lívio Barreto (1870 – 1895),  e o romancista e poeta Antonio Sales (13/06/1868 a 14/11/1940). Porém, uma leitura mais aguçada de suas linhas pode nos sugerir uma visão mais didática e filosófica do texto em questão. Comecemos essa análise pelo título, compreendendo sua significação.
            
O título, enunciado como um mote direto para a significação da mensagem, tem referência literal expressa no Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que dispõe que: "Todo ser humano tem direito à instrução." E dela não sendo servido, certamente vai ficar no prejuízo posterior. 

Compreendendo a concepção de “instrução” como essência das prerrogativas de uma educação para todos, coerente com as concepções humanísticas dos Iluministas franceses, por exemplo ̶ para lembrar dos ideais do Humanismo europeu ̶, ocorre-nos que, de modo embrionário, essa noção filosófica e educacional já preexistia desde a constituição filosófica do homem grego, perspassando os objetivos da Retórica ou da Matemática,  posto que a finalidade maior concentrava-se na construção das potencialidades do homem social em si e na consecução deste como indivíduo cidadão da polis. Nesse caso, é na República de Platão que o assunto se acentua, quando está dito o seguinte:

(…) Como um olho que não fosse possível voltar das trevas para a luz, senão juntamente com todo o corpo, do mesmo modo esse órgão deve ser desviado juntamente com a alma toda das coisas que se alteram, até ser capaz de suportar a contemplação do ser e da parte mais brilhante do ser. A isso chamamos o bem. 
Ou não? - Chamamos. 

- A educação seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não a de fazer obter a visão, pois já a tem, mas uma vez que ele não está na posição correta e não olha para onde deve, dar-lhe os meios para isso (…) (PLATÃO, 1993, 518 C-D).

Textualmente, a composição da canção de Ednardo começa com os versos “Olha o padeiro entregando o pão / de casa em casa, entregando o pão”. A referência inicial é a dos “padeiros” (como eram chamados os sócios da Padaria Espiritual) distribuindo o “Pão” (o folhetim cultural da padaria) de porta em porta. A idéia de criar uma espécie de “padaria” para produzir cultura e conhecimento, para gerar/produzir um pão para alimentar o espírito dos necessitados, parece-nos que brotou de um ''insight'' do gênio inventivo de Antônio Sales, no momento em que o romancista e poeta degustava um pão. Nascia dali a idéia de fabricar um pão para alimentar o espírito do povo, concebido como metáfora da multiplicação do conhecimento. Certamente é dessa relação metafórica, mais filosófica e cultural do que religiosa, que se alimenta a construção do texto musical de Ednardo. 

3. A PADARIA ESPIRITUAL E SEU ESTATUTO

Todavia, em se tratando de Padaria Espiritual, observemos que, indo além de uma “alimentação” despretensiosa, a proposta cultural daqueles aludidos padeiros traz inerentes marcas de pioneirismo e pré-modernidade, uma vez que, numa época marcada pelo academicismo da literatura (1892-1896), é possível notar no gesto cultural e pedagógico o traço transgressor que dá forma às manifestações públicas e privadas realizadas pelo grupo, que enfatiza a rigor a defesa do localismo e a aversão ao estrangeirismo, em especial o francês. Isso, notadamente, na esteira da dinâmica movimentação sócio-politica e cultural da  transição do século XIX para o XX (nossa passagem da Monarquia para a República). A defesa desses pontos de vista aludidos, que nitidamente antecipam ideias do nosso modernismo literário, fica patente no Estatuto da Padaria Espiritual, publicado com quarenta e oito (48) artigos nas páginas do Pão. Contrariando o espírito cultural do período, este Estatuto pregava, por exemplo, a proibição do uso de palavras estranhas à língua vernácula, no artigo 14, e a recusa do tom oratório (tão ao gosto dos parnasianos) nas palestras e publicações, pretensão do artigo 11. Todavia, seguramente os dois artigos que davam maior seriedade à agremiação eram os seguintes:

02) A Padaria Espiritual se comporá de um Padeiro-Mor (presidente), de dois Forneiros (secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda-livros na acepção intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador da Coisas e das Gentes, que se chamará Olho da Província, e demais Amassadores (sócios). Todos os sócios terão a nomeação geral de Padeiros. […]

21) Será julgada indigna a publicação de qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à Fauna e à Flora brasileiras […] 

Embora nitidamente adotando um ideário nacionalista de oposição ao pensamento do colonizador, e a despeito da empolgação própria dos discursos juvenis, esses rapazes não negaram o valor dos grandes escritos e dos pensadores anteriores, como Goethe e suas obras, além de Shakespeare, Dante, Hugo, Camões, Homero e José de Alencar, tomando-os também como referência e mostrando o caráter consciente da agremiação, uma vez que, assim, recusava-se qualquer nacionalismo deformado, exacerbado, e compreendia-se num pensamento nacionalista abraçado à causa da valorização das referências da terra. Certamente, similar ao que foi feito pela Semana de 1922, estavam com antecipação de três décadas, procurando amadurecer a vitória de nossa brasilidade, aglutinando parcela salutar dos conhecimentos europeus, em benefício da construção da identidade nacional; com o Pão, ofertado diretamente aos cidadãos, na função de veículo dessas valorosas pretensões didáticas.

4. O PÃO E OS PERIGOS DO ALÇAPÃO

Com alma livre e irreverente, a distribuir o “Pão” da cultura em todos os meios de uma metrópole encantada com o espírito da Belle Époque, esses padeiros negavam a aristocracia e vestiam seus ideais de  irreverência e senso crítico, além do sincretismo literário, como exemplo de dispersão do saber. Reiteramos: a idéia da dispersão do saber é a referência mais marcante a seguir, exposta a partir do título da canção de Ednardo: “Artigo 26”. 
              
Vale aqui lembrar que a canção foi escrita nos primeiros anos do Regime Ditatorial no Brasil (1964-1984), numa época onde predominava na Educação uma forte influência externa e uma crescente evolução do domínio cultural norte-americano sobre o país. Repito aqui os versos musicados que dizem: “Você já leu o artigo 26; Ou sabe a história da galinha pedrês?; E me traduza aquele roque para o português; A ignorância é indigesta pro freguês”. Como já citamos anteriormente, a música de Ednardo, aqui em análise, veio ao público no LP Berro, de 1976 (Gravadora RCA Victor). Neste Long Play, de espírito tão próximo da visionária padaria citada, ressalta-se a necessidade da distribuição da cultura, especialmente a partir da valorização dos elementos regionais, nada obstante o grito de alerta ainda não tenha sido escutado pela maioria das pessoas, que preferem, ainda hoje, por desconhecimento, o encanto das culturas alheias dominantes. Somente escapando desse encantamento e da “ignorância” é que cada pessoa pode ser livre, como o sanhaçu da música, citação do pássaro rebelde genuinamente brasileiro; livre para cantar solto no céu, mas sempre nas asas da educação, porque sem instrução e sem cultura o cidadão torna-se uma presa fácil da manipulação do sistema sociocultural. Como diz o texto: “Você queria mesmo é ser um sanhaçu; Fazendo fiu e voando pelo azul; Mas nesse jogo lhe encaixaram, e é um loucura; Lá vem o padeiro, pão na boca é o que te cura."

Como a ousada aventura contava com alguns contraditórios – especialmente daqueles para quem a instrução do povo sempre foi algo assustador –, para os padeiros havia o receio de entregar o "Pão" naquela casa e ser alvo de violência verbal ou contestação. É por isso que se diz "Menos naquela, aquela, aquela, aquela não; Pois quem se arrisca a cair no alçapão?". E alçapão, um termo tão usual no período posterior ao AI-5 no Brasil, quando predominaram as prisões de intelectuais nos porões e alçapões do Estado opressor.

Ainda sugerindo ideais de liberdade é que a canção exalta a tríade “Igualité, Fraternité e Liberté”, paradigmas cultuados pela Revolução Francesa, mas menosprezados cotidianamente, na prática, pela burguesia já vitoriosa. No caso do exercício de distribuição da cultura pelos “padeiros”, o “educando” agradecia o "Pão" recebido, em francês, idioma à moda na época (Merci bocu, merci bocu – Obrigado, obrigado), ao que o padeiro respondia, inicialmente em francês (Nê pa dê qua, nê pa dê qua – de nada, de nada), sugerindo  passos de balé (padê burrê), para depois sublinhar em português que "não há de quê!", após citar de modo brejeiro, os passos em francês de nossa quadrilha matuta: “anavantu, anavantu, anarriê”.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para além de uma mera homenagem, a composição de Ednardo abraça uma mensagem bem mais didática e filosófica. Como Orlandi (2002, p. 95) afirma, “a linguagem não é jamais inocente”; ou seja, ela não se mostra ou se apresenta como neutra. Pelo contrário, sempre há algo a mais a ser dito, além do que está exposto nas palavras que compõem o “dizer”, e atravessando os sentidos possíveis, porém escondidos nas entrelinhas.  Ainda mais se tratando de obra realizada no período em questão, oriunda de um compositor tão polissêmico. Um compositor que, embora pouco acionado pelos atuais veículos de mídia,  mantém público fiel, que mais se aproxima da sua obra com o hoje estrondos  o   avanço da internet. E para Ednardo, certamente o que muito caracteriza seu pensamento é a marca inconteste de nunca ter se reconciliado candidamente com o mundo em que vive, construído por desigualdades econômicas e sócioculturais. Na composição em foco, sobressalta claramente sua verve desconcertante, resgatando a utopia didática dos padeiros da Padaria Espiritual e confirmando, num tempo onde quase todos os valores assumem identidade de produto, a sua marca de permanente desafiador de ideias prontas. 

6. REFERÊNCIAS

ALVAREZ, KLÁUDIA. Música do Ceará. Disponível em:   
AZEVEDO, Sânzio de. A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará. Fortaleza-CE: Edições IOCE, 1983. 
AZEVEDO, Sânzio de. Literatura Cearense. Fortaleza-CE: Edições Academia Cearense de Letras, 1976. 
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura brasileira. São Paulo: Edções Cultrix, 2001.
FEITOSA, Soares. Estatutos da Padaria Espiritual. Disponível em: <http://www.jornaldepoesia.jor.br/espi.html> Acesso em 27/11/2016.
MELHORAMENTOS. Michaelis Dicionário Escolar Francês. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/escolar-frances/> Acesso em 27/11/2016.
OBVIOUS. A Padaria Espiritual: movimento cultural precursor da Semana de Arte Moderna de 22. Disponível em: <http://lounge.obviousmag.org/promiscuidade_artistica/2013/10/a.html#ixzz4RQ9JaYH4> Acesso em: 27 de nov. 2016.
ORLANDI, Eni P.  Análise de Discurso. 4.a edição. Editora Pontes. Campinas-SP: Edições Pontes,  2002.
OLIVEIRA, Paulo Eduardo de (org.) Filosofia e educação: aproximações e convergências.
Curitiba-PR: Círculo de Estudos Bandeirantes, 2012. 
PEIXOTO, Mariana. Ednardo Lança Livro e Álbum Massafeira. Disponível em:
Acesso em 27/11/2016.
PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. 
QUADRADA DOS CANTURIS. Ednardo, discografia. Disponível em: <http://quadradadoscanturis.blogspot.com.br/2014/09/ednardo-discografia.html>
Acesso em 27/11/2016.
SOUSA, José Ednardo Soares Costa. Ednardo.Disponível em:<  http://www.ednardo.art.br/novo> Acesso em 27/11/2016.     
SOUSA. José Ednardo Soares Costa. Letras, de Ednardo. Disponível em: <http://www.letras.com.br/ednardo> Acesso em 27/11/2016.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com


22 de fev. de 2017

OUTRO OFICIAL PERNAMBUCANO NA CAMPANHA DO CANGAÇO DA BAHIA; RESPONSÁVEL PELA DURA CAMPANHA DE DÁ CABO A CANGACEIROS, TENENTE ZÉ RUFINO... A HISTÓRIA COM DOIS LADOS...!!!

Material do acervo do pesquisador e historiador Guilherme Machado

José Osório Farias o "Zé Rufino" nasceu em 20 de fevereiro de 1906, em Pernambuco.

Comandante de volante que mais liquidou cangaceiros, adentrou à Força Pública do Estado da Bahia, assentando praça em 2 de janeiro de 1934.

Passou a compor as Forças em Operações no Nordeste. Chegou a segundo tenente em 1939.

Entre aqueles cangaceiros que eliminou, Zé Rufino destacou, em entrevista, Azulão, Barra Nova, Canjica, Catingueira, Corisco, Maria Dórea, Mariano, Meia-Noite, Pai Velho, Pavão, Sabonete, Zabelê e Zepellin.

https://www.youtube.com/watch?v=nA1dZkbBZEc
https://www.youtube.com/watch?v=y-XePnXu1eA

(FOTO E FONTE: YOUTUBE) TEXTO PRODUZIDO POR MIM A PARTIR DO YOUTUBE.)

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

COISAS ENGRAÇADAS QUE ACONTECEM COM A GENTE E A GENTE NUNCA ESQUECE!

Por José Mendes Pereira

No final da década de 60, eu ainda era um jovenzinho, e não tão feito, uma dupla de cantoras sertanejas veio cantar no "Cine Caiçara de Mossoró". Não tenho bem lembrança que dupla era, mas acho que era Duo Ciriema (não estou confirmando que tenha sido ela mesma, mas tudo leva a crer que foi), e que já fazia sucesso no Brasil.


Eu era funcionário da "Editora Comercial S/A", que além de trabalhar para o comércio, ela ainda imprimia livros dos escritores de Mossoró e das regiões adjacentes.

Como a "Editora Comercial" era uma empresa da Sociedade de Cinemas e Rádio, eu gostava muito de estar ali, na Rádio Difusora, com os locutores, controlistas, mas eu nunca fui seu empregado, apenas da sociedade, porque a Rádio, a Editora e o Cine Caiçara todos funcionavam no mesmo prédio.


Dom Gentil Diniz Barreto, Alcides Belo lá atrás e José Maria Madrid

Essa dupla iria se apresentar no Cine Caiçara, à noite, e antes do Show começar, ela cedeu uma entrevista ao locutor José Maria Madrid, que estava com um programa pela manhã no Cine Caiçara, com sucesso garantido, chamado de: "ZY-20".

No período deste acontecimento o diretor artístico da Rádio era o José Genildo Miranda, além de sócio, mas me parece que ele estava viajando a serviço da emissora.


Nilson Brasil e José Genildo de Miranda

As duas permaneciam no Estúdio da Emissora, respondendo as perguntas que o José Maria Madrid  lhes fazia, e da sala de estúdio para a sala de áudio, existia apenas um vidro, mais ou menos de 1.00x2.00, na horizontal. Eu não me lembro quem estava operando o áudio.

https://www.youtube.com/watch?v=2xlP2pVLPDE

E lá do Estúdio para a sala de áudio, nós nos víamos  respectivamente. E assim que a entrevista terminou elas entraram na sala de áudio e me abraçaram, "as duas de uma só vez", e me beijaram, dizendo: 

"VOCÊ É TÃO LINDINHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Esta foto foi feita em um aniversário da minha mãe quando eu ainda tinha 50 anos. Graças a Deus, eu tenho envelhecido devagarinho. Talvez alguém diga que não, mas é mais do que verdade.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1111403528970830&set=pcb.1111403635637486&type=3&theater

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

20 de fev. de 2017

MARIA DAS LÁGRIMAS

*Rangel Alves da Costa

Uns diziam que era por safadeza, outros diziam que a mulher era chuvarada mesmo, mas de qualquer modo nunca se viu nada igual: a mulher chorava tanto, mais tanto mesmo, que enchia até tanque e açude.

Num momento estava seca de secura da terra e estiagem, já no outro ao desabrido chuveiro de mil soluços. Num instante e seu olhar apenas olhar, sem nada além que o molhado dos olhos, mas já no outro com todas as comportas abertas e aquele mundão de água querendo tudo devorar.

Mulher choradeira da gota serena, dizia um. Já outro acrescentava: Deus me livre de estar perto dela quando começar a chorar. E era realmente de admirar e espantar aquela propensão ao choro e a forma de chorar. Ora, não chorava, apenas derrama dos olhos um carro-pipa a cada segundo.

Para se ter uma ideia, a casa dela ficava numa encosta, com o chão pendido de lado e com abertura por quase todo o pé de parede. E assim para que as águas de suas lágrimas escorressem adiante assim que começasse a chuvarada nos olhos. Providência mais que necessária diante do tsunami de repente surgido.

A chuvarada escorria dos olhos e se derramava encosta abaixo, levando em enxurrada tudo o que encontrasse pela frente. Acaso as águas não encontrassem pronta saída, não demorariam muito para encher a casa inteira, subindo pelas paredes até o telhado, deixando submersa a choradeira. E o pior é que a dona do mar aberto não sabia nadar.

Chorava por tudo, a mulher. E chorava em demasia. Viúva, Maria das Lágrimas, como assim era chamada, estava permanentemente proibida de chorar sua viuvez dentro de casa. Não só a viuvez como qualquer choro. Os moradores debaixo da encosta providenciaram abaixo-assinado para impedi-la de despejar quaisquer tipos de lágrimas lá de riba.

Por isso mesmo que só podia recordar do falecido esposo após descer a ladeira e se postar rente a um riachinho que havia por ali. Levando na mão um retrato ou qualquer peça de roupa do defuntado esposo, logo começava a chorar e a derramar água no leito adiante. Não demorava muito e o riachinho já estava em correnteza.

Certa feita, enquanto estava lamuriando sua saudade da vez e pensando nos dotes camísticos de seu falecido, avistou uma cueca samba-canção num varal adiante e logo lhe veio à mente aquele que ele mais gostava de usar para fazer safadeza. Então ela se derramou de vez. E desta feita a cheia do riachinho derrubou mais de dez casas pelos arredores.

Mas não demorou muito e pessoas da comunidade encontraram um meio de proporcionar utilidade àquelas enxurradas de lágrimas. Como a região estava seca demais, com a terra esturricada e os tanques já rachados no barro, então resolveram que Maria das Lágrimas poderia ser a salvação de muita gente e de muito bicho.

Tramaram, maquinaram, resolveram colocar em prática a ação. Cremêncio foi incumbido de despertar paixão naquele viúvo coração. Bateu à porta de Maria das Lágrimas com uma rapadura à mão e olhar adocicado que só. A mulher se encantou na hora. No mesmo instante se apaixonou pelo solteirão. Na mesma hora, ele tacou-lhe um beijo que a viúva quase desmaia.

Um encontro amoroso foi marcado na manhã do dia seguinte, bem ao lado da barragem seca que abastecia a povoação. O safado do Cremêncio já sabia o que fazer para que em pouco tempo a barragem novamente ficasse cheia. Chegou no horário combinado e ela já estava lá por detrás de uma moita, toda afoita e tremelusca, doida pra dar.

O safado logo acenou para que ela se aproximasse da beirada da barragem. Assim que ela quase pula em seus braços, ele recuou e disse que, pensando bem, era melhor que aquilo não acontecesse, pois ela era mulher viúva e respeitada, e por isso mesmo não poderia trair sua honra. E foi se afastando. Ali em pé, sem acreditar no que ouvia, a fogosa se derramou em tamanho pranto que mais parecia mil trovoadas caindo de uma só vez.

Em dois minutos a barragem estava cheia. Daí em diante foi uma fila imensa de homens a encher barragens, tanques e lagoas, com as lágrimas da mulher sempre enganada. Mas um dia ela não chorou. Não chorou por longo tempo a partir desse dia. De tão enganada, acabou ressecando tudo por dentro. Numa tarde, abriu a porta da casa lá no alto onde morava e olhou adiante para aquele mundo de mentiras, falsidades e enganações.

Então chorou toda a mágoa do mundo. E toda a cidade foi destruída e levada pelas enchentes.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com  

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://blogdodrlima.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com