30 de ago. de 2017

A PARAÍBA, QUE NÃO PARA DE ME SURPREENDER

Por W. J. Solha

A Paraíba é um estado
Que, embora pequeno e pobre,
Mesmo em sufoco danado,
Mesmo que nada lhe sobre,
Tem gênios pra todo lado,
mais gênios por metro quadrado,
do que o que mais se desdobre.
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Veja o Ariano Suassuna
Com sua Compadecida:
Comove e mata de rir
Esta nação tão sofrida.
E A Pedra do Reino é uma obra
Em que o romance recobra
A grandiosidade perdida.
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Veja os irmãos Carvalho,
O Walter e o Vladimir:
Levando o nosso cinema
Pra lá de onde ele pode ir,
Com ficção e verdade,
Mais arte e profundidade
Põem todos a refletir.
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Veja o Tarcísio Pereira
Com seu teatro premiado.
Veja os romances que escreve,
Tudo demais elogiado.
É grande o “Agonia na Tumba”
E “O Autor da Novela” retumba,
Torna o escritor... consagrado.
-
Também o Paulo Vieira,
com a força paraibana,
faz belos romances e peças,
cheios de garra, de gana.
O Aldo Lopes, de Princesa
tira sua luz, a beleza,
que nada no mundo empana.
-
Do Vale do Piancó
Saiu o José Siqueira.
Fundou, nem mais e nem menos:
Sinfônica Brasileira.
Regeu em Paris e Roma
E, homem que ninguém doma,
Gravou em Moscou a obra inteira.
-
Na poesia moderna
É a Paraíba um destaque.
Nos tempos da ditadura
Ouviu-se o nosso sotaque.
O verso belo e sucinto
Do Sérgio de Caso Pinto
Deixou a pátria... basbaque.
-
E o que dizer de outro gênio,
Ali, do Engenho Pau d´Arco,
O Schopenhauer dos versos,
Da podridão e do charco?!
O Grande Augusto dos Anjos,
Com seus sinistros arranjos,
Pôs, no Brasil, nosso marco!
-
E o que dizer de Chatô,
O Chateaubriand de Umbuzeiro,
Que deu a TV ao Brasil
E, ao povão brasileiro,
O MASP – Museu de Arte,
Fez da imprensa o estandarte
Da informação. Um guerreiro!
-
E vem lá de Cajazeiras,
Diacho, Marcélia Cartaxo,
E o filme “A Hora da Estrela”
Nela achou o seu facho.
Urso de Prata em Berlim,
Tornou-se famosa assim:
Da noite pro dia, um despacho.
-
Veja o José Rufino
Em galerias e bienais,
De Maracaibo até Havana,
Do Rio a Berlim, muito mais,
mostrando as instalações,
As grandes celebrações,
De sua infância e seus pais.
-
E a Paraíba, na escultura,
Tem o Erickson Britto,
Que na Praia de Tambaú
Deixou, vermelho, inaudito,
O grupo, arte de escol,
Que é a Saudação ao Sol,
Belo, estranho, esquisito.
-
O Linduarte Noronha
Deixou o nome na História
Com o seu filme “Aruanda”,
Que foi, para a sua glória,
O start do Cinema Novo,
Que deu um retrato ao povo,
E ao Brasil, ... a memória.
-
E veja o Eli-Eri Moura
De criações magistrais,
Sinfônicas, operísticas,
Para solistas, corais.
Goza de grande prestígio
Por ser o que é, um prodígio,
Por seus padrões musicais.
-
E veja só o Pedro Américo:
Vindo de lá de Areia,
Chegou à corte do Império,
E, lá, na Arte campeia.
O seu Grito do Ipiranga,
É belo e forte, cheio de zanga,
A nossa mente incendeia!
-
De Areia veio também
O homem de “A Bagaceira”.
Com ele o José Américo
Torna bem mais brasileira
A literatura, que é linda,
Mas muito inglesa, ainda.
Impõe-lhe a nossa bandeira.
-
Antonio Guedes Barbosa,
Segundo Arrau e Horowitz,
Foi dos maiores pianistas
com Barenboin e Argerich.
No pouco que ele viveu
Foi que Chopin mereceu
Que o mundo mais o aplaudisse.
-
E eis, lá vem Paulo Pontes,
Da nossa Campina Grande:
Faz rádio aqui em João Pessoa,
No Rio, sua vida se expande,
com “Gota D ´Agua” o culmina,
aos trinta e seis o fulmina,
( nela não tem quem mande ).
-
O Luiz Carlos Vasconcelos
É o palhaço Xuxu,
Que em geniais horas vagas
Faz filme, TV e, no cru
A peça que a fama lhe espalha:
O “Vau – sim! - da Sarapalha”.
Sempre Xuxu seu guru.
-
Veja o Servílio de Holanda.
O genial, genial cachorro
Do “Vau – Uau! – da Sarapalha”
N “A Canga” levando esporro
Como meu doido filho!
Eu sempre me maravilho
Quando sobre isso discorro.
-
E é de Pilar que nos chega
O imenso Zé Lins do Rego.
O seu “Menino de Engenho”
No mundo encontra aconchego.
Já o “Fogo Morto” conquista
Pela feição realista
E pelo intenso carrego.
-
O grande Paulo Bezerra
Veio de Pedra Lavrada.
Viveu muito tempo em Moscou,
Daí a obra premiada:
Ele é o maior tradutor
De Dostoiévski, um primor,
A sua tradução: esmerada.
-
Pombal deu Celso Furtado,
O grande economista
Que ensinou na Sorbonne e
Harvard ( É grande a lista ).
Foi, como bom candango
O bom ministro de Jango:
Seus livros são de idealista.
-
Leandro Gomes de Barros
Vem, também, de Pombal.
Foi o maior cordelista,
Um versejador genial.
Disse o grande Drummond:
“É o Príncipe” - ( sem meio-tom ):
Pra ele não há rival!”
-
Abram-se alas pro faz-tudo
Que é o Bráulio Tavares:
Da crônica e poesia à música,
São muitos seus avatares,
Com peças, romances, contos,
Ensaios que nos põem tontos,
Roteiros seus, há milhares.
-
E pense neste Brasil
Sem Zé Ramalho e Sivuca;
Sem Jackson e seu pandeiro,
Sem o Vandré, quê sinuca:
Sem Chico César, sem Elba,
Sem Vital Farias, quê selva!
Fariam falta maluca.
-
Pense em Nelson Rodrigues
E no polonês Ziembinsky
Sem Santa Rosa no Rio
E seu cenário nos trinques
Para “O Vestido de Noiva”:
Dois artesãos sem a goiva,
Fokine sem seu Nijinski.
-
E lá de Patos vem Shiko,
Que se impôs nos quadrinhos,
Belos, modernos, vivazes,
Que vão abrindo caminhos,
Impondo-se no Brasil,
Que em seus desenhos se viu
Com um imenso carinho.
-
Mulher Maravilha?, Hulk?
O Mike Deodato exporta
Super-heróis para o mundo!
O seu talento comporta
Batman, Thor, Flash, Electra,
Que a sua arte perpetra,
Tendo aqui sua horta!
-
De uma só vez, certa vez,
Mandaram-me entrevistar
Clóvis Júnior, Fred Svendsen
Flávio Tavares, ( no ar!),
Também Alberto Lacet,
Todos de saída, é,
Pra exposições no além-mar.
-
Flávio vai pra Israel, Berlim.
E quem chega em João Pessoa
Dá, na Estação Ciência,
( Com que Niemeyer o abalroa ),
Com o “Reinado do Sol”,
Em que se apura, em crisol,
A arte de quem a povoa.
-
E tem o Miguel dos Santos,
Que é ceramista, pintor,
grande personalidade,
um poderoso escultor,
que expõe ao mundo a magia
da arte que contagia
e que ele faz com ardor.
-
E há o Sérgio Lucena,
De técnica primorosa,
Imaginação febril,
Em que, a um só tempo, se goza
De Turner, Ensor e Rothko,
Num belo efeito óptico,
A forma... crua, ou... vaporosa.
-
E a quantidade de livros
De qualidade, que faz
o Astier! Marília Arnaud!
Olha a Débora Ferraz,
Maria Valéria Rezende
E Rinaldo de Fernandes,
Mais o Expedito Ferraz!
-
Escrevem Antonio Mariano
E o João Batista de Brito,
O Amador Ribeiro Neto
E o nosso poeta e erudito
Que é o Hildeberto Barbosa,
Grande no verso e na prosa.
O seu spleen já é um mito.
-
E o Lúcio Lins, Lau Siqueira,
Vanildo de Brito, Ed Porto,
Zé da Luz, Jurandy Moura,
E o Jomar Morais Souto?
E o Políbio, Beto Brito,
Bruno Gaudêncio: omito?
E há muito poeta solto!
-
E é gente nova chegando,
como o Roberto Menezes
e o Thiago Andrade Macedo,
com seus romances que, às vezes,
me deixam até abismado,
pois neste país... parado,
os anos lhes correm nos meses.
-
Zé Octávio de Arruda Mello
É um historiador da pesada.
O Águia Mendes verseja
Com rima bem delicada;
O Saulo Mendonça atrai
Por ser muito bom no haicai.
A Paraíba é afamada.
-
Zé Bezerra, o dos romances,
Tem o nome eternizado
Também pela sua aventura
de tornar concretizado
o nobre longa-metragem
que estreou, com sua filmagem,
no cinema de nosso estado.
-
E existe o Jessier Quirino,
Que faz o país gargalhar
Com as histórias, poemas,
De inteligência sem par.
Lembra as piadas, potocas
do Cavalcanti, engenhocas
pra fazer rir sem parar.
-
Oliveira de Panelas,
De igual genialidade,
Mesmeriza no improviso
Que tem com facilidade,
Mesmo na rima complexa,
Deixando a plebe perplexa,
Beirando a incredulidade.
-
E existe esse Zé Limeira,
Que é lenda e realidade,
Com versos que fez, não fez,
Ninguém, mais, sabe a verdade.
É um louco Augusto dos Anjos
Que faz sorrir os marmanjos
Com sua excentricidade.
-
No cinema há um elenco
De astros e estrelas do estado,
Além dos já referidos.
Com Zé Dumont são lembradas
Zezita, Suzy, Mayana,
Todas as três soberanas,
Brilhando pra todo lado.
-
E houve o Rafael de Carvalho
E há o Fernando Teixeira,
E há o Sebastião Formiga
Tudo ator de primeira,
mais Buda, Soia e Nanego,
e o Everaldo Pontes, meu nego,
pra abrilhantar a fileira.
-
Há os filmes de Laercio Filho
E há os de Marcus Vilar
( com “O Senhor do Castelo”
E “A Canga” a se destacar ).
E há os de Torquato, Ypojuca,
Joffily vai na muvuca,
E há mais gente a citar.
-
Veja o Correio das Artes,
Suplemento literário
Mais antigo do país:
É William Costa, declare-o,
Com todos os seus ardis,
Lidando com mil perfis,
Seu mentor extraordinário.
-
Que outro lugar, no Brasil,
Tem um Walter Galvão,
Tem um Jaldes Menezes,
Rodrigo Caldas à mão?
Onde um Gonzaga Rodrigues?
Leia os jornais, investigue!
Lugar nenhum, meu irmão!
-
Veja o Luiz Carlos Sousa
Numa sólida entrevista
E o poeta Linaldo Guedes
Passando alguém em revista.
Todos de grande cultura,
Têm no jornal a ventura
De uma diária conquista.
-
Veja que até exportamos
O José Nêumanne Pinto!
”Silêncio do Delator”,
O seu romance-absinto,
Já mostra que o redator
É alguém que sabe se impor
Na imprensa e seu labirinto!
-
Que outro lugar, no Brasil,
Tem uma Vitória Lima,
O Otávio Sitônio Pinto
Com que o povo se exprima,
Uma com “Fúcsia” na bagagem,
Outro com “Dom Sertão”, Ô viagem,
Dando a um jornal autoestima?
-
Temos, em nossos fotógrafos
Antonio David, João Lobo,
Além de Gustavo Moura,
- o que há de melhor... no globo!
João Lobo no vanguardismo,
Os outros dois no realismo,
Mostrando o melhor... do povo!
-
-
-
Claro que aqui há omissões
Como... Epitácio Pessoa(!),
Mas é um trabalho em progresso,
O estado se repovoa.
Aos poucos o vou aumentando,
Segundo vão me ditando
Os que veem mais nesta loa.


W. J. Solha: Foto diante do portal da Virgem, na fachada Norte da Catedral de Notre Dame, onde a Madona com o Menino centralizam a entrada cercada pelos demais signos do zodíaco que figuram nos batentes. Isso porque a constelação de Virgo se situa de tal modo no horizonte, na manhã de 25 de dezembro, no Oriente, que o sol, em seguida, parece nascer sob ela, donde o Parto da Virgem.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogodmendesemendes.blogspot.com

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