28 de set. de 2019

ELEGANTE, BONITA, BEM PRODUZIDA, PASTA EM UMA DAS MÃOS, MAS TÃO DESVALORIZADA!

Por José Mendes Pereira

Do alto de um sótão observei o seu jeito que vinha caminhando pela rua despreocupada, de salto alto sempre procurando um jeito para colocá-lo sobre as pedras, talvez, temendo enganchá-lo entre uma pedra e outra. Elegante, bonita, bem produzida, pasta em uma das mãos, morena, os seus cabelos longos e lisos voavam através do vento que nascia no Norte e se dirigia para o Sul. Uma elegância perfeita, lustrosa, bem produzida, sem defeito. Que pena que é tão desvalorizada!

Não senti o cheiro do seu perfume devido à distância, mas sei que com aquela elegância toda, ela estava muito bem perfumada, muito cheirosa, e só podia ser uma secretária executiva de uma autoridade qualquer, quem sabe, de um prefeito municipal, de um esculápio que não era empregado do "SUS", de um advogado de fama, de um delegado, de um promotor de justiça ou de um homem que bate o martelo na mesa e sentencia um réu qualquer para pagar por detrás das grades o seu erro. Toda sua sabedoria estava enfiada em uma bolsa luxuosa segurada por uma das suas belas mãos.

Mesmo um pouco distante do sótão vi que o seu olhar era brilhoso, cheio de esperança, confiante no hoje que começa e no amanhã que há de vir. Sorriso nos lábios diante de todo o seu rosto. A alma fazia crer que aquele dia seria mais um belo espetáculo que iria apresentar para os seus assistentes apreciarem e julgarem o seu trabalho. Não é em um trapézio que ela apresenta o seu espetáculo, porque ela não é trapezista, nem tão pouco bailarina ou moça de circo, aquela que faz os espectadores admirarem o seu vai e vem nos instrumentos de espetáculos; nem pensar em ser uma assistente de autoridade qualquer, mas apresenta o seu espetáculo que instrue, informa e forma a todos aqueles que sentados a esperá-la entre quatro paredes.

Aos poucos ela foi sumindo, sumindo e não a vi mais. Nem de perto e nem ao longe. Ela caminhou para ocupar o seu ofício em qualquer lugar.
Fiquei pensando um bom tempo sobre aquela mulher que elegantemente passeava entre as ruas do meu bairro. Desci do sótão e perguntei a uma senhora que varria a sua calçada se a conhecia. E sem demora a resposta chegou:

- Eu a conheço muito! Ela é minha prima.

- Ela trabalha aqui por perto?

- Ela é professora de uma escola que funciona do outro lado deste quarteirão...

- Sabe me informar quanto ela ganha?

- Um pouco mais de 1.200,00 Reais.

Não suportei. A minha mente desmoronou os meus neurônios como se o meu célebre tivesse sido banhado por uma porção de sangue vencido.

Tão elegante, tão bonita, bem produzida, pasta em uma das mãos, e dentro da pasta carregava o seu material de trabalho, mas tão desvalorizada!

O que faz o Congresso Nacional que deixa um professor ganhar um pouco mais de 1.200,00 Reais?

Tanta elegância, tanto carinho pela educação, tanto esforço, tanto amor pelos seus discípulos, tanta esperança que um dia isso poderá mudar..., entra ano e sai ano, e a educação continua de mal a pior, triste, doente, quase na UTI das irresponsabilidades de quem governa um país tão rico e tão lindo...

Somente os professores continuam sonhando todos os dias que Deus dá, e insiste dizendo que vale a pena sonhar, mesmo sendo desvalorizados. A esperança na verdade é a última que morre, e não adianta abandoná-la.

Sou professor aposentado e vejo que todos aqueles que continuam no ofício, sonham que um dia virá o melhor, mas é muito impossível que isto venha acontecer.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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