Por Cultura de Lagoa Grande MG
Em meados da década de 1920, alguns ex-cangaceiros, entre eles um dos mais afamados e temíveis representantes do movimento, pisaram em solo patense. Era ele, nada mais e nada menos, do que o mentor de Virgulino Ferreira da Silva, o afamado e terrível Lampião. Trata-se de Sebastião Pereira da Silva (Sinhô Pereira), nascido em Vila Bela-PE (Serra Talhada) no dia 20 de janeiro de 1896. Entrou para o cangaço no intuito de vingar a morte de um irmão, com a aquiescência da família, em 1916, tornando-se um de seus maiores e cruéis expoentes. Um dia recebeu em seu grupo o jovem Lampião, a quem ensinou todos os segredos da decantada guerrilha social na Caatinga. Quando, em 1922, resolveu abandonar a vida de cangaceiro, antes de partir para Davinópolis-GO, deixou o comando nas mãos do pupilo.
Após rodar por várias regiões goianas ele acabou aportando em Patos sem ainda o “de Minas” com alguns de seus colegas. Por aqui, o afamado forasteiro adotou vários nomes e acabou tendo como protetor um dos chefes políticos mais poderosos da região, Cel. Farnese Dias Maciel. Por que ou qual o motivo suscitou a vinda de Sinhô Pereira e outros ex-cangaceiros daquelas lidas cizânicas da Caatinga? Qual o interesse tinha Farnese ao acolhê-los? Coincidência ou não, a época era de altíssima beligerância política entre as famílias Borges e Maciel, um ódio mútuo entre os dois representantes da elite patense que nos proporcionou cenas de extrema violência¹.
Muito provavelmente a pequena população patense da época sabia o porquê o Cel. Farnese adotara aqueles homens, mas não se sabe qual a reação dos simpatizantes do lado Maciel. Quanto ao lado Borges, inevitavelmente houve demasiado descontentamento. Em meio aos imbróglios políticos entre as duas famílias, houve uma tumultuada eleição em março de 1928. Foi instalada na Câmara Municipal uma das quatro seções eleitorais da Cidade. Deiró Eunápio Borges Júnior em seu livro “De Deiró a Deiró − Memórias de um Menino de Recados”, relata:
Então o presidente da seção única instalada, Diniz de Medeiros Diniz, cercado e apoiado por indivíduos mal-encarados, jagunços, quatro dos célebres maranhenses, inclusive o de nome Florentino Araújo, que no momento do tumulto sacou de uma arma e foi desarmado por um investigador, não se lembrando o autor se se encontrava no recinto o Francisco Araújo, Chico Maranhão, Chico Piauí, Sebastião Pereira ou Sinhô Pereira, que comandara Lampião e seu bando e por muito tempo “teve fama de ser o terror do Nordeste” e informa que, após andarem por seca-e-meca, vieram para Minas − para Patos − “sempre procurando paz” (Mirabile dictu!) sob a proteção do Cel. Farnese Dias Maciel (Rev. Manchete de 13/08/77).
Sinhô Pereira se adaptou muito bem aos ares patenses. Aproveitando a vastidão do sertão mineiro e as dificuldades de comunicação na região, que não só prejudicavam o desenvolvimento econômico, como facilitavam se manter escondido, Sinhô envia uma carta para Lampião, provavelmente nos idos das eleições citadas acima, chamando-o para vir a Minas Gerais. A carta animou Lampião, apesar de ele não ter respondido. E ele estava decidido a vir, quando afirmou a Manoel Félix, um de seus coiteiros²: Nós vamos roubar no estado de Minas Gerais. O negócio lá vai ser pesado. Quem quiser ir, vai. Quem não quiser, fica. Estou fechando minhas contas por aqui e cuidando de ajuntar cem homens. Felizmente, Lampião não veio.
Fato é que Sinhô Pereira e seus amigos estiveram, como jagunços, sob as ordens do Cel. Farnese Dias Maciel na guerra política entre as famílias. Só não se sabe o quantitativo de suas ações, o que eles produziram para o bem ou para o mal em prol de seu protetor e principalmente por quanto tempo ficaram por aqui. Certo é que um dia Sinhô Pereira cansou de ser cangaceiro na Caatinga. Certo é que um dia Sinhô Pereira cansou de ser jagunço em Patos, e resolveu dar um fim a essa vida desgranhenta, ancorando-se no anonimato no então Distrito de Lagoa Grande, na época pertencente ao Município de Presidente Olegário³. Quanto aos demais, não há informações confiáveis sobre quais e quantos eram na totalidade e ainda sobre o destino de cada um deles.
Na pequena vila, ninguém sabia quem era Sinhô Pereira, conhecido simplesmente como Francisco ou Chico Maranhão, dono de uma farmácia e capaz de dar um bom conselho a respeito de doenças. Ao seu lado, a neta e vários bisnetos. Na farmácia de Sinhô Pereira, também funcionou uma agência de correio. Em 21 de agosto de 1979, esquecido na pequena comunidade, findou-se a vida de Sebastião Pereira da Silva, o Sinhô Pereira, um dos mais atarantados representantes do Cangaço, mentor de Lampião, e que faz parte da História de Patos de Minas.
Raul Sausmikat, residente em Belo Horizonte e sobrinho-neto de Sinhô Pereira, comenta:
Sou descendente de cangaceiros que foram morar em Patos de Minas (devo dizer que não tenho orgulho desta condição). O Florentino tem um filho que trabalha aqui em Belo Horizonte na Radio Itatiaia (José Lino Souza Barros). Eu sou sobrinho neto do Sinhô Pereira, irmão do Quincas, que também morava em Lagoa Grande. O Quincas Maranhão era casado com minha avó Lica Maranhão, mãe de minha mãe, que morava até sua morte na Rua Juca Mandú, n.º 47. Sinhô Pereira está enterrado em Lagoa Grande.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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