13 de mai. de 2021

A MENINA FLOR E OS ESPINHOS DA VIDA

 *Rangel Alves da Costa

Uma bela flor. Uma jovem linda, uma adolescente, uma forma de vida tão cheia de graça e de formosura.

A menina flor ainda não vive os perigos após as portas abertas da adolescência. A tão bela mocinha ainda não conhece as estradas tão atraentes adiante, porém cheias de labirintos e de feras humanas.

A menina ainda é flor. Muito diferente de grande parte das adolescentes, que mesmo ainda não tendo saído completamente da infância e já se procuram se mostrar além do que são e fazer além do que podem.

A menina ainda brinca com sua casinha de boneca, ainda conversa com seus brinquedos, ainda dorme choupando o dedo. Bem poderia pensar somente em se arrumar, usar shortinho ou roupa justa, e abrir a porta pra se danar pelas ruas.

Bem que poderia, mas ela sequer pensa nisso. As coleguinhas da escola a chamam para fugir da aula, para andar por aí, para encontrar amiguinhos, mas ela sempre diz não. Recebe bilhetinhos enamorados, mas sequer responde.

De sua janela, seu olhar inocente vai afastando o mundo, mas sempre prefere enxergar alguma borboleta, algum passarinho, alguma coisa interessante que vá passando. Tem vontade de sair correndo pelos campos para conversar com as flores.

Certo dia, até ficou sem compreender quando avistou uma ex-colega de escola já de barriga grande, em estado de gravidez. Sequer imaginava o que poderia ter acontecido para que a amiga pudesse estar assim.

Ao ser avistada à janela, aqueles conhecidos da escola sempre se aproximavam para um convite. Ouvia suas gírias, suas falas quase incompreensíveis, seus chamados sem pé nem cabeça, mas não se interessava muito em saber em saber o porquê de aquilo tudo estar acontecendo.

Mas não era mais criança. Seu corpo já era de mocinha, sua forma física como a de uma bela e demasiadamente atraente adolescente. Com sua idade e beleza, certamente que outras mocinhas se encheriam de batons, perfumes, enfeites e passariam longos tempos perante o espelho.

Depois do espelho, a rua. O abrir a porta e sair por aí. Mas aquela mocinha era diferente. Não gostava nem de ouvir muito sobre sua beleza. Não dizia nada, mas ficava raivosa toda vez que ouvia que logo estaria com namorado.

Numa feita, perguntou à boneca de pano se ra bom beijar e qual o gosto que teria um beijo. Perguntou se era bom namorar e se não havia perigo algum de ter deixar de ser o que ela era e como gostava de ser. Silenciosa, a boneca parecia entristecida.

Um dia, resolveu se vestir como as outras meninas, pentear os cabelos de uma forma mais solta, encher os lábios de batom e as orelhas de brincos. Depois se mirou no espelho e não se reconheceu. Estava feia, aquela não era ela, nada daquilo queria. Disse a si mesmo.

Ofereceram-lhe um cigarro, um copo de bebida, um pó pra cheirar. Não, não quero, obrigado. Era o que sempre dizia. Mas resolveu não dizer mais. Compreendeu que só estavam oferecendo aquilo porque estava perto de pessoas que não deveria estar. E se afastou de uma vez.

Mas não era fácil viver assim, sempre se afastando das pessoas que não lhe pareciam úteis. Mas tinha de ser assim, sempre repetia. Também sofria por não deixar ser moldada segundo os outros desejavam. E dizia a si mesma que se fosse pelos outros, então deixaria de ser como tanto gostava de viver.

Então pendurou um calendário na parede, mas não que tivesse interessada em datas, meses, anos ou dias passando, mas tão somente para que o calendário simbolizasse a si mesma. Simplesmente deixaria o tempo passar, passar, passar.

E o tempo seria sua lição. Se houvesse que mudar, então mudaria. Se fosse pra namorar, um dia namoraria. Tudo no seu tempo. 

Escritor
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