Recorte do "O Jornal", periódico carioca, em 16 de Março de 1934. Essa foto de Lampião foi tirada 5 anos antes na Fazenda Jaramataia em 27 de Novembro de 1929, mais precisamente no município de Gararu(SE).
PM mais antigo de Pernambuco, o 2º Sargento RRPM Andrelino Pereira Filho, morreu na sexta-feira (27), aos 107 anos.
De acordo com informações da Polícia Militar, ele faleceu em casa, no bairro Cohab VI, em Petrolina, no Sertão, após testar positivo para Covid-19, na terça-feira (23).
Segundo a PM, por causa da idade avançada, o Sargento Andrelino estava recebendo atendimento domiciliar. Em 2010, o militar reformado teve uma perna amputada, após um acidente. Em 2020, perdeu a visão, por problemas oftalmológicos. Apesar dos problemas de saúde e da idade avançada, ele mantinha a lucidez.
O Sargento Andrelino nasceu em Cabrobó, no dia 18 de março de 1914. Ainda jovem, em junho 1936, ingressou na Polícia Militar. Atuou em cidades como o Recife, Águas Belas, Pesqueira, São José do Egito, Serra Talhada e Arcoverde.
Entre os feitos do Sargento Andrelino na Polícia Militar está a participação das “volantes”, como eram conhecidos os grupamentos que combatiam o cangaço no Sertão nordestino. O ex-policial se aposentou em 1966.
Em 2018, o Sargento Andrelino foi homenageado pela PM de Pernambuco. Ele ganhou uma placa alusiva a passagem de seus 104 anos de vida e agradecimento pelos serviços prestados à corporação e a sociedade pernambucana.
O corpo de Andrelino Pereira Filho foi sepultado na sexta-feira, em Petrolina. A Fundação de Apoio ao Centro de Assistência Social da PMPE informou que fez uma visita à família disponibilizando apoio para o sepultamento.
Para marcar esse momento vamos fazer três lives, comentando o conteúdo do livro, em que estarei conversando com Luciana Nabuco, Milton Guran e Luiz Antonio Simas.
Jornalista, tradutora, escritora e artista plástica. Nascida em Rio Branco, Acre, mora atualmente no Rio de Janeiro. Foi professora na Universidade Federal de Roraima e atualmente ministra workshops sobre literatura. Dirigiu, escreveu e produziu o documentário “Mãos feitas de fé” sobre cultura afro-brasileira. Colaboradora do projeto “Nas Trilhas da Literatura” para formação de leitores concebida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, seção brasileira do International Board on Books for Young People - IBBY, órgão consultivo da UNESCO e Academia Brasileira de Letras – ABL. Autora dos livros Okan, A Casa de Todos Nós, Imigram meus pássaros e Nossas almas murmuram na sombra. Como ilustradora foi vencedora do concurso nacional em 2018 pela Ong "Fábrica de Imagens" de Fortaleza para realizar a identidade visual da mostra "Curta O Gênero" com o tema "Política, democracia e Feminismos Latino Americanos", com exposições na caixa Cultural de Fortaleza e Centro Cultural Dragão do Mar.
Esteve presente como parceira do projeto Memórias Sangradas, tendo participado como pesquisadora e nas entrevistas dos personagens.
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 1948, morou durante certo tempo em Brasília, onde fundou a Agência Ágil de Fotojornalismo e foi presidente da União dos Fotógrafos de Brasília e secretário da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), entre 1980 e 1983. Retornando depois ao Rio, onde foi fotógrafo do Museu do Índio, entre os anos de 1986 e 1989.
É mestre em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (1992) e doutor em Antropologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Marselha, França (1996). Publicou os livros: Encontro na Bahia (Ágil, 1979); Linguagem fotográfica e informação (Editora Gama Filho, 1992); Agudás: os brasileiros do Benin (Nova Fronteira & Editora Gama Filho, 2000).
Exerceu papel de liderança em diversos setores, tendo sido responsável pela criação da coleção de livros de fotografia da Editora Dazibao, no início dos anos 1990; pela implantação do curso de pós-graduação em Fotografia da Universidade Candido Mendes (Rio de Janeiro); bem como pela criação do FotoRio (Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro), em 2003.
Luiz Antonio Simas é professor, historiador e escritor. É autor de diversos livros, como Dicionário da História Social do Samba, escrito com Nei Lopes e vencedor do Prêmio Jabuti 2016 na categoria Livro de Não Ficção do Ano; Fogo no Mato: a ciência encantada das macumbas (2018), com Luiz Rufino; Samba de enredo: História e arte (2010), com Alberto Mussa, Maracanã, quando a cidade era terreiro, com fotos de Ricardo Beliel. Trabalhou como consultor, ao lado de Ruy Castro, Sérgio Cabral, Jairo Severiano e Hermínio Bello de Carvalho, no processo de criação do novo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro e recebeu, em 2014, por serviços prestados à cultura do Rio de Janeiro, o conjunto de medalhas da comenda Pedro Ernesto, conferido pela Câmara Municipal. Tem mais de uma centena de artigos e textos publicados em jornais e revistas sobre a cultura popular brasileira. É jurado do Estandarte de Ouro, a mais tradicional premiação do carnaval carioca e autor dos livros Almanaque Brasilidades – Um inventário do Brasil popular e Arruaças – Uma filosofia popular brasileira (com Luiz Rufino e Rafael Haddock-Lobo), editados pela Bazar do Tempo.
Ricardo Beliel
Inicia seu interesse por arte estudando gravura no MAM/RJ com Fayga Ostrower, Ana Letycia e Ruddy Pozzati e no Centro de Estudos de Arte Ivan Serpa. Em 1973 começa a fotografar, trabalhando com músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Egberto Gismonti e O Terço. Em 1976 entra para o jornalismo como fotógrafo contratado do jornal O Globo, passando depois por Manchete, Placar, Fatos e Fotos, Veja, Isto É, agência F-4, Manchete Esportiva, Jornal do Brasil e O Estado de São Paulo. Foi editor de Fotografia da revista Manchete e sub-editor no jornal Lance, no qual participou da equipe fundadora. Durante seis anos fez parte da agência GLMR & Saga Associés em Paris, produzindo reportagens fotográficas na América Latina e África. Como jornalista e fotógrafo independente colaborou com Grands Reportages, Figaro Magazine, VSD Magazine, Time, National Geographic, Victory, Voyage, Colors, Geo, La Vanguardia, Los Tiempos, Ícaro, Terra, Próxima Viagem, Vice, Placar e Angola Hoje entre outros.
Recebeu da Organização Internacional de Jornalistas o prêmio Interpressphoto e da Confederação de Jornalistas da União Soviética o prêmio Alexander Rodchenko, ambos em 1991. Foi finalista cinco vezes do Prêmio Abril de Jornalismo, sendo vencedor em três anos consecutivos. Em 1997 foi finalista no Prêmio Esso de Jornalismo com uma reportagem sobre a expedição da Funai para estabelecer o primeiro contato pacífico com os índios korubo na floresta amazônica.
Participou de 99 exposições em locais como Kunsthaus, em Zurich, Museo Carillo Gill, na cidade do México, Museo de Bellas Artes, em Caracas, Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Cultural Telemar, Museu de Arte do Rio/MAR e Centro Cultural Justiça Federal, no Rio de Janeiro, e Museu de Arte de São Paulo. É graduado em jornalismo na Faculdade Hélio Alonso e pós-graduado em Fotografia nas Ciências Sociais na Universidade Cândido Mendes, em Comunicação e Políticas Públicas na Escola de Comunicação/UFRJ e Teoria e Prática da Educação de Nível Superior na ESPM/RJ. Foi professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), na Universidade Estácio de Sá, na Universidade Candido Mendes e no Ateliê da Imagem. Jurado do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018
Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, no momento da chacina, lá na Grota do Angico, no Estado de Sergipe, o cangaceiro Juriti e a sua companheira Maria tiveram a sorte e conseguiram ludibriar o cerco policial, juntamente com tantos outros que estavam acoitados na Grota do Angico. Naquele triste amanhecer do dia, onze cangaceiros foram abatidos, inclusive o rei Lampião e a sua rainha Maria Bonita.
Após alguns meses do combate de Angico o cangaço quase todo fora enterrado juntamente com o rei Lampião, ficando apenas o bando de Corisco e de Moreno. E cada um tomou o seu destino, e a maioria foi para Jeremoabo, na Bahia, para se entregar às autoridades.
Mesmo sem a presença do rei Lampião Moreno continuou o seu movimento até o dia 2 de fevereiro de 1940, quando resolveu abandonar o cangaço, e sem ser identificado por muitos anos, Moreno deixou a vida de bandido e passou a ser homem da sociedade.
Já o cangaceiro Corisco resolveu abandonar a vida de bandoleiro, mas não teve sorte. Mesmo já tendo deixado os horrores para trás, foi baleado pelo Tenente Zé Rufino no dia 25 de maio de 1040. E não resistindo, veio a óbito.
Foto do capitão Aníbal Ferreira gentilmente cedida para o nosso blog pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio.
O capitão Aníbal Vicente Ferreira comandante geral das forças de combate ao banditismo resolveu o problema dos remanescentes de Lampião com o coração, enterrando a razão juntamente com uma parte do cangaço.
Ofereceu uma nova vida aos cangaceiros, assinou todos os documentos necessários à soltura, dando-lhes garantia de liberdade, encaminhando-os para se incorporarem novamente à sociedade.
Juriti foi um deles, que juntamente com Maria e o cangaceiro Borboleta (este sendo irmão do assecla Sabonete), entregaram-se às autoridades, sendo liberado. Mas o Juriti não sabia que alguém o procurava.
Sargento Deluz
Na década de quarenta, por má sorte de Juriti o delegado de Canindé era o Amâncio Ferreira da Silva, um militar mais famoso daquela região, o sargento Deluz. Mesmo ele sabendo que o movimento social de cangaceiros havia acabado, procurava com prazer os remanescentes de Lampião, só para exterminá-los.
Em 1941, Deluz era proprietário de uma fazenda denominada Araticum. E nessa madrugada, Juriti estava em Pedra Dágua de rede armada e cachimbo aceso na casa de um amigo, o Rosalbo Marinho. Assim que tomou conhecimento da presença de Juriti em Pedra Dágua, Deluz resolveu ir aprisionar o pássaro humano.
Juriti lhe disse que era um homem já liberado pela justiça e não podia ser preso, uma vez que o capitão Aníbal havia lhe dado documento de soltura. Mas o delegado Deluz não quis saber disso. Prendeu-o e juntamente com os seus capangas, levaram o assecla com destino a Canindé, nas terras do Estado de Sergipe, arrastando o pássaro humano que logo iria morrer. Juriti sabia que não havia milagre, e não se cansava de chamá-lo de: "Covarde".
Ao chegarem a uma fazenda denominada Cuiabá, Deluz deixou a estrada e entrou na caatinga. Em uma capoeira, chamada Roça da Velhinha, fizeram uma fogueira.
Fogo pronto, os perversos jogaram o ex-bandido dentro do língua de fogo. As chamas famintas principiaram pelas vestes. Juriti sentindo as labaredas assando o seu corpo gritava de dor e ódio:
"Covardee!... Covarde!... Covard...! Cov...!" A sua voz foi sumindo como um eco bem distante, e em pouco tempo, o fogo assou Juriti consumindo as suas carnes vivas.
Mas as maldades do De Luz contra o Juriti ele pagou caro conforme Alcino Alves Costa, De Luz foi executado em uma tocaia encomendada por seu sogro, em 1952.
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora mineira nascida em 14 de março de 1914. Apesar de ter apenas dois anos de estudo formal, tornou-se escritora e ficou nacionalmente conhecida em 1960, com a publicação de seu livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, no qual relatou o seu dia a dia na favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Morreu em 13 de fevereiro de 1977. Hoje é considerada uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira.
O seu livroQuarto de despejo traz as memórias de uma mulher negra e favelada (como diz o subtítulo) que via a escrita como forma de sair da invisibilidade social em que se encontrava. Com seus diários, suas memórias registradas por meio da escrita, Carolina Maria de Jesus deu sentido àsua própria história e hoje é figura essencial na literatura brasileira.
A escritora Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Filha de uma família pobre, teve uma educação formal de apenas dois anos. De 1923 a 1929, a família de lavradores migrou para Lajeado (MG), Franca (SP), Conquista (MG), até voltar definitivamente para Sacramento. Nessa cidade, a escritora e sua mãe ficaram presas durante alguns dias. Como Carolina sabia ler, as autoridades concluíram que ela lia para fazer feitiçaria.
Em 1937, Carolina Maria de Jesus mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou como empregada doméstica. Em 1948, foi viver na favela do Canindé, onde nasceram seus três filhos. Enquanto viveu ali, sua forma de subsistência era catar papéis e outros materiais para reciclar.
Em meio a toda essa difícil realidade, havia os livros. Carolina Maria de Jesus era apaixonada pela leitura. A escrita literária, portanto, foi uma consequência. Assim, em 1950, publicou um poema em homenagem a Getúlio Vargas, no jornal O Defensor. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas (1929-2018) conheceu a autora e descobriu que ela possuía diversos cadernos (diários) em que dava seu testemunho sobre a realidade da favela.
Foi ele quem ajudou a escritora a publicar seu primeiro livro — Quarto de despejo: diário de uma favelada. Assim, em 1960, o livro foi publicado e transformou-se em um sucesso de vendas. Nesse mesmo ano, a autora recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, além de receber um título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina, em 1961.
Depois do sucesso do seu livro, Carolina Maria de Jesus mudou-se da favela do Canindé, gravou um disco com composições próprias e continuou a escrever. Porém, suas próximas obras não obtiveram o mesmo êxito da primeira. Em 1977, no dia 13 de fevereiro, Carolina Maria de Jesus morreu em Parelheiros, distrito da cidade de São Paulo.
A obra de Carolina Maria de Jesus é marcadamente memorialística, uma literatura de testemunho, em que a autora expõe a realidade em que vive e reflete sobre ela. Nessa perspectiva, seus principais livros são:
Quarto de despejo (1960);
Casa de alvenaria (1961);
Diário de Bitita (1986);
Meu estranho diário (1996).
O livro que fez mais sucesso foi Quarto de despejo, mas isso não se repetiu. Os livros seguintesnão despertaram o interesse nem da crítica nem da imprensa brasileira. A autora começou a cair no esquecimento. Mas no ano anterior à sua morte, ocorrida em 1977, seu primeiro livro foi relançado pela editora Ediouro. Em 1986, quase dez anos depois de seu falecimento, sua obra póstuma, Diário de Bitita, foi publicada no Brasil. No entanto, esse livro já tinha sido publicado, no ano de 1982, em Paris, com o título: Journal de Bitita.
Foi em 1994 que o livro Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus, de José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine, foi publicado e gerou um novo interesse pela escritora. No ano seguinte, os mesmos autores lançaram, nos Estados Unidos, o livro The life and death of Carolina Maria de Jesus. Além disso, eles organizaram os livros Meu estranho diário e Antologia pessoal, compostos por textos deixados pela autora e publicados em 1996.
O livro Quarto de despejo é a obra-prima de Carolina Maria de Jesus. Foi traduzido para vários idiomas. Atualmente, cerca de 40 países conhecem essa obra. Após a morte da autora, esse livro continuou a ser editado, Carolina Maria de Jesus virou nome de rua e de biblioteca, teve livros produzidos sobre ela e muitas dissertações e teses acadêmicas foram escritas, principalmente sobre a sua primeira obra. A autora, portanto, conquistou lugar de destaque na literatura e na história nacional.
Segundo Fernanda Rodrigues de Miranda, mestre em Letras: “Carolina Maria de Jesus é precursora da Literatura Periférica no sentido de que ela é a primeira autora brasileira de fôlego a constituir a tessitura de sua palavra a partir das experiências no espaço da favela, isto é, sua narrativa traz o cotidiano periférico não somente como tema, mas como maneira de olhar a si e a cidade. Por isso, seu olhar torna-se cada vez mais crítico diante do cenário de ilusões que São Paulo projetava com sua falsa imagem de lugar com oportunidades para todos”.
O livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, é um diário da autora escrito no período de 1955 a 1960. Nele, a primeira coisa que chama a atenção é a linguagem, mais próxima do coloquial, sem a preocupação com regras gramaticais, o que faz a obra mais verdadeira, mais próxima do real.
Carolina Maria de Jesus gostava muito de ler. Isso fez diferença em sua vida, já que se transformou em uma escritora conhecida mundialmente e, por meio da escrita, pôde sair do contexto da favela. Para ela, a leitura era algo necessário e, apesar da miséria em que vivia, sempre encontrava uma forma de prosseguir com esse hábito: “Peguei uma revista e sentei no capim, recebendo os raio solar para aquecer-me. Li um conto. Quando iniciei outro surgiu os filhos pedindo pão”.
Seu retrato da favela do Canindé é cru, direto, sem retoques: “Durante o dia, os jovens de 15 e 18 anos sentam na grama e falam de roubo. E já tentaram assaltar o emporio do senhor Raymundo Guello. E um ficou carimbado com uma bala. O assalto teve inicio as 4 horas. Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro na rua e no capinzal. Teve criança que catou vinte cruzeiros em moeda. E sorria exibindo o dinheiro. Mas o juiz foi severo. Castigou impiedosamente”.
A autora é a voz da favela e realiza a função de mostrar essa realidade, em seu diário, como a violência contra a mulher e a situação das crianças nesse ambiente: “A Silvia e o esposo já iniciaram o espetaculo ao ar livre. Ele está lhe espancando. E eu estou revoltada com o que as crianças presenciam. Ouvem palavras de baixo calão. Oh! se eu pudesse mudar daqui para um nucleo mais decente”.
O seu diário também é um instrumento de resistência e justiça, a autora acredita no poder da palavra escrita, no poder da literatura. Em uma ocasião, Carolina Maria de Jesus vai a um açougue, onde a caixa se nega a vender qualquer coisa para ela. Mais tarde, a autora escreve: “Voltei para a favela furiosa. Então o dinheiro do favelado não tem valor? Pensei: hoje eu vou escrever e vou chingar a caixa desgraçada do Açougue Bom Jardim”. E cumpre sua promessa: “Ordinaria!”.
Além disso, ela tem consciência de que sua escrita pode mudar a sua vida: “É que eu estou escrevendo um livro, para vendê-lo. Viso com esse dinheiro comprar um terreno para eu sair da favela. Não tenho tempo para ir na casa de ninguem”. No entanto, não era compreendida por seus vizinhos: “O José Carlos ouviu a Florenciana dizer que eu pareço louca. Que escrevo e não ganho nada”. Ou ainda: “Um sapateiro perguntou-me se o meu livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse-me que não é aconselhavel escrever a realidade”.
Outro fato interessante da vida da autora é a sua opção de não se casar, o que mostra uma mulher independente e forte para a sua época: “Eu enfrento qualquer especie de trabalho para mantê-los [os filhos]. E elas, tem que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. [...]. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas”.
Essa sua independência manifesta-se também neste trecho: “O senhor Manuel apareceu dizendo que quer casar-se comigo. Mas eu não quero porque já estou na maturidade. E depois, um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler. E que levanta para escrever. E que deita com lapis e papel debaixo do travesseiro. Por isso é que eu prefiro viver só para o meu ideal”.
Por ser uma mulher de personalidade forte, Carolina Maria de Jesus, no contexto da obra, não é muito apreciada pelas outras mulheres da favela. Mas a escrita (além da leitura) é a forma que a autora encontra para suportar os problemas de sua realidade: “Aqui, todas impricam comigo. Dizem que falo muito bem. Que sei atrair os homens. Quando fico nervosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo”.
É recorrente na obra a menção à leitura e o quanto ela é importante na vida da escritora: “Passei o resto da tarde escrevendo. As quatro e meia o senhor Heitor ligou a luz. Dei banho nas crianças e preparei para sair. Fui catar papel, mas estava indisposta. Vim embora porque o frio era demais. Quando cheguei em casa era 22,30. Liguei o radio. Tomei banho. Esquentei comida. Li um pouco. Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem”.
Outro elemento que se repete no diário é a menção à fome: “Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por não ter o que comer”. E ainda, no dia do aniversário da assinatura da Lei Áurea, Carolina Maria de Jesus escreveu: “E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual — a fome!”.
Aliás, Audálio Dantas, o jornalista que apresentou Carolina Maria de Jesus ao mundo, fez a seguinte declaração sobre isso: “A fome aparece no texto com uma frequência irritante. Personagem trágica, inarredável. Tão grande e tão marcante que adquire cor na narrativa tragicamente poética de Carolina”.
E, por vivenciar a fome, a autora demonstra a consciência da desigualdade social quando critica o governo da época: “O que o senhor Juscelino [Kubitschek] tem de aproveitavel é a voz. Parece um sabiá e a sua voz é agradavel aos ouvidos. E agora, o sabiá está residindo na gaiola de ouro que é o Catete. Cuidado sabiá, para não perder esta gaiola, porque os gatos quando estão com fome contempla as aves nas gaiolas. E os favelados são os gatos. Tem fome”.
Então, responsabiliza o governo pela pobreza: “Quando Jesus disse para as mulheres de Jerusalem: — ‘Não chores por mim. Chorae por vós’ — suas palavras profetisava o governo do Senhor Juscelino. Penado de agruras para o povo brasileiro. Penado que o pobre há de comer o que encontrar no lixo ou então dormir com fome”.
Não só o presidente do Brasil é alvo de suas críticas, como podemos perceber a seguir: “Os politicos só aparecem aqui nas epocas eleitoraes. O senhor Cantidio Sampaio quando era vereador em 1953 passava os domingos aqui na favela. Ele era tão agradavel. Tomava nosso café, bebia nas nossas xicaras. Ele nos dirigia as suas frases de viludo. Brincava com nossas crianças. Deixou boas impressões por aqui e quando candidatou-se a deputado venceu. Mas na Camara dos Deputados não criou um progeto para beneficiar o favelado. Não nos visitou mais”.
Além de sua consciência como mulher e favelada, ela também está atenta aos preconceitos e discriminação racial: “Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa arvore. O guarda civil é branco. E há certos brancos que transforma preto em bode expiatorio. Quem sabe se guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?”.
Quando vai buscar papéis oferecidos por uma senhora, moradora de um prédio, ao subir o elevador, descalça, no sexto andar, “o senhor que penetrou no elevador olhou-me com repugnancia. Já estou familiarisada com estes olhares. Não entristeço”. Em seguida, o homem bem-vestido quer saber o que ela está fazendo no elevador. Ela se explica e pergunta se ele é médico ou deputado, ele responde que é senador.
Por fim, Carolina Maria de Jesus justifica o título de seu livro: “a Policia ainda não prendeu o Promessinha. O bandido insensato porque a sua idade não lhe permite conhecer as regras do bom viver. Promessinha é da favela da Vila Prudente. Ele comprova o que eu digo: que as favelas não formam carater. A favela é o quarto de despejo”. E ainda: “Eu classifico São Paulo assim: o Palacio, é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos”.
O livro Quarto de despejo é marcado, como ficou claro, por uma visão bastante crítica da realidade. A autora Carolina Maria de Jesus não se abstém de falar de política, da situação da mulher negra e favelada na sociedade, da fome. A sua obra, além de literária (e uma declaração de amor à leitura e à escrita), carrega forte carga política, de forma que não é possível separar uma perspectiva da outra. Assim, quando escreve que a favela é o quarto de despejo, a autora deixa clara a sua indignação diante da realidade em que vive.
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
SOUZA, Warley. "Carolina Maria de Jesus"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/carolina-maria-jesus.htm. Acesso em 21 de novembro de 2021.
Conheçam mais sobre o cangaceiro Pedro Pau-Ferro o Velocidade.
Vídeo novo para vocês.
Conheça um pouco mais sobre a vida do cangaceiro Pedro Pau-Ferro o Velocidade, homem cruel que ficou conhecido por ter sido o carrasco dos seis membros da família Ventura que tombaram sob as ordens de Corisco no episódio conhecido como " Chacina da Fazenda Patos "... Pessoal peço que se inscrevam nesses dois canais que estarei deixando o link abaixo. " Cangaço Nordestino " canal novo que tem uma garotada da nova geração mostrando serviço. E o " Nas Trilhas do Nordeste " do amigo Kalyfa Barros, onde ele mostra suas viagens de moto por várias cidades do Nordeste, sempre contando suas histórias. Se querem livros sobre o cangaço e outras temáticas de qualidade, sigam a página do amigo Dede Livros, lá vocês podem encontrar produtos de qualidade com um excelente preço.
Lampião foi jogar baralho em uma budega, entrou u rapaz no jogo que tentou roubar, trapacear no jogo de baralho... quando Lampião descobriu a trapaça, ficou uma fera... veja só o que deu essa história em detalhe no vídeo.
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Você que gosta de ler o tema cangaço procura com urgência os bons livros da escritora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, adquirindo com o professor Pereira, através destes endereços:
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É uma escritora de nome e renome no que diz respeito ao estudo cangaceiro.
Na BIENAL DO LIVRO de 2005, em Natal, tivemos a oportunidade de debater LAMPIÃO, CANGAÇO e outros temas regionais com o estudioso Frederico Pernambucano de Mello. Para um auditório com cerca de 250 pessoas presentes – já que o tema não tinha o apelo ou interesse de hoje – batemos um papo bastante interessante e respondemos às perguntas feitas.
Na época eu acabara de lançar meu primeiro livro, “LAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA”. A mediação do debate ficou a cargo da teatróloga Clotilde Tavares.
Concorrendo no eixo Inovação – Fomento à Leitura, a coletânea de textos “Diários de Emergência Covid19”, com a participação do professor e poeta apodiense, radicado em Mossoró, Aluísio Barros, é um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2021, o prêmio literário mais importantes do país.
Publicados no Jornal Literatura Comunica entre março de 2020 e março de 2021, os “Diários” reúnem narrativas de 63 brasileiras e brasileiros de diversas regiões do Brasil e no exterior, dentre eles o de Aluísio, que, inclusive, abre a coletânea.
Segundo a responsável pelo projeto, Cynthia Rachel Pereira Lima “a produção foi inspirada na literatura de testemunho de urgência de Lima Barreto, Anne Frank e Carolina de Jesus. Escrever, compartilhar, ler esses diários criou uma comunidade afetiva em torno da experiência da Pandemia que agora recebe o selo finalista do Jabuti”.
Aluísio Barros de Oliveira nasceu em Apodi – RN, em 1959. É poeta e professor de literatura brasileira e africana de língua portuguesa, na Faculdade de Letras e Artes, da UERN. Atuou nos jornais O Mossoroense, Gazeta do Oeste e Jornal de Fato. É mestre em literatura comparada, pela UFRN. Já publicou os seguintes livros: Pássaro oculto (1981), Canção fora de tom & outros poemas (1986), Anjo torto (1993), Não toque, Alice (2001) e Dos Amores Que Beiram os Meus Caminhos (2013). É sócio efetivo do Instituto Cultural do Oeste Potiguar – ICOP e da Academia Apodiense de Letras – AAPOL
Benedito Meia-Légua, que assombrou os escravagistas anos antes da abolição
Seu nome original era Benedito Caravelas e viveu até 1885, um líder nato e bastante viajado, conhecia muito do nordeste. Suas andanças conferira-lhe a alcunha de "Meia-légua". Andava sempre com uma pequena imagem de São Benedito consigo, que ganhou um significado mágico depois.
Ele reunia grupos de negros insurgentes e botava o terror nos fazendeiros escravagistas da região, invadindo as Senzalas, libertando outros negros, saqueando e dando verdadeiros prejuízos aos racistas.
Contam que ele era um estrategista ousado e criativo, criava grupos pequenos para evitar grandes capturas e atacavam fazendas diferentes simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se vestia exatamente como ele.
Sempre que um tinha o infortúnio de ser capturado, Benedito reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a crer que ele era Imortal. E sempre que haviam notícias de escravos se rebelando vinha a pergunta "Mas será o Benedito?"
O mito ganhou força após uma captura dramática. Benedito chegou a São Mateus (ES) amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão do mato montado a cavalo. Foi dado como morto e levado ao cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito.
Noutro dia, quando foram dar conta do corpo, ele havia sumido e apenas pegadas de sangue se esticavam no chão. Surgiu a lenda que ele era protegido pelo próprio São Benedito. Por mais de 40 anos ele e seu Quilombo, mais do que resistiram, golpearam o sistema escravocrata.
Meia-Légua só foi morto na sua velhice, manco e doente. Ele dormia em um tronco oco de árvore. Esconderijo que foi denunciado por um caçador. Seus perseguidores ficaram a espreita, esperando Benedito se recolher. Tamparam o tronco e atearam fogo.
Seu legado é um rastro de coragem, fé, ousadia e força para lutar , ainda hoje é representado em encenações de Congada e Ticumbi pelo Brasil. Em meio as cinzas encontraram sua pequena imagem de São Benedito.
Todo dia 1 De Janeiro, o cortejo de Ticumbi vai buscar a pequena imagem do São Benedito do Córrego das Piabas e levar até a igreja em uma encenação dramática para celebrar a memória de Meia-Légua.