Clerisvaldo B. Chagas, 12 de julho de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.732
Quem convive com o Sertão, conhece muito bem a urtiga, a planta mais temida da caatinga, capoeiras e caminhos. É uma erva de 60 a 70 centímetros de altura com uma boa variedade. Pertence à família das Urticaceae. Pelo menos três espécies são muito comuns na área: uma baixinha de folhas largas e verdes, outra baixinha de folhas largas e vermelhas e uma terceira, caneluda de caule pelado e folhas pequenas nas extremidades, assemelha-se à favela. São terríveis ao triscar em qualquer parte do corpo e faz coçar desesperadamente.
Peia é um trançado forte de corda que se coloca numa pata de trás e outra na da frente das cavalgaduras, para que elas não se distanciem muito na folga do trabalho.
É chamado no Sertão: “cabra- de-peia”, aquele indivíduo ruim, que não vale nada. E que merece levar uma pisa, surra de peia, peça de corda.
E, de um modo chulo, não se sabe a razão: peia=pênis. “entrar na peia”, copular. Os cantadores costumam ameaçar colegas nas cantigas desafios: “você vai entrar na peia”, mas com sentido normal da peça usada nas cavalgaduras.
Embolador ou tirador de coco, é aquele indivíduo que canta na rua com pandeiro fazendo versos de emboladas ou coco, com um parceiro, em desafio.
Pois bem, um coronel do Sertão, fazendeiro abusado e matador de gente acabara de perder um profissional tirador de cocos dos coqueiros da fazenda. Fora embora para São Paulo. A colheita de coco rendia bastante dinheiro ao coronel que vendia aos caminhões para todos os lugares. Com as mãos à cabeça o fazendeiro não sabia o que fazer. Para subir num coqueiro e tirar cocos ninguém se atrevia que a missão é muito pesada. Pois bem, certo dia chegou um sujeito por ali e pediu emprego e comida. O coronel perguntou o que ele fazia na vida e o homem respondeu que era tirador de coco. Imediatamente ficou empregado, encheu a barriga do bom e do melhor até que o coronel disse: “Pronto, vá descansar que amanhã bem cedo você começa a tirar coco naqueles coqueiros da baixada”.
O novo empregado respondeu: “Eu não sei subir em coqueiro, coronel”. E o patrão de boca aberta “Oxente! você não disse que era tirador de coco?” “Sou tirador de coco de embolada, coroné. – Puxou o pandeiro de um saco que servia de mala.
O coronel ficou mais vermelho do que pimenta. “Como é a história, cabra! Eu não vou mandar lhe dar uma surra de peia, mas vou mandar lhe dar uma pisa de urtiga de bunda limpa, cabra da peste!" Um capanga já estava preparado e fez o serviço mandado pelo patrão. Após a pisa de urtiga, o embolador saiu correndo, correndo e se coçando numa agonia triste.
Daí em diante, o embolador podia tirar abacaxi, manga, banana, mas não queria nem saber de falar que era tirador de coco.
EMBOLADAS. (DIVULGAÇÃO).
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