Por Dr. Epitácio de Andrade Filho
Em 31 de dezembro de 1941, um grupo étnico-familiar descendente da escrava Raimunda e Manuel adquiriu por compra o Sítio Jatobá, na zona rural de Patu, passando a sobreviver da agricultura de subsistência e criação de animais.
O coletivo era liderado por João Luiz e Sereno, vindos da fazenda Atenas, terras de Joaquim Teixeira Dantas, localizadas no Povoado Junco, fronteira paraibana. Situado à margem direita da antiga estrada de ferro que ligava Patu a Caraúbas, o Jatobá permaneceu esquecido e invisível às políticas públicas até a criação do Movimento Patu 2001, em 1997, que começou a desenvolver um conjunto de atividades para dar visibilidade ao patrimônio histórico e cultural do município com o objetivo de fomentar alternativas de desenvolvimento local sustentável. Foi realizada uma exposição de faixas-poemas colocadas em prédios históricos. No Bangalô, na saída de Patu para o Jatobá, a faixa-poema continha a expressão: “Quilombo do Jatobá a 10 km à frente; Sítio arqueológico do Jatobá há 10 mil anos”. Esta intervenção despertou interesse de estudantes e professores universitários para conhecer a comunidade. Em depoimento a documentário sobre a história do jatobá, produzido pelo projeto de extensão Trilhas Potiguares(UFRN), a líder Sandra Silva afirma que o início da tomada de consciência quilombola se deu com o Movimento Patu 2001.
Um passo importante para o resgate histórico foi a viabilização de visita à comunidade da professora Iraneide Soares da Silva, da organização Quilombo, que produziu relatório e o encaminhou para a Fundação Palmares, possibilitando sua certificação.
Em 1999, realizou-se histórica visita de Dona Chica Brejeira “uma matriarca da negritude potiguar” ao líder comunitário “Sereno”. Dona Chica foi a pessoa que alcançou maior longevidade no Rio Grande do Norte. Ela nasceu em 15 de setembro de 1884, no Sítio Salobro, próximo à Atenas, de onde são provenientes os quilombolas do Jatobá e faleceu no município de Messias Targino, em 31 de dezembro de 2002, aos 118 anos.
Depois de longo processo de desapropriação envolvendo famílias quilombolas e não- quilombolas, em setembro de 2014, uma área de 220,71 hectares é titulada, tornando o Jatobá a primeira comunidade quilombola do Estado do Rio Grande do Norte com território titulado pelo INCRA(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Significativos investimentos ocorreram na comunidade como: Abastecimento d’água, melhorias habitacionais, realizações culturais para o desenvolvimento da consciência negra, identidade e ancestralidade, além de ações econômicas para melhoria da qualidade de vida e geração de renda. Até anos 80, existia na comunidade o terreiro religioso de matriz africana da mãe de santo Dona Nelcir da Silva.
Em 31 de dezembro de 2021, os quilombolas celebraram 80 anos de lutas e conquistas.
Viva João Luiz! Viva Sereno! Viva o Jatobá!
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