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07 junho 2018

REALIZAÇÃO DE SONHOS TENDO O SERTÃO POR TESTEMUNHA

Por Manoel Severo

Não me canso de afirmar: O Cariri Cangaço é uma imensa e extraordinária construção coletiva, isso desde sempre e para sempre... Agora novamente mais um desafio encantador, oficialmente tendo o querido estado de Sergipe como sede de nosso empreendimento, chegamos neste 2018 de fato e de direito ao solo da enigmática e poderosa Poço Redondo; grande e precioso território do sertão de Sergipe que guarda em seu íntimo e no coração de suas famílias um dos recortes mais importantes de toda a história do cangaço.

Não foi a toa que nosso Conselho Consultivo a partir de 2013 recebeu a honrosa denominação de Conselho Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço; assim o Caipira de Poço Redondo; um dos maiores e mais importantes pesquisadores da temática cangaço, com uma lucidez desconcertante, um incorrigível apaixonado pelo cangaço, pelas coisas do sertão e por sua Poço Redondo marcaria para sempre a história de nosso Cariri Cangaço.


As emoções de Alcino Alves Costa e o Cariri Cangaço

Tudo começou ainda nos idos dos anos 2009,2010,2011, quando Alcino; um entusiasta do Cariri Cangaço; nos provocava pela descentralização de nossas ações, partindo do meu Ceará para todo o nordeste e até chegar em sua querida Poço Redondo. De lá até aqui se vão sete anos oito anos, empreendemos por outros sertões, vieram os estados da Paraíba, Alagoas e Pernambuco, e com eles mais dez municípios; chegar a Poço Redondo seria uma questão de tempo... Alcino já não está conosco, partiu para velar pelo nosso sertão lá do céu... 

É bem verdade que nas fantásticas edições de nossos Cariri Cangaço Piranhas, tivemos a grata satisfação de aportar na terra de nosso Caipira e de forma solene abraçar e render homenagens à sua memória...Entretanto o compromisso ainda carecia de ser mais verdadeiramente cumprido.

Hoje, sete de junho de 2018, apenas sete dias nos separam de cumprirmos esse compromisso; quase espiritual, aliás também espiritual; um compromisso não só com Alcino, não só com Poço Redondo e seu amado povo, mas e principalmente com a história do cangaço. O Cariri Cangaço Poço Redondo particularmente para mim sela e consolida nosso sentimento e atitude de percorrer os mais importantes cenários desta saga das caatingas inciada há nove anos atras, que tem em Poço Redondo um de seus expoentes. Vamos sim recontar muitas histórias , vamos sim celebrar nossa memória, vamos sim "celebrar o chão sagrado de Alcino"... Sejam bem vindos agora e sempre.


As emoções de Alcino Alves Costa e o Cariri Cangaço

"Minha paixão pela temática cangaço surgiu ainda quando menino; de uns 10 a 12 anos...As andanças pelas caatingas famosas de nosso sertão já contam 16 anos...O encontro com um dos grandes Mestres:13 anos ! Em 2005 estive pela primeira vez em Poço Redondo e ali para minha grande honra conheci e passei a amar profundamente Alcino Alves Costa. Estamos chegando Caipira de Poço Redondo, chegando para celebrar seu sonho, sua vida, sua paixão... 
Que venha o Cariri Cangaço Poço Redondo" 

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço
Diretor da SBEC e do GEEC
07 de junho de 2018, Fortaleza, Ceará

http://cariricangaco.blogspot.com/2018/06/realizacao-de-sonhos-tendo-o-sertao-por.html

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04 junho 2018

ENSINA-ME A CUMPRIR TUA VONTADE!

*Rangel Alves da Costa

Senhor, então me ensina a cumprir Tua vontade. Assim está escrito no Salmo 143,10: Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus. O teu Espírito bom me guie por terra plana.
E assim Senhor, por que nada tenho e nada possuo que não seja de tua dádiva e de tua caridade, e por ter recebido de tuas mãos, que eu possa sempre preservar e frutificar e fazer do seu uso o melhor à vida e ao viver.
Se me fizeste para o bem, para a bondade, para a fraternidade, então por que eu haveria de percorrer outros caminhos e ser diferente? Se me deste a dádiva da existência, do viver e semear sobre a terra, então por que eu haveria de transgredir ao que me foi confiado?
Senhor, meu Pai, confiaste a mim a graça de ser filho teu. Deste-me a paternidade e um livro aberto com todas as lições para a vida. Jamais será honroso a um filho renegar sua paternidade nem rasgar o sagrado livro da existência.
Ensina-me Senhor, ensina-me a cumprir sempre a tua vontade. Num mundo desnorteado, num mundo amedrontado e violento, num mundo pecador e de perdição, não permita que eu fraqueje perante o mal. Se é da tua vontade viver para o bem, então me proteja com teu manto e dê-me o cajado para afastar de mim as más ovelhas.
Sou teu filho ó Pai, mas um frágil filho, um temeroso filho, um filho apenas. Dai-me, então, a força que não seja a do enfrentamento rancoroso, a coragem para lutar sem pegar em armas que firam, o destemor para conquistar caminhos sem ter que passar por cima das flores do caminho nem das pessoas que seguem pela mesma estrada.
Ensina-me ó Pai, ensina-me sempre a cumprir tua vontade. Se é da tua vontade que eu cumpra a tua vontade, se é do teu desejo que eu seja um filho fiel, então afasta de mim o cálice sujo de sangue, a má companhia, toda ingratidão que me ronda, toda falsidade que me persegue.


Torna-me, Senhor, não a perfeição humana, não o mais correto dos homens, não o menos pecador entre todos, mas apenas aquele que viva sem levar entristecimento aos olhos teus. Bem sei, ó meu Pai, o quanto sofres pelo filho desregrado, pela cria que se desgarra do rebanho e vai por tortuosos caminhos.
Senhor, meu Pai, ouça bem o que digo: mesmo nascido como dádiva sagrada, o ser humano dificilmente conseguirá fazer brotar a boa semente acaso a terra onde pise esteja devastada pela incúria, pela falsidade, pelo egoísmo, pela arrogância, pela cobiça, pela vaidade. Sozinho o filho teu é frágil demais para vencer todo o mal, então que lance sobre a terra a proteção aos justos e os arrependimentos aos injustos.
Se quiseres, meu Senhor, que teu filho cumpra fielmente tua vontade, que faça chover dádivas sobre a boa terra e do seu leito os melhores frutos: amor, compaixão, perdão, irmandade, fraternidade, comunhão, afeto, compreensão, pureza no coração. Floresça, ó Pai um jardim no meu e em todo coração.
Torna-me, meu Senhor, mais humanizado e tão humano que não esconda a lágrima quando sinta a dor, que não grite a aflição perante a tormenta, que não silencie perante a necessidade de bradar. Meu Senhor, somente a humanização dos sentimentos fará brotar o verdadeiro olhar diante da fome, da sede, da pobreza, de toda necessidade.
Prometo Senhor, não descurar do que foi escrito nem reescrever a minha sorte ao sabor de minhas conveniências. Reconheço, ó Pai, que nada sou sem vossa paternidade. Por isso que ao acender a vela e levantar minhas mãos em oração, que tudo seja como uma porta do Pai que se abre para reconhecer no filho, no teu filho que sou, aquele que serve ao mundo em nome do Pai.
Ensina-me, pois, a cumprir tua vontade. E mais que teu filho serei, pois serei orgulho e alegria perante o teu olhar!

Escritor
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03 junho 2018

CASOS DE FAMÍLIA... A SEPARAÇÃO DE MARIA COM ZÉ DE NENÉM E O‘APROCHEGO’ COM O "REI DO CANGAÇO"

Por Sálvio Siqueira

Maria Gomes de Oliveira segunda filha do casal José Gomes de Oliveira, José Felipe e de dona Maria Joaquina Conceição de Oliveira, Maria Déa, como toda moça no desvirginar da adolescência, sonha em casar e ter seu ‘príncipe encantado’ ao seu lado por toda a vida.

Nos sertões nordestinos esses sonhos eram, na maioria das vezes, uma maneira de fugir, escapar, do modo, maneira, ao qual eram tratadas as meninas pelos pais.

A criação não era nada fácil para um casal de agricultores, vivendo exclusivamente do que a roça lhes oferecia. O maior temor de um pai, ou uma mãe de família, naquela época era ter sua filha vendendo seu corpo nos cabarés das cidades. Principalmente a mãe, pois o machismo reinante faziam-na exclusivamente culpada. Com esse receio, em vez de educar, mostrando o fato, como a coisa se dava, e assim ela própria teria tempo para construir uma forte ‘muralha’ como defesa, os pais faziam eram manter suas filhas como escravas, ensinando, quando ensinavam, como ser obedientes em tudo ao marido. Logicamente, como em toda regra tem exceção, nessa também teve a sua.

O Casório…

Como em toda adolescência faz-se os grupinhos de moças e rapazes, com particulares e ‘segredos’ entre eles, naquele tempo, também tinha. Nos anos que se seguiram, Maria foi ‘ganhando’ uma ruma de irmãos, e fazendo amizades com algumas primas e primos. Logicamente todo mundo teve sua, ou seu, confidente, e Maria Gomes, Maria de Déa, tinha sua prima Maria Rodrigues de Sá como tal. Nas festividades, sambas e forrós que tinham na região, nas cidades de Santa Brígida, Santo Antônio da Glória e Jeremoabo, todas no Estado baiano, as quais ficavam mais perto de seu lugarejo, Malhada da Caiçara, pelos cálculos da época, como suas primas e amigas, Maria de Déa arrumou namoricos com um ou outro rapaz. 

Quis o destino que Maria se apaixona pela primeira vez por um de seus primos chamado José Miguel da Silva, por todos conhecido como Zé de Neném, da mesma localidade em que nascera, na Malhada da Caiçara, tendo uma espécie de ‘atelier’, ou um quarto de trabalho, um local para trabalhar, em Santa Brígida, onde exercia sua profissão de sapateiro.

Zé de Neném


"(…) Zé de Neném era filho de Pedro Miguel da Silva conhecido por todos na região pela alcunha de Pedro Brabo e Maria Conceição Oliveira, apelidada de Neném. O parentesco do sapateiro com Maria de 'Déa' vinha por parte da sua avó, Generosa Maria da Conceição, uma senhora que era conhecida pelo apelido de Juriti e que era irmã de Zé Felipe, pai de Maria (…).” (“A trajetória guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” –LIMA, João de Sousa. 2ª Edição. Paulo Afonso, BA, 2011)

Foto da casa dos pais de Maria Bonita.


Como a família de Maria Gomes, a família de Zé de Neném era bastante grande. Naquela época não havia os meios contraceptivos atuais e, com toda certeza, fazer, fecundar, filho era como se fosse um investimento para o futuro, erroneamente pensavam assim os catingueiros. No futuro eles iriam ajudar os pais nas lidas diárias das fazendas, essa, e simplesmente essa, era a razão. Dentre as irmãs do sapateiro, destacamos Mariquinha Miguel da Silva, que, em determinada época, deixa seu marido, Elizeu, que era proprietário da fazenda Ingazeira onde moravam, e dana-se no mundo sombrio e incerto do cangaço com o bandoleiro Ângelo Roque, chefe de um dos subgrupos do bando de Lampião, que tinha a alcunha de ‘Labareda’.

Maria e José casam-se.

Não demoraria muito para que se começassem as incompatibilidades.

A Separação…

Maria era por demais ciumenta e seu esposo, Zé de Neném, um verdadeiro ‘pé de forró, não saindo dos sambas.

Certa feita, estando Zé em um dos vários botecos, bebendo com alguns conhecidos, chega Maria e arma o maior escarcéu. Zé se defendia das acusações de Maria até quando pode, porém, a baiana encontra em um de seus bolsos uma lembrança de uma ‘amiga’, um pente com o nome da mesma. Nisso o pau quebrou pra valer. E a já conturbada vida a dois entre Zé e Maria, pelo fato de Maria não engravidar, desmorona-se de vez.

Maria Bonita – Fonte – http://umas-verdades.blogspot.com


“(…) Maria encontrou um pente em um dos bolsos do marido, com o nome de uma moça gravado no objeto (…). Este tipo de discussão e separação tornou-se uma constante e marcou significativamente o relacionamento dos dois (…). O casal não chegou a ter filhos. Alguns amigos confirmam a esterilidade do sapateiro Zé de Neném, que não chegou a engravidar nenhuma das mulheres com quem viveu (…).” (Ob. Ct.)

Pois bem, nessa, como em tantas outras ‘separações’, Maria Gomes corria à procura dos braços acalorados e protetores de seus familiares, apesar de seu pai, Zé Felipe, não concordar com tais separações, ela assim procedeu por várias vezes.

E Chega Lampião!!!

Em uma dessas separações, já se indo alguns dias, mais ou menos quinze dias de Maria estar na casa de Déa, sua mãe, ela, por um acaso conhece o “Rei dos Cangaceiros”. Achamos, particularmente, que num ímpeto, Maria deixa aflorar seu ego, e permitiu que se falasse o cupido. Tanto Maria, quanto Lampião sente alguma coisa dentro deles de cara. A atração foi dupla e contagiante. Lampião, que tanto fez arapuca, tanta emboscada aprontou, caiu de quatro pela armadilha que o destino lhe fez. A morena da Malhada da Caiçara acabou de domar uma fera nascida e criada na região pernambucana do Pajeú das Flores. Não podendo mais esconder sua paixão, Lampião inventa de inventar uma encomenda, vários bordados em lenços de seda, simplesmente para ter a desculpa, de vindo ver se tinha algum lenço pronto, vir mesmo era Maria. Sabedora dos planos de Virgolino, Maria, logicamente aceita a encomenda e trata de, também, curtir aqueles raros momentos.




“(…) Era uma sexta-feira, Lampião pisou o batente da casa de Zé Felipe e Maria Déa. Odilon Café apresentou ao cangaceiro uma das filhas daquele casal, que no momento se encontrava ali, por estar separada do marido.

Novos sentimentos renasceram naqueles minutos seguintes. Depois de uma rápida conversa, lampião pergunta a Maria:

– Você sabe bordar?

– Sei!

– Vou deixa uns lenços pra você bordar e volto daqui a duas semanas pra buscar!

Este foi o primeiro diálogo realizado entre Lampião e aquela que seria a sua grande companheira e eterna paixão, até o fim da vida (…).” (Ob. Ct.) 


A partir de determinado tempo, ou de um dos encontros entre eles, não teve mais volta. O pai de Maria Gomes, Zé Felipe, não aprovava o namora entre ela e Lampião. Já por outro lado, sua mãe, Maria Déa, parece que até ‘cortar jaca’, cortou, para que eles se encontrassem.


Violência Policial Contra A Família De Maria Bonita

Naquele tempo, a casa que recebesse com maior constância visita de cangaceiro, com toda certeza, logo, logo receberia a visita de alguma das volantes que caçavam os grupos. Então, rastejando os vestígios dos cangaceiros, as volantes terminaram fazendo, também, várias ‘visitas’ a casa da fazenda do pai de Maria Gomes, Zé Felipe. Com o aperto que deram no velho patriarca, cacete nele e sua família, até Zé de Neném foi pra debaixo da madeira, Zé Felipe resolve mandar sua filha para casa de um parente na fazenda Malhada, nas Alagoas. Para que assim, as volantes os deixassem em paz. Ao saber disso Lampião vai e dá um ultimato para Zé Felipe, ou ele manda buscar sua Filha em terras alagoanas ou ele destrói a fazenda com tudo que nela existia. Sem ter, novamente, uma saída, Zé Felipe manda alguém buscar Maria, sua filha.
Maria Bonita – Fonte – blogs.ne10.uol.com.br


Ao retornar, Maria Gomes percebe o quanto sua família estava envolvida numa encrenca desgraçada por seu romance com o ‘Rei do Cangaço’. Nesse momento, ela toma uma decisão importante que mudaria a vida de muita gente, principalmente a do pernambucano fora-da-Lei, para que a Força Publica deixasse seus familiares em paz. Quanto da localidade de onde Maria Gomes resolvera seguir com Lampião, não fora na fazenda onde nascera, a Malhada da Caiçara, e sim, numa outra localidade, onde cuidava de sua avó materna, Ana Maria, que estava enferma, denominada Rio do Sal.

Ao contrário do que pensou, planejou Maria de Déa, a Força Pública não se afastou da casa de seus familiares, pelo contrário, as visitas tornaram-se mais constantes e violentas, tendo como alvo principal o velho Zé Felipe, seu pai.

Estando já a não aguentar mais tanta pressão e cacete, Zé Felipe recebe a visita de um dos soldados da volante, que era seu amigo Antônio Calunga, dizendo-lhe que o comandante da volante recebera ordens superioras de acabar totalmente com a fazenda Malhada da Caiçara, matando todos que naquela ribeira moravam.
Zé Felipe, pai de Maria Bonita. 


Zé Felipe agradece ao amigo, junta sua família, desce rumo às águas do “Velho Chico” aluga uma embarcação, coloca todos dentro e passa para o solo alagoano. Vai montar residência no sítio chamado ‘Salgado’, no município de Água Branca. Porém, sua estada nele é curta. Pega suas trouxas novamente, levanta acampamento, junta seus familiares e parte rumo ao local denominado ‘Salomé’, o qual, hoje é a cidade de São Sebastião.

Nessa agonia, tendo de deixar suas terras por serem perseguidos e maltratados, constantemente, pela volante, um de seus filhos, conhecido como Zé de Déa, resolve juntar-se ao cunhado, Lampião. Lá estando, conta por tudo que seu pai, sua mãe, seus irmãos e irmãs passam. Lampião ordena que se façam as vestes, bornais, cartucheiras, em fim, toda a tralha de um cangaceiro para seu ‘cunhado’, e separar-se, também, as armas para o mesmo usar. No entanto, Maria sua irmã, não permiti que ele use armas. Mesmo estando por mais ou menos oito dias no acampamento, Zé de Déa e sempre aconselhado pela irmã para não fazer parte daquela vida em que ela metera-se. Termina o irmão por ceder aos conselhos da irmã.

O “Rei dos Cangaceiros”, através da sua malha de informantes, sabe da fuga do sogro e sua família, assim como tem o conhecimento da ordem e do nome do policial comandante incumbido da tarefa de matar toda a família de Maria, sua amada, que seria o tenente Liberato de Carvalho.

Recado de Capitão para Capitão…

Maria Bonita cangaceira

Certo dia chega a casa onde moravam Zé Felipe e sua família, uma volante policial. Começam a destruir as coisas, matam alguns animais que estavam soltos, mas, próximos a casa. Sem ninguém da família na casa para saciar a ira dos volantes, sobra para um morador das redondezas, que seria, segundo indicaram, um coiteiro, o qual é colocado debaixo de cacete e depois assassinado pela tropa.


“(…) Uma volante visitou a casa de Zé Felipe e não encontrando ninguém, quebraram as madeiras dos currais, destelharam e quebraram parte do telhado da residência, matando alguns animais. Menos sorte teve o coiteiro Manuel Pereira, conhecido como Manuel Tabó, que por não ter fugido acabou sendo espancado e morto pelos soldados (…).” (Ob. Ct.)

Lampião, sempre ardiloso, sabia que partir para enfrentar de cara a volante, indo a desforra, pelo que fizera nas terras da Malhada da Caiçara, usa de outra artimanha. Ordena a um de seus ‘cabras’’ que vá em determinado lugar, e peça a determinada pessoa para vir vê-lo. Essa pessoa já havia, em outras oportunidades, feito o mesmo que ele o enviaria para que fizesse.

Essa pessoa era conhecida pelo apelido de Tonico, e era irmão de Zé de Neném, ex marido de sua companheira Maria de Déa.

Atual Delegacia de Polícia Civil de Jeremoabo, o antigo aquartelamento dos tempos do Cangaço – Fonte – Rostand Medeiros 


Lampião escreveu uma missiva e determina que o jovem a leve ao Capitão João Miguel, em Jeremoabo, BA. Assim, o jovem após dar voltas e ter a certeza de não estar sendo seguido, parte rumo ao destino determinado. Lá chegando, procura o oficial no QG.

“(…) Tonico seguiu em direção ao quartel, sendo recebido por um sargento que fazia a guarnição e lhe perguntou:

- O sinhô qué fala cum quem?

- Com o Capitão João Miguel!

- Eu posso resolver?

-Não, tem que ser com o Capitão!

O sargento foi até a sala do capitão, retornou alguns minutos depois e pediu para que Tonico o seguisse até a sala do oficial (…).” (Ob. Ct.)

Tonico era frio, Lampião sabia escolher a pessoa certa para cada missão específica. E essa era bem difícil de ser cumprida, pois tinha que o colaborador entrar em um quartel militar. Chegando diante do capitão, esse dispensa o sargento e recebe o papel que lhe é entregue pelo portador.

“(…) O Capitão João Miguel, depois que leu o bilhete, falou: “Se você está numa missa dessa, não é preciso pedir segredo, pois você deve ser da confiança de Lampião”.

Os dois conversaram secretamente, trancados dentro da saleta. O Capitão João Miguel mandou a resposta: diga ao Capitão que pode mandar o sogro dele voltar, pois a partir de hoje não passará mais nenhum soldado na sua porta.  Na manhã seguinte, ao despertar, Tonico regressou da sua missão, trazendo consigo, a promessa positiva de que nenhuma volante iria mais importunar aquele pedaço de chão e sua gente V…).” (Ob. Ct.)

Vejam que Virgolino não só sabia manejar as alavancas das armas que usou, mas, também, com tinta, pena e papel, fazia suas defesas diante de uma guerra particular, imposta por ele mesmo, contra seus inimigos.

Uma das coisas que mais ocorreu no cangaço foi à traição, tanto do lado dos cangaceiros e coiteiros, como mesmo do lado daqueles que os davam combates. E essas atitudes, tomadas por dinheiro ou ‘favores’, foram mais um motivo para que Lampião prolongasse por quase vinte longos anos, seu reinado de sangue, lágrimas e mortes nas entranhas do sertão nordestino.

Fonte “A trajetória guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição. Paulo Afonso, BA, 2011. Foto Ob. Ct. Benjamin Abrahão

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29 maio 2018

MORDENDO A BATATA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de maio de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.911

Quando o dia queria morrer, acenderam uma fogueira. Mesmo sendo verão, começou a chegar um vento frio que se foi tornando cada vez mais gelado e, eu que sou friorento, não mais aguentei a situação e fugi. Fui refugiar-me dentro e no fundo da barraca de lona preta, armada pelos pescadores. Durante o dia havíamos subido com eles de Belo Monte até ali ao sítio Telha. Naquele lugar deslumbrante e terrível, acampamos no leito seco do rio Ipanema, no lado de baixo das temíveis corredeiras. A proposta era passar uma noite pescando pitu, camarão e peixe, coisa que havia sido feita pelo dia. Após a pesca de covos, houve pirão de peixe e bom descanso. Eu, mais dois amigos e cerca de três pescadores do São Francisco, queríamos apenas um aventura farrista.

PITUS. (COZINHA CAIÇARA).

Um garrafão de cachaça de cabeça levada por nós, ao invés de animar, acabou a brincadeira. Os meninos de Belo Monte entraram abaixadinhos no “caldo de cana” a que não estavam acostumados. Eu não conseguia dominar o frio no fundo da barraca e imaginava uma cheia repentina naquele cânion que nem a alma escaparia. De repente os pescadores se desentenderam motivados pela “marvada”, rolou confusão e pega-pega, sendo preciso corajosa intervenção dos amigos para acalmar os ânimos. Quando a poeira baixou, os caboclos ainda continuaram verificando os covos, catando os pitus nas armadilhas, produzindo na fogueira os petiscos para as demais rodadas.
Infelizmente aquela noite não era eterna e deu tempo suficiente para me arrepender da empreitada. Mas como saberia da brusca amplitude térmica do lugar? Acho que não preguei o olho, ansioso pela barra do dia. E quando finalmente a luz solar mostrou a face, fui ver o campo de batalha. Entre mortos e feridos escaparam todos do frio, da arenga e da cachaça de cabeça. Estavam estirados pelo areal e pelas enormes pedras das corredeiras. Mais tarde juntamos tudo e partimos para Belo Monte.
Nunca mais quis saber de aventura noturna que pudesse me trazer prejuízo. Os camaradas da pesca voltaram todos com a cara de burro depois da fuga. Nem sei dizer se os seus dentes estavam sadios após as dentadas na cana, mas, cachaça de cabeça, “véi”, quem quiser que vá comprá-la na casa das “mile peste!”, tenho dito.


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27 maio 2018

RASO DA CATARINA - PRIMO DE GATO

Gravação do cineasta e pesquisador do cangaço Aderbal Nogueira
https://www.youtube.com/watch?v=4Lw7P2Dlvxs

Publicado em 6 de mar de 2018

Viagem ao Raso da Catarina ano 2000. Nessa viagem encontramos um primo do cangaceiro Gato. Aqui uma pequena parte da excursão.

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24 maio 2018

DA MARANDUBA A JUAZEIRO (UMA INACREDITÁVEL HISTÓRIA CANGACEIRA)

*Rangel Alves da Costa

Naqueles idos de 32, ano do famoso Fogo da Maranduba, em cujo mês de janeiro as volantes comandadas pelo baiano tenente Liberato de Carvalho e pelo pernambucano Manoel Neto, arremeteram contra o bando de Lampião acoitado nos arredores da Fazenda Maranduba, sendo aquelas derrotadas pela astúcia estratégica do Capitão, o até agora pouco conhecido aconteceu. E com consequências realmente inacreditáveis.
Pois bem. Rumbora. Àquela época as terras da Fazenda Maranduba, na povoação sergipana e sertaneja de Poço Redondo (então distrito de Porto da Folha), pertenciam à família Soares, tendo sua matriarca Dona Maria da Invenção Soares o seu comando, ainda que sua residência familiar fosse situada em Curralinho, nas beiradas do Rio São Francisco. Sua residência ficava numa das esquinas da Rua da Frente, defronte ao rio, nas proximidades da capelinha de Santo Antônio.
Era, na verdade, uma vida dividida entre Curralinho e Maranduba, passando temporadas num ou noutro lugar. Mas seus filhos homens, dentre os quais Lé Soares, Pedro Soares, Josias Soares e Antônio Soares, nomes ainda hoje afamados pelo tino vaqueiro e pelas proezas na lida da terra e do gado, geralmente permaneciam mais tempo na propriedade familiar, na Maranduba. Não se sabe muito bem se já eram conhecidos de Lampião e seu bando, mas a verdade é que no dia do famoso fogo, a 9 de janeiro, um dos filhos de Dona Invenção estava no lugar errado e na hora errada. Seu nome: Antônio Soares.
Quando Lampião chegou às terras da Maranduba o sol já estava alto. Depois de pernoitar nos arredores da Fazenda Queimada Grande (sem saber que a volante de Liberato de Carvalho estava por perto, pois o comandante baiano havia passado a noite na casa da fazenda, de propriedade de seu irmão Piduca da Serra Negra), o bando seguiu em direção às terras de Dona Invenção, certamente apenas como passagem rumo aos limites baianos. A parada foi para o descanso e o preparo do regabofe. Os cangaceiros sequer imaginavam que em tão pouco tempo seriam surpreendidos não por uma tropa volante, mas por duas.
Estrategicamente precavidos, espalhados debaixo de umbuzeiros, encobertos por tufos de matos e arvoredos sertanejos, mesmo assim foram surpreendidos com os assombros que começaram a surgir nas sombras distantes: os homens das volantes. Corre e corre, toma posição defensiva e de ataque, protege-se, espera-se um momento ideal para atacar. Só havia um problema: Antônio Soares estava ali. O filho de Dona Invenção estava reunido com um dos grupos cangaceiros debaixo de um umbuzeiro quando as volantes chegaram. Foi quando Maria Bonita gritou: “Corre Tonho Soares!”.
O grito de Maria Bonita e o eco do nome Tonho Soares tiveram consequências devastadoras. Aquele nome seria cobrado muito caro pelas volantes, principalmente pelo ódio escorraçado e derrotado do comandante Liberato de Carvalho. E assim porque, não conseguindo superar e vencer as forças cangaceiras, o comandante baiano prontamente lançou seu ódio sobre a família Soares, dona da Maranduba. Acreditava-se que a presença de Antônio Soares junto ao bando era a comprovação de que a família dava apoio e guarida ao bando do Lampião.
Com efeito, assim que Liberato de Carvalho chegou a Curralinho transportando em redes os feridos da batalha, a primeira providência tomada foi mandar que seus comandados prendessem todos os filhos de Dona Invenção. Mas queria um troféu chamado Antônio Soares. Este, porém, não estava. Fugindo da batalha foi parar nas terras de Canindé. Os irmãos Soares então foram levados presos em canoas até Canindé, mas forçosamente liberados após não terem encontrando a caça maior. Aqueles não interessavam, apenas Antônio, aquele mesmo avisado por Maria Bonita: “Corre Tonho Soares!”.
E daí em diante entra o inacreditável da história. Avisado do ocorrido, Antônio Soares permaneceu escondido na mata por mais de ano. Todo rasgado, faminto, barbudo e cabeludo, parecendo um bicho. Comia do que encontrava no mato e do bicho que conseguia matar. Calçava chinelo feito de couro de boi morto na caatinga e adormecia nos escondidos. Até que um dia recebeu uma inesperada visita. Avistou um pássaro estranho pairando no alto e sentiu algo como uma revelação. Teria que ir urgentemente a Juazeiro do Norte, pois Padre Cícero lhe esperava.
E foi. Andando pelo meio do mato, mas chegou à sagrada terra nordestina já muito entrado o ano de 33. Sem se importar com a aparência que causava espanto às pessoas, postou-se numa praça e ali ficou imaginando o que fazer. De repente viu um padre de batina escura se aproximar e logo percebeu que era o Padre Cícero. As primeiras palavras do padre: “Você é Antônio Soares, não é?”. Espantado com aquele reconhecimento, só tomou prumo de si quando Padre Cícero colocou dinheiro em sua mão e pediu para que providenciasse logo a mudança naquela aparência, comprando roupa, fazendo o cabelo e a barba e se alimentando.
Depois disso, já no encontro marcado para o dia seguinte, ouviu do padre: “Tome aqui esse dinheiro e agora já pode retornar. Tem dinheiro suficiente para que dê esmola a quem precisar até a chegada ao seu destino. Mas não vá para outro lugar. Volte para as terras de onde veio, para a casa de sua família”. Então Antônio Soares retornou a Maranduba e nela viveu sem ser mais incomodado por ninguém.

Escritor
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21 maio 2018

O “BICHÃO” DE PORTO DA FOLHA

Por Rangel Alves da Costa

Uma verdadeira lenda rural (e não urbana, logicamente) vem se espalhando nos últimos dias no município vizinho de Porto da Folha. Relatos dão conta que um “bichão” vem atacando e assombrando pessoas nas terras buraqueiras. Tendo cuidado com os exageros, prefiro acreditar nas palavras do sertanejo, no homem da roça. O primeiro relato surgido dava conta de um ser monstruoso, meio humano e meio bicho, de porte alto, “fedorento que só o raio da silibrina”, que de repente surgiu para atacar um homem que seguia, já na noite, por uma estrada de chão em direção à sua residência. 


O bicho apareceu e não houve jeito de espantá-lo através da foice que o trabalhador carregava. O monstruoso somente correu quando um automóvel apareceu ao longe e iluminou naquela direção. Amedrontado, esbaforido, cansado da luta para se defender, mal o homem alcançou lugar para se proteger e o “bichão” apareceu novamente. Nova luta inglória, pois o bicho raivoso e fedorento atacava ainda com mais fúria, até que o farol de uma motocicleta novamente salvou o sertanejo. Como visto, o “bichão” só tem medo de luz, de iluminação, de farol, bem próprio das coisas da escuridão. Com o novo sumiço, o homem juntou as forças que tinha e correu em disparada, aos gritos e berros, até chegar à residência de um conhecido, logo adiante. Chegou aos prantos, tremendo feito vara verde, sem poder sequer falar sobre a sua lastimosa situação. Dizem que até hoje o homem não se recuperou do apavorante encontro com o “bichão”. E agora surgem informações sobre o aparecimento de outro ser assombroso, todo enegrecido, com ponta na testa e outras aberrações, também imenso e malcheiroso. Dessa vez o encontro se deu por uma mãe e sua filhinha. E novamente foram salvas por um farol de veículo. Mas nos exageros do povo, ou no poder de invencionice popular, já se dá conta de outros aparecimentos do “bichão”. Um desses relatos diz que o ser monstruoso tudo faz para passar entre as pernas da pessoa que está sendo atacada, pois assim a vítima também será possuída pelas forças do mal. Como disse, exageros e mentiras à parte, não se pode desacreditar totalmente em tais aparições aterrorizantes. O mundo está revirado e onde quase já não há lugar para o bem, logo o mal começa a atacar. De todo jeito, é melhor ter cuidado com a noite, com as estradas e seus labirintos. É preciso ter cuidado também com o homem, pois o lado “meio homem” do bicho pode ser qualquer um que continuamente carregue o mal no coração. Contudo, muito ainda virá por aí e essas histórias todas redundarão em verdades que ninguém - mas ninguém mesmo - vai querer acreditar. Quem viver verá!

Rangel Alves da Costa

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