*Rangel Alves da Costa
Senhor, então me ensina a cumprir Tua vontade. Assim está escrito no Salmo 143,10: Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus. O teu Espírito bom me guie por terra plana.
E assim Senhor, por que nada tenho e nada possuo que não seja de tua dádiva e de tua caridade, e por ter recebido de tuas mãos, que eu possa sempre preservar e frutificar e fazer do seu uso o melhor à vida e ao viver.
Se me fizeste para o bem, para a bondade, para a fraternidade, então por que eu haveria de percorrer outros caminhos e ser diferente? Se me deste a dádiva da existência, do viver e semear sobre a terra, então por que eu haveria de transgredir ao que me foi confiado?
Senhor, meu Pai, confiaste a mim a graça de ser filho teu. Deste-me a paternidade e um livro aberto com todas as lições para a vida. Jamais será honroso a um filho renegar sua paternidade nem rasgar o sagrado livro da existência.
Ensina-me Senhor, ensina-me a cumprir sempre a tua vontade. Num mundo desnorteado, num mundo amedrontado e violento, num mundo pecador e de perdição, não permita que eu fraqueje perante o mal. Se é da tua vontade viver para o bem, então me proteja com teu manto e dê-me o cajado para afastar de mim as más ovelhas.
Sou teu filho ó Pai, mas um frágil filho, um temeroso filho, um filho apenas. Dai-me, então, a força que não seja a do enfrentamento rancoroso, a coragem para lutar sem pegar em armas que firam, o destemor para conquistar caminhos sem ter que passar por cima das flores do caminho nem das pessoas que seguem pela mesma estrada.
Ensina-me ó Pai, ensina-me sempre a cumprir tua vontade. Se é da tua vontade que eu cumpra a tua vontade, se é do teu desejo que eu seja um filho fiel, então afasta de mim o cálice sujo de sangue, a má companhia, toda ingratidão que me ronda, toda falsidade que me persegue.
Torna-me, Senhor, não a perfeição humana, não o mais correto dos homens, não o menos pecador entre todos, mas apenas aquele que viva sem levar entristecimento aos olhos teus. Bem sei, ó meu Pai, o quanto sofres pelo filho desregrado, pela cria que se desgarra do rebanho e vai por tortuosos caminhos.
Senhor, meu Pai, ouça bem o que digo: mesmo nascido como dádiva sagrada, o ser humano dificilmente conseguirá fazer brotar a boa semente acaso a terra onde pise esteja devastada pela incúria, pela falsidade, pelo egoísmo, pela arrogância, pela cobiça, pela vaidade. Sozinho o filho teu é frágil demais para vencer todo o mal, então que lance sobre a terra a proteção aos justos e os arrependimentos aos injustos.
Se quiseres, meu Senhor, que teu filho cumpra fielmente tua vontade, que faça chover dádivas sobre a boa terra e do seu leito os melhores frutos: amor, compaixão, perdão, irmandade, fraternidade, comunhão, afeto, compreensão, pureza no coração. Floresça, ó Pai um jardim no meu e em todo coração.
Torna-me, meu Senhor, mais humanizado e tão humano que não esconda a lágrima quando sinta a dor, que não grite a aflição perante a tormenta, que não silencie perante a necessidade de bradar. Meu Senhor, somente a humanização dos sentimentos fará brotar o verdadeiro olhar diante da fome, da sede, da pobreza, de toda necessidade.
Prometo Senhor, não descurar do que foi escrito nem reescrever a minha sorte ao sabor de minhas conveniências. Reconheço, ó Pai, que nada sou sem vossa paternidade. Por isso que ao acender a vela e levantar minhas mãos em oração, que tudo seja como uma porta do Pai que se abre para reconhecer no filho, no teu filho que sou, aquele que serve ao mundo em nome do Pai.
Ensina-me, pois, a cumprir tua vontade. E mais que teu filho serei, pois serei orgulho e alegria perante o teu olhar!
Escritor
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