Wikipedia

Resultados da pesquisa

05 outubro 2018

A GALEGA E O GALO

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.991

Já ouvimos falar bastante do perigo de um guará choco. Quando o lobo- guará parte para atacar o homem, afirmam todos, o cabra tem que está armado, ser muito macho e pode até morrer no duelo. O cachorro é outro bicho que também ataca o ser humano nas ruas. Duas ameaças ferozes conhecidas. No caso do guará choco, tem até gravação de forró dizendo que não deseja absolutamente nada de mal ao inimigo, apenas um encontro casual com um guará choco. Muito bem, estando em uma unidade de saúde, chega uma galega alta, forte, sexagenária e falante, mão inchada, braço na tipoia e dedos quebrados. “O que foi isso, mulé?”. E ela responda sorrindo; “Foi galo”. A admiração é a mesma entre todos. A galega conta em voz alta à aventura.
ILUSTRAÇÃO; GALO DA MADRUGADA.
Ao passar em uma das ruas de Santana do Ipanema, um galo a atacou. Um galo de, aproximadamente, três quilos, viciado, provavelmente de briga. A galega defendia-se com uma sombrinha. O galo afastava-se, preparava novo golpe e partia voando em direção ao rosto da senhora como querendo arrancar-lhes os olhos. A galega defendia-se desesperadamente sob o riso de algumas pessoas que assistiam o duelo. O galo fez nova carreira e pulou nos peitos da mulher que não resistiu ao impacto, caiu por cima do braço e quebrou os dedos. Não pode se levantar. O galo afastou-se e ficou ciscando com ares de vitória. Somente aí a galega foi socorrida pelo povaréu. Talvez precise operar os dedos.
Aguardando o médico, a galega narrava à aventura – digna de ser filmada – com animação. Ao sairmos, a mulher nos abençoou e pediu a Deus para não encontrarmos um galo doido por aí. Quem ia chegando queria saber a história dos dedos quebrados, mão inchada e tipoia. Logo imaginamos que o acontecido daria uma crônica, pelo fato cotidiano da presepada. Aproveitamos e dissemos a mulher bem humorada. “Aproveite e jogue no bicho, minha senhora. Aposte no galo... Quem sabe!”.
A galega dos dedos quebrados desatou uma gargalhada.


http://blogdomendesemendes.blogspor.com

04 outubro 2018

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

03 outubro 2018

O VELHO

*Rangel Alves da Costa

A cama desforrada de dias. Não havia pressa nem qualquer prazer em dobrar os panos, ajeitar o travesseiro, deixar tudo arrumado para a noite seguinte. Mesmo forrada, assim que deitava tudo parecia em redemoinho. Virava-se de lado a outro, estendia o braço ao outro lado, mas desde muito que ali já não deitava ninguém. Por fim, levantava o olhar em direção ao telhado e começava a viajar por um mar sem fim. Somente nas ilusões de ilhas e cais conseguia adormecer. Uma saudade fingida.
Levantava-se quase na madrugada. Caminhava para a cozinha, colocava água na chaleira para fazer café, acendia o fogão e depois abria a porta de trás, tendo o quintal adiante. De xícara à mão, dava passos lentos pelos arredores, olhava para os espaços ainda de pouca luz e então iniciava um ofício que trazia como compromisso desde que se viu em viuvez. Ajeitava as plantas do canto do quintal, aguava, conversava com cada ramo, cada folha e cada flor. Sempre pressentia estar sendo carinhosamente vigiado por sua falecida esposa. E por isso mesmo repetia sempre o seu nome. Não raro que suas lágrimas também caíam sobre as plantinhas.
Não forrava a cama todo dia, mas jamais se esquecia de varrer a casa. Todo santo dia passava a vassoura de canto a outro. E depois, de espanador à mão, afastava o pó acumulado pela ventania do dia passado. Em dois instantes se demorava mais na sua limpeza. Ao chegar defronte ao retrato da falecida na parede, ali parava em profunda reflexão. Olhava e olhava, mirava e mirava, falava baixinho, para depois sacudir qualquer impureza que na moldura estivesse, mas não sem antes levar a mão e, em gesto amoroso e suave, tocar a face através do vidro. Era com se a sentisse afagando pela face a sua mão.
Noutro momento, já perante a velha mesa da sala, postava-se em frente ao antigo jarro com flores de plástico. Trazia o jarro para perto de si e chegava a acariciar cada flor já sem cor. Carícia de saudade, de dolorosa recordação, um devotamento tão singelo ao que um dia havia sido ali colocado por sua amada. Lembrava-se que ela cuidava daquele jarro como se fosse de um caqueiro florido, de flores vivas, colhidas em jardim. Tanto cuidado ela tinha que de vez em quanto ele ouvia as flores de plástico sendo chamadas por carinhosos nomes. Por fim, dizia: ela já não está, mas façam de conta que suas mãos ainda zelam por este jardim tão perfumado na memória.
A porta da frente só era aberta depois de a casa varrida. Mas tudo cedo demais ainda. O dia ainda amanhecia e o velho já havia completado seus pequenos afazeres de toda manhã. Então abria a porta e caminhava pelos arredores. E arredores tão solitários quanto a sua solidão. Nada além que um descampado, um canteiro sem flores entregue ao outono, um banco carcomido de madeira, amendoeiras que desciam folhas aos turbilhões, um tempo de silêncio, apenas. Caminhava pelo canteiro, tocava os roseirais magros pela estação, juntava gravetos e restos, reclamava da vida sem cor. Seguia depois para o banco e ali ficava aguardando a chegada de qualquer passarinho ou borboleta.
Aquele velho banco do amanhecer mais parecia sua pedra de meditação. Ali sentava, ali pensava, ali voltava ao passado, ali refletia sobre tudo. E por isso mesmo tanto entristecia. De repente seus olhos amiudavam de tal modo que mais pareciam querer fechar. Ficavam apertados demais, comovidos demais, entristecidos demais. Mas ao abri-los pressentia-se perante uma estrada ainda a ser caminhada, uma vida ainda a ser vivida, mesmo que o seu corpo e sua idade já estivessem na plenitude esmaecida dos outonos da vida. Então dizia uma palavra qualquer, talvez que esperasse um pouco mais. Sabia que sua amada estava sentada ao lado. Sua falecida esposa nunca saía de sua presença.
Então levantava para retornar. Nada mais que cinquenta metros entre o velho banco de jardim sem flores e a porta de casa, mas ia caminhando tão lentamente que parecia nunca querer chegar. Por que a pressa se dentro de casa apenas o silêncio e a solidão? Por que a pressa em ficar sozinho e na presença daquela que não podia abraçar, acarinhar, e dizer da saudade? Desejava mesmo dizer: Leva-me contigo, meu amor!
  
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

02 outubro 2018

LIVRO VOLTA SECA


A nova edição do livro Volta Seca está vendendo muito desde ontem, quando acabar não venha comprar kkkkk reserve o seu pro WhatsApp 79 98147-2961

https://www.facebook.com/OCangacoNaLiteratura/photos/a.473048182846337/1148121305339018/?type=3&theater&ifg=1

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

01 outubro 2018

QUANDO MATEI UM BICHO

*Rangel Alves da Costa

Primeiro matei uma muriçoca chata e azucrinante. Eu tinha de matá-la, e por isso confesso minha atitude extremada.
Depois eu matei uma barata repulsiva e irritadora demais. Eu tinha de matá-la, pois ou ela ou a minha paz.
Depois eu matei uma formiga impossível de ser suportada. Eu tinha de matá-la, vez que corria risco de perder meu quintal inteiro.
Depois eu matei um bicho rastejante de muitos pés e que de repente apareceu já subindo à minha rede. Eu tinha de matá-lo, e matei.
Depois matei um grilo e calei de vez o seu cricricri abominável e insuportável. Matei sim, e não me arrependo não. Eu não suportava mais aquele canto abominável.
Depois eu matei até a manhã. Acreditem, mas eu matei a manhã. Estava deitado, a janela abriu e a luz do alvorecer veio toda em meu rosto. Bati a janela e a manhã morreu.
Depois eu quis matar uma borboleta que entrou pela janela e acordou o meu sono, mas achei melhor espantá-la apenas, e para depois me arrepender.
Depois eu quis matar minha sogra. Mas eu não tinha sogra, ainda bem. Mas também sogra não é bicho. Acho que não.
Depois eu quis matar o padre que havia me casado. Mas eu nunca casei, ainda bem. Ia sobrar para o vigário acaso ele tivesse mentido com aquela história de juras de amor.


Depois eu quis matar o dono do mercadinho, da padaria, da farmácia, do açougue. Pensei que eles tinham culpa por querer matar todo mundo pelos preços cobrados.
Sim, eu quis matar todo comerciante pelos abusos cometidos a cada dia e a cada instante. Mas achei melhor não matar, e simplesmente mais nada comprar.
Depois pensei também em matar todo político. Ainda penso, mas Deus me livre ir para o caldeirão das trevas por causa de político.
Depois pensei em matar todo dono de jornal, todo jornalista mentiroso, toda prensa e todo computador. Um assassino da notícia falsa. Mas deixei pra lá, pois acredite quem quiser.
Depois pensei em matar tanta gente e tanta coisa no mundo que você nem imagina. Só nunca pensei em me matar, pois não sou besta.
Mas um dia, pela porta de trás entrou um bichão que eu ou matava ou era devorado na hora. Mas não matei. Por isso me sinto devorado a todo instante: a solidão.
Mas penso seriamente em matar a solidão. É uma questão de sobrevivência: ou eu ela. Por isso que vivo procurando a arma mais letal para dar fim a esse bicho traiçoeiro.
Vou matar a solidão sim, já decidi. E vai ser ainda hoje. Quando a noite chegar, quando ela aparecer, ao invés de sofrer eu vou acertar minhas contas com essa desgraçada.
Já tenho uma armadilha pronta. Assim que ela der sinais, no mesmo colocarei um cd de Pablo Vittar na maior altura. Duvido que ela não morra de raiva no mesmo instante!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

14 setembro 2018

A CRAIBEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.983

FOTO: CLERISVALDO B. CHAGAS.
Com a aproximação da primavera, a Craibeira começa a florir devagar e depois com maior intensidade. Enfeita-se de flores amarelas que contrastam com o seu verde bonito. Nas extremidades dos galhos forma um arredondado de flores que parece uma coroa. Esta árvore (Tabebuia aurea) é o símbolo do estado de Alagoas, desde a gestão do governador Geraldo Bulhões. A Craibeira pode atingir mais de vinte metros de altura e viver tranquilamente mais de cem anos. No Sertão do nosso estado costuma surgir às margens e nos leitos secos de rios e riachos, lugares de areias salgadas. Inúmeras são vistas ainda pequenas entre pedras quebradas também nos leitos e nas margens.
Mesmo clandestinamente, ainda é utilizada para as partes mais importantes dos carros de boi. Sua madeira é compacta e tem um peso descomunal, não sendo aconselhado o seu plantio na zona urbana. Os seus galhos oferecem perigo tanto quanto o tronco numa queda inesperada. A Craibeira é considerada madeira de lei e se apresenta como rainha fora ou nas suas magníficas floradas. Apresenta-se solitária ou em bosques naturais embelezando riachos, rios, caatinga, sítios e fazendas. A proteção das suas sementes é um invólucro que parece muito com o protetor medicamentoso “Band-aid”. Sua casca protetora é muita grossa e tem aparência de cortiça e, o miolo tem manchas de anéis.
Em Santana do Ipanema, temos como destaques, uma na Rua do Colégio Estadual, outra no pátio externo da Escola Padre Francisco Correia e outra ainda, dentro da área da Escola Helena Braga. Esta foi plantada em 1985, pelo senhor João Boêmio. Aos seus 33 anos, queremos fazer uma solenidade para homenagear a Natureza, a Craibeira e ao seu plantador.
Nos tempos em que árvores de grande porte foram plantadas na zona urbana, não se avaliava os perigos. Protegidas por lei é preciso muito protocolo para substituições. Mesmo assim as Craibeiras vão dando seus espetáculos de beleza no tempo das floradas. Preparam-se com bastante antecedência para os festejos do Natal.
E nós?



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

12 setembro 2018

O CIRCO E AS LÁGRIMAS

lerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.982
DESARMANDO O CIRCO. (FOTO: CLERISVALDO B. CHAGAS).
O circo, diversão das ruas em todos os tempos, vai sofrendo reveses paulatinamente. Numa época em que não havia televisão, a chegada de um circo numa cidade, pequena ou grande, era motivo de reboliço. Alguns deles, além da parte do espetáculo propriamente dito, mostravam também o chamado drama. Este era o tipo de circo-teatro, perfeição de arrepiar. Inúmeros talentos eram tão reconhecidos quanto os do teatro fixos de hoje. Uns apresentavam tanto luxo que de fato imitava um mundo de sonhos, um mundo encantado onde todos os espectadores desejavam explorá-los. Com as novas formas de diversão que foram surgindo no mundo, o circo foi encolhendo e entrando em crise.
Diante dessa situação que vai extinguindo esse tipo de espetáculo, chegou a Santana do Ipanema um circo que se instalou no Bairro São José. As escolas da vizinhança foram convidadas, mas como um apelo de socorro. O preço de entrada estava lá em baixo e algumas escolas mandaram seus alunos para o divertimento. O espetáculo desses talentosos artistas nada deixou a desejar, como sempre. É o mágico, é o palhaço, a rumbeira o mágico, o equilibrista... Mas a situação visual do circo deixou uma tristeza grande nos que compareceram. Aí vamos pensando nos bens públicos e na cultura que convivem com o mesmo desprezo no país.
O circo, além de tantos artistas de primeira a amenizar com alegria o sofrimento geral, é refúgio contra a marginalidade de jovens e adultos através do seu abraço. O que custa uma ajuda empresarial, estadual... Para a compra de uma lona, de um picadeiro de alguns objetos que fazem a felicidade de multidões. Os corações duros, gelados, não se abrem para a caridade de ouro. Assim os jovens, que foram ao circo, procuram entender ou não o desprezo com a cultura ambulante e salvadora de muitas mazelas. Contemplamos com tristeza a fome que ronda todos os dias pequenos e médios circos do país, pois até os grandes estão desistindo.
Chora o povo, chora o palhaço.


O INFELIZ CANGACEIRO CHICO PEREIRA.

  Por José Mendes Pereira Colorizado pelo saudoso professor e pesquisador do cangaço Rubens Antônio. Diz o pesquisador e colecionador do can...