10 de nov. de 2017

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS–Uma lição para os dias de hoje

Por Medeiros Braga

-Um texto da subcapa:
Esse livro em seu contexto
Uma grande história encerra,
Está nos trinta melhores
Romances da Inglaterra,
É também classificado
Entre um cento publicado
Aqui no planeta terra.
O cordel “A Revolução
Dos Bichos”, o objetivo
É resgatar uma história
Em um estilo atrativo...
Popular na sua essência,
Com rima, métrica, cadência,
Dando à leitura incentivo.
George Orwell, o autor,
Com desmedido ideário
Retratou um movimento
Dito revolucionário,
Com animais revoltados
Vez que eram maltratados
Por seu Jones, o sicário.
Eles, pois, se reuniram
E tomaram a decisão
De expulsar seu algoz
Por uma revolução;
E depois com idealismo
Levar o socialismo
Às granjas da região.
O porco Napoleão
Que seria o seu gestor
Traiu todos animais
E se fez em ditador;
Ia pra manter o mando
A muitos alienando
Com discurso enganador.
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Havia um líder que instigara o movimento:
A REVOLUÇÃO DOS BICHOS
Narra um tempo de opressão
Lá na Granja do Solar
Que tem Jones por patrão...
Que vivia embriagado
Sem ter o menor cuidado
De servir água e ração.
Mas, um dia os animais
Pensaram em se reunir,
Procuraram um bom local
Para em breve discutir
A tão triste realidade
Da fome, a brutalidade,
Para delas se insurgir.
O Major, um porco idoso
Mas de muita experiência
E liderança onde todos
Lhe rendiam obediência,
Foi ator e foi o primeiro
A partir como guerreiro
Na luta da independência.
Todos tinham como o monge
Dos animais da Inglaterra
E pra dar mais sensação
A todos daquela esfera
Chegou a manifestar
Seu desejo de contar
Um bom sonho que tivera.
Todos animais vibraram
Com esse acontecimento,
Muito tempo se esperou
Pra chegar o tal momento,
Finalmente, era real,
Chegou a hora, afinal,
De fazer o grande evento.
Logo que a luz se apagou
Houve grande correria,
Todo animal com vontade
Para o celeiro descia,
Os sonhos de liberdade
Criavam certa unidade
E, sobretudo, euforia.
O celeiro foi tomado
Com toda área ao redor,
Nenhum deles prescindiu
Desse momento maior,
Era grande a ansiedade
De sentir a liberdade
Nas palavras de Major.
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Garganta e Napoleão viviam justificando dos seus erros e sempre faziam comparação com o gestor anterior, o Sr. Jones:
“Vocês querem que ele volte?”
Era a pergunta padrão
Pra conter os animais
Em qualquer insurreição;
Era a marca mais devida
E que fosse repetida,
Se possível, com exaustão.
Vocês querem que ele volte?...
Qual o período melhor,
Esse agora em que vivemos
Com liberdade ao redor,
Ou de quando esse granjeiro
Explorava por inteiro
Até o último suor...”
Tudo que havia de errado
Ali na comunidade
O Garganta reunia
A sua sociedade
E a Bola de Neve, em via,
Implacável atribuía
A responsabilidade.
E se alguém duvidasse
Dessa acusação tão forte
Reprimia e até fazia
Sua pena de má sorte
Quando vinha de refrão
A matreira indagação:
Vocês querem que ele volte?
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As regras mencionadas
Pelos “Sete Mandamentos”
Eram, pois, desrespeitadas
Com maior descaramento,
Procurando camuflar
Estavam a modificar
Todos bons ensinamentos.
O Garganta sempre que
Precisava adulterar
Todo aquele mandamento
Que Major pôde legar,
Com pincel, tinta, num açoite
Sempre às caladas da noite
Ia lá modificar.
De início venderam o feno
Para compra de bebida,
Depois disso se mudaram
Pra casa grande indevida,
De combinatas e tramas
Passaram a dormir nas camas
Contra a regra definida.
Não se é de estranhar,
Dormimos em cama, e bem,
Uma cama confortável
Não degrada, pois, ninguém;
Num estábulo muita palha
Funciona pra quem malha
Como uma cama, também.”
Merecemos o repouso
Para que fiquemos fortes,
Com força para enfrentar
De seu Jones qualquer sorte,
Não podemos passar mal,
Fraquejar, pois, afinal,
Quem deseja que ele volte?”
Vez por outra animais
Vinham desaparecendo,
Da granja a população
Vinha há muito decrescendo,
Nessa estranha alcatéia
Muitos já tinham a idéia
Do que estava acontecendo.
Mas, assim, na casa grande,
Em completa mordomia,
Napoleão com seus cães
Muito pouco aparecia,
Tinha todos ao bel-prazer
Como o Mínimo a escrever
Sobre seu chefe em poesia.
Das raras vezes que havia
Alguma reunião,
Os animais conheciam
Seus atos de repressão
Através dos assessores
E dos dentes agressores
Do seu exército de cão.
Numa delas deu a ordem
E os cães obedeceram,
Trouxeram quatro porquinhos
Que com seu chefe romperam,
Tiveram que confessar
E depois se retratar
Mas, assim mesmo, morreram.
O seu VI Mandamento
Teve substitutivo,
Onde havia “não matar”
Acresceram “sem motivo”
Assim nesse labirinto
Externava o seu instinto
Com todo ato abusivo.
Já ninguém ousava mais
Contestar Napoleão,
Aboliu-se a liberdade
Ao direito de expressão,
Infeliz de quem pensasse
Em romper, depois falasse
Na presença de espião.
Ao final da assembléia
O Garganta aparecia,
Trazendo mais uma regra
Quebrada naquele dia:
Que a música que descerra
Os Bichos da Inglaterra
Doravante se abolia.
Em seus vagos argumentos
Dizia com austeridade
Que não fazia sentido
Cantar na atualidade
“Vez que a revolução
Teve a sua conclusão,
Não há mais necessidade”.
Porém, o poeta Mínimo
Compôs uma pessoal
Que cantava: Bela Granja,
Nunca mais te farão mal,
Pois, temos Napoleão
Defendendo com emoção
O que é já seu ideal.
Dizia ainda o poema
Falando em Napoleão,
Externando o servilismo
De um poeta sem razão,
Que ele é como gitano
“Forte, claro, soberano,
Como o sol da imensidão”.
Napoleão adorou
O seu poeta escudeiro
Mandou o texto gravar
Na parede do celeiro,
E, também, no mesmo ato
Colocou o seu retrato
Que custou muito dinheiro.
Com os seus bajuladores
Na maior servilidade
Tinha, pois, Napoleão
Publicada sua vaidade,
E munido de indulto
Se criava, então, o culto
De uma personalidade.
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Sem fazer caso do golpe
Aumentava a mordomia,
Mais cevada para os porcos
Que engordavam todo dia,
Sendo que Napoleão
Com direito a um galão
Mais açúcar recebia.
Finalmente, é proclamada
A república independente;
A República dos Bichos,
Passa a atuar legalmente,
Napoleão nesse ato
Como único candidato
Continua presidente.
Programas educativos
Já de início cancelou,
Achava desnecessário
Pra qualquer trabalhador,
Que o saber e a ciência
Política da consciência
Têm um grau ameaçador.
Por isso que ele aboliu
Muitas regras de Major,
Outras mais adulterou,
Porém, nunca pra melhor,
Até lei dos animais
Que garante serem iguais
Entre si, ficou pior.
Suprimindo a igualdade
Com a matreirice que esbanja
Alterou mais uma regra
Ao dizer sem dar a canja,
De que havia animais
Que eram bem mais iguais
De que outros lá da granja.
Ao mesmo tempo baixou
Uma lei que bem dizia
Que quando um porco andasse
Qualquer que fosse seu guia,
Sendo ele mais igual
Se obrigava outro animal
A deixar aquela via.
Surgiu pra alienação
O corvo Moisés do léu,
Falando duma Montanha
De Açúcar lá no céu,
Dando esperanças contidas
Dessa lei que, no pós vida,
Vão desfrutar do seu mel.
A Montanha de Açúcar
Sobre as nuvens era imensa,
E condenando a prática
Da rebeldia ou ofensa,
Externava um mandamento:
Para maior sofrimento
Bem maior a recompensa.
Sansão, um grande cavalo
Que estava só no couro,
Alegre com a promessa
Daquele mundo vindouro,
Não fez o menor protesto
Quando um porco, com um gesto,
Entregou-lhe ao matadouro.
Mais algum tempo se foi
Sem ter nada evoluído,
O método “Animalismo”,
De uma vez foi suprimido,
Sem um bom líder ao redor
Aquele “mundo melhor”
Terminou sendo esquecido
***********************
O Garganta era incrível
Na maneira que atuava,
Manipulava estatísticas,
A mentira maquiava,
Transformava de improviso
O inferno em paraíso
E convencia e agradava.
Pra isso mudaram o lema
Que se lia ao derredor,
“Quatro pernas muito bom”
Pra “Duas pernas melhor”,
E, assim, modificando
Iam as coisas ficando
Para todos bem pior.
Napoleão do alpendre
Daquela grande mansão
Acompanhava o desfile
Dos porcos em pelotão
Em duas pernas marchando
Com os homens se igualando
Sem qualquer complicação.
Procurando assemelhar-se,
Ser ao homem tão igual
Já usavam o telefone,
Rádio de pilha, jornal,
Wisk, charuto, bolsa,
Pratos de ágate e de louça
Como um hábito natural.
Certo dia Napoleão
Foi na casa surpreendido
Com as roupas de seu Jones,
E seu cachimbo comprido,
Em imensas baforadas
Caminhava na calçada
Com o homem parecido.
Todos lá da Casa Grande
Não só fumavam e bebiam,
Caminhavam nos dois pés
E com luxo se vestiam,
Dormiam em cama e jogavam
Com dinheiro que emprestavam
Os granjeiros que extorquiam.
*******************
À tarde uma comitiva
De tais homens lá chegou,
Caminhou por toda granja
Tudo de bom se mostrou,
À noite, de guardanapo,
Jantou e depois do papo
Bebeu wisk e jogou.
Ali fizeram u’a parada
Para a congratulação,
Discursou um dos granjeiros
E depois Napoleão,
Todos dois voltando o verso
Para a granja e seu sucesso
Que se deu na produção.
Disse Pilkington em sua fala
Para todos animais
Que irá levar à prática
O que viu horas atrás,
Pois, “com péssimos terrenos
E pagamento a menos
Aqui se produz bem mais”.
“Vou levar pra minha granja
O que faz Napoleão,
Aqui se tem menor custo
Com muito mais produção,
A mão de obra tão grata
Além de ser mais barata
Não se vê rebelião.”
Já falou Napoleão
Não ser revolucionário,
Nem sequer socialista,
De esquerda ou libertário,
Que nunca teve motivo
Para ser subversivo,
Nem ligado a um ideário.
Falou ainda aos granjeiros,
Procurando esclarecer,
Que dissera muita coisa
Que jamais veio a fazer
Porque, na compreensão,
Uma coisa é oposição,
Outra coisa é o poder.
“Tudo que falei de mal
Nada tinha de verdade,
Exemplo: nunca senti-me
Titã da moralidade,
Firme na minha premissa
Não me comove justiça,
Igualdade, ou liberdade.”
Napoleão encerrou
Cheio de vitalidade,
E depois erguendo a mão
Como uma divindade
Deu as ordens sem demora:
“Eu proponho um brinde agora,
Salve, ó prosperidade”.
**********************
Os animais foram até lá e constataram o que estava, de fato, acontecendo:
Dizia algum animal
Cheio de indignação:
Não posso crer no que vejo,
Não é verdade isso, não,
Pois, o que eu estou vendo
É de fato se rompendo
A nossa revolução.
O que estou mesmo vendo
E que me causa revolta
É que decerto algum Jones
Sem demora está de volta,
Pois, o próprio Napoleão
Já tem no pulso o bastão
E cachorros como escolta.
Ao final da confraria
Se viu que igual sufoco
Dessa história se repete,
Afinal, no mundo louco,
Por muita nação moderna
Ninguém sabe quem governa
Se um homem ou se um porco.
Nas nações se bem olhadas
Como tem Napoleão...
Que adestra cachorrinhos,
Lhes dispensa boa ração;
Como tem de porco amigo
Desfechando tal perigo
Com a devida precisão.
Da história desses bichos
Ficou a grande lição:
Só o povo se liberta
Através da educação;
A justiça só haverá
Se um dia se arrancar,
Toda alienação.

Medeiros Braga 


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://josemendespereirapotiguar,blogspot.com

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