21 de jun. de 2018

BAIXAS MORTE DE "CIRILO DE INGRÁCIA"

Por Ivanildo Alves da Silveira

A morte desse cangaceiro aconteceu em 5 de agosto de 1935, devido à fatos totalmente imponderáveis.

Resumindo, o que aconteceu foi o seguinte. O grupo de Cirilo certa vez estava acoitado em uma fazenda no Salgadinho, povoado do município de Paulo Afonso e trouxeram uma bacia para uso geral. 

Moça

O chefe fez uma viagem rápida e na sua ausência Moça (companheira de Cirilo), disse a Zé Sereno:

- Zé, apanhe água, bote no fogo pra morná, e lave meus pés.

Sereno recusou-se a obedecer, o que causou discussão com a mulher de seu tio que terminou com a seguinte ameaça:

- Quando Cirilo voltar você vai ver se lava ou não lava.

No dia seguinte, ao retornar, ele foi colocado ao par do ocorrido e para demonstrar seu poder apanhou uma vara e ordenou ao sobrinho:

- Ou vai lavar ou vai apanhar!

Zé Sereno manobrou o fuzil e disse:

- Se me bater não conto os buracos, e não fico mais junto.

Manoel Moreno e Jararaca, parentes de Cirilo e também de Zé Sereno se equiparam e acompanharam o jovem, deixando só o casal. Pouco tempo depois “Moça” deu a luz e os únicos que receberam o casal foram Corisco e Dadá.

Era tempo de inverno, chovia muito e Moça ficou na chuva. O marido queria que ela ficasse dentro de casa por dois motivos: proteção contra a chuva e evitar ser descoberta pelas volantes que sempre passavam por ali. Houve discussão e o cangaceiro acabou dando uns safanões na mulher que era muito teimosa. Corisco ordenou que Limoeiro fosse no dia seguinte buscar o enxoval de seu filho que estava para nascer e o Cirilo resolveu acompanhar o jovem a fim de esfriar a cabeça.

Viajaram logo cedo. Quando chegaram na serra da Mata Grande viram uma casa e foram até lá pedir comida. Estavam conversando com os moradores quando foram avistados e atacados pelo subdelegado Agripino Feitosa e seus cinco acompanhantes armados.

Os cangaceiros fugiram, cada um indo para um lado. Limoeiro por ser moço e forte escapou ileso. Cirilo foi ferido e para esconder o rastro desceu para dentro do riacho e seguiu andando por dentro d'água, despistando os perseguidores. Mas a hemorragia do ferimento minou-lhe a resistência e ao tentar subir pela margem do riacho desmaiou pela perda de sangue e acabou morrendo. Ao ser encontrado ainda estava ereto apoiado no barranco, com as mãos crispadas.


Limoeiro ao retornar ao grupo de Corisco contou o que acontecera. Não sabia ainda, da morte do companheiro, mas logo a notícia espalhou-se pelo sertão e até foto com os matadores ladeando o cadáver, que se vê em pé e amarrado em uma tábua, foi exibida por coiteiros ao grupo.

Moça ficou muito abalada com a morte do marido. Chorou. Lastimou-se, julgando-se culpada pela morte dele. Quando lhe foi sugerido que procurasse um novo companheiro, entre os componentes dos outros grupos e não entre os "meninos" de Corisco, a Joana Conceição dos Santos (este, seu nome real) recusou terminantemente essa possibilidade.



Dadá costurou-lhe algumas roupas e num vestido escuro colocou na bainha do mesmo o dinheiro que era do finado e também uma certa importância arrecadada entre os componentes do grupo de Corisco. Após permanecer algum tempo na casa dos familiares, Moça foi denunciada e presa. Teve sorte. Não foi judiada na cadeia onde permaneceu por pouco tempo, sendo logo libertada.

Ponto de vista: (Ivanildo Silveira)

Visualizando esta foto do corpo do cangaceiro Cirilo, se percebe, com relativa facilidade, que em volta da cabeça do famoso cangaceiro, há uma espécie de pano envolvendo todo o pescoço, como se fosse um cachecol. Ora, como é verificado na literatura lampiônica, cangaceiro nenhum, usava esse tipo de pano enrolado no pescoço, e sim, lenços de cores.

Para os pesquisadores/escritores do cangaço (Dr. Sérgio Augusto de Sousa Dantas e João de Sousa Lima ), esse detalhe do pano enrolado no pescoço do cangaceiro Cirilo, por ocasião da morte do mesmo, e, feitura da foto, foi para encobrir, que o famoso bandoleiro, já estava com a cabeça separada do corpo. Logo, o pano em volta do pescoço, foi a maneira encontrada para disfarçar essa realidade.

Observem, que a cor da roupa do cangaceiro, é totalmente diferente da cor do pano envolta do pescoço do mesmo. Note, também, as características do citado pano, que nada tem a ver com a indumentária cangaceira. O pano é um objeto estranho na composição da foto.

Em nossa modesta opinião, concordamos em gênero, número e grau com as observações dos dois grandes pesquisadores, acima nominados. Como se constata, trata-se de mais uma " Curiosidade do Cangaço ".

(*) O Texto principal foi extraído do livro "Lampião e as Cabeças Cortadas, pg. 29/31", do famoso autor e autoridade em cangaço, o Dr. Antonio Amaury Correia de Araujo.

Um abraço a todos, e façam suas observações, após a leitura do texto.

Ivanildo Alves Silveira
Colecionador/Membro da SBEC 
Natal – RN

http://lampiaoaceso.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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