10 de mar. de 2022

ENEDINA DE CAJAZEIRA

  Por José Mendes Pereira

Cangaceira Enedina

Enedina era cangaceira e esposa do facínora José de Aleixo, alcunhado no mundo do crime por Cajazeira. Ambos faziam parte da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia" do afamado, perverso e sanguinário capitão Lampião.

https://www.youtube.com/watch?v=XyCO3uaEriU

Na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, terras que antes pertenciam a Porto da Folha, e posteriormente passou a fazer parte da área territorial de Poço Redondo, Enedina foi assassinada no momento da chacina aos cangaceiros, mas o seu esposo José de Julião conseguiu escapar e fugiu até alcançar lugar seguro para se proteger. 

ENEDINA ERA ALEGRE

Enedina nasceu em Poço Redondo no Estado de Sergipe, que fica bem perto da Grota do Angico, onde o bando de Lampião foi atacado e morto.

Segundo os pesquisadores, Enedina sempre estava afogada no meio da alegria, e bastante risonha, bonita e prestativa. Casada civilmente com o cangaceiro Zé Julião ou Cajazeira. 

Zé de Julião havia se  metido em questões e foi obrigado fugir da sua residência, devido as perseguições policiais. Como estava sem rumo, entrou no  bando do capitão Lampião. E assim que ele armou a sua rede no coito do capitão, Enedina foi também, porque lá já haviam outras mulheres no bando. O casal de cangaceiros gostava mais de acompanhar o grupo do facínora Zé Sereno, que era um braço de Virgolino.

A alegria da Enedina desapareceu com o massacre da volante do tenente João Bezerra da Silva. Ela foi atingida por uma rajada de balas na cabeça, que chegou a estourar os “miolos” e ainda, a massa cefálica colou no vestido da companheira Sila, que era esposa do Zé Sereno. Sila e Zé Sereno não foram atingidos e se salvaram daquela guerra de balas.

Cangaceiro Zé de Juliaõ esposo da Enedina.

ZÉ JULIÃO O CANGACEIRO CAJAZEIRA

José Francisco do Nascimento era o nome de pia do cangaceiro Zé Julião, que no cangaço, ganhou a alcunha de Cajazeira. Nasceu em Poço Redondo, município Sergipano, situado no micro região do baixo São Francisco, e onde fica a nascente do rio Sergipe. Filho do fazendeiro Julião Nascimento e Constância. Cresceu em meio a um sertão de exploradores e explorados, soldados desumanos e jagunços atrevidos, nesse quadro, faria brotar no jovem um destino do que ser simplesmente herdeiro da riqueza de seus pais.

Naqueles idos de 1928, ter qualquer coisa que se afeiçoasse a riqueza, era também involuntariamente submeter-se à exploração da volante e dos bandos cangaceiros. Ora, era sempre mais confiável garantir a vida doando ou outros bens. Contudo, foram as continuas explorações que fizeram com que o pai de Zé Julião se mudasse para outra localidade. Mesmo casado com Enedina ele segue o pai.

De certa vez, foi reconhecido por soldados da volante quando jogava baralho, e que era acostumado a extorquir seu pai, a mesma prática tentaram com ele, isto o revoltou profundamente; passou a ter profundo ódio por aquele tipo de gente. Porém,o fato mais marcante foi a decisão que tomou diante daquilo que tinha por absurdo: criou impulso e encorajamento para entrar no bando de lampião, acompanhado por Enedina. Ao ser aceito no bando de Virgulino, ganhou o apelido de Cajazeira. Ao lado da fiel companheira na aridez das caatingas, faziam planos para conquistas maiores, vez que imbatível naquela guerra sertaneja.

E talvez por isso mesmo jamais passou pela cabeça o que viria acontecer naquela manhã triste e sonolenta de 28 de julho de 1938,na gruta do Angico.Quando a volante comandada pelo cabo João Bezerra atacou e matou Lampião e Maria Bonita e mais nove cangaceiros,sua querida Enedina prostou-se como uma das vitimas. Desesperado,conseguiu romper o cerco e fugir. Lampião, o líder estava morto; o verdadeiro cangaço tinha morrido ali também. Nesse contexto de tristeza e luta com o outro lado da realidade, o que faz Cajazeira é fugir, passando a viver na clandestinidade. Vagueou algum tempo pela Bahia até voltar a sua terra querida, Poço redondo. Lá, casou novamente com a irmã de Enedina.

A tão sonhada paz não o acompanha, continuou a perseguição da volante, não teve alternativa a não ser partir prá outras terras, foi morar em Nova Iguaçu, no então estado da Guanabara. Por lá tinha parentes e conhecidos, fixou residência e não tinha maiores problemas. Mas, como bom sertanejo não aguentou a saudade e voltou às terras Sergipanas para residir em uma das tantas fazendas herdadas do pai. Conhecido como era ver sua influência política crescer na região. Com o desmembramento de Poço Redondo de Porto da Folha em 1953, o ex cangaceiro lança-se candidato a prefeito pelo PSD nas eleições de 3 de outubro1954, tal era sua influência que ele não acreditava em opositor,as forças políticas do novo município estava unida em torno do seu nome e aquela eleição seria apenas um ato confirmatório.

Contudo como sempre acontece em política,ledo engano. Eis que aparece um político de Porto da Folha, Artur Moreira de Sá, como candidato pelo PR. apoiado por alguns políticos da esfera estadual. Havia ainda um candidato da UDN, porém ouve a polarização entre Zé Julião e Artur. A grande surpresa veio com a abertura das urnas, resultado 134 x 134. Todavia, sendo Artur Moreira de Sá mais velho do que Zé de Julião, o candidato foi aclamado vitorioso e nessa condição toma posso como primeiro prefeito de Poço Redondo. Contaminado pela febre da política, seu nome ficou fortalecido para o próximo pleito. Porém, o judiciário buscava deliberadamente dificultar a vida do ex-cangaceiro. As manobras que foram sendo verificadas, todas elas no sentido de favorecer o opositor. Tal situação indignou parte da população e principalmente de Zé de Julião.

E foi nesse contexto que o tino do cangaceiro tomou o lugar do político. O que fazer se as ações fraudulentas estavam escancaradas e nenhuma autoridade séria se posicionava diante daquela vergonha toda? Não tinha jeito era derrota na certa. Pensou, se seus eleitores estavam impedidos de votar, os corregionários do outro candidato sería impedido também, e assim articulou no dia da eleição acompanhado de afamados vaqueiros, roubaram as urnas da sede do município e do distrito de Bonsucesso. a ação não era mais obra de um candidato indignado,mas do cangaceiro cajazeiras. Tamanha ousadia soa como uma bomba no meio político e na justiça eleitoral Sergipana. Agora como vitima o candidato Eliezer tinha tudo nas mãos para ser declarado eleito. E assim foi declarado prefeito pela segunda vez de Poço Redondo.

As ações perpretadas por Zé de Julião naquela revolta sertaneja lhe trouxeram duas consequencia, foi preso e colocado em liberdade alguns meses depois. Nova Iguaçu é novamente seu rumo, ao menos sería, se ao chegar em Salvador não resolvesse retornar.Não se sabe as circustâncias, as intenções ou motivo desse retorno. São muitas as suposições, e se confirmadas estas, os motivos seriam outros senão vingança. Tinha motivações para isso. Sabe-se apenas que esta foi sua última aventura,pois na manhã de 1961 foi encontrado morto,assassinado, nas terras do seu Poço Redondo. A tragédia da gruta do Angico, para ele, foi apenas adiada. http://blogsolvermelho.blogspot.com/2011/01/

A foto acima de Enedina foi encontrada pelo saudoso escritor Alcino Alves Costa que a adquiriu através de um dos seus amigos pois até então não existia foto da cangaceira Enedina. Leia o que ele falou sobre a foto:

(...)

"Pois bem! Meus amigos e companheiros dizia Alcino Alves no rastejar a história dos povos sertanejos, em especial a história do cangaço e de Lampião, neste mês de fevereiro de 2011, eu tive uma grandiosa surpresa. Surpresa que me deixou pleno de felicidade. Emocionado mesmo. Conversando com Antônio Neto, um grande artista de Poço Redondo, neto da falecida Maninha, que era irmã de Enedina, a Enedina de Zé de Julião, a Enedina que morreu em Angico ao lado de Lampião, ele me disse que sua mãe, dona Antonieta, tinha uma foto da esposa do cangaceiro Cajazeira de pouco antes dela ter ido para o cangaço. Ainda mais. Que aquela foto havia sido tirada no dia de seu casamento que aconteceu na igrejinha de Poço Redondo, em 15 de Agosto de 1937.

Fiquei atarantado com aquela inesperada novidade. Ter esta foto em minhas mãos era algo de um valor extraordinário. Tonho Neto se comprometeu em ir buscá-la na Pia do Boi, fazendinha do município onde a sua mãe reside. A minha expectativa era enorme. Eis que no dia 20 deste mês, este meu querido amigo me entregou a foto, esta foto que tenho a felicidade de mostrá-la a todos os que pesquisam e estudam o cangaço.


Vejam meus companheiros, o quanto Enedina era bela. Uma menina-moça que carregava em seu corpo e em seu espírito uma lindeza incomparável. E saber que uma jovem e linda mulher, como Enedina, no fulgor de sua mocidade, perdeu a vida, com a sua cabeça esbagaçada por uma infeliz bala, na subida de uma das serras de Angico, é um acontecimento que ainda hoje, após tantos anos, nos deixa tristes e desconsolados". - http://cariricangaco.blogspot.com/2011/02/beleza-da-mulher-cangaceira-poralcino.html

Alcino Alves Costa sendo entrevistado pelo Cariri Cangaço

Esta foto acima é a única que existe da cangaceira Enedina esposa do cangaceiro Cajazeira.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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