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05 novembro 2016

CASA VELHA QUE LAMPIÃO SE RANCHO NA CIDADE DE QUEIMADAS( SERTÃO DA BAHIA)

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Enviado em 21 de jan de 2011
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02 novembro 2016

ANTONIO CORRÊA SOBRINHO NOS PRESENTEIA COM O TEXTO ABAIXO DO JORNALISTA ZÓZIMO LIMA


Trago aos amigos, para conhecimento e deleite, o texto a seguir, lavra do escritor e jornalista Zózimo Lima, publicado na Revista da Academia Sergipana de Letras, em 1956, homenagem a um dos mais influentes e conhecidos políticos sergipanos de todos os tempos, JOÃO GOMES DE MELO, o Barão de Maruim.

O BARÃO DE MARUIM


Pequeno na extensão territorial, Sergipe, todavia, foi sempre grande pelo labor dos que nele nasceram, viveram e morreram, quer no incremento da riqueza agrícola, como nas atividades da indústria, embora ainda primitiva, quer no campo da ação propriamente intelectual.

Terra “mater da espiritualidade” ou “cárcere dos gênios", como a qualificaram homens de superior inteligência cujos nomes não me acodem à memória, Sergipe vem, desde os seus primórdios, o amanhecer da sua vida política e social, após saído do seu primitivismo, que direi colonial, se impondo à consideração de historiadores e sociólogos do passado e do presente, colocando-se no quadro amplo dos territórios que se prepararam, à força da inteligência e do trabalho incessante dos seus povoadores, para receber o influxo progressivo da civilização.

As lutas que se travaram aqui, desde o rio Real às margens do mediterrâneo São Francisco, entre o bugre indômito e os invasores ávidos de riquezas inexploradas, marcam o início da sua existência política, centro de atividade agrária, a partir das entradas que provinham das terras de Garcia D’Ávila, estabelecendo currais de gado, até os assaltos das aguerridas hordas holandesas que espalhavam o terror e deixavam, ao mesmo tempo, em conúbios irregulares, não sancionados pelas exigências dos cânones eclesiásticos, produtos humanos de miscigenação que dariam, no futuro, o tipo singular que ainda hoje se constata nos aglomerados sertanejos e na orla franciscana.

A diluição do sangue batavo na trama arterial do nativo permitiu, pelo milagre do caldeamento, a formação e fixação do exemplar humano com as conhecidas características em que predominam a incansável atividade, a destreza intelectual e a sagacidade incomparável.

O aventureirismo sergipano, na acepção de atividade e luta, não é mais do que a decorrência do amálgama racial, no qual se faz sentir, com pronunciamento estarrecedor para indivíduos de outros quadrantes, a seiva biotipológica autóctone com a do europeu, que produziu, de início, o curiboca, que se foi aperfeiçoando, refinando na clarificadora do comércio sexual.

O sergipano sempre se destacou, desde a sua constituição política e social, quando ainda súdito dos reinóis que circunscreviam a sua vivência em sesmarias, pela capacidade de trabalho e agilidade de inteligência. — Mas com os rudimentos da instrução haurida nas cartilhas, sem aprendizagem nos institutos técnicos, surpreenderam os sergipanos os centros em que se agitam os portadores de superior cultura literária, pela vivacidade do espírito, desenvoltura do intelecto, que apenas se exercitou na escola do autodidatismo.

Era nesse clima de cultura incipiente, de obscurantismo, que os homens de Sergipe, atirando-se à luta pela vida, conquistando, ainda assim, independência econômica e financeira, que, ajustada à rigidez do caráter que recebia a influência transmitida pelos ensinamentos do clero regular que se não ocupava apenas da catequese do aborígine, vinham ocupar posições políticas que lhes eram, após apurada seleção pelos delegados da Corte e da Bahia, entregues como início de carreira para obtenção ulterior de títulos honoríficos distribuídos pela munificência imperial.

Em Sergipe já se formara uma consciência equilibrada a par de anseios libertários em meio às lutas que tinham por escopo a independência nacional. A nossa população ainda escravizada à prepotência da Bahia vivia dias de grande agitação diante dos acontecimentos cujos ecos aqui chegavam trazidos pelos ventos revolucionários de Pernambuco, através das Alagoas. Não há tranquilidade, mas o trabalho nas terras da capitania de Coutinho é intenso e produtivo. Enchem-se os campos de manadas de bovinos, e nos vales do Vaza-Barris e da fértil Cotinguiba não param as atividades nos engenhos de açúcar, com o auxílio poderoso e exclusivo do escravo que nos chega, por compra, das terras africanas de Banguela e Moçambique.

Corria o ano de 1809 e nele, em setembro, 18, no antigo engenho Santa Bárbara de Cima, freguesia de São Gonçalo do Pé do Banco, vem ao mundo João Gomes de Melo, filho do casal Teotônio Correia Dantas e Clara Angélica de Menezes, membros destacados da fidalguia rural, cuja zona canavieira, de sua propriedade, abrange parte do Rosário do Catete, Pé do Banco, Japaratuba e Santo Amaro das Brotas.

A meninice não lhe foi despreocupada, porque, desde cedo, por imposição paterna, e do padre-mestre, na fábrica de açúcar, começa a receber os rudimentos do latim, matéria primordial, no ensino primário, então na época exigida.

Embora jovial nas conversações com os da sua casta, atento às necessidades dos pobres que o procuravam, João Gomes era já um rapazito que demonstrava, por atos e ações, o homem austero e polido de amanhã.

Não trazia a carga do orgulho antipático da maioria dos da sua estirpe, mimados e opulentos, tanto assim que, mais das vezes, nas folgas escolares, aos domingos, de preferência, com a licença permitida pelos progenitores atentos e cuidadosos, percorria, em visitas de cordialidade, os senhores dos engenhos Jacuruna, Lagoa Grande, Bolandeira, Periperi, Campo Redondo, Paty, Serra Negra, Oitocentas e Unha do Gato, onde tinha parentes próximos ou distantes.

Menino, mas com a curiosidade que lhe era aguçada e penetrante, interessado nos entreveros da política, não lhe escapavam detalhes dos episódios que se repetiam nos campos do incendiado Pernambuco. João Gomes de Melo tinha 12 anos quando Sergipe foi elevado à categoria de capitania independente da Bahia, com liberdade, de agora por diante, poder Sergipe dirigir-se diretamente às secretarias lá da Corte.

Não lhe é indiferente, apesar da pouca idade, o que se passa nos setores do governo, tomado de curiosidade pelas inovações que na província são introduzidas por Carlos César Burlamarque, agora sem os extravagantes aparatos de certos capitães-mores e outras autoridades que davam aos governos anteriores aspecto ridículo. João Gomes assistia às lutas entre Burlamarque e o governo autoritário da Bahia, que não se conformava com perder a pupila sergipana e, para satisfação dos seus desejos, entende-se com alguns desnaturados filhos desta terra cheia de anseios libertários, dentre os quais o coronel José Guilherme Nabuco, capitão-mor de Estância, o brigadeiro Pedro Vieira e o ouvidor José Ribeiro Navarro. Esses não desejavam a emancipação de Sergipe, preferiam-no anexado à Bahia, levados por interesse pessoal, de não perderem as posições que ocupavam. E tais foram as intrigas, a campanha contra os patriotas sergipanos, que conseguiram, afinal, a reconquista da anexação de Sergipe, sendo Burlamarque apeado do governo e substituído pelo brigadeiro Pedro Vieira, exemplo lamentável de traição.

João Gomes, com a curiosidade própria dos meninos inteligentes do interior, a quem não escapam, pela acuidade, as sutilezas dos argumentos formulados pelos fidalgos que lhe frequentavam o lar, quando, reunidos, se entregavam a comentários referentes às noticias que vinham de São Cristóvão, teatro de acirradas lutas políticas, há de, por certo, ir se impressionando com as tristes ocorrências e se apaixonando, consequentemente, pelo destino da terra escravizada pela prepotência do vizinho ambicioso que lhe ia aos poucos reduzindo o território e estorvando a ação meramente administrativa.

Vai-se lhe, aos poucos, com o perpassar dos anos, diante dos atos de arbítrio dos adventícios que aqui aportam com o olho nos cargos públicos que lhes são dados pelos lusitanos que dispõem do poder absoluto, refinando o sentimento de sergipanidade. Trata-se, em 1831, com a deliberação do Conselho Geral da Província, reunido a 30 de abril, no palácio do governo, de impor a demissão dos cargos públicos de todos os portugueses ou brasileiros nascidos em Portugal, que se tenham tornado sujeitos ao regime e à administração local, sendo, logo, apontados como tais, o secretário da presidência José Pedro de Faria, o administrador do Correio, Manoel dos Santos Silva, o tesoureiro da fazenda, Francisco Soares de Melo, o patrão mor da barra de Cotinguiba, Inácio José de Freitas, o fiscal João Coelho Sampaio e o professor de primeiras letras da capital, Antônio José Peixoto Valadares.

Continuam, entretanto, as rivalidades, frutos da ambição, dentro do próprio Conselho, que, muitas vezes, não tinha número legal para as suas deliberações, as quais iriam ao encontro das necessidades da administração. Estando, na época a que nos referimos, na presidência do Conselho o capitão-mor João de Deus Machado, queria o comendador Sebastião Gaspar de Almeida Boto, o “Napoleão do Poxim”, como depois o apelidariam, que o conselheiro José Pinto de Carvalho, seu cunhado, assumisse a administração geral, por ser o mais votado no Conselho, João de Deus resolve, ao contrário, entregá-la ao padre José Francisco de Menezes Sobral. Almeida Boto, indignado, convoca reuniões em Maruim e Rosário do Catete para reivindicar pretendidos direitos em favor de seu cunhado bem querido. Boto protesta com energia. O padre, porém, mais esperto, para não beijar o pó da derrota à vista, se alia ao comandante das armas, interino, brigadeiro José Antônio Neves Horta, senhor do engenho Junco, em Laranjeiras. Dirigem-se os litigantes, prejudicados, ao governo imperial, o qual resolve, por fim, a pendência, nomeando o Dr. Joaquim Marcelino de Brito, Presidente da Província, e ao tenente-coronel do Estado Maior, José Joaquim Machado de Oliveira, comandante das Armas.

João Gomes de Melo é, agora, um rapaz garboso, discreto, perspicaz e trabalhador. É senhor de bela fortuna, pois que, ao falecer os seus progenitores, senhores de três engenhos, lhe deixaram, em dinheiro de contado, cerca de quarenta contos, afora imóveis e semoventes. Casa-se, então, João Melo, com cerca de 22 ou 24 anos, não lhe tenho certa a idade, com a Srª. Maria de Faro Rolemberg, viúva, mãe do Barão de Japaratuba, de D. Ana Rolemberg de Madureira, esposa de Luiz Barbosa Madureira, e da menor, de quatro anos, Maria de Faro Rolemberg, todos agora enteados de João Gomes de Melo.

Agora, casado, com as responsabilidades de família, entrega-se João Gomes à vida campesina, ao labor agrícola, preso à terra, onde, no dizer de Anatole France, “há formas magníficas e nobres pensamentos”. É um belo tipo de homem, másculo na expressão da fortaleza física, fronte alta, soberba, dominadora, saudável de ideias, rico de energia, volitivo estênico, segundo a classificação de Pende.

É observador percuciente dos fatos políticos e sociais, emitindo, quase sempre, com religiosa discrição, entre os mais íntimos, juízos claros, depois de análise demorada.

Spranger não vacilaria em situá-lo na sua estrutura política e social. 

A política vem ao seu encontro, com atrações de mulher bonita e alucinante, em 1845. E de corpo e alma nela envolve-se, contribuindo, com o seu prestígio entre o povo que o admira, para eleger deputado federal o Presidente da Província, Zacarias de Góis e Vasconcelos, que seria, mais tarde, uma das maiores figuras do cenário político nacional. Os seus adversários acusam-no de ter abandonado o seu partido — o “camundongo” — para apoiar os “rapinas”, concorrendo, deste modo, para o aniquilamento daquele, do qual fora o seu autor.

Em 1848 está na Assembleia Provincial, ao lado de vultos destacados pela inteligência, como Martinho de Freitas Garcez, padre Barroso, padre Pitangueira, padre Félix Barreto de Vasconcelos, cônego Antônio Luiz Azevedo, Guilherme Pereira Rabelo, vultos de projeção que se estende até a Corte. Em 11 de outubro desse mesmo ano é João Gomes agraciado com o título honorífico de Barão com grandeza, além de superior comandante da Guarda Nacional. Em 1853 está o Barão de Maruim na Câmara Geral, onde se encontra, pela primeira vez, fazendo íntimas relações, com o Dr. Joaquim Inácio Barbosa, que ali tinha assento, como suplente, substituindo o magistrado André Bastos de Oliveira, deputado pelo Ceará.

Em 1855 o seu ex-colega padre Barroso tem sério aborrecimento com o Barão. Este se encontra no governo da Província, com sede na nova capital, e o padre Barroso, que é professor de filosofia, no ensino secundário, quer permanecer em São Cristóvão. O Barão determina a sua permanência na capital. O Barão compele-o então a requerer aposentadoria, no que é aquiescido, ficando o padre Barroso na inatividade, com os vencimentos de 473$010 anuais.

Brigam os políticos de Sergipe, notadamente Boto, Travassos, Fernandes Junior, Leandro Maciel, “luzias” e “saquaremas”. João Gomes, da Corte, dirige agora a política da província, sendo, por sua habilidade, combatido com veemência por Travassos, seu antigo aliado, pelas colunas da Voz da Razão, depois transformado em Conciliador, editado em Santo Amaro das Brotas.

Não satisfeito com os golpes que lhe são vibrados por aquele órgão de imprensa, o Barão manda, do Rio, por procuração, reivindicar a propriedade da tipografia em que é impressa a gazeta oposicionista, em poder do seu ex-companheiro de lides, comendador Travassos.

A sua máxima preocupação, agora, sonho acalentado de há muitos anos, é mudar a capital de São Cristóvão para Aracaju. Esse plano ele o delineara desde quando figurava na Assembleia Provincial. Era, porém, mister homem de pulso para auxiliá-lo na sua realização. Aproximara-se, atraído por simpatia mútua, do seu colega Inácio Barbosa, em quem descobrira capacidade para levar avante tal empresa, arcar com as responsabilidades, com ele dividida, da mudança em perspectiva. Já na 3ª sessão preparatória de 16 de abril de 1853, sob a presidência de Pereira da Silva, são conjuntamente indicados, o Barão e Inácio, para darem parecer a respeito das eleições do Rio Grande do Sul, que diplomaram o candidato Luiz Alves Leite Pereira Belo. Juntos, sempre, como se vê, o Barão de Maruim e Inácio Barbosa. É de crer-se que havia catequese da parte do titular maruinense com o objetivo de conseguir do deputado cearense aquiescência para empreitada de tão grande monta, com possível resistência do colega.

O Barão já era, a esse tempo, casado em segundas núpcias com D. Valentina Soares de Souza, irmã do diplomata, jurisconsulto, estadista Paulino José Soares de Souza, Visconde do Uruguai. Por intermédio do Visconde, seu cunhado, e do Imperador, de quem o Barão era valido, consegue este trazer a Sergipe, como presidente, o ex-suplente de deputado pelo Ceará e agora com função na Fazenda Pública, Inácio Barbosa. Os planos da mudança, traçados de há muito, seriam agora postos em prática, tão logo chegasse a Sergipe o Barão, para ultimá-los, o que, enfim, se realizou a 17 de março de 1855, no seu engenho Unha de Gato, para onde, anteriormente, extraordinariamente, convocara, para tal fim, os representantes do povo na Assembleia Provincial.

Vitória exclusiva do Barão de Maruim, a transferência da capital, o qual teve como instrumento e colaborador o presidente Inácio Barbosa. O que não conseguira, em 1832, o comendador Sebastião Gaspar de Almeida Boto, propondo ao Conselho Geral, alcançara-o o Barão de Maruim. Almeida Boto pleiteara, naquele ano, a mudança, para Laranjeiras, da capital; o Barão, porém, mudara-lhe os planos, conseguindo-a depois, para as praias mefíticas de Aracaju. Tão responsável fora o Barão pela transferência combatida pelos patriotas cristovenses, que os doestos, as chufas ridicularizadoras se voltavam para o Barão, como se verifica da brejeira e desconjuntada quadra declamada por todos os cantos da velha capital: O BARÃO TÁ NO INFERNO/ BATISTA NA PROFUNDA/ O CATINGA VAI ATRÁS COM COFRE NA CACUNDA”.

Deputado e presidente da Província, comandante da Guarda Nacional, deputado geral, Barão com grandeza, João Gomes Vieira de Melo é, depois, por Carta Imperial de 2 de maio de 1861, nomeado senador, sendo empossado a 1° de junho do referido ano. Pelo Visconde de Abaeté, presidente do Senado, foram designados, para recebê-lo, por sorteio, os Srs. Pimenta Bueno, Antônio José Machado e o Visconde de Jequitinhonha. Maruim, satisfeito, emocionado, toma assento no plenário. É, aquele, um dos maiores dias da sua trabalhosa vida. Para sua vaga, na Câmara, é eleito o então ministro da Fazenda, conselheiro José Maria da Silva Paranhos, futuro Visconde do Rio Branco. Pai do futuro Barão do Rio Branco, incomparável diplomata que consolidou nossas fronteiras e integrou o Acre ao território da pátria brasileira.

A trajetória do Barão de Maruim no Senado é longa, tempestuosa e acidentada, a despeito do seu temperamento aparentemente calmo e do bem-estar que lhe proporcionava a grande fortuna acumulada. Vem ele, várias vezes, a Sergipe, acalmar ânimos exaltados de muitos dos seus amigos, parentes e correligionários. Cinde-se o partido Conservador sob a sua chefia. Na Câmara Geral atracam-no Barros Pimentel, Martinho de Freitas e Leandro Bezerra, que o acusam de ter, no Senado, dito que a província de Sergipe “estava entregue a ladrões e a tratantes”, como o de ter procurado inutilizar as candidaturas de Leandro Maciel e Coelho e Campos. Revida o deputado Menezes Prado, seu parente, exaltando a figura do Barão, com provas inequívocas de lealdade e benemerências.

O Barão, a despeito de econômico, não é egoísta nem dissipador. É fecundo no terreno da assistência social. Viaja à Europa, por três vezes, onde recebe o polimento da civilização e se aprofunda, apesar de autodidata, no estudo dos economistas mais em voga. A língua francesa se lhe torna fácil, dúctil e a sua biblioteca se enriquece de autores clássicos e modernos. Foge-lhe, pela morte, a segunda esposa, e ele se torna ensimesmado, quase místico, constituindo as suas distrações, agora, as sessões cacetes do Senado e as visitas cordiais ao Paço, onde o Imperador o recebe com absoluta distinção.

Em 1861 ocorre em Sergipe o fato que abalou profundamente a sociedade, aparecendo o seu nome na mais torpe exploração. Sua enteada, Maria de Faro Rolemberg, proprietária do engenho São Joaquim, maior, solteira, falece de maneira estranha na residência do seu cunhado, Luiz Barbosa Madureira, esposo de sua irmã Ana Acioli Madureira. O Barão, no Rio, dias antes, recebera notícias de que sua enteada estava enferma e, padrasto carinhoso, vem a Sergipe visitá-la. Ao saltar em Aracaju, sabe que sua dileta enteada, que por ele fora criada desde os quatro anos de idade, havia falecido envenenada. A história é longa e escabrosa. Há dissídio na família. O dinheiro de Maria de Faro Rolemberg é o pivô do acontecimento trágico. Nela figura o Barão de Japaratuba, Ana Acioli, Luiz Madureira e até certo médico de nome Joaquim Pinto Sobral, acusado de ter envenenado, em Capela, anos antes, o negociante capitão Manoel Geraldo do Nascimento e o Sr. José Lopes Valença, senhor do engenho Horta, para ficar em mancebia com as esposas das suas vítimas. O Barão providencia a exumação da vítima, a extração das vísceras e as remetera à Faculdade de Medicina da Bahia, para o indispensável exame toxicológico. Este, conforme se esperava, deu como resultado: envenenamento por arsenicais.

Acirram-se os ódios contra o Barão, tendo este, depois de cumprida a sua missão paternal, pois considerava Ana Rolemberg sua filha, regressa à Corte, agora definitivamente, depois de liquidados os seus negócios em Sergipe, voltando-se para os seus amados livros, às suas amizades, às suas recordações da mocidade passada em Rosário, Maruim, às suas saudades dos banhos no Siriri e no Japaratuba, e os passeios a pé e a cavalo, pela floresta verde dos canaviais.

Distribui, então, à larga, venerável com o título de Barão e com as condecorações da Ordem do Cruzeiro e de São Gregório Magno, graças e mercês à pobreza e as instituições de caridade. Gasta do seu bolso cerca de duzentos contos na construção da Matriz de Maruim; doa terrenos ao Hospital de Caridade, como concorre para a edificação da Matriz da capital; socorre variolosos e retirantes tangidos pelas secas nos sertões do Norte e do Nordeste; subvenciona instituições de letras, órgãos da imprensa e escolas públicas. Funda, com o virtuoso padre João Francisco Pereira Andrade, a Escola Doméstica N. Srª. do Amparo, em Petrópolis, onde tem instalada residência de verão, bem próxima do Palácio Imperial. Vai ao encontro dos parentes pobres, socorrendo-os nas necessidades. Certa feita, numa das suas viagens e permanência em Paris, salvou um pobre mas honesto negociante brasileiro, às portas da falência, sem o conhecer, simplesmente levado pelo espírito de altruísmo, solidariedade humana e sentimento patriótico. Isto porque, pensava ele, o Barão de Maruim, como Spinoza, que “o homem só pode ajudar a sim mesmo, ajudando aos outros”. Um autêntico e discreto filantropo.

Além da França visitou a Bélgica, a Itália, tendo em Roma, com credenciais do Ministério dos Estrangeiros, chegado à presença de Sua Santidade o Papa Pio IX, de quem recebera a benção apostólica, o que muito o envaideceu por ser católico praticante.

Quando mais se intensifica no país a campanha abolicionista, ele aos poucos vinha alforriando os seus escravos. Reina no ambiente político brasileiro, como complemento da batalha a favor do elemento servil, já vitoriosa, a intensa propaganda republicana. As instituições imperiais estão ameaçadas. O trono começa a estremecer em suas bases, agora nada sólidas, à força da demolidora picareta política manejada por Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva, representantes do Exército e da Imprensa.

O Barão de Maruim, com aquela faculdade de previsão que lhe era inata, compreende, antevê a hora do perigo, o fim da Monarquia. Seu testamento, redigido três meses antes, contempla instituições de caridade, religiosas, parentes, afilhados e ex-escravos.

No último capítulo daquele documento o Barão pede não se realizem os seus funerais com aparato e pompa. Não se façam convites pela imprensa para a condução do seu corpo ao Campo Santo, nem para a missa de sétimo dia. Chegou o momento das renúncias e das contrições. A sua alma se banha na luz sagrada que vem dos ensinamentos do Evangelho. No oratório da família, relíquia dos seus antepassados, trazido do engenho onde nasceu, ele passa horas de contemplativo, como São Francisco e Huysmanns.

Às tardes, ouvindo o rumor da Guanabara que não lhe fica longe, ele passa na velha cadeira de balanço, na chácara da Rua Santo Amaro, no convívio amorável dos seus pássaros, dos seus livros, das riquíssimas baixelas e dos raros amigos que vão diminuindo à proporção que a idade avança. Conversa, quase sempre, nas visitas espaçadas, com o visconde de Sinimbu, o Barão de Loreto, o Marquês de Muritiba, o Visconde de Taunay, seus amigos, colegas, muitos dos quais companheiros de comissões parlamentares, que envelhecem, tranquilamente, como ele, fieis sempre ao amado Imperador. Perdoa, recordando, ao Barão de São Francisco, seu amigo, há anos falecido, que, certa feita, como ele se desaviera, com azedume, acerca de pleiteada escala de navegação ao porto de Aracaju.

Quando, certa manhã, chegou ao seu retiro bucólico a notícia de que tinha proclamada a República, o velho Maruim apertou o coração e deu curso irreprimível às lágrimas que lhe corriam pelo peito que tantas vezes apertara contra o do seu querido Imperador.

Velho, alquebrado, agora sem títulos nem brasões, os quais foram anulados pelo regime ora nascente, era-lhe amargo, doloroso, tornar, depois de tantos anos de ausência, à terra do seu berço onde vivera, amara e sofrera moralmente.

Cinco meses depois de desabado o Trono, a 23 de abril de 1890, João Gomes de Melo, que foi puro como aqueles que passaram pela vida praticando o bem, que pensava como Emerson de que “a única maneira de ter amigo é ser amigo”, docemente, calmamente, deixava o invólucro material, aqui na terra, voando para a Eternidade.

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O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira …
Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína, pelo e-mail: 
Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 

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01 novembro 2016

AFASTAR-SE DE PESSOAS CONFLITIVAS TRAZ BENEFÍCIOS À ALMA E AO CORPO


Sério, afastar-se de conflitos aumenta a nossa saúde física e emocional. Algumas pessoas nos cansam, nos sugam energia e aniquilam nossa capacidade de reação. Elas são verdadeiras destruidoras da nossa saúde e paz interior, adoecem nossa capacidade emocional e distorcem nossas sensibilidades.

A verdade é que ao longo do tempo, passamos a desconhecer muitas pessoas que pensávamos conhecer, e percebemos que vivemos sujeitos às suas exigências, sua conversa, seu comportamento e, especialmente, suas emoções tóxicas.

Essas pessoas não sabem como respeitar e considerar os outros, e os utilizam como marionetes de seu mau caráter e alvos de conflitos externos e internos. Elas não vivem e deixam viver e, portanto, impedem o desenvolvimento e crescimento pessoal dos que as rodeiam.
“Podem fazer isso de forma consciente ou não, mas é evidente que nos afogam e intoxicam, nos fazendo sentirmos vulneráveis, que fiquemos com raiva facilmente ou que desejemos fugir e abandonar tudo.”

Obviamente, embora fosse mais adequado, nem sempre podemos nos afastar fisicamente destas pessoas, pois podem ser da família ou colegas. No entanto, se tivermos a possibilidade de tomar distância física, é a medida mais adequada para cuidarmos de nossa saúde.

No entanto, podendo ou não o fazer, o importante é conseguir um distanciamento emocional. Então, o melhor a fazer é começarmos a ter a força para nos mantermos fora de sua capacidade de ação, não permitindo influenciem nosso comportamento.

Como podemos nos distanciar emocionalmente de alguém que nos fere?
Se tem alguém em sua vida que te machuca, você pode jogar com a vantagem da antecipação, porque sabe que suas reações ou intenções se tornarão mais previsíveis.

A este respeito, deve-se enfatizar o que mencionamos acima, talvez as pessoas ao nosso redor não queiram criar mau ambiente, mas não sabem se relacionar com o meio ambiente de outra forma.

Ou seja, pare de dar importância ao que essas pessoas fazem e focar-se nos problemas que estão te criando, assim terá mais oportunidades de crescimento e parará de minar sua força e autoestima.

Por estas razões, temos que jogar com as expectativas. Esperamos tanto dos outros que somos incapazes de aceitar a realidade como ela é. Isto gera desapontamentos e desilusões, alimentando uma atmosfera na qual é muito difícil respirar.

“Manter perspectiva nos ajudará a alcançar certa indiferença e desceremos dessa montanha-russa emocional, nos separando de nossas preocupações e liberando nossas inseguranças e reações desproporcionais.

A ideia é iluminar nossas mentes e expor nossos pensamentos e emoções sem medo das consequências, quando chegar a hora. Isto terá um resultado tão rápido e direto quanto satisfatório: nossos problemas irão diminuir e poderemos viver em paz.”

Quando nos afastamos da dor, nos aproximamos da felicidade

Afaste-se do medo e aproxime-se da indiferença. Não se machuque tentando manter uma boa impressão sobre os outros ou pensando que sempre têm boas intenções.

Dizem que quando alguém tem a intenção de prejudicar-nos, o melhor desprezo que podemos fazer é não dar apreciação; ou seja, não deixar que minem a nossa autoestima e ignorar as mensagens negativas.

Ambientes tóxicos e conflitantes têm uma capacidade de contágio devastadora para a nossa saúde. Quanto mais tomarmos distância mais emocional deles, melhor nos sentiremos.

“A vida é muito curta para viver em angústia. Assim, ame as pessoas que te tratam bem e distancie-se daquelas que não o fazem. Sem arrependimentos.”


http://www.revistapazes.com/afastar-beneficios/

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LIVRO DE ESTRIPULIAS

*Rangel Alves da Costa

Pra quem não sabe o que seja, vou logo dizendo o que é estripulia. Nada mais que travessura, desordem, traquinagem, peraltice. Daí que o presente escrito também poderia se chamar de livro das peraltices ou das traquinagens. Ou ainda: as travessuras atravessadas num mundo pelo avesso.

E livro porque relatos contidos nas páginas do dia a dia, nos cotidianos e aventuras de crianças e adultos. Não há uma só pessoa que algum dia não tenha praticado uma estripulia, feito uma traquinagem, enveredado em travessuras. Mais presentes nas fases das criancices e adolescências, mas também constantes até em pessoas já envelhecidas.
Cheio de estripulia assim como um primo meu. Caçador de passarinhos, eis que recebeu uma encomenda de um azulão bonito, cantador, com penas bem azuladas, e para ser entregue dentro de uma semana. Dizendo que seria fácil demais, combinou o dia e hora da entrega. Só que a coisa não foi ficando fácil como lhe parecia.

Já próximo a chegar o dia do repasse do azulão bem azulado e cantador, e nada de encontrar o passarinho na medida. Sequer um azulão desazulado conseguia encontrar. Virava de canto a outro com arapuca na mão e nada de tocaiagem. Quase não dormiu na noite anterior ao compromisso. Revirou e desvirou, até que se viu com uma solução na cabeça. Ao levantar cedinho, logo começou a colocar o plano em ação.

Conseguiu tudo fazer conforme o planejado, e de repente já estava com o azulão bem azulado na gaiola. Ao meio-dia fez a entrega e recebeu o dinheiro. Mas como ele conseguiu? Agora conto. Sem ter conseguido o pássaro original, catou um pardal e tacou-lhe tinta azul de caneta. O bichinho ficou num azulado tão grande que chegava a brilhar, e sem que a tinta se desprendesse das penas. Mas uma semana depois foi desagradavelmente surpreendido.

Com efeito, o comprador tapeado bateu à sua porta com um pássaro à mão e perguntando o porquê de o azulão bem azulado ter se transformado em pardal pardacento. Assustado com a descoberta e principalmente com a batida do enganado à sua porta, o espertalhão só encontrou essa para se sair: Mas você está é brincando comigo. Leva um azulão azulado e me chega reclamando com outro passarinho na mão. E você sabe que passarinho é esse aí? Um curió, dos bons.


Ao ouvir a palavra curió, um pássaro famoso e desejado pelo canto maravilhoso que possui e, por isso mesmo, sempre muito caro, o enganado se enganou ainda mais. E logo se imaginou com uma verdadeira fortuna. Então não quis nem mais falar no azulão desazulado, arrumando desculpa para ir embora, de modo que o espertalhão não desejasse o passarinho de volta. E saiu numa correria só. Olhava para o bichinho e pedia que cantasse. Mas pardal não canta.

Outro cabra cheio de estripulia foi o coiteiro Torquato. Toda vez que a volante chegava à sua procura pra forçá-lo a dizer onde estava escondido o bando de Lampião, era melhor nem ter ido. A força policial sempre saía no prejuízo, senão corrida com rabo entre as pernas, como se dizia por lá. Certa feita, o coiteiro estava sentado na malhada quando mais de vinte policiais surgiram repentinamente de dentro da mata. Estava pinicando fumo para um cigarro de palha e assim continuou, sem ao menos se incomodar com a presença de tantas armas em sua direção.

Assim que o chefe da guarnição fez menção em falar, o coiteiro rapidamente levou o dedo à boca, como se pedisse silêncio, e com um dedo da outra mão apontando numa direção. Então, ciente de sinal, a volante saiu em disparada para o local indicado, entrando na caatinga e sumindo. Logicamente sem saber que havia sido enganada. E como enganada foi quando o coiteiro espalhou na região que o bando de Lampião ao invés de se esconder agora estava caçando a volante, com a cangaceirada doida pra comer no dente cada samango que encontrasse. E mais de cem homens caçando a polícia por todo lugar. Ao saber dessa história, e sabendo que os seus vinte e poucos homens não dariam cobro à cangaceirada, o comandante abriu a porteira e deu o salve-se quem puder. E foi uma correria de soldado que chega a poeira subia.

Menino dá nó em cadarço de sapato de quem adormece pelas calçadas e depois, de longe, joga pedra para acordar, todo mundo sabe disso. Quando acorda assustado e logo vai levantar para saber do acontecido, o cabra tropeça nas próprias pernas e se estrebucha no chão. E lá longe o menino se acaba de tanto rir. Mas depois silencia e vai em busca do quintal mais próximo. Depois de pular a cerca, cuidadosamente começa a subir em goiabeira, em mamoeiro, em jabuticabeira. Certa feita, estando lá em cima, de repente avistou embaixo a dona do quintal já de vassoura à mão. Bastava descer e tomar umas vassouradas. Então escolheu o mamão mais maduro e arremessou lá de cima.

Depois desceu e saiu avoando. Enquanto pulava de canto a outro, a velha senhora tentava se limpar da papa de mamão por cima de tudo.

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31 outubro 2016

O BOM E O PÉSSIMO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2016 - Escritor Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.582

Dizem lá no Sertão que o mundo é composto do bom e do ruim. E, como em novela passada, dizia um coronel da região: “de fato é mesmo, compadre!”. Existe uma espécie de medo ou alergia médica em relação ao interior. Antes o doutor não queria sair da capital por causa das  oportunidades de aperfeiçoamento, congressos, seminários, cursos e outras coisas mais. Essas justificativas não se concebem mais porque a rede asfáltica cobre o estado inteiro. Vai-se ao lugar mais distante de Maceió dentro de pouco tempo e se retorna da mesma maneira. Aliás, em Alagoas, as distâncias são modestas não passando dos 300 quilômetros de Maceió ao lugar mais distante como Pariconha.

Comércio de Maceió - Foto Clerisvaldo B, Chagas

Por outro lado, não existe um incentivo constitucional, obrigatório e compensador que conduza o jovem médico aos lugares da periferia. 

A retirada dos postos de atendimento do IPASEAL SAÚDE das principais cidades interioranas de Alagoas foi muito grave. Essa maldade sem precedente foi realizada no governo estadual do governador banana, anterior. Carimbada a decisão pelo atual, permanece o absurdo em que o servidor não pode sentir uma dor de cabeça que não tenha que vir à capital. Todos os postos do interior foram extintos e um só médico não atende pelo IPASEAL SAÚDE. Como é que ninguém é preso por uma barbaridade dessas! 

O bom são as novas vias rodoviárias que estão sendo construídas paralelas a Fernandes Lima, para desafogar o principal corredor de trânsito. Louve-se o mérito incontestável do ato governamental. 

Todavia, os usuários do plano de saúde do Ipaseal do interior, continuam a peregrinação infame pela capital em busca de médico para os seus males, encontrando muitas vezes portas fechadas do plano. A Justiça do estado deveria obrigar ao governo reabrir todos os postos fechados e seus credenciamentos médicos que atendam com dignidade os funcionários ligados ao plano IPASEAL SAÚDE. Só quem adoece não é gente de Maceió. IPASEAL é do estado e não particularmente da capital e nem dos amigos desse que está aí. Bem que um dos candidatos a governador havia advertido antes... Ô peste!


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30 outubro 2016

VIVER E MORRER NO MUNDO CORONELISTA

*Rangel Alves da Costa

Depois de tanto tempo de compromisso e submissão, eis que de repente o cabra, por um motivo ou outro, passava a não ter mais serventia. E ia morrer pelas mãos dos capangas daquele mesmo coronel que um dia lhe garantiu proteção.

E protegia mesmo. Mas até onde o cabra lhe tivesse serventia. Até onde fosse útil à tocaia, à emboscada, ao recado melindroso, ao segredo guardado, a tudo que saiba e que não podia revelar. Mas sempre chegava um tempo de desconfiança, quando o desacreditado tinha de forçosamente silenciar debaixo do chão. 

Assim, a segurança coronelista ia até o momento que este precisasse se livrar da ameaça do protegido. Muitas vezes, este conhecia tanto do lamaçal sangrento, de mando e perseguição, que podia se tornar em perigo. Passava a conhecer tramas e segredos que não podiam ser revelados. Então o coronel lhe dava o último sorriso já sabendo de sua sina.

Já dizia o velho Leontino - e com razão - que coronel nordestino nunca gostou de quem quer que fosse. Toda sua amizade era construída por interesse, num jogo de mando e poder, que tanto podia perdurar por mais tempo ou acabar num instante.

Prosseguia dizendo que coronel nunca confiou nem nele mesmo, muito menos em qualquer outro. Sua maldade e perversidade chegavam a tal ponto que parecia viver assombrado, vendo inimigo em tudo e por todo lugar. Numa situação assim, qualquer um podia pagar pela desconfiança.

Talvez fosse o poder acastelado no feudo rodeado de proteção, como num pedestal inacessível, que o tornava tão solitário e tão explosivo. Tramando ter mais poder, tecendo a vida e a morte, ao abrir a boca ou bater o cajado, outra coisa não fazia senão ordenar. E ordem de fogo e sangue a ser cumprida antes que a cusparada secasse.

Numa simples ordem, e uma sentença de vida e de morte. Ora, para ele tanto fazia a vida ou a morte do outro, do inimigo, do litigante ou mesmo do inocente. Mandava matar pai de família empobrecido que não quisesse se desfazer de seu pedacinho de terra nas vizinhanças do latifúndio.


Qualquer um poderia ser sua vítima. Decidia sempre em proveito próprio e contra quem quer que fosse. O coronel de verdade, aquele de latifúndio, poder e capangagem, jamais tomou qualquer decisão que não fosse em seu único e exclusivo benefício. Até mesmo quando abria as portas do curral para eleger um candidato estava trocando o voto por mais poder.

Quando se comprometia a acolher nas suas hostes e dar proteção a foragidos e perseguidos da justiça e da polícia, outra coisa não fazia senão aumentar seu regimento de jagunços, capangas e assassinos. E assim porque todos passavam a lhe dever cega obediência.

A desobediência ou o serviço malfeito, quando o jagunço errava a tocaia ou não trazia a orelha como troféu, era sentença de morte. Ou o cabra fugia ou logo receberia como troco o trato que deixou de cumprir. E se fugisse era derrubado do mesmo jeito. Não havia escapatória. O jagunço ia matar jagunço onde o fugitivo estivesse.

Certa feita, um ex-cangaceiro de Lampião se viu forçado a pedir proteção a um coronel após a chacina de Angico, onde o cangaço teve fim. Temia ser morto pela volante caçadora de fugitivos. Então se debandou para o feudo coronelista e lá foi acolhido com segurança.

No reduto coronelista, logo encontrou outros na mesma situação. Não eram capangas nem jagunços, pois recebendo proteção especial pela fama, linhagem familiar ou a mando de outros amigos influentes. Mas cada um tinha o seu tempo de estadia e de retorno.

Contudo, gente existia que jamais deixava de dever obediência ao poderoso, pois de vez em quando retornando pela reincidência nas práticas virulentas. Mas todos sabiam que jamais, mesmo já estando distantes daquele feudo, poderiam contrariar o coronel.

E o ex-cangaceiro, mesmo já tendo saído do reduto coronelista e alcançado voo próprio, começou a agir de modo não desejado pelo seu ex-protetor. E uma vez contrariado o mando, a sina do subvertido não era outra senão ser alcançado pela poderosa fúria.

Então foi morto pelas mãos de homens que creditava grande confiança e amizade. E eram realmente amigos e de confiança. Contudo, muito mais do coronel. E a este não podiam faltar de jeito nenhum, sob pena de terem o mesmo destino. O que, aliás, acabaram tendo mais tarde.

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AS CANTORAS GÊMEAS.

  Por Saudade Sertaneja Célia Mazzei (Célia) e Celma Mazzei (Celma) nasceram em Ubá, Minas Gerais, em 2 de novembro de 1952. Irmãs gêmeas, i...