Não há nada melhor que amar. O amor romântico, entre dois, é algo verdadeiramente insuperável. O amor é tudo, como acertadamente disse o poeta.
Mas brincar de amar também não é ruim assim. Ora, muita gente brinca. Muito mais do que imagina nossa vão filosofia amorosa. Agora mesmo alguém este brincando de amar.
Agora mesmo alguém está fazendo do outro um brinquedinho, jogando daqui pra lá, fazendo de conta que ama. E o pior é que muita gente se deixa ser jogada de lá pra cá, se deixa usar como peteca ou bola de assopro.
Agora mesmo alguém está achincalhando do outro que diz tanto amar. Jura amor, até se ajoelha se for necessário, mas outra coisa não faz senão zombar, usar, chacotear, torna o outro num objeto de diversão perante todos.
Isso mesmo, pois aquele que é usado e abusado, servindo sempre como brinquedo amoroso, acaba divertindo também toda a comunidade. Muitas vezes, até uma cidade inteira passa a se divertir com o brinquedo amoroso com que um trata o outro.
Neste jogo, aquele que brinca vai fazendo do outro um lúdico cuja serventia outra não é senão o desrespeito, a traição, a falta de honradez e pudor. Aquele que joga, apenas joga, faz do outro verdadeiro brinquedo. Aquele que é jogado e que verdadeiramente ama, acaba sendo zombado sem merecer.
Muito acontece assim. É um jogo de tanto faz para quem faz do outro brinquedo. Diz amar e faz do amor sua diversão. E se diverte traindo o amor confiado. Graceja pelo que faz e o outro que ama nem sempre sabe que está sendo usado, jogado, humilhado.
Mas o que seria, realmente, brincar de amar? Sua compreensão está no próprio contexto do que seja brincadeira. Sua definição partirá deste contexto.
Segundo os dicionários, brincadeira é o ato de brincar. Brincadeira é jogo, é diversão, é passatempo, é recreação. Brincadeira é agir ludicamente, a partir de situações que causem prazer pelo divertimento.
Brincar, pois, é divertir, é entreter, é distrair. Significa ainda dizer que não há seriedade na brincadeira, pois é a diversão que move sua prática. E com relação ao amor, como seria então?
Com relação ao amor, a brincadeira assume a mesma feição conceitual. Considerando que o amor depende da relação entre dois, então um destes toma a iniciativa de, unilateralmente, tornar o outro num meio de divertimento.
Assim, brincar de amar é tornar o amor uma mera diversão, um entretenimento, uma distração. Brincar de amar é fingir que ama e tornar tal fingimento em traição, em troca amorosa, em safadeza.
Brincar de amar é não levar a sério o que a um tem tanto importância, mas que ao outro não vale absolutamente nada. Quem brinca de amar sempre desdenha do outro, tem com este como insignificante e como um objeto qualquer de pouca utilidade às suas verdadeiras pretensões.
Quem brinca de amar e torna o outro em vil brinquedo, sempre chama para si o prazer da desonra, de ter seu nome falado e enlameado, mas ainda assim o faz pelo simples prazer da traição ou da sem-vergonhice.
Fazer o que, então? A verdade é que quem ama nunca descobre facilmente que está sendo usado, zombado, chacoteado. Todo mundo sabe, mas a pessoa não. Mas ao descobrir, então caberá tomar a decisão se deseja continuar sendo jogado ou se não permite para si tamanha vergonha.
Por fim, quem joga ou brinca de amor e até faz disso uma arte da sem-vergonhice, não permanecerá eternamente com o prazer de enganar. Um dia sairá perdedor ou perdedora do jogo e saberá o quanto é doloroso e humilhante servir de brinquedo.
O poeta Zé de Cazuza numa conversa com o compositor Lirinha.
Ele não demora muito a sair do Sítio São Francisco, na zona rural onde criou os filhos e mantém ainda suas roças de mandioca. No centro de São José do Egito, é tomado como parte natural da paisagem. Conversa com um, acena para outro, elogia a beleza de uma moça, entre um trago de cachaça ou um gole de cerveja, não dispensa uma prosa. “Nunca mais apareceu alguém que saiba me entrevistar direito”, ele diz, para a reportagem. “O melhor foi Cascudo”, continua ele, sobre o “folclorista” potiguar Luís da Câmara Cascudo, cuja obra seria um dos eixos de entendimento do que viria a ser reconhecido com a cultura popular do Nordeste. Cabeça meio achatada sob o chapéu de feltro, relógio no punho, sorriso virgulando cada palavra, Zé de Cazuza continua sua saga como o principal memorialista da geração clássica de poetas do Sertão do Pajeú. “Não tem mais cantador, não. Jovem, não mais. Todos eles hoje têm entre 40 e 50 anos de idade”, diz ele, verbete vivo.
José Nunes Filho nasceu em 12 de dezembro de 1929, numa fazenda de Monteiro, município de casario ainda secular, logo depois da fronteira com a Paraíba, ali perto, onde, recentemente, a chegada do rio virou espetáculo, cartão de visitas e um dos argumentos mais festejados para a transposição do Rio São Francisco. Aos seis anos, assistiu a sua primeira cantoria de viola. Na peleja, estavam Severino Lourenço Pinto e Antônio Marinho do Nascimento, o poeta que seria tomado como sogro por Louro do Pajeú. O fato lhe marcaria a memória. Não apenas pessoal. Mas a da própria cultura.
Se a poesia cantada do Pajeú não respirava academias, menos ainda se destinava ao papel. “Naquela época, em que também os meios de comunicação eram escassos, os poetas eram também cronistas e informadores dos fatos sociais do mundo. A poesia era feita e consumida na hora”, comenta o professor de filosofia e pesquisador Marcos Nunes da Costa. Sem Zé de Cazuza, muito do que foi declamado no calor do improviso jamais teria se tornado clássico com o tempo, se não fosse a atenção de Zé de Cazuza. Dono de uma memória prodigiosa, ele simplesmente decorava os grandes versos nascidos nas rodas de glosa e cantoria. “Só não entrava na cabeça dele verso ruim. O que era bom, ele gravava na hora”, comenta o escritor Antônio José de Lima, casado com
Marilena Marinho, filha de Louro do Pajeú, e autor do recém-lançado Legado Filosófico de Poetas e Repentistas Semianalfabetos (Ed. Bagaço). No livro, ele perfila e compila 157 poetas do Pajeú. Quase todos iletrados. “Todos com uma grande capacidade de entendimento poético do mundo”, comenta. O mais antigo deles, Bernardo Nogueira, nascido em 1832. “É como Mozart, o gênio que assegurava que não fazia a música, a música sempre esteve lá. Parece que, aqui, a poesia também”.
A maioria desses poetas sequer seria lembrada no aniversário do neto não fosse a memória obstinada de Zé de Cazuza.
SÓ LEMBRO
“Não tem técnica, não, eu só me lembro das coisas”, simplifica ele, consciente de seu papel como o grande memorialista da poesia do Pajeú. De um só fôlego, ele se veste da conhecida entonação poética da região e lembra um dos principais poemas de Louro do Pajeú sobre o peso dos anos acumulados na vida: “Eu já não suporto mais/Na vida, tantas revoltas/ Prazer, por que não me buscas? / Mágoas, por que não me soltas?/ Presente, porque não foges / Passado, por que não voltas?”. Mas seu espírito de menino parece não ter espaço para melancolias. Quer mais é ampliar os HDs do pensamento com nova poesia. “Nem sei ainda. Mas vou ampliar meu livro. Acho que entra ainda uns 30 poetas”, diz ele, sobre o seu Poetas Encantadores, um livro que desde seu lançamento, nos anos 80, já teve quatro reedições e, naturalmente, se tornou uma das grandes referências para essa escola de poesia falada que, no papel, tem ampliado sua fala.
- Dionísia, minha velha, gritava seu Galdino, o diabo das ovelhas do morador da viúva estão todas dentro do nosso cercado. Não se pode mais criar nada nas nossas terras. Ele sabe que as suas ovelhas são umas verdadeiras ladras, e as solta perto do meu cercado.
- Calma, meu velho! Calma! - aconselhava-o dona Dionísia. É melhor ter paciência. Intrigas com vizinho já se parece morte.
- Mas por que ele não as coloca no cercado de cima, se lá é bem mais farto o parto do que ali? - dizia ele com ignorância.
Enquanto isso, se ouvia o toc, toc de um animal que vinha caminhando. Era seu Leodoro Gusmão, montado em um lustroso cavalo de campo, que havia tomado emprestado à fazendeira dona Chiquinha Duarte, para a captura de um boi mandingueiro.
Fazendeira dona Chiquinha Duarte
- Apeie-se, compadre Leodoro, para tomar um cafezinho. A Dionísia acabou de fazer, e está bem quentinho... Dionísia, trás um cafezinho para o nosso compadre! – gritou seu Galdino em direção à cozinha.
E virando para o seu Leodoro, perguntou-lhe:
- Conseguiu ver o seu boi mandingueiro nos cerrados, compadre?
- Infelizmente não o vi, compadre Galdino. O parto está muito unido ainda, e torna-se difícil ver qualquer vivente naquelas matas fechadas.
- Mas assim é que é bom, compadre! Muito pasto e os nossos animais não morrerão de fome; ao contrário, eles estão nadando no meio da fartura.
- Deus nos livre de seca! Nossa! Só trás sofrimento para nós e para os animais. - Disse seu Leodoro.
- Quando eu vejo a fartura, me lembro de quando ainda não era fazendeiro. O sofrimento era grande. Nós morávamos nos fundos das terras do fazendeiro Chico Duarte, lá bem próximo à Favela.
Fazendeiro Chico Duarte esposo da dona Chiquinha Duarte
Eu vivia de campear gado bravo nos cerrados. Eu era vaqueiro de aluguel. Nunca fui vaqueiro de fazendeiro nenhum. O fazendeiro me dizia o bicho que precisava no seu curral, e me dava uma radiografia completa. A cor do animal, o ferro, se era adulto ou ainda novilho, tudo, sem faltar nada. E a partir das características do vivente, eu me mandava em busca dele, e só retornava para casa com ele na frente, mascarado e com chocalho...
- Mas o senhor sempre campeava sozinho, compadre Galdino? Interrompeu-lhe seu Leodoro.
- Sim senhor! Nunca precisei de vaqueiros para tanger gado comigo. E naquele tempo as onças viviam passeando por todos os lugares. Todos os dias, nas fazendas, amanheciam bezerros mortos e estraçalhados pelas danadas.
- E o senhor tinha medo delas?
- Nunca tive medo de tal animal. Eu a tratava como se fosse um cachorro, com uma diferença, apenas de grande porte.
- Eu não tenho medo, compadre Galdino. Eu evito de vê-las, porque elas são traiçoeiras, e não se deve dar chance a esse tipo de animal.
Seu Galdino precisava urgente contar uma história sobre onça a seu Leodoro. E de imediato, deu início a uma de suas aventuras.
- Certa vez, eu precisava de uns cabos para as minhas ferramentas. Os meus dois filhos, os que moram lá na grande São Paulo, o Artur e o Severino ainda eram pequenos, o mais novo com sete anos, e o mais velho com oito. A nossa situação era de lástima, porque os fazendeiros não estavam precisando de serviços dos vaqueiros, vez que os rebanhos estavam muito bem, obrigado. Naquela época, eu ainda nem sonhava em possuir fazenda. Mas, o senhor sabe, que quem é pobre, sofre por tudo. E o pior é a falta de alimentos. A minha casa estava sem nada, apenas água no pote e nada mais. O que ainda tinha em casa era açúcar, e quando um deles sentia fome, a Dionísia fazia garapa, isto no intuito de amenizar a fome do menino.
- Os meus filhos também foram criados bebendo garapa, compadre. - afirmava seu Leodoro para reforçar o que dizia seu Galdino...
- Pois bem, já que eu iria tirar os cabos para as minhas ferramentas, e como a situação andava de pior a pior, que o senhor sabe que quem anda pelas matas, vez por outra encontra uma fruta, mel de arapuá..., levei o Artur e o Severino, pois se caso eu encontrasse frutas ou mel, eles aliviariam um pouco a fome. Mas eu os levei, não só para isto, também para conhecerem as terras que eles teriam que passear por elas quando atingissem a adolescência, à procura de animais. E nós seguimos por uma vereda feita por bodes, e bem próximo ao Pai Antonio, que o senhor o conhece muito bem, do Soutinho, avistamos um animal que se escondia por detrás de uma árvore derreada.
Dona Edith Souto e Soutinho
E fomos nos aproximando daquele bicho, para termos a certeza que vivente era. Mas com muito cuidado, pois eu temia que poderia ser uma onça, e já que os meus filhos andavam comigo, talvez acontecesse um ataque contra nós, feito por ela. E lentamente, fomos mais perto, e adivinhe, compadre, o que era!?
- Eu suponho que era uma rês pastando bem escondidinha. – Dizia seu Leodoro.
- Que rês que nada, compadre! Era uma enorme onça, em pé, diante de nós. Os meninos ficaram assustados. Mas para consolá-los, eu os disse que não tivessem medo, que ela não iria lhes fazer nenhum mal.
- Meu Deus, uma onça! – exclamou seu Leodoro.
- E vi logo que era uma onça parida, porque as suas mamas estavam muito inchadas, como se ela tivesse perdido os seus filhotes. Mas em nenhum momento, ela demonstrou insatisfeita com a nossa presença. Mas com receio, que ela poderia atacar os meus filhos, coloquei-os trepados em uma árvore, pois se ela tentasse me atacar e eu corresse, ela não conseguiria subir, para estrangular os meus garotos. E fui me aproximando mais dela, e nas mãos, eu levava um enorme facão, mais uma corda que eu a conduzia amarrada em minha cintura. A onça era tão mansa, mas tão mansa, que nada fez contra mim. Fiquei alisando o seu corpo, repuxando o couro, e a danada se era covarde, naquele dia se tornara um cordeiro. Olhando as suas tetas, desejei secá-las. Mas com medo que ela se revoltasse contra mim, continuei alisando o seu couro, e com a outra mão, fui peando as suas patas traseiras. Ali, eu iniciei secar as suas tetas.
- O senhor estava tirando leite da onça, compadre?
- E eu brinco, compadre Leodoro!? Como eu já havia peado as suas patas traseiras, cheio de certeza que ela era uma verdadeira amiga, pedi que o Artur descesse da árvore, para que eu o arriasse em uma das patas dianteira da onça, para facilitar a esgotada do leite, que com certeza, seria melhor para eu mungi-la.
- O senhor arriou o seu filho na onça, compadre Galdino? - Perguntava seu Leodoro com espanto.
-Arriei-o! Eu notei logo que a onça era uma lesada..., eu achando que era um desperdício, já que o leite era de boa qualidade, chamei o Severino para mamar nela, porque ele sentia fome. A onça nem ligava, e me parece que ela estava achando boa aquela arrumação. Como ela estava tranquila, desarreei o Artur das mãos da onça, e ordenei-o que fosse mamar também. Eles ficaram com os as barrigas enormes, porque a onça tinha muito leite.
- E depois, compadre, a onça não se revoltou com vocês?
- Pois diga! De forma alguma! Eu vendo que ela era uma besta, isto é, muito mansa, peguei a corda, fiz um cabresto, encabrestei-a, e meus filhos e eu fomos para casa montados nela.
- Que bom que um dia, nos tabuleiros, eu me encontrasse com essa mesma onça, compadre Galdino, para a Gertrudes passear montada nela nesse nosso sertão sofrido.
História contada, seu Leodoro resolveu ir embora, pois precisava fazer algumas compras lá em Mossoró.
- Até mais tarde, compadre! - Disse e saiu galopeando vagarosamente em direção à sua casa.
- Até, compadre...!
Seu Leodoro não tinha mais espaço para guardar a tamanha mentira do seu Galdino.
- Vai-te corno! - Dizia seu Galdino. Quem irá sempre montar na Gertrudes sou eu, e não onça nenhuma!
Minhas Simples Histórias
Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.
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Considerado um dos precursores da industrialização do Nordeste, pois, aproveitou a água do rio São Francisco, para gerar a energia (Usina de Angiquinho - Paulo Afonso/BA)...,era natural de Ipú-CE.
Criou a Fábrica de Linhas da Pedra. Posteriormente, com a morte do mesmo, o município passou a se chamar, Pedra de Delmiro-AL.
Foi assassinado por pistoleiros em 10 de outubro de 1917, enquanto lia jornal, em uma cadeira, em sua residência.
Até hoje, se discute, quem foi o mandante e executores do assassinato.
31 de
dezembro, virada de ano, a lua nascera cheia no infinito, tudo prontinho como
imaginava seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) Filho. Iria promover uma festa
de arromba, oferecida aos seus vizinhos. Nunca tinha feito uma festa em sua
casa. E agora, a sua casa estava prontinha para receber a vizinhança.
Vasculhada, reformada, pintura novinha e bem fresquinha, e ainda com um
cheirinho agradável. Terreiro bem varrido para receber os festeiros. Os comes e
bebes tinha com farturas.
https://www.youtube.com/watch?v=KMRaq7JY0b8
Quando seu
Galdino foi comprar a tinta para pintar as paredes da sua casa pediu opinião a
alguns dos seus vizinhos fazendeiros, qual cor deveria ser usada nas paredes
para chamar a atenção dos seus convidados. Mas não usou as opiniões de cores
dadas por eles; ficara muito chateado com o Bertoldo, que opinava que pintasse
a casa com cores da bandeira do Brasil, incentivando seu Galdino ser
patriótico.
Mas seu
Galdino foi curto e grosso, dizendo-lhe que não queria saber de pátria, porque
nunca iria morrer por ela, e que ela é governada por um bando de ladrões, lá no
Congresso Nacional. E ainda disse: “- Quem quiser morrer pelo o Brasil que
morra! Sei que o Brasil é muito bonito, mas eu nunca vou morrer por ele!”.
Para o jantar
de fim de ano havia matado cinco carneiros gordos, dois porcos, dez galinhas
caipiras e dois pebas sevados.
Alguns dos
seus amigos disseram que, foi a primeira vez que viram pebas sendo mortos para
servirem jantar em virada de ano.
A festa não
foi feita dentro da casa, porque o espaço, apesar de meio grande, não
acomodaria todas as mesas e festeiros ao mesmo tempo. Assim, seu Galdino
resolveu fazê-la no terreiro da frente da casa, e estava lastrado de mesas e
cadeiras, todas adquiridas com a sua vizinhança.
Neném do Baião de Mossoró. Visitei-o várias vezes quando estava doente. Não faleceu do problema de garganta, e sim infartou no período que se recuperava da cirurgia. - Neném faleceu no dia 9 de setembro de 2011. Eu soube do seu falecimento através do poeta, escritor e pesquisador do cangaço e gonzagueano Kydelmir Dantas -http://www.mossoroemfoco.com/…/mossoro-perdeu-nenem-do-baia…;
Os tocadores
eram: o Neném do Baião um dos melhores sanfoneiros da região de Mossoró e
cidades adjacentes, e até havia tocado, várias vezes com o rei do baião Luiz
Gonzaga, quando de suas apresentações em Mossoró.
Pedro Paquete
que tinha fama de bom tocador, iria animar a festa com um triângulo, e o
Ricardo da Porteira foi encarregado de ficar a noite toda açoitando o pandeiro,
este, sempre gostou de apanhar por onde anda nas festas e encontros de cantores
sambistas.
Tanto os
filhos de seu Galdino como os de seu Leodoro Gusmão todos estavam lá. Até a
Tanilde filha de seu Leodoro, que residia na cidade do Juazeiro do Norte, terra
do meu Padim Padim Cícero, e era afilhada do seu Galdino, viera prestigiar a
festa do seu padrinho.
Assim que o
sol foi embora começou chegar gente de tudo que era de lugar. A Vanusa
Pastorinha com o seu esposo, mais uma filha de 15 anos, e uns filhos pequenos,
foram os primeiros a colocarem os pés no terreiro, onde iria ser realizada a
festa.
Os irmãos
Raimundo Galdino e sua esposa Maria Xaxá, vaqueiro da fazenda Mulungu, Manoel
Galdino e dona Mocinha sua esposa, vaqueiro da Fazenda Cordão de Sombra, e
Antônio Tomaz de Aquino e sua esposa, lá na fazenda Nova, hoje município de
Porto do Mangue (todas estas três fazendas de propriedade do senhor Soutinho),
chegaram montados nos seus cavalos. E ao descerem das montarias, seu Galdino
foi recebê-los, e em seguida, levou os animais para o estábulo. As famílias
destes primeiros estavam para chegar em carros. E aos poucos, o terreiro foi
sendo ocupado pelos participantes da festa, homens, mulheres e meninos.
Um que não
podia deixar de estar presente à festa era o seu grande amigo e compadre
Leodoro, que foi chegando com a sua esposa dona Gestrudes, toda emperiquitada,
vestido longo, salto alto, unhas feitas, um cabelo que foi bem cuidado pela
cabeleireira Silvana, que saiu da cidade de Mossoró para este fim, deixar a
dona Gestrudes elegantemente.
Seu Leodoro
Gusmão estava além de elegante, usando um terno em cor cinza, com o paletó mais
comprido atrás, camisa branca e gravata prata, e no bolso, um lenço branco, e
sobre, uma flor de jasmim.
Seu Galdino
também usava paletó, este de cor preta e gravata, e me parece que o seu sapado
estava lhe apertando, porque, ele andava manquejando um pouco as pernas, como
se o par de sapatos estivessem fazendo calos.
Dona Dionísia
com vestido longo e de cor branca, cabelo preso e unhas feitas, com um cuidado
para não borrá-las, pegava as coisas, usando apenas os dedos fura-bolos e
cata-piolhos. O casal estava elegante, mas nem se comparava a elegância de seu
Leodoro e da dona Gertrudes.
Os que
confirmaram as suas presenças à festa estavam todos, ninguém faltou. Só o
vizinho Pedro Tubiba que não quis participar da festa, porque andava de férias
de bebidas alcoólicas, preferiu não confirmar a sua presença.
E aos redores
das mesas os festeiros esperavam o início do forró, porque a mulherada estava
impaciente, esperando o abrir do fole (sanfona), que os três encarregados da
animação, aguardavam as ordens do seu Galdino para iniciar.
A festa era
para eles comemorarem a virada do ano, e seu Galdino já havia advertido aos
animadores que, somente tocassem músicas do rei do baião Luiz Gonzaga e do Trio
Mossoró. Não aceitava músicas de outros cantores.
Com alguns
minutos depois, seu Galdino ordenou aos músicos que podiam começar tocar.
Sanfona
aberta, festa iniciada, com a música do famoso Luiz Gonzaga e Gonzaguinha Pense
N’eu.
Seu Galdino
foi o primeiro a cair no salão com a sua dama, e logo, algumas reduzidas palmas
surgiram no terreiro. No vai e vem da dança, o sapato do pé direito da dona
Dionísia enganchou o salto em um buraco no terreiro, e ali, ela ficou tentando
tirar-lhe, mas com a foça que fez, o salto ficou enfiado no buraco. Mas ela
continuou assim mesmo, dançando. E enquanto dançava sem o salto no sapato, os
festeiros riam e gritavam, dizendo: “- Ela parece que está dançando uma valsa!”
E de repente,
ela resolveu tirar o par de sapatos, primeiro, um, e jogou para ali, depois, o
outro, dizendo: “- Sapatos de saltos altos, só para mulheres da sociedade”. E
continuou a dança, descalça mesma.
Seu Galdino
está dançando, mas muito preocupado. O Pedro Tubiba chegou à festa. Está de
olhos nele. Ele tinha garantido que não iria aparecer na festa, e até
emprestara o seu par de sapatos.
A velha
Cacilda sogra do seu famoso seu Galdino Borbagato, gritou em tom de admiração,
quando viu a filha Dionísia e seu genro dançando:
- Dança,
dança, meu noro! Dança, meu noro!
Era assim que
ela chamava o seu genro seu Galdino (Noro).
O Pedro Tubiba
ficou querendo saber quem estava no terreiro dançando, e de imediato, viu seu
Galdino que tentava ser a estrela do pedaço. Como Pedro Tubiba não tinha papa
na língua, foi até ao sanfoneiro e disse:
- Para aí,
amigo!
O Neném do
Baião parou.
Em seguida:
- Por favor,
faça um lá.
- Um lá?
Perguntou-lhe Neném do Baião.
- Sim, senhor!
E assim que
Neném do Baião apontou a nota lá na sanfona, Pedro Tubiba improvisou, dizendo:
- Dança,
dança, seu Galdino,
Mesmo sem saber dançar,
Zela bem os meus sapatos,
E amanhã vá me entregar.
Seu Galdino
morreu, mas fez que nada lhe ofendia, sorrindo contra vontade, dizendo-lhe:
- Você é
engraçado mesmo, Pedro Tubiba!
Neném do Baião
continuou o forró, desta vez, tocando a música do Trio Mossoró – Carcará
Raimundo
Galdino, Manoel Galdino e Antonio Tomaz de Aquino estão no salão, dançando com
as suas esposas, e vez por outra, fazem o revesamento de cavalheiras.
Os comes e
bebes já haviam iniciado, e o corre-corre das pessoas para pegarem os seus
alimentos fazia gosto se ver. Duas pessoas entregavam os pratos aos festeiros
por dentro do alpendre da casa.
Alguns casais
caíram na dança, e minutos depois, foi a vez de seu Leodoro e sua amada
Gertrudes.
Quando o casal
caiu na dança, os aplausos foram assustadores. Seu Leodoro só no bico do
sapato, dominando a sua dama. As palmas foram em exageros. Ele rodopiava com a
sua esposa no terreiro, que a parte traseira do seu paletó voava ao ar livre.
Seu Leodoro
não chegou terminar o curso de dançarino na Academia da Cléa, porque quis
ingressar na vida camponesa; adorava gado, ovelhas, cabras, galinhas e outros
mais. Mesmo não tendo terminado, era um grande dançador.
Assim que ele
terminou de dançar com a sua esposa, dona Gestrudes, ela mesma o ordenou:
- Dança com
quem você quiser agora Leodoro!
Fez fila.
Todas as moças e mulheres casadas queriam experimentar o bico do sapado do seu
Leodoro Gusmão, só no chiado do sapato, apesar que o chão era barro.
Mas no meio
daquela gente tinha alguém que não estava gostando. Era o seu Galdino. Com
ciúmes, porque todas mulheres estavam admirando o dançar do casal, seu Leodoro
e dona Gestrudes.
Seu Galdino
dizia consigo mesmo que, as grandes estrelas ali era ele e dona Dionísia que
eram os donos da festa, e não, aquele velho safado e mentiroso com sua esposa,
querendo ser mais importantes do que eles.
Seu Galdino
estava inconformado. O jeito era acabar imediatamente com aquela festa. Não
iria admitir que aquele casal tomasse o seu lugar e da Dionísia em sua própria
casa.
E sem muita
demora, idealizou uma. Foi até a cozinha, procurou o seu fumo caipira, fez um
cigarro grosso, acendeu-o, e voltou para o terreiro, baforando aquela fumava
fedorenta no meio dos festeiros.
Mas ele não
estava lembrado que, a maior parte dos seus convidados era camponês, e aquilo
não lhe ofendia de jeito nenhum, quando muitos eram fumantes de fumos bravos.
Andou para
aqui e para ali, nas mesas onde as pessoas estavam, e lá, baforava fortemente,
e não conseguiu fazer ninguém reclamar ou ir embora. Para os festeiros, muitos
já haviam bebidos goles a mais, e não estava nem aí para fumaça de cigarro
podre!
Foi quando ele
imaginou o que poderia dar certo para acabar com a festa que ele não estava
gostando nem um pouco. Foi lá dentro da casa, fechou as portas e as janelas
para não dá chances a ninguém entrar nela, saiu fora pelo terreiro da cozinha,
caminhou um pouco contrário à casa, e depois, voltou às carreiras em gritos:
- Pelo amor de
Deus, pessoal, vem aí chegando duas onças pintadas pra mais de 50 arroubas!
Corram! Corram, pessoal! Livrem-se dos dentes daquelas danadas!
Os festeiros
não esperaram mais por nada, e o corre, corre, a gritaria fazia dó! Crianças
perderam mães, pais perderam filhos, todos por um só objetivo. Livrarem-se o
quanto antes das garras e dos dentes daquelas perversas.
O sanfoneiro,
Neném do Baião saiu correndo com a sanfona quase as quedas, e como esquecera de
travar (abotoar o fole), cada passada que dava, a sanfona fazia fom-fom. Ele
ficou tão desorientado, causado pelo medo, achava que o fom-fom era a onça que
corria atrás dele.
Minutos
depois, nenhum pé de pessoa, mesmo os que já estavam bêbados, tinham fugidos
para não passarem pelas mandíbulas daquelas duas perversas.
Logo que
desapareceram os festeiros seu Galdino ficou rindo dos bestas que foram embora
com medo de onças inexistentes.
- E eu brinco!
Estrelas na minha casa só a Dionísia e eu! – Dizia ele em longas gargalhadas.
... o célebre Tenente Zé Rufino (José Osório de Farias) comandante de uma Força Volante e apontado como o maior matador de cangaceiros de toda a história do cangaço. Foi certamente um dos maiores e temíveis inimigos de Lampião.
Zé Rufino foi o militar que matou o maior número de cangaceiros em todo o ciclo do cangaço. Entre os cangaceiros mortos por Zé Rufino está o famoso Corisco o "Diabo Loiro".