15 janeiro 2018

BRINCANDO DE AMAR

*Rangel Alves da Costa

Não há nada melhor que amar. O amor romântico, entre dois, é algo verdadeiramente insuperável. O amor é tudo, como acertadamente disse o poeta.
Mas brincar de amar também não é ruim assim. Ora, muita gente brinca. Muito mais do que imagina nossa vão filosofia amorosa. Agora mesmo alguém este brincando de amar.
Agora mesmo alguém está fazendo do outro um brinquedinho, jogando daqui pra lá, fazendo de conta que ama. E o pior é que muita gente se deixa ser jogada de lá pra cá, se deixa usar como peteca ou bola de assopro.
Agora mesmo alguém está achincalhando do outro que diz tanto amar. Jura amor, até se ajoelha se for necessário, mas outra coisa não faz senão zombar, usar, chacotear, torna o outro num objeto de diversão perante todos.
Isso mesmo, pois aquele que é usado e abusado, servindo sempre como brinquedo amoroso, acaba divertindo também toda a comunidade. Muitas vezes, até uma cidade inteira passa a se divertir com o brinquedo amoroso com que um trata o outro.
Neste jogo, aquele que brinca vai fazendo do outro um lúdico cuja serventia outra não é senão o desrespeito, a traição, a falta de honradez e pudor. Aquele que joga, apenas joga, faz do outro verdadeiro brinquedo. Aquele que é jogado e que verdadeiramente ama, acaba sendo zombado sem merecer.
Muito acontece assim. É um jogo de tanto faz para quem faz do outro brinquedo. Diz amar e faz do amor sua diversão. E se diverte traindo o amor confiado. Graceja pelo que faz e o outro que ama nem sempre sabe que está sendo usado, jogado, humilhado.


Mas o que seria, realmente, brincar de amar? Sua compreensão está no próprio contexto do que seja brincadeira. Sua definição partirá deste contexto.
Segundo os dicionários, brincadeira é o ato de brincar. Brincadeira é jogo, é diversão, é passatempo, é recreação. Brincadeira é agir ludicamente, a partir de situações que causem prazer pelo divertimento.
Brincar, pois, é divertir, é entreter, é distrair. Significa ainda dizer que não há seriedade na brincadeira, pois é a diversão que move sua prática. E com relação ao amor, como seria então?
Com relação ao amor, a brincadeira assume a mesma feição conceitual. Considerando que o amor depende da relação entre dois, então um destes toma a iniciativa de, unilateralmente, tornar o outro num meio de divertimento.
Assim, brincar de amar é tornar o amor uma mera diversão, um entretenimento, uma distração. Brincar de amar é fingir que ama e tornar tal fingimento em traição, em troca amorosa, em safadeza.
Brincar de amar é não levar a sério o que a um tem tanto importância, mas que ao outro não vale absolutamente nada. Quem brinca de amar sempre desdenha do outro, tem com este como insignificante e como um objeto qualquer de pouca utilidade às suas verdadeiras pretensões.
Quem brinca de amar e torna o outro em vil brinquedo, sempre chama para si o prazer da desonra, de ter seu nome falado e enlameado, mas ainda assim o faz pelo simples prazer da traição ou da sem-vergonhice.
Fazer o que, então? A verdade é que quem ama nunca descobre facilmente que está sendo usado, zombado, chacoteado. Todo mundo sabe, mas a pessoa não. Mas ao descobrir, então caberá tomar a decisão se deseja continuar sendo jogado ou se não permite para si tamanha vergonha.
Por fim, quem joga ou brinca de amor e até faz disso uma arte da sem-vergonhice, não permanecerá eternamente com o prazer de enganar. Um dia sairá perdedor ou perdedora do jogo e saberá o quanto é doloroso e humilhante servir de brinquedo.

Escritor
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14 janeiro 2018

LADY BE GOOD – O AVIÃO FANTASMA

Por Rostand Medeiros

Clique no link e leia todo este belo material do pesquisador e historiógrafo Rostand Medeiros.

https://tokdehistoria.com.br/2018/01/13/lady-be-good-o-aviao-fantasma/

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13 janeiro 2018

ZÉ DE CAZUZA É UMA MEMÓRIA PRODIGIOSA A SERVIÇO DA POESIA DO SERTÃO DO PAJEÚ

O poeta Zé de Cazuza numa conversa com o compositor Lirinha.

Ele não demora muito a sair do Sítio São Francisco, na zona rural onde criou os filhos e mantém ainda suas roças de mandioca. No centro de São José do Egito, é tomado como parte natural da paisagem. Conversa com um, acena para outro, elogia a beleza de uma moça, entre um trago de cachaça ou um gole de cerveja, não dispensa uma prosa. “Nunca mais apareceu alguém que saiba me entrevistar direito”, ele diz, para a reportagem. “O melhor foi Cascudo”, continua ele, sobre o “folclorista” potiguar Luís da Câmara Cascudo, cuja obra seria um dos eixos de entendimento do que viria a ser reconhecido com a cultura popular do Nordeste. Cabeça meio achatada sob o chapéu de feltro, relógio no punho, sorriso virgulando cada palavra, Zé de Cazuza continua sua saga como o principal memorialista da geração clássica de poetas do Sertão do Pajeú. “Não tem mais cantador, não. Jovem, não mais. Todos eles hoje têm entre 40 e 50 anos de idade”, diz ele, verbete vivo.

José Nunes Filho nasceu em 12 de dezembro de 1929, numa fazenda de Monteiro, município de casario ainda secular, logo depois da fronteira com a Paraíba, ali perto, onde, recentemente, a chegada do rio virou espetáculo, cartão de visitas e um dos argumentos mais festejados para a transposição do Rio São Francisco. Aos seis anos, assistiu a sua primeira cantoria de viola. Na peleja, estavam Severino Lourenço Pinto e Antônio Marinho do Nascimento, o poeta que seria tomado como sogro por Louro do Pajeú. O fato lhe marcaria a memória. Não apenas pessoal. Mas a da própria cultura.

Se a poesia cantada do Pajeú não respirava academias, menos ainda se destinava ao papel. “Naquela época, em que também os meios de comunicação eram escassos, os poetas eram também cronistas e informadores dos fatos sociais do mundo. A poesia era feita e consumida na hora”, comenta o professor de filosofia e pesquisador Marcos Nunes da Costa. Sem Zé de Cazuza, muito do que foi declamado no calor do improviso jamais teria se tornado clássico com o tempo, se não fosse a atenção de Zé de Cazuza. Dono de uma memória prodigiosa, ele simplesmente decorava os grandes versos nascidos nas rodas de glosa e cantoria. “Só não entrava na cabeça dele verso ruim. O que era bom, ele gravava na hora”, comenta o escritor Antônio José de Lima, casado com

Marilena Marinho, filha de Louro do Pajeú, e autor do recém-lançado Legado Filosófico de Poetas e Repentistas Semianalfabetos (Ed. Bagaço). No livro, ele perfila e compila 157 poetas do Pajeú. Quase todos iletrados. “Todos com uma grande capacidade de entendimento poético do mundo”, comenta. O mais antigo deles, Bernardo Nogueira, nascido em 1832. “É como Mozart, o gênio que assegurava que não fazia a música, a música sempre esteve lá. Parece que, aqui, a poesia também”.

A maioria desses poetas sequer seria lembrada no aniversário do neto não fosse a memória obstinada de Zé de Cazuza.
SÓ LEMBRO

“Não tem técnica, não, eu só me lembro das coisas”, simplifica ele, consciente de seu papel como o grande memorialista da poesia do Pajeú. De um só fôlego, ele se veste da conhecida entonação poética da região e lembra um dos principais poemas de Louro do Pajeú sobre o peso dos anos acumulados na vida: “Eu já não suporto mais/Na vida, tantas revoltas/ Prazer, por que não me buscas? / Mágoas, por que não me soltas?/ Presente, porque não foges / Passado, por que não voltas?”. Mas seu espírito de menino parece não ter espaço para melancolias. Quer mais é ampliar os HDs do pensamento com nova poesia. “Nem sei ainda. Mas vou ampliar meu livro. Acho que entra ainda uns 30 poetas”, diz ele, sobre o seu Poetas Encantadores, um livro que desde seu lançamento, nos anos 80, já teve quatro reedições e, naturalmente, se tornou uma das grandes referências para essa escola de poesia falada que, no papel, tem ampliado sua fala.

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10 janeiro 2018

SEU GALDINO E A ONÇA LEITEIRA.

Por José Mendes Pereira

- Dionísia, minha velha, gritava seu Galdino, o diabo das ovelhas do morador da viúva estão todas dentro do nosso cercado. Não se pode mais criar nada nas nossas terras. Ele sabe que as suas ovelhas são umas verdadeiras ladras, e as solta perto do meu cercado.

- Calma, meu velho! Calma! - aconselhava-o dona Dionísia. É melhor ter paciência. Intrigas com vizinho já se parece morte.

- Mas por que ele não as coloca no cercado de cima, se lá é bem mais farto o parto do que ali? - dizia ele com ignorância.

Enquanto isso, se ouvia o toc, toc de um animal que vinha caminhando. Era seu Leodoro Gusmão, montado em um lustroso cavalo de campo, que havia tomado emprestado à fazendeira dona Chiquinha Duarte, para a captura de um boi mandingueiro.

Fazendeira dona Chiquinha Duarte

- Apeie-se, compadre Leodoro, para tomar um cafezinho. A Dionísia acabou de fazer, e está bem quentinho... Dionísia, trás um cafezinho para o nosso compadre! – gritou seu Galdino em direção à cozinha.

E virando para o seu Leodoro, perguntou-lhe:

- Conseguiu ver o seu boi mandingueiro nos cerrados, compadre?

- Infelizmente não o vi, compadre Galdino. O parto está muito unido ainda, e torna-se difícil ver qualquer vivente naquelas matas fechadas.

- Mas assim é que é bom, compadre! Muito pasto e os nossos animais não morrerão de fome; ao contrário, eles estão nadando no meio da fartura.

- Deus nos livre de seca! Nossa! Só trás sofrimento para nós e para os animais. - Disse seu Leodoro.

- Quando eu vejo a fartura, me lembro de quando ainda não era fazendeiro. O sofrimento era grande. Nós morávamos nos fundos das terras do fazendeiro Chico Duarte, lá bem próximo à Favela.

Fazendeiro Chico Duarte esposo da dona Chiquinha Duarte

Eu vivia de campear gado bravo nos cerrados. Eu era vaqueiro de aluguel. Nunca fui vaqueiro de fazendeiro nenhum. O fazendeiro me dizia o bicho que precisava no seu curral, e me dava uma radiografia completa. A cor do animal, o ferro, se era adulto ou ainda novilho, tudo, sem faltar nada. E a partir das características do vivente, eu me mandava em busca dele, e só retornava para casa com ele na frente, mascarado e com chocalho...

- Mas o senhor sempre campeava sozinho, compadre Galdino? Interrompeu-lhe seu Leodoro.

- Sim senhor! Nunca precisei de vaqueiros para tanger gado comigo. E naquele tempo as onças viviam passeando por todos os lugares. Todos os dias, nas fazendas, amanheciam bezerros mortos e estraçalhados pelas danadas.

- E o senhor tinha medo delas?

- Nunca tive medo de tal animal. Eu a tratava como se fosse um cachorro, com uma diferença, apenas de grande porte.

- Eu não tenho medo, compadre Galdino. Eu evito de vê-las, porque elas são traiçoeiras, e não se deve dar chance a esse tipo de animal.

Seu Galdino precisava urgente contar uma história sobre onça a seu Leodoro. E de imediato, deu início a uma de suas aventuras.

- Certa vez, eu precisava de uns cabos para as minhas ferramentas. Os meus dois filhos, os que moram lá na grande São Paulo, o Artur e o Severino ainda eram pequenos, o mais novo com sete anos, e o mais velho com oito. A nossa situação era de lástima, porque os fazendeiros não estavam precisando de serviços dos vaqueiros, vez que os rebanhos estavam muito bem, obrigado. Naquela época, eu ainda nem sonhava em possuir fazenda. Mas, o senhor sabe, que quem é pobre, sofre por tudo. E o pior é a falta de alimentos. A minha casa estava sem nada, apenas água no pote e nada mais. O que ainda tinha em casa era açúcar, e quando um deles sentia fome, a Dionísia fazia garapa, isto no intuito de amenizar a fome do menino.

- Os meus filhos também foram criados bebendo garapa, compadre. - afirmava seu Leodoro para reforçar o que dizia seu Galdino...

- Pois bem, já que eu iria tirar os cabos para as minhas ferramentas, e como a situação andava de pior a pior, que o senhor sabe que quem anda pelas matas, vez por outra encontra uma fruta, mel de arapuá..., levei o Artur e o Severino, pois se caso eu encontrasse frutas ou mel, eles aliviariam um pouco a fome. Mas eu os levei, não só para isto, também para conhecerem as terras que eles teriam que passear por elas quando atingissem a adolescência, à procura de animais. E nós seguimos por uma vereda feita por bodes, e bem próximo ao Pai Antonio, que o senhor o conhece muito bem, do Soutinho, avistamos um animal que se escondia por detrás de uma árvore derreada. 

Dona Edith Souto e Soutinho

E fomos nos aproximando daquele bicho, para termos a certeza que vivente era. Mas com muito cuidado, pois eu temia que poderia ser uma onça, e já que os meus filhos andavam comigo, talvez acontecesse um ataque contra nós, feito por ela. E lentamente, fomos mais perto, e adivinhe, compadre, o que era!?

- Eu suponho que era uma rês pastando bem escondidinha. – Dizia seu Leodoro.

- Que rês que nada, compadre! Era uma enorme onça, em pé, diante de nós. Os meninos ficaram assustados. Mas para consolá-los, eu os disse que não tivessem medo, que ela não iria lhes fazer nenhum mal.

- Meu Deus, uma onça! – exclamou seu Leodoro.

- E vi logo que era uma onça parida, porque as suas mamas estavam muito inchadas, como se ela tivesse perdido os seus filhotes. Mas em nenhum momento, ela demonstrou insatisfeita com a nossa presença. Mas com receio, que ela poderia atacar os meus filhos, coloquei-os trepados em uma árvore, pois se ela tentasse me atacar e eu corresse, ela não conseguiria subir, para estrangular os meus garotos. E fui me aproximando mais dela, e nas mãos, eu levava um enorme facão, mais uma corda que eu a conduzia amarrada em minha cintura. A onça era tão mansa, mas tão mansa, que nada fez contra mim. Fiquei alisando o seu corpo, repuxando o couro, e a danada se era covarde, naquele dia se tornara um cordeiro. Olhando as suas tetas, desejei secá-las. Mas com medo que ela se revoltasse contra mim, continuei alisando o seu couro, e com a outra mão, fui peando as suas patas traseiras. Ali, eu iniciei secar as suas tetas.

- O senhor estava tirando leite da onça, compadre?

- E eu brinco, compadre Leodoro!? Como eu já havia peado as suas patas traseiras, cheio de certeza que ela era uma verdadeira amiga, pedi que o Artur descesse da árvore, para que eu o arriasse em uma das patas dianteira da onça, para facilitar a esgotada do leite, que com certeza, seria melhor para eu mungi-la.

- O senhor arriou o seu filho na onça, compadre Galdino? - Perguntava seu Leodoro com espanto.

-Arriei-o! Eu notei logo que a onça era uma lesada..., eu achando que era um desperdício, já que o leite era de boa qualidade, chamei o Severino para mamar nela, porque ele sentia fome. A onça nem ligava, e me parece que ela estava achando boa aquela arrumação. Como ela estava tranquila, desarreei o Artur das mãos da onça, e ordenei-o que fosse mamar também. Eles ficaram com os as barrigas enormes, porque a onça tinha muito leite.

- E depois, compadre, a onça não se revoltou com vocês?

- Pois diga! De forma alguma! Eu vendo que ela era uma besta, isto é, muito mansa, peguei a corda, fiz um cabresto, encabrestei-a, e meus filhos e eu fomos para casa montados nela.

- Que bom que um dia, nos tabuleiros, eu me encontrasse com essa mesma onça, compadre Galdino, para a Gertrudes passear montada nela nesse nosso sertão sofrido.

História contada, seu Leodoro resolveu ir embora, pois precisava fazer algumas compras lá em Mossoró.

- Até mais tarde, compadre! - Disse e saiu galopeando vagarosamente em direção à sua casa.

- Até, compadre...!

Seu Leodoro não tinha mais espaço para guardar a tamanha mentira do seu Galdino.

- Vai-te corno! - Dizia seu Galdino. Quem irá sempre montar na Gertrudes sou eu, e não onça nenhuma!

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

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09 janeiro 2018

VELÓRIO DO CORONEL DELMIRO GOUVEIA

Por Voltaseva Volta
Fonte da foto: facebook

Considerado um dos precursores da industrialização do Nordeste, pois, aproveitou a água do rio São Francisco, para gerar a energia (Usina de Angiquinho - Paulo Afonso/BA)...,era natural de Ipú-CE.

Criou a Fábrica de Linhas da Pedra. Posteriormente, com a morte do mesmo, o município passou a se chamar, Pedra de Delmiro-AL.

Foi assassinado por pistoleiros em 10 de outubro de 1917, enquanto lia jornal, em uma cadeira, em sua residência.

Até hoje, se discute, quem foi o mandante e executores do assassinato.

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05 janeiro 2018

SEU GALDINO OFERECE FESTA DE VIRADA DE ANO PARA A SUA VIZINHANÇA

Por José Mendes Pereira

31 de dezembro, virada de ano, a lua nascera cheia no infinito, tudo prontinho como imaginava seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) Filho. Iria promover uma festa de arromba, oferecida aos seus vizinhos. Nunca tinha feito uma festa em sua casa. E agora, a sua casa estava prontinha para receber a vizinhança. Vasculhada, reformada, pintura novinha e bem fresquinha, e ainda com um cheirinho agradável. Terreiro bem varrido para receber os festeiros. Os comes e bebes tinha com farturas.

https://www.youtube.com/watch?v=KMRaq7JY0b8

Quando seu Galdino foi comprar a tinta para pintar as paredes da sua casa pediu opinião a alguns dos seus vizinhos fazendeiros, qual cor deveria ser usada nas paredes para chamar a atenção dos seus convidados. Mas não usou as opiniões de cores dadas por eles; ficara muito chateado com o Bertoldo, que opinava que pintasse a casa com cores da bandeira do Brasil, incentivando seu Galdino ser patriótico.

Mas seu Galdino foi curto e grosso, dizendo-lhe que não queria saber de pátria, porque nunca iria morrer por ela, e que ela é governada por um bando de ladrões, lá no Congresso Nacional. E ainda disse: “- Quem quiser morrer pelo o Brasil que morra! Sei que o Brasil é muito bonito, mas eu nunca vou morrer por ele!”.

Para o jantar de fim de ano havia matado cinco carneiros gordos, dois porcos, dez galinhas caipiras e dois pebas sevados.

Alguns dos seus amigos disseram que, foi a primeira vez que viram pebas sendo mortos para servirem jantar em virada de ano.

A festa não foi feita dentro da casa, porque o espaço, apesar de meio grande, não acomodaria todas as mesas e festeiros ao mesmo tempo. Assim, seu Galdino resolveu fazê-la no terreiro da frente da casa, e estava lastrado de mesas e cadeiras, todas adquiridas com a sua vizinhança.

Neném do Baião de Mossoró. Visitei-o várias vezes quando estava doente. Não faleceu do problema de garganta, e sim infartou no período que se recuperava da cirurgia. - Neném faleceu no dia 9 de setembro de 2011. Eu soube do seu falecimento através do poeta, escritor e pesquisador do cangaço e gonzagueano Kydelmir Dantas -http://www.mossoroemfoco.com/…/mossoro-perdeu-nenem-do-baia…;

Os tocadores eram: o Neném do Baião um dos melhores sanfoneiros da região de Mossoró e cidades adjacentes, e até havia tocado, várias vezes com o rei do baião Luiz Gonzaga, quando de suas apresentações em Mossoró.

Pedro Paquete que tinha fama de bom tocador, iria animar a festa com um triângulo, e o Ricardo da Porteira foi encarregado de ficar a noite toda açoitando o pandeiro, este, sempre gostou de apanhar por onde anda nas festas e encontros de cantores sambistas.

Tanto os filhos de seu Galdino como os de seu Leodoro Gusmão todos estavam lá. Até a Tanilde filha de seu Leodoro, que residia na cidade do Juazeiro do Norte, terra do meu Padim Padim Cícero, e era afilhada do seu Galdino, viera prestigiar a festa do seu padrinho.

Assim que o sol foi embora começou chegar gente de tudo que era de lugar. A Vanusa Pastorinha com o seu esposo, mais uma filha de 15 anos, e uns filhos pequenos, foram os primeiros a colocarem os pés no terreiro, onde iria ser realizada a festa.

Raimundo Galdino da Silva meu tio avô, vaqueiro da Fazenda Mulungu, do Soutinho. - http://mendesepaiva.blogspot.com.br/


Os irmãos Raimundo Galdino e sua esposa Maria Xaxá, vaqueiro da fazenda Mulungu, Manoel Galdino e dona Mocinha sua esposa, vaqueiro da Fazenda Cordão de Sombra, e Antônio Tomaz de Aquino e sua esposa, lá na fazenda Nova, hoje município de Porto do Mangue (todas estas três fazendas de propriedade do senhor Soutinho), chegaram montados nos seus cavalos. E ao descerem das montarias, seu Galdino foi recebê-los, e em seguida, levou os animais para o estábulo. As famílias destes primeiros estavam para chegar em carros. E aos poucos, o terreiro foi sendo ocupado pelos participantes da festa, homens, mulheres e meninos.

Um que não podia deixar de estar presente à festa era o seu grande amigo e compadre Leodoro, que foi chegando com a sua esposa dona Gestrudes, toda emperiquitada, vestido longo, salto alto, unhas feitas, um cabelo que foi bem cuidado pela cabeleireira Silvana, que saiu da cidade de Mossoró para este fim, deixar a dona Gestrudes elegantemente.

Seu Leodoro Gusmão estava além de elegante, usando um terno em cor cinza, com o paletó mais comprido atrás, camisa branca e gravata prata, e no bolso, um lenço branco, e sobre, uma flor de jasmim.

Seu Galdino também usava paletó, este de cor preta e gravata, e me parece que o seu sapado estava lhe apertando, porque, ele andava manquejando um pouco as pernas, como se o par de sapatos estivessem fazendo calos.

Dona Dionísia com vestido longo e de cor branca, cabelo preso e unhas feitas, com um cuidado para não borrá-las, pegava as coisas, usando apenas os dedos fura-bolos e cata-piolhos. O casal estava elegante, mas nem se comparava a elegância de seu Leodoro e da dona Gertrudes.

Os que confirmaram as suas presenças à festa estavam todos, ninguém faltou. Só o vizinho Pedro Tubiba que não quis participar da festa, porque andava de férias de bebidas alcoólicas, preferiu não confirmar a sua presença.

E aos redores das mesas os festeiros esperavam o início do forró, porque a mulherada estava impaciente, esperando o abrir do fole (sanfona), que os três encarregados da animação, aguardavam as ordens do seu Galdino para iniciar.

A festa era para eles comemorarem a virada do ano, e seu Galdino já havia advertido aos animadores que, somente tocassem músicas do rei do baião Luiz Gonzaga e do Trio Mossoró. Não aceitava músicas de outros cantores.

Com alguns minutos depois, seu Galdino ordenou aos músicos que podiam começar tocar.

Sanfona aberta, festa iniciada, com a música do famoso Luiz Gonzaga e Gonzaguinha Pense N’eu.


Seu Galdino foi o primeiro a cair no salão com a sua dama, e logo, algumas reduzidas palmas surgiram no terreiro. No vai e vem da dança, o sapato do pé direito da dona Dionísia enganchou o salto em um buraco no terreiro, e ali, ela ficou tentando tirar-lhe, mas com a foça que fez, o salto ficou enfiado no buraco. Mas ela continuou assim mesmo, dançando. E enquanto dançava sem o salto no sapato, os festeiros riam e gritavam, dizendo: “- Ela parece que está dançando uma valsa!”

E de repente, ela resolveu tirar o par de sapatos, primeiro, um, e jogou para ali, depois, o outro, dizendo: “- Sapatos de saltos altos, só para mulheres da sociedade”. E continuou a dança, descalça mesma.

Seu Galdino está dançando, mas muito preocupado. O Pedro Tubiba chegou à festa. Está de olhos nele. Ele tinha garantido que não iria aparecer na festa, e até emprestara o seu par de sapatos.

A velha Cacilda sogra do seu famoso seu Galdino Borbagato, gritou em tom de admiração, quando viu a filha Dionísia e seu genro dançando:

- Dança, dança, meu noro! Dança, meu noro!

Era assim que ela chamava o seu genro seu Galdino (Noro).

O Pedro Tubiba ficou querendo saber quem estava no terreiro dançando, e de imediato, viu seu Galdino que tentava ser a estrela do pedaço. Como Pedro Tubiba não tinha papa na língua, foi até ao sanfoneiro e disse:

- Para aí, amigo!

O Neném do Baião parou.

Em seguida:

- Por favor, faça um lá.

- Um lá? Perguntou-lhe Neném do Baião.

- Sim, senhor!

E assim que Neném do Baião apontou a nota lá na sanfona, Pedro Tubiba improvisou, dizendo:

- Dança, dança, seu Galdino,
Mesmo sem saber dançar,
Zela bem os meus sapatos,
E amanhã vá me entregar.

Seu Galdino morreu, mas fez que nada lhe ofendia, sorrindo contra vontade, dizendo-lhe:

- Você é engraçado mesmo, Pedro Tubiba!

Neném do Baião continuou o forró, desta vez, tocando a música do Trio Mossoró – Carcará


Raimundo Galdino, Manoel Galdino e Antonio Tomaz de Aquino estão no salão, dançando com as suas esposas, e vez por outra, fazem o revesamento de cavalheiras.

Os comes e bebes já haviam iniciado, e o corre-corre das pessoas para pegarem os seus alimentos fazia gosto se ver. Duas pessoas entregavam os pratos aos festeiros por dentro do alpendre da casa.
Alguns casais caíram na dança, e minutos depois, foi a vez de seu Leodoro e sua amada Gertrudes.

Quando o casal caiu na dança, os aplausos foram assustadores. Seu Leodoro só no bico do sapato, dominando a sua dama. As palmas foram em exageros. Ele rodopiava com a sua esposa no terreiro, que a parte traseira do seu paletó voava ao ar livre.

Seu Leodoro não chegou terminar o curso de dançarino na Academia da Cléa, porque quis ingressar na vida camponesa; adorava gado, ovelhas, cabras, galinhas e outros mais. Mesmo não tendo terminado, era um grande dançador.

Assim que ele terminou de dançar com a sua esposa, dona Gestrudes, ela mesma o ordenou:

- Dança com quem você quiser agora Leodoro!

Fez fila. Todas as moças e mulheres casadas queriam experimentar o bico do sapado do seu Leodoro Gusmão, só no chiado do sapato, apesar que o chão era barro.

Mas no meio daquela gente tinha alguém que não estava gostando. Era o seu Galdino. Com ciúmes, porque todas mulheres estavam admirando o dançar do casal, seu Leodoro e dona Gestrudes.

Seu Galdino dizia consigo mesmo que, as grandes estrelas ali era ele e dona Dionísia que eram os donos da festa, e não, aquele velho safado e mentiroso com sua esposa, querendo ser mais importantes do que eles.

Seu Galdino estava inconformado. O jeito era acabar imediatamente com aquela festa. Não iria admitir que aquele casal tomasse o seu lugar e da Dionísia em sua própria casa.

E sem muita demora, idealizou uma. Foi até a cozinha, procurou o seu fumo caipira, fez um cigarro grosso, acendeu-o, e voltou para o terreiro, baforando aquela fumava fedorenta no meio dos festeiros.

Mas ele não estava lembrado que, a maior parte dos seus convidados era camponês, e aquilo não lhe ofendia de jeito nenhum, quando muitos eram fumantes de fumos bravos.

Andou para aqui e para ali, nas mesas onde as pessoas estavam, e lá, baforava fortemente, e não conseguiu fazer ninguém reclamar ou ir embora. Para os festeiros, muitos já haviam bebidos goles a mais, e não estava nem aí para fumaça de cigarro podre!

Foi quando ele imaginou o que poderia dar certo para acabar com a festa que ele não estava gostando nem um pouco. Foi lá dentro da casa, fechou as portas e as janelas para não dá chances a ninguém entrar nela, saiu fora pelo terreiro da cozinha, caminhou um pouco contrário à casa, e depois, voltou às carreiras em gritos:

- Pelo amor de Deus, pessoal, vem aí chegando duas onças pintadas pra mais de 50 arroubas! Corram! Corram, pessoal! Livrem-se dos dentes daquelas danadas!

Os festeiros não esperaram mais por nada, e o corre, corre, a gritaria fazia dó! Crianças perderam mães, pais perderam filhos, todos por um só objetivo. Livrarem-se o quanto antes das garras e dos dentes daquelas perversas.

O sanfoneiro, Neném do Baião saiu correndo com a sanfona quase as quedas, e como esquecera de travar (abotoar o fole), cada passada que dava, a sanfona fazia fom-fom. Ele ficou tão desorientado, causado pelo medo, achava que o fom-fom era a onça que corria atrás dele.

Minutos depois, nenhum pé de pessoa, mesmo os que já estavam bêbados, tinham fugidos para não passarem pelas mandíbulas daquelas duas perversas.

Logo que desapareceram os festeiros seu Galdino ficou rindo dos bestas que foram embora com medo de onças inexistentes.

- E eu brinco! Estrelas na minha casa só a Dionísia e eu! – Dizia ele em longas gargalhadas.

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03 janeiro 2018

TENENTE ZÉ RUFINO

Por Geraldo Júnior

... o célebre Tenente Zé Rufino (José Osório de Farias) comandante de uma Força Volante e apontado como o maior matador de cangaceiros de toda a história do cangaço. Foi certamente um dos maiores e temíveis inimigos de Lampião.

Zé Rufino foi o militar que matou o maior número de cangaceiros em todo o ciclo do cangaço. Entre os cangaceiros mortos por Zé Rufino está o famoso Corisco o "Diabo Loiro".

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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ZÉ NEGRINHO...

  Por Euridice Barro dos Santos   Zé Negrinho, um dos campeões da luta de peito e em quem Lampião fazia altas apostas. Morava no Povoado Nam...