*Rangel Alves da Costa
Não há nada melhor que amar. O amor romântico, entre dois, é algo verdadeiramente insuperável. O amor é tudo, como acertadamente disse o poeta.
Mas brincar de amar também não é ruim assim. Ora, muita gente brinca. Muito mais do que imagina nossa vão filosofia amorosa. Agora mesmo alguém este brincando de amar.
Agora mesmo alguém está fazendo do outro um brinquedinho, jogando daqui pra lá, fazendo de conta que ama. E o pior é que muita gente se deixa ser jogada de lá pra cá, se deixa usar como peteca ou bola de assopro.
Agora mesmo alguém está achincalhando do outro que diz tanto amar. Jura amor, até se ajoelha se for necessário, mas outra coisa não faz senão zombar, usar, chacotear, torna o outro num objeto de diversão perante todos.
Isso mesmo, pois aquele que é usado e abusado, servindo sempre como brinquedo amoroso, acaba divertindo também toda a comunidade. Muitas vezes, até uma cidade inteira passa a se divertir com o brinquedo amoroso com que um trata o outro.
Neste jogo, aquele que brinca vai fazendo do outro um lúdico cuja serventia outra não é senão o desrespeito, a traição, a falta de honradez e pudor. Aquele que joga, apenas joga, faz do outro verdadeiro brinquedo. Aquele que é jogado e que verdadeiramente ama, acaba sendo zombado sem merecer.
Muito acontece assim. É um jogo de tanto faz para quem faz do outro brinquedo. Diz amar e faz do amor sua diversão. E se diverte traindo o amor confiado. Graceja pelo que faz e o outro que ama nem sempre sabe que está sendo usado, jogado, humilhado.
Mas o que seria, realmente, brincar de amar? Sua compreensão está no próprio contexto do que seja brincadeira. Sua definição partirá deste contexto.
Segundo os dicionários, brincadeira é o ato de brincar. Brincadeira é jogo, é diversão, é passatempo, é recreação. Brincadeira é agir ludicamente, a partir de situações que causem prazer pelo divertimento.
Brincar, pois, é divertir, é entreter, é distrair. Significa ainda dizer que não há seriedade na brincadeira, pois é a diversão que move sua prática. E com relação ao amor, como seria então?
Com relação ao amor, a brincadeira assume a mesma feição conceitual. Considerando que o amor depende da relação entre dois, então um destes toma a iniciativa de, unilateralmente, tornar o outro num meio de divertimento.
Assim, brincar de amar é tornar o amor uma mera diversão, um entretenimento, uma distração. Brincar de amar é fingir que ama e tornar tal fingimento em traição, em troca amorosa, em safadeza.
Brincar de amar é não levar a sério o que a um tem tanto importância, mas que ao outro não vale absolutamente nada. Quem brinca de amar sempre desdenha do outro, tem com este como insignificante e como um objeto qualquer de pouca utilidade às suas verdadeiras pretensões.
Quem brinca de amar e torna o outro em vil brinquedo, sempre chama para si o prazer da desonra, de ter seu nome falado e enlameado, mas ainda assim o faz pelo simples prazer da traição ou da sem-vergonhice.
Fazer o que, então? A verdade é que quem ama nunca descobre facilmente que está sendo usado, zombado, chacoteado. Todo mundo sabe, mas a pessoa não. Mas ao descobrir, então caberá tomar a decisão se deseja continuar sendo jogado ou se não permite para si tamanha vergonha.
Por fim, quem joga ou brinca de amor e até faz disso uma arte da sem-vergonhice, não permanecerá eternamente com o prazer de enganar. Um dia sairá perdedor ou perdedora do jogo e saberá o quanto é doloroso e humilhante servir de brinquedo.
Escritor
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