5 de jan. de 2018

SEU GALDINO OFERECE FESTA DE VIRADA DE ANO PARA A SUA VIZINHANÇA

Por José Mendes Pereira

31 de dezembro, virada de ano, a lua nascera cheia no infinito, tudo prontinho como imaginava seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) Filho. Iria promover uma festa de arromba, oferecida aos seus vizinhos. Nunca tinha feito uma festa em sua casa. E agora, a sua casa estava prontinha para receber a vizinhança. Vasculhada, reformada, pintura novinha e bem fresquinha, e ainda com um cheirinho agradável. Terreiro bem varrido para receber os festeiros. Os comes e bebes tinha com farturas.

https://www.youtube.com/watch?v=KMRaq7JY0b8

Quando seu Galdino foi comprar a tinta para pintar as paredes da sua casa pediu opinião a alguns dos seus vizinhos fazendeiros, qual cor deveria ser usada nas paredes para chamar a atenção dos seus convidados. Mas não usou as opiniões de cores dadas por eles; ficara muito chateado com o Bertoldo, que opinava que pintasse a casa com cores da bandeira do Brasil, incentivando seu Galdino ser patriótico.

Mas seu Galdino foi curto e grosso, dizendo-lhe que não queria saber de pátria, porque nunca iria morrer por ela, e que ela é governada por um bando de ladrões, lá no Congresso Nacional. E ainda disse: “- Quem quiser morrer pelo o Brasil que morra! Sei que o Brasil é muito bonito, mas eu nunca vou morrer por ele!”.

Para o jantar de fim de ano havia matado cinco carneiros gordos, dois porcos, dez galinhas caipiras e dois pebas sevados.

Alguns dos seus amigos disseram que, foi a primeira vez que viram pebas sendo mortos para servirem jantar em virada de ano.

A festa não foi feita dentro da casa, porque o espaço, apesar de meio grande, não acomodaria todas as mesas e festeiros ao mesmo tempo. Assim, seu Galdino resolveu fazê-la no terreiro da frente da casa, e estava lastrado de mesas e cadeiras, todas adquiridas com a sua vizinhança.

Neném do Baião de Mossoró. Visitei-o várias vezes quando estava doente. Não faleceu do problema de garganta, e sim infartou no período que se recuperava da cirurgia. - Neném faleceu no dia 9 de setembro de 2011. Eu soube do seu falecimento através do poeta, escritor e pesquisador do cangaço e gonzagueano Kydelmir Dantas -http://www.mossoroemfoco.com/…/mossoro-perdeu-nenem-do-baia…;

Os tocadores eram: o Neném do Baião um dos melhores sanfoneiros da região de Mossoró e cidades adjacentes, e até havia tocado, várias vezes com o rei do baião Luiz Gonzaga, quando de suas apresentações em Mossoró.

Pedro Paquete que tinha fama de bom tocador, iria animar a festa com um triângulo, e o Ricardo da Porteira foi encarregado de ficar a noite toda açoitando o pandeiro, este, sempre gostou de apanhar por onde anda nas festas e encontros de cantores sambistas.

Tanto os filhos de seu Galdino como os de seu Leodoro Gusmão todos estavam lá. Até a Tanilde filha de seu Leodoro, que residia na cidade do Juazeiro do Norte, terra do meu Padim Padim Cícero, e era afilhada do seu Galdino, viera prestigiar a festa do seu padrinho.

Assim que o sol foi embora começou chegar gente de tudo que era de lugar. A Vanusa Pastorinha com o seu esposo, mais uma filha de 15 anos, e uns filhos pequenos, foram os primeiros a colocarem os pés no terreiro, onde iria ser realizada a festa.

Raimundo Galdino da Silva meu tio avô, vaqueiro da Fazenda Mulungu, do Soutinho. - http://mendesepaiva.blogspot.com.br/


Os irmãos Raimundo Galdino e sua esposa Maria Xaxá, vaqueiro da fazenda Mulungu, Manoel Galdino e dona Mocinha sua esposa, vaqueiro da Fazenda Cordão de Sombra, e Antônio Tomaz de Aquino e sua esposa, lá na fazenda Nova, hoje município de Porto do Mangue (todas estas três fazendas de propriedade do senhor Soutinho), chegaram montados nos seus cavalos. E ao descerem das montarias, seu Galdino foi recebê-los, e em seguida, levou os animais para o estábulo. As famílias destes primeiros estavam para chegar em carros. E aos poucos, o terreiro foi sendo ocupado pelos participantes da festa, homens, mulheres e meninos.

Um que não podia deixar de estar presente à festa era o seu grande amigo e compadre Leodoro, que foi chegando com a sua esposa dona Gestrudes, toda emperiquitada, vestido longo, salto alto, unhas feitas, um cabelo que foi bem cuidado pela cabeleireira Silvana, que saiu da cidade de Mossoró para este fim, deixar a dona Gestrudes elegantemente.

Seu Leodoro Gusmão estava além de elegante, usando um terno em cor cinza, com o paletó mais comprido atrás, camisa branca e gravata prata, e no bolso, um lenço branco, e sobre, uma flor de jasmim.

Seu Galdino também usava paletó, este de cor preta e gravata, e me parece que o seu sapado estava lhe apertando, porque, ele andava manquejando um pouco as pernas, como se o par de sapatos estivessem fazendo calos.

Dona Dionísia com vestido longo e de cor branca, cabelo preso e unhas feitas, com um cuidado para não borrá-las, pegava as coisas, usando apenas os dedos fura-bolos e cata-piolhos. O casal estava elegante, mas nem se comparava a elegância de seu Leodoro e da dona Gertrudes.

Os que confirmaram as suas presenças à festa estavam todos, ninguém faltou. Só o vizinho Pedro Tubiba que não quis participar da festa, porque andava de férias de bebidas alcoólicas, preferiu não confirmar a sua presença.

E aos redores das mesas os festeiros esperavam o início do forró, porque a mulherada estava impaciente, esperando o abrir do fole (sanfona), que os três encarregados da animação, aguardavam as ordens do seu Galdino para iniciar.

A festa era para eles comemorarem a virada do ano, e seu Galdino já havia advertido aos animadores que, somente tocassem músicas do rei do baião Luiz Gonzaga e do Trio Mossoró. Não aceitava músicas de outros cantores.

Com alguns minutos depois, seu Galdino ordenou aos músicos que podiam começar tocar.

Sanfona aberta, festa iniciada, com a música do famoso Luiz Gonzaga e Gonzaguinha Pense N’eu.


Seu Galdino foi o primeiro a cair no salão com a sua dama, e logo, algumas reduzidas palmas surgiram no terreiro. No vai e vem da dança, o sapato do pé direito da dona Dionísia enganchou o salto em um buraco no terreiro, e ali, ela ficou tentando tirar-lhe, mas com a foça que fez, o salto ficou enfiado no buraco. Mas ela continuou assim mesmo, dançando. E enquanto dançava sem o salto no sapato, os festeiros riam e gritavam, dizendo: “- Ela parece que está dançando uma valsa!”

E de repente, ela resolveu tirar o par de sapatos, primeiro, um, e jogou para ali, depois, o outro, dizendo: “- Sapatos de saltos altos, só para mulheres da sociedade”. E continuou a dança, descalça mesma.

Seu Galdino está dançando, mas muito preocupado. O Pedro Tubiba chegou à festa. Está de olhos nele. Ele tinha garantido que não iria aparecer na festa, e até emprestara o seu par de sapatos.

A velha Cacilda sogra do seu famoso seu Galdino Borbagato, gritou em tom de admiração, quando viu a filha Dionísia e seu genro dançando:

- Dança, dança, meu noro! Dança, meu noro!

Era assim que ela chamava o seu genro seu Galdino (Noro).

O Pedro Tubiba ficou querendo saber quem estava no terreiro dançando, e de imediato, viu seu Galdino que tentava ser a estrela do pedaço. Como Pedro Tubiba não tinha papa na língua, foi até ao sanfoneiro e disse:

- Para aí, amigo!

O Neném do Baião parou.

Em seguida:

- Por favor, faça um lá.

- Um lá? Perguntou-lhe Neném do Baião.

- Sim, senhor!

E assim que Neném do Baião apontou a nota lá na sanfona, Pedro Tubiba improvisou, dizendo:

- Dança, dança, seu Galdino,
Mesmo sem saber dançar,
Zela bem os meus sapatos,
E amanhã vá me entregar.

Seu Galdino morreu, mas fez que nada lhe ofendia, sorrindo contra vontade, dizendo-lhe:

- Você é engraçado mesmo, Pedro Tubiba!

Neném do Baião continuou o forró, desta vez, tocando a música do Trio Mossoró – Carcará


Raimundo Galdino, Manoel Galdino e Antonio Tomaz de Aquino estão no salão, dançando com as suas esposas, e vez por outra, fazem o revesamento de cavalheiras.

Os comes e bebes já haviam iniciado, e o corre-corre das pessoas para pegarem os seus alimentos fazia gosto se ver. Duas pessoas entregavam os pratos aos festeiros por dentro do alpendre da casa.
Alguns casais caíram na dança, e minutos depois, foi a vez de seu Leodoro e sua amada Gertrudes.

Quando o casal caiu na dança, os aplausos foram assustadores. Seu Leodoro só no bico do sapato, dominando a sua dama. As palmas foram em exageros. Ele rodopiava com a sua esposa no terreiro, que a parte traseira do seu paletó voava ao ar livre.

Seu Leodoro não chegou terminar o curso de dançarino na Academia da Cléa, porque quis ingressar na vida camponesa; adorava gado, ovelhas, cabras, galinhas e outros mais. Mesmo não tendo terminado, era um grande dançador.

Assim que ele terminou de dançar com a sua esposa, dona Gestrudes, ela mesma o ordenou:

- Dança com quem você quiser agora Leodoro!

Fez fila. Todas as moças e mulheres casadas queriam experimentar o bico do sapado do seu Leodoro Gusmão, só no chiado do sapato, apesar que o chão era barro.

Mas no meio daquela gente tinha alguém que não estava gostando. Era o seu Galdino. Com ciúmes, porque todas mulheres estavam admirando o dançar do casal, seu Leodoro e dona Gestrudes.

Seu Galdino dizia consigo mesmo que, as grandes estrelas ali era ele e dona Dionísia que eram os donos da festa, e não, aquele velho safado e mentiroso com sua esposa, querendo ser mais importantes do que eles.

Seu Galdino estava inconformado. O jeito era acabar imediatamente com aquela festa. Não iria admitir que aquele casal tomasse o seu lugar e da Dionísia em sua própria casa.

E sem muita demora, idealizou uma. Foi até a cozinha, procurou o seu fumo caipira, fez um cigarro grosso, acendeu-o, e voltou para o terreiro, baforando aquela fumava fedorenta no meio dos festeiros.

Mas ele não estava lembrado que, a maior parte dos seus convidados era camponês, e aquilo não lhe ofendia de jeito nenhum, quando muitos eram fumantes de fumos bravos.

Andou para aqui e para ali, nas mesas onde as pessoas estavam, e lá, baforava fortemente, e não conseguiu fazer ninguém reclamar ou ir embora. Para os festeiros, muitos já haviam bebidos goles a mais, e não estava nem aí para fumaça de cigarro podre!

Foi quando ele imaginou o que poderia dar certo para acabar com a festa que ele não estava gostando nem um pouco. Foi lá dentro da casa, fechou as portas e as janelas para não dá chances a ninguém entrar nela, saiu fora pelo terreiro da cozinha, caminhou um pouco contrário à casa, e depois, voltou às carreiras em gritos:

- Pelo amor de Deus, pessoal, vem aí chegando duas onças pintadas pra mais de 50 arroubas! Corram! Corram, pessoal! Livrem-se dos dentes daquelas danadas!

Os festeiros não esperaram mais por nada, e o corre, corre, a gritaria fazia dó! Crianças perderam mães, pais perderam filhos, todos por um só objetivo. Livrarem-se o quanto antes das garras e dos dentes daquelas perversas.

O sanfoneiro, Neném do Baião saiu correndo com a sanfona quase as quedas, e como esquecera de travar (abotoar o fole), cada passada que dava, a sanfona fazia fom-fom. Ele ficou tão desorientado, causado pelo medo, achava que o fom-fom era a onça que corria atrás dele.

Minutos depois, nenhum pé de pessoa, mesmo os que já estavam bêbados, tinham fugidos para não passarem pelas mandíbulas daquelas duas perversas.

Logo que desapareceram os festeiros seu Galdino ficou rindo dos bestas que foram embora com medo de onças inexistentes.

- E eu brinco! Estrelas na minha casa só a Dionísia e eu! – Dizia ele em longas gargalhadas.

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