Por Tito Antonio Ferraz Jota
Serra Talhada - PE
24 de novembro de 2011
SOBRE O JOSUÉ DE CASTRO.
Cientista e professor universitário no Brasil e no exterior, formado em medicina em 1929. Josué de Castro foi o mentor de uma série de políticas e órgãos de Estado, objetivando à melhoria da tão precária condição de vida da população.
Ocupou o cargo de Embaixador do Brasil em Genebra, ele presídio o conselho da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas(FAO), foi professor da Universidade de Paris, cidade onde morreu em 1973.
Entre os seus principais livros estão: Geografia da Fome e Geopolítica da Fome. Publicados em mais de 25 idiomas. Cassado pelo Governo Militar em 1964, Josué de Castro por duas vezes recebeu indicação para o Prêmio Nobel da Paz.
Pioneiro dentro de sua disciplina, a Geografia Humana. Josué de Castro foi também alguém que inovou na análise de fenômenos sociais então pouco ou nada estudados.
Recifense, moldado na lama dos mangues pernambucanos, Josué de Castro relata em sua obra Geografia da Fome, entre outras coisas a escassez de obras sobre a fome e a importância do tema, com a consciência de quem sabia que a fome causa estragos maiores que as guerras e epidemias na sociedade, uma vez que, ela é causa de epidemias e de guerras.
INTRODUÇÃO
A fome, é tratada por Josué de Castro na obra em estudo, em sua real dimensão, como fenômeno social e não com a visão superficial da guerra, da índia, da África etc. Ele mostra que ela ocorre em todos os continentes e é denunciada ou relatada pela ocorrência de doenças causadas unicamente pela falta de alimentos adequados a exemplo do velho sul agrário no poderoso Estados Unidos da América, onde cerca de 120 milhões de habitantes são atingidos pela carência alimentar, que os inferiorizam e os predispõem a várias doenças.
Josué de Castro mostra que a fome e o sexo, são tratados como instintos primários pela cultura racionalista ocidental transformando-se em tabus e por isso difícil de serem tocados, porém são forças tão intensas, invencíveis, que atingem a consciência e a domina inteiramente.
Ele mostra os interesses do imperialismo econômico que trata a produção de alimentos como um fenômeno exclusivamente econômico e que apesar de milhões de mortes por fome, em 1877, o porto de Calcutá continuava exportando alimentos, pois os famintos eram demasiadamente pobres para comprar alimentos.
Josué de Castro relata que na época em estudo, era comum as nações esconder o problema da fome, apesar de que hoje, (meados de 1950), dois terço da humanidade vive em estado permanente de fome e isso começa a mudar a atitude do mundo, uma vez que, as populações tomam consciência de que no Planeta Terra, é possível produzir alimentos para cerca de 11 bilhões de habitantes, ou seja, o dobro da população atual.
Hot Springs, em 1943, 44 nações consultando técnicos no assunto admitiram as condições reais da fome de seus povos e tomaram medidas em conjunto, porém o maior obstáculo para planejar ações contra a fome é o pouco conhecimento que se tem do problema em conjunto, como manifestação biológica, econômica e social, uma vez que a maior parte dos estudos científicos dão uma visão unilateral do problema, são trabalhos de física, química ou de economia que não proporciona uma visão aprofundada e real da situação.
Segundo Josué de Castro, as populações se organizam , formam grupos para satisfazer suas necessidades fundamentais em alimentos, essa talvez seja o principal fator que liga o homem a determinado meio.
Hoje, já se vêem tentativas em todas as partes, embora sem alcançar muito sucesso, de sacrificar o econômico em benefício dos interesses sociais, ou seja, de colocar o dinheiro a serviço do homem e não o homem escravo do dinheiro.
No Brasil, a alimentação revela-se de qualidades nutritivas bem precárias,, apresentando nas diferentes regiões do país padrões dietéticos incompletos e desarmônicos, sendo este fato mais grave em umas regiões, (Fome Crônicas) e menos grave em outras, porém, o fenômeno é revelado pela subnutrição, mas ambas prejudicam o desenvolvimento social e econômico do povo, sendo isso, mais produto de fatores socioculturais do que de natureza geográfica.
O Brasil abrange cinco diferentes áreas alimentares, cada uma delas com sua dieta habitual, apoiada em determinados produtos regionais, são elas:
01 – Área Amazônica
02 – Área do Nordeste Açucareiro
03 – Área do Sertão Nordestino
04 e 05 – As Áreas de Subnutrição: Centro e Sul
E o Estudo do Conjunto brasileiro.
Dessas cinco áreas nem todas as regiões são áreas de fome dentro do conceito do trabalho de Josué de Castro, ele considera área de fome, aquelas que pelo menos metade da população apresenta manifestações carenciais no seu estado de nutrição, seja estas manifestações permanentes, (áreas de fomes endêmicas), ou transitórias, (áreas de epidemia de fome).
Das cinco áreas do mosaico alimentar brasileiro, Josué de Castro, em seu inquérito, aponta que três são nitidamente áreas de fome: a área Amazônica, a da Mata e Sertão Nordestino, sendo as outras duas, áreas de desnutrição.
Deste ponto em diante, tentarei expor com palavras de Josué de Castro e o meu entendimento sobre seus estudos relatados no livro Geografia da Fome, a cerca das cinco áreas acima mencionadas.
01 - ÁREA AMAZÔNICA
Alimento básico: A Farinha.
Devido a baixa densidade demográfica, o acesso a tecnologia é dificultado nessa região, limitando a opção de alimentação da população à caça, pesca, frutos, sementes e raízes. Apenas em zonas limitadas existem cultivos utilizando alguma tecnologia de produção, as demais, utilizam processos rudimentares, onde são cultivados produtos como o arroz, mandioca, milho e feijão em pequenas áreas.
A floresta oferece a caça e o extrativismo, a águas, oferece a pesca, porém o excesso de umidade impede a exploração de bovinos, galinha etc; deixando a carne, os ovos e o leite fora da alimentação da população.
As cheias provocam diminuição na ofe rta de alimentos tanto quanto as secas no Nordeste.
Os solos da Amazônia, sem a cobertura da floresta e sobre a ação dos intemperismos regional, empobrecem de maneira alarmante e a agricultura da forma rudimentar que é praticada, apesar da adubação das enchentes esgota o solo rapidamente, sendo isto uma das razões que os indígenas praticam a agricultura seminômade.
A riqueza natural de frutas, é mais lenda que realidade. O excesso d’água torna as frutas pouco saborosas e a falta de penetração de luz solar na mata diminui o seu valor nutritivo em comparação com as de outras regiões, com exceção do Açaí, buriti e outras oleoginosas ricas em vitamina A, a exemplo da Castanha do Pará que apresenta 68% de gordura e 17% de proteína. Apenas recentemente através do Instituto Agronômico do Norte, foi introduzido na Ilha de Marajó o búfalo africano, animal rústico e de relativa possibilidade de adaptação econômica nesse meio hostil. A raça selecionada, é de alta produção tanto de carne quanto de leite, mesmo assim, o búfalo esta sendo explorado sem qualquer assistência zootécnica, e as adaptações a que o meio os obriga nem sempre são favoráveis aos interesses econômicos e aos fins sociais.
A insuficiência alimentar quantitativa e calórica, explica a apregoada preguiça dos povos equatoriais. Ela é meio de defesa que a espécie tem para sobreviver e provoca a baixa estatura da população, o homem, em regiões como a Amazônia chega a transpirar de 8 a 10 litros por dia, o que provoca deficiência em sal acarretando a fadiga.
A análise biológica e química da dieta amazônica revela um regime alimentar com inúmeras deficiências nutritivas, devido a ausência de alguns alimentos protetores como a carne, o leite, o queijo, a manteiga, os ovos, as verduras e as frutas, no entanto, o homem da Amazônia parece satisfeito e consegue com um pouco de farinha e de café e com um gole de cachaça matar a gosto sua fome.
Podemos compreender, segundo os relatos de Josué de Castro que o desenvolvimento humano vem sendo comprometido com as deficiências nutricionais na Amazônia, comprovado pela incidência de doenças carenciais, como o beribéri, anemias, uma vez que a alimentação é deficiente em Cloreto de Sódio, cálcio e outros sais,Ácido Ascórbico, Vitamina D etc. O primeiro fator dessas deficiências minerais, de efeitos bem grave para a população amazônica, segundo Josué de Castro é a pobreza dos solos regionais nesses elementos,
A temperatura elevada estimula a ação de microorganismos do solo decompondo com extrema velocidade amatéria orgânica e o humo ali existente. Finalmente a grande quantidade de chuvas conclui o processo levando através da água e do processo chamado de lixiviação, grande parte da riqueza mineral do solo para as camadas mais profundas, ficando fora do alcance das plantas dos animais e consequentemente do homem.
A deficiência em Cloreto de Sódio na alimentação do povo da Amazônia vem da associação de fatores culturais e naturais que atuam através dos hábitos e tradições indígenas de uma alimentação com pouco ou nenhum sal. O tempero que o índio sempre admirou foi a pimenta.
É perdendo menos sódio que a população nativa se fadiga menos que as que vem de outras áreas, mesmo com a realização dos mesmos esforços, devido simples processos técnicos de aclimatação e de diferentes hábitos de vida destes grupos. Os negros e índios perdem menor quantidade de sal pela sudação por conservarem sua pele nua, não recoberta pelo vestuário. Talberg mostrou que o suor produzido pela ação do trabalho muscular é muito mais rico em sódio do que o suor resultante da ação exclusiva do calor ambiente e mostrou também que o suor secretado pela pele vestida é quase duas vezes mais rica em sal do que o da pele nua.
Josué de Castro afirma que o homem tem se aventurado em uma ocupação individual da Amazônia quando essa ocupação deveria ser feita através de núcleos mais densamente povoados, para assim permitir uma ação mais eficiente, adquirindo tecnologias mais apropriadas a realizando explorações de acordo com as condições ambientais da região.
Os estudos de Josué de Castro mostra que a fome na Amazônia decorre principalmente da pobreza natural da floresta equatorial em alimentos, da pobreza em vitaminas de grande parte dos alimentos utilizados,como também da baixa densidade demográfica, dificultando o acesso a tecnologias apropriadas para o desenvolvimento de uma agricultura racional e produtiva.
02 - O NORDESTE AÇUCAREIRO
No Nordeste Açucareiro, segundo o Josué de Castro, o fenômeno da fome é chocante porque não se pode explicá-lo à base de razões naturais. Pois as condições tanto de solo quanto de clima regional sempre foram as mais propícias ao cultivo certo e rendoso de uma infinidade de produtos alimentares. A própria floresta nativa tinha grande variedade de árvores frutíferas e a grande maioria das fruteiras trazidas de fora se adaptaram muito bem as condições da região. Ex: Fruta pão, Manga, Jaca, porém, a exploração iniciada de maneira cega, sem nenhuma premeditação e imediatista, de nada contribuiu para proporcionar uma correta dieta alimentar para a população.
As transformações que a cana de açúcar realizou no Nordeste, começaram com a destruição da floresta, uma vez que o processo de produção e fabricação exigia cada vez mais área, já que a produtividade não era muito alta.
A partir de 1870, estabeleceu-se os “Engenhos Centrais “ precursores da grandes usinas, o latifúndio progrediu assustadoramente acentuando a miséria alimentar nesta região.
Os engenhos centrais apesar de serem montados com todos os aperfeiçoamentos da época não tiveram grande sucesso, devido não conseguir manter a regularidade de produção tanto na quantidade quanto na qualidade.
A lavoura da cana de açúcar devastou quase toda a floresta restando hoje muito pouco ou cerca de 10% da mesma, favorecendo a degradação do solo.
Especialistas afirmam que o mais serio problema a ser enfrentado pelas gerações futuras é a pobreza qualitativa dos alimentos causada pela pobreza mineral do solo.
O desflorestamento pode ainda influenciar nos regimes de chuvas como também certamente influenciará decisivamente na formação de reservas subterrâneas de água, além de destruir também a fauna que está intimamente ligada a vida das florestas, porém, além de todos estes fatores negativos, a cana de açúcar também impediu a introdução de recursos outros de subsistência que facilmente se adaptaria a essas terras e seriam fontes de grande valor para a alimentação da população.
Escritos da época mostram que enquanto durou o ciclo do pau-brasil desenvolvia-se culturas de sustentação e subsistência que aos poucos foram desaparecendo a medida que predominava o latifúndio e a monocultura da cana de açúcar.
A cana de açúcar, também influenciou na destruição dos costumes e forma de vida de nossos índios, quetantas contribuições deram a nossa culinária, a nossa cultura etc, naquela época, quando se queria desvalorizar essas influências até mesmo para obtenção de recursos alimentares, os acusavam de preguiçosos, de rebeldes ao trabalho agrícola, mas não esclarecem que o trabalho que os feitores exigiam deles era o de agricultura comercial que ia de encontro a seus costumes e forma de vida, não despertando nenhum interesse a sua comunidade.
O primeiro estudo sobre as condições de alimentação no Brasil foi realizado em Recife em 1932 com quinhentas famílias totalizando 2585 pessoas, constatando as deficiências em termos de variedade uma vez que a alimentação era baseada em farinha, feijão, charque, café, açúcar e em quantidade insuficiente. Só 19% das famílias recenseadas consumiam leite e apenas 16% frutas.
Seis anos depois outro inquérito foi realizado e foi encontrado o mesmo resultado.
Até mesmo nas Senzalas, segundo estudos realizados, percebia-se que aqueles negros que se alimentavam em maior quantidade, mesmo com alimentos de baixa qualidade, tinham mais disposição para o trabalho,comprovando que a preguiça atribuída aos povos de várias regiões vinha da alimentação de má qualidade e em pouca quantidade, provocando fadiga, lentidão e não um mal de raça; é a falta de combustível suficiente e adequado a sua máquina o que provoca também a baixa estatura.
Muitos tabus criados, como não comer manga com leite entre outros, foram apregoados ao povo para que não usufruísse dos pomares normalmente destinados aos senhores e permanecem até hoje, colaborando com deficiência nutricional do nordestino.
É de C. Seaben Veloso, estudioso de nossos problemas alimentares, a seguinte observação: um povo que vive em déficit permanente de carnes, peixes, leite, ovos, cereais, frutas e verduras, é um povo fraco, um povo doente, dono de uma prole fraca incapaz e fadada a desaparecer entre a primeira e a segunda infância. O rendimento do seu trabalho é baixo e a desnutrição o tornam expostos a terríveis moléstias como a tuberculose, verminoses, a infecções e por aí a fora. A duração de sua vida é sempre curta extinguindo-se entre os 40 e 60 anos; e a sua utilidade para a pátria quase nula, quando não negativa, uma vez que o cidadão, nas circunstâncias acima, torna-se um ônus, um peso morto susceptível de obstruir e dificultar o curso normal do progresso.
Essa verdade é indicada através do estudo do índice de mortalidade infantil, que é o sinal mais sensível do nível de bem estar social e essa mortalidade alcança cifras impressionantes no Nordeste Açucareiro, índices que só encontramos paralelo em certas áreas de extrema miséria da Bolívia e do México.
De 1890 a 1950 o crescimento demográfico do Nordeste foi inferior ao da Região Norte, do Centro Sul e do Sul do país, apesar de seus altos índices de natalidade, uma vez que nascia muita gente, porém morriam muito cedo, quase sempre de fome.
03 - ÁREA DO SERTÃO NORDESTINO
Estudando a Amazônia e o Nordeste Açucareiro, duas áreas, que apresenta fome endêmicas, passamos a estudar a área do Sertão Nordestino, onde encontramos um novo tipo de fome que não atua de maneira permanente, condicionada pelos hábitos cotidianos, mas apresentando-se episodicamente em surtos epidêmicos, surtos que surgem com as secas, intercaladas ciclicamente com os períodos de relativa abundancia que caracteriza a vida sertaneja nas épocas de normalidade.
As epidemias de fome dessa região, não se limitam aos aspectos discretos e toleráveis das fomes parciais, das carências específicas encontradas nas outras áreas de fome até agora estudadas. São epidemias de fome global, quantitativa e qualitativa, alcançando com incrível violência os limites extremos da desnutrição e da inanição aguda e atingindo indistintamente ricos e pobres, fazendeiros abastados e trabalhadores, homens mulheres e crianças, todos açoitados pelo flagelo das secas.
Nessa região o regime alimentar tem como alimento básico o milho associado a outros produtos regionais, permitindo que fora dos períodos de seca, viva esta gente em perfeito equilíbrio alimentar, num estado de nutrição bastante satisfatório, acumulando energia e vigor para sobreviver ao flagelo, evitando o despovoamento da região.
Verifica-se que no mundo inteiro as áreas de milho são áreas de miséria alimentar, a exceção é o Sertão Nordestino, devido certas condições naturais, o gênero de vida local, e seus hábitos tradicionais, que criaram na zona um complexo alimentar em que as deficiências protéicas e vitamínicas do milho são compensadas por outros componentes habituais da dieta.
Dieta que é talvez a mais racional e equilibrada do país, incluindo as zonas isentas de fome.
Ao contrario das outras regiões, se o sertão não tivesse exposto a fatalidade climática das secas, talvez não figurasse entre as áreas de fome do Continente Americano.
A característica fundamental do Sertão Nordestino é o seu clima semi-árido, chuvas escassas e irregulares, temperaturas elevadas ocasionando a baixa umidade relativa do ar, que é das mais baixas do país, o que torna o clima saudável, isento de inúmeras doenças tropicais condicionadas pelo excesso de umidade do solo e do ar. Porém, desta irregularidade das chuvas, resulta desde o empobrecimento progressivo do solo pela erosão até as crises calamitosas de fome na região.
Em certos pontos, principalmente nas depressões e nos baixios, surgem manchas de solos férteis, argilosos, avermelhados ou de barro escuro, formando os tabuleiros aluviais e as várzeas de tabuleiros, apresentando composição e qualidades físico-químicas bem diferentes, tornando-os umíferos e férteis, sendo porém pequenas manchas limitadas.
Segundo Geógrafos da época (por volta de 1950), as condições de solo, clima e vegetação, permitem a divisão do Sertão em três subáreas climático botânicas: O Agreste, A caatinga, e o Alto Sertão, segundo Josué de Castro, são formas atenuadas da caatinga, embora nas características de seu revestimento vivo e mesmo em certos aspectos de sua geografia econômica, cada uma destas subáreas apresenta traços que lhe dão individualidade..
A exemplo do Nordeste Açucareiro criou-se também nesta área, tabus em torno do consumo de alimentos a cerca de horários de consumo e misturas com outros alimentos. Verduras, quase sempre é restrita ao maxixe e as cebolinhas usadas como tempero caracterizando uma alimentação abundante em certos alimentos protetores como o leite e a carne, bem assim a sua pobreza evidente em outros como as frutas e verduras.
A realidade sertaneja já desconcerta de certo modo o ponto de vista de que a pouca abundância de frutas e a quase ausência de verduras na alimentação do sertanejo leva a concluir que estamos numa área de grande carência mineral, porém, o sertanejo quase sem comer frutas nem verduras, consegue escapar por outros meios aos malefícios das avitaminoses e das carências minerais patentes. O matuto não apresenta carências cálcicas por consumir quantidades liberais de leite e de queijo, também as águas sertanejas são em geral, de alto grau de dureza, águas calcarias que ajudam no abastecimento de cálcio, escape as anemias ferro privas, que assolam os brasileiros, como também, comendo carne fresca, milho e principalmente rapadura que é muito superior ao açúcar por seu conteúdo um tanto rico em ferro como em outros princípios minerais.
Apesar de sofrer grande espoliação em cloreto de sódio, pela sudação abundante que o clima condiciona, o sertanejo equilibra o seu metabolismo dentre outros minerais com sua alimentação rica em sal, o qual constitui o tempero por excelência da população da região.
Compreendemos com o estudo da fome na Área do Sertão Nordestino, que a luta contra a fome no Nordeste, não deve ser compreendida simplesmente como uma luta contra as secas ou contra aos efeitos da mesma e sim contra o subdesenvolvimento regional, provocado em quase sua totalidade pela arcaica estrutura agrária e pelas eternas medidas paliativas que ainda hoje ocorrem, pelo desemprego e também pelos baixos índices de produtividade das atividades desenvolvidas que tão mal remunera o trabalho de quem a elas se dedicam.
Josué de Castro afirma não concordar com alguns dos princípios da SUDENE, criada com o propósito de fomentar o desenvolvimento do Nordeste, quando estes afirmam ser a pobreza da região e o subdesenvolvimento produto de sua base física, porém concordou com sua criação devido a urgência de encarar os problemas da região de frente e da necessidade de planejamento para vence-los.
04 E 05 - ÁREA DE SUBNUTRIÇÃO: CENTRO E SUL
O Centro e o Sul do Brasil, possuem deficiências alimentares mais discretas e menos generalizadas, são áreas de subnutrição, de desequilíbrio e carências parciais.
Região de clima subtropical com chuvas abundantes e regulares e de temperaturas abrandadas pelas altitudes, solos razoavelmente férteis e altamente propício ao cultivo do milho que é associado ao porco, a criação do gado bovino, ao plantio do arroz etc.
A região também tem como alimento básico o milho, porém diferenciando-se do Sertão Nordestino pela associação com que se combina e por ser uma área altamente propicia ao seu cultivo concentrando 25% da produção nacional, sendo associado principalmente a suinocultura, agregando valor ao produto e a seu regime alimentar e aliado a outros produtos a exemplo do bovino, feijão, café, arroz, cana de açúcar etc. O milho na região é associado como alimento principalmente ao feijão, ao toucinho e a gorduras, porém essa associação torna a dieta menos nutritiva que no Nordeste onde entra o leite, essa diferença, é compensada pelo consumo de vegetais como hortaliças e frutas que são mais consumidas que nas outras áreas alimentares.
Análises químicas mostram que não há déficits calóricos no regime alimentar regional, ocorrendo até certo excesso, uma vez que se observa casos de obesidade entre a população, como também do diabetes.
Observa-se, no entanto no Centro e no Sul, a carência de iodo devido à pobreza desse metaloide nos solos, nas águas e nos vegetais aí produzidos, levando a ocorrência de formas clínicas bociosas. A conseqüência de tais endemias carenciais são graves, as alterações orgânicas se manifestam pela deficiência de crescimento, deformações locais e gerais, alteração de todo o metabolismo e sobre o psiquismo.
Apesar da aparente normalidade no regime alimentar do Centro Sul, os pediatras constataram na época em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, uma incidência extremamente alta dos edemas de fome, das distrofias malignas e mesmo das síndromes típicas que exteriorizam a carência de proteínas, ou melhor, decertos aminoácidos integrantes da molécula protéica e verificaram que o regime alimentar nessas cidades é deficiente em cálcio, ferro, vitamina A, e dos grupos B e C, resultado principalmente obtido no Rio de Janeiro devido o baixo consumo de leite, de verduras, de legumes verdes, de cereais integrais e de frutas, entre os alimentos das classes proletária. São Paulo também apresenta carências parciais desses elementos embora um pouco mais discretas.
Na verdade, tanto as condições de solo e clima, como a influencia favorável das recentes levas de imigrantes na época, tem trabalhado no sentido de diversificar os recursos alimentares da região e de utiliza-los de maneira mais racional.
ESTUDO DA REALIDADE BRASILEIRA
Através do estudo realizado nas diversas regiões do país, verificamos a veracidade sobre as reais condições da alimentação do país na época em que os inquéritos foram realizados, caracterizando o Brasil como um país de fome no mundo, fome esta, conseqüência de um passado histórico sempre em luta e quase em desarmonia com os quadros naturais, motivado pela agressividade do meio e mais ainda pelo desconhecimento dele e pela inabilidade de nossos colonizadores, que buscavam a vantagem e o lucro a qualquer custo.
Com a ausência de uma civilização rural bem enraizada e o abandono do campo por falta de planejamento e de uma exploração racional do solo contribuindo decisivamente para acentuar a nossa deficiência alimentar, além do descaso a que foi submetido as regiões mais pobres foram desenvolvendo no Brasil a filosofia de desenvolver mais o já desenvolvido e não integrar no sistema econômico nacional as áreas marginais como o Nordeste e a Amazônia.
Josué de Castro mostra em sua obra, que se faz necessário que as áreas mais ricas, de maior poder tanto econômico como político, tenha mais respeito pelas regiões mais pobres e procurem cooperar para a sua emancipação em beneficio da nacionalidade, criando circunstâncias econômicas que venha ao encontro de suas potencialidades, pois a economia de dependência quase total do Nordeste e da Amazônia ao sistema econômico de outras áreas do país é o que mantém inalterada as manchas da fome nessas áreas.
O consumo de alimentos protetores como a carne, o leite, o queijo, a manteiga, as frutas e as verduras (consumo per capita), é muito abaixo do ideal e comparados com o consumo em outros países como Nova Zelândia, Estados Unidos, Dinamarca, chega a ser ridículo, retratando a realidade social vigente do período em estudo.
De 1948 a 1958, segundo consta na obra em estudo, enquanto o produto nacional bruto percepta cresceu 29%, a produção agropecuária apenas cresceu em 15%, ou seja, apenas da para cobrir o aumento natural da população, e devemos considerar que em anos como 1958, este aumento refletia mais o incremento da produção dos produtos de exportação, principalmente o café, do que dos produtos de subsistência para consumo nacional, fato este, que pesa terrivelmente na situação alimentar de nosso povo, uma vez que a escassez de alimentos provoca alta na inflação como a ocorrida entre 1956 e 1959, deixando os alimentos protetores a exemplo do leite, fora do alcance da maioria da população.
CONCLUSÃO
Observações após o estudo realizado na obra “GEOGRAFIA DA FOMO” DE Josué de Castro sobre os fatores que provocam a fome e o subdesenvolvimento do Brasil na época pesquisada, concluímos que a fome apresentando-se de forma endêmica como no Nordeste Açucareiro e na Amazônia, ou epidêmica como no Sertão Nordestino ou ainda áreas de subnutrição a exemplo do Centro Sul, possui raízes em fatores históricos da Colonização do Brasil e na arcaica e injusta estrutura agrária, como também, no modelo de desenvolvimento adotado na época que exigia muitos esforços da população uma vez que o setor primário foi aos poucos sendo abandonado e os recursos públicos que a ele deveria ser destinado, drenado para o processo de industrialização, promovendo o atraso tecnológico da agropecuária e as baixas produtividades percebidas na comparação entre regiões brasileiras e principalmente com outros países, causando o desnível econômico entre os índices de produção, de consumo e de renda entre as diferentes camadas sociais e as diferentes regiões que compõem o espaço geográfico brasileiro, condenando-os a conviver com a fome e a desnutrição, com a concentração de terras e de renda, características estas que revela o nosso subdesenvolvimento.
Desta forma, fica a nós, que formamos a população do presente, conhecendo os fatores físicos culturais e históricos que foram a causa da formação do estado de miséria e fome que foi herdado por milhões de brasileiros que ainda hoje sofrem desse mal, a responsabilidade de mudar com nosso trabalho e nossas ações quanto cidadão a forma com que é tratada a questão por nossos governantes e que sejamos fiscais do nosso próprio dinheiro, para que nossos impostos sejam aplicados com planejamento e objetivos bem traçados com vistas a resolver o crescente processo de tensão social e a escalada de violência que ocorre em nosso país, influenciada pelo inchaço das grandes cidades e pela falta de perspectiva de grande parte da população em reação ao sagrado direito a alimentação e demais condições básicas de sobrevivência.
Autor: Tito Antonio Ferraz Jota
Bibliografia: Livro Geografia da Fome de Josué de Castro.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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