*Rangel Alves da Costa
As notícias chegam a todo instante, em profusão, num vendaval de informações. Pela televisão, jornais, redes sociais, nos diálogos cotidianos. Aconteceu lá na Cochinchina, nos confins do mundo, mas no instante depois e já é do conhecimento de Zequilau das Verduras, lá debaixo do pé da serra.
Aliás, foi Zequilau das Verduras quem defendeu uma tese bastante original num dia de feira, em conversê com outros feirantes e vendeirins. Segundo Zequilau, ninguém sabe é de nada mesmo, ao menos se depender somente das informações que chegam a todo instante. O grosso da coisa – no seu dizer - nem é noticiado. O mundo viraria de cabeça pra baixo se a verdade passasse a ser do conhecimento de todos.
E disse mais: A notícia sobre o bueiro só fala sobre a tampa do esgoto, mas nunca da fedentina que escorre por baixo. A notícia sobre o político que rouba só mostra o crime cometido, mas não o mapa com nomes e sobrenomes de todos aqueles que permitiram que a ilicitude acontecesse. A notícia sobre a palavra do governante só mostra o que foi dito, mas não o que já foi dito e nunca foi feito. A notícia vendida e mostrada como boa, nunca mostra que a mesma notícia foi dada no passado e não surtiu nenhum efeito.
Zequilau das Verduras tem razão, plena razão. Se um fato possui várias versões ou várias realidades o envolvendo, por que a notícia dada corresponde exatamente aos interesses de quem noticia? Se uma notícia clama por isenção, com fiel apuração dos fatos e sem interesses que a desnorteie, então por que o noticiado nunca corresponde à verdade se tal verdade vai contra os desejos de um protegido? Se um fato ainda não foi devidamente comprovado, por que se antecipa a acusação?
Zequilau tem razão, e disso eu não duvido. Jornal impresso existe que só diz um lado da verdade. Jornal impresso existe que repassa uma versão como realidade e vai repetindo na tentativa de que a suposição se torne verdade. Noticiário televisivo existe que passa na peneira a informação e só noticia o que permitiu que caísse na peneira. Noticiário televisivo existe que vai cortando logo pela raiz: isso não, isso sim, esse não, esse sim, isso de jeito nenhum, isso sempre. Notícia radiofônica existe que mais parece ser voltada para um determinado tipo de ouvinte. Notícia de rádio existe que transmite a voz do “dono” da emissora e não a voz da realidade dos fatos.
Mas Zequilau ficaria ainda mais espantado se soubesse que nunca houve isenção, seriedade nem inocência no jornalismo. O cabra das verduras ficaria abismado se imaginasse que no mundo da informação há severas ordens a ser cumpridas, tanto para alavancar uma candidatura como para afundar outra, tanto para mentir como se verdade fosse como para forjar fatos ao invés de repassar o que não pode ser duvidado. Ficaria estarrecido se soubesse que jornalismo também se vende, se compra, se negocia. Ficaria boquiaberto se soubesse que em todo noticiário há uma intenção de vida e de morte, sempre sucumbindo um e erigindo outro.
Zequilau certamente nunca vai mirar os seus olhos num editorial de jornal dizendo “Eu menti!”, “Eu me vendi!”, “Eu fiz jogo sujo”. Igualmente nunca vai ler uma confissão afirmando que o jornalismo ali praticado é de pura ideologia partidária e não de compromisso exclusivo com a verdade. Nunca vai saber, através do próprio jornal ou noticiário, que alguns milhões foram ali investidos em nome de um partido, de um candidato ou de uma “ideia”. Nem nunca vai ler que o jornalismo é um leilão de quem dá mais ou que a defesa dos interesses dos jornais, rádios e televisões, sempre se mostram mais importantes que a isenção e a imparcialidade.
Daí que a notícia nem sempre destrincha a realidade dos fatos, Coada, peneirada, escolhida, passa a representar apenas os interesses ou as conveniências de alguns. Basta saber que jornais, rádios e televisões, sobrevivem de recursos, de dinheiro, de investimentos. E quem estiver disposto a pagar o preço cobrado logo passará à lista dos escolhidos, dos bonzinhos, dos inatacáveis. Se um governante investe milhões em propaganda, logicamente que será blindado contra ataques ou notícias que não sejam do seu agrado. Se um partido político paga para que outra sigla ou candidato seja atacado, e este não dobra a aposta, então o jogo sujo está feito.
Tais realidades demonstram o quanto as notícias são manipuladas até chegarem aos ouvintes, telespectadores ou leitores. Nenhuma notícia nasce santa e é repassada com santidade. Por isso mesmo muito acontece de ninguém ter real conhecimento do ocorrido. Um ataca na mentira, outro defende na mentira, e a realidade vai sendo passada ao plano da desimportância. Parece absurdo, mas as informações são quase sempre mentirosas, reinventadas ou desnorteadas. Acham que o povo não merece ser seriamente informado, mas sempre e somente manipulado.
Escritor
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