Por José Tavares
Fazendeiros do município de Brejo do Cruz, Antonino da Silva Saldanha e seu primo Joaquim (Quinca) da Silva Saldanha, inimigos políticos e pessoais, travavam o mais renhido conflito armado do alto sertão paraibano. Após ter sua Fazenda Palha reduzida a cinzas em consequência de um ataque do inimigo, Antonino decide ir residir no vizinho município de Catolé do Rocha, na Fazenda Santana, distante do seu contendor e próxima as propriedades dos seus amigos e correligionários da família Suassuna. Pouco tempo depois, Antonino junto aos seus asseclas invadem e incendeiam as Fazendas Nova Aldeia, Bom Sucesso e Nova Esperança, propriedades de Quinca Saldanha
Em 27 de maio de 1911, foi a vez de Quinca Saldanha ir à forra, no histórico episódio que ficou mais conhecido como “O Fogo de Santana” ( https://www.liberdadepb.com.br/no-tempo-do-cangaco-quinca-saldanha-x-antonino-saldanha-e-o-fogo-de-santana/). Na manhã daquele fatídico dia, Quinca Saldanha, à frente de um grupo jagunços, invadiu a Fazenda Santana, cercou a casa sede, abrindo intenso fogo, no que respondido pelos ocupantes da casa, que além do próprio Antonino, contava com seis homens de sua extrema confiança. Esta refrega terminou com um saldo de 7 mortos, sendo 2 do lado de Antonino, inclusive um vaqueiro que foi atingido por uma bala perdida, o outro, dizia-se, teria sido morto pelo próprio Antonino que desconfiou de traição do companheiro. Quinca Saldanha saiu com cinco homem a menos, que ficaram estirados sem vida no terreiro do seu velho inimigo.
Naquela época, as hegemonias política dos vizinhos municípios de Catolé do Rocha e Brejo do Cruz eram disputas por duas forças antagônicas, cujos grupos eram comandados pelo coronel Valdevino Lobo Ferreira Maia e seu primo coronel Francisco Hermenegildo Maia de Vasconcelos (coronel Francisco Maia). Quinca Saldanha e seus irmãos, Benedito e Plinio (Marinheiro), eram ligados politicamente ao grupo do coronel Valdevino Lobo. Antonino Saldanha juntamente com os irmãos Suassuna, liderados pelo influente advogado João Suassuna, que mais tarde vem a ocupar o Presidente do Estado da Paraíba, integravam o grupo do coronel Francisco Maia.
Por conta do “Fogo de Santana”, foram instaurados processos criminais contra Antonino e Quinca Saldanha, sendo que o primeiro foi preso pelo tenente Genuíno Bezerra e, por medida de segurança conduzido para a cadeia de Pombal. Contra Antonino havia ainda outro processo em aberto em Patu, no vizinho Estado do Rio Grande do Norte, por uma tentativa de assassinato naquela comarca, ocorrida em 1908.
O processo contra Antonino Saldanha foi desaforado de Catolé do Rocha para julgamento na comarca de Sousa/PB. A sua defesa foi patrocinada pelos advogados João Suassuna e João Vieira Carneiro O réu foi absolvido por unanimidade, porém, em vez de colocá-lo em liberdade, o juiz determinou que ele fosse transferido para a cadeia de Patu, a fim de responder ao processo que estava em aberto naquela comarca.
Quando Antonino era conduzido para o Rio Grande do Norte, a escolta foi bruscamente surpreendida por um grupo de homens fortemente armados, que resgataram o preso. Esta versão oficial foi contestada de forma veemente pelo coronel Valdevino Lobo. Segundo o coronel, não houve esse ataque. Na verdade, o preso teria sido libertado graças a uma ardilosa tramoia planejada pelos irmãos Pio e Anacleto Suassuna, delegado e subdelegado de Catolé do Rocha, com a conivência do chefe político coronel Maia: “Na ocasião em que Antonino seguia escoltado para o vizinho Estado, em um lugar previamente combinado com a escolta, fugiu tomando um bom cavalo que o aguardava.”
Pelo episódio ocorrido na Fazenda Santana, em 10 de julho de 1914, Quinca Saldanha foi submetido a julgamento na Comarca de Pombal, sendo igualmente absolvido por unanimidade. Atuaram na defesa os advogados Cavalcanti Mello e João Vieira Carneiro, que também havia defendido Antonino Saldanha. João Vieira Carneiro (Joca Carneiro) foi presidente da Câmara dos Vereadores de Pombal. Era pai do ex-prefeito e ex-deputado federal Janduhy Carneiro e do ex-governador da Paraíba e ex-senador Rui Carneiro.
Em fevereiro de 1922, quando os cangaceiros, sob o comando de Sinhô Pereira e Ulisses Liberato de Alencar, vieram assaltar a fazenda Dois Riachos, propriedade do coronel Valdevino Lobo, o bando se dividiu estrategicamente em dois grupos, sendo que um deles pernoitou na fazenda Maniçoba, de Pio Suassuna, e o outro na Fazenda Santana, de Antonino Saldanha, ambas localizadas no atual município de Riacho dos Cavalos, na época pertencente a Catolé do Rocha.
O fazendeiro Janduy Suassuna Saldanha, que por duas vezes foi prefeito da Cidade de Riacho dos Cavalos (PB), representa uma prova inconteste boas relações mantidas entre Antonino Saldanha e a família Suassuna, já que ele era neto de Antonino Saldanha pelo lado materno e neto de Pio Suassuna pelo lado paterno, fruto da união matrimonial entre Francisca da Silva Saldanha e Américo Suassuna.
José Tavares de Araujo Neto, Pesquisador - Pombal PB
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