Por José Mendes Pereira
VAMOS AOS DETALHES QUE NÃO TÊM NENHUM VALOR PARA A LITERATURA CANGACEIRA, APENAS MINHAS INQUIETAÇÕES.
Jararacas no Cangaço
Depois dos cumprimentos de praxe, perguntei a mesma sobre o seu parentesco com Jararaca e ela me respondeu: “Sou neta de Jararaca, que ficou ferido e depois morreu em Mossoró, quando Lampião tentou invadir aquela cidade”. Em seguida, perguntei à Dona Maria, o que ela sabia sobre a pessoa e a história do seu avô Jararaca e a mesma, com uma lucidez impressionante, foi relatando:
- “O meu avô se chamava Patrício Pedro da Silva, era natural de São José de Lagoa Tapada (PB). A minha avó dizia que o mesmo era moreno, de cabelo bom e muito corajoso. Pai de cinco filhos: José, Hanorina que era a minha mãe, Antônia, Severino e Raimundo”.
Procurei saber de Dona Maria o motivo do seu avô ter entrado no cangaço e ela me respondeu:
- “Meu avô largou minha avó e se juntou com outra mulher chamada Maria José, no ano de 1921. Com essa teve um filho e como moravam todos próximos na Beira do Rio, no município de Cajazeiras, a minha avó aproveitou que Maria José foi tomar banho frio, do final do resguardo, e lavar os panos do neném recém-nascido no rio e lhe aplicou uma grande surra. O meu avô ficou muito revoltado com a esposa e mandou lhe dizer que vinha acertar as contas com ela. Um irmão dele, chamado Manuel Pedro da Silva, tomou as dores da cunhada e mandou avisar ao irmão Patrício, que se fizesse algum mal a minha avó, morreria na hora. A família da mulher, vítima da surra, queria uma providência, então o meu avô ficou sem saída. Foi na casa da minha avó e disse a ela que ia para o Cangaço de Lampião, ia se chamar Jararaca e não voltaria nunca mais. Foi embora e até hoje”.
Quis saber quando e como a família ficou sabendo da morte de Jararaca, em junho de 1927, na cidade de Mossoró, ela respondeu:
- “Os meus pais moravam no distrito de Boqueirão município de Cajazeiras em 1939, eu tinha 13 anos. Vizinho da gente morava seu Nezim Guarda, o qual tinha um irmão chamado Quinco que morava em Mossoró. O mesmo vindo passear em Boqueirão falou para minha mãe Hanorina, filha de Jararaca, que o mesmo tinha morrido em Mossoró, quando Lampião tentou invadir aquela cidade. Daí em diante, nós todos da família, passamos a acreditar na história contada por seu Quinco, como sendo a verdade sobre o fim de Patrício Pedro da Silva, o Jararaca”.
Ouvi tudo atentamente e no final da conversa disse a Dona Maria que, com absoluta certeza, o Jararaca de Mossoró não era o seu avô Patrício Pedro da Silva e que se tratava de um equívoco, pois o cangaceiro com esse nome que morreu em Mossoró, foi José Leite de Santana, nascido em 1901, natural de Buíque (PE) e que entrou no Bando de Lampião em 1926. Dona Maria me agradeceu as informações, mas lamentou ter ficado tanto tempo acreditando numa história que não representava a verdade sobre seu avô.
Em 2006, Kydelmir Dantas e Paulo Gastão, Diretores da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço), fizeram uma visita a Dona Maria, aqui em Cajazeiras e ouviram essa história. A pergunta que fazemos e não temos a resposta exata, é a seguinte: seria Patrício Pedro da Silva, o Jararaca I, que foi morto em combate, entre abril e maio de 1922, na localidade Açude velho, Vila Bela, hoje Serra Talhada, pelas volantes comandadas pelos tenentes Manuel Benício, paraibano e Optado Gueiros, pernambucano?
Érico de Almeida, no seu livro “Lampião, sua história” (1998, p.27), faz referência a esse fato afirmando que foram mortos, nesse combate, os cangaceiros “... Coruja, Jararaca e Vereda...”.
O pesquisador e escritor paraibano Bismarck Martins de Oliveira, no seu livro “O Cangaceirismo no Nordeste” (2002, p. 232-233), menciona a existência de três cangaceiros do Bando de Lampião com o nome Jararaca, em épocas diferentes. Sobre o Jararaca I, o autor não tem dados biográficos, apenas que foi morto em 1922, em Vila Bela; sobre o segundo, José Leite de Santana, o Jararaca de Mossoró, a sua história é contada em verso e prosa. Sobre o terceiro, era baiano e entrou no bando de Lampião, quando o mesmo passou a agir naquele Estado a partir de 1928. Com essas, linhas fica registrada mais uma das milhares de “Histórias do Cangaço”.
(*) O autor é Professor de Historia, Pesquisador do Cangaço, membro da União Nacional de Estudos Históricos e Sociais (UNEHS) e sócio da SBEC.
"Em 16 de janeiro de 1985, segundo o site, o Ezequiel de Valença deu uma entrevista ao jornalista Antônio de Pádua, do “Jornal da Manhã”, de Teresina, deixando-se fotografar ao lado do vereador valenciano Luís Rosa. Suponho que o alegado irmão de Lampião temia alguma repercussão jurídica negativa de sua entrevista, pois estava presente na mesma o afamado advogado piauiense Dr. Alfredo Cadena Neto, segundo a reportagem".
Na minha opinião, o que ele temia, era que a sua farsa fosse desmascarada diante das pessoas presentes. O motivo mais para isso, não existia, vez que já havia se passado tantas décadas depois do ocorrido no cangaço, Isto era o seu medo. Nada judicial. Ele já tinha conhecimento que aqui no Nordeste, ninguém mais falava em cangaceiros, muito menos em Lampião, porque, o Getúlio Vargas já havia perdoado todos os delinquentes da empresa do seu irmão.
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