11 de dez. de 2023

A MORTE DE CAIXA DE FÓSFOROS NA REVOLTA DE PRINCESA

  José Tavares de Araújo Neto

Nada se sabe sobre as origens do cangaceiro Caixa de Fósforos, chamado pelos seus comparsas de “Caixa de Fósco”, apelido ganho em virtude do hábito de sempre estar portando em mãos este pequeno recipiente, necessário para atender o seu vício de fumante inveterado. Era um exímio batuqueiro neste tipo de instrumento musical improvisado.

Embora tenha se destacado ao lado de Lampião, Caixa de Fósforos algumas vezes integrou o bando de Luiz Leão e até chegou a comandar um grupo autônomo. Esteve presente em muitos eventos criminosos ocorridos naquela época, a exemplo do assalto à cidade de Sousa, o latrocínio que vitimou o fazendeiro de Piancó João Clementino e os sangrentos combates de Serrote Preto e Serra Grande.

A morte de Quintino Pereira, ocorrida durante o histórico combate da fazenda Patos, em 24 de março de 1930, causou enorme comoção junto as hostes rebeldes. O cabo João Paulino, que após o combate da fazenda Patos aderiu a causa do Coronel José Pereira, foi o grande incentivador da retaliação contra a força que havia matado o importante membro da família Pereira do Pajeú. Ele conhecia muito bem o local onde as forças policiais estavam acantonadas, nos arredores do povoado de Alagoa Nova, atual cidade de Manaíra.

Um grupo, constituído por cerca de 100 pessoas, se dirigiu a Alagoa Nova, a fim de atacar o acampamento da Coluna Oeste, mas lá chegando não encontrou mais ninguém. Precavidos, os militares haviam se retirado. No povoado, os libertadores se dividiram em dois grupos: Um iria permanecer em Alagoa Nova e o outro seguiria para Tavares, a fim de reforçar o contingente que se encontrava na defesa daquela vila.

Os homens que permaneceram em Alagoa Nova ficaram bem à vontade, não havia nenhum sinal de anormalidade que pudesse quebrar a monótona rotina do lugar. Era tanto a tranquilidade, que o grupo se deu ao luxo de disputar uma partido de futebol. Caixa de Fósforos, que não estava participando do jogo, decidiu ir a procura de cigarros e fósforos em uma venda, localizada nas proximidades.

Ao se aproximar do pequeno estabelecimento comercial, Caixa de Fósforos, surpreendido por uma saraivada de tiros, foi gravemente atingido. Após um intenso combate entre os libertadores e as forças oficiais, Caixa de Fósforos, ferido, foi resgatado e conduzido para Princesa, entretanto, não resistiu, falecendo no caminho.

O jornalista João Lélis, correspondente de “A União”, assim relatou o episódio em matéria pulicada em 6 de abril:

“Confirma-se por informações inequívocas, a morte do perigoso bandoleiro Caixa de Fósforos, criminoso muito temido em Pernambuco, e que era um dos lugares tenentes de confiança de José Pereira.

Depois do covarde assalto aos 50 homens da polícia que estavam em Patos, o chefe dos trabuqueiros mandou esse famanaz salteador, com 30 homens, atacar Alagoa Nova. A nossa força, porém, teve aviso da vinda do grupo e entrincheirou-se nas casas do povoado, de modo que quando esse chegou a Alagoa Nova apresentava o aspecto de um lugar abandonado. Os bandidos puseram-se então à vontade, tendo até alguns deles começado a bater numa bola de futebol.

Foi quando a força rompeu fogo contra eles, de modo violento, obrigando-os a fugir em completa desordem. Alguns dos bandidos ficaram mortos no campo e outros correram com ferimentos.

Entre os que receberam lesões graves figurou o célebre Caixa de Fósforos, que foi conduzido com destino a Princesa, onde, todavia, não chegou, morrendo numa fazenda já perto da cidade.

Já não há, também nenhuma dúvida sobre a morte do conhecido cangaceiro Quintino, um dos ajudantes de ordens de José Perera, e primo do não menos famoso bandido Luiz do Triangulo. Esse faleceu no ataque a Patos, caindo em consequência da heroica resistência da vanguarda do tenente Nonato.

Desta proximidade de Princesa é possível saber alguns pormenores sobre a situação da infeliz cidade transformada em Meca do cangaço pelos instintos ferozes de José Pereira

A situação ali permanece igual desde que se colocou em pé-de-guerra o cangaceiro-mor. A cidade e os arredores não têm mais uma única família, porque todas se retiraram tomadas de pânico diante da horrenda catadura dos homens que acudiram ao toque de reunir do bandido para formação do seu enfático exército libertador.”

Em Princesa, Caixa de Fósforos foi sepultado no “Cemitério Campo Santo”, com direito a um travesseiro sob a cabeça, honra exclusiva dedicada àqueles que se destacaram por atos de heroísmo e bravura.

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