*Rangel Alves da Costa
Muito diferente dos namoros passados, onde até chegar à relação sexual propriamente dita passava-se por um longo processo e intensas expectativas, atualmente os enamorados poucos se conhecem e já querem se conhecer muito mais.
Só pra lembrar, no passado o namoro possuía uma feição tão respeitosa e valorizada que equivalia mesmo mais a muitos casamentos de hoje. Num tempo mais distante ainda, o namoro era na casa da moça, sob os olhares dos pais, sentadinhos em cadeiras e sem chances de atracamentos.
Tal costume evoluiu, porém sem perder o caráter de respeito e seriedade. Namoro às escondidas, por detrás dos muros, não eram costumeiros como agora. Tantas vezes, o rapaz pedia a mão da moça para namorar e desde logo se comprometia a respeitá-la. Também havia aliança de compromisso e verdadeiro compromisso. Ostentar um anel de noivado era honra maior para toda moça.
Já casados, ou mesmo ainda noivos, a fidelidade era tamanha que o homem se ausentava por longo tempo e ainda assim nem sempre corria perigo de ser passado pra trás, ou corneado, como comumente se diz. Com efeito, quando a situação estava difícil no sertão (secas, desempregos) o homem arribava em busca de emprego no sul do país. A noiva ou esposa ficava esperando pacientemente o seu retorno. E de lá ele enviava uma pequena mensal ora para levantar uma parede da futura casa ora para manter a dignidade familiar.
Mas os tempos foram transformando as fidelidades em traições, os compromissos em banalidades, as relações em eventualidades. E de repente nem precisava que o homem estivesse distante para ser traído abertamente. Traíam-se pelas portas da frente e dos fundos, pelas janelas e através de amigas alcoviteiras. As mocinhas desgarraram-se dos pais e do respeito outrora sagrado, para também se embrenharem nos namoros libertinos e permissivos demais.
Se a prática sexual era usualmente permitida apenas depois do casamento, os ventos das mudanças foram transformando tudo em cafonice. De repente - e para espanto e desespero das famílias - as meninas apareciam barrigudas. E o pior: tantas vezes sem qualquer identificação do responsável pela prenhice. Depois das festas de agosto então. Depois da festa principal de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo - a Festa de Agosto -, nos meses seguintes surgiam os comentários, as fofocas e os espantos. Muito sertanejo de hoje nasceu assim.
Mas depois não somente nas festas de agosto a situação se acentuava, pois bastava um baile qualquer e no outro dia os monturos, quintais, nas beiradas do riachinho e arredores, calcinhas e outras roupas íntimas eram encontradas aos montes. Gente que esquecia o sapato, a chinela, o tênis, mas principalmente a vergonha. Um mundo já de desmedida sem-vergonhice. Mas ainda nada comparado aos usos atuais que se dá ao corpo, como se o sexo pelo sexo justificasse qualquer verdadeiro prazer.
A verdade é que os modismos avançaram de tal modo que até o corpo passou a ser objeto de banalidade consumista. Pouco se vê ou se fala em verdadeiro namoro, em relacionamento respeitoso entre ambos os enamorados. E quase não há mais namoro, pois a juventude se permitiu enveredar por caminhos de tanto-faz, de experiências, de jogos sexuais. Em muitas situações, o termo namoro deu lugar ao “ficar”. E de ficar em ficar, quando o mel esvazia da colmeia, o que resta é somente a desonra.
Difícil de acreditar, mas em época de festas, com muitos rapazes de fora que se achegam já sabendo das facilidades em muitas mocinhas locais, os encontros e os olhares já são quase certeza de safadezas. Sem ao menos se conhecerem ou sequer sabendo o nome um do outro, num passo e já estarão se entregando em qualquer lugar. No dia seguinte ele desaparece e ela fica querendo mais. E aí o maior perigo: na ausência daquele, começa a querer se satisfazer com outros e mais outros. E de repente apenas a mulher de qualquer um.
Qualquer coisa que se diga à juventude sobre os perigos dessa nefasta permissividade, logo se corre o risco de ser achincalhado, chamado de ultrapassado, de cafona. Mas os exemplos permanecem e se acentuam cada vez mais. A verdade é que atualmente ter filhos requer cuidados muito maiores além da criação e formação, pois quando a porta é aberta e o mundo começa a chamar só mesmo Deus para livrá-los de todo o mal.
Escritor
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