21 de abr. de 2017

VALDETÁRIO CARNEIRO - A ESSÊNCIA DA BALA


Dos Jornalistas Rafael Barbosa e Paulo Nascimento, da cidade de Natal RN. "Valdetário, a essência da bala", é um livro que prende a atenção. Das primeiras palavras até o ponto final. Trata da vida de um dos mais temidos assaltantes que já irromperam no Rio Grande do Norte. Valdetário tornou-se uma lenda, tal a ousadia de suas ações. Ser implacável era o seu método, agir sem temor sua grife."

Nesta página fazendo um resumo da História do caraubense Valdetário, que chegou a ser comparado no programa linha direta da Rede Globo ao Lampião da era moderna. Despertar a curiosidade de quem não conhece sua trajetória igual a de alguns brasileiros revoltado com as injustiças e teve a coragem de desafiar esta estrutura corrupta e como acontece com todos é rotulado de Bandido e depois executado pelo Estado num pais que se vangloria de não ter pena de morte.


Será uma longa história em que alguns episódios de um Tio de Valdetário conhecido pelo nome de Antonino Carneiro, eu conheci assim como lembro do menino mais novo do que eu 5 anos o Valdetário que gostava de interpretar nos desfile de 7 de setembro O Tiradentes. São personagem e cenário da vida real.


A cena não é diferente no Oeste Potiguar do que se vê em grande parte de resto do interior nordestino. O sol castiga o sertão como em tantos dias do ano. E quando se aproxima o meio dia o calor é evidente. A senhora sai de sua casa, na beira do asfalto e começa a caminhar em direção a Caraúbas. No mesmo sentido vem vindo o homem em sua camionete que freia e pergunta:

 - Está indo pra onde, minha Tia?

 - Caraúbas. - Respondeu a senhora:

A mulher agradece a gentiliza e comenta: 

- Morro de medo de andar por aqui, por conta do tal Valdetário. Tenho muito medo dele - relata.

Qual a razão disso? Ele questionou, intrigado.

Na visão da mulher ele era um bandido perigoso que trucidava quem encontrasse pela frente. A viagem acaba já dentro da cidade e ele pega do bolso da camisa um maço de dinheiro e sem contar dar para a senhora e diz:

- Não tenha medo de Valdetário, não. Que esse homem sou eu e não faço nada do que já contaram para a senhora.

Essa história, como tantas outras que têm este homem como protagonista, é conhecida por muita gente da região Oeste. Pode até ser mentira, que é debitada na conta da lenda de Valdetário.

No dia 7 de março de 1959 nasce um menino que é batizado José Valdetário Benevides. Val, como passaria a ser tratado pelos amigos mais próximos e também pela família. 

A Saga da família Carneiro começa com Antonino Carneiro, um cidadão de bem e muito respeitado devido ao seu destemor de não deixar nada para depois. Tem muitas histórias dele contadas pelo povo, em que diziam que ainda não tinha nascido um Policial que tivesse a petulância de desarmá-lo, em termos é verdade. E talvez tenha tudo começado daí, pois Caraúbas era famosa em colocar Sargentos da PM para correr de lá. Eu afirmo isto porque na época eu era criança, e ouvia muito estas estórias de homens poderosos, e a polícia não desarmava, só os pobres dos Zé Maner, e quando algum Sargento desavisado tentava ou corria ou morria. Pela falta de estrutura do Estado e devido ao seu respeito e temor que todos tinham dele, ele se tornou uma espécie de Juiz seria o caso, pois dizem que ele resolvia as questões entre as pessoas, principalmente, rapazes que na nossa linguagem ofendia a moça e não queria casar. Ele conversava com o sujeito e convencia a ele reparar o que fez.


Este é o cenário da tragédia anunciada, que poderia ter sido evitada, mais não foi, e tudo se consumou no pior. É o que se pode dizer um dia de cão, um dos piores dias para quem residia em Caraúbas. Eu vivi este momento, e confesso não foi nada agradável a cidade mergulhou num clima de tenção nunca visto. 


Sargento Aderson, campeão de tiro da Polícia Militar do Rio Grande do Norte e pelo que eu escutava, foi enviado para Caraúbas com um propósito. Desmoralizar o homem mais temido da cidade, Antonino Carneiro. Tio de Valdetário Carneiro, Antonino foi um desses homens com valores que o tempo faz desaparecer. Apesar de ser apenas comerciante, sem muitas posses, chegou a ser vereador de Caraúbas duas vezes, entre 1958 e l966 - o prédio onde está a sede da Câmara Municipal foi dado o seu nome em sua homenagem. Era ele que resolvia os problemas de todos que o procurava na cidade. E resolvia do seu jeito. Forte, alto, teimoso e cheio de coragem, conseguia impor respeito. 

Em 1958, ano de uma das secas da história do Nordeste brasileiro, eu nos meus 4 anos de vida, residindo na Fazenda Independência, lembro do meu pai trazendo macambira para a comida dele e minha mãe, quem me safava era o leita das cabras. Com os três açudes; São Vicente, Saboia e o Grande seco, o único local para os moradores de Caraúbas era o Olho D'água do Milho para pegar água. O dono do local terminou fechando a entrada da fonte. A população resolveu pedir socorro a Antonino. Ele foi ao local, arrancou a porteira e a levou no seu caminhão. As ações lhe renderam prestígio e amigos.

O ex-Governador Aluízio Alves tinha a casa de Antonino como porto seguro em Caraúbas, sempre o visitava. Um outro amigo de peso foi o Coronel Bento Manoel de Medeiros, o ex-Deputado Estadual Vingt Rosado, do clã política da cidade de Mossoró. Mas, ao mesmo tempo se multiplicava os inimigos. Um pistoleiro chegou a pegar carona com ele e desistiu de matá-lo ao ver o arsenal com o seu ajudante. Infelizmente a maior desgraça humana são as intrigas e os Lideres não escapam desta armadilha, a história começou em 1966. 

Chega em Caraúbas, designado como o novo delegado da cidade o sargento Aderson Adriano Pires, da Polícia Militar. A princípio os dois tinham um bom relacionamento, até que um dia, como diz a insustentável leveza do ser, por uma bobagem, orgulho besta que todos temos, veio à tona com toda sua força. Os dois se tornaram inimigos mortais, e alimentado pelas fofocas é um estopim para a desgraça. Valendo-se da condição política de seu parentesco com o Governador Monsenhor Walfredo Gurgel, seu aliado a primo em primeiro grau de sua mulher. Solicitou a transferência do Sargento Aderson. Pedido negado, coisas da política, se a missão do Sargento era esta, ele previu o fim da história: 

-- Um dos dois vai morrer, Monsenhor. (Antonino Carneiro)


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