Por Paulo Dantas
LOUVAÇÃO
... Certa vez viajando de jipe pelas estradas de Sergipe, na estrada de Carira, vi uma tosca cruz, coberta de flores – UM CRUZEIRO DE ACONTECIDO – à beira do caminho.
Era do cangaceiro Gitirana, um cantor do bando de Lampião, um barítono caboclo, de cabelos cacheados, que conheci quando ele esteve na chefatura da Polícia Baiana em 1938, logo depois do massacre da Gruta dos Angicos. Os sobreviventes do bando sem o seu amado chefe, estavam se entregando.
Gitirana será o último cangaceiro chegado do sertão. Estava preso com a companheira, uma morena grávida, mãe de um menino novo que chorava no xadrez ao lado.
Gitirana subiu comigo no elevador e foi para seu aposento. Era noite. Guardei o moço moreno cor de jenipapo, sorriso franco, cabelos anelados, uma inesquecível imagem de simpatia. Não sabia que ele era o cantor, o poeta tirador de rimas do bando, o predileto de Lampião.
Densa era a noite naquele presídio.
Já ao romper da aurora, entre ruídos de grades que se fechavam, abafadas ouvi ao lado, uma doce voz que cantava:
“OU MUIÉ RENDERA
OU MUIÉ RENDÁ
CHORO LEVO COMIGO
SOLUÇO VAI NO EMBORNÁ.
MINHA MÃE ME DÊ DINHEIRO
PRA COMPRÁ UM CINTURÃO
PRA FAZER UMA CARTUCHEIRA
PRA BRIGÁ COM LAMPIÃO.
OU MUIÉ RENDERA.”
A voz, bem modulada possuía uns acentos como jamais ouvi.
Gitirana, como ninguém nos ermos das caatingas se impunha como o barítono melhor da “MULHER RENDEIRA”.
Gitirana meu gitano cancioneiro caboclo, meu cantor cangaceiro morreu, anônimo e está enterrado nos matos. E virando no ciclo sertanejo da minha ficção além oeste personagem de uma novela: “GIRA, GIRA GITIRANA”.
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
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